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Financiamento e Investimento Empresarial Finanças Corporativas Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ AUTORIA André de Faria Thomáz Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006); e mestre (2011) e doutor (2018) em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atuo como contabilista e como professor, nas modalidades presencial e a distância, nas áreas de auditoria contábil de departamentos, de finanças e de pessoal. Durante minha atuação como contabilista, tenho vasta experiência na área de Obrigações Acessórias e Obrigatórias. Por outro lado, ao longo de minha experiência como docente, além de ter sido coordenador de curso, lecionei, principalmente, as seguintes disciplinas: Contabilidade Básica; Economia; Planejamento e Contabilidade Tributária; Contabilidade de Custos e Análise de Custos; Gestão por Processos; Estrutura das Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações; Contabilidade Gerencial; Teoria da Contabilidade; Contabilidade Intermediária; Contabilidade Internacional; Auditoria; Contabilidade Empresarial; Controle Interno; Matemática; Logística; Recursos Humanos; e Gestão de Risco. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que se iniciam em suas profissões. Por isso, fui convidado a integrar o elenco de autores independentes da editora TeleSapiens. Estou muito feliz por poder ajudá-lo, aluno, nesta fase da vida de muito estudo e de muito trabalho. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Análise de Financiamento e Investimento das Empresas .........10 Alavancagem Operacional ....................................................................................................... 10 Grau de Alavancagem Operacional ................................................................................... 12 Análise do Ponto de Equilíbrio Contábil, Financeiro e Econômico ............ 14 Necessidades de Alavancagem das Empresas ............................ 20 Agentes Financeiros e suas Relações no Âmbito do Sistema Financeiro Nacional ................................................................................................................................................ 20 Segmentos do Mercado Financeiro ..................................................................................26 Grupo de Investidores do Mercado Financeiro.........................................................27 Política Monetária Brasileira ....................................................................................................29 PAY-BACK e Métodos de CAPM ..............................................................31 Análises de DRE como Ferramenta Financeira .............................. 36 7 UNIDADE 03 Finanças Corporativas 8 INTRODUÇÃO Como sabemos, a constituição do orçamento das empresas influencia tanto sua gestão financeira quanto sua gestão administrativa. Nesse sentido, caro aluno, você pensou no quanto as empresas dependem das técnicas orçamentárias, com o ensejo de que o planejamento e o financiamento de suas atividades se harmonizem? Com o objetivo de que atinjamos essa harmonização durante o exercício de nossa profissão, focaremos, nesta unidade, o ciclo operacional de uma empresa. Veremos o ciclo operacional desde o ponto em que se inicia, a compra de insumos; até o ponto em que se finaliza, o recebimento dos retornos das vendas. Quando pensamos em uma gestão financeira eficiente, devemos considerar que o ciclo operacional precisa ser acompanhado periodicamente, visto que, quanto menores forem os prazos transcorridos entre as suas etapas, mais aprimorados estará o ciclo operacional, e maiores serão os lucros da empresa. O ciclo operacional engloba atividades tanto atividades de produção quanto atividades de comercialização dos produtos, sejam bens, sejam serviços. Assim sendo, para determinar o seu lucro líquido, uma empresa deve, primeiramente, calcular o seu lucro operacional e descontar-lhe as despesas financeiras, que não podem ser consideradas resultantes das suas etapas e dos seus setores produtivos, como são os casos de impostos e de juros sobre financiamentos. Para que o lucro líquido apresente bons índices, bons, também, devem ser o desempenho operacional e o lucro operacional, com os quais mantém relação diretamente proporcional. Bons estudos! Finanças Corporativas 9 OBJETIVOS Olá, aluno! Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Quando finalizar esta etapa de nossa disciplina, você terá desenvolvido, com o nosso auxílio, as seguintes competências relacionadas às técnicas de orçamento de capital e âss estratégias financeiras: 1. Aplicar os métodos de análise de financiamento e investimento nas empresas, discernindo sobre as melhores alternativas de captação de recursos financeiros. 2. Avaliar e mensurar a necessidade de alavancagem das empresas, avaliando riscos e benefícios. 3. Aplicar os métodos do pay-back e CAPM para avaliar o resultado de investimentos nas empresas. 4. Utilizar as DRE – Demonstrações de Resultados do Exercício como ferramenta de análise e avaliação financeira de uma empresa. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Finanças Corporativas 10 Análise de Financiamento e Investimento das Empresas OBJETIVO: Quando conhecem bem as suas despesas operacionais fixas, as empresas conseguem formular estratégias para maximizar a sua lucratividade. Trata-se, então, de praticar o que chamamos, no título desta seção, de alavancagem operacional. Mas, caro aluno, se tentássemos, seríamos capazes de mensurar a alavancagem operacional de uma empresa? Na sua opinião, os custos associados às despesas operacionais, caso variem, impactam, de alguma maneira, a alavancagem operacional? Para responder a essas e a outras questões, dependeremos de saber o que é grau de alavancagem operacional e como está relacionado com o retorno médio operacional. Portanto, desenvolver esses conhecimentos é o objetivo desta unidade. Vamos estudar os conceitos básicos e as especificidades do grau de alavancagem operacional que está ligada diretamente