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CONTRATOS EM ESPÉCIE (ART. 481 – ART. 853) COMPRA E VENDA (art. 481 a 532) Negócio jurídico bilateral, por meio do qual uma das partes (vendedora) se obriga a transferir a propriedade de uma coisa móvel ou imóvel à outra (compradora), mediante o pagamento de uma quantia em dinheiro (preço). Os efeitos do contrato, em si, são meramente obrigacionais Transferência só ocorre com a tradição Móveis: entrega da coisa Imóveis: escritura pública (art. 108, CC) e registro do título translativo no Cartório de Registros (art. 1.245, CC). CARACTERÍSTICAS Bilateral: deve haver consentimento e gera efeitos e obrigações a ambas as partes Oneroso: gera ganhos e desfalque patrimonial a ambas as partes Alienante assume riscos da evicção (art. 447, CC) Alienante assume riscos dos vícios redibitórios OBS: embora o art. 503 do CC fale que “Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas”, PAMPLONA e GAGLIANO acordam que a regra deve ser temperada em função da utilidade da coisa coletiva, considerando que há coisas que se alteram o preço individualmente ou em conjunto (ex: par de brincos, coleção de livros, cartas de baralho, etc.) Comutativo: prestações das partes forem certas Aleatório: não se tem certeza quanto a ocorrência de uma das prestações Impessoal: só interessa o resultado do contrato, sem depender da pessoa (pode-se cobrar do espólio, caso a tradição ou transcrição não tenham ocorrido) Instantâneo: efeitos se produzem de uma só vez Execução imediata: se consuma no momento da celebração Execução diferida: partes fixam prazo para exigibilidade ou cumprimento (ex: compra de imóvel na planta) ELEMENTOS ESSENCIAIS (art. 482, CC) Consentimento: manifestação da vontade, plena, livre de quaisquer vícios Coisa: possibilidade de transferência (física e juridicamente), existência (atual ou futura – art. 483, CC); disponibilidade (de propriedade do vendedor (sob pena de ser nula por caracterizar alienação a non domino – excepcionalmente pode ser alheia, desde que o vendedor a adquira antes de o comprador sofrer a perda) e individualidade. OBS: art. 484, CC – entende-se que o vendedor assegura ter a coisa as mesmas qualidades que o protótipo, amostra ou modelos correspondem. Preço quantia em espécie a ser adimplida em tempo certo fixada pelas próprias partes ou por 3º (art. 485, CC) Pode ser preço de mercado (at. 486, CC) ou índices ou parâmetros (art. 487, CC) Tem que ser real, respeitando-se o princípio da equivalência material das prestações (para evitar doação simulada) Nulo quando a fixação do preço fica ao arbítrio de uma das partes (art. 489, CC) pode ter forma de pagamento, que pode ser especificada em cláusula Forma: corrente majoritária entende que não é necessária, em regra SITUAÇÕES ESPECIAIS DO CONSENTIMENTO Art. 496, CC - venda de ascendente a descendente deve ter consentimento dos demais descendentes e do cônjuge casado em união parcial ou total de bens, para não ser anulado Consentimento deve ser expresso Art. Não traz prazo, mas art. 179 diz que “quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato” Resp. nº 1.679.501/GO – estabelece 2 anos Crítica de Rosenvald – contagem de que fala o art. 179 deveria ser a partir do conhecimento do ato, e não simplesmente a contar da conclusão Enunciado 545 do CJF (2 anos a partir da ciência do ato =/= art. 179 – a partir da conclusão do ato) A lei não distinguiu se a venda se dá para bens móveis ou imóveis Lei não proíbe venda de descendente para ascendente Exigência do art. 496 subsiste de avô para neto - QUESTÃO EXEMPLIFICATIVA - Magodekson vende um apto a seu filho Mago, que paga R$400.00. Ele tem outros dois filhos e é viúvo. a) Magodekson pode vender seu apto para um filho? Fundamente R: sim. Na regra do art. 496, desde que os demais filhos concordem com o NJ de maneira expressa. b) os filhos que não participaram como compradores da relação contratual precisam participar do NJ? Fundamente. R: Sim, muito embora não figurem no polo de compradores, mas como anuentes e, portanto, são peça fundamental para a validade do NJ. c) se a venda for invalidada, qual seria a invalidade e o prazo para a desfazer o NJ? R: Invalidade relativa. 