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DOCÊNCIA EM SAÚDE CULTURA E A EDUCAÇÃO 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842c Cultura e a educação / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 88 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-66104-57-8 1. Cultura e a educação. 2. Política educacional. 3. Educação – Aspectos sociais. I. Portal Educação. II. Título. CDD 370.193 2 SUMÁRIO 1 A CONSTRUÇÃO DE CULTURAS DE INFÂNCIA .................................................................... 3 1.1 Introduzindo a conversa: educação e cultura infantil ........................................................... 4 1.2 Cultura: conceito e significada................................................................................................ 9 2 UMA BREVE CONVERSA SOBRE INFÂNCIA ........................................................................ 24 2.1 Infância: desafios e possibilidades ........................................................................................ 25 2.2 Infância e suas linguagens ..................................................................................................... 27 2.3 Infância e educação................................................................................................................. 29 3 MEDIAÇÃO EDUCATIVA E CULTURA .................................................................................... 42 3.1 Mediação: o resgate educativo de culturas infantis ............................................................. 46 3.2 Educação e cultura nos dias atuais ....................................................................................... 47 3.3 Cultura infantil e práticas educativas .................................................................................... 50 4 RECORDANDO A INFÂNCIA ................................................................................................... 64 4.1 História do brinquedo ............................................................................................................. 66 4.2 Segurança do brinquedo ........................................................................................................ 68 4.3 A criança e a cultura no papel moderno ................................................................................ 70 4.4 Jogo, brinquedo e brincadeira ............................................................................................... 76 4.5 Relação educador/educando na educação infantil e desenvolvimento humano ............... 78 4.6 Brincadeiras tradicionais infantis e seu papel na formação da cidadania ......................... 81 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 84 3 Fonte: Alfabetização sem segredos. Novos Tempos: história. Iemar, 1999. 1 A CONSTRUÇÃO DE CULTURAS DE INFÂNCIA 4 1.2 Introduzindo a Conversa: educação e cultura infantil Criança com o direito de SER... de falar, de agir, de errar, de descobrir, de construir... Esses são os princípios que norteiam a existência das Instituições de Educação Infantil. Partindo do princípio de que a criança é o centro da ação educativa, devemos sempre estar atentos ao que se refere às especificidades de cada criança: seus aprendizados, suas vivências e o que realmente nos transmitem no seu cotidiano. As crianças nos remetem à leitura do que constitui a infância: as diferenças entre cada criança, o lugar onde vivem as coisas que fazem, dentre outras. Aliás, para a criança o modo de ser, de se relacionar, de criar, não são meros coadjuvantes, eles são os mais apurados empreendimentos de construção da sua vida, é um novo olhar para uma realidade. Neste sentido, as crianças não economizam energia no seu dia-a-dia, elas se expressam pelo olhar, pelo toque, pela fala, pelo corpo, até pela "não expressão". É um universo de culturas, onde elas criam e recriam seus jogos, brincadeiras e olhares. Aventurar-se neste universo, exige dos educadores alguns saberes, convidando-os a aliar à função de educador, a função de criançólogos, ou seja, além de educador, também mergulhar no mundo da criança, para poder interpretar as diversas culturas, nos seus diferentes papéis e educar de forma completa, com um olhar compreensivo. Nesta aspiração para encontrar formas adequadas de olhar, ouvir, sentir estas crianças, e principalmente em interpretá-las, retorna-se a questão da diversidade, compreendendo-a como um eixo central da discussão das culturas infantis. Sendo as culturas Fonte: groups.yahoo.com/group/cultura_da_infancia/ 5 infantis plurais, e estando atrelados a elas contextos socioculturais mais amplos que estritamente o da infância (Pinto e Sarmento, 1997), não cabe concluir que basta ser criança para produzir "cultura infantil". Há que se relativizar a criação das culturas infantis em detrimento de serem próprias de infâncias e contextos diversificados. Embora em nosso país se fale uma única língua com diferenças dialetais, distinguem- se variadas identidades culturais constituindo a população brasileira. Há, no entanto, que se ter presente a realidade de cada uma dessas pessoas que diferem as mais variadas matrizes, no qual a criança faz parte. Todas as denominações culturais, que muitas vezes oriundas de troncos comuns, permitem reunir características profundamente próprias: da língua, os costumes, das crenças aos modos, de significar o mundo em que vive dando sentido peculiar a vida, ao existir. Essas diferentes culturas, tanto de cunho científico como de senso comum vão construindo a cultura social. O papel da cultura é de codificar o mundo, ou melhor, as culturas contendo a trama de signo e significados. A cultura traz vários acontecimentos que envolvem códigos que movimentam todo o processo de construção social do homem. Muitas transformações vêm ocorrendo, trazendo também mudanças na vida das crianças, em especial nos primeiros anos de vida, repercutindo assim nas transformações culturais infantis. Para se pensar em cultura, devemos pensar que nela estão inseridas crianças de todas as temporalidades, e que fazem suas histórias. Elas constroem suas experiências como se o seu “mundo” fosse um laboratório, que experimentando vivenciam as diferentes realidades do mundo a sua volta. É de fundamental importância que os educadores levem em consideração na sua práxis educativa a cultura infantil. Se formos pedagogos da infância, como estarmos organizados na prática educativa para esta infância? Não se pode ter uma visão adultocêntrica, isto é, não podemos pensar a realidade apenas para a cultura adulta, transformando o mundo das crianças, num mundo de adulto. 6 Cabe a escola, bem como ao educador, buscar construir relações de confiança para que a criança possa perceber-se e viver. Antes de tudo, como ser em formação, e para que a manifestação de característicasculturais na qual partilhe com seu grupo de origem, possa ser trabalhada como parte de suas circunstâncias de vida que não será impeditiva do desenvolvimento de suas potencialidades. É possível então identificar no cotidiano as manifestações que permitem trabalhar as diversas culturas presentes em sala de aula? Claro que sim! As crianças possuem várias linguagens e vão construindo ao longo de sua existência suas próprias histórias e culturas. No convívio diário, cada criança aprende e também ensina. Cabe ao educador proporcionar à criança, bem como, construir junto com a mesma, um ambiente de respeito, aceitação e valorização da cultura, ou seja, da livre expressão cultural. Fonte: Alfabetização sem segredos: 4ª série. Iemar, 1999. . O mundo moderno, fez com que o capitalismo generalizasse a sua essência em infinitas variações de formação de classe. As crianças vivem na pele o mundo adulto em toda sua articulação. O movimento adulto está presente na vida das crianças. Mas o que devemos de fato examinar é a forma como tem sido tratada esta articulação, e como, finalmente, o movimento adultocêntrico tem sido vivido por todas as crianças. Precisamos estar atentos a todas e quaisquer mudanças. É necessário acompanhar a evolução, sem deixar de acompanhar as vivências das crianças, com o objetivo de sempre trabalhar o resgate da infância e sua construção social, histórica e cultural, mas que, em verdade, quase nunca atendem aos seus reais interesses finalistas. Observamos que na atual sociedade a cultura infantil não é priorizada. Tudo é organizado em função do adulto, criando 7 assim uma cultura adultocêntrica. Diante das indagações dos educadores, na medida em que o tempo vai passando, precisamos buscar e interiorizar novos olhares para a infância, buscando a todo o momento novos aprendizados e conhecimentos. Por isso, uma das questões pertinentes dos nossos dias: como os educadores concebem a importância de priorizar a cultura social da infância no contexto da educação infantil? Não podemos esquecer-nos da importância de trabalhar as diversidades culturais no espaço educativo. Somos mediadores, e precisamos estar conscientes para que as crianças usufruam as várias linguagens e obtenham novos conhecimentos, possibilitando a elas o crescimento interdisciplinar, isto é, a troca de experiências culturais. Essa priorização deve estar contida no espaço da educação infantil, na forma de direcionar os educandos para uma vida mais ampla de conhecimentos e participativa em construir novas histórias de cultura sob um aspecto de que eles já possuem uma bagagem culturalista apreendida com seus familiares e no meio social em que vivem. Todo o espaço educativo está vinculado com a diversidade cultural das crianças, cabendo ao educador aproveitar