ao retorno médio do contábil, do ponto de equilíbrio contábil, financeiro e econômico e do impacto da variação de custos no ponto de equilíbrio e na alavancagem operacional. Motive-se e acompanhe nossos passos bem de perto! Alavancagem Operacional A alavancagem operacional, como você, aluno, deve ter compreendido no decorrer dos textos introdutórios, baseia-as nas despesas e nos custos fixos e variáveis das empresas – sejam os de caráter operacional, sejam os de caráter financeiro – para maximizar as suas taxas delucratividade. Finanças Corporativas 11 Existe uma diferença muito importante entre despesa operacional e despesa financeira: a sua decorrência das atividades organizacionais. Enquanto uma despesa operacional provém das necessidades das etapas e dos setores produtivos, como acontece com os gastos com os insumos, que servem de matéria-prima para a linha de produção, as despesas financeiras resultam dos gastos realizados e assumem a forma de juros e de tributos. Na hipótese de contratarmos um empréstimo bancário para a aquisição de novas máquinas, com o objetivo de expandir a capacidade produtiva de nossas empresas, o valor do empréstimo deverá ser considerado despesa operacional, enquanto os tributos incidentes, como o IOF, e os juros cobrados pagos entrarão na lista de despesas financeiras. Para caracterizar a sua alavancagem operacional, uma empresa deve determinar quais são os custos fixos do seu processo produtivo. A seguir, há um esquema elaborado por Kato (2012), que nos ajudará a compreender a relação entre alavancagem operacional e custos fixos. Figura 1 – Como se verifica a alavancagem operacional? Fonte: Kato, 2012. No esquema, temos duas situações: Caso 1 e Caso 2. Caso 2 nos apresenta um cenário pessimista, com redução de vendas, ao passo que Caso 1 é ou otimista ou realista, com aumento de vendas. Para analisar ambos os cenários, consideremos que a previsão de vendas – indicada na Finanças Corporativas 12 coluna entre Caso 2 e Caso 1, em que constam todas as demais previsões – tenha sido de R$ 10.000,00. Comparando Caso 2 e Caso 1 com as previsões, notamos que Caso 2 admite uma redução das vendas em 50%. Ao contrário, por sua vez, Caso 1 adota um aumento das vendas em 50%. Nas duas situações, devido às próprias naturezas, os custos fixos são os mesmos, e os custos variáveis, proporcionalmente, acompanham as taxas de evolução e de involução das vendas: no Caso 2, caem à metade do previsto (de R$ 5.000,00, passam para R$ 2.500,00); e, no Caso 1, equivalem a 1,5x, em que x é a previsão (de R$ 5.000,00, passam para 1,5 X R$ 5.000,00 = R$ 7.500,00). O Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda (Lajir) equivale ao lucro operacional e é mensura sem o desconto das despesas operacionais e financeiras, entrando na demonstração de resultado do exercício em questão. No Caso 2, o valor do Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda (Lajir) é igual a R$ 0,00. Por outro lado, no Caso 1, o valor dobra de R$ 2.500,00 (previsto) para R$ 5.000,00. Isso significa que, no Caso 2, nenhum lucro sobra após o pagamento das despesas e dos tributos. Caro aluno, você faz ideia do que podemos concluir com base na comparação dos Caso 2 com o Caso 1? Perceba que, como os custo fixos, necessariamente, são iguais nos dois cenários, o Caso 1 demonstra uma alavancagem operacional em relação ao Caso 1, uma vez que, com as mesmas condições de produção, aumenta o lucro operacional em 50%, quando a referência é a precisão; e em 200%, quando a referência é o Caso 2. Grau de Alavancagem Operacional Aumentos no volume de vendas das empresas costumam resultar em lucros maiores. No entanto, volume de vendas e lucratividade não grandezas proporcionais. Basicamente, devemos entender que um aumento de 20% no volume de vendas não implicará um aumento de 20% na lucratividade. Mas por que isso acontece? Não parece lógico que, se aumentarmos nossas vendas, aumentaremos, também, a nossa lucratividade? Isso não apenas parece lógico: é verdadeiro. Porém, com Finanças Corporativas 13 um de 20% no volume das vendas, considerando que nossos custos fixos permaneçam os mesmos – o que, em parte relevantes dos casos, acontece –, nada nos impedirá de atingir de lucratividade maiores do que 20%. Figura 2 – Índices de lucratividade Fonte: Pixabay. A lucratividade de que falamos é o índice Laji, que conhecemos no fim da subseção anterior. Para encontrá-lo, é necessário saber como funciona o impacto da variação das vendas sobre o Laji. Utilizaremos, então. o cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (GAO). Adotando o Caso 1 de Kato (2013) – cujas vendas e cujo Lajir aumentaram, respectivamente, 50% e 100% em relação às previsões – temos o seguinte GAO. Finanças Corporativas 14 Portanto, se GAO é igual a 2, sabemos que, enquanto o índice de vendas recebeu um acréscimo de 50%, o Laji teve um crescimento de 100% (2 X 50%). Caso os custos fixos aumentassem no mesmo passo que o volume de produção, GAO seria igual a 1, e não haveria alavancagem de produção. Na medida em que nos fornece um número que, ao ser multiplicado pela variação no volume de vendas, resulta no quanto isso influenciou o lucro operacional de uma empresa, o GAO mede a suscetibilidade do lucro operacional ao volume de vendas. Análise do Ponto de Equilíbrio Contábil, Financeiro e Econômico O ponto de equilíbrio operacional é aquele em que as receitas operacionais equivalem às despesas operacionais. Podemos estudá-lo de três perspectivas: contábil, financeira e econômica. A análise do ponto de equilíbrio operacional, também conhecida como análise de custo-volume-lucro (CVL), servirá para que calculemos o volume de vendas necessário para cobrir os custos operacionais de nossas empresas; e para que projetemos a rentabilidade de diferentes níveis de vendas (KATO, 2012). O ponto de equilíbrio contábil ou operacional se estabelece quando o volume de lucros é suficiente para pagar as despesas operacionais, sendo o lucro operacional igual a zero. A seguir, está a equação do ponto de equilíbrio contábil. QC = equilíbrio contábil CF = custos