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3. Artrite reumatoide Definição →Doença inflamatória sistêmica autoimune, crônica e progressiva, caracterizada por sinovite (inflamação da membrana sinovial) Vale lembrar que a inflamação na articulação não acomete a cartilagem e nem os ossos, apenas a membrana sinovial. →Acomete principalmente as articulações sinoviais periféricas de mãos e punhos, de forma simétrica e aditiva, resultando em incapacidade física irreversível se não tratada →A artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistêmico e a esclerose sistêmica são representantes das doenças do tecido conjuntivo, as quais acometem a membrana sinovial e as estruturas periarticulares. Tem-se predileção pelo termo “doença do tecido conjuntivo” em vez de “colagenose”. Epidemiologia →Muito frequente →<16 anos: chama-se AR da infância →Todas as raças →Mais prevalente no sexo feminino: a citrulinização e o comportamento dos linfócitos podem ser influenciados pelo estrogênio →Acomete a faixa etária de 30 a 50 anos Etiologia e Fisiopatologia →Evidência de doença autoimune →Anticorpos relacionados: anti-CCP e fator reumatoide →Antígenos de histocompatibilidade →Relação com tabagismo, periodontites e alterações da microbiota intestinal →Migração dos linfócitos TCD4 dos linfonodos para membrana sinovial (tropismo) Fatores predisponentes →Predisposição imunológica – antígenos de histocompatibilidade: MHC (HLA) de classe II, principalmente DRB1, DR1 e DR4 →Fatores ambientais - Tabagismo: citrulinização em excesso da arginina, levando à formação excessiva de anticorpo anti-CCP. O cigarro estimula em até 12 horas a produção de CCP - Bactérias: P. gingivalis (periodontite ou gengivite). Bactérias flagelads da microbiota intestinal - Vírus: Epstein-Barr, que tem tropismo para a articulação (herpesvírus humano 4) Autoanticorpos da Artrite Reumatoide →Anti-CCP (anticorpo contra o peptídeo citrulinado) O metabolismo da arginina leva à formação de peptídeos, dentre eles, o peptídeo citrulinado. O anti-CCP se deposita na sinóvia. →FR (fator reumatoide) O fator reumatoide é uma IgM contra uma fração Fc de uma IgG que foi produzida erroneamente. Fisiopatogenia - Sequência de modificações celulares A fisiopatogenia da artrite reumatoide envolve dois tipos de resposta: autoimune e inflamatória. A resposta autoimune é mediada pela célula dendrítica que apresenta antígenos (peptídeos artritogênicos) para o linfócito TC4 que se torna autorreativo. Por sua vez, a resposta inflamatória é mediada pelos macrófagos que produzem o TNF-alfa (fator de necrose tumoral- alfa). Além disso, os linfócitos TCD4 ativados produzem IL-17, que atua nos sinoviócitos, e RANKL, que atua nos pré-osteoclatos. Existem dois tipos de células na sinóvia: →Tpo I ou A: sinoviócito padrão que produz o líquido sinovial →Tipo II ou B: sinoviócito diferenciado que produz citocinas inflamatórias (IL-15, TNF-alfa e IL-18) e apresenta antígenos para o linfócito T Após a ligação do RANKL ao seu receptor RANK, ocorre a ativação do pré-osteoclasto em osteoclasto, levando à reabsorção do cálcio do osso e erosão óssea. Vale ressaltar que a reabsorção óssea ocorre apenas na região periarticular. Por isso é uma das causas de osteoporose. Tais acontecimentos resultam em um processo inflamatório crônico que estimula a produção de fator de crescimento celular, o qual leva à multiplicação dos sinoviócitos, com expansão e proliferação da membrana sinovial. Aliado a isso, ocorre liberação de fator de crescimento vascular que culmina em neovascularização. A inflamação é nociva para as células que entram em apoptose, resultando em focos de necrose no tecido conjuntivo (necrose fibrinoide). Além disso, a neovascularização permite a formação de folículos linfóides na membrana sinovial, os quais são compostos por agrupamentos de linfócitos. Consequentemente, há formação de pannus, que corresponde à membrana sinovial modificada pelo processo inflamatório crônico da artrite reumatoide, e invasão da cartilagem e do osso, levando à destruição e à fibrose. Resumidamente: célula dendrítica→antígeno→linfo C4→ autorreatividade→macrófago→TNF alfa Inflamação da Membrana