os momentos para aprimorar e trabalhar estes conceitos no intuito de atingir seus objetivos, enquanto mediador de culturas. Caracterizando, os educadores que não priorizam a cultura infantil que acontece nos espaços educativos, deveriam perceber a importância de se trabalhar essas culturas. Devemos sempre estar atentos às construções que as crianças fazem e trazem para as salas de aula, dando oportunidades de exporem e juntos explorarem suas vivências e as experiências dos outros. É neste sentido que nós educadores desempenhamos um papel muito importante, na mediação dos diferentes papéis que as crianças vivem ao reconstruir novos conceitos culturais. A construção histórica que as crianças fazem diante do mundo adulto, tem a síntese de múltiplas determinações, pois ao universalizar o seu mundo, as crianças constroem suas histórias em diversas versões, envolvendo as brincadeiras, o faz-de-conta, a fantasia, interpretando os mais variados papéis. Salientamos também, que quando uma criança está inserida num grupo étnico, em seu cotidiano, vai seguindo culturalmente e construindo novas linguagens, sob ângulos diferentes, formando novos conceitos, concepções de vida. Todas essas unidades culturais, apresentam-se numa sala de aula, havendo uma multiplicidade de culturas e especificidade infantil. O nosso objetivo como educadores da infância, deve ser o de resgatar os fios “perdidos” das culturas, que em épocas passadas deixavam as crianças e por que não falarmos de nós, quando ouvíamos histórias antigas, canções de ninar, deixando-nos felizes viajando na 8 imaginação. Trabalhar a cultura infantil no espaço da Instituição Escolar envolve as mais variadas culturas e para assim analisarmos os mais variados contextos que as crianças vivenciam dentro deste espaço. Desta maneira, neste querer “olhar” e “escutar” as crianças, nos contextos de educação coletiva. Deve o educador ter o interesse de conhecer a produção cultural das crianças, em um processo de “educação para o olhar”, na perspectiva de outro modo de olhar a infância, caracterizando com isto também, outra maneira de falar de infância. Em contrapartida, tal visão conduz a romper com a abordagem “enviesada” das crianças, numa tentativa de tirá-las do silêncio, dando voz e vez àqueles que são o objetivo primordial da existência das Instituições Educacionais. É necessário que o espaço educativo tenha outros espaços, diversas linguagens para que as crianças possam a partir daí, com novas construções, fazer um paralelo entre culturas novas e as suas culturas já abstraídas. Olhar as crianças com os nossos olhos é privá- las de crescerem autônomas e responsáveis. Para Arroyo (2000), desta forma, e considerando a criança, de fato, como cidadã de direitos e que aprende e desenvolve-se nas relações sociais sob todas as influências históricas e culturais do mundo a sua volta é que se justifica tal estudo. Com o objetivo de contribuir para que os educadores repensem suas práticas educativas levando em consideração a cultura social da infância. A nossa prática educativa requer que olhamos com “olhares” voltados à infância, aliás, para as crianças todos os papéis que representam são meramente coadjuvantes de uma construção histórica. Devemos, como educadores, nos policiar sobre as nossas concepções a respeito da importância de priorizar a cultura social da infância no contexto da educação infantil; Investigar junto às Instituições Educacionais o conceito de cultura infantil presente nestas. Analisar como a cultura social da infância interfere na prática educativa da educação infantil. Pesquisar como podemos mediar a cultura social das crianças na sala de aula. Trabalhar as diferentes culturas na sala de aula, nos mais diversos conceitos. A construção cultural na infância se dá a partir da história de vida da criança, história de pertencer a inúmeros grupos sociais. São através desses, que questões pertinentes insistem em nortear nossas Instituições Escolares em se trabalhar às diversidades culturais. Os métodos utilizados no resgate e mediações para se trabalhar as diversidades culturais, possibilitam uma contextualização recíproca entre todos(as), ampliando conhecimentos e respeitando outras interferências sociais, embora a essência da cultura, a raiz permanece em sua originalidade. 9 Fonte: Alfabetização sem segredos: 4ª série. Iemar, 1999. Nossa visão vai de encontro às diferentes culturas infantis, construídas por crianças das Instituições de Educação Infantil. Consideramos que este estudo, vem elucidar a importância de instigar às crianças as várias formas de vida cultural para valorizar, respeitar as diversidades, relacionando e fazendo um paralelo do passado com a realidade, trabalhando as diferentes culturas inseridas no espaço educativo, revendo os conceitos que muitas vezes formamos como cultura adultocêntrica. 1.2 Cultura: conceito e significado 10 O que é cultura Culturaé todo um conjunto de idéias atreladas a um sistema de ciência sociais e suas convivências em determinados grupos. Parte de socializações e apropriações, compartilhada de idéias, especificidades do comportamento humano. Mitos, lendas, costumes, crenças e valores éticos, refletem a forma de agir, de pensar e sentir de uma população, definindo seu patrimônio cultural, ou seja, cultura são aptidões, costumes, valores e hábitos adquiridos pelo ser humano, como membro de uma sociedade. A palavra cultura, segundo Fontana (2000), remete a um vasto campo de concepções e de pontos de vista; entende-se que essa idéia de cultura surge da criação de alguma coisa, em todo o desenvolvimento das faculdades humanas (danças, hábitos, crenças). Só o homem é portador de cultura. Só ele cria, transforma e transmite. A cultura é uma herança que o homem recebe quando nasce, pois as influências do grupo que faz parte, a forma de vestir, a língua falada, acontece desde o momento em que a criança chega a este mundo. Além do contato que tem com o seu grupo, o homem amplia seus horizontes, conhecendo outros grupos, outros costumes, enfim, outras culturas, possibilitando a ampliação do seu conhecimento e conseqüentemente ocorre a aquisição de alguns costumes, que serão incorporados em sua cultura. http://www.monica.com.br/mauricio/cronicas/cron008.htm 11 O significado de cultura na história do mundo Antigamente, até o século XVIII, o significado predominante, vem do latim colere, ligado diretamente à prática agrícola. Os Romanos, denominados pensadores, utilizaram o termo cultivar como referência ao refinamento pessoal à educação de uma pessoa, isto é, como nos coloca Fontana (2000, p. 63), “No mundo rural, o escravo romano e o camponês medieval cultivavam a terra, enquanto os proprietários cultivavam-se a si próprios”. Para Fontana (2000), a partir do século XVIII, devido às profundas marcas e transformações, foram incorporadas novas experiências à palavra cultura que viabilizaram novas concepções de mundo e de homem, dando um novo rumo às relações internacionais. Estas transformações são associadas às tentativas de perceber aspectos materiais e não materiais da vida social, revelando uma relação com a idéia de civilização. Partindo dessas transformações, a palavra cultura adquiriu sentido novo e específico, passou a exprimir um conjunto de atributos e produtos resultantes de idéias transmissíveis essencialmente à espécie humana. Segundo Fontana (2000, p.65) “a) cultura e civilização entendida como autodesenvolvimento universal do homem, hierarquizando a vida social; b) cultura-estado natural aos impulsos mais humanos e civilização-estado artificial externo do homem na sociedade”. Ainda nos afirma Fontana (2000, p. 65): A perspectiva evolucionista também marcou o conceito. Ela possibilitou avançar no estudo das condições materiais da cultura, serviu para distinguir o homem de outras formas animais. (“cultura é o que define o humano”) e para diferenciar as populações humanas entre si, situando-as numa escala evolutiva linear. Fonte:http://www.ihistory101.net/espanol/Rome/rom an-slaves.htm 12 Ainda para esta autora, persistindo até hoje, a palavra cultura tomou novas linhas de pensamentos, trazendo grandes avanços na construção social e histórica. O homem se autodesenvolve e dentro desse processo ocorrem transformações, dicotomizando suas culturas e fundamentando suas forças para redimensionar novas concepções de trabalho, de vida natural, espiritual e social, fazendo disso, um livro aberto para inclusão decisiva na sociedade. Ao falar de cultura, Fontana (2000), coloca que cultura não é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de civilização, mas a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Assim sendo, dentro da idéia de cultura, conforme Fontana frisa acima, é possível identificar e falar de culturas, com sentidos específicos. Segundo (ENCICLOPÉDIA BARSA, 2001, p.205), são quatro os sentidos: (1) A cultura entendida como modos de vida comuns a toda a humanidade; (2) A cultura entendida como modos de vida peculiares a um grupo de sociedades com maior ou menor grau de interação; (3) A cultura entendida como padrões de comportamento peculiares a uma dada sociedade; (4) A cultura entendida como modos especiais de comportamento de segmentos de uma sociedade complexa. Conforme citação acima podemos então definir cada um dos sentidos culturais. O primeiro refere-se aos elementos de cultura comuns a todos os seres humanos, como a linguagem(todos falam), o dormir, o comer, o beber, ou seja, todos que são comuns a toda a humanidade. 