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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO 1.1 APRESENTAÇÃO 1.2 ORIGEM DO TERMO 1.3 ORIGEM HISTÓRICA 1.4 A RESPONSBILIDADE CIVIL 1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO 1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1.7 CAUSAS EXCLUDENTES 1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal 1.8.2 Responsabilidade Administrativa 1.8.3 Responsabilidade Contratual e Extracontratual 1.8.4 Responsabilidade Direta ou Indireta 1.8.5 Responsabilidade nas Relações de Consumo 1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO MÓDULO II 2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS 2.1 INTRODUÇÃO 2.2 TEORIA DA CULPA 2.2.1 Conduta Humana 2.2.2 Nexo Causal 2.2.3 Dano 2.2.3.1 Dano patrimonial 2.2.3.2 Dano moral 2.2.3.3 Culpa AN02FREV001/REV 4.0 4 2.3 TEORIA DO RISCO 2.3.1 Introdução 2.3.2 A Teoria do Risco 2.3.3 As Relações de Consumo 2.4 EXCLUDENTES MÓDULO III 3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL 3.1 QUANTO AO FATO GERADOR 3.2 EM RELAÇÃO AO SEU FUNDAMENTO 3.3 QUANTO AO AGENTE MÓDULO IV 4 DAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE QUANTO AO AGENTE 4.1 DAS RESPONSABILIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4.2 DAS RESPONSABILIDADES DO TRANSPORTADOR 4.3 DAS RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR 4.4 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROFISSIONAIS 4.5 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROVEDORES DA INTERNET 4.6 OUTRAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE MÓDULO V 5 DA LIQUIDAÇÃO DO DANO E AÇÃO DE INDENIZAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO 1.1 APRESENTAÇÃO O ser humano é de natureza racional/sentimental e dependendo de cada momento se sobressai. Um dos princípios que traz em si é zelar pelo que é seu, ou seja, o que lhe pertence, ou pelos que lhe são afetos. Quando verifica que alguém está violando seu patrimônio, age de imediato, defendendo-o em busca da preservação, evitando assim um prejuízo. Se este já ocorreu, busca retornar ao seu estado a quo, ou ser compensado pela perda. Busca-se assegurar e tutelar o normal desenvolvimento dos atos jurídicos, nascendo o instituto e a noção conceitual de responsabilidade civil, por ser uma importante exigência social. Desta forma, através dos tempos, evoluiu o instituto da Responsabilidade Civil, em busca da aplicação justa e eficiente do Direito. O ato ilícito que causa prejuízo a outrem ou o descumprimento de uma obrigação contratual deve ser reparado. Assim, a responsabilidade civil, quer seja contratual, quer seja extracontratual, impõe ao autor do dano, decorrente de culpa ou do risco assumido, uma obrigação de reparação, objetivando a prestação de uma indenização. Nosso objetivo é, através deste curso, dar subsídios ao ensino da Responsabilidade Civil aos graduandos, especializando-os e aos demais profissionais. 1.2 ORIGEM DO TERMO Necessário iniciarmos nosso estudo buscando a origem da palavra responsabilidade, que vem do vocábulo respondere, cujo significado é a obrigação de alguém de assumir as consequências de sua atividade. AN02FREV001/REV 4.0 6 Segundo Soibelman1 (1979): RESPONSABILIDADE – Obrigação de responder por seus próprios atos ou palavras. Obrigação de responder por atos de outrem, a isso estando vinculado por lei ou contrato. Obrigação de suportar as consequências da violação de um preceito legal: pena, multa, reparação por perdas e danos. Dever jurídico. Obrigação legal ou contratual. Submissão ao direito. Dever de indenizar. Dever de restabelecer a situação anterior comprometida por conduta irregular ou ilegal. Dever de obediência à lei. No sentido jurídico, responsabilidade designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo (dano) decorrente da violação de outro dever jurídico. Desta forma, podemos concluir que a responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano por todo aquele que, por ação ou omissão voluntária, imprudência, negligência ou imperícia, violar direito ou causar prejuízo a outrem (SOIBELMAN, 1979). 1.3 ORIGEM HISTÓRICA No início era a vingança privada que prevalecia, na qual o ofendido reagia a um dano sofrido imediata e brutalmente. Era por puro instinto, sem que houvesse justiça pública. Era a Lei de Talião, do Velho Testamento (1.550/1.300 a. C.), com os preceitos que são conhecidos por nós como “olho por olho, dente por dente”, “quem com ferro fere com ferro será ferido”. Tínhamos a reparação de um mal por outro mal. Não se analisava a culpa, apenas o dano ocasionado. Era a responsabilidade objetiva. 1 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979. AN02FREV001/REV 4.0 7 Continuamos na viagem histórica e encontramos as legislações antigas – Código de Hamurabi (1.780 a. C.) e o Código de Manu (Ur Manu - século II a. C.) – onde prevalecia a tipicidade das condutas, ou seja, previsão de um comportamento com resultado danoso. Continuávamos com a responsabilidade objetiva, que não exige o elemento culpa, o importante era a causalidade entre a conduta e o dano para configuração da responsabilidade. Chegamos ao Direito Romano, que serviu de base para a maioria dos Institutos do Direito Civil de nossos dias. A Responsabilidade Civil originada no Direito Romano consistia, também, em uma vingança privada. A responsabilidade, porém, não atingia somente o patrimônio do agressor, mas também o seu próprio corpo. Os danos e prejuízos causados tinham sua compensação através de atos violentos contra o agente causador dos mesmos. Não havia diferenciação entre a responsabilidade penal e a responsabilidade civil. Como o Direito evoluía, começava a preocupação de se evitar a instabilidade social. Buscava-se resguardar a segurança, partindo-se para não mais permitir a justiça privada. É nesta época que se inicia a diferenciação entre pena e reparação, delineando uma distinção entre os delitos públicos e delitos privados. Os delitos públicos eram ofensas consideradas mais graves e perturbadoras da ordem, o ofensor se obrigava a recolher a pena a favor dos cofres públicos, enquanto nos delitos privados ocorria apenas a intervenção da autoridade, buscando a composição entre as partes. Neste mesmo período temos uma mudança considerável, surgindo a chamada composição voluntária, na qual o ofendido tem a possibilidade de substituir a retaliação ao ofensor por uma compensação de ordem patrimonial. É o patrimônio do ofensor substituindo o castigo físico. Tal mudança se deve à modificação da estrutura estatal, pois surge a autoridade soberana. Encerra-se, assim, a chamada justiça com as próprias mãos e ao Estado cabe dosar a pena ao agente causador do dano. A composição deixa de ser voluntária e passa a ser obrigatória, criando-se uma tarifação dos danos, havendo um valor para cada tipo de lesão. A Lei das XII Tábuas (449 a. C.) foi de suma importância para os romanos, pois representa a passagem danorma consuetudinária para a lei escrita. As penas impostas por ela iam desde a multa até o exílio, da prisão até a morte, sendo certo que, ainda, muitas delas tinham por base a sanção da retaliação (pena de Talião). AN02FREV001/REV 4.0 8 A Lei Poetelia Papiria (428 a. C) é considerada o marco divisório da responsabilidade civil, uma vez que através dela se deixa de aplicar a pena do pagamento com o próprio corpo. O que responde pelo ato do ofensor é apenas o seu patrimônio. Com a Lex Aquila (289 a. C.) surge a Damnum injuria datum (dano produzido pela injúria), o nosso atual dano moral. Ocorre no momento em que uma pessoa se considera afetada em seu ânimo psíquico, moral e intelectual, seja por ofensa à sua honra, na sua privacidade, intimidade, imagem, nome, ou em seu próprio corpo físico, podendo estender-se ao dano patrimonial se a ofensa de alguma forma impedir ou dificultar a atividade profissional da vítima. Corresponde às lesões sofridas pela pessoa humana e consiste em violações de natureza não econômica. Para os romanos, consistia num delito onde alguém causava dano à coisa alheia, animada ou inanimada, e o ressarcimento previsto não era tarifado, mas devia corresponder a um valor proporcional ao dano causado. É com a Lex Aquila que surge o princípio geral da reparação do dano, advindo as ideias iniciais sobre a noção de culpa. Inicia-se a responsabilidade civil subjetiva (culpa subjetiva), em que há a necessidade de se averiguar a culpa do agente, caracterizando a obrigação de ressarcir. Ela é importante para a responsabilidade extracontratual, tornando-se