fixos P = preço unitário CVunitário = custos variáveis unitários Exemplo Suponhamos que a empresa Agatha & Filhas tenha custos fixos de R$ 80.000,00 e custos variáveis unitários de R$ 120,00, vendendo Finanças Corporativas 15 seus cobertores a R$ 200,00 (por unidades). Considerando esse contexto, o valor dos cobertores é suficiente para cobrir os custos operacionais? Para descobrir essa informação, devemos aplicar equação do ponto de equilíbrio contábil. Para cobrir os custos operacionais, a empresa precisa vender 1.000 unidades do produto. Da perspectiva do ponto de equilíbrio financeiro, não observaremos custos fixos que não sejam valores pagos pela empresa – ou seja, valores que, em vez de serem pagos, deixam de ser recebidos, impactando, igualmente, o ponto de equilíbrio contábil. Um caso desse tipo é o da depreciação (D). Para realizar o cálculo do ponto de equilíbrio financeiro, precisaremos adaptar a equação anterior à seguinte forma. Além de cobertores, a empresa Agatha & Filhas produz outros produtos do segmento casa, mesa e banho. Um desses é um conjunto de duas fronhas, para o qual temos as seguintes informações. CF = R$ 24.000,00 P = R$ 20,00 CVunitário = R$ 12,00 C = R$ 2.000,00 Portanto, para alcançar um ponto de equilíbrio que considere a depreciação do valor dos produtos, 2.750 conjuntos de fronhas precisam ser vendidos. Por sua vez, o ponto de equilíbrio econômico considera o Lucro Desejado (LD). Finanças Corporativas 16 Agora, vamos imaginar que a empresa Agatha & Filhas deseje ter uma margem de lucro de R$ 6.000,00 com a venda do conjunto de fronhas. Nesse caso, atingirá o ponto de equilíbrio financeiro com a venda de quantas unidades? CF = R$ 24.000,00 P = R$ 20,00 CVunitário = R$ 12,00 LD (lucro desejado): R$ 6.000,00 Portanto, para alcançar o lucro desejado de R$ 6.000,00, é necessário vender 3.750 unidades de conjunto de fronhas. O resultado da relação (P – CV), chamado de margem de contribuição unitária, não apenas é o denominador da equação de ponto de equilíbrio financeiro, mas indica, ainda, se a produção será viável para a empresa. Se for positivo, apontará que a produção será benéfica para a empresa. Porém, nos casos em que for ou nulo ou negativo, apontará que a produção acarretaráprejuízos para a empresa. No exemplo anterior, a margem de contribuição unitária é igual a R$ 8,00 ((P – CV) = R$ 20,00 – R$ 12,00 = R$ 8,00), o que significa que, a cada conjunto de fronhas vendido, a R$ 8,00 entrarão no caixa da Agatha & Filhas com a finalidade de cobrir as despesas ou custos fixos unitários (quantidade total de custos/quantidade de produtos vendida). A alavancagem operacional e o ponto de equilíbrio contábil ou operacional dependem das mesmas variáveis: receitas e despesas operacionais. Agora, analisaremos como a variação dos custos operacionais fixos, do custo operacional variável e do preço unitário influenciam o ponto de equilíbrio contábil e a alavancagem operacional. Para isso, utilizaremos um exemplo de Gitman (2006). Finanças Corporativas 17 Figura 3 – Influência do custo operacional variável e do preço unitário sobre o ponto de equilíbrio contábil ou operacional e sobre a alavancagem operacional Fonte: Gitman, 2006. Retomando a nossa empresa Agatha & Filhas, suporemos que o seu gestor financeiro deseja testar como se sairia, frente aos consumidores, um aumento no preço de seu edredom king size. Com os seguintes dados, calcularemos o equilíbrio contábil antes do aumento de preço king size e a alavancagem operacional após o aumento de preço. Antes do aumento de preço Preço unitário = R$ 320,00 Custo variável unitário = R$ 300,00 Custos fixos = R$ 160.000,00 Finanças Corporativas 18 Depois do aumento de preço Preço unitário = R$ 400,00 Custo variável unitário = R$ 300,00 Custos fixos = R$ 160.000,00 Portanto, comparando os dois cenários, com um aumento de R$ 50,00 no preço unitário do edredom king size, a empresa Agatha & Filhas deverá vender 1.600 unidades do king size para alcançar o equilíbrio contábil, metade do que seria necessário sem o aumento do preço unitário. Agora, verificaremos um terceiro cenário: se as demais variáveis permanecerem constantes, qual seria o ponto de equilíbrio contábil se o preço unitário do edredom king size aumentasse para R$ 500,00? Aumento do preço unitário para R$ 500,00 Preço unitário = R$ 500,00 Custo variável unitário = R$ 300,00 Custos fixos = R$ 160.000,00 Finanças Corporativas 19 Portanto, a empresa necessitaria vender 800 unidades do edredom king size para alcançar o equilíbrio operacional, 50% a menos do na situação anterior. Aprendemos, com esses exemplos, que um aumento no preço unitário de um produto pode conduzir a uma redução do equilíbrio operacional. Mas o que tais exemplos nos informam sobre a alavancagem operacional? Então, considerando que os custos fixos operacionais permaneceram inalterados, o lucro operacional crescerá mais do que a variação de preço unitário. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como aplicar os métodos de análise de financiamento e investimento nas empresas, discernindo sobre as melhores alternativas de captação de recursos financeiros. Finanças Corporativas 20 Necessidades de Alavancagem das Empresas OBJETIVO: O funcionamento do sistema financeiro de um país define as decisões tomadas em termos de política econômica. Como gestores financeiros, devemos saber essa relação se reflete nas atividades empresariais, para que sejamos capazes de realizar previsões financeiras que atendam tanto às exigências legais quanto às exigências da empresa em que trabalhamos.. O objetivo maior de uma política econômica é incentivar o desenvolvimento das empresas e, consequentemente, o desenvolvimento do país. Normalmente, o controle financeiro é muito importante para que isso aconteça, porém, em tempos em que os mercados mundiais estão integrados, transformou-se em algo imprescindível. Nesse sentido, nesta seção, estudaremos o Sistema Financeiro Nacional (SNF), cujas funções são controlar e dinamizar os recursos movimentado pelos vários agentes econômicos. Agentes Financeiros e suas