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Direito Civil-Responsabilidade Civil

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AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
DIREITO CIVIL – 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
DIREITO CIVIL – 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO 
1.1 APRESENTAÇÃO 
1.2 ORIGEM DO TERMO 
1.3 ORIGEM HISTÓRICA 
1.4 A RESPONSBILIDADE CIVIL 
1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO 
1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
1.7 CAUSAS EXCLUDENTES 
1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 
1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal 
1.8.2 Responsabilidade Administrativa 
1.8.3 Responsabilidade Contratual e Extracontratual 
1.8.4 Responsabilidade Direta ou Indireta 
1.8.5 Responsabilidade nas Relações de Consumo 
1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO 
 
 
MÓDULO II 
2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS 
2.1 INTRODUÇÃO 
2.2 TEORIA DA CULPA 
2.2.1 Conduta Humana 
2.2.2 Nexo Causal 
2.2.3 Dano 
2.2.3.1 Dano patrimonial 
2.2.3.2 Dano moral 
2.2.3.3 Culpa 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
2.3 TEORIA DO RISCO 
2.3.1 Introdução 
2.3.2 A Teoria do Risco 
2.3.3 As Relações de Consumo 
2.4 EXCLUDENTES 
 
 
MÓDULO III 
3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL 
3.1 QUANTO AO FATO GERADOR 
3.2 EM RELAÇÃO AO SEU FUNDAMENTO 
3.3 QUANTO AO AGENTE 
 
 
MÓDULO IV 
4 DAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE QUANTO AO AGENTE 
4.1 DAS RESPONSABILIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
4.2 DAS RESPONSABILIDADES DO TRANSPORTADOR 
4.3 DAS RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR 
4.4 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROFISSIONAIS 
4.5 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROVEDORES DA INTERNET 
4.6 OUTRAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE 
 
 
MÓDULO V 
5 DA LIQUIDAÇÃO DO DANO E AÇÃO DE INDENIZAÇÃO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
MÓDULO I 
 
 
1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO 
 
 
1.1 APRESENTAÇÃO 
 
 
O ser humano é de natureza racional/sentimental e dependendo de cada 
momento se sobressai. Um dos princípios que traz em si é zelar pelo que é seu, ou 
seja, o que lhe pertence, ou pelos que lhe são afetos. Quando verifica que alguém 
está violando seu patrimônio, age de imediato, defendendo-o em busca da 
preservação, evitando assim um prejuízo. Se este já ocorreu, busca retornar ao seu 
estado a quo, ou ser compensado pela perda. 
Busca-se assegurar e tutelar o normal desenvolvimento dos atos jurídicos, 
nascendo o instituto e a noção conceitual de responsabilidade civil, por ser uma 
importante exigência social. Desta forma, através dos tempos, evoluiu o instituto da 
Responsabilidade Civil, em busca da aplicação justa e eficiente do Direito. 
O ato ilícito que causa prejuízo a outrem ou o descumprimento de uma 
obrigação contratual deve ser reparado. Assim, a responsabilidade civil, quer seja 
contratual, quer seja extracontratual, impõe ao autor do dano, decorrente de culpa 
ou do risco assumido, uma obrigação de reparação, objetivando a prestação de uma 
indenização. Nosso objetivo é, através deste curso, dar subsídios ao ensino da 
Responsabilidade Civil aos graduandos, especializando-os e aos demais 
profissionais. 
 
 
1.2 ORIGEM DO TERMO 
Necessário iniciarmos nosso estudo buscando a origem da palavra 
responsabilidade, que vem do vocábulo respondere, cujo significado é a obrigação 
de alguém de assumir as consequências de sua atividade. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
 Segundo Soibelman1 (1979): 
 
 
RESPONSABILIDADE – Obrigação de responder por seus 
próprios atos ou palavras. Obrigação de responder por atos de 
outrem, a isso estando vinculado por lei ou contrato. Obrigação 
de suportar as consequências da violação de um preceito legal: 
pena, multa, reparação por perdas e danos. Dever jurídico. 
Obrigação legal ou contratual. Submissão ao direito. Dever de 
indenizar. Dever de restabelecer a situação anterior 
comprometida por conduta irregular ou ilegal. Dever de 
obediência à lei. 
 
 
No sentido jurídico, responsabilidade designa o dever que alguém tem de 
reparar o prejuízo (dano) decorrente da violação de outro dever jurídico. Desta 
forma, podemos concluir que a responsabilidade civil é a obrigação de reparar o 
dano por todo aquele que, por ação ou omissão voluntária, imprudência, negligência 
ou imperícia, violar direito ou causar prejuízo a outrem (SOIBELMAN, 1979). 
 
 
1.3 ORIGEM HISTÓRICA 
 
 
No início era a vingança privada que prevalecia, na qual o ofendido reagia a 
um dano sofrido imediata e brutalmente. Era por puro instinto, sem que houvesse 
justiça pública. Era a Lei de Talião, do Velho Testamento (1.550/1.300 a. C.), com os 
preceitos que são conhecidos por nós como “olho por olho, dente por dente”, “quem 
com ferro fere com ferro será ferido”. Tínhamos a reparação de um mal por outro 
mal. Não se analisava a culpa, apenas o dano ocasionado. Era a responsabilidade 
objetiva. 
 
1 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
Continuamos na viagem histórica e encontramos as legislações antigas – 
Código de Hamurabi (1.780 a. C.) e o Código de Manu (Ur Manu - século II a. C.) – 
onde prevalecia a tipicidade das condutas, ou seja, previsão de um comportamento 
com resultado danoso. Continuávamos com a responsabilidade objetiva, que não 
exige o elemento culpa, o importante era a causalidade entre a conduta e o dano 
para configuração da responsabilidade. 
Chegamos ao Direito Romano, que serviu de base para a maioria dos 
Institutos do Direito Civil de nossos dias. A Responsabilidade Civil originada no 
Direito Romano consistia, também, em uma vingança privada. A responsabilidade, 
porém, não atingia somente o patrimônio do agressor, mas também o seu próprio 
corpo. Os danos e prejuízos causados tinham sua compensação através de atos 
violentos contra o agente causador dos mesmos. Não havia diferenciação entre a 
responsabilidade penal e a responsabilidade civil. 
Como o Direito evoluía, começava a preocupação de se evitar a 
instabilidade social. Buscava-se resguardar a segurança, partindo-se para não mais 
permitir a justiça privada. É nesta época que se inicia a diferenciação entre pena e 
reparação, delineando uma distinção entre os delitos públicos e delitos privados. Os 
delitos públicos eram ofensas consideradas mais graves e perturbadoras da ordem, 
o ofensor se obrigava a recolher a pena a favor dos cofres públicos, enquanto nos 
delitos privados ocorria apenas a intervenção da autoridade, buscando a 
composição entre as partes. 
Neste mesmo período temos uma mudança considerável, surgindo a 
chamada composição voluntária, na qual o ofendido tem a possibilidade de substituir 
a retaliação ao ofensor por uma compensação de ordem patrimonial. É o patrimônio 
do ofensor substituindo o castigo físico. Tal mudança se deve à modificação da 
estrutura estatal, pois surge a autoridade soberana. Encerra-se, assim, a chamada 
justiça com as próprias mãos e ao Estado cabe dosar a pena ao agente causador do 
dano. A composição deixa de ser voluntária e passa a ser obrigatória, criando-se 
uma tarifação dos danos, havendo um valor para cada tipo de lesão. 
A Lei das XII Tábuas (449 a. C.) foi de suma importância para os romanos, 
pois representa a passagem danorma consuetudinária para a lei escrita. As penas 
impostas por ela iam desde a multa até o exílio, da prisão até a morte, sendo certo 
que, ainda, muitas delas tinham por base a sanção da retaliação (pena de Talião). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
A Lei Poetelia Papiria (428 a. C) é considerada o marco divisório da 
responsabilidade civil, uma vez que através dela se deixa de aplicar a pena do 
pagamento com o próprio corpo. O que responde pelo ato do ofensor é apenas o 
seu patrimônio. Com a Lex Aquila (289 a. C.) surge a Damnum injuria datum (dano 
produzido pela injúria), o nosso atual dano moral. 
Ocorre no momento em que uma pessoa se considera afetada em seu 
ânimo psíquico, moral e intelectual, seja por ofensa à sua honra, na sua privacidade, 
intimidade, imagem, nome, ou em seu próprio corpo físico, podendo estender-se ao 
dano patrimonial se a ofensa de alguma forma impedir ou dificultar a atividade 
profissional da vítima. Corresponde às lesões sofridas pela pessoa humana e 
consiste em violações de natureza não econômica. 
Para os romanos, consistia num delito onde alguém causava dano à coisa 
alheia, animada ou inanimada, e o ressarcimento previsto não era tarifado, mas 
devia corresponder a um valor proporcional ao dano causado. É com a Lex Aquila 
que surge o princípio geral da reparação do dano, advindo as ideias iniciais sobre a 
noção de culpa. Inicia-se a responsabilidade civil subjetiva (culpa subjetiva), em que 
há a necessidade de se averiguar a culpa do agente, caracterizando a obrigação de 
ressarcir. Ela é importante para a responsabilidade extracontratual, tornando-se 
comum designá-la de responsabilidade aquiliana. Podemos afirmar que é a evolução 
da responsabilidade civil. 
Já na Idade Média, continuando nosso estudo, mais precisamente na 
França, o pensamento romano vai se aperfeiçoando. Gradualmente, evolui quanto à 
enumeração dos casos de possibilidade de composição obrigatória, chegando à 
consagração do princípio aquiliano, segundo o qual a culpa, ainda que levíssima, 
obriga a indenizar. Na Revolução Francesa (1789), já na Idade Contemporânea, 
surge o Código de Napoleão (Código Civil Francês de 1804), que prevê a 
responsabilidade contratual e a distinção entre a responsabilidade penal e a civil. 
Encontramos em seu artigo 1.382 a responsabilidade civil subjetiva, baseada na 
culpa do agente. Este Código exerceu grande influência sobre as codificações que 
se seguiram, inclusive sobre o Código Civil Brasileiro de 1916. 
As Ordenações do Reino, aplicadas no Brasil à época, não distinguiam o 
ilícito civil e necessário se fazia recorrer subsidiariamente ao Direito Romano e à Lei 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 9 
de Boa Razão (Lei de 18 de Agosto de 1769). Já o Código Criminal de 1830 previu o 
instituto da satisfação, que estabelecia o dever de reparação do dano causado. 
Chegamos ao Código Civil Brasileiro de 1916 e encontramos o artigo 159, 
que determinava: “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o 
dano”. A culpa foi adotada pela legislação civil pátria como fundamento da 
responsabilidade civil, a responsabilidade civil subjetiva. Não precisava ser a 
conduta do agente dolosa, imprudente, negligente ou imperita, quaisquer das 
espécies de culpa eram suficientes para caracterizar a responsabilidade civil, 
independentemente da gravidade do ato. Bastava a existência de culpa levíssima 
para determinar a obrigação de reparar. 
Por fim, encontramos o Código Civil de 2002, que mantém a regra do Código 
antecessor, e para tanto basta combinarmos os preceitos do artigo 927, caput, com 
o artigo 186. Enquanto o caput do artigo 927 estipula que “aquele que, por ato ilícito 
(arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, o disposto no 
artigo 186 nos mostra que a culpa é exigida para a configuração da responsabilidade 
civil: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar 
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
 