13 Tradução da charge: "Peça-lhe apenas dois litros de leite e uma caneca de creme, Will - isto não tem que ser um soneto." Fonte://www.sonetos.com.br/arte.php?t=70 O segundo refere-se aos elementos comuns a um grupo da sociedade. Por exemplo, a Língua Inglesa que é falada por vários países, como a Inglaterra, a Austrália, os Estados Unidos, etc. Fonte:http://afixe.weblog.com.pt/arquivo/dormir.png Fonte:http://pipocaecompanhia.blogs.s apo.pt/arquivo/comer_bem2.gif 14 Dialeto Fluminense: é um dialeto do português falado no Rio de Janeiro. A letra "s" com o som de z é trocado pelo "x" no dialeto Fluminense. Veja o exemplo abaixo: Norma Culta Dialeto Fluminense nós nóix mesmo meixmo coisas coisaix Fonte:http://www.canalkids.com.br/central/jornal/imagens/br_030410.jpg O terceiro sentido refere-se ao conjunto de padrões de uma determinada sociedade, por exemplo: os padrões culturais que caracterizam o comportamento da sociedade do Rio de Janeiro. O quarto refere-se aos modos especiais de comportamento de grupos pertencentes à sociedade citada no terceiro sentido. Por exemplo: dentro da sociedade do Rio de Janeiro, existem vários grupos, como os moradores de Copacabana, onde cada qual possui seus elementos culturais restritos, diferenciados. A partir destes conhecimentos, destes sentidos culturais, verificamos as diferenças entre os diversos grupos humanos. Esta diversidade acontece devido às descobertas, invenções, que são passadas de grupos para grupos, sofrendo modificações e conseqüentemente, recriando a cultura. A cultura está presente em nossa família, sociedade, país e mundo, permeando também em nossos espaços educativos, dentro dos mais variados contextos. Permitindo-nos entender as diferenças e relações entre os conceitos formulados, aproximando-nos das 15 Fonte: Alfabetização sem segredos: Novos tempos. Iemar, 1999. leituras/elaborações iniciais feitas pelas crianças, permitindo ao educador interpretar e mediar todo o processo histórico-cultural. Cultura e seu significado na infância Ao acreditarmos que a inteligência se constrói frente a uma constante interação entre o sujeito e o meio, vemos que a criança pode beneficiar-se quando tem a possibilidade de viver em um ambiente educacional que lhe ofereça a oportunidade de agir com liberdade, bem como manipular materiais adequados. Assim, ela poderá estabelecer relações com as pessoas, com os objetos, enfim, com o mundo! As relações sociais em que as crianças estão envolvidas no seu dia-a-dia, o seu processo de desenvolvimento e aprendizagem, incluindo suas diferenças individuais, resultam de dois processos básicos e complexos: O primeiro, o potencial genético manifesta-se sob forma de maturação ou transformações neurofisiológicas e bioquímicas. O segundo fator é cultural, que cria condições favoráveis ou não para a explicitação do primeiro. Para Vygotsky, Leontiev (1988) e Mukhina (1995), em suas contribuições davisão histórico-cultural, destacam a natureza plástica do comportamento humano, organizado em condições histórico-culturais. “[...] A criança que nasce como “ser natural", e se converte em membro da sociedade, capaz de ver o mundo através do prisma da experiência humana”. (MUKHINA 1998, p.10) 16 Esta concepção traz inúmeras contribuições no sentido de perceber a criança sob uma perspectiva dialética, de movimento, de ação em transformação. Vygotsky sobre isso nos traz contribuições. Para este, todas as funções superiores têm as suas origens em processos sociais. Só conseguimos compreender a qualidade humana destas funções se compreendermos os instrumentos e os sinais que as mediam. Estes meios são sempre culturais e históricos. Coincidem em sua totalidade com as etapas de desenvolvimento biológico e sua origem. Nesta concepção, Mukhina (1995) afirma: "As etapas de desenvolvimento por idade não histórica [...] A duração da infância, o período preparatório até que a criança comece a realizar um trabalho socialmente útil e as formas dessa preparação dependem das condições históricas, culturais e sociais". (p. 59) Sobre isso ainda, Leontiev (1988), afirma que a criança nasce com órgãos em desenvolvimento durante toda sua vida e derivam da sua apropriação da experiência histórica dos homens. As relações das crianças com o mundo que as rodeia são mediadas pelas suas relações com as pessoas, comunicando-se com elas no dia-a-dia por meio de discursos. É através da interação social (adultos e crianças) que a criança desde o nascimento vai construindo suas características (seu modo de agir, de pensar, de sentir) e sua visão de mundo (seu conhecimento). Portanto, é na relação dialética com o mundo que o sujeito constitui- se e liberta-se. “A extraordinária plasticidade, a capacidade de aprender, é uma das qualidades mais importantes do cérebro humano e que o diferencia do cérebro animal”. (MUKHINA, 1995, p. 39). O cérebro do animal, logo após o nascimento, acaba seu processo, enquanto no ser humano inicia seu auge de formação. Vygotsky também nos diz que o cérebro humano é condição necessária, mas é preciso processar fatos nele, para que se desenvolva e aperfeiçoe. O que faz a diferença neste processo são as condições em que a criança se desenvolve e aprende. E aí entra as influências sociais, culturais e educativas propiciadas a elas, ou seja, as crianças assimilam o mundo a sua volta, adquirem heranças sociais e aí vão se integrando com a ajuda dos adultos e crianças de mais idade no processo de educação e ensino. 17 Todas estas afirmações acima vêm justificar a importância da criança freqüentar turmas, ter acesso à educação infantil. Esta participação exerce influência na vida da criança, como meio de descoberta do mundo a sua volta através da mediação científica dos educadores, variando e dosando as influências educacionais. E estas influências devem levar em consideração a cultura da criança e não somente a cultura do adulto. Cada grupo é formado por peculiaridades humanas que criam conjuntos ligados à vida humana em todos os aspectos, como fator primordial da cultura. Quando uma criança está inserida num grupo étnico, em seu dia-a-dia, vai seguindo culturalmente e construindo novas linguagens sob ângulos diferentes, formando novos conceitos, concepções de vida. Todas essas unidades culturais apresentam-se numa sala de aula, de diferentes formas: há uma multiplicidade de culturas e fatores ambientais. O professor é um mediador intencional do processo de elaboração conceitual da criança e relações entre todos, na forma de preservar, respeitar outras culturas. Forquin (1993, p.14) sobre isso afirma: A ênfase posta sobre a função de conservação e de transmissão cultural da educação não deveria impedir-nos de prestar atenção ao fato de que toda a educação e em particular toda a educação de tipo escolar, supõe sempre na verdade uma seleção no interior da cultura. E uma reelaboração dos conteúdos da cultura destinado a serem transmitidos às novas gerações. É na cultura que o ser humano vive uma vida verdadeiramente humana. Esta dupla exigência de seleção na cultura e de reelaboração didática faz com que não se possa apegar-se à afirmação geral e abstrata de uma unidade da educação e da cultura: é Fonte:http://ww w.ced.ufsc.br/~ zeroseis/cotidia n4.html 18 necessário matizar e especificar, isto é, construir uma verdadeira problemática das relações entre escola e cultura. Trazendo para o contexto da educação infantil, nesta citação pode-se falar nas relações entre as Instituições Educacionais e a cultura. Todo o contexto histórico-cultural, construído em toda sua trajetória, quer seja cultural, quer seja educacional, estão intimamente ligados ao processo de desenvolvimento e aprendizagem de cada indivíduo, isto é, vivificando e aprofundando sua construção histórica ao longo de toda sua bagagem de aprendizado. O prazer de viver a convivência e até a sua formação é resultado de todo um processo adquirido ao longo das informações repassadas e apreendidas pelo ser humano. Ao defrontarmos com a modernidade cheia de atributos, que influenciam nossas vidas, fica no ar a questão pertinente: Como será a educação, frente a tantas diversidades culturais? A primeira questão que se coloca é a importância de se entender a relação cultura e educação. É relação individual e ao mesmo tempo coletiva, que nutre o processo educacional para a formação de consciência para uma convivência que dará bons frutos no futuro, nas interações, trocas de idéias, aprendizados e descobertas que fazem da atual realidade muito mais prazerosa. O trabalho do homem é a sua parte no diálogo que deveria ser o fundamento de todos os atos humanos. Com o trabalho livre e solidário sobre a natureza, o homem cria a sua cultura, transforma o mundo, faz a história e dá sentido ä vida. (BRANDÃO, 1981, p. 103) A construção de cultura se dá a partir de idéias já prontas, preestabelecidas; visão essa, do que está presente nos monumentos do passado, presente nos arquivos, é o que permitiu toda uma construção histórica patrimonial que resulta de um valor global e universal. Toda essa historicidade vem dentro de um sistema de elites discriminatórias, econômicas e que são também elites culturais. Diante disso, a própria criança vai construindo sua cultura, vivenciada pelo passado em que esteve inserida e aperfeiçoando o presente, fazendo um elo entre os dois ângulos, levando em consideração sua cultura, seu modo de ser, despreocupando-se com o futuro. A criança é fruto de culturas que vem descortinando o passado cultural e construindo novos horizontes. 