Relações no Âmbito do Sistema Financeiro Nacional Os agentes econômicos, considerados, ao mesmo tempo, fornecedores e captadores de recursos, constituem a dinâmica financeira do Brasil. Para que recursos financeiros sejam oferecidos, na forma de créditos, às empresas que necessitem de recursos financeiros, é necessário que certos agentes reservem uma quantidade do seu capital para esse fim, em troca de uma remuneração. Portanto, as empresas que dependem de recursos externos para custear suas operações devem angariá-los entre os diversos agentes econômicos do mercando, submetendo-se ao pagamento de juros indenizatórios. Na Figura 4, há um esquema das relações do SFN (ASSAF NETO; LIMA, 2010, p. 37). Finanças Corporativas 21 Figura 4 – Relações no âmbito do SFN Fonte: Assaf Neto; Lima (2010, p. 37) Por sua vez, os governos também reservam certa quantidade de capital para emprestar às empresas, em troca do pagamento de juros indenizatórios. A fonte desse recurso é o pagamento de tributos, como acontece com todas as atividades públicas. Nesse sentido, o planejamento financeiro do nosso país conta com um órgão exclusivo, o Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo Assaf Neto e Lima (2010), Como órgão normativo, por excelência, não lhe cabem funções executivas, sendo o responsável pela fixação das diretrizes políticas monetária, creditícia e cambial do País. Pelo envolvimento, o CMN acaba se transformando em um conselho de política econômica. Suas funções específicas são: a. a fixação de diretrizes e regras da política cambial; b. a regulamentação das taxas de juros e comissões, quando necessário, para a prática das operações nas instituições financeiras; Finanças Corporativas 22 c. a regulação dos procedimentos para a constituição de instituições financeiras, seus métodos de contabilização. d. a definição de índice de capital mínimo e orientação quanto aos tipos de crédito a serem ofertados por essas organizações; e. a formulação da política de moeda com o controle do volume de dinheiro circulante na economia. (ASSAF NETO; LIMA, 2010, p. 59) O Banco Central do Brasil (Bacen), na cadeia da regulação das atividades financeiras do Estado financeiro, é responsável por executar as determinações do CMN. Foi criado pela lei 4.595, de 21 de dezembro de 1964, e funciona como fiscal do nosso sistema financeiro, monitorando a saúde das reservas nacionais e a liquidez da nossa economia. REFLITA: Caro aluno, não é verdadeiro afirmar que, sem liquidez, as empresas não conseguem financiar suas operações cotidianas? Agora, imagine a dinâmica de uma empresa do tamanho do Brasil, cujas movimentações atingem a casa dos trilhões de dólares anuais. Consegue dimensionar como é a liquidez demanda para um negócio como esse? Apesar de ser difícil, alguém – no caso, o Conselho Monetário Nacional – precisa preocupar-se com isso. Segundo Pinheiro (2009), de forma detalhada, cabem ao Bacen as seguintes funções: 1. expedir papel moeda e moeda metálica, conforme for estabelecido pelo CMN; 2. receber os recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais e dos depósitos voluntários das instituições financeiras do país; 3. efetivar redescontos e empréstimos às instituições financeiras, focando a política econômica governamental e a solução e problemas de liquidez; 4. orientar a compensação de cheques e de outros títulos; Finanças Corporativas 23 5. comprar e vender títulos públicos federais; 6. expedir títulos de responsabilidade própria, levando em consideração o que for estabelecido pelo CMN; 7. controlar o crédito, sob todas as suas formas; 8. fiscalizar as instituições financeiras e as punir, se isso for necessário; 9. permitir o funcionamento de instituições financeiras privadas, estipulando a sua dinâmica operacional; 10. fiscalizar a intervençãode outras empresas nos mercados financeiros e no mercado de capitais; 11. controlar do fluxo de capitais estrangeiros e garantir o adequado funcionamento do mercado cambial. O terceiro órgão brasileiro regulador das atividades financeiras é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cujo foco são as transações financeiras ocorridas no mercado de capitais. Tais transações podem envolver investidores internos e externos e os ambientes nacionais e internacionais. A lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976, foi responsável por criar a CVM, atribuindo-lhe a função de fiscalizar o mercado de capitais, viabilizando as necessidades sociedades anônimas de capital aberto. Para cumprir essa função, a CMV utiliza diferentes mecanismos de financiamento para suprir o aporte de capital das empresas; e lhes garante uma importante flexibilidade no relacionamento com mercados e com empresas de vários segmentos e de distintos países. A CVM espera, em troca, que os resultados financeiros das empresas beneficiadas contribuam para promover a atratividade do Brasil no mercado internacional. Entre as atividades existentes no mercado de capitais, há a intermediação financeira, que consiste no repasse de recursos financeiros de agentes superavitários, por intermediários, a empresas que necessitem de financiamento, mediante o pagamento de taxas de juros. Como as taxas de juros praticadas são maiores, a intermediação financeira atende às expectativas dos investidores e resulta, ainda, produzirão em lucros para Finanças Corporativas 24 os intermediários. Na Figura 4, vemos como a intermediação financeira funciona. Fonte: Assaf Neto e Lima (2010, p. 81). A coluna laranja da Figura 4 indica as atividades de intermediação. Do lado esquerdo, há a captação de recursos junto aos investidores, em troca do pagamento de juros; e, do lado direito, há o empréstimo às empresas, em troca de taxas de juros maiores do que as anteriores. A diferença entre as taxas de juros pagas aos investimentos e pagas pelas empresas representa o lucro dos intermediadores. Alguns dos principais elementos de intermediação que encontramos no SFN são os seguintes: a. bancos comerciais, cuja finalidade é atender às carências financeiras dos diversos agentes financeiros que compõem o mercado. Atualmente, são as maiores instituições financeiras do país; b. bancos de investimentos, que suprem, com suas operações, a médio e a longo prazos, o capital fixo das empresas as operações realizadas a médio e longo prazos para a formação do capital fixo; SAIBA MAIS: Assaf Neto e Neto (2010) apontam as funções gerais dos bancos de investimentos. 