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SEPSE CONDUTA TRATAMENTO DA PRIMEIRA HORA: As recomendações para o cuidado na sepse começam com o diagnóstico imediato. O reconhecimento do choque séptico pelo médico constitui uma emergência na qual o tratamento imediato pode salvar a vida do paciente. Após identificação do paciente com suspeita de sepse, a equipe médica decide se deve ou não haver o seguimento do protocolo, com base nas informações disponíveis para tomada de decisão em relação à probabilidade de se tratar de sepse. Para os pacientes em que foi optado por dar seguimento ao protocolo, o pacote de 1 hora deve ser executado. 1. Coleta de exames laboratoriais para a pesquisa de disfunções orgânicas: gasometria e lactato arterial, hemograma completo, creatinina, bilirrubina e coagulograma. 2. Coleta de lactato arterial: deve-se realizar o mais rapidamente possível, mas dentro da primeira hora, que deve ser imediatamente encaminhado ao laboratório, a fim de se evitar resultado falsos positivos. O objetivo éter resultado deste exame em 30 minutos. 3. Coleta de duas hemoculturas de sítios distintos em até uma hora: conforme rotina específica do hospital, e culturas de todos os outros sítios pertinentes (aspirado traqueal, líquor, urocultura) antes da administração do antimicrobiano. Caso não seja possível a coleta destes exames antes da primeira dose, a administração de antimicrobianos não deverá ser postergada; 4. Prescrição e administração de antimicrobianos de amplo espectro para a situação clínica: por via endovenosa, visando o foco suspeito, dentro da primeira hora da identificação da sepse. A utilização de antimicrobianos deve seguir a orientação do serviço de controle de infecção hospitalar da instituição, que deverá definir com o corpo clínico local as Recomendações para o tratamento empírico conforme o foco de infecção identificado e a características da infecção, comunitária ou associada a assistência a saúde. o Os atrasos na antibioticoterapia podem ser fatais. Para cada 1 hora de atraso em pacientes com sepse, está relatado um aumento de 3 a 7% nas chances de morte hospitalar. o As diretrizes clínicas internacionais recomendam a administração de antibióticos de amplo espectro adequados dentro de 1 hora do reconhecimento de sepse grave ou choque séptico. A terapia antifúngica empírica deve ser administrada apenas em pacientes sépticos com alto risco de candidíase invasiva 5. Princípios de farmacocinética e farmacodinâmica devem ser seguidos por todas as instituições: todas as Recomendações visando otimização da terapia antimicrobiana devem ser feitas com auxílio do farmacêutico e da enfermagem e estarem amplamente disponíveis para todos os profissionais. As principais recomendações estão listadas abaixo. o Utilizar dose máxima para o foco suspeito ou confirmado, com dose de ataque nos casos pertinentes, sem ajustes para a função renal ou hepática. As doses devem ser plenas visando otimização da redução da carga bacteriana ou fúngica. Embora seja discutível, pode-se manter doses sem ajuste para função renal pelas primeiras 24 horas. Isso é de suma importância para os antimicrobianos hidrofílicos dado ao aumento do volume de distribuição deles em decorrência da ressuscitação volêmica. o Atentar para a diluição adequada de forma a evitar incompatibilidade e concentração excessiva. Utilizar a infusão estendida de antibióticos betalactâmicos como piperacilina- tazobactam e meropenem, com exceção da primeira dose, que deve ser administrada, em bolus, o mais rápido possível. o Utilizar terapia combinada, com duas ou três drogas, quando existir suspeita de infecção por agentes multidrogas resistentes. Considerar o uso de diferentes classes de antibióticos, para um mesmo agente, em pacientes com choque séptico. o Restringir o espectro antimicrobiano quando o patógeno for identificado e a sensibilidade conhecida; terapia combinada pode ser de-escalonada conforme