19 Oi, Chiquita! Oi, Pedrinho! Qui bão que ocê veio! Pedrinho, minha mãe fez uma surpresinha procê! Bolo di fubá! As crianças são condutoras das heranças culturais vivificadas com as próprias famílias, são também construtoras de novas culturas, seja individual, coletiva ou na busca de mesclarem conhecimentos, transformando estas culturas, no seu modo de ser, de crescer e viver. Texto Complementar 20 Procê! Humm! Qui dilícia di bolo que sua mãe feiz! Tenho outra surpresa procê, Pedrinho. 21 Quindim! Bejinho! Doce di abóbra! 22 Pudim di Mio! Tenho mais surpresa! 23 Ai, Chiquita!De tanto agrado... To inté passando mar danado! Todo o pessoar que vem visitá ocês... são tratados Anssim? Sabe.... gostei por dimais....Posso vortá... Pra ripiti? Fonte: Alfabetização sem segredos: 2ª série. Iemar, 1999 24 2 UMA BREVE CONVERSA SOBRE INFÂNCIA A noção de infância tal como se conhece hoje, está caracterizada com um conceito relativamente novo. É historicamente construída e conseqüentemente vem mudando ao longo dos tempos. A infância começa com o nascimento da criança, compreendendo todo o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança e de sua personalidade, desde o início da vida até as primeiras manifestações que marcam o início da adolescência. Segundo Brasil (1991) que se refere ao Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente) quando cita sobre as crianças de 0 a 6 anos, afirma que são os primeiros anos primordiais da fase em que acontece todo o processo de desenvolvimento e aprendizagem no que se refere a “primeira infância” tendo como objetivo atender às necessidades psicossociais da criança, criar condições adequadas para o seu desenvolvimento global - estimular a criatividade, a autonomia, a cooperação e a criticidade - considerando, para isto, a história de vida de cada um, suas experiências e sua individualidade. A infância é a primeira fase de vida básica, aonde vai, gradativamente contribuindo em suas várias linguagens, exercendo capacidades extraordinárias para um futuro adulto através da construção de valores culturais. Segundo o estudo etimológico da palavra infância, a partícula latina in significa não, usada como prefixo, e do latim fans, fantis, particípio presente de fãri, correspondente a falar, ter a faculdade da fala, forma-se o adjetivo latino infans, infantis, aquele que não fala, que Fonte:http://www.sasu l.pt/servicos/?infancia 25 tem pouca idade e que ainda é criança [...] Esse termo infância apareceu em épocas diferentes nos idiomas europeus. No italiano, infante é do século XII - XIII, no francês, enfant surge no século XI. Na península Ibérica, no entanto, o surgimento da palavra infante, que se documenta ser no século XII, significa como nome de nobre jovem e, no século XIII, significa o “filho do rei”. O sentido de “criança pequena”, ao que parece, só se vai fixar no século XV - XVI. Por outro lado, é também no século XVI a acepção de soldado da infantaria, tomada ao italiano fante, que era rapaz ou moço e também, servidor, criado. Equivalente das línguas latinas, os termos de língua anglo- saxão o Childhood do inglês e o Kindheid, do alemão traduzem o português infância. [...] (VANTI, 2001, p.04) 2.1 Infância: desafios e possibilidades Segundo Fontana (2000), as crianças são seres sociais, têm uma história, pertencem a uma classe social, estabelecem relações segundo seu contexto de origem, têm uma linguagem, ocupam um espaço geográfico e são valorizadas de acordo com os padrões do seu contexto familiar e com a sua própria inserção nesse contexto. Elas são pessoas, enraizadas num todo social que as envolve e que nelas imprime padrões de autoridade, linguagem, costumes. Essa visão de quem são as crianças - cidadãos de direitos, sujeitos sociais e históricos, criadores de cultura - é condição para que se atue no sentido de favorecer seu desenvolvimento e constituição. Buscando alternativas para a educação infantil que reconhecem o saber das crianças (adquirido no seu meio sociocultural de origem), ou melhor, a cultura infantil em todo o seu contexto envolvendo os campos de saberes. Seja no brincar, no desenhar, no interagir com outras crianças, formando e adaptando as novas linguagens, sendo Fonte:http://eduardo.macan.eng .br/2006/08/17/de-volta-a- infancia/ 26 que, cada uma constrói dentro daquilo que sabe, com sua especificidade, e oferecem atividades significativas, onde adultos e crianças têm experiências culturais diversas, em diferentes espaços de socialização. As crianças têm suas características pessoais, dizem o que sentem e pensam de um jeito próprio. São seres que estabelecem suas limitações e espaços, esforçam-se para poder entender e compreender o mundo que as circundam, através de brincadeiras. Transformam as coisas de uma maneira mais agradável, explicitando as condições de vida em que estão submetidos, seus anseios e desejos. Um exemplo de diferenciação de espaços educativos, é que não se pensa em espaços próprios para crianças e sim, dentro de uma visão adulta. Elas usam os mesmos objetos, banheiros, talheres, etc., que os adultos usam. Isso é fazer da criança um adulto em miniatura, é fazer a criança ingressar em um mundo que não é dela. As crianças precisam ser entendidas e compreendidas pelo que estão vivendo e diante do mundo delas, para não descaracterizar a infância como momento presente. Resgatar a infância é priorizar nos dias de hoje, os espaços da criança. Trazer para elas a chance de poderem construir e desconstruir suas próprias vivências, no sentido de não serem esquecidas pelos adultos. As crianças fazem parte do mundo adulto, e nem por isso devem viver como adultos. A educação moderna está hoje nos espaços, onde as próprias crianças vivem vários papéis, diferentes daqueles que na história da educação brasileira estavam acostumadas a ver; as crianças não brincam com brinquedos que culturalmente eram fabricados pelos pais, avôs, transmitidos com emoção e afetividade. Vários são os pólos da educação moderna no espaço educativo: os brinquedos estão prontos para serem comprados e manuseados em qualquer loja; as crianças brincam, mas não com tanta emoção, pois se quebrarem fica fácil de repor; os pais são tão ocupados que para não verem seus filhos sem ocupação esperando por algo, decoram os quartos com tantos brinquedos e aparelhos eletrônicos da moda, que quando se dão conta seus filhos já estão entrando na fase adulta. É espantoso ver nossas crianças sendo induzidas para uma vida adulta. Nós adultos, estamos expondo, muitas vezes sem perceber, as crianças no mundo preconizado pelo Fonte:http://www.plenarinho.gov.br/noticias/agencia_pl enarinho/jogos-eletronicos-podem-ser-perigosos 27 Fonte:http://64.233.169.104/search?q=cache:ACZ4o5sEBacJ:www.ced.ufsc. br/~nee0a6/pangela.PDF+Loris+Malaguzzi&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br modismo, pela mídia, etc. Repassamos assuntos onde só o adulto tem problemas, depressão, solidão, enfim, as nossas crianças ingressam por caminhos tortuosos perdendo a sensibilidade, perdendo a verdadeira infância. 2.2 Infância e suas linguagens “A I INFÂNCIA E AS “CEM LINGUAGENS” A criança é feita de cem... A criança tem cem linguagens (e depois cem cem cem) mas roubam-lhe noventa e nove. A escola e a cultura lhe separam a cabeça do corpo... Dizem-lhe enfim: Que o cem As frases selecionadas do poema de Loris Malaguzzi são propositais, com o intuito de demonstrar que a infância persiste em seu modo de ser. Cada criança em suas especificidades transforma sua rotina num verdadeiro espaço, num mundo imaginário, querendo sempre transpor o que sente em um emaranhado de fantasias. O criar, o brincar, o sonhar, o estar com o outro, e tantas outras expressões contínuas das crianças esbarram em muitas ideologias do adulto: “agora não pode”, “agora não é hora”, “este não é um lugar para isto”, no entanto elas persistem. Querer que as crianças esqueçam que são crianças, que o seu universo é rodeado de 28 “inocências”, é querer que sejam pensantes como adultos, é queimar suas fases, no objetivo de substituir o mundo delas pelo mundo próprio de adultos. As “cem linguagens” que a criança insiste em afirmar que existem, são pelas Instituições de Educação pouco consideradas. Como justificativa se atribui os mais diversos motivos, como: falta de formaçãoprofissional, pouco recurso material e pessoal, uma cultura massificante, as influências de concepções desenvolvimentistas que por algum tempo determinaram o foco da educação das crianças. Faz-se necessário um resgate da cultura infantil para que tenhamos em nosso meio, mais propriamente dito, nas Instituições Educacionais espaços onde as crianças possam ser elas mesmas. Sem em algum momento preocupar-se com o mundo adulto, (mídia, moda, linguagens diferenciadas...), mas sim tendo um desenvolvimento sadio no meio em que se encontram, crescendo e sendo mediadas pelos adultos, porém estes adultos permitindo que desenvolvam o psíquico-social, de maneira agradável e feliz. No momento em que emergem, as discussões sobre a educação na infância, a necessidade de nos “alfabetizarmos” nas múltiplas linguagens das crianças, para podermos então pensar numa educação voltada para elas, que respeite seu direito de viver sua infância plenamente; nessas discussões também se inclui as culturas infantis que são vistas como “o desconhecido” ou até mesmo, pouco conhecido, as quais são essenciais aos nossos saberes. Assim sendo, é necessário observarmos como educadores, alguns pontos que são primordiais para que nos tornemos alfabetizados nas múltiplas linguagens das crianças, são elas: A sensibilidade de ouvir e entender as crianças; Momentos de interação, em que possamos viver e reviver a criança existente dentro de nós; Pedagogicamente, sempre avançar para uma educação voltada à infância do que em querer alfabetizar adultocentricamente; Transformar o nosso mundo em universo infantil para assim, compreendermos as nossas crianças; Entender as cem linguagens das crianças, não podando suas capacidades de ver um mundo mais harmonioso e sem tantas dificuldades; Despertar nas crianças a compreensão de suas culturas para que vivenciem a sua infância. 