1. fortalecimento do capital das empresas, tanto do capital fixo quando do capital de giro; 2. financiamento das operações produtivas; 3. ordenação dos diferentes setores econômicos; 4. maior eficiência empresarial. Finanças Corporativas 25 c. sociedades cooperativas, que reúnem grupos de trabalhos de um mesmo segmento, com o objetivo de que a parceria os beneficie mutuamente, sem visar ao lucro diretamente; d. sociedades de crédito, de financiamento e de investimento (SCFI), cujas atividades são financiadas por meio da colocação de letras de câmbio – por exemplo, financiam bens de consumo duráveis por meio de crédito direto ao consumidor (CDC). De acordo com Frescura (2010), as operações autorizadas para as sociedades de crédito podem ser divididas em operações de ponta de captação, em operações de ponta de empréstimos e em operações de ponta de serviços. A operações de ponta de captação têm as seguintes funções (FRESCURA, 2010): • Reunir recursos financeiros isentos de remuneração por juros e com taxas menores, independentemente das instituições de origem, desde que o repasse seja legal). • Retirando a exigência de emissão de certificado, tornar os depósitos mais interessantes para seus associados. • Arrecadar empréstimos e repasses instituições nacionais e internacionais do mercado financeiro, utilizando, se forem necessários, depósitos interbancários. Por sua vez, as operações da ponta de empréstimos têm as seguintes funções (FRESCURA, 2010): • Distribuição de créditos em troca de garantias, como acontece no crédito rural, sendo uma opção exclusiva dos associados das sociedades de crédito. • Injeção de recursos financeiros no mercado, considerando as características e as exigências legais de cada tipo de investimento. Por fim, as operações da ponta de serviços têm, dentre outras, as seguintes funções (FRESCURA, 2010): • Serviços técnicos para outras cooperativas de créditos. Finanças Corporativas 26 • Administração dos recursos de cooperativas singulares filiadas, caso se trate de uma cooperativa central de crédito. • Serviços de cobrança, de custódia, de pagamentos e de recebimentos de instituições públicas e privadas. • Serviços de correspondente no Brasil, de acordo com as prerrogativas legais. • Assessoramento na busca de crédito da instituição contratante, com o intuito de tornar possível a conceção de crédito, e na busca de melhores taxas de juros junto ao Tesouro Nacional, como forma de liquidar o crédito contratado com os credores originais e de pagá-lo com condições melhores. • Distribuição de cotas de fundos de investimentos. Para a execução e para o acompanhamento das atividades dos intermediários financeiros, o mercado financeiro se divide em três segmentos, cujas responsabilidade são bastante específicas. Segmentos do Mercado Financeiro Como acabamos de mencionar, o mercado financeiro está segmentado em quatro partes: mercado de crédito, mercado cambial e mercado de capitais. O mercado de crédito engloba as operações contratadas de bancos e de sociedades de crédito que tenham a finalidade de suprir a demanda por capital fixo, que inclui a aquisição de bens, e por capital de giro, de acordo com o interesse de pessoas jurídicas (empresas) e de pessoas físicas. Por seu turno, a função do mercado cambial é mais complexa: controlar, nas negociações internacionais, a aplicação de moedas estrangeiras. Necessariamente, tais negociações serão de importação e de exportação, cujos dados serão compilados pelos agentes reguladores desse mercado. Duas são as principais atividades de tais agentes reguladores: converter moedas estrangeiras em moeda nacional, a fim de viabilizar as transações; e controlar as taxas de juros, com vistas a gerir o Finanças Corporativas 27 seu impacto sobre a economia e a combater a desvalorização, baseando- se no valor das moedas brasileiros frente ao da moeda nacional. Por fim, o mercado de capitais é o mais importante para o nosso desenvolvimento econômico. Relacionado, diretamente, ao crescimento das operações financeiras em território brasileiro, é controlado pelo SFN. Dentre outras, cumpre a função de distribuir títulos mobiliários, capitalizando as instituições empresariais e movimentando a nossa economia. Apesar de ser controlado pelo SFN, o mercado de capitais depende da integração e da atuação de diversos agentes econômicos, como empresas e investidores. Na condição de agentes normatizadores, temos, ainda, a CVM e a Bolsa de Valores; e, na condição de agentes operacionais, temos, dentre outros, os investidores (institucionais, pessoas jurídicas e pessoas físicas), as sociedades anônimas de capital aberto e agentes autônomos de investimento. Grupo de Investidores do Mercado Financeiro Existem seis tipos de grupos de investidores institucionais: a. fundos mútuos de investimentos; b. fundos externos de investimentos; c. sociedades de capitalização; d. sociedades seguradoras; e. clubes de investimentos em ações; f. entidades de previdência privada. As transações de tais grupos de investidores institucionais no mercado de capitais dependem do intermédio de títulos mobiliários, que representam o capital social das organizações e podem, por isso, ser negociadosnas formas de ações, de bônus, de debêntures e de outros títulos. Finanças Corporativas 28 Em 2008, a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a Bolsa de Valores de São Paulo, foram fundidas na BM&F Bovespa S. A., que, no Brasil, com as das sociedades corretoras, detém a responsabilidade sobre esse mercado. As bolsas de valores, de um modo geral, visam aos interesses públicos e são formadas por sociedades anônimas de ações constituídas como entidades jurídicas. Por sua vez, as sociedades corretoras trabalham com pregões determinados por seus clientes