CASO CLÍNICO 2 Pré-escolar de 5 anos e 4 meses, feminino, encaminhada ao Hospital de Base com relato de febre (38°C),hiperemia conjuntival (aumento do fluxo de sangue) e êmese (vômito) há 4 dias. Responsável referia aparecimento de exantema maculopapular, um dia após início dos sintomas, em região retroauricular e face com progressão para tronco e membros. Criança possuía dose de tríplice viral, reside com primo que apresentou quadro febril exantemático há 2 dias. Apresentava rinorréia purulenta (secreção excessiva) edema e hiperemia (aumento do fluxo) de mucosa, período expiratório prolongado e presença de roncos em bases de pulmão. Foram coletadas sorologias para dengue, zika e chikungunya com resultados negativos, teste rápido para HIV não reagente e sorologia para sarampo com IgM positivo. A menor permaneceu internada por dois dias, em uso de sintomáticos, sem intercorrências, recebendo alta após o 5º dia de exantema. 1) Analisar criticamente o caso O sarampo é uma doença viral aguda e extremamente grave, principalmente em crianças menores de 5 anos de idade, pessoas desnutridas e imunodeprimidas. A transmissão do vírus ocorre de forma direta, por meio de secreções nasofaríngeas expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar próximo às pessoas sem imunidade contra o sarampo. Além disso, o contágio também pode ocorrer pela dispersão de aerossóis com partículas virais no ar, em ambientes fechados como escolas, creches, clínicas, entre outros. Situação epidemiológica do sarampo no Brasil Após os últimos casos da doença no ano de 2015, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação do vírus. Consequentemente, nos anos de 2016 e 2017 não foram confirmados casos de sarampo no País. Em 2018 foram confirmados 10.346 casos da doença. No ano de 2019, após um ano de franca circulação do vírus, o Brasil perdeu a certificação de “país livre do vírus do sarampo”, dando início a novos surtos, com a confirmação de 20.901 casos da doença. Em 2020 foram confirmados 8.448 casos e em 2021, até a Semana Epidemiológica (SE) 52, 668 casos de sarampo foram confirmados 2) Analisar a conduta médica, os resultados dos exames complementares. Os pesquisadores demonstraram que o HIV e o vírus do sarampo diminuem a produção de IL-12, o que pode deixar os pacientes mais suscetíveis a infecções secundárias. (pesquisar relação entre o sarampo e o HIV) 3) Responder aos seguintes questionamentos: a) Qual o agente etiológico do sarampo? Quais suas características morfológicas?Qual o ciclo biológico? O vírus do sarampo pertence à ordem Mononegavirales, família Paramyxoviridae, subfamilia Paramyxovirinae, género Morbillivirus, espécie vírus do sarampP; O vírus do sarampo é um agente infecioso de pequeno tamanho (100-200nm de diâmetro). É um vírus envelopado com genoma de RNA de cadeia simples com polaridade negativa A replicação viral consiste num processo pelo qual um vírus consegue gerar descendência. Este processo envolve diversas fases como: adsorção; penetração; descapsidação; replicação do genoma viral e produção de proteínas virais; reunião/montagem e libertação. No caso do vírus do sarampo, a adsorção ocorre quando a proteína H se fixa a um dos recetores da célula hospedeira (proteína CD46, proteína CD150 ou proteína PVRL4). De seguida, a proteína F muda de conformação e promove a fusão da membrana celular com o invólucro viral, ocorrendo a penetração. Depois ocorre a ”libertação” da cápside com exposição do genoma viral, sendo este transportado para o citoplasma, local onde ocorrerá a sua replicação. A replicação do genoma viral resulta na produção de ácido nucleico e proteínas necessárias à produção de novos viriões. O primeiro passo da replicação do genoma do vírus é a produção de RNAm de polaridade positiva (+ssRNA), pois a cadeia negativa não se consegue ligar aos ribossomas diretamente para ser traduzida nas proteínas precoces.. Por