29 Espera-se que as crianças bem como o educador saibam que o Brasil, comporta a existência de diferentes grupos sociais, cada um com suas singularidades – e eles próprios têm histórias e um modo de vida específico. Espera-se também que relacionem a isso o conhecimento de diferentes formas de habitação, de organização espacial, de vestimentas e outros itens da vida cotidiana, assim como de expressões culturais diversas, e compreendam que diferentes grupos humanos produzem diferentes formas de organização político- social e econômica a que correspondem diferentes modos de organizar o trabalho e a produção de conhecimentos. Fonte: Alfabetização sem segredos: Novos tempos. Iemar, 1999. 2.3 Infância e educação A cultura infantil perdeu-se no tempo e espaço. Ficou tão fácil acreditar numa infância moderna, e ao mesmo tempo comprada, que nós mesmos Fonte:http://uei2005.blogs.sapo.pt/ arquivo/648458.html 30 deixamos de perceber o que muitas vezes deveríamos contestar na aceitação desta infância. A infância está sendo roubada, manipulada bem diante de nossos olhos por políticas ideológicas, que vem e vão e cada vez mais a cultura moderna alarga-se, tirando a beleza do brincar, do faz- de-conta, da fantasia e o de ser criança. Seguindo a idéia de Arroyo(1999, p.08), somos nós educadores pedagogos da infância, que temos o papel importante de descobrir por qual fio condutor nossas crianças vão. Não ocultar a realidade vigente, e sim trazer às crianças e adolescentes a luz. A todo o momento as crianças almejam nossa atenção, pedem que os reconheçamos como sujeitos sociais e culturais. As relações sociais são tão vazias no sentido de resgatar as culturas (o diálogo, o contar histórias, construção de brinquedos) que se tornam vítimas do modernismo. Observa-se que as crianças de hoje, acreditam mais na vida do consumo, do que na vida da brincadeira. Criam novas culturas, novas brincadeiras envolvendo objetos de consumo, conversam sobre novelas, cantam as músicas das paradas e principalmente querem ser adultos. Para Arroyo (1996, p. 36); A educação moderna vai configurando nos confrontos sociais e políticos, ora como um dos instrumentos de conquista da liberdade, da participação e da cidadania. Ora como um dos mecanismos para controlar e dosar os graus de liberdade, de civilização, de racionalidade e de submissão suportável pelas novas formas de produção industrial e pelas novas relações sociais entre os homens. Percebe-se uma constante: a educação passa a ser encarada como um santo remédio, capaz de tornar súditos cidadãos livres, como de controlar a liberdade dos cidadãos [...]. É nesse sentido que nos reportamos aos cuidados que devemos ter em relação às crianças quando deixamos de “cobrar” um pouco mais sobre o ser criança. Devemos resgatar do sótão, “velhos” brinquedos, brincadeiras, histórias e a essência da verdadeira infância. Trabalhar com elas o verdadeiro sentido de viver e construir uma sociedade humana, fraterna, transformando-se em Ser, e não em Ter. Conforme Muniz (1999, p. 244-245): 31 O conceito de infância utilizado hoje pela pedagogia vem na esteira dessa evolução, possuindo ainda marcas que nos remetem a sua formulação original. Essas marcas são visíveis, principalmente, no que diz respeito à idéia de uma natureza infantil, que define a criança com um ser abstrato e universal, desvinculando de suas reais condições de existência. Dessa forma, a infância é pensada como um tempo à parte na vida do homem, época da vida em que ele guarda sua inocência original. A educação aparece como a possibilidade de transformar esse ser, moldando-o de acordo com os princípios da sociedade da qual virá a participar. Muitos estudos criticam a dominação que ainda está presente na infância; o adultocentrismo marca as produções teóricas e as Instituições Educacionais. Reconhecer na infância sua especificidade - sua capacidade de imaginar, fantasiar e criar exige que muitas medidas sejam tomadas. Entender que as crianças têm um olhar crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas, que subverte o sentido da história, requer que se conheça a criança, o que faz, de que brinca, como inventa, de que fala. Nesta concepção de infância, história e linguagem são dimensões importantes de humanização: há uma história a ser contada porque há uma infância do homem. Segundo Benjamin (1984), a infância é, conseqüentemente, um momento de apropriação de imagens e de representações culturais que transitam por diferentes canais. Cada cultura dispõe de um “banco” de imagens consideradas como expressivas dentro do contexto cultural associada às criações e interpretações feitas pelas crianças. Fonte:http://w ww.ced.ufsc.b r/~zeroseis/co tidian4.html 32 Infância, educação e cultura A cultura sob ótica discutida acima, assume diferentes configurações, de modo a nos fazer compreender a infância em um sentido plural. Para tanto, diferentes culturas imputam diferenças particulares, sobretudo, relacionadas à inserção de gênero, classe, etnia e história que nos permitem reconhecer que a infância não é uma categoria universal. As crianças são seres imersos, na sociedade e através dela conhecem o mundo da mídia, revistas, histórias e conversas que ouvem. Através da abstração que fazem em seu modo de ver esse mundo é que começam a construir sua própria história. Fazendo história, fazem surgir culturas diferenciadas, classificam as linguagens fazem o intercâmbio com a sua realidade e tentam modificar o mundo através das brincadeiras, faz-de-conta deixando de lado o preconceito do mundo adulto. Contudo, podemos demarcar que, diferentes culturas determinam diferentes formas de ser e pensar a infância, permitindo concluir que há culturas infantis e que estas devem ser escritas também no plural. Acreditamos que a cultura da criança precisa, com urgência, serresgatada pela educação, sem contudo, ser abarcada pela pedagogia, transformando-se em método Fonte: http://saudealternativa.wordpress.com/tag/crianca/ 33 pedagógico. Para iniciar esse processo, é necessário que o educador esteja pronto para escutar as crianças; a partir daí, o caminho é longo em direção a uma ampla mudança. Como nos afirma Fontana (2000), quem assume a cultura da criança como viés educacional precisa abrir mão de certos pressupostos já consagrados pela pedagogia. Os educadores modernos conhecem e se interessam pelas diversas áreas de conhecimento (estão se tornando mais generalistas, propagam a interdisciplinaridade). Buscam informar-se técnica e estruturalmente acerca dos diversos conteúdos no intuito de ensiná-los de maneira interessante, didática, lúdica, prazerosa às suas crianças. Mas poucos se interessam em escutar as crianças, conhecer seus segredos e suas invenções. Segundo Benjamim (1984) se compreendermos as crianças, entenderemos melhor nossa época, nossa cultura, a barbárie e as possibilidades de transformação. Para a educação infantil desempenhar seu papel no desenvolvimento humano e social é preciso que a criança não seja vista como filhote ou semente, mas como cidadã criadora de cultura, o que tem implicações profundas para o trabalho em espaços educativos, de caráter científico, artístico ou cultural, já que: As crianças se sentem irresistivelmente atraídas pelos destroços que surgem da construção, do trabalho no jardim ou em casa, da atividade do alfaiate ou do marceneiro. Nestes restos que sobram elas reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e só para elas. Nestes restos elas estão menos empenhadas em imitar as obras dos adultos do que em estabelecer entre os mais diferentes materiais, através daquilo que cria em suas brincadeiras, uma nova e incoerente relação. Com isso, as crianças formam seu próprio mundo das coisas, mundo pequeno inserido em um maior. (BENJAMIN, 1984, p. 77). Percebemos assim, que o desafio não é só de conhecer “a imagem do outro, criança", e sim, conseguir desvencilhar nos modos de ver a nossa cultura adulta. Devemos pensar a infância partindo dela mesma. Precisamos refletir urgentemente sobre a importância de repensar a educação infantil levando em consideração a cultura da infância e não somente a cultura do adulto. Fonte:http://anavera.blogspo t.com/2005/02/miss- thing.html 34 Contemplar a criança em suas várias etapas da infância, reconhecê-la em suas especificidades e globalizá-las em sua própria construção de culturas. Então percebemos que na infância , formam-se conceitos de vida em todo o seu desenvolvimento. É preciso deixar que as crianças vivam sua infância no espaço educativo, pois muitas vezes em casa tornam-se adulta nos afazeres domésticos, ajudam o pai na roça, cuidam do(a) irmãozinho (a), vão às ruas para ganhar dinheiro, são exploradas pelos adultos, por isso no espaço escolar a prioridade deve ser o direito que elas têm de serem crianças. Se tirarmos isso delas, para que serve a educação Infantil? Nas Instituições Educacionais, por poucos brinquedos que possuem, ou parque, os educadores devem proporcionar momentos de prazer às crianças, mediando todas as linguagens e explorando a capacidade de criar, recriar, inventar, deixando que as crianças se manifestem em cada uma, seu modo de viver. Cada momento torna-se mágico, acontecem histórias, registradas ou