evidência de resposta clínica ou resolução da infecção. TRATAMENTO DA HIPOTENSÃO: São pacientes que apresentam PAS<90mmHg, PAM<65mmHg ou, eventualmente, redução da PAS em 40mmHg da pressão habitual. Para pacientes hipotensos ou com sinais de hipoperfusão, entre eles níveis de lactato acima de duas vezes o valor de referência institucional (hiperlactatemia inicial), deve ser iniciada ressuscitação volêmica com infusão imediata de 30 mL/kg de cristalóides (soro fisiológico) dentro da 1ª hora do diagnóstico da detecção dos sinais de hipoperfusão. Embora classicamente não sejam considerados com parte do pacote de ressuscitação, sinais de hipoperfusão podem incluir oligúria, presença de livedo, tempo de enchimento capilar lentificado e alteração do nível de consciência. Coloides proteicos, albumina ou soro albuminado, podem fazer parte dessa reposição inicial. O uso de amidos está contraindicado, pois está associado a aumento da incidência de disfunção renal. Esse volume deve ser infundido o mais rápido possível, considerando- se as condições clínicas de cada paciente. Pacientes cardiopatas podem necessitar redução na velocidade de infusão, conforme a presença ou não de disfunção diastólica ou sistólica. Nos casos em que foi optado por não realizar reposição volêmica, parcial ou integralmente, após avaliação de fluido responsividade, esta decisão deve estar adequadamente registrada no prontuário. Nesses pacientes, o uso de vasopressores para garantir pressão de perfusão adequada necessita ser avaliado. Deve-se usar vasopressores para pacientes que permaneçam com pressão arterial média (PAM) abaixo de 65 (após a infusão de volume inicial), sendo a noradrenalina a droga de primeira escolha. Não se deve tolerar pressões abaixo de 65 mmHg por períodos superiores a 30-40 minutos. Por isso, o vasopressor deve ser iniciado dentro da primeira hora nos pacientes em que ele está indicado. Em casos de hipotensão ameaçadora a vida, pode-se iniciar o vasopressor mesmo antes ou durante a reposição volêmica. É fundamental garantir pressão de perfusão enquanto se continua a reposição volêmica. Assim, o vasopressor pode ser iniciado em veia periférica, enquanto se providencia o acesso venoso central. O uso de outros vasopressores pode ser necessário. Dentre os disponíveis, a recomendação é o uso de vasopressina, com intuito de desmame de noradrenalina ou como estratégia poupadora de catecolaminas, ou a adrenalina, preferível em pacientes que se apresentem com débito cardíaco reduzido. A dobutamina (medicamento inotrópico) pode ser utilizada quando exista evidência de baixo cardíaco (disfunção do miocárdio) ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual (como oligúria e lactato alterado) apesar do volume intravascular e PAM otimizados. Nos pacientes com lactato alterado acima de duas vezes o valor de referência, a meta terapêutica é o clareamento dele. Assim, como um complemento ao pacote de 1 hora, dentro de 2 a 4 horas após o início da ressuscitação volêmica, novas dosagens devem ser solicitadas. Nem sempre se obtém a normalização do lactato, haja vista existirem outras causas para a hiperlactatemia que não a hipoperfusão tecidual. A busca pela normalização deve ser feita cuidadosamente, sob risco de intervenções terapêuticas desnecessárias, e potencialmente deletérias. A hiperlactatemia residual isolada, sem outros sinais clínicos de hipoperfusão ou má́ ́́ evolução, não necessariamente precisa ser tratada. A utilização de corticoides é recomendada para pacientes com choque séptico refratário, ou seja, naqueles em que não se consegue manter a pressão arterial alvo, a despeito da ressuscitação volêmica adequada e do uso de vasopressores. A droga recomendada é a hidrocortisona na dose de 50 mg a cada 6 horas.A reavaliação das 6 horas deve ser feita em pacientes que se apresentem com choque séptico, hiperlactatemia ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual. A continuidade do cuidado é importante, por isso entende-se que durante as seis primeiras horas o paciente deve ser reavaliado periodicamente. Para isso é importante o registro da reavaliação do status volêmico e da perfusão tecidual. 