 
1.4 A RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
Já tendo conhecido a procedência da palavra responsabilidade e a 
historicidade da responsabilidade civil, passemos a uma breve introdução ao tema a 
ser estudado. Podemos afirmar que o instituto da responsabilidade civil tornou-se 
importante para o Direito hodierno, levando-se em conta que o presente instituto 
passou a ser visto de outra forma a partir da Constituição Federal de 1988, e ganhou 
força a partir da promulgação do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de 
1990. 
Até os idos dos anos 1980, a responsabilidade civil era estudada na parte 
referente às Obrigações, uma vez que estava afeta à parte contratual. A partir daí, 
passou a ser oferecida pelas Instituições de Ensino Superior (IES) como disciplina 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
autônoma, porém eletiva para o curso de Direito. Ao final da década, dada a 
importância do instituto, surgiu como disciplina autônoma e parte integrante do 
estudo do Direito Civil. 
Podemos ver que no nosso Código Civil vigente, diferentemente da 
legislação anterior, a responsabilidade civil recebeu um Título (IX) com dois 
capítulos. Hoje, vemos que a responsabilidade civil permeia todas as relações 
jurídicas, atingindo o direito público e o direito privado, quer no campo contratual, 
extracontratual, transportes aéreos e terrestres, interesses individuais, coletivos, 
sociais, ambientais, nacionais ou internacionais, dentre outros. 
Encontramos atualmente uma série de artigos e doutrinas sobre o assunto, 
além da contribuição jurisprudencial. Mas vamos analisar o porquê desta evolução 
no direito pátrio. Primeiramente, tomemos os ensinamentos de San Tiago Dantas2 
quanto aos atos ilícitos. Diz o grande jurista que “toda conduta do homem que fere o 
direito, objetivamente considerado, é uma conduta ilícita. De maneira que inúmeras 
e comuníssimas são as formas sob que pode deparar-se a ilicitude” (DANTAS, 1977, 
p. 341). 
Diz o mestre que o fundamento da ordem jurídica tem um duplo sentido, que 
é proteger o lícito e reprimir o ilícito, ou seja, proteger a atividade do homem que se 
comporta de acordo com o direito, reprimindo aquele que se comporta em 
contrariedade com o direito. Honeste vivere, alterum non ladere (viver honestamente 
e não lesar a ninguém). 
Como podemos ver, a violação de um dever jurídico gera o ilícito, e este 
pode gerar um dano: é o chamado de dever jurídico originário ou primário. Se ocorre 
o dano temos um novo dever jurídico, que é o de repará-lo. É o chamado dever 
jurídico sucessivo ou secundário. Como nos ensina Cavalieri Filho3: “... toda 
conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa prejuízo a outrem, é 
fonte geradora de responsabilidade civil” (CAVALIERI FILHO, 1997, p. 20). 
A obrigação é um dever jurídico originário, enquanto a responsabilidade é 
um dever jurídico sucessivo, podendo ser da mesma natureza, acrescido de outros 
elementos – obrigação de dar – ou de natureza diferente – obrigação de fazer. 
 
 
2 DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil – Parte Geral. Rio de Janeiro: Editora Rio,1977. 
3 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 
1997. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
 
1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO 
 
 
Para darmos continuidade, devemos verificar alguns conceitos que irão nos 
ajudar no desenvolvimento de nossos estudos. Eles estão relacionados à teoria 
geral do direito. Iniciamos pelo Fato Jurídico – que é todo acontecimento, natural ou 
humano e suscetível de produzir efeitos jurídicos. Stricto senso, inclui eventos 
puramente naturais e atos humanos que geram efeitos jurídicos – atos jurídicos e 
atos ilícitos. 
Podem ser naturais quando os acontecimentosdecorrem da própria 
natureza, como o nascimento, a morte, a tempestade, entre outras, ou voluntários, 
quando a origem é a conduta humana capaz de gerar efeitos jurídicos. Estes podem 
ser lícitos, quando de acordo com a lei vigente, ou ilícitos, quando afrontam o Direito, 
ou seja, a violação do dever contido na norma jurídica. 
 
Ato Jurídico – também chamado de ato lícito. São atos de mera conduta 
(não negocial), que existem independentemente da vontade do agente, ou seja, não 
têm o fim de produzir um determinado efeito jurídico, ou negócio jurídico, cuja 
característica é ser uma declaração de vontade do agente destinada a criar direitos 
e obrigações (contratos, testamentos e outros). 
 
Ato Ilícito – são aqueles que contrariam o ordenamento jurídico, lesando o 
direito subjetivo de alguém. Para que existam, necessário se faz que ocorra um 
dano moral ou material ao ofendido (vítima), uma conduta culposa do ofensor (autor) 
e um nexo causal entre o dano e a conduta ilícita. Chamamos a atenção para o fato 
de o ato ilícito ser um comportamento voluntário e consciente de um ser humano 
que infringe um dever jurídico, e não uma simples manifestação de vontade, pois 
não existe ilícito no fato de alguém prometer causar prejuízo a outrem. Divide-se em 
ato ilícito penal, ato ilícito civil e ato ilícito administrativo. 
É de suma importância para nosso estudo sobre responsabilidade civil o 
conceito de ato ilícito, haja vista que é ele que faz nascer a obrigação de reparar o 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
dano, e que é imposto pelo ordenamento jurídico. Enquanto no direito penal o ato 
ilícito afeta a liberdade da pessoa (infrator), no direito civil atingirá seu patrimônio. 
 
Em resumo: 
 
Teoria Geral do Direito 
 Fato Jurídico : Naturais 
Voluntários: Lícitos 
 Ilícitos 
 
 Ato Jurídico: Mera Conduta 
 Negócio Jurídico 
 
 Ato Ilícito 
 
 
1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
Encontramos quatro pressupostos para a ocorrência da responsabilidade 
civil: a conduta humana (ação ou omissão), o nexo causal, o dano e a culpa. 
 
Conduta humana – é o ato (ação ou omissão) pelo qual o agente, 
pessoalmente ou por terceiro(s) sob sua responsabilidade, irá causar dano ou 
prejuízo a alguém, seja por dolo, negligência, imprudência ou imperícia, gerando a 
obrigação de reparar. 
Apropriamos da definição de Maria Helena Diniz4 para a conduta humana: 
“O ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente 
imputável, do próprio agente ou de terceiro (...) que cause dano a outrem, gerando o 
dever de satisfazer os direitos do lesado.” (DINIZ, 2003, p. 37). 
 