Sinovial →Células e citocinas envolvidas →Ativação de condrócitos →Formação de Pannus Quadro clínico →Acomete principalmente o sexo feminino, entre 30 e 50 anos →Queixas gerais O quadro clínico se inicia com sintomas constitucionais, como fadiga, febre baixa, inapetência e emagrecimento. →Queixas específicas O quadro clínico evolui com as queixas específicas caracterizadas pela poliartrite bilateral simétrica aditiva. Portanto, há envolvimento de diversas articulações, em ambos lados do corpo e de mesma intensidade. Além disso, o paciente refere dor de ritmo inflamatório (presença de dor ao repouso) e rigidez pós-repouso prolongada (acima de 30 minutos). →Locais mais acometidos Os locais mais acometidos são, principalmente, as pequenas articulações (pela quantidade de sinovial), representadas pelas mãos (articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais), punhos e pés (articulações metatarso falangeanas). Vale ressaltar que as articulações interfalangeanas distais não são acometidas, visto que possuem apenas fibrocartilagem e tecido fibroso, mas não apresentam sinóvia, sendo que a artrite reumatoide é uma doença que compromete a sinóvia. O quadril, os joelhos e os cotovelos também podem ser acometidos. →Evolução e deformidades irreversíveis - Artrite: inflamação da articulação (edema, dor, calor, rubor e perda da função) Geralmente, as alterações clínicas e radiológicas são evidenciadas apenas na fase mais avançada da artrite reumatoide. Ademais, a erosão óssea pode ser observada mais precocemente no ultrassom do que no raio X. Desvio ulnar dos dedos ou “dedos em ventania” Dedos em pescoço de cisne: extensão da articulação interfalangeana proximal e flexão da articulação interfalangeana distal Dedos em botoeira: flexão da articulação interfalangeana proximal e extensão da articulação interfalangeana distal. Vale lembrar que a articulação interfalangeana distal não é acometida; nesse caso, as deformidades são decorrentes da retração do ligamento. Mão em dorso de camelo: edema do punho e das articulações metacarpofalangeanas. Atrofia da musculatura interóssea: pode ser observada no dorso das mãos Nódulos reumatóides: nódulos subcutâneos Hálux valgo: desvio lateral da primeira articulação metatarsofalangeana. Manifestações extra articulares →Síndrome de Sjogren (xerostomia (boca seca) e xeroftalmia) é comumente associada à artrite reumatoide →Nódulos reumatóides subcutâneos, geralmente em superfícies extensoras →Vasculite, pericardite e pleurite →Anemia e leucocitose que indicam doença crônica Diagnóstico O diagnóstico de artrite reumatoide é estabelecido na presença de 6 pontos ou mais, com base nos critérios ACR-EULAR 2010, os quais incluem: →Número de articulações envolvidas: 0 a 5 pontos A artrite reumatoide é uma doença que acomete principalmente as articulações pequenas. →Sorologia (fator reumatóide e anti-CCP): 0 a 3 pontos Considera-se como baixos títulos até 3 vezes a linha de corte superior, enquanto os altos títulos são acima dessa medida. O anti-CCP é mais caro, por isso, pode-se solicitar apenas o fator reumatoide primeiramente. Se o fator reumatoide estiver negativo, pode-se solicitar o anti-CCP em seguida. →Duração dos sintomas: 0 a 1 ponto A artrite reumatoide é uma doença crônica, portanto, com duração superior a 6 semanas. →Provas inflamatórias (PCR e VHS): 0 a 1 ponto A artrite reumatoide é uma doença inflamatória, por isso, espera-se que o PCR e/ou o VHS estejam alterados. Tratamento →Sintomáticos - Analgésicos - Anti-inflamatórios (Corticoide) →Drogas modificadoras do curso da doença – sintéticos - Metotrexato(MTX): reposição de ácido fólico concomitante ao uso de Metotrexato devido ao risco de anemia. É uma droga âncora, sempre será usada, nunca tirada do tratamento e pode vir acompanhada de outras drogas. - Leflunomida - Antimaláricos (Cloroquina) →Drogas modificadoras do curso da doença – biológicos. São drogas sintetizadas a partir de uma imunoglobulina contra uma determinada citocina. - Anti-TNF alfa; Ativador CTL-A4; Anti-IL- 6; Anti-CD20; Anti-JAK →Medidas complementares: fisioterapia, reabilitação, psicoterapia e terapia ocupacional, nutricionista (obesidade).