1. Reavaliação da continuidade da ressuscitação volêmica, por meio de marcadores do estado volêmico ou de parâmetros perfusionais: as seguintes formas de reavaliação poderão ser consideradas: o Mensuração de pressão venosa central o Variação de pressão de pulso o Variação de dispensabilidade de veia cava o Elevação passiva de membros inferiores o Qualquer outra forma de avaliação de responsividade a fluidos (melhora da pressão arterial após infusão de fluidos, por exemplo) o Mensuração de saturação venosa central o Tempo de enchimento capilar o Presença de livedo o Sinais indiretos (por exemplo, melhora do nível de consciência ou presença de diurese) 2. Pacientes com sinais de hipoperfusão e com níveis de hemoglobina abaixo de 7 mg/dL devem receber transfusão o mais rapidamente possível. 3. Idealmente, os pacientes com choque séptico devem ser monitorados com pressão arterial invasiva, enquanto estiverem em uso de vasopressor: a aferição por manguito não é fidedigna nessa situação, mas pode ser utilizada nos locais onde a monitorização invasiva não está disponível. 4. Pacientes sépticos podem se apresentar hipertensos, principalmente se já portadores de hipertensão arterial sistêmica: nesses casos, a redução da pós- carga pode ser necessária para o restabelecimento da adequada oferta de oxigênio. Não se deve usar medicações de efeito prolongado, pois esses pacientes podem rapidamente evoluir com hipotensão. Assim, vasodilatadores endovenosos, como nitroglicerina ou nitroprussiatos são as drogas de escolha. ACHADOS LABORATORIAIS: Os exames laboratoriais recomendados para determinar o foco infeccioso bem como acompanhar a evolução dos pacientes inclui: lactato, hemograma, proteína C reativa, função renal, enzimas hepáticas e coagulação sanguínea. As anormalidades que ocorrem precocemente na resposta séptica são a leucocitose com desvio para a esquerda, trombocitopenia, hiperbilirrubinemia e proteinúria. Pode haver leucopenia. À medida que a resposta séptica se agrava, a trombocitopenia aumenta (frequentemente com o prolongamento do tempo de trombina, diminuição do fibrinogênio e presença dos dímeros-D, sugerindo CID), a azotemia e hiperbilirrubinemia acentuam-se ainda mais e os níveis de transaminases sobem. No início da sepse, a hiperventilação induz à alcalose respiratória. Com a fadiga dos músculos respiratórios e o acúmulo de lactato, sobrevém acidose metabólica (com o aumento do anion gap). A gasometria arterial revela hipoxemia, inicialmente corrigível pela administração de oxigênio suplementar, mas a refratariedade à inalação de oxigênio a 100% indica shunt direito-esquerdo. A radiografia de tórax pode ser normal ou mostrar evidências de pneumonia subjacente, sobrecarga de volume ou infiltrados difusos da SARA. O eletrocardiograma pode revelar apenas taquicardia sinusal ou anormalidades inespecíficas de ST e T. Leucocitose: Leucocitose e leucopenia designam, respectivamente, as contagens acima e abaixo dos limites de referência, e recebem diferentes denominações de acordo com o tipo de leucócito afetado: 1. Neutrofilia: corresponde ao aumento de neutrófilos; 2. Eosinofilia: indica o aumento de eosinófilos; 3. Basofilia: remete ao aumento dos basófilos; 4. Linfocitose: é o aumento de linfócitos; 5. Monocitose: é o aumento de monócitos; 6. Neutropenia/eosinopenia/monocitopenia/linfocitopenia: é a diminuição de leucócitos. As causas mais frequentes de leucocitose são as infecções. De modo geral, as infecções bacterianas cursam com neutrofilia acentuada, com aumento tanto de segmentados quanto de bastonetes, assim como o desaparecimento de eosinófilos circulantes. Nesses casos podem ser encontradas células jovens na circulação, as quais estão restritas à medula