e negociam títulos e valores mobiliários. As bolsas de valores funcionam de acordo com a lei da oferta e da procura e, sempre que isso for possível, priorizam a liquidez dos títulos negociados, buscando, em função das oscilações diárias do mercado financeiro, as melhor es precificações para os ativos. De acordo com Pinheiro (2009), os principais requisitos de uma bolsa de valores são os listados a seguir: a. livre concorrência, expressa na forma da diversidade e do número de participantes; b. oferta de produtos homogêneos, o que facilitará as contratações; c. transparência nas operações, condição essencial para que tenham credibilidade frente aos agentes do mercado. Das operações de uma bolsa de valores, participam, no mínimo, três agentes: • os especuladores, aproveitarão a volatilidade do mercado para manipular ativos, a fim de auferir lucros em curto prazo; • os investidores, investirão capital em empresas em empresas presentes no mercado, a fim de auferir lucros em médio e em longo prazos; • os gestores financeiros, que tentam encontrar créditos com os menores custos, com os melhores prazos e com os menores ricos associados. Finanças Corporativas 29 Política Monetária Brasileira A evolução das atividades econômicas de um país determina o crescimento dos agentes e, consequentemente, a melhoria dos índices financeiros nacionais e globais. Assim, forma-se uma economia integrada e favorável à criação de negócios, sendo impulsionada pela globalização. A abertura financeira de mercados, necessariamente, é controlada por normas legais, as quais devem antever a valorização da moeda nacional frente às moedas estrangeiras e como propiciar esse acontecimento. Aos mecanismos planejados para valorizar a moeda nacional, damos o nome política monetária. Figura5 – Valorização do Dólar Fonte: Pixabay. Normalmente, a responsabilidade sobre a política monetária de um país é de seu Banco Central, que controla os meios de pagamento, os títulos públicos e as taxas de juros. Isso impactará, de forma direta, tanto a oferta de crédito no mercado financeiro quanto o custo de sua contratação. Finanças Corporativas 30 Com mercados globais, a entrada de recursos que possam ser utilizados em novas políticas econômica costuma beneficiar todos os países. Contudo, as crises financeiras apresentam igual tendência de impactar as políticas monetárias dos países. A injeção de dinheiro no mercado por parte dos Bancos Centrais, que pode acontecer por meio da redução das taxas básicas de juros, pode ser um fator desencadeador de crises econômicas, espelhando- se por todo o globo terrestre e prejudicando a estabilidade econômica. Sabe como isso acontece, aluno? Taxas de juros pequenas incentivam o consumo de bens, o que conduzir a um grande índice de inadimplência, caso os indivíduos consumam mais do que sua renda é capaz de suportar. Na sequência, como a inadimplência reduz a lucratividade das empresas, o governo lhes concede subsídios financeiros para que permanecem no mercado. Isso aconteceu, por exemplo, em 2008, nos Estados Unidos, e o que surgiu como uma crise imobiliária nacional se transformou em uma crise global de enormes proporções. Em tais cenários de incertezas econômicas, os mecanismos de gestão da política monetária de um país devem ser revistos, como forma garantir mais solidez para as operações do mercado. Nesse sentido, o principal aliado do Estado, das empresas e dos investidores serão mecanismos de gestão da política monetária que tratem os setores do mercado de maneira desigual, garantindo-lhe que as suas necessidades específicas sejam atendidas. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como avaliar e mensurar a necessidade de alavancagem das empresas, avaliando riscos e benefícios. Finanças Corporativas 31 PAY-BACK e Métodos de CAPM OBJETIVO: Nesta seção, você verá que as operações das empresas dependem de desembolsos frequentes, ao mesmo tempo em que a entrada de recursos também é constante. Trata- se, portanto, do capital de giro e dos seus retornados. O maior problema da gestão do capital de giro é o fato de os prazos de pagamentos e de recebimentos tendem a não coincidir, que pode conduzir as empresas a situações em que deverão arcar com as obrigações com credores sem terem recebido os valores devidos por seus clientes, comprometendo então, todo o seu capital de giro. A partir dos ativos circulantes (recursos financeiros a receber) e dos passivos circulantes (recursos financeiros a desembolsar), as empresas conseguem calcular a sua rentabilidade e os seus riscos. Normalmente, os investidores somente aportam capital em negócios arriscados se a rentabilidade for atrativa. Também chamado de capital circulante líquido (CCL), o capital de giro é o mantém as operações cotidianas das empresas, incluindo os recursos financeiros necessários, por exemplo, para arcar com as dívidas com forneceres e com os salários dos funcionários, as quais são fundamentais para que as instituições funcionem. Como dissemos, ativos circulantes correspondem ao que as empresas detêm para financiar suas operações em curto prazo, ao passo que os passivos circulantes são as dívidas com as quais a empresa deve arcar em curto prazo, a fim de tornar as suas operações possíveis. De acordo com Assaf Neto e Lima, (2010), em uma empresa, quanto maior forem os ativos circulantes em comparação com os passivos circulantes, maior será sua liquidez, o que garantirá que suas obrigações sejam pagas em dia. Finanças Corporativas 32 A administração da liquidez depende de o gestor financeiro conhecer os ciclos de caixa da empresa: a. ciclo operacional (CO), que é o período entre a compra dos insumos e o retorno do investimento; b. ciclo de conversão de caixa é o período entre o pagamento das obrigações com fornecedores e o retorno do investimento. Quanto mais longo for o ciclo de conversão de caixa, maior será o capital de giro de que a empresa necessitará dispor. O cálculo do ciclo de caixa avalia duas grandezas: o prazo médio de renovação de estoques (PMRE) e o prazo médio de recebimento de vendas (PMRV). Começaremos por PMRE, cujo