4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. São Paulo: 
Saraiva, 2003. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
Afirma a autora que a responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na 
ideia de culpa, enquanto a responsabilidade sem culpa baseia-se no risco. 
Comissivo é o ato que não deveria efetivar, enquanto a omissão é a não 
observância de um dever. 
 
Nexo causal (nexo de causalidade) – é um dos principais pressupostos para 
configurar a responsabilidade civil e o dever de indenizar, é a ligação entre o ato 
lesivo do agente e o dano ou prejuízo sofrido pela vítima. Não é suficiente que a 
vítima apenas sofra o dano, necessário se faz que esta lesão passe a existir a partir 
do ato do agente para que haja o dever de compensação. O agente, por omissão ou 
comissão, tem de ser o causador do dano. 
 
Dano – para que haja responsabilidade civil, a conduta do agente tem de ser 
danosa ou levar prejuízo à vítima. Desta forma, dano é o prejuízo que resulta da 
lesão de um bem ou direito, podendo ser a perda ou redução de um patrimônio, quer 
seja material ou moral de uma pessoa. Ocorre pela conduta do agente, que irá 
originar o direito ao ressarcimento do lesado, restituindo a situação original ou, 
quando não possível, a reparação do dano, a não ser que haja a excludente de 
responsabilidade. 
Podemos dividir o dano em patrimonial e extrapatrimonial. O primeiro, 
também conhecido como material, é aquele que causa a destruição ou diminuição 
de um bem de valor econômico (mensurável). O segundo, também chamado de 
moral, é aquele que está afeto a um bem que não tem caráter econômico 
(pecuniário), não é mensurável e não pode retornar ao estado anterior. São os bens 
inerentes aos direitos da personalidade – direito à vida e à integridade moral, física 
ou psíquica. São de difícil reparação. 
A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, X, determina: “são invioláveis a 
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. 
 
Culpa – é o ato do agente que age com negligência, imprudência ou 
imperícia, não fazendo a lei distinção entre elas. Nessa modalidade, pressupõe-se 
que o agente não desejava o resultado, mas não agiu de forma precavida. A 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
negligência ocorre quando o agente deveria tomar conta para que uma situação não 
acontecesse, mas não presta a devida atenção e a deixa acontecer. A imprudência 
ocorre quando o agente não se cerca dos cuidados que uma pessoa normal tomaria. 
E a imperícia está ligada ao perito, ou seja, a alguém que deveria dominar uma 
técnica, mas acaba por não dominá-la. 
Ensina-nos José de Aguiar Dias5 que a negligência encontra-se intimamente 
relacionada com o conceito de desídia, enquanto a imprudência liga-se ao de 
temeridade, e a imperícia à falta de habilidade. Na verdade, a culpa não é um 
elemento essencial para a responsabilidade civil, pois o próprio artigo 927 do Código 
Civil afirma que “haverá obrigação de reparar o dano independentemente de culpa”. 
Somente os três anteriores que são fundamentais para a responsabilidade civil. 
Para a responsabilidade civil a culpa é caracterizada quando o agente 
causador do dano não tinha a intenção de provocá-lo, mas, por negligência, 
imprudência ou imperícia, causa dano a outrem, tendo o dever de repará-lo. 
Em resumo: 
 
Pressuposto 
 
 Conduta Humana Ação 
 Omissão 
 Nexo Causal 
 Dano 
 Culpa Negligência 
 Imprudência 
 Imperícia 
 
 
1.7 CAUSAS EXCLUDENTES 
 
 
Encontramos três excludentes para a responsabilidade civil do agente: culpa 
exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, e o fato de terceiro. São 
 
5 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
consideradas causas que eliminam o dever de reparação do dano, uma vez que 
excluem o nexo causal pressuposto importante da responsabilidade civil. 
Culpa da vítima – acontece quando o dano é decorrente de ato da própria 
vítima, ou seja, quando o agente não contribui em nenhum momento para o evento 
danoso. Na realidade, o ato culposo da própria vítima elimina o nexo causal e, com 
ele, a responsabilidade civil. Mas existem casos em que a vítima e o agente 
concorrem na culpa (culpa concorrente). Nestes casos, cada um responde por sua 
participação no dano. 
Caso fortuito e força maior - ocorrem quando o dano advém de causas de 
efeitos imprevistos ou inevitáveis, exonerando o agente da responsabilidade pelos 
danos causados à vítima, não havendo ação ou omissão culposa por parte do 
agente. É o fato imprevisível e incapaz de ser evitado, quer pelo agente, quer por 
qualquer outro. O Código Civil, em seu artigo 393, determina: 
 
 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes 
de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se 
houver por eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se 
no fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou 
impedir. 
 
 
Força maiorentende-se como a ocorrência fora da relação entre agente e 
vítima, e que não poderia ser evitada pela ação do agente. Provém de um fato da 
natureza, como uma inundação que provoca danos a equipamentos. Caso fortuito é 
inerente à ação humana e não é esperado nem previsto, não podendo ser evitado. A 
sua ocorrência independe da conduta do agente ou da vítima. Provém de um fato 
que, embora humano, é desconhecido e inevitável, como o rompimento de tubulação 
que inunda uma fábrica, não permitindo que o agente cumpra o prazo de entrega. 
Lembramos que, mesmo ocorrendo o caso fortuito ou a força maior, se o 
agente de alguma forma contribuir culposamente para agravar a situação, 
responderá por sua culpa. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
 
Fato de terceiro – ocorre quando o agente causador do dano fica exonerado 
do dever de reparação, tendo em vista a causa alheia, pois o dano é causado por 
ação ou omissão de um terceiro, seja dolosa ou culposamente. Quebra-se, assim, o 
nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado, tendo em vista que a 
conduta atípica não parte do agente, e sim de um terceiro. Esta conduta, porém, 
deve ser o fator predominante da lesão ocasionada. Lembramos que o terceiro não 
pode ter nenhuma relação com o agente. 
Alguns autores citam como excludente a “cláusula de não indenizar”, que é a 
combinação através da qual o devedor, contratualmente, se exonera do dever de 
indenizar quando do acontecimento de um dano. Ocorre que tal cláusula é limitada 
aos contratos, não sendo aceita nos demais casos. É considerada como não escrita, 
principalmente no CDC. 
 
Em resumo: 
Excludentes 
 Culpa da Vítima 
 Caso Fortuito e Força Maior 
 Fato de Terceiro 
 
 
1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 
 
 
1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal 
 
 
A contrariedade entre a conduta e a norma jurídica gera a ilicitude, e está 
contida em diversos ramos do Direito. Ela é penal quando o agente viola uma norma 
do Direito Penal, pertencente ao Direito Público, enquanto o ilícito civil é a violação 
de uma norma pertencente ao Direito Privado. 
Na realidade, não existe uma diferença substancial entre estes dois ilícitos, 
podendo existir casos em que tanto o Direito Público quanto o Privado são violados 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 17 
através do mesmo ato (dupla ilicitude). O exemplo mais comum está no acidente de 
trânsito, onde uma pessoa atropela alguém que vem a falecer. O agente causador 
do acidente irá responder pelo ilícito penal (crime de homicídio culposo) e também 
responderá pelo ilícito civil, o dever de indenizar a família (reparação do dano) pela 
morte da vítima. 
O ilícito penal está afeto aos atos ilícitos de maior gravidade, que estão 
diretamente ligados ao interesse público, enquanto o ilícito civil aos de menor 
gravidade. Lembramos que a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível 
quanto ao dever de indenizar. 
 
1.8.2 Responsabilidade Administrativa 
 
 
Primeiramente, temos de conceituar o Direito Administrativo, que é o 
conjunto de princípios jurídicos harmônicos regentes dos órgãos públicos, seus 
agentes e as atividades públicas que levam à realização concreta, quer direta ou 
indiretamente, aos fins desejados pelo Estado. A responsabilidade administrativa, ou 
responsabilidade da administração, é a obrigação imposta ao poder público de 
reparar os danos causados a terceiros por atos praticados por seus agentes ou em 
seu nome, no exercício de suas atribuições. 
É o que determina nossa Constituição Federal no parágrafo 6º do art. 37: 
 
 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que 
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, 
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos 
casos de dolo ou culpa. 
 