comum designá-la de responsabilidade aquiliana. Podemos afirmar que é a evolução da responsabilidade civil. Já na Idade Média, continuando nosso estudo, mais precisamente na França, o pensamento romano vai se aperfeiçoando. Gradualmente, evolui quanto à enumeração dos casos de possibilidade de composição obrigatória, chegando à consagração do princípio aquiliano, segundo o qual a culpa, ainda que levíssima, obriga a indenizar. Na Revolução Francesa (1789), já na Idade Contemporânea, surge o Código de Napoleão (Código Civil Francês de 1804), que prevê a responsabilidade contratual e a distinção entre a responsabilidade penal e a civil. Encontramos em seu artigo 1.382 a responsabilidade civil subjetiva, baseada na culpa do agente. Este Código exerceu grande influência sobre as codificações que se seguiram, inclusive sobre o Código Civil Brasileiro de 1916. As Ordenações do Reino, aplicadas no Brasil à época, não distinguiam o ilícito civil e necessário se fazia recorrer subsidiariamente ao Direito Romano e à Lei AN02FREV001/REV 4.0 9 de Boa Razão (Lei de 18 de Agosto de 1769). Já o Código Criminal de 1830 previu o instituto da satisfação, que estabelecia o dever de reparação do dano causado. Chegamos ao Código Civil Brasileiro de 1916 e encontramos o artigo 159, que determinava: “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. A culpa foi adotada pela legislação civil pátria como fundamento da responsabilidade civil, a responsabilidade civil subjetiva. Não precisava ser a conduta do agente dolosa, imprudente, negligente ou imperita, quaisquer das espécies de culpa eram suficientes para caracterizar a responsabilidade civil, independentemente da gravidade do ato. Bastava a existência de culpa levíssima para determinar a obrigação de reparar. Por fim, encontramos o Código Civil de 2002, que mantém a regra do Código antecessor, e para tanto basta combinarmos os preceitos do artigo 927, caput, com o artigo 186. Enquanto o caput do artigo 927 estipula que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, o disposto no artigo 186 nos mostra que a culpa é exigida para a configuração da responsabilidade civil: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 1.4 A RESPONSABILIDADE CIVIL Já tendo conhecido a procedência da palavra responsabilidade e a historicidade da responsabilidade civil, passemos a uma breve introdução ao tema a ser estudado. Podemos afirmar que o instituto da responsabilidade civil tornou-se importante para o Direito hodierno, levando-se em conta que o presente instituto passou a ser visto de outra forma a partir da Constituição Federal de 1988, e ganhou força a partir da promulgação do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de 1990. Até os idos dos anos 1980, a responsabilidade civil era estudada na parte referente às Obrigações, uma vez que estava afeta à parte contratual. A partir daí, passou a ser oferecida pelas Instituições de Ensino Superior (IES) como disciplina AN02FREV001/REV 4.0 10 autônoma, porém eletiva para o curso de Direito. Ao final da década, dada a importância do instituto, surgiu como disciplina autônoma e parte integrante do estudo do Direito Civil. Podemos ver que no nosso Código Civil vigente, diferentemente da legislação anterior, a responsabilidade civil recebeu um Título (IX) com dois capítulos. Hoje, vemos que a responsabilidade civil permeia todas as relações jurídicas, atingindo o direito público e o direito privado, quer no campo contratual, extracontratual, transportes aéreos e terrestres, interesses individuais, coletivos, sociais, ambientais, nacionais ou internacionais, dentre outros. Encontramos atualmente uma série de artigos e doutrinas sobre o assunto, além da contribuição jurisprudencial. Mas vamos analisar o porquê desta evolução no direito pátrio. Primeiramente, tomemos os ensinamentos de San Tiago Dantas2 quanto aos atos ilícitos. Diz o grande jurista que “toda conduta do homem que fere o direito, objetivamente considerado, é uma conduta ilícita. De maneira que inúmeras e comuníssimas são as formas sob que pode deparar-se a ilicitude” (DANTAS, 1977, p. 341). Diz o mestre que o fundamento da ordem jurídica tem um duplo sentido, que é proteger o lícito e reprimir o ilícito, ou seja, proteger a atividade do homem que se comporta de acordo com o direito, reprimindo aquele que se comporta em contrariedade com o direito. Honeste vivere, alterum non ladere (viver honestamente e não lesar a ninguém). Como podemos ver, a violação de um dever jurídico gera o ilícito, e este pode gerar um dano: é o chamado de dever jurídico originário ou primário. Se ocorre o dano temos um novo dever jurídico, que é o de repará-lo. É o chamado dever jurídico sucessivo ou secundário. Como nos ensina Cavalieri Filho3: “... toda conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa prejuízo a outrem, é fonte geradora de responsabilidade civil” (CAVALIERI FILHO, 1997, p. 20). A obrigação é um dever jurídico originário, enquanto a responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, podendo ser da mesma natureza, acrescido de outros elementos – obrigação de dar – ou de natureza diferente – obrigação de fazer. 2 DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil – Parte Geral. Rio de Janeiro: Editora Rio,1977. 3 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. AN02FREV001/REV 4.0 11 1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO Para darmos continuidade, devemos verificar alguns conceitos que irão nos ajudar no desenvolvimento de nossos estudos. Eles estão relacionados à teoria geral do direito. Iniciamos pelo Fato Jurídico – que é todo acontecimento, natural ou humano e suscetível de produzir efeitos jurídicos. Stricto senso, inclui eventos puramente naturais e atos humanos que geram efeitos jurídicos – atos jurídicos e atos ilícitos. Podem ser naturais quando os acontecimentosdecorrem da própria natureza, como o nascimento, a morte, a tempestade, entre outras, ou voluntários, quando a origem é a conduta humana capaz de gerar efeitos jurídicos. Estes podem ser lícitos, quando de acordo com a lei vigente, ou ilícitos, quando afrontam o Direito, ou seja, a violação do dever contido na norma jurídica. Ato Jurídico – também chamado de ato lícito. São atos de mera conduta (não negocial), que existem independentemente da vontade do agente, ou seja, não têm o fim de produzir um determinado efeito jurídico, ou negócio jurídico, cuja característica é ser uma declaração de vontade do agente destinada a criar direitos e obrigações (contratos, testamentos e outros). Ato Ilícito – são aqueles que contrariam o ordenamento jurídico, lesando o direito subjetivo de alguém. Para que existam, necessário se faz que ocorra um dano moral ou material ao ofendido (vítima), uma conduta culposa do ofensor (autor) e um nexo causal entre o dano e a conduta ilícita. Chamamos a atenção para o fato de o ato ilícito ser um comportamento voluntário e consciente de um ser humano que infringe um dever jurídico, e não uma simples manifestação de vontade, pois não existe ilícito no fato de alguém prometer causar prejuízo a outrem. Divide-se em ato ilícito penal, ato ilícito civil e ato ilícito administrativo. É de suma importância para nosso estudo sobre responsabilidade civil o conceito de ato ilícito, haja vista que é ele que faz nascer a obrigação de reparar o AN02FREV001/REV 4.0 12 dano, e que é imposto pelo ordenamento jurídico. Enquanto no direito penal o ato ilícito afeta a liberdade da pessoa (infrator), no direito civil atingirá seu patrimônio. Em resumo: Teoria Geral do Direito Fato Jurídico : Naturais Voluntários: Lícitos Ilícitos Ato Jurídico: Mera Conduta Negócio Jurídico Ato Ilícito 1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Encontramos quatro pressupostos para a ocorrência da responsabilidade civil: a conduta humana (ação ou omissão), o nexo causal, o dano e a culpa. Conduta humana – é o ato (ação ou omissão) pelo qual o agente, pessoalmente ou por terceiro(s) sob sua responsabilidade, irá causar dano ou prejuízo a alguém, seja por dolo, negligência, imprudência ou imperícia, gerando a obrigação de reparar. Apropriamos da definição de Maria Helena Diniz4 para a conduta humana: “O ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro (...) que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.” (DINIZ, 2003, p. 37). 