não, para elas são etapas muito importantes para seu processo de desenvolvimento de aprendizagem. O importante nesta relação é construir um espaço de confiança, para podermos penetrar e deixar fluir toda intimidade, e através do jogo construir um saber de forma prazerosa. Se observarmos crianças jogando...brincando...conversando, teremos uma imagem nítida do pensar infantil. A criança pensa alto e assim nos dá dicas sobre como lidar com elas. É tão interessante a construção de culturas na infância, pois relata pólos de vivências de tempo e espaço, situacional e também de marco histórico. As fases de construção vem ocorrendo e ocorrem de situações vividas pelas crianças, de fatos corriqueiros, abstraidos de todo o meio social. Quando se fala em crianças, estamos diante de seres em desenvolvimento. Pessoas em formação, inseridos numa sociedade com visões distorcidas do que é criança. Não podemos associar a criança com aquilo que desejamos, que queremos que fossem, no entanto transgredimos as leis do vir a ser, colocando traços de visão adultocêntrica nelas, pelo que gostaríamos que fossem e não pelo que são no momento, na infância. Portanto, devemos refinar o olhar para percebermos as produções culturais das crianças, ato que requer ir à procura de algo diferente, deixar-se guiar pelo desejo de encontrar o novo, o inusitado. Permitir que as crianças desenvolvam seu potencial criativo, mergulhar nas individualidades das crianças, estar convivendo, estabelecer uma adesão profunda a esta maneira particular de ver o mundo a que as crianças são possuidoras. Segundo Arroyo (2000), nos coloca que “a infância que conduzimos não é categoria 35 natural, mas uma imagem projetada, um projeto profundamente enraizado em idéias e sonhos, em deveres e valores”. (p.35 ) É necessário ver as crianças com os olhos da alma, observando todo o seu desenvolvimento. Adaptar seus conhecimentos como vínculo em nosso mundo adulto para que cresçam em sociedade sem perder o gosto da infância. Ressignificar todos esses olhares de forma a inserí-las num mundo adulto, sem tirar as suas expectativas enquanto ser humano capaz de criar, recriar e opinar no mundo do adulto. Segundo Fontana (2000), no entanto, a partir do momento que se tem esta referência, de se pensar as educações infantis pelos saberes próprios da infância terão a certeza de que a criança parte de pressupostos peculiares de sua capacidade e autonomia. Os pesquisadores têm buscado produzir “ensaios” neste sentido, estudando o mundo infantil e mesclando com toda uma realidade transformadora de conceito, e com o esforço de aproximar nossas percepções às múltiplas expressões das crianças e reconhecendo-as como produtoras de histórias e culturas. As crianças em seu mundo infantil encaram toda e qualquer realidade, como instantes mágicos e brincadeiras, por isso devemos sempre acreditar na produção desses conhecimentos que legitimem uma Pedagogia da Educação Infantil. As crianças precisam criar, construir e desconstruir, precisam de espaços com areia, água, terra, objetos variados, brinquedos, livros, jornais, revistas, discos, panos, cartazes, e também espaços nos quais os objetivos sejam as experiências com a cultura, a arte e a ciência. Infelizmente, a maior parte dos locais está longe de contemplar as necessidades das crianças. Faltam em alguns municípios valorização de espaços de arte, história e cultura; faltam brinquedos, praças e parques; brinquedotecas e locais para crianças pequenas em clubes, museus, bibliotecas, hospitais, postos de saúde, bancos, enfim, locais onde as crianças possam brincar por longos períodos de tempo, acompanhadas pelos adultos. Ainda, as próprias Instituições Educacionais, precisam oferecer estes espaços de brincar, garantindo o direito das crianças e o seu desenvolvimento pleno como educando. Fonte:http://www.terrabrasileira.net/folclore/manifesto/jo gos/j-cabra.html 36 Conforme Kramer (1999, p. 271-272) nos diz: As crianças são sujeitos históricos marcados pelas contradições da sociedade em que vivemos. A criança não é filhote do homem, ser em maturação biológica; ela não se resume a ser alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança!). Contra essa percepção, que é infantilizadora do ser humano, tenho defendido uma concepção na qual reconhece o que é específico da infância – seupoder de imaginação, fantasia, criação -, mas entende as crianças como cidadãs, pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, as quais possuem um olhar crítico, virando pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem. Esse modo de ver as crianças pode ensinar não só a compreender as crianças, mas também a ver o mundo do ponto de vista da criança. É preciso que o adulto compreenda o olhar da criança, para poder compreender o mundo que as encara, tendo a sensibilidade de perceber a criança como uma produtora de cultura, que sempre na esperança provoca e transforma o dia-a-dia. Para Benjamin (1984), muitos são os desafios das políticas sociais para a infância. Questões relativas à situação política e econômica e à pobreza das nossas populações, questões urbanas e sociais, problemas educacionais específicos assumem proporções graves e exige respostas firmes e rápidas, nunca fáceis. Muitas são também as possibilidades de enfrentar a questão. Hoje, vivemos o paradoxo de ter um conhecimento teórico avançado sobre a infância, enquanto assistimos com horror a incapacidade da nossa geração de lidar com as populações infantis e juvenis. De que modos às pessoas percebem as crianças? Qual é o papel social da infância na sociedade moderna? Que valor é atribuído à criança por pessoas de diferentes classes e grupos sociais? O que significa ser criança em diferentes culturas? Como trabalhar com crianças pequenas, considerando seu contexto de origem, seu desenvolvimento e os conhecimentos, direito social de todos? Como assegurar que, diante da diversidade das populações infantis e das contradições da sociedade contemporânea, a educação cumpra seu papel social? Este estudo não responde a essas questões, mas se sente comprometido com elas e com uma sociedade fundada no reconhecimento do outro, nas diferenças (de cultura, etnia, religião, gênero, classe, idade) e na superação da desigualdade. Segundo Brasil (1998, p. 11), obteve por organização da sociedade uma das maiores conquistas da educação infantil: 37 “[...] atendimento às crianças de 0 a 6 anos fosse reconhecido na Constituição Federal de 1988. A partir de então, a educação infantil em creches e pré-escolas passou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inciso IV)”. A questão da formação de educadores da Educação Infantil foi levantada pela primeira vez em 1994, quando foi formulado um documento organizado pelo MEC intitulado: “Por uma política de formação do profissional de educação infantil”, que conforme Lanter (1999, p. 131) nos afirma: A questão da formação dos professores representa uma educação infantil, dentre outros aspectos, questão fundamental para o reconhecimento desse seguimento como instância educativa e também para sua qualidade. Sendo assim, percebemos que a ausência de políticas voltadas para o profissional de educação infantil favorece e acelera o descompromisso do poder público com o atendimento da criança de 0 a 6 anos no país, bem como despolitiza a ação dos profissionais de educação infantil. Os profissionais da Educação Infantil devem ver a educação infantil como uma preparação para o ingresso, para a vida adulta. Porém, devem ter cuidado para não forçar a criança a ser aquilo que querem. O processo de conhecimento de uma criança é diferente do nosso, por isso, gradativamente a criança vai adentrando no mundo adulto. Ela vai conhecendo seu mundo exterior e transformando seu mundo interior, associando tudo o que está a sua volta. Precisam trabalhar a criança com o seu mundo, na qual está inserida e conhecedora daquilo que faz. O mundo da criança é objetivo, passando paulatinamente para subjetivo, na medida em que vai adquirindo conhecimento e sendo aperfeiçoado pelas aprendizagens. Essas concepções de infância ou criança, repassam uma imagem cordial e que tudo é perfeito e puro. Afinal de contas lidam com crianças. Nesse contexto, percebem muitas vezes, que criança ou infância não têm seus valores e tudo passa despercebido. A ênfase educacional sobre a função de conservação, de construção cultural e da educação não deveria impedir de prestar atenção ao fato de que toda educação, e em particular 38 toda educação de tipo “escolar”, fossem desmistificada desta educação escolarizante, que tem intuito de formar cidadãos alienados para uma realidade mais ampla e com cunho profissionalizante. Educadores da infância, são todos os dias bombardeados por problemas, que aparentemente aos olhos das pessoas, são fáceis de lidar, porém, os que são profissionais da educação, devem quebrar os paradigmas de que infância é como um sujeito adulto em miniatura, não esquecendo toda bagagem histórica que a criança possue, que se desenvolve desde a sua concepção até o fim de suas vidas. A cultura adultocêntrica vê a infância, a criança, “como um cidadão do futuro e não é vista com olhos do presente”, sendo que na infância desabrocha seus desejos, pensamentos, opções de mudanças, noção dos seus direitos e deveres. A criança não deve ser “vista” como um espectador, mas sim um sujeito ativo do processo. Segundo Freire (1992, p. 170): O gosto da liberdade e o respeito dos outros; a vontade de ajudar seu povo a ajudar- se, a mobilizar-se, a organizar-se para reperfilar a sociedade. Um claro sentido da oportunidade histórica, oportunidade que não existe fora de nós próprios, num certo compartimento do tempo, à espera que vamos a seu enlaço, mas nas relações entre nós e o tempo , na intimidade dos acontecimentos, no jogo das contradições. Oportunidade que vamos criando, fazendo na própria história. [...] Mas, a fim de que a educação infantil de qualidade seja de fato direito de todos, coloca-se como desafio urgente, a formação profissional de todos os professores: formação como direito à educação, de todos (crianças, jovens, adultos e dentre eles os educadores); formação nas áreas básicas do conhecimento (língua, matemática, ciências naturais e ciências sociais); e formação cultural, com oportunidade de se discutir valores, preconceitos, experiências e a própria história. Ainda para Freire (1999, p. 79), [...] almejar uma educação de qualidade para crianças, que contribua para a formação de sua cidadania (sujeitos críticos, criativos, autônomos, responsáveis, cooperativos, participantes) é estar permanentemente voltado para a formação das educadoras que com elas interagem. 