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AULA 01 - PENAL III

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AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E INTRODUÇÃO AOS DIREITOS DOS PRESOS
1. Onde encontrar os direitos do preso?
· Na Constituição Federal;
· Em normas internacionais que versam sobre direitos humanos – status de normas supralegais, ou seja, acima das leis ordinárias e abaixo da nossa Constituição (ex: Pacto de San Jose da Costa Rica, Regras de Mandela, Regras de Bangkok, Regras de Yogyakarta...); 
· No Código Penal;
· No Código de Processo Penal; 
· Na Lei de Execução Penal (LEP);
· Em demais diplomas legislativos;
2. Análise dos direitos do preso nos diplomas referidos:
· Constituição Federal:
· Princípio da intranscedência das penas (art. 5, XLV, CF): Gera debates sobre a constitucionalidade da presença de crianças no cárcere. 
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
· Princípio da individualização das penas (art. 5, XLVI, CF): Gerou polêmica na tentativa de “punição em bloco” no caso do Mensalão.
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
· Princípio da humanidade das penas (art. 5º, XLVII, CF): Também conhecido como princípio da humanização das penas, se encontra diretamente vinculado ao princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF). 
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
 
· Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84): 
Durante a Ditadura Militar eram divididos os presos políticos dos presos comuns. Segundo Daniela Portugal, essa distinção não apresenta sentido, uma vez que toda prisão é política, já que até mesmo o que é definido como crime é pautado em um viés político (aquilo que não é permitido a ser feito). 
São escolhas políticas:
· O que é ou não crime;
· O processo que inicio ou não;
· A pessoa que condeno ou não;
· A pessoa que recolho ou não em cárcere
A LEP traz normas importantes acerca dos direitos e deveres dos presos.
CAPÍTULO IV
Dos Deveres, dos Direitos e da Disciplina
SEÇÃO I
Dos Deveres
Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às normas de execução da pena.
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
O inciso V do art. 39 da LEP traz à tona uma contradição, uma vez que os trabalhos forçados são vedados constitucionalmente em virtude do princípio da humanidade das penas. As condições de trabalho carcerário eram e, de certa maneira, ainda são extremamente precárias, insalubres e indesejáveis – o que impacta significativamente na saúde do condenado. 
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.
Pautando-se no inciso VIII, é importante alertar que o preso tem direito a um salário mínimo de ¾ do salário mínimo de um cidadão não privado da sua liberdade. 
SEÇÃO II
Dos Direitos
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
O tempo de trabalho dentro da prisão é computado para fins de aposentadoria (art. 41, III, LEP). 
O trabalho é considerado, simultaneamente, como um direito e um dever do preso (art. 39, V c/c art. 41, II, LEP). 
Na cidade de Palmas, capital tocantinense, houve uma penitenciária que obrigou os detentos a vestirem rosa bebê com o intuito de humilhá-los. A ordem gerou a primeira rebelião daquele local. 
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
A proteção contra o sensacionalismo (art. 41, VIII, LEP) não é respeitada por parcela significativa das mídias digitais. 
O direito de entrevista pessoal e reservada com o advogado (art. 41, IX, LEP) também é constantemente violado, uma vez que policiais constantemente interferem nas reuniões “sigilosas”. 
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
O termo “companheira” (art. 41, X, LEP) nos traz uma reflexão acerca de que somente as mulheres realizam visitas às penitenciárias. 
O direito elementar de ser chamado pelo nome (art. 41, XI, LEP) e não pela alcunha (como “o maníaco do tráfico”) parece ser óbvio, mas foi expresso. O ritual de desumanização é cruel no que tange à padronização, que envolve, por exemplo, a raspagem do cabelo. Gera-se, por conseguinte, uma descaracterização do indivíduo enquanto homem. 
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.    
O direito de defesa é garantido a partir do intermédio com autoridades, tais como advogados (art. 41, XIV, LEP). Entretanto, em muitos casos, isso não é feito de forma eficaz.
Durante as medidas de segurança em prol da pandemia da covid-19, ao invés de disponibilizar outros canais de comunicação (como contato on-line), o Brasil falhou ao impedir o contato do preso com seus familiares (art. 41, XV, LEP). 
Referências: 
· Sentença Penal Condenatória – SCHIMITT, Ricardo;
· REGRAS DE MANDELA: https://www.unodc.org/documents/justice-andprison reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf
· REGRAS DE BANGKOK: https://www.cnj.jus.br/wpcontent/uploads/2019/09/cd8bc11ffdcbc397c32eecdc40afbb74.pdf
· PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA: http://www.clam.org.br/uploads/conteudo/principios_de_yogyakarta.pdf
· CNJ: RESOLUÇÃO 348/2020 – A QUESTÃO DO CUMPRIMENTO DE PENA PELA COMUNIDADE LGBTQIA (PAUTADA NA AUTODECLARAÇÃO) 
https://www.cnj.jus.br/wpcontent/uploads/2021/06/manual_resolucao348_LGBTI.pdf 
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticiasantigas/2019/2019-03-13_15-21_Ministro-determina-transferencia-de-travestipara-ala-feminina-de-presidio.aspx 
Para a próxima aula: O trabalho do preso e detração + leitura dos materiais disponibilizados no Ágata.

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