4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. AN02FREV001/REV 4.0 13 Afirma a autora que a responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na ideia de culpa, enquanto a responsabilidade sem culpa baseia-se no risco. Comissivo é o ato que não deveria efetivar, enquanto a omissão é a não observância de um dever. Nexo causal (nexo de causalidade) – é um dos principais pressupostos para configurar a responsabilidade civil e o dever de indenizar, é a ligação entre o ato lesivo do agente e o dano ou prejuízo sofrido pela vítima. Não é suficiente que a vítima apenas sofra o dano, necessário se faz que esta lesão passe a existir a partir do ato do agente para que haja o dever de compensação. O agente, por omissão ou comissão, tem de ser o causador do dano. Dano – para que haja responsabilidade civil, a conduta do agente tem de ser danosa ou levar prejuízo à vítima. Desta forma, dano é o prejuízo que resulta da lesão de um bem ou direito, podendo ser a perda ou redução de um patrimônio, quer seja material ou moral de uma pessoa. Ocorre pela conduta do agente, que irá originar o direito ao ressarcimento do lesado, restituindo a situação original ou, quando não possível, a reparação do dano, a não ser que haja a excludente de responsabilidade. Podemos dividir o dano em patrimonial e extrapatrimonial. O primeiro, também conhecido como material, é aquele que causa a destruição ou diminuição de um bem de valor econômico (mensurável). O segundo, também chamado de moral, é aquele que está afeto a um bem que não tem caráter econômico (pecuniário), não é mensurável e não pode retornar ao estado anterior. São os bens inerentes aos direitos da personalidade – direito à vida e à integridade moral, física ou psíquica. São de difícil reparação. A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, X, determina: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Culpa – é o ato do agente que age com negligência, imprudência ou imperícia, não fazendo a lei distinção entre elas. Nessa modalidade, pressupõe-se que o agente não desejava o resultado, mas não agiu de forma precavida. A AN02FREV001/REV 4.0 14 negligência ocorre quando o agente deveria tomar conta para que uma situação não acontecesse, mas não presta a devida atenção e a deixa acontecer. A imprudência ocorre quando o agente não se cerca dos cuidados que uma pessoa normal tomaria. E a imperícia está ligada ao perito, ou seja, a alguém que deveria dominar uma técnica, mas acaba por não dominá-la. Ensina-nos José de Aguiar Dias5 que a negligência encontra-se intimamente relacionada com o conceito de desídia, enquanto a imprudência liga-se ao de temeridade, e a imperícia à falta de habilidade. Na verdade, a culpa não é um elemento essencial para a responsabilidade civil, pois o próprio artigo 927 do Código Civil afirma que “haverá obrigação de reparar o dano independentemente de culpa”. Somente os três anteriores que são fundamentais para a responsabilidade civil. Para a responsabilidade civil a culpa é caracterizada quando o agente causador do dano não tinha a intenção de provocá-lo, mas, por negligência, imprudência ou imperícia, causa dano a outrem, tendo o dever de repará-lo. Em resumo: Pressuposto Conduta Humana Ação Omissão Nexo Causal Dano Culpa Negligência Imprudência Imperícia 1.7 CAUSAS EXCLUDENTES Encontramos três excludentes para a responsabilidade civil do agente: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, e o fato de terceiro. São 5 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 15 consideradas causas que eliminam o dever de reparação do dano, uma vez que excluem o nexo causal pressuposto importante da responsabilidade civil. Culpa da vítima – acontece quando o dano é decorrente de ato da própria vítima, ou seja, quando o agente não contribui em nenhum momento para o evento danoso. Na realidade, o ato culposo da própria vítima elimina o nexo causal e, com ele, a responsabilidade civil. Mas existem casos em que a vítima e o agente concorrem na culpa (culpa concorrente). Nestes casos, cada um responde por sua participação no dano. Caso fortuito e força maior - ocorrem quando o dano advém de causas de efeitos imprevistos ou inevitáveis, exonerando o agente da responsabilidade pelos danos causados à vítima, não havendo ação ou omissão culposa por parte do agente. É o fato imprevisível e incapaz de ser evitado, quer pelo agente, quer por qualquer outro. O Código Civil, em seu artigo 393, determina: Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou impedir. Força maiorentende-se como a ocorrência fora da relação entre agente e vítima, e que não poderia ser evitada pela ação do agente. Provém de um fato da natureza, como uma inundação que provoca danos a equipamentos. Caso fortuito é inerente à ação humana e não é esperado nem previsto, não podendo ser evitado. A sua ocorrência independe da conduta do agente ou da vítima. Provém de um fato que, embora humano, é desconhecido e inevitável, como o rompimento de tubulação que inunda uma fábrica, não permitindo que o agente cumpra o prazo de entrega. Lembramos que, mesmo ocorrendo o caso fortuito ou a força maior, se o agente de alguma forma contribuir culposamente para agravar a situação, responderá por sua culpa. AN02FREV001/REV 4.0 16 Fato de terceiro – ocorre quando o agente causador do dano fica exonerado do dever de reparação, tendo em vista a causa alheia, pois o dano é causado por ação ou omissão de um terceiro, seja dolosa ou culposamente. Quebra-se, assim, o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado, tendo em vista que a conduta atípica não parte do agente, e sim de um terceiro. Esta conduta, porém, deve ser o fator predominante da lesão ocasionada. Lembramos que o terceiro não pode ter nenhuma relação com o agente. Alguns autores citam como excludente a “cláusula de não indenizar”, que é a combinação através da qual o devedor, contratualmente, se exonera do dever de indenizar quando do acontecimento de um dano. Ocorre que tal cláusula é limitada aos contratos, não sendo aceita nos demais casos. É considerada como não escrita, principalmente no CDC. Em resumo: Excludentes Culpa da Vítima Caso Fortuito e Força Maior Fato de Terceiro 1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal A contrariedade entre a conduta e a norma jurídica gera a ilicitude, e está contida em diversos ramos do Direito. Ela é penal quando o agente viola uma norma do Direito Penal, pertencente ao Direito Público, enquanto o ilícito civil é a violação de uma norma pertencente ao Direito Privado. Na realidade, não existe uma diferença substancial entre estes dois ilícitos, podendo existir casos em que tanto o Direito Público quanto o Privado são violados AN02FREV001/REV 4.0 17 através do mesmo ato (dupla ilicitude). O exemplo mais comum está no acidente de trânsito, onde uma pessoa atropela alguém que vem a falecer. O agente causador do acidente irá responder pelo ilícito penal (crime de homicídio culposo) e também responderá pelo ilícito civil, o dever de indenizar a família (reparação do dano) pela morte da vítima. O ilícito penal está afeto aos atos ilícitos de maior gravidade, que estão diretamente ligados ao interesse público, enquanto o ilícito civil aos de menor gravidade. Lembramos que a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível quanto ao dever de indenizar. 1.8.2 Responsabilidade Administrativa Primeiramente, temos de conceituar o Direito Administrativo, que é o conjunto de princípios jurídicos harmônicos regentes dos órgãos públicos, seus agentes e as atividades públicas que levam à realização concreta, quer direta ou indiretamente, aos fins desejados pelo Estado. A responsabilidade administrativa, ou responsabilidade da administração, é a obrigação imposta ao poder público de reparar os danos causados a terceiros por atos praticados por seus agentes ou em seu nome, no exercício de suas atribuições. É o que determina nossa Constituição Federal no parágrafo 6º do art. 37: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Na responsabilidade administrativa emprega-se a teoria objetiva, ou seja, independe da intenção do agente para haver responsabilização. É a teoria do risco ou da solidariedade social, pois decorre de uma atividade ou função pública. AN02FREV001/REV 4.0 18 1.8.2 Responsabilidade Contratual e Extracontratual O principal pressuposto da responsabilidade civil, de acordo com a teoria clássica, é a culpa, também chamada de responsabilidade subjetiva. Assim, pressupõe-se sempre a existência de culpa lato sensu, que abrange o dolo – conhecimento do ilícito e intenção de praticá-lo, e a culpa stricto sensu, que é a violação de um dever que o agente deveria