 
Na responsabilidade administrativa emprega-se a teoria objetiva, ou seja, 
independe da intenção do agente para haver responsabilização. É a teoria do risco 
ou da solidariedade social, pois decorre de uma atividade ou função pública. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 18 
 
 
1.8.2 Responsabilidade Contratual e Extracontratual 
 
 
O principal pressuposto da responsabilidade civil, de acordo com a teoria 
clássica, é a culpa, também chamada de responsabilidade subjetiva. Assim, 
pressupõe-se sempre a existência de culpa lato sensu, que abrange o dolo – 
conhecimento do ilícito e intenção de praticá-lo, e a culpa stricto sensu, que é a 
violação de um dever que o agente deveria conhecer e acatar. O nosso Código Civil 
filia-se a esta teoria, como regra, conforme se verifica no art. 186, exigindo a culpa 
com fundamento para a obrigação de reparação do dano. Desta forma, o ofendido 
só poderá ter a reparação do dano se comprovar a culpa do ofensor, o que muitas 
das vezes se torna impossível. 
Passou-se, então, em países como Itália, Bélgica e França a se buscar 
fundamentação para a responsabilidade objetiva (sem culpa), que se baseia na 
teoria do risco. A responsabilidade objetiva é exceção e ocorre nas hipóteses em 
que, embora não se exija a culpa, seja ela presumida, invertendo-se o ônus da 
prova, ou seja, o agente é que deverá provar sua não culpa. O Brasil aceitou a 
responsabilidade objetiva, principalmente nas relações de consumo. 
A responsabilidade contratual é aquela que está afeta à inexecução de um 
negócio jurídico bilateral ou unilateral, ou seja, o descumprimento de uma obrigação 
contratual. Como se baseia no dever de resultado acarretará na presunção de culpa. 
Já a responsabilidade extracontratual ou aquiliana provém de um ilícito 
extracontratual, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz, 
não havendo vínculo anterior entre as partes, pois não existe uma obrigação 
contratual. Nesta espécie temos a que é fundamentada na culpa do agente, ou seja, 
a responsabilidade subjetiva, que é a norma geral e, como norma específica, a que 
não se baseia na culpa, chamada de responsabilidade objetiva, em conformidade 
com o parágrafo único do artigo 927: 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 19 
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem. 
 
 
1.8.3 Responsabilidade Direta ou Indireta 
 
 
Na aplicação dos preceitos da responsabilidade civil, o que se avalia é a 
conduta do agente, ou seja, o(s) ato(s) ou fato(s) que leva(m) ao ilícito. O interesse 
maior é o de identificar a conduta que leva à obrigação de indenizar. Desta forma, 
uma pessoa é responsável quando suscetível de ser sancionada, quer tenha sido o 
ato antijurídico cometido pessoalmente – responsabilidade direta – ou por terceiro(s) 
que com ele tenham relação – responsabilidade indireta. 
Como exemplo, temos o motorista, proprietário do veículo que se envolve 
em acidente de trânsito, respondendo aos prejuízos ocasionados a outro veículo. Se 
este mesmo veículo está sendo dirigido por um terceiro, continua o proprietário a ser 
responsável pela indenização, mesmo que não tenha participado do acidente. 
 
 
1.8.4 Responsabilidade nas Relações de Consumo 
 
 
Com o advento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC) de 
1990, veio um novo marco para o estudo da responsabilidade civil. Por ser de 
origem constitucional, o CDC, em seu artigo 1º, determina que suas normas são de 
ordem pública e de interesse social, ou seja, de aplicação necessária e observância 
obrigatória. A responsabilidade adotada é a objetiva, com fundamento no risco do 
empreendimento. 
À guisa de informação, uma vez que o tema não está relacionado 
diretamente ao nosso estudo, seguem abaixo os artigos relacionados à 
responsabilidade civil e à reparação do dano constantes do CDC: 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 20 
 
6º São direitos básicosdo consumidor: 
 VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
 VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à 
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
 VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão 
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do 
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as 
regras ordinárias de experiências; 
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes 
de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da 
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades 
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios 
gerais do direito, analogia, costumes e equidade. 
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão 
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de 
consumo. 
CAPÍTULO IV 
Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos 
Danos 
SEÇÃO II 
Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o 
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos 
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, 
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e 
riscos. 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como 
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, 
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são 
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos 
essenciais, contínuos. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 21 
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das 
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas 
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma 
prevista neste código. 
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por 
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade. 
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de 
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor. 
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que 
impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta 
e nas seções anteriores. 
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos 
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções 
anteriores. 
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos 
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste 
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do 
dano e de sua autoria. 
 
 
Em resumo: 
Espécies 
 Civil ou Penal 
 Administrativa 
 Contratual ou Extracontratual 
 Direta ou Indireta 
 Relações de Consumo 
 
 
1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO 
 
 
É importante que tenhamos uma noção de como outros países se utilizam 
do instituto da responsabilidade civil. Para não alongar nosso Módulo, apresento a 
posição da Argentina (América do Sul), Portugal (Europa) e Estados Unidos 
(América do Norte). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
Argentina – Pela leitura do Código Civil Argentino6 vigente, podemos deduzir 
que ele utiliza, como regra geral, da responsabilidade subjetiva, em que o autor deve 
provar a culpa do ofensor. Assemelha-se ao nosso direito e trata da 
responsabilidade civil junto das obrigações. 
 
Vejamos alguns dos artigos: 
 
 
Art. 506: El deudor, es responsable al acreedor de los daños e intereses 
que a éste resultaren por dolo suyo en el cumplimiento de la obligación. (O 
devedor, é responsável perante o credor por perdas e danos que a ele 
resultar por dolo seu no cumprimento de sua obrigaçõe.) 
Art. 519: Se llaman daños e intereses el valor de la pérdida que haya 
sufrido, y el de la utilidad que haya dejado de percibir el acreedor de la 
obligación, por la inejecución de ésta a debido tiempo. (Chama-se perdas e 
danos o valor que o credor haja perdido, e a utilidade de tenha deixado de 
perceber com a obrigação, por sua inexecução no devido tempo.) 
Art. 1068: Habrá daño siempre que se causare a otro algún perjuicio 
susceptible de apreciación pecuniaria, o directamente en las cosas de su 
dominio o posesión, o indirectamente por el mal hecho a su persona o a sus 
derechos o facultades. (Haverá dano sempre que causar a outro algum 
prejuízo suscetível de apreciação pecuniária, diretamente nas coisas de seu 
domínio e posse, indiretamente por um mal feito a sua pessoa e aos seus 
direitos ou faculdades.) 
Art. 1074: Toda persona que por cualquier omisión hubiese ocasionado un 
perjuicio a otro, será responsable solamente cuando una disposición de la 
ley le impusiere la obligación de cumplir el hecho omitido. (Toda pessoa que 
por qualquer omissão houvesse causado prejuízo a outra, será responsável 
somente quando uma disposição da lei lhe impuser a obrigação de cumprir 
o feito omitido.) 
 
Portugal – O Código Civil Português7 (Decreto-Lei nº 47.344/1966, com 
atualização da Lei nº 59/1999), da mesma forma que o brasileiro, reserva uma seção 
 
6 CÓDIGO CIVIL ARGENTINO. Disponível em: < http://www.redetel.gov.ar/framedeabajo.htm >. 
Acesso em: 08/10/2009. 
7 CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS. Disponível em: 
<http://www.stj.pt/nsrepo/geral/cptlp/Portugal/CodigoCivil.pdf>. Acesso em: 08/10/2009. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 23 
para a responsabilidade civil, que vai do art. 483 ao 510, abrangendo diversos 
assuntos sobre a matéria. Também está filiado à corrente da responsabilidade 
subjetiva, exigindo a culpa e sua prova. 
 
Vejamos alguns artigos: 
 
 
ARTIGO 483º - (Princípio geral) 
1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de 
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios 
fica obrigado a indenizar o lesado pelos danos resultantes da violação. 
2. Só existe obrigação de indenizar independentemente de culpa nos casos 
especificados na lei. 
ARTIGO 487º - (Culpa) 
1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo 
havendo presunção legal de culpa. 
 