óssea em condições normais, caracterizando o desvio à esquerda. Desvio à esquerda corresponde ao aparecimento, no sangue periférico, de precursores granulocíticos (bastonetes, mielócitos e metamielócitos), que normalmente se localizam na medula óssea. Pode ser classificado como desvio escalonado (“respeita” o fluxo de produção sanguínea. Ex: quantidade de PMN > quantidade de bastões > quantidade de metamielócitos) ou não escalonado (não obedece a maturação esperada. Ex: quantidade de blastos > quantidade de PMN). Proteína-C Reativa: Promove a interação entre imunidades humoral e celular. É produzida no fígado. Sua função é ligar-se a patógenos e células lesadas e/ou apoptóticas (fosfatidilcolina) e iniciar sua eliminação por meio da ativação do sistema complemento e de fagócitos (C1q e Fcγ). Essas ligações e atrações celulares permitem considerá-la como uma opsonina. Também atua regulando a extensão e a intensidade da reação inflamatória e modulação da ativação plaquetária. Aparece notadamente aumentada em diversas situações clínicas, dentre elas: doença coronariana, artrite reumatoide, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica e outras. Apesar de sua função assemelhar-se à de anticorpos e participar da imunidade inata, não há descrição de estados deficientes de proteína C-Reativa (PCR), o que, a princípio, deve ser incompatível com a vida. A PCR e a via clássica do complemento atuam em sintonia, promovendo a limpeza de células apoptóticas sem ocasionar lise celular, minimizando a liberação de mediadores que aumentariam a reação inflamatória. A determinação da PCR reflete, também, a extensão do processo inflamatório ou da atividade clínica, principalmente em infecções bacterianas (e não virais), reações de hipersensibilidade, isquemia e necrose tecidual. Podem-se encontrar valores discretamente elevados de PCR em obesidade, tabagismo, diabetes, uremia, hipertensão arterial, inatividade física, uso de anticoncepcionais orais, distúrbios do sono, álcool, fadiga crônica, depressão, envelhecimento, doença periodontal, entre outras situações. A PCR também é importante como marcador de ativação endotelial e indutor de lesão vascular relacionada à inflamação, em especial em placas de ateroma, podendo ser utilizada como preditor de coronariopatias (angina e infarto do miocárdio). A PCR é considerada um bom marcador clínico por apresentar boa estabilidade, sensibilidade, reprodutibilidade e precisão, além de estar em níveis elevados no sangue apenas quando há estímulo para sua produção, como no caso, um processo inflamatório. A PCR tem meia vida plasmática de 19 horas e mesmo após estímulo único, como trauma ou cirurgia, pode levar vários dias até retornar a níveis basais. Por essa razão, dosagens seriadas ao longo de vários dias são mais úteis que resultados isolados. Isso reflete as limitações da PCR para monitoração de pacientes críticos, uma vez que sua concentração pode ser baixa ou normal nas primeiras 12 horas do início do quadro febril de processos infecciosos. Gasometria: A gasometria arterial geralmente mostra uma alcalose respiratória, inicialmente, em função da hiperventilação. Com o tempo, o distúrbio ácido-básico se transforma em uma acidose metabólica na medida em que piora a perfusão circulatória. As culturas são positivas para bactérias e fungos em 20 a 40% dos casos de sepse e a 40 a 70% dos casos de choque séptico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • Medicina Interna de Harrison - [Dennis L.] Kasper... [et al.] 19ª edição - Porto Alegre - AMGH, 2017. • Goldman - Cecil Medicina, editado por Lee Goldman, Andrew I.Schafer [et al.] 25ª edição - Rio de Janeiro - Elsevier, 2018. • Rang. Rang & Dale Farmacologia. 9ª Ed. Elsevier; 2020 • Resumos da med: https://www.passeidireto.com/arquivo/96391374/conduta-na-sepse • SanarFlix https://www.passeidireto.com/arquivo/96391374/conduta-na-sepse
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