2 anos a contar da conclusão do ato (art. 179) VENDA NULA (art. 497) – pessoas que são administradoras de bens/interesses alheios não podem comprar tais bens-Desvio da finalidade da própria função – ILEGITIMIDADE torna a compra e venda NULA de pleno direito Dos incisos II a IV do art. 497 – princípios da administração pública vedam a venda As proibições previstas neste artigo se estendem à cessão de crédito COMPRA E VENDA ENTRE CÔNJUGES (art. 499) – só podem realizar negócios de bens excluídos da comunhão (bens particulares) RESPONSABILIDADE PELOS RISCOS (art. 492) Sobre a coisa e sobre o preço Critério utilizado pelo CC: até a tradição riscos da coisa por conta do vendedor (perda ou deterioração) riscos do preço por conta do comprador Após a tradição, a responsabilidade passa a ser do comprador; após a entrega do preço ao vendedor, ele responderá pelos riscos do preço O art. 492 não trata do vício redibitório (art. 441) – responsabilidade decorrente do defeito =/= responsabilidade do art. 492 Solução do CDC – pedir a substituição do produto ou dinheiro de volta Comprador responde pelos riscos da coisa se se antecipar à tradição (§ 1º do 492) Comprador responde pelos riscos da coisa se estiver em mora para recebê-la (§ 2º do 492) – mora accipiendi DESPESAS DO CONTRATO (art. 490, CC) “Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição”. A regra da primeira parte do art. 490 é aplicada para as despesas da tradição do bem imóvel (despesas com seguro, com boleto, etc.) não estão regulados pelo código, de forma que fica a critério do contrato Nas relações de consumo, a regra do 490 precisa ser ainda mais clara, tendo em vista o CDC (lei n° 8078/90) VENDA AD CORPUS E AD MENSURAM (art. 500, CC) – somente de bem imóvel. São espécies de venda que acontecem em decorrência da estrutura física do bem ou da sua área (SENISE, 2005, p. 288) Ad mensuram (segue o tamanho): preço é correlacionado à extensão/área do imóvel vendido Direito ao complemento da área (ação ex emptio ou ex vendito) Resolução contratual (ação redibitória) Abatimento do preço (ação quanti minoris ou estimatória) Prazo de 1 ano do registro do título para propor as referidas ações (art. 501, CC) Corrente majoritária: a ordem disposta no caput do art. 500 (somente poderá pedir a resolução ou o abatimento se não for possível a complementação) precisa ser cumprida; Corrente minoritária: caberá ao comprador escolher o remédio para violação do contrato no que diz respeito à venda ad mensuram Se o tamanho do bem for superior ao previsto no contrato, fica à critério do comprador devolver o excesso ou completar o valor correspondente (art. 500, § 2º, CC) OBS: quando a isso, Gagliano e Stolze defendem que, tal dispositivo deva ser interpretado razoavelmente, considerando a diversidade geográfica do País, consequente dificuldade de determinação exata da área, bem como a precariedade do sistema de registros que, em muitos Estados é excessivamente burocrático e pouco preciso. Ad corpus (art. 500, § 3º, CC) – segue a coisa. tamanho do bem não importa, mas sim a própria coisa vendedor vende o imóvel com corpo certo (determinado) – bem vendido como um todo – assim sendo,não se pode exigir complemento da área nem devolução do excesso, eis que o tamanho não importa CLÁUSULAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA (art. 505 a 532) – 5 possibilidades – Negócios jurídicos que transformam a compra e venda de um negócio simples em um NJ contendo elementos acidentais, como termo (temporalidade), condição (circunstância suspensiva ou resolutiva) ou encargo (atribuição de ônus específico a um determinado sujeito estranho à compra e venda Obs: condição resolutiva afeta a perda do bem RETROVENDA (art. 505 a 508) Vendedor pode retomar o bem alienado, no prazo máximo de 3 anos, mediante o pagamento do preço recebido, das despesas do contrato, e das bem-feitorias necessárias. Benfeitorias úteis e voluptuárias somente podem ser realizadas com a permissão do vendedor Manifestação voluntária do vendedor; direito potestativo do vendedor Elemento acidental presente: condição resolutiva expressa (porque resolve a propriedade – quando o vendedor se manifestar, ele volta ao status quo ante, deixando o comprador de ser o proprietário - perda do bem). Só se aplica a bem imóvel Se fizer a aplicação à bem móvel, deixa de se analisar sob o prisma do CC e passa-se a analisar sob a ótica da autonomia da vontade (VENOSA) OBS: Oferece risco ao comprador e não é cláusula comum Poderá o vendedor exigir judicialmente o cumprimento da cláusula (art. 506, CC) Direito de retrato é transmissível a herdeiros e legatários (art. 507, CC) Perecimento da coisa extingue o direito de resgate, sem qualquer indenização à parte adversa (res perit domino – coisa perece com o dono – PAMPLONA) Deterioração do imóvel – vendedor não tem direito à redução proporcional do preço, devendo restituí-lo integralmente com comprador (PAMPLONA) VENDA A CONTENTO E SUJEITA A PROVA (art. 509 a 512) Vendas sob condição suspensiva ao agrado do comprador (sem necessidade de justificação) ou à adequação do bem à finalidade desejada (necessita ser justificada) Posse direta como bem Venda a contento: bens consumíveis, de fácil consumo (posicionamento doutrinário) – art. 509 Venda sujeita a prova: bens duráveis e não consumíveis. Recusa precisa ser justificada. Condição suspensiva no atendimento das qualidades asseguradas pelo vendedor, bem como na idoneidade para o fim a que se destina Somente produzirá efeitos após a declaração do comprador =/= do direito de arrependimento (art. 49, CDC – direito potestativo de desistir da compra realizada fora do estabelecimento no prazo de 7 dias) Consequências: Obrigações do comprador são de mero comodatário, enquanto não manifestar sua vontade Responderá o comprador pela conservação do bem durante a avaliação da aquisição Não há prazo previsto em lei. Deve ser acordado em contrato. Se não for, vendedor tem prerrogativa de intimar o comprador. Se, mesmo assim, o comprador silenciar, devem-se preservar os princípios da razoabilidade e da segurança jurídica, de forma a entender o silêncio como um aceite tácito. PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA (art. 513 a 520) Nova aquisição! =/= retrovenda Cláusula que obriga o comprador, no caso de vender a coisa comprada ou dá-la em pagamento, a oferecê-la ao vendedor originário, para que este tenha preferência em readquiri-la. Vendedor originário também pode intimar o comprador (art. 514, CC) Vendedor originário deve pagar em condições iguais o preço encontrado ou ajustado Prazo de validade do direito (art. 513) Imóveis: não pode exceder os 2 anos Móveis: não pode exceder os 180 dias Inexistindo prazo, o direito caducará, após a notificação do vendedor originário em: 60 dias (imóveis) 3 dias (móveis) Se o direito de preferência for estipulado em favor de 2 ou mais pessoas: 1. Não pode ser exercido sobre parte do bem 2. Prazo de decadência correrá para cada preferente a partir de sua cientificação (pode caducar pra uns e não pra outros) Violação da cláusula gera perdas e danos (art. 518, CC); adquirente responde solidariamente se agiu de má-fé. Direito personalíssimo – não se transmite nem inter vivos nem mortis causa (art. 520, CC) Exceção – direito de preferência na