 
Estados Unidos – Diferentemente do Brasil, Argentina e Portugal, os EUA 
seguem o princípio da Common Law (do inglês “direito comum”). Nesse sistema, 
quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o 
direito, estabelecendo um precedente. Em regra, o americano se utiliza dos seguros 
para cobrir as ações propostas contra eles no que tange à responsabilidade civil. 
Apresentamos um texto que fala sobre a responsabilidade civil americana, 
no qual podemos ver que a condenação criminal, como no Brasil, faz coisa julgada 
para o cível. Um fato interessante é que não existe a indenização pelo ato ilícito e, 
sim, a reparação dos danos causados. 
Vejamos: 
 
 
Civil liability gives a person rights to obtain redress from another person e.g. 
the ability to sue for damages for personal injury. There is also the right to 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 24 
obtain an injunction. For there to be an award of damages, theinjured party 
has to have suffered an actual loss, be it personal injury, damage to 
property, or financial loss. 
The burden of proof is "the balance of probability" which is much lower than 
for criminal matters. 
If there has been a relevant criminal conviction in a particular matter, then 
the burden of proof in any related civil action is reversed, so that the 
defendant has to prove he is not liable. An example of this would be a 
conviction of a company for breach of health and safety legislation, followed 
by the injured employee suing the company for damages for personal injury. 
A disincentive to suing is that the losing party pays the winners costs. In fact, 
this works out as a substantial proportion of the costs, rather than 100%, so 
a successful plaintiff has his award of damages diminished in practical 
terms. As a matter of public policy, it is not possible to have an enforceable 
insurance policy in relation to criminal penalties.8 
 
(O instituto da responsabilidade civil confere a uma pessoa o direito 
de obter uma compensação financeira de outra pessoa, isto é, o direito 
de processá-la por danos causados a ela. Para que o dano possa ser 
compensado, a parte ofendida tem de ter sofrido uma perda real, seja 
um dano pessoal à sua propriedade ou uma perda financeira. O ônus da 
prova é conhecido como “equilíbrio da probabilidade”, é muito menor 
que o existente na responsabilidade criminal. 
Se houver uma condenação criminal relevante em uma ação em particular, 
o ônus da prova na responsabilidade civil é invertido, ou seja, o 
pleiteante é que deve provar que não é culpado. (...) 
Como desestímulo ao processo, é determinado que a parte perdedora 
pague os gastos que o vencedor teve com o processo. Na realidade, não 
são pagos 100% dos gastos, mas uma parte substancial dos mesmos, 
então a parte vencedora tem, na prática, uma diminuição do valor total que 
receberia. Em se tratando de políticas públicas, não é possível haver 
política de redução de ações na esfera criminal). 
 
 
 
 
 
 
8 THE DIFFERENCE BETWEEN CRIMINAL AND CIVIL LIABILITY. Disponível em: 
<http://www.rsc.org/images/2_Difference_tcm18-17644.pdf>. Acesso em: 08/10/2009. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 26 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
DIREITO CIVIL – 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
DIREITO CIVIL – 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 28 
 
 
MÓDULO II 
 
 
2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS 
 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
 
 
No Módulo I delineamos a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade 
objetiva e indicamos os pressupostos da responsabilidade civil através de uma breve 
introdução. Agora, faremos um estudo mais aprofundado sobre o tema. 
Lembramos que a teoria da responsabilidade civil está construída sobre a 
reparação do dano, pois emerge do art. 186 do Código Civil de 2002, recepcionando 
o art. 159 do Código Civil de 1916, pois “aquele que, por ação ou omissão 
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda 
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O Código Civil de 1916 dizia: “aquele 
que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito ou 
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. 
Existem duas vertentes no estudo da responsabilidade civil: a “Teoria da 
Culpa” e a “Teoria do Risco”. A primeira pertence à responsabilidade subjetiva, 
enquanto a segunda à responsabilidade objetiva. Iremos neste Módulo estudá-las e 
a seus pressupostos. 
 
 
2.2 TEORIA DA CULPA 
 
 
A teoria da culpa, também chamada de responsabilidade subjetiva, é a regra 
geral de nossa legislação pátria, em que se faz necessária a existência da culpa 
para gerar o dever de indenizar. Como já mostramos no Módulo I, foi a Lei Aquiliana 
o divisor e transformador da responsabilidade civil, tendo – senão trazido 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 29 
diretamente o elemento culpa – introduzido o elemento subjetivo para permitir a 
reparação do dano. 
Com base no Direito Romano, precursor do nosso Direito, e através do 
Direito Francês, que recepcionou a responsabilidade civil fundada na culpa, o Brasil 
adotou a teoria geral da responsabilidade civil subjetiva – teoria da culpa. Como 
vimos, é a regra geral, enquanto a responsabilidade objetiva é a exceção, sendo 
esta possível se prevista em lei. 
Necessitamos, para que haja o dever de indenizar, de quatro pressupostos, 
a saber: conduta humana (ação ou omissão), nexo causal, dano e a culpa. Cabe à 
vítima provar o dano experimentado e que este dano partiu de uma ação ou omissão 
culposa do agente. 
Quanto ao agente, poderá se eximir do dever de indenizar, se provar a 
inexistência de um dos pressupostos, ou através das excludentes. Se provar que foi 
prudente, diligente e observou as leis vigentes, inexistirá o elemento culpa. Se o 
prejuízo suportado pela vítima não se relaciona com seu ato, inexistirá o elemento 
nexo causal. E se não ocorreu nenhum prejuízo para a vítima, quer patrimonial quer 
moral, inexistirá o elemento dano. 
Antes de apresentarmos os pressupostos, necessária se faz a apresentação 
de um elemento básico para a existência da responsabilidade civil, que é o ato ilícito. 
É preciso provar a conduta culposa (culpa) do agente para que haja o dever de 
indenizar, que se origina do ato ilícito. A culpa aqui referida é a voluntariedade de 
conduta do agente. 
Para se caracterizar o ato ilícito, necessitamos de dois pressupostos: a 
imputabilidade do agente, que é o elemento subjetivo, e a conduta culposa, que é o 
elemento objetivo. Sem estes elementos não existirá o ato ilícito. A imputabilidade 
do agente define-se como o conjunto de condições pessoais que concede ao agente 
a capacidade de responder pelas consequências de sua conduta contrária à norma 
jurídica. 
A imputabilidade está ligada à responsabilidade, a capacidade de entender 
que o fato é ilícito, e de agir em conformidade com esse entendimento. A nossa 
legislação não define o que imputabilidade, apenas enumera os casos que a 
excluem, os considerados inimputáveis. Desta forma, estes são considerados 
incapazes, não sendo responsáveis pelos atos cometidos. Porém, de conformidade 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
com a lei, pelos atos dos incapazes, responde aquele que detém sua guarda, sendo 
exceção o contido no art. 928 e seu parágrafo único do Código Civil: 
 
 
O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele 
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios 
suficientes. 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser 
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas 
que dele dependem. 
 
 
O outro elemento, a conduta culposa, será estudado adiante. 
 
 
2.2.1 Conduta Humana 
 
 
Não resta mais dúvida de que para a existência da responsabilidade civil é 
preciso que o ato seja realizado ou pelo próprio agente ou por ato de terceiro, como 
vimos no Módulo I. Como regra, temos o ato praticado pelo próprio agente e, como 
exceção, embora produza os mesmos efeitos, por ato de terceiro. É o caso, por 
exemplo,do dono de um estacionamento que responde pelos atos praticados por 
seus empregados, quando da manobra dos veículos. 
Mas o importante é a conduta do agente ou do terceiro. Também não 
podemos esquecer que, de acordo com a responsabilidade objetiva, além do fato de 
terceiro, ainda temos o fato da coisa ou do animal, que chamamos de 
responsabilidade civil indireta. 
Para analisar esta conduta, precisamos saber qual é o padrão por que se 
afere uma conduta do agente. Que conduta é esta? Uma conduta diligente do 
próprio agente ou a conduta diligente de um homem normal (homem médio), que é 
prudente e cuidadoso? A doutrina declina que a conduta deve ser aferida através da 
culpa em abstrato, que é aquela em que o agente falta com a atenção que natural e 
comumente deve dispensar na administração de seus negócios. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
Esta conduta tem de ser voluntária, podendo ser positiva ou negativa (ação 
ou omissão). Neste caso, o agente tem consciência daquilo que faz. Para que haja o 
dever de indenizar sua conduta, a princípio deve ser ilícita, mas também pode haver 
responsabilidade civil decorrente de ato lícito. A conduta humana tem de ocorrer 
através da prática de uma conduta culposa, positiva ou negativa (ação ou omissão) 
senão não haverá o dever de reparação. 
 
 
2.2.2 Nexo Causal 
 
 
O dever de indenizar começa a surgir no momento em que se forma o liame 
entre a conduta do agente e o dano. Não é muito fácil, porém, determinar este liame. 
É neste ponto que encontramos o nexo causal. Foram criadas três teorias para 
estabelecer o nexo causal: a da equivalência das condições, a da causalidade 
adequada e a dos danos diretos e imediatos. 
A equivalência das condições (conditio sine qua non), segundo Gonçalves1, 
(2003, p. 521) diz que “toda e qualquer circunstância que haja ocorrido para produzir 
o dano é considerada uma causa. A sua equivalência resulta de que, suprimida uma 
delas, o dano não se verifica”. Ou seja, todos os antecedentes fáticos que 
contribuírem para o resultado são causa dele. 
A causalidade adequada foi formulada em 1871 por Ludwig von BAR e 
desenvolvida por Johannes von KRIES, por volta de 1888, onde somente se 
considera como causadora do dano a condição por si só apta a produzi-lo 
(GONÇALVES, 2003, p. 522). Tal teoria nos diz que o critério eliminatório consiste 
em estabelecer que, mesmo na sua ausência, o prejuízo ocorreria (juízo de 
probabilidade). 
Essa doutrina se dividiu em duas correntes. A positiva entendia que será 
causa adequada do dano sempre que este constitua uma consequência normal ou 
típica daquele. Já a negativa entende que o fato que atuou como condição do dano 
só deixará de ser considerado como causa adequada se, dada a natureza geral, se 
 