conhecer e acatar. O nosso Código Civil filia-se a esta teoria, como regra, conforme se verifica no art. 186, exigindo a culpa com fundamento para a obrigação de reparação do dano. Desta forma, o ofendido só poderá ter a reparação do dano se comprovar a culpa do ofensor, o que muitas das vezes se torna impossível. Passou-se, então, em países como Itália, Bélgica e França a se buscar fundamentação para a responsabilidade objetiva (sem culpa), que se baseia na teoria do risco. A responsabilidade objetiva é exceção e ocorre nas hipóteses em que, embora não se exija a culpa, seja ela presumida, invertendo-se o ônus da prova, ou seja, o agente é que deverá provar sua não culpa. O Brasil aceitou a responsabilidade objetiva, principalmente nas relações de consumo. A responsabilidade contratual é aquela que está afeta à inexecução de um negócio jurídico bilateral ou unilateral, ou seja, o descumprimento de uma obrigação contratual. Como se baseia no dever de resultado acarretará na presunção de culpa. Já a responsabilidade extracontratual ou aquiliana provém de um ilícito extracontratual, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz, não havendo vínculo anterior entre as partes, pois não existe uma obrigação contratual. Nesta espécie temos a que é fundamentada na culpa do agente, ou seja, a responsabilidade subjetiva, que é a norma geral e, como norma específica, a que não se baseia na culpa, chamada de responsabilidade objetiva, em conformidade com o parágrafo único do artigo 927: AN02FREV001/REV 4.0 19 Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 1.8.3 Responsabilidade Direta ou Indireta Na aplicação dos preceitos da responsabilidade civil, o que se avalia é a conduta do agente, ou seja, o(s) ato(s) ou fato(s) que leva(m) ao ilícito. O interesse maior é o de identificar a conduta que leva à obrigação de indenizar. Desta forma, uma pessoa é responsável quando suscetível de ser sancionada, quer tenha sido o ato antijurídico cometido pessoalmente – responsabilidade direta – ou por terceiro(s) que com ele tenham relação – responsabilidade indireta. Como exemplo, temos o motorista, proprietário do veículo que se envolve em acidente de trânsito, respondendo aos prejuízos ocasionados a outro veículo. Se este mesmo veículo está sendo dirigido por um terceiro, continua o proprietário a ser responsável pela indenização, mesmo que não tenha participado do acidente. 1.8.4 Responsabilidade nas Relações de Consumo Com o advento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC) de 1990, veio um novo marco para o estudo da responsabilidade civil. Por ser de origem constitucional, o CDC, em seu artigo 1º, determina que suas normas são de ordem pública e de interesse social, ou seja, de aplicação necessária e observância obrigatória. A responsabilidade adotada é a objetiva, com fundamento no risco do empreendimento. À guisa de informação, uma vez que o tema não está relacionado diretamente ao nosso estudo, seguem abaixo os artigos relacionados à responsabilidade civil e à reparação do dano constantes do CDC: AN02FREV001/REV 4.0 20 6º São direitos básicosdo consumidor: VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. CAPÍTULO IV Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos SEÇÃO II Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. AN02FREV001/REV 4.0 21 Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade. Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor. Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores. § 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores. Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Em resumo: Espécies Civil ou Penal Administrativa Contratual ou Extracontratual Direta ou Indireta Relações de Consumo 1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO É importante que tenhamos uma noção de como outros países se utilizam do instituto da responsabilidade civil. Para não alongar nosso Módulo, apresento a posição da Argentina (América do Sul), Portugal (Europa) e Estados Unidos (América do Norte). AN02FREV001/REV 4.0 22 Argentina – Pela leitura do Código Civil Argentino6 vigente, podemos deduzir que ele utiliza, como regra geral, da responsabilidade subjetiva, em que o autor deve provar a culpa do ofensor. Assemelha-se ao nosso direito e trata da responsabilidade civil junto das obrigações. Vejamos alguns dos artigos: Art. 506: El deudor, es responsable al acreedor de los daños e intereses que a éste resultaren por dolo suyo en el cumplimiento de la obligación. (O devedor, é responsável perante o credor por perdas e danos que a ele resultar por dolo seu no cumprimento de sua obrigaçõe.) Art. 519: Se llaman daños e intereses el valor de la pérdida que haya sufrido, y el de la utilidad que haya dejado de percibir el acreedor de la obligación, por la inejecución de ésta a debido tiempo. (Chama-se perdas e danos o valor que o credor haja perdido, e a utilidade de tenha deixado de perceber com a obrigação, por sua inexecução no devido tempo.) Art. 1068: Habrá daño siempre que se causare a otro algún perjuicio susceptible de apreciación pecuniaria, o directamente en las cosas de su dominio o posesión, o indirectamente por el mal hecho a su persona o a sus derechos o facultades. (Haverá dano sempre que causar a outro algum prejuízo suscetível de apreciação pecuniária, diretamente nas coisas de seu domínio e posse, indiretamente por um mal feito a sua pessoa e aos seus direitos ou faculdades.) Art. 1074: Toda persona que por cualquier omisión hubiese ocasionado un perjuicio a otro, será responsable solamente cuando una disposición de la ley le impusiere la obligación de cumplir el hecho omitido. (Toda pessoa que por qualquer omissão houvesse causado prejuízo a outra, será responsável somente quando uma disposição da lei lhe impuser a obrigação de cumprir o feito omitido.) Portugal – O Código Civil Português7 (Decreto-Lei nº 47.344/1966, com atualização da Lei nº 59/1999), da mesma forma que o brasileiro, reserva uma seção 6 CÓDIGO CIVIL ARGENTINO. Disponível em: < http://www.redetel.gov.ar/framedeabajo.htm >. Acesso em: 08/10/2009. 7 CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS. Disponível em: <http://www.stj.pt/nsrepo/geral/cptlp/Portugal/CodigoCivil.pdf>. Acesso em: 08/10/2009. AN02FREV001/REV 4.0 23 para a responsabilidade civil, que vai do art. 483 ao 510, abrangendo diversos assuntos sobre a matéria. Também está filiado à corrente da responsabilidade subjetiva, exigindo a culpa e sua prova. Vejamos alguns artigos: ARTIGO 483º - (Princípio geral) 1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indenizar o lesado pelos danos resultantes da violação. 2. Só existe obrigação de indenizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei. ARTIGO 487º - (Culpa) 1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo presunção legal de culpa. Estados Unidos – Diferentemente do Brasil, Argentina e Portugal, os EUA seguem o princípio da Common Law (do inglês “direito comum”). Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o direito, estabelecendo um precedente. Em regra, o americano se utiliza dos seguros para cobrir as ações propostas contra eles no que tange à responsabilidade civil. Apresentamos um texto que fala sobre a responsabilidade civil americana, no qual podemos ver que a condenação criminal, como no Brasil, faz coisa julgada para o cível. Um fato interessante é que não existe a indenização pelo ato ilícito e, sim, a reparação dos danos causados. Vejamos: Civil liability gives a person rights to obtain redress from another person e.g. the ability to sue for damages for personal injury. There is also the right to AN02FREV001/REV 4.0 24 obtain an injunction. For there to be an award of damages, theinjured party has to have suffered an actual loss, be it personal injury, damage to property, or financial loss. The burden of proof is "the balance of probability" which is much lower than for criminal matters. If there has been a relevant criminal conviction in a particular matter, then the burden of proof in any related civil action is reversed, so that the defendant has to prove he is not liable. An example of this would be a conviction of a company for breach of health and safety legislation, followed by the injured employee suing the company for damages for personal injury. A disincentive to suing is that the losing party pays the winners costs. In fact, this works out as a substantial proportion of the costs, rather than 100%, so a successful plaintiff has his award of damages diminished in practical terms. As a matter of public policy, it is not possible to have an enforceable insurance policy in relation to criminal penalties.8 (O instituto da responsabilidade civil confere a uma pessoa o direito de obter uma compensação financeira de outra pessoa, isto é, o direito de processá-la por danos causados a ela. Para que o dano possa ser compensado, a parte ofendida tem de ter sofrido uma perda real, seja um dano pessoal à sua propriedade ou uma perda financeira. O ônus da prova é conhecido como “equilíbrio da probabilidade”, é muito menor que o existente na responsabilidade criminal. Se houver uma condenação criminal relevante em uma ação em particular, o ônus da prova na responsabilidade civil é invertido, ou seja, o pleiteante é que deve provar que não é culpado. (...) Como desestímulo ao processo, é determinado que a parte perdedora pague os gastos que o vencedor teve com o processo. Na realidade, não são pagos 100% dos gastos, mas uma parte substancial dos mesmos, então a parte vencedora tem, na prática, uma diminuição do valor total que receberia. Em se tratando de políticas públicas, não é possível haver política de redução de ações na esfera criminal). 