cálculo é feito com esta fórmula. Como modo de compreender a dinâmica do cálculo, suponhamos que sejamos donos de uma fábrica de automóveis e que focamos o nosso setor produtivo em apenas um modelo, considerado a sensação do momento pela imprensa especializada. Como margem de segurança, adotamos, como saldo médio de nosso estoque, o valor de R$ 15.000,00, que nos foi apontado, por nosso gestor financeiro, como suficiente para cobrir os custos produtivos e manter o capital de giro sadio. Entretanto, surfando na popularidade de nosso modelo de carro, pusemos R$ 90.000,00 como o seu valor de venda. Substituindo as variáveis pelos números que determinamos, teremos o seguinte: PMRE = 15.000,00 X 360 90.000,00 PMRE = 60 dias Por sua vez, o cálculo do PMRV depende do valor total a ser recebido de um cliente, cuja notação será VTC; do prazo concedido para o pagamento, cuja notação será PP; e do valor da receita bruta da empresa, Finanças Corporativas 33 cujanotação será VRB. A seguinte fórmula indica como as variáveis devem ser relacionadas. Retomando o nosso exemplo da fábrica de carros, imaginaremos, desta vez, que um único cliente, que deseja montar uma frota de carros de aluguel arrojada, adquiriu 120 de nossos carros da moda a R$ 90.000,00 por unidade, solicitando, em troca, um prazo de 180 dias para quitar a dívida. Assim, consultamos nosso gestor financeiro e descobrimos que a nossa renda bruta, no período de 180 dias, seria de R$ 10.800.000,00, que equivale à venda de 120 carros. Substituindo as notações pelos números que adotamos, teremos o seguinte. PMRV = 10.800.000,00X 180 9.000.000 PMRV = 216 Sendo assim, de acordo com os números que obtivemos, CCO será calculado da seguinte forma. CCO = PMRE + PMRV CCO = 60 = 216 CCO = 276 Portanto, levará 276 entre a compra dos insumos e o retorno do investimento. Por sua vez, O CCC é encontrado por meio da seguinte fórmula. Já aprendemos a calcular CO. Mas e o PMPF? Você se lembra como é calculado? PMPF demandará que conheçamos o valor a ser pago aos fornecedores, cuja notação será VPF; o período compreendido pela análise (PA), que será igual ao concedido ao cliente que comprou dez de nossos carros (180 dias); e o montante de compras, cuja notação será MC. Resulta, da organização dessas informações, a seguinte fórmula. Finanças Corporativas 34 Começaremos a esmiuçar a fórmula por MC. Para isso, teremos de descobrir o custo das mercadorias vendidas (CMV), o estoque inicial (EI) e o estoque final (EF), visto que o cálculo de MC corresponde à fórmula seguinte. Retomando o exemplo da fábrica de automóveis, no início dos 180 dias, tínhamos um EI de 60 carros, gastando, para produzir cada carro, R$ 12.000,00 com fornecedores. Sendo assim, o nosso EI era estimado em 60 X 12.000, que equivale a R$ 720.000,00. Porém, como acompanhávamos a demanda crescente por nosso modelo de carro, compramos (C) R$ 960.000,00 em insumos, prevendo que precisaríamos desses materiais à mão. Sendo assim, ao fim dos 180 dias, havíamos produzido – na verdade, convertemos R$ 960.000,00 em insumos em R$ 960.000,00 em carros – 80 carros, ao passo que totalizamos 120 carros vendidos (R$ 1.440.000,00): tínhamos 60 em estoque, produzimos 80 e vendemos 120, restando-nos 20 carros em estoque (R$ 240.000,00). Organizando essas informações, conseguimos construir a seguinte fórmula. Substituindo as notações pelos números que adotamos, teremos o seguinte: CMV = (720.000 + 960.000) – 240.000 CMV = 1.440.000,00 Como o valor de CMV em mãos, podemos substitui-lo na fórmula de MC. MC = (1.440.000,00 + 720.000) – 240.000 MC = 1.920.000 Finanças Corporativas 35 Agora, sabemos que MC equivale a R$ 1.920.000,00 e podemos passar à fórmula de PMPF. Retomando o que vimos há pouco, PMPF observará o valor a ser pago aos fornecedores (VPF = 960.000); o período compreendido pela análise (PA = 180 dias); e o montante de compras (MC = 1.920.000). PMPF = 960.000 X 180 1.920.000 PMPF = 90 Assim, aplicando a fórmula anterior, temos o seguinte. CCC = CO – PMPF CCC = 276 – 90 CCC = 186 Portanto, nessa situação, o período entre o pagamento das obrigações com fornecedores e o retorno do investimento dura 186 dias. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como aplicar os métodos do pay-back e CAPM para avaliar o resultado de investimentos nas empresas. Finanças Corporativas 36 Análises de DRE como Ferramenta Financeira OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como utilizar as DRE – Demonstrações de Resultados do Exercício como ferramenta de análise e avaliação financeira de uma empresa. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. A estrutura de capitais de uma empresa dependerá da proporção dos recursos de terceiros em relação aos recursos próprios. Nesse sentido, costuma ser classifica em ruim, em razoável e em boa. Quando o ativo fixo de uma empresa é financiado, em sua totalidade, por recursos próprios e, apesar disso, sobram recursos financeiros para serem utilizados como capital de giro, dizemos que a sua estrutura de capital é boa. Temos um exemplo dessa situação na Figura 5. Figura 5 – Estrutura de capital boa ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO Fonte: Assaf Neto e Lima (2010). Finanças Corporativas 37 Por outro, há empresas cujos ativos de longo prazo são financiados, parcialmente, por capital de terceiros, sobrando recursos financeiros para serem utilizados como capital de giro. Temos um exemplo dessa segunda situação, conhecida como estrutura de capitais razoável, na Figura 6. Figura 6 – Estrutura de capitais razoável ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO Fonte: Assaf Neto e Lima (2010). Por fim, existe a possibilidade de os recursos próprios de uma empresa não darem conta do financiando dos ativos de longo prazo (ativos não circulantes) e, por isso, serem menores do que os investimentos de terceiros. Nesse casp, teremos uma estrutura de capitais ruim, como indica a Figura 7. Figura 7 – Estrutura de capitais ruim ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO Fonte: Assaf Neto e Lima (2010). Finanças Corporativas 38 O índice