1 GONÇAVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 32 
mostrar de todo indiferente para a verificação do dano, tendo-o provocado só por 
virtude das circunstâncias excepcionais, anormais, extraordinárias ou anômalas, que 
intercederam no caso concreto. 
A teoria dos danos diretos e imediatos dispõe que o dever de reparar surge 
quando o evento danoso é efeito direto e imediato de certa causa. À causa serviria 
apenas o antecedente fático ligado necessariamente ao resultado danoso como uma 
consequência direta e imediata. Como exemplo, temos o do acidentado que, ao ser 
conduzido em uma ambulância para o hospital, vem a falecer em virtude de 
tremenda colisão da ambulância com outro veículo. Responderia o autor do dano 
primeiro da vítima, o responsável pelos seus ferimentos, apenas pelos prejuízos de 
tais ferimentos oriundos. 
Pelos danos da morte dessa mesma vítima em decorrência do abalroamento 
da ambulância na qual era transportada ao hospital com outro veículo, responderia o 
motorista da ambulância ou o do carro abalroador, ou ambos. Mas o agente do 
primeiro evento não responderia por todos os danos, isto é, pelos ferimentos e pela 
morte. O nosso Código Civil vigente adotou esta teoria, como podemos verificar pela 
leitura do art. 403: 
 
 
Ainda que da inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só 
incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direito e 
imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. 
 
 
Surge outro problema que torna mais difícil o estudo e aplicação do nexo 
causal: é quando várias causas concorrem para a ocorrência de um dano – 
concorrência de causas ou concausas. Sabemos que um dano pode ser gerado por 
várias causas, ocorrer de diversas formas, subsequentes, complementares, 
cumulativas ou alternativas. 
Na subsequente, temos que o fato praticado por uma pessoa gera a causa 
do fato praticado por outra. Como exemplo temos o depositário que, por negligência, 
deixa a coisa abandonada em local que facilita o furto, cometido por outra pessoa. 
Nas complementares, temos duas ou mais causas que concorrem para a 
produção de um resultado que não seria alcançado de forma isolada por nenhuma 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
delas. Como exemplo, um veículo colide com outro, deixando-o apenas danificado. 
Em seguida, outro veículo colide com ele e o deixa sem condições de uso. 
Na cumulativa, temos que os fatos praticados pelos agentes não 
necessitariam somar-se um ao outro para a ocorrência do dano, pois qualquer um 
dos agentes produziria o resultado isoladamente. Como exemplo, um grupo de seis 
pessoas briga no interior de boate e a depredam. Bastava a briga de dois para que o 
fato ocorresse. 
A alternativa ocorre na situação em que não se pode definir exatamente qual 
dos vários participantes causou o dano. Isto é, o agente de um grupo causou um 
dano, mas não é possível determinar qual agente. Como exemplo, o mesmo caso da 
boate, mas a briga não iria gerar prejuízos para o dono do estabelecimento, porém, 
um dos partícipes não identificado joga uma cadeira contra o espelho, vindo a 
destruí-lo. 
As concausas podem ainda ser: preexistentes; concomitantes ou 
supervenientes. São preexistentes quando não são hábeis para eliminar a relação 
causal. Por exemplo, a preexistência de uma doença fatal é irrelevante para uma 
lesão leve do agente. A vítima sofre do autor, após uma briga, uma lesão leve, mas 
ele é portador de diabetes e acaba em óbito. O agente responderá pela causa mais 
grave, que é o óbito. Não será necessário que a parte conheça a preexistência da 
doença. 
São concomitantes aquelas que ocorrem simultaneamente ao fato gerador 
do dano e são supervenientes aquelas que ocorrem após o evento danoso. As duas 
últimas seguem os mesmos preceitos da preexistente, porém, na superveniente 
necessário se faz a ocorrência de um novo acontecimento, rompedor do nexo causal 
anterior. 
 
 
2.2.3 Dano 
 
 
Considerara-se dano a lesão a um interesse jurídico tutelado, material ou 
moral. Para que seja indenizável, são necessários alguns requisitos, como a 
violação de um interesse jurídico material ou moral, e a certeza da existência do 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 34 
dano. No caso do dano moral, ele tem de ser certo e deve haver a subsistência do 
dano. 
Assim, quando ocorre um prejuízo em face do descumprimento de um dever 
jurídico, surge a obrigação de indenizar. Tal fato se dá com o intuito de recolocar a 
vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato danoso. A definição mais 
consagrada é a que define o dano como sendo a subtração ou diminuição de um 
bem jurídico, de qualquer natureza, quer seja ele patrimonial ou a integridade da 
própria personalidade da vítima. Desta forma, dividimos o dano em patrimonial ou 
material e moral. 
Para que haja a indenização de um dano, ele deve ser certo, baseado sobre 
um fato preciso, e não somente sobre uma hipótese. É atual porque ele já existiu ou 
existe no momento da ação da responsabilidade civil. Comoexceção, e passível de 
indenização, temos o dano futuro, o que razoavelmente a vítima deixou de lucrar 
(lucros cessantes), conforme determina o art. 402: “salvo as exceções 
expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, 
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”. 
 
 
2.2.3.1 Dano patrimonial 
 
 
Também chamado de dano material, é o que é suscetível de avaliação 
pecuniária, ou seja, incide sobre interesses de natureza material ou econômica, 
refletindo no patrimônio do lesado. São divididos em duas espécies: os danos 
emergentes (o que efetivamente se perdeu) e os lucros cessantes (o que 
razoavelmente se deixou de lucrar). 
Consideramos o dano emergente aquele que é representado pela 
diminuição do patrimônio da vítima, ou porque diminuiu o seu ativo ou aumentou o 
seu passivo. Corresponde à perda ou diminuição de valores que fazem parte do 
patrimônio do lesado. Como exemplo, temos um acidente de automóvel que envolve 
um motorista de táxi e um particular. A consequência do acidente é que o veículo do 
taxista ficou 15 dias na oficina para conserto. O prejuízo pelo conserto deverá ser 
arcado pelo motorista particular, causador do acidente. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 35 
Consideramos como lucro cessante a frustração da expectativa de ganho, 
ou seja, são os benefícios que o lesado deixou de obter tendo em vista o dano 
sofrido. Como exemplo, temos o caso acima, em que o taxista tira seu sustento com 
as corridas que faz, e com o carro na oficina irá deixar de ganhar. Cabe ao motorista 
causador do acidente indenizá-lo pelos dias que ficará sem o veículo. Em ambos os 
casos, a indenização deve ser justa, correspondente ao valor realmente indenizável, 
principalmente quanto aos lucros cessantes, não devendo nem podendo o valor ser 
hipotético. 
Ainda podemos citar quanto aos danos patrimoniais os chamados danos 
reflexos. A doutrina e jurisprudência os aceitam, nos quais temos os danos diretos, 
que são os efeitos imediatos do fato ilícito, e os danos indiretos, que são as 
consequências mediatas ou remotas do dano direto. Ocorrem na hipótese dos 
prejuízos reflexamente sofridos por terceiros, titulares de relações jurídicas que são 
afetadas pelo dano, não na sua substância, mas na sua consistência prática, como 
por exemplo o devedor de pensão alimentícia que sofre uma lesão na sua 
capacidade de trabalhar. Os alimentados teriam legitimidade para demandar em 
face do causador do dano. 
Ainda no estudo do dano patrimonial, encontramos a figura da perda da 
chance, que se assemelha ao lucro cessante, pois diz respeito a uma situação 
futura. Neste caso, não temos a existência de uma certeza absoluta de que o ganho 
se daria, ocorrendo quando o lesado é privado da oportunidade de obter 
determinada vantagem ou evitar um prejuízo, tendo em vista a conduta do ofensor, 
ou seja, ocorre quando, em virtude da conduta de outrem, desaparece a 
probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima. 
Na realidade, não está se indenizando o que hipoteticamente se deixou de 
ganhar, mas a oportunidade existente no patrimônio da vítima no momento do dano, 
admitindo-se um valor patrimonial da chance por si só considerada. 
 