8 THE DIFFERENCE BETWEEN CRIMINAL AND CIVIL LIABILITY. Disponível em: <http://www.rsc.org/images/2_Difference_tcm18-17644.pdf>. Acesso em: 08/10/2009. AN02FREV001/REV 4.0 25 FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 26 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 27 CURSO DE DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 28 MÓDULO II 2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS 2.1 INTRODUÇÃO No Módulo I delineamos a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva e indicamos os pressupostos da responsabilidade civil através de uma breve introdução. Agora, faremos um estudo mais aprofundado sobre o tema. Lembramos que a teoria da responsabilidade civil está construída sobre a reparação do dano, pois emerge do art. 186 do Código Civil de 2002, recepcionando o art. 159 do Código Civil de 1916, pois “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O Código Civil de 1916 dizia: “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Existem duas vertentes no estudo da responsabilidade civil: a “Teoria da Culpa” e a “Teoria do Risco”. A primeira pertence à responsabilidade subjetiva, enquanto a segunda à responsabilidade objetiva. Iremos neste Módulo estudá-las e a seus pressupostos. 2.2 TEORIA DA CULPA A teoria da culpa, também chamada de responsabilidade subjetiva, é a regra geral de nossa legislação pátria, em que se faz necessária a existência da culpa para gerar o dever de indenizar. Como já mostramos no Módulo I, foi a Lei Aquiliana o divisor e transformador da responsabilidade civil, tendo – senão trazido AN02FREV001/REV 4.0 29 diretamente o elemento culpa – introduzido o elemento subjetivo para permitir a reparação do dano. Com base no Direito Romano, precursor do nosso Direito, e através do Direito Francês, que recepcionou a responsabilidade civil fundada na culpa, o Brasil adotou a teoria geral da responsabilidade civil subjetiva – teoria da culpa. Como vimos, é a regra geral, enquanto a responsabilidade objetiva é a exceção, sendo esta possível se prevista em lei. Necessitamos, para que haja o dever de indenizar, de quatro pressupostos, a saber: conduta humana (ação ou omissão), nexo causal, dano e a culpa. Cabe à vítima provar o dano experimentado e que este dano partiu de uma ação ou omissão culposa do agente. Quanto ao agente, poderá se eximir do dever de indenizar, se provar a inexistência de um dos pressupostos, ou através das excludentes. Se provar que foi prudente, diligente e observou as leis vigentes, inexistirá o elemento culpa. Se o prejuízo suportado pela vítima não se relaciona com seu ato, inexistirá o elemento nexo causal. E se não ocorreu nenhum prejuízo para a vítima, quer patrimonial quer moral, inexistirá o elemento dano. Antes de apresentarmos os pressupostos, necessária se faz a apresentação de um elemento básico para a existência da responsabilidade civil, que é o ato ilícito. É preciso provar a conduta culposa (culpa) do agente para que haja o dever de indenizar, que se origina do ato ilícito. A culpa aqui referida é a voluntariedade de conduta do agente. Para se caracterizar o ato ilícito, necessitamos de dois pressupostos: a imputabilidade do agente, que é o elemento subjetivo, e a conduta culposa, que é o elemento objetivo. Sem estes elementos não existirá o ato ilícito. A imputabilidade do agente define-se como o conjunto de condições pessoais que concede ao agente a capacidade de responder pelas consequências de sua conduta contrária à norma jurídica. A imputabilidade está ligada à responsabilidade, a capacidade de entender que o fato é ilícito, e de agir em conformidade com esse entendimento. A nossa legislação não define o que imputabilidade, apenas enumera os casos que a excluem, os considerados inimputáveis. Desta forma, estes são considerados incapazes, não sendo responsáveis pelos atos cometidos. Porém, de conformidade AN02FREV001/REV 4.0 30 com a lei, pelos atos dos incapazes, responde aquele que detém sua guarda, sendo exceção o contido no art. 928 e seu parágrafo único do Código Civil: O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. O outro elemento, a conduta culposa, será estudado adiante. 2.2.1 Conduta Humana Não resta mais dúvida de que para a existência da responsabilidade civil é preciso que o ato seja realizado ou pelo próprio agente ou por ato de terceiro, como vimos no Módulo I. Como regra, temos o ato praticado pelo próprio agente e, como exceção, embora produza os mesmos efeitos, por ato de terceiro. É o caso, por exemplo,do dono de um estacionamento que responde pelos atos praticados por seus empregados, quando da manobra dos veículos. Mas o importante é a conduta do agente ou do terceiro. Também não podemos esquecer que, de acordo com a responsabilidade objetiva, além do fato de terceiro, ainda temos o fato da coisa ou do animal, que chamamos de responsabilidade civil indireta. Para analisar esta conduta, precisamos saber qual é o padrão por que se afere uma conduta do agente. Que conduta é esta? Uma conduta diligente do próprio agente ou a conduta diligente de um homem normal (homem médio), que é prudente e cuidadoso? A doutrina declina que a conduta deve ser aferida através da culpa em abstrato, que é aquela em que o agente falta com a atenção que natural e comumente deve dispensar na administração de seus negócios. AN02FREV001/REV 4.0 31 Esta conduta tem de ser voluntária, podendo ser positiva ou negativa (ação ou omissão). Neste caso, o agente tem consciência daquilo que faz. Para que haja o dever de indenizar sua conduta, a princípio deve ser ilícita, mas também pode haver responsabilidade civil decorrente de ato lícito. A conduta humana tem de ocorrer através da prática de uma conduta culposa, positiva ou negativa (ação ou omissão) senão não haverá o dever de reparação. 2.2.2 Nexo Causal O dever de indenizar começa a surgir no momento em que se forma o liame entre a conduta do agente e o dano. Não é muito fácil, porém, determinar este liame. É neste ponto que encontramos o nexo causal. Foram criadas três teorias para estabelecer o nexo causal: a da equivalência das condições, a da causalidade adequada e a dos danos diretos e imediatos. A equivalência das condições (conditio sine qua non), segundo Gonçalves1, (2003, p. 521) diz que “toda e qualquer circunstância que haja ocorrido para produzir o dano é considerada uma causa. A sua equivalência resulta de que, suprimida uma delas, o dano não se verifica”. Ou seja, todos os antecedentes fáticos que contribuírem para o resultado são causa dele. A causalidade adequada foi formulada em 1871 por Ludwig von BAR e desenvolvida por Johannes von KRIES, por volta de 1888, onde somente se considera como causadora do dano a condição por si só apta a produzi-lo (GONÇALVES, 2003, p. 522). Tal teoria nos diz que o critério eliminatório consiste em estabelecer que, mesmo na sua ausência, o prejuízo ocorreria (juízo de probabilidade). Essa doutrina se dividiu em duas correntes. A positiva entendia que será causa adequada do dano sempre que este constitua uma consequência normal ou típica daquele. Já a negativa entende que o fato que atuou como condição do dano só deixará de ser considerado como causa adequada se, dada a natureza geral, se 1 GONÇAVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003. AN02FREV001/REV 