de participação de capitais de terceiros revelará, então, qual é a proporção de recursos de terceiros em relação ao capital próprio. A equação utilizada para obtê-lo é a seguinte. Normalmente, para que a situação de uma empresa seja boa, esse índice deverá ter resultado em um número pequeno, visto que apontará que o uso de recursos próprios é maior do que o terceiros. Nessa situação, temos o uso de uma modalidade de capital menos onerosa. Dois dos indicadores mais utilizados pelos analistas de mercado e pelos acionistas, rentabilidade e lucratividade indicam diferentes informações a respeitos dos retornos obtidos pela empresa: • rentabilidade indica qual será o lucro dos investidores com base nos valores investidos, considerando, também, o volume de ativos que da empresa. • lucratividade é a participação do lucro líquido, em determinação exercício, na composição dos retornos obtidos, considerando, proporcionalmente, o volume de vendas. Caso a taxas de lucratividade e/ou de rentabilidade de uma empresa sejam ruins, a tarefa de obter capital de terceiros se tornará complicada, visto que são os indicadores que, em geral, definem se os investidores aportarão ou não capital em determinado negócio. Ebitda, sigla de earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, observa a geração bruta operacional de lucro. Para isso, por um lado, é necessário avaliar somente os resultados das operações; e, por outro, é necessário somar as depreciações e as amortizações ao lucro operacional. A função do Ebitda é verificar se os ativos operacionais geram caixa. Por ignorar as despesas e as receitas operacionais, adotando somente os resultados operacionais que influenciam o caixa da empresa diretamente, é tomado, pelos analistas financeiros, como um dos melhores indicadores Finanças Corporativas 39 do seu tipo. No rol de receitas e de despesas operacionais ignoradas, dentre outras, estão estas: • Resultado de equivalência patrimonial. • Imposto de Renda. • Amortização. • Contribuição Social Sobre o Lucro. • Exaustão. • Despesas operacionais não rotineiras. • Depreciação. Em resumo, o Ebitda é o valor obtido após os descontos das depreciações e das amortizações do lucro operacional. Deve ser suficiente para o pagamento de juros e dos impostos sobre o lucro e ainda distribuir lucros oudividendos. Com a constante necessidade de aprimorar os dados gerencias das organizações, principalmente em época de concorrência acirrada, alguns pesquisadores e consultores de empresas norte-americanas começaram, há muito tempo, a divulgar um método alternativo de medida de desempenho e de resultado. Esse método, chamado de valor econômico, é fundamental para a apresentação de informações gerenciais, vista a pouca utilizada da contabilidade financeira nesse sentido, por se basear demais em valores vinculados ao custo histórico. O valor econômico não é novidade como medida de desempenho, tendo aparecido, no cenário corporativo, em 1920, no âmbito da General Motors Corporation. Sob uma perspectiva ampla, a metodologia conhecida como EVA® nos permite identificar duas funções importantes: 1. instrumento de mensuração de valor; 2. ferramenta de gestão. O EVA® ajuda gerentes a transformar suas estratégias em um conjunto de ações que possam maximizar o valor da empresa. De acordo Finanças Corporativas 40 com Assaf Neto e Lima (2010), trata-se de uma fórmula simples em que o custo do capital empregado pela empresa tem papel fundamental. A maioria das empresas usa o capital próprio como se não tivesse custo e, por isso, não lhe dá um valor contábil apropriado. Essa é, de fato, uma das grandes diferenças entre os conceitos de lucro contábil e de lucro econômico. Dessa maneira, uma das contribuições mais importantes do índice EVA® foi trazer à luz o fato de que o capital próprio tem um custo, embora não tão aparente quanto o custo de capital de terceiros. Para obter sucesso na competição pelos recursos escassos do mercado de capitais, a empresa deve oferecer, para seus acionistas, no mínimo, um retorno igual ao de outros investimentos. Isso significa, portanto, que não basta ter lucro líquido positivo e certo nível de lucro por ação. Para muito além disso, a empresa precisa ganhar o suficiente para cobrir o custo do capital de terceiros e o custo de oportunidade do capital próprio antes de começar a criar valor. RESUMINDO: Qualquer organização utiliza recursos financeiros para suprir suas despesas e seus custos operacionais. Muito se discute sobre a apuração do lucro, porém, para que o resultado alcançado seja satisfatório durante o exercício financeiro, a empresa precisa dispor, frequentemente, de recursos para administrar o processo operacional. Finanças Corporativas 41 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Atlas, 2010. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Fundamentos de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2010. BEDÊ, M. A. Sobrevivência e Mortalidade das Empresas Paulistas de 1 a 5 anos. São Paulo: Sebrae, 2005. BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Financiamento. BNDES, Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://www. bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento. Acesso em: 8 set. 2021. BROM, L. G.; BALIAN, J. E. A. Análise de Investimentos e Capital de Giro: conceitos e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2007. CARVALHO, F. M. et al. Análise e Administração Financeira. Rio de Janeiro: Ibmec, 1985. EHRHARDT, M. C.; BRIGHAM, E. F. 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Finanças Corporativas _GoBack Análise de Financiamento e Investimento das Empresas Alavancagem Operacional Grau de Alavancagem Operacional Análise do Ponto de Equilíbrio Contábil, Financeiro e Econômico Necessidades de Alavancagem das Empresas Agentes Financeiros e suas Relações no Âmbito do Sistema Financeiro Nacional Segmentos do Mercado Financeiro Grupo de Investidores do Mercado Financeiro Política Monetária Brasileira PAY-BACK e Métodos de CAPM Análises de DRE como Ferramenta Financeira
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