 
2.2.3.2 Dano moral 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 36 
O dano moral é um dos temas mais controvertidos no estudo da 
responsabilidade civil, havendo discussões sobre seu conceito, efeitos e critérios de 
fixação da indenização. Comprova-se, porém, a existência do instituto há muitos 
anos, como no Código de Hamurabi em seu art. 127: “se um homem livre estendeu 
um dedo contra uma sacerdotisa ou contra a esposa de outro e não comprovou, o 
arrastarão diante do Juiz e raspar-lhe-ão a metade do seu cabelo”; na Lei das XII 
Tábuas - na Tábua 7 - 2 - “se alguém causa um dano premeditadamente, que o 
repare”; no Alcorão “AN NUR – 24ª SURATA – 3, “o adúltero não poderá casar-se, 
senão com uma adúltera ou uma idólatra; a adúltera não poderá desposar senão um 
adúltero ou um idólatra. Tais uniões estão vedadas aos fiéis. 
 Na Antiga Roma, onde a cada ofensa moral correspondia uma reparação 
em dinheiro aplicada pelo Juiz, quantia essa que desse para aliviar ou minorar o 
dano. Como vimos, todos os casos se referem ao dano moral e à forma de 
reparação. Até a promulgação da Constituição Federal de 1988, não tínhamos na 
legislação pátria a figura do dano moral, a não ser em algumas legislações esparsas 
como o Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei de Imprensa e a Lei dos 
Direitos Autorais, mas que não tratavam diretamente do assunto. 
É a partir da Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 5º, X, 
encontramos amparo para o dever de indenizar: “são invioláveis a intimidade, a vida 
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo 
dano material ou moral decorrente de sua violação”. 
A posteriori, veio o CDC, que em seu art. 6, VI, também assegura a 
reparação do dano moral: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e 
morais, individuais, coletivos e difusos”. Por fim, o Código Civil de 2002, em seu art. 
186, trouxe o direito à indenização por danos morais, dizendo: “aquele que, por ação 
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a 
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
Ainda restam três problemas a serem ultrapassados quanto ao direito à 
indenização por danos morais: como avaliar rigorosamente os danos materiais e 
moralmente, ou como compensar a dor com dinheiro; como transpor a 
impossibilidade e a dificuldade da reparação; e, por fim, o arbitramento do valor, que 
fica a critério dos juízes. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 37 
No primeiro caso, embora para muitos seja imoral a troca da dor pelo 
dinheiro, a indenização poderá ajudar a vítima ou a seus herdeiros, diminuindo, 
assim, a sua dor. No segundo caso, a solução é bem mais difícil, pois se torna uma 
tarefa árdua buscar o equivalente ao dano, ou chegar a um valor que realmente 
repare integralmente o dano sofrido. Busca-se chegar o mais próximo. 
Quanto à terceira, alguns doutrinadores sustentam que arbitramento não é 
sinônimo de arbitrariedade, sabendo que o juiz buscará critérios objetivos para a 
valoração do dano a ser indenizado, podendo contar com a doutrina e a 
jurisprudência. É regra em nossos tribunais, quando da avaliação do dano moral 
pelo juiz, ele medir o grau de sequela que a ação ou omissão produziu à vítima. 
Claro que tal grau irá divergir de pessoa a pessoa. 
A humilhação, vergonha, situações vexatórias, posição social da vítima 
(ofendido), o cargo exercido por ele e a repercussão negativa em suas atividades, 
quer profissionais quer sociais, devem somar-se nos laudos avaliatórios, permitindo 
que o juiz dose com justiça a condenação do ofensor. 
A indenização a ser paga a uma pessoa de conduta ilibada, profissional 
conhecido internacionalmente, deve ser diferente de uma pessoa comum que não 
atende aos requisitos mostrados pelo primeiro. Não se quer dizer com isso que um 
mereça mais que o outro, o que se quer mostrar é que, na avaliação para dosar o 
valor, tais requisitos devem ser levados em conta. 
Ultrapassada a premissa quanto à existência do dano moral e sua 
indenização, apresentamos um conceito atual em que o dano moral consiste na 
lesão de interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial 
pertencente aos direitos da personalidade, à dignidade da pessoa humana ou aos 
atributos da pessoa. 
Quanto à natureza da indenização por dano moral, podemos dizer que tem 
dupla natureza – é compensatória e punitiva – devendo ser levados em conta, no 
momento da fixação, critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendendo às 
condições do autor, do lesado, e do bem jurídico lesado. 
Quanto à prova da ocorrência do dano moral, na doutrina e jurisprudência,é 
pacífica e já aceita a configuração independente da prova. De acordo com a Súmula 
227 do STJ, também cabe dano moral à pessoa jurídica. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
 
 
 
 
 
 
 
Cabe ressaltar, ainda neste item, um problema que atordoa o nosso 
judiciário, o excesso de ações com fulcro na existência de dano moral, quando na 
realidade trata-se de mero aborrecimento. Vamos explicar melhor. Como vimos, a 
CF1988 consagrou a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da 
imagem das pessoas, e a respectiva indenização pelo dano moral que decorre da 
sua violação. 
Quando a pessoa sofre um mero aborrecimento ou um desconforto, ou um 
desgosto, ou até um mero constrangimento, que pode ser frequente no cotidiano, 
não está a merecer a reparação, uma vez que inexiste o dano moral. 
Exemplificando, podemos citar o caso das pessoas que ficam presas na porta 
giratória de um banco. 
Primeiro, porque a existência da porta giratória é determinada por lei e serve 
para melhorar a segurança do estabelecimento. Segundo, porque é de 
conhecimento de todos a existência da porta giratória e da não permissão de passar 
por ela com materiais metálicos. Terceiro, porque serve à própria segurança da 
pessoa que utiliza o banco. Assim, uma determinada pessoa, ao tentar entrar no 
estabelecimento, fica retida na porta. O segurança geralmente pergunta se a pessoa 
não está portando algum objeto metálico, e ela se sente constrangida, diante das 
demais, por estar presa na porta giratória. 
Podemos considerar tal fato apenas um mero aborrecimento, pois 
dificilmente a ação está ligada à honra da pessoa, já que até aquele momento, 
ninguém a acusou injustamente de ser um ladrão. Só caberia ressarcimento se o 
segurança exceder em sua abordagem. Ademais, determinados fatos que não 
merecem acolhida judicial são utilizados por pessoas inescrupulosas e 
desafortunadas, que buscam se locupletar às custas de pessoas jurídicas, quer de 
direito público, quer de direito privado. 
STJ Súmula nº 227 - 08/09/1999 - DJ 20.10.1999 
Pessoa Jurídica - Dano Moral 
 A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 39 
Podemos afirmar que nosso judiciário está atento a tais ações, indeferindo 
as que não atingem o objetivo esperado pelo dano moral. 
 
 
2.2.3.3 Culpa 
 
 
Não basta apenas a imputabilidade do agente para gerar o ato ilícito, 
necessário se faz que tenha agido com culpa. Sua conduta deve ser reprovável, 
sendo este o segundo pressuposto. No estudo da responsabilidade civil a culpa 
assume duas concepções. A primeira se desdobra em dolo e culpa, chamada de lato 
sensu. A segunda, stricto sensu, tem fundamento numa determinada posição ou 
situação psicológica do agente para com o fato. 
Quanto à concepção lato sensu, o dolo surge como tipo mais grave da culpa, 
definindo-se como a infração consciente do dever preexistente, ou o propósito de 
causar dano a outrem. Assevera-se a existência de outros tipos de dolo, como o 
dolo direto, que ocorre quando o agente atua para atingir o fim ilícito; o dolo 
necessário, quando o agente tem a pretensão de atingir o fim lícito, mas tem 
conhecimento de que sua ação inevitavelmente terá um resultado ilícito; e o dolo 
eventual, que ocorre quando o agente visa um fim lícito, mas conscientemente sabe 
que pode eventualmente advir do seu ato um resultado ilícito, e quer que este se 
produza. 
Quanto à concepção stricto sensu – culpa em sentido estrito – se refere à 
vontade do agente, que é dirigida ao fato causador da lesão. O agente não queria o 
resultado, mas este ocorre pela falta de diligência na observância da lei ou norma de 
conduta. Não tinha o objetivo, mas este era previsível. É a omissão da diligência 
exigível do agente. A mera culpa ocorre pela violação de um dever jurídico por 
negligência, imprudência ou imperícia, podendo consistir numa ação ou numa 
omissão. 
Como já estudamos, a negligência se relaciona com a desídia, ou seja, a 
falta de cuidado por conduta omissiva. A imprudência está ligada à temeridade, ou 
seja, é o atrevimento no agir, faltando a cautela por conduta comissiva. A imperícia é 
decorrente da falta de habilidade no exercício de atividade técnica. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
Pode-se ainda graduar a culpa de acordo com a gravidade da conduta do 
agente. A nossa legislação pátria não menciona esta graduação, mas ela tem 
respaldo na doutrina e jurisprudência, principalmente quando da fixação da 
indenização, no dano moral. 
Desta forma, encontramos três graus de culpa: grave, leve e levíssima. A 
primeira é aquela imprópria ao comum dos homens, o erro grosseiro, que ocorre 
com o descuido injustificável. Equipara-se ao dolo. A segunda é a falta que poderia 
ser evitada com a atenção comum, com o cuidado próprio do homem comum. A 
terceira caracteriza-se por uma falta de atenção acima do normal, com especial 
habilidade ou conhecimento singular. Todas elas levam à obrigação de reparar o 
dano. 
Tendo em vista que o Código Civil de 2002 recepcionou a responsabilidade 
objetiva, passamos a ter três espécies de culpa nas quais o responsável não é o 
causador do dano, mas responde pelo resultado danoso. É o caso do fato de 
outrem, que abrange o fato de terceiro, o fato da coisa, substituindo o que 
determinava a legislação anterior quando tratava da culpa in eligendo, in vigilando e 
in custodiando. 
Como afirmado anteriormente, existem situações em que o agente irá 
responder por fato de outrem, quando se irá imputar ao responsável o dever de 
indenizar mesmo que não tenha sido ele o causador do dano. Temos desta forma 
três possibilidades: responsabilidade por fato de terceiro; responsabilidade por fato 
dos animais; e responsabilidade por fato da coisa. 
 