4.0 32 mostrar de todo indiferente para a verificação do dano, tendo-o provocado só por virtude das circunstâncias excepcionais, anormais, extraordinárias ou anômalas, que intercederam no caso concreto. A teoria dos danos diretos e imediatos dispõe que o dever de reparar surge quando o evento danoso é efeito direto e imediato de certa causa. À causa serviria apenas o antecedente fático ligado necessariamente ao resultado danoso como uma consequência direta e imediata. Como exemplo, temos o do acidentado que, ao ser conduzido em uma ambulância para o hospital, vem a falecer em virtude de tremenda colisão da ambulância com outro veículo. Responderia o autor do dano primeiro da vítima, o responsável pelos seus ferimentos, apenas pelos prejuízos de tais ferimentos oriundos. Pelos danos da morte dessa mesma vítima em decorrência do abalroamento da ambulância na qual era transportada ao hospital com outro veículo, responderia o motorista da ambulância ou o do carro abalroador, ou ambos. Mas o agente do primeiro evento não responderia por todos os danos, isto é, pelos ferimentos e pela morte. O nosso Código Civil vigente adotou esta teoria, como podemos verificar pela leitura do art. 403: Ainda que da inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direito e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Surge outro problema que torna mais difícil o estudo e aplicação do nexo causal: é quando várias causas concorrem para a ocorrência de um dano – concorrência de causas ou concausas. Sabemos que um dano pode ser gerado por várias causas, ocorrer de diversas formas, subsequentes, complementares, cumulativas ou alternativas. Na subsequente, temos que o fato praticado por uma pessoa gera a causa do fato praticado por outra. Como exemplo temos o depositário que, por negligência, deixa a coisa abandonada em local que facilita o furto, cometido por outra pessoa. Nas complementares, temos duas ou mais causas que concorrem para a produção de um resultado que não seria alcançado de forma isolada por nenhuma AN02FREV001/REV 4.0 33 delas. Como exemplo, um veículo colide com outro, deixando-o apenas danificado. Em seguida, outro veículo colide com ele e o deixa sem condições de uso. Na cumulativa, temos que os fatos praticados pelos agentes não necessitariam somar-se um ao outro para a ocorrência do dano, pois qualquer um dos agentes produziria o resultado isoladamente. Como exemplo, um grupo de seis pessoas briga no interior de boate e a depredam. Bastava a briga de dois para que o fato ocorresse. A alternativa ocorre na situação em que não se pode definir exatamente qual dos vários participantes causou o dano. Isto é, o agente de um grupo causou um dano, mas não é possível determinar qual agente. Como exemplo, o mesmo caso da boate, mas a briga não iria gerar prejuízos para o dono do estabelecimento, porém, um dos partícipes não identificado joga uma cadeira contra o espelho, vindo a destruí-lo. As concausas podem ainda ser: preexistentes; concomitantes ou supervenientes. São preexistentes quando não são hábeis para eliminar a relação causal. Por exemplo, a preexistência de uma doença fatal é irrelevante para uma lesão leve do agente. A vítima sofre do autor, após uma briga, uma lesão leve, mas ele é portador de diabetes e acaba em óbito. O agente responderá pela causa mais grave, que é o óbito. Não será necessário que a parte conheça a preexistência da doença. São concomitantes aquelas que ocorrem simultaneamente ao fato gerador do dano e são supervenientes aquelas que ocorrem após o evento danoso. As duas últimas seguem os mesmos preceitos da preexistente, porém, na superveniente necessário se faz a ocorrência de um novo acontecimento, rompedor do nexo causal anterior. 2.2.3 Dano Considerara-se dano a lesão a um interesse jurídico tutelado, material ou moral. Para que seja indenizável, são necessários alguns requisitos, como a violação de um interesse jurídico material ou moral, e a certeza da existência do AN02FREV001/REV 4.0 34 dano. No caso do dano moral, ele tem de ser certo e deve haver a subsistência do dano. Assim, quando ocorre um prejuízo em face do descumprimento de um dever jurídico, surge a obrigação de indenizar. Tal fato se dá com o intuito de recolocar a vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato danoso. A definição mais consagrada é a que define o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, de qualquer natureza, quer seja ele patrimonial ou a integridade da própria personalidade da vítima. Desta forma, dividimos o dano em patrimonial ou material e moral. Para que haja a indenização de um dano, ele deve ser certo, baseado sobre um fato preciso, e não somente sobre uma hipótese. É atual porque ele já existiu ou existe no momento da ação da responsabilidade civil. Comoexceção, e passível de indenização, temos o dano futuro, o que razoavelmente a vítima deixou de lucrar (lucros cessantes), conforme determina o art. 402: “salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”. 2.2.3.1 Dano patrimonial Também chamado de dano material, é o que é suscetível de avaliação pecuniária, ou seja, incide sobre interesses de natureza material ou econômica, refletindo no patrimônio do lesado. São divididos em duas espécies: os danos emergentes (o que efetivamente se perdeu) e os lucros cessantes (o que razoavelmente se deixou de lucrar). Consideramos o dano emergente aquele que é representado pela diminuição do patrimônio da vítima, ou porque diminuiu o seu ativo ou aumentou o seu passivo. Corresponde à perda ou diminuição de valores que fazem parte do patrimônio do lesado. Como exemplo, temos um acidente de automóvel que envolve um motorista de táxi e um particular. A consequência do acidente é que o veículo do taxista ficou 15 dias na oficina para conserto. O prejuízo pelo conserto deverá ser arcado pelo motorista particular, causador do acidente. AN02FREV001/REV 4.0 35 Consideramos como lucro cessante a frustração da expectativa de ganho, ou seja, são os benefícios que o lesado deixou de obter tendo em vista o dano sofrido. Como exemplo, temos o caso acima, em que o taxista tira seu sustento com as corridas que faz, e com o carro na oficina irá deixar de ganhar. Cabe ao motorista causador do acidente indenizá-lo pelos dias que ficará sem o veículo. Em ambos os casos, a indenização deve ser justa, correspondente ao valor realmente indenizável, principalmente quanto aos lucros cessantes, não devendo nem podendo o valor ser hipotético. Ainda podemos citar quanto aos danos patrimoniais os chamados danos reflexos. A doutrina e jurisprudência os aceitam, nos quais temos os danos diretos, que são os efeitos imediatos do fato ilícito, e os danos indiretos, que são as consequências mediatas ou remotas do dano direto. Ocorrem na hipótese dos prejuízos reflexamente sofridos por terceiros, titulares de relações jurídicas que são afetadas pelo dano, não na sua substância, mas na sua consistência prática, como por exemplo o devedor de pensão alimentícia que sofre uma lesão na sua capacidade de trabalhar. Os alimentados teriam legitimidade para demandar em face do causador do dano. Ainda no estudo do dano patrimonial, encontramos a figura da perda da chance, que se assemelha ao lucro cessante, pois diz respeito a uma situação futura. Neste caso, não temos a existência de uma certeza absoluta de que o ganho se daria, ocorrendo quando o lesado é privado da oportunidade de obter determinada vantagem ou evitar um prejuízo, tendo em vista a conduta do ofensor, ou seja, ocorre quando, em virtude da conduta de outrem, desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima. Na realidade, não está se indenizando o que hipoteticamente se deixou de ganhar, mas a oportunidade existente no patrimônio da vítima no momento do dano, admitindo-se um valor patrimonial da chance por si só considerada. 2.2.3.2 Dano moral AN02FREV001/REV 4.0 36 O dano moral é um dos temas mais controvertidos no estudo da responsabilidade civil, havendo discussões sobre seu conceito, efeitos e critérios de fixação da indenização. Comprova-se, porém, a existência do instituto há muitos anos, como no Código de Hamurabi em seu art. 127: “se um homem livre estendeu um dedo contra uma sacerdotisa ou contra a esposa de outro e não comprovou, o arrastarão diante do Juiz e raspar-lhe-ão a metade do seu cabelo”; na Lei das XII Tábuas - na Tábua 7 - 2 - “se alguém causa um dano premeditadamente, que o repare”; no Alcorão “AN NUR – 24ª SURATA – 3, “o adúltero não poderá casar-se, senão com uma adúltera ou uma idólatra; a adúltera não poderá desposar senão um adúltero ou um idólatra. Tais uniões estão vedadas aos fiéis. Na Antiga Roma, onde a cada ofensa moral correspondia uma reparação em dinheiro aplicada pelo Juiz, quantia essa que desse para aliviar ou minorar o dano. Como vimos, todos os casos se referem ao dano moral e à forma de reparação. Até a promulgação da Constituição Federal de 1988, não tínhamos na legislação pátria a figura do dano moral, a não ser em algumas legislações esparsas como o Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei de Imprensa e a Lei dos Direitos Autorais, mas que não tratavam diretamente do assunto. É a partir da Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 5º, X, encontramos amparo para o dever de indenizar: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. A posteriori, veio o CDC, que em seu art. 6, VI, também assegura a reparação do dano moral: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”. Por fim, o Código Civil de 2002, em seu art. 186, trouxe o direito à indenização por danos morais, dizendo: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Ainda restam três problemas a serem ultrapassados quanto ao direito à indenização por danos morais: como avaliar rigorosamente os danos materiais e moralmente, ou como compensar a dor com dinheiro; como transpor a impossibilidade e a dificuldade da reparação; e, por fim, o arbitramento do valor, que fica a critério dos juízes. AN02FREV001/REV 4.0 37 No primeiro caso, embora para muitos seja imoral a troca da dor pelo dinheiro, a indenização poderá ajudar a vítima ou a seus herdeiros, diminuindo, assim, a sua dor. No segundo caso, a solução é bem mais difícil, pois se torna uma tarefa árdua buscar o equivalente ao dano, ou chegar a um valor que realmente repare integralmente o dano sofrido. Busca-se chegar o mais próximo. Quanto à terceira, alguns doutrinadores sustentam que arbitramento não é sinônimo de arbitrariedade, sabendo que o juiz buscará critérios objetivos para a valoração do dano a ser indenizado, podendo contar com a doutrina e a jurisprudência. É regra em nossos tribunais, quando da avaliação do dano moral pelo juiz, ele medir o grau de sequela que a ação ou omissão produziu à vítima. Claro que tal grau irá divergir de pessoa a pessoa. A humilhação, vergonha, situações vexatórias, posição social da vítima (ofendido), o cargo exercido por ele e a repercussão negativa em suas atividades, quer profissionais quer sociais, devem somar-se nos laudos avaliatórios, permitindo que o juiz dose com justiça a condenação do ofensor. A indenização a ser paga a uma pessoa de conduta ilibada, profissional conhecido internacionalmente, deve ser diferente de uma pessoa comum que não atende aos requisitos mostrados pelo primeiro. Não se quer dizer com isso que um mereça mais que o outro, o que se quer mostrar é que, na avaliação para dosar o valor, tais requisitos devem ser levados em conta. Ultrapassada a premissa quanto à existência do dano moral e sua indenização, apresentamos um conceito atual em que o dano moral consiste na lesão de interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial pertencente aos direitos da personalidade, à dignidade da pessoa humana ou aos atributos da pessoa. Quanto à natureza da indenização por dano moral, podemos dizer que tem dupla natureza – é compensatória e punitiva – devendo ser levados em conta, no momento da fixação, critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendendo às condições do autor, do lesado, e do bem jurídico lesado. Quanto à prova da ocorrência do dano moral, na doutrina e jurisprudência,é pacífica e já aceita a configuração independente da prova. De acordo com a Súmula 227 do STJ, também cabe dano moral à pessoa jurídica. AN02FREV001/REV 4.0 38 Cabe ressaltar, ainda neste item, um problema que atordoa o nosso judiciário, o excesso de ações com fulcro na existência de dano moral, quando na realidade trata-se de mero aborrecimento. Vamos explicar melhor. Como vimos, a CF1988 consagrou a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, e a respectiva indenização pelo dano moral que decorre da sua violação. Quando a pessoa sofre um mero aborrecimento ou um desconforto, ou um desgosto, ou até um mero constrangimento, que pode ser frequente no cotidiano, não está a merecer a reparação, uma vez que inexiste o dano moral. Exemplificando, podemos citar o caso das pessoas que ficam presas na porta giratória de um banco. Primeiro, porque a existência da porta giratória é determinada por lei e serve para melhorar a segurança do estabelecimento. Segundo, porque é de conhecimento de todos a existência da porta giratória e da não permissão de passar por ela com materiais metálicos. Terceiro, porque serve à própria segurança da pessoa que utiliza o banco. Assim, uma determinada pessoa, ao tentar entrar no estabelecimento, fica retida na porta. O segurança geralmente pergunta se a pessoa não está portando algum objeto metálico, e ela se sente constrangida, diante das demais, por estar presa na porta giratória. Podemos considerar tal fato apenas um mero aborrecimento, pois dificilmente a ação está ligada à honra da pessoa, já que até aquele momento, ninguém a acusou injustamente de ser um ladrão. Só caberia ressarcimento se o segurança exceder em sua abordagem. Ademais, determinados fatos que não merecem acolhida judicial são utilizados por pessoas inescrupulosas e desafortunadas, que buscam se locupletar às custas de pessoas jurídicas, quer de direito público, quer de direito privado. STJ Súmula nº 227 - 08/09/1999 - DJ 20.10.1999 Pessoa Jurídica - Dano Moral A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. AN02FREV001/REV 4.0 39 Podemos afirmar que nosso judiciário está atento a tais ações, indeferindo as que não atingem o objetivo esperado pelo dano moral. 2.2.3.3 Culpa Não basta apenas a imputabilidade do agente para gerar o ato ilícito, necessário se faz que tenha agido com culpa. Sua conduta deve ser reprovável, sendo este o segundo pressuposto. No estudo da responsabilidade civil a culpa assume duas concepções. A primeira se desdobra em dolo e culpa, chamada de lato sensu. A segunda, stricto sensu, tem fundamento numa determinada posição ou situação psicológica do agente para com o fato. Quanto à concepção lato sensu, o dolo surge como tipo mais grave da culpa, definindo-se como a infração consciente do dever preexistente, ou o propósito de causar dano a outrem. Assevera-se a existência de outros tipos de dolo, como o dolo direto, que ocorre quando o agente atua para atingir o fim ilícito; o dolo necessário, quando o agente tem a pretensão de atingir o fim lícito, mas tem conhecimento de que sua ação inevitavelmente terá um resultado ilícito; e o dolo eventual, que ocorre quando o agente visa um fim lícito, mas conscientemente sabe que pode eventualmente advir do seu ato um resultado ilícito, e quer que este se produza. Quanto à concepção stricto sensu – culpa em sentido estrito – se refere à vontade do agente, que é dirigida ao fato causador da lesão. O agente não queria o resultado, mas este ocorre pela falta de diligência na observância da lei ou norma de conduta. Não tinha o objetivo, mas este era previsível. É a omissão da diligência exigível do agente. A mera culpa ocorre pela violação de um dever jurídico por negligência, imprudência ou imperícia, podendo consistir numa ação ou numa omissão. Como já estudamos, a negligência se relaciona com a desídia, ou seja, a falta de cuidado por conduta omissiva. A imprudência está ligada à temeridade, ou seja, é o atrevimento no agir, faltando a cautela por conduta comissiva. A imperícia é decorrente da falta de habilidade no exercício de atividade técnica. AN02FREV001/REV 4.0 40 Pode-se ainda graduar a culpa de acordo com a gravidade da conduta do agente. A nossa legislação pátria não menciona esta graduação, mas ela tem respaldo na doutrina e jurisprudência, principalmente quando da fixação da indenização, no dano moral. Desta forma, encontramos três graus de culpa: grave, leve e levíssima. A primeira é aquela imprópria ao comum dos homens, o erro grosseiro, que ocorre com o descuido injustificável. Equipara-se ao dolo. A segunda é a falta que poderia ser evitada com a atenção comum, com o cuidado próprio do homem comum. A terceira caracteriza-se por uma falta de atenção acima do normal, com especial habilidade ou conhecimento singular. Todas elas levam à obrigação de reparar o dano. Tendo em vista que o Código Civil de 2002 