expropriação para fins de necessidade/utilidade pública (art. 519, CC) Se a coisa expropriada não tiver o destino para que se desapropriou, cabe ao expropriado direito de preferência pelo preço atual da coisa Pode reivindicar o valor atual do bem e o já indenizado, sem necessidade de abatimento RESERVA DE DOMÍNIO (art. 521 a 528) Cláusula de condição suspensiva Só pra coisa móvel de natureza durável e suscetível de caracterização perfeita (art. 521 c/c 523, CC) Só é aplicada em contratos de duração continuada, com prestações sucessivas (prestações prolongadas) Quando ocorre pagamento à vista, não se aplica a cláusula, por óbvio, já que é contrato de execução imediata Consequências do descumprimento: ingresso com ação de cobrança (ações vencidas ou vincendas) ou busca e apreensão do bem (art. 526). OBS: O pedido não pode ser cumulativo, tendo em vista que o art. Traz consigo uma coisa “ou” outra OBS2: Teoria do inadimplemento substancial Obs: arts. 111 e 112 cc (presunção) VENDA SOBRE DOCUMENTOS (art. 529 a 532) Substituição da tradição pela entrega do título da coisa + documentos exigidos pelo contrato Negociações de grande vulto (ex: contratos internacionais) Esse tipo de clausula especial transfere grande risco ao comprador Comprador não pode recusar pagamento com a justificativa de que há defeitos na coisa, salvo se já houverem sido comprovados Se houver vício oculto, é aplicável, como em qualquer outra modalidade de compra e venda, toda a disciplina de tutela em face dos vícios redibitórios, à luz da boa-fé objetiva, tendo em vista que somente o que se pretende com a venda sobre documentos é a facilitação da consumação da transferência do domínio, presumindo o comprador que a coisa conserva as qualidades nela apontadas (PAMPLONA) Por isso também não pode o comprador condicionar o pagamento à realização de vistoria p/ constatação de inexistência de defeito oculto/aparente Se a coisa não for entregue medida possessória, considerando que a propriedade já se transferiu Pagamento realizado na data e local da entrega dos documentos, salvo convecção em contrário (art. 530, CC) Se tiver apólice de seguro dos riscos do transporte, será por conta do comprador (at. 531, CC) Se vendedor tiver ciência da perda ou avaria da coisa na conclusão do contrato, será por conta dele Pagamento por meio de estabelecimento bancário este deve efetuá-lo contra a entrega dos documentos, sem obrigação de verificar a coisa (art. 532, CC) CONTRATO DE PERMUTA (art. 533) Negócio jurídico pelo qual as partes se obrigam a entregar reciprocamente coisas, que não seja dinheiro O complemento em preço transforma a permuta em compra e venda? 1ª corrente: critério quantitativo - o complemento em preço não poderá representar “mais da metade do pagamento” em relação ao bem principal (Carlos Roberto Gonçalves) 2ª corrente: critério de apuração da vontade das partes; o que deve ser considerado é o simples desejo das partes (Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald) Cada um dos contratantes pagará pela metade das despesas do contrato, salvo acordo em contrário (art. 533, I, CC) Se o valor do bem que ascendente trocar com o descendente for maior, a validade dependerá da anuência dos demais descendentes e do cônjuge em união parcial ou universal de bens (art. 533, II, CC), ou será anulável QUESTÃO HIPOTÉTICA: Aroldo entregou o apto x em permuta a seu filho Bestroaldo, que, em contrapartida, entregou o apto z para seu pai. Considerando que o apto x vale 500k e o apto z 50k o que é necessárioocorrer nesse negócio jurídico para que a permuta seja válida? R: complemento em dinheiro, se não houver consentimento dos demais descendentes e cônjuge alienante, ou termo de anuência que demonstre expressamente a anuência dos descendentes e cônjuge.
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