Responsabilidade por fato de terceiros – está determinada pelo art. 932 do 
Código Civil: 
 
 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua 
companhia; 
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas 
mesmas condições; 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e 
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; 
 
 
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 41 
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se 
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, 
moradores e educandos; 
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a 
concorrente quantia. 
 
 
Em todos os casos, exige-se a existência de um vínculo jurídico anterior 
entre o agente e o autor do ato ilícito, resultando, daí, um dever de guarda, vigilância 
ou custódia. 
 
Responsabilidade pelo fato da coisa – é admitida pela doutrina e 
jurisprudência, uma vez que inexiste dispositivo legal explícito em nosso Código 
Civil. Tem fundamento na teoria da guarda, em que quem tem a obrigação de 
guardar deve responsabilizar-se pelos danos causados sobre a coisa e seu uso. 
Deriva, assim, da falta de vigilância sobre ela. Na realidade, o dano não é causado 
pela coisa, e sim pela má utilização dela, haja vista que a “coisa” não tem 
capacidade para cometer dano. 
Encontramos no Código Civil dois artigos que expressam a responsabilidade 
pelo fato da coisa. 
 
 
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que 
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja 
necessidade fosse manifesta. 
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano 
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar 
indevido. 
 
 
Responsabilidade por fato de animais – está regulada no Código Civil no 
artigo 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se 
não provar culpa da vítima ou força maior”. Desta forma, aquele que possui o 
comando sobre umanimal tem o dever de evitar que ela cause danos a terceiros. 
 
 
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 42 
Outro ponto importante a ser visto está relacionado com a evolução das 
tecnologias e das próprias atividades humanas, que levam os riscos a se 
multiplicarem, e buscam-se soluções para todos os tipos de casos. Isto porque, cada 
vez mais as vítimas têm dificuldades para provar a culpa do agente, sendo-lhes 
negada a reparação do dano. A doutrina e a jurisprudência passaram a admitir o 
recurso da inversão do ônus da prova. Desta forma, surge a culpa presumida. 
Embora ainda seja imprescindível a culpa para fins indenizatórios, passa a existir 
uma presunção, passando para o agente a obrigação de provar que sua conduta 
não foi culposa. 
 
 
2.3 TEORIA DO RISCO 
 
 
2.3.1 Introdução 
 
 
Tendo em vista a evolução da responsabilidade civil, a regra geral 
determinada é a da responsabilidade subjetiva (teoria da culpa), estudada 
anteriormente, porque no Brasil o Código Civil de 1916 previa, em seu artigo 159, 
que para ocorrer a indenização necessário se fazia demonstrar os seguintes 
requisitos: ação ou omissão; culpa ou dolo do agente; nexo causal (relação de 
causalidade entre o dano e a conduta); e o dano ocasionado. 
Porém, o Código Civil de 2002 recepcionou a teoria da responsabilidade 
objetiva (teoria do risco), determinando, no parágrafo único do artigo 927, que 
“haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” (grifo nosso) 
A responsabilidade subjetiva ainda é importante para nosso Direito, mas se 
tornou insuficiente para atender a todas as possibilidades e demandas de 
ressarcimento de dano, haja vista a sociedade moderna e em evolução constante. 
Essa sociedade moderna, desenvolvida e provida de avanços tecnológicos e 
científicos, na qual os interesses pessoais se tornam mais intensos, com relações 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 43 
complexas, leva à existência de danos, quer ao patrimônio, quer à personalidade 
humana, provocados por conflitos de interesses e direitos, os quais somente a 
responsabilidade subjetiva não poderia sanar. 
Assim, surge a responsabilidade objetiva, independente de culpa e baseada 
no risco, buscando reparar todo e qualquer dano, independentemente de sua causa. 
Podemos afirmar que hoje, no Brasil, temos um sistema de responsabilidade civil 
dualista, coexistindo a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva. 
Embora anteriormente ao Código Civil de 2002 a lei vigente só permitisse a 
existência da responsabilidade objetiva quando prevista em lei, algumas legislações 
já consagravam sua existência, como a Lei das Estradas de Ferro (Dec. nº 
2.681/1912) e o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565/1986). A teoria do 
risco só foi realmente adotada com a Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, 
§ 6º e com o Código de Defesa do Consumidor. 
 
 
2.3.2 A Teoria do Risco 
 
 
Os juristas, em busca da fundamentação para o estudo da responsabilidade 
objetiva, criaram a teoria do risco, que compreende que se alguém exerce uma 
atividade criadora de perigos especiais deve responder pelos danos que ocasionar a 
outrem. No estudo da teoria do risco encontramos algumas modalidades trazidas 
pela doutrina, uma vez que o Código Civil, em seu art. 927, não faz qualquer 
distinção, como: 
 
Risco proveito – responsabiliza aquele que busca tirar proveito da atividade 
danosa, baseando-se no preceito de que quem aufere o bônus deve suportar o ônus 
(Ubi emolumentum, ibi et onus esse debet). 
Risco profissional – em que o dever de indenizar ocorre sempre que o fato 
prejudicial decorre da atividade ou profissão do lesado. Justifica a reparação dos 
acidentes de trabalho. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 44 
Risco excepcional: ocorre quando a reparação é devida sempre que o dano 
for consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima, 
ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça. 
Risco criado: ocorre quando aquele que, em razão de sua atividade ou 
profissão, cria um perigo, estando assim a reparar o dano que causar, salvo prova 
de haver obedecido a todas as medidas idôneas a evitá-lo. 
 
Além dos casos acima mencionados, encontramos a teoria do risco 
integral, considerada uma modalidade extremada da teoria do risco, onde o agente 
se obriga a reparar o dano causado até quando inexiste o nexo causal, ou seja, o 
dever de indenizar surge tão-somente em face do dano, ainda que oriundo de culpa 
exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior. 
Fazem parte do nosso ordenamento jurídico três hipóteses de risco integral: 
 
Dano ambiental – aquele que provoca dano ambiental fica obrigado a 
repará-lo, independentemente de culpa. Tal regra vem do preceito contido na CF 88, 
no § 3º do art. 225 - “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”, 
combinado com a lei da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei nº 6.938 – no § 1º 
do art. 14 - “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o 
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar 
os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O 
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de 
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”. 
 
Seguro obrigatório (DPVAT) - a Lei nº 6.194/74 (alterada pela Lei nº 
8.441/92) em seu art. 5º determina: “O pagamento da indenização será efetuado 
mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da 
existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de 
responsabilidade do segurado”. Assim, a indenização pelo seguro obrigatório para 
os proprietários de veículos automotores é devida, mesmo que o acidente tenha sido 
 
 
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 45 
provocado por veículo desconhecido ou não identificado, e ainda que tenha havido 
culpa exclusiva da vítima. 
Danos nucleares – sabe-se que a exploração de atividades nucleares traz 
uma gama de riscos. Desta forma, a CF88, na alínea “d”, que foi incluída pela EC nº 
49/2006, do inciso XXIII do art. 21, determina: “a responsabilidade civil por danos 
nucleares independe da existência de culpa”. A Lei nº 6.453/1977, em seu art. 8º, 
apresenta uma exceção, quando preceitua: “O operador não responde pela 
reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito 
armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza”. 
Concluímos dizendo que, além da teoria do risco, a responsabilidade 
objetiva tem hoje outros fundamentos que legitimam o dever de reparação do dano, 
ou seja, consiste na responsabilização pelo resultado, e não pela causa. 
 
 
2.3.3 As Relações de Consumo 
 
 
Não iremos adentrar no estudo do Direito do Consumidor, mas faz-se 
necessária a colocação destes parágrafos para completarmos o estudo da teoria do 
risco. Além da recepção pelo Código Civil de 2002 da teoria do risco no direito 
pátrio, tivemos um momento anterior da aceitação desta teoria para formalizar a 
ocorrência do dano e sua indenização. 
Trata-se do Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078 de 1990, 
anterior ao nosso Código Civil vigente, que em seu art. 12 se apropria da teoria do 
risco: 
 
 
O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o 
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes 
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, 
apresentação

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