fim, há a libertação dos novos vírus a partir da célula hospedeira, por evaginação As células infetadas expressam glicoproteínas virais na superfície podendo fundir-se com células não infetadas e produzirem células gigantes multinucleadas, designadas de sincícios, seguido de morte celular por apoptose. Contudo, nem todas as células se fundem para formar sincícios. [2] In vivo, são observados sincícios nos pulmões, pele e tecido linfático, mas não no sistema nervoso central. A síntese de proteínas celulares não é significativamente afetada pela infeção pelo vírus do sarampo, mas podem ser alteradas proteínas celulares específicas (ex.: recetores celulares de superfície) e respostas funcionais (ex.: tradução de sinal; expressão de fatores de transcrição) em determinadas células. Ciclo de Infeção do Vírus do Sarampo O vírus entra no organismo através da inalação de aerossóis ou contacto direto com secreções respiratórias. As principais células-alvo são as células do sistema imunitário, tais como linfócitos B e T, macrófagos e células dendríticas que expressam CD150 (ou SLAM). O vírus do sarampo infecta as células epiteliais usando como recetor a proteína PVRL4. As células endoteliais e os neurónios também são infetados pelo vírus, mas ainda não são conhecidos os recetores virais. As primeiras células infetadas nos pulmões parecem ser os macrófagos alveolares e as células dendríticas que transportam o vírus para os gânglios linfáticos regionais, onde as células B e T se tornam infetadas. De seguida, ocorre a disseminação do vírus para o baço, tecido linfático, fígado, timo, pele e pulmões. A infeção de células epiteliais pulmonares permite a transmissão do vírus para outros hospedeiros, por via aérea Algumas infecções virais resultam em mudanças nas funções da célula hospedeira, sem mudanças visíveis nas células infectadas. Por exemplo, quando o vírus do sarampo se liga ao seu receptor celular, denominado CD46, o CD46 induz a célula a reduzir a produção de uma citocina, chamada de IL-12 (Interleucina 12 é uma citocina secretada pelos linfócitos B, neutrófilos, células dendríticas e macrófagos após a ativação por células apresentadoras de antígenos ) diminuindo a capacidade do hospedeiro de combater a infecção b) Qual quadro clínico? O sarampo é uma das infeções virais mais contagiosas e caracteriza-se por febre, mal-estar, exantema, tosse, coriza e conjuntivite. O único reservatório do vírus é o ser humano. É uma doença normalmente benigna mas pode originar complicações ou provocar mesmo a morte, uma vez que o vírus induz imunossupressão facilitando assim a ocorrência de sobreinfeções. O sarampo é uma doença passível de ser eliminada uma vez que o contágio ocorre exclusivamente pessoa-pessoa através de gotículas respiratórias/aerossóis e também pelo facto de existir uma vacina eficaz. Determinados vírus, como aqueles que causam a caxumba, o sarampo e a gripe (influenza), podem aglutinar hemácias sem envolver uma reação antígeno-anticorpo; esse processo é chamado de hemaglutinação viral. Esse tipo de hemaglutinação pode ser inibido por anticorpos que neutralizam o vírus aglutinante A transmissão do vírus do sarampo ocorre pessoa-pessoa, através de gotículas, por via aérea (aerossóis) e/ou por contacto direto com secreções nasais ou faríngeas de pessoas infetadas. Gotículas infeciosas de secreções respiratórias conseguem permanecer no ar por várias horas não sendo por isso necessário o contacto direto pessoa-pessoa para que ocorra transmissão do vírus, podendo este ser contraído em áreas de grande aglomeração populacional, como por exemplo escolas, hospitais, entre outros. O pico de incidência do sarampo em regiões temperadas ocorre no final do inverno e no início da primavera. Devido ao fato de que uma pessoa com sarampo é infecciosa antes do aparecimento dos sintomas, a quarentena não é uma medida eficaz de prevenção De forma semelhante