recepcionou a responsabilidade objetiva, passamos a ter três espécies de culpa nas quais o responsável não é o causador do dano, mas responde pelo resultado danoso. É o caso do fato de outrem, que abrange o fato de terceiro, o fato da coisa, substituindo o que determinava a legislação anterior quando tratava da culpa in eligendo, in vigilando e in custodiando. Como afirmado anteriormente, existem situações em que o agente irá responder por fato de outrem, quando se irá imputar ao responsável o dever de indenizar mesmo que não tenha sido ele o causador do dano. Temos desta forma três possibilidades: responsabilidade por fato de terceiro; responsabilidade por fato dos animais; e responsabilidade por fato da coisa. Responsabilidade por fato de terceiros – está determinada pelo art. 932 do Código Civil: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; AN02FREV001/REV 4.0 41 IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Em todos os casos, exige-se a existência de um vínculo jurídico anterior entre o agente e o autor do ato ilícito, resultando, daí, um dever de guarda, vigilância ou custódia. Responsabilidade pelo fato da coisa – é admitida pela doutrina e jurisprudência, uma vez que inexiste dispositivo legal explícito em nosso Código Civil. Tem fundamento na teoria da guarda, em que quem tem a obrigação de guardar deve responsabilizar-se pelos danos causados sobre a coisa e seu uso. Deriva, assim, da falta de vigilância sobre ela. Na realidade, o dano não é causado pela coisa, e sim pela má utilização dela, haja vista que a “coisa” não tem capacidade para cometer dano. Encontramos no Código Civil dois artigos que expressam a responsabilidade pelo fato da coisa. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. Responsabilidade por fato de animais – está regulada no Código Civil no artigo 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”. Desta forma, aquele que possui o comando sobre umanimal tem o dever de evitar que ela cause danos a terceiros. AN02FREV001/REV 4.0 42 Outro ponto importante a ser visto está relacionado com a evolução das tecnologias e das próprias atividades humanas, que levam os riscos a se multiplicarem, e buscam-se soluções para todos os tipos de casos. Isto porque, cada vez mais as vítimas têm dificuldades para provar a culpa do agente, sendo-lhes negada a reparação do dano. A doutrina e a jurisprudência passaram a admitir o recurso da inversão do ônus da prova. Desta forma, surge a culpa presumida. Embora ainda seja imprescindível a culpa para fins indenizatórios, passa a existir uma presunção, passando para o agente a obrigação de provar que sua conduta não foi culposa. 2.3 TEORIA DO RISCO 2.3.1 Introdução Tendo em vista a evolução da responsabilidade civil, a regra geral determinada é a da responsabilidade subjetiva (teoria da culpa), estudada anteriormente, porque no Brasil o Código Civil de 1916 previa, em seu artigo 159, que para ocorrer a indenização necessário se fazia demonstrar os seguintes requisitos: ação ou omissão; culpa ou dolo do agente; nexo causal (relação de causalidade entre o dano e a conduta); e o dano ocasionado. Porém, o Código Civil de 2002 recepcionou a teoria da responsabilidade objetiva (teoria do risco), determinando, no parágrafo único do artigo 927, que “haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” (grifo nosso) A responsabilidade subjetiva ainda é importante para nosso Direito, mas se tornou insuficiente para atender a todas as possibilidades e demandas de ressarcimento de dano, haja vista a sociedade moderna e em evolução constante. Essa sociedade moderna, desenvolvida e provida de avanços tecnológicos e científicos, na qual os interesses pessoais se tornam mais intensos, com relações AN02FREV001/REV 4.0 43 complexas, leva à existência de danos, quer ao patrimônio, quer à personalidade humana, provocados por conflitos de interesses e direitos, os quais somente a responsabilidade subjetiva não poderia sanar. Assim, surge a responsabilidade objetiva, independente de culpa e baseada no risco, buscando reparar todo e qualquer dano, independentemente de sua causa. Podemos afirmar que hoje, no Brasil, temos um sistema de responsabilidade civil dualista, coexistindo a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva. Embora anteriormente ao Código Civil de 2002 a lei vigente só permitisse a existência da responsabilidade objetiva quando prevista em lei, algumas legislações já consagravam sua existência, como a Lei das Estradas de Ferro (Dec. nº 2.681/1912) e o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565/1986). A teoria do risco só foi realmente adotada com a Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º e com o Código de Defesa do Consumidor. 2.3.2 A Teoria do Risco Os juristas, em busca da fundamentação para o estudo da responsabilidade objetiva, criaram a teoria do risco, que compreende que se alguém exerce uma atividade criadora de perigos especiais deve responder pelos danos que ocasionar a outrem. No estudo da teoria do risco encontramos algumas modalidades trazidas pela doutrina, uma vez que o Código Civil, em seu art. 927, não faz qualquer distinção, como: Risco proveito – responsabiliza aquele que busca tirar proveito da atividade danosa, baseando-se no preceito de que quem aufere o bônus deve suportar o ônus (Ubi emolumentum, ibi et onus esse debet). Risco profissional – em que o dever de indenizar ocorre sempre que o fato prejudicial decorre da atividade ou profissão do lesado. Justifica a reparação dos acidentes de trabalho. AN02FREV001/REV 4.0 44 Risco excepcional: ocorre quando a reparação é devida sempre que o dano for consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima, ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça. Risco criado: ocorre quando aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, estando assim a reparar o dano que causar, salvo prova de haver obedecido a todas as medidas idôneas a evitá-lo. Além dos casos acima mencionados, encontramos a teoria do risco integral, considerada uma modalidade extremada da teoria do risco, onde o agente se obriga a reparar o dano causado até quando inexiste o nexo causal, ou seja, o dever de indenizar surge tão-somente em face do dano, ainda que oriundo de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior. Fazem parte do nosso ordenamento jurídico três hipóteses de risco integral: Dano ambiental – aquele que provoca dano ambiental fica obrigado a repará-lo, independentemente de culpa. Tal regra vem do preceito contido na CF 88, no § 3º do art. 225 - “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”, combinado com a lei da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei nº 6.938 – no § 1º do art. 14 - “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”. Seguro obrigatório (DPVAT) - a Lei nº 6.194/74 (alterada pela Lei nº 8.441/92) em seu art. 5º determina: “O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado”. Assim, a indenização pelo seguro obrigatório para os proprietários de veículos automotores é devida, mesmo que o acidente tenha sido AN02FREV001/REV 4.0 45 provocado por veículo desconhecido ou não identificado, e ainda que tenha havido culpa exclusiva da vítima. Danos nucleares – sabe-se que a exploração de atividades nucleares traz uma gama de riscos. Desta forma, a CF88, na alínea “d”, que foi incluída pela EC nº 49/2006, do inciso XXIII do art. 21, determina: “a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa”. A Lei nº 6.453/1977, em seu art. 8º, apresenta uma exceção, quando preceitua: “O operador não responde pela reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza”. Concluímos dizendo que, além da teoria do risco, a responsabilidade objetiva tem hoje outros fundamentos que legitimam o dever de reparação do dano, ou seja, consiste na responsabilização pelo resultado, e não pela causa. 2.3.3 As Relações de Consumo Não iremos adentrar no estudo do Direito do Consumidor, mas faz-se necessária a colocação destes parágrafos para completarmos o estudo da teoria do risco. Além da recepção pelo Código Civil de 2002 da teoria do risco no direito pátrio, tivemos um momento anterior da aceitação desta teoria para formalizar a ocorrência do dano e sua indenização. Trata-se do Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078 de 1990, anterior ao nosso Código Civil vigente, que em seu art. 12 se apropria da teoria do risco: O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
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