39 Compreende-se formação como qualificação, na melhoria da qualidade do trabalho pedagógico, e de profissionalização, garantindo avanço na educação, carreira e salário. Formação que implica em constituir identidades, ponto crucial frente à crescente evasão de educadores. Formação que – seja continuada (com novas propostas pedagógicas), seja inicial (em escolas de formação de magistério e na universidade) - garanta espaço para a pluralidade e para que educadores narrem suas experiências. Reflitam sobre práticas e trajetórias vividas, compreendam a sua própria história, redimensionem o passado e o presente, ampliem seu saber e seu saber fazer. Formação permanente exercida com condições dignas de vida e de trabalho e concebida no interior de uma política cultural sólida e consistente. No entanto, existe a necessidade de ampliarem a previsão orçamentária ou dotação de recursos financeiros específicos para a educação infantil. Se as crianças são cidadãs e a educação infantil é assegurada como direito, não destinar recursos, ou destinar o mínimo, é abrir mão de concretizá-la; é negar esse direito às populações infantis. E o custo social deste descaso será inestimável. A formação cultural das crianças e seus educadores são direitos de todos, pois, todas as crianças e adultos, são sujeitos históricos e sociais, cidadãos produzidos na cultura e criadores de cultura. Cidadãosque têm direitos sociais, entre eles o direito à educação. Cada ser humano tem seu jeito de expressar-se. Cada um faz de seu dia mais produtivo ou menos. Somos responsáveis pelos nossos atos e construção de saberes. É assim que passamos nossos dias. Sim, vivemos a cada minuto construindo e reconstruindo histórias. Essas histórias são construídas no “habitat” de nascença, portanto o que se consegue são influências dos lugares aonde vamos passar ou até morar. A raiz cultural está fixada no lugar de origem, a cultura é entendida e aprendida na base da família: costumes, crenças, hábitos, comidas, tudo isso são culturas adquiridas na terra onde nascemos. E as crianças fazem parte desta construção histórica. Os aprendizados e as experiências dão continuidade para um vasto campo, campo que abrange todas as áreas de conhecimento e aperfeiçoamento da vida humana. Toda historicidade construída, reconstruída pelas crianças, tem como base central as experiências vividas com os adultos, tendo como resultado as múltiplas culturas existentes nas www.klickeducacao.com.br 40 Instituições Educacionais. Texto Complementar 41 Fonte: Alfabetização sem Segredos - 1997 42 3 MEDIAÇÃO EDUCATIVA E CULTURA Estamos vivendo momentos históricos marcados por transições modernas tecnológicas, científicas e ético-sociais, e uma delas é a grande avalanche de mudanças na área da educação da criança, enquanto sujeito social, legitimando-a como competente e sujeito de direitos. Segundo grandes estudiosos e o que já se sabe por pesquisas como educadores da infância, devem buscar "infância recuperada". Precisamos desmistificar nossa concepção de crianças reprimidas, adulto em miniatura, criança- aluno, criança-filho fazendo renascer uma criança verdadeira, reconhecida, pela grandeza de seu tempo ao construir também a história. O espaço que a educação ocupa hoje é um espaço de esperança, de reascender na sociedade a dinâmica de se conviver: família, escola e sociedade são chamadas a compor uma unidade em prol deste desafio, que é a nossa criança nas Instituições de Educação, que requer um rever contínuo de crenças, valores, princípios e ideais. É reservada a escola em parceria com a família e à sociedade o papel de promover a formação da criança para a cidadania. Envolvendo conhecimentos, atitudes, habilidades, valores, formas de pensar e agir contextualizadas ao social para que possa participar de sua transformação, atrelado ao grande papel que o educador ocupa na realidade das crianças. É preciso que nós possamos estar sempre diante do tempo real dos educandos para também podermos compreender seus mundos e contemplar para o nosso aprendizado as mudanças que acontecem todos os dias. Segundo Pinto e Sarmento, (1997), na história da infância, nunca houve tanta preocupação com as crianças como acontece hoje. Constata-se, no entanto, que a criança com suas agendas cheias de compromissos. Os quais muitas vezes a própria família cria seus vínculos, baseado naquilo que gostariam ou que não puderam fazer enquanto “novos”, jogando toda responsabilidade para a criança, e por isso, ela não dispõe mais de tempo para vivenciar suas brincadeiras e fantasias, tão benéficas ao seu desenvolvimento mental e emocional. Fonte:http://tecedu.wikispaces.com/?f =print 43 Queremos um “futuro promissor”, idealizando uma perfeita harmonia com o real e o mundo da criança, valorizando por um lado sua espontaneidade e expressão infantil. Ao passo que, por outro, bloqueamos suas manifestações naturais, ou seja, cortamos algumas fases, podando a mesma de ser o que elas quiserem em seu momento presente. Sabemos que é na família que as crianças recebem suas primeiras lições para a vida e que os pais são os primeiros agentes socializadores; os educadores muito importantes para as crianças, pois aprendem com os exemplos ao longo de sua educação institucional, os educadores são para elas, o espelho vivo de sua formação da pureza1, apesar dessa afirmação, os pais não assumem a responsabilidade que devem ter sobre estas crianças. Da mesma forma, acredita-se que as crianças devem viver e comportar-se dentro do que lhe é próprio, porém suas “infantilidades” são criticadas e bloqueadas pelos adultos. Defendemos a importância do brincar na construção do desenvolvimento e aprendizado infantil, mas quando ordenamos, em determinadas circunstâncias, que parem de brincar e elas resistem, não compreendemos essa rebeldia e repreendemos com “a autoridade de adulto”, perdendo de certa forma nossa paciência. Incentivamos as crianças a criar e se expressar só que da maneira que idealizamos para elas. Discursamos, também, sobre respeito ao ritmo de desenvolvimento, interesses, possibilidades, características e espaço infantil e em contrapartida, limitamos a vida das crianças a longos períodos em “carteiras” realizando atividades sem significado, rotineiras e que não conduzem à promoção. Esperamos que as crianças desvendem o mundo, e se fechamos a porta da descoberta, da curiosidade, e da experiência tateante2, com encaminhamentos definidos e impostos. Ao mesmo tempo em que incentivamos as crianças à autonomia, à livre expressão e à comunicação, no cotidiano elas não podem fazer escolhas, manifestar seus sentimentos e expor suas idéias e desejos. Outro sim, se faz necessário a mediação do educador perante as manifestações culturais que as crianças fazem e devem ser educadas para a liberdade e para a democracia. Não em prol do controle e da disciplina, mas sim, aos ajustes que possam torná-las capazes de construir suas histórias de vida para o presente/futuro. 1 As crianças seguem muito os exemplos dos educadores, e a segurança em aprender e a abertura de vida é para elas um conforto absoluto, enquanto com os pais tornam-se mais reservadas. 2 A aproximidade com as crianças, fica muito aquém da amizade e afetividade. Pensamos nos currículos, nos objetivos propostos e esquecemos de compreender a construção histórica que vivenciam todos os dias. Deveríamos aprender com as crianças a simplicidade de viver. 44 Segundo Forquin (1993) diversas culturas estão mescladas na sala de aula, múltiplas linguagens acerca da realidade envolvendo um emaranhado de conceitos sobre a cultura infantil. Diz ainda que ancorada na concepção de cultura como produção humana, como trabalho, o educador deverá destacar elementos identificáveis em situações reais. Fazer análises do cotidiano, tendo como referência situações da própria realidade, transformando num conjunto de informações que possibilitará o processo educativo adequados à realidade vindoura. As atividades devem ser trabalhadas de forma que todas as crianças expressem suas opiniões, criatividade, interesses e necessidades. Tudo o que a criança faz, seja em casa, na sociedade, na escola, está produzindo cultura. Em se tratando de costumes, crenças, hábitos, cada criança vai modificando e recriando coletivamente ou individual, novos conceitos de cultura. São nas atividades propostas pelo educador, que desencadeiam idéias centrais, que como conseqüência, a significação aparece através de uma expressão material. As mediações que se devem fazer nos espaços educativos, aproveitando as culturas infantis, vêm de certa forma abranger todas as formas de ingressar a criança em vários mundos. Fazer destas mediações o momento oportuno para que elas possam vivenciar seus diversificados papéis, oportunizando a exporem suas idéias, suas falas da maneira que for deixando que viva sua verdadeira infância. Seguindo as idéias do autor Brandão (1981) o educador, também faz cultura, sendo a originalidadedas atividades que se atrelam a própria capacidade de criação, isto é, ele media com segurança e as crianças produzem sem intervenções de preconceitos ou desrespeito com os colegas. Fonte:http://www2.uol.com.br/JC/sites/kids/monstrinhos.ht m 45 A inter-relação entre o sujeito humano, sujeito-educador, que subjaz3 as nossas proposições oferecidas no espaço educativo, no qual faz acontecer um intercâmbio de idéias culturais e na medida em que agimos, interferimos na realidade que nos envolve e somos por ela afetados. As crianças vivem seus papéis de maneira a acreditarem num suposto mundo todo colorido, contrário ao que os adultos vivem. Portanto, tudo já é adulto para criança. Desde a convivência, objetos dos adultos, assim, muitas vezes interpretam papéis de adulto. A relação entre o mundo infantil e o mundo adulto está justamente na mediação que o educador deverá fazer para pelo menos mostrar a diferença existente entre os dois mundos, objetivando proporcionar às crianças viverem sua infância de maneira feliz. A felicidade, às vezes, mostra-se um pouco longe, diante da modernidade invadindo a vida das crianças com brinquedos prontos, jogos eletrônicos, moda adultocêntrica, e ainda, espaços criados pensando nos adultos. Portanto, quando nos defrontamos com crianças agindo como adultos ao nosso meio, ficamos perplexos e, logo as afastamos de nossa volta, por que queremos conversar com adulto, sem crianças por perto. Ficamos abismados quando vemos crianças a nossa frente, em questões de mídia, moda, gírias, músicas. E ao querermos mediar o mundo infantil, para que vivam como crianças. Interpretamos como “adultas” demais para regressar no passado. Faz-se necessário romper com o conceito de infância adultocêntrica, isto é, devemos olhar as crianças como criança em suas especificidades, para que aconteça no presente, uma infância cheia de vida e que a criança viva suas etapas conforme sua idade. As crianças são seres integrantes desse processo educativo. Sem elas não haveria como traçar os objetivos; são a partir delas que se desencadeiam as idéias de se trabalhar as culturas. 3 O que muitas vezes deixamos de compreender, porque julgamos necessário e correto; que está subentendido, mas não se manifesta. Fonte:jangadabrasil.com.br/.../imagem/pap agaio.jpg 46 A ação educativa do educador brota de sua prática, sendo responsável pela teorização que surge na vida das crianças, bem como, por uma formação político-cultural, que pode ser nomeada como ato dinâmico e processual. Portanto, segundo Fontana (2000): [...] cabe ao professor, como adulto que supostamente elabora “conceitos verdadeiros, facilitar os processos de elaboração da criança e acompanhar o curso de seu desenvolvimento, ouvindo suas elaborações e situando-as em termos das possibilidades lógicas da representação” (p. 163) Nossas Instituições de Educação deveriam ser mais abertas e preparadas para receber todo o tipo de realidades infantis, sendo que com isso, emergissem as linguagens culturais embutidas na face do esquecimento. A educação infantil é uma etapa promissora para o resgate da cultura infantil. É necessário que todos os educadores falem a mesma língua, para formar a vertente educativa com os objetivos de formar novas culturas com a essência verdadeiramente infantil, junto aos inúmeros conceitos que se tem de cultura infantil nos olhares adultos. Transformar todos os espaços infantis e lares pedagogicamente culturais, mediando família, sociedade, mídia, educador e educando, juntos priorizando a construção cultural de infância. 3.1 Mediação: o resgate educativo de culturas infantis Resgatar as culturas é promover novos conhecimentos, novas linguagens e especificamente acolher a infância dentro desses contextos, para que não fiquem submersos a um mundo vazio e sem vida. A diversidade cultural é construída de idéias e pesquisas, 47 emergindo toda a historicidade do passado e automaticamente compartilhando com o presente, construindo a partir dessas descobertas, nexos para o futuro. Instigar as próprias crianças a conversarem com suas famílias, antepassados a fim de trazer essas culturas escondidas refazendo outras histórias na construção de mundos apropriados a elas. São através das mediações que o educador torna significativa as ações das crianças no espaço educativo nos seus mais diversos temas em questão, são dados culturais que internalizam todas as experiências vividas seja no contexto das Instituições Educacionais, em suas casas, sociedade, com outras crianças na rua. As crianças vivem seus papéis interagindo com outras crianças, pessoas adultas, com o meio, e na seqüência, interpretam por meios de ações o que aprenderam e o que lhes foi ensinado para depois viverem o mundo dos adultos. São nessas perspectivas que o educador deverá mediar todos os contextos, para desenvolver na criança sua capacidade de raciocínio, no intuito de viverem sua infância, a fim de serem capazes de diferenciarem o mundo infantil do mundo adulto. É importante que o educador entenda que todas as experiências vividas entre criança e adulto/educador, ou seja, troca de experiências, deverão ser mediadas e não impostas. O educador deve trabalhar a infância da criança, sua cultura e não meramente incorporar nelas, suas ações levando-as ao adultocêntrismo. A observação que as crianças fazem, espelhando-se nos adultos levam-nas a adquirirem conhecimentos para mais tarde se tornarem em experiências quando começarem a ingressar no mundo adulto. 3.2 Educação e cultura nos dias atuais A realidade da nossa educação, enquanto formadores de cidadãos, faz parte da realidade vivenciada por educadores que possuem concepções diferentes sobre a cultura, mais propriamente cultura de infância. Os educadores participantes das convivências infantis têm 48 suas consciências voltadas a uma tradição, aonde foram repassadas de geração em geração e isso está diretamente ligada nas diversas realidades e meios sociais, diferentes da realidade de nossas crianças. Cabe esclarecer que todas as informações aprendidas de culturas passadas estão diretamente vivenciadas cotidianamente com as crianças no espaço educacional. Priorizar as interações sociais entre educador/educando e educando/educando é voltar para nosso interior, centrando o olhar para percebê-las como sujeitos ativos no processo pedagógico, cultural e cidadão de direitos nas ações relacionadas às discussões de infância. As influências das culturas infantis no espaço educativo mediam na própria ação/prática do educador, pois ao se programarem para uma tarefa rotineira e até diversificada, no momento em que as crianças acabam inseridas no plano pedagógico. A conversação toma outro rumo e o educador deverá (junto com as crianças) buscar outras fontes instrutivas que não fujam do assunto. Tornar a aula significativa dando relevância às construções surgidas no momento, fazendo da aula uma reciprocidade e troca de idéias. A cultura está enraizada em nossa vida desde que fomos concebidos. De lá para cá, foram se transformando em outras tantas maneiras de se viver. De algum modo, o nome cultura é o nome que se dá às diferentes formas de viver, inventar, acreditar, construir e reconstruir. Fomos crianças, porém seguimos ordens de nossos pais, avós, vivendo da maneira que eles gostariam que vivêssemos; tínhamos idéias, criatividade e opiniões, o que não possuíamos era espaço e nem voz e vez para tanto. Atualmente, a situação se reverteu. Tratar criança hoje não é tratar um ser humano como se fosse um adulto, mas com algumas especificidades que os adultos não têm. É deixar que vivam suas histórias criadas conforme sua imaginação construa suas relações, interpretando seus papéis na vidacotidiana, dignas de serem elas mesmas diante da realidade que nós adultos, muitas vezes gostaríamos que fossem. A criança, já no ato de inventar, recriar, brincar e construir seu espaço, faz acontecer uma interação recíproca com o seu mundo imaginário. O que ela usa no momento, os objetos seja de forma singular ou plural, transpassa naquele momento, todos os seus anseios, desejos, não importando com o que dispõe, mas sim “invade outros mundos”, embora invisível aos nossos olhos, para as crianças, são reais. Somos críticos quanto às crianças serem verdadeiras e puras em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Nesta questão da visão adulta, Nolte & Harris (2003, p. 15) nos colocam: As crianças são como esponjas. Absorvem tudo o que fazemos, tudo o dizemos. Aprendem conosco o tempo todo, mesmo quando não nos damos conta de que 49 estamos ensinando. Assim, quando adotamos um comportamento crítico – reclamando delas, dos outros do mundo em torno de nós -, estamos lhes mostrando como condenar e criticar os outros. Estamos ensinando a ver o que está errado no mundo, e não o que está certo. Alguns pedaços de madeira, algumas latinhas, são transformados em aviões, carrinhos, bonecas, na busca de algo prazeroso e real. Essas transformações estão presentes no mundo. A imaginação das crianças, vão além da realidade, e as idéias por elas projetadas criam suas próprias brincadeiras. A criança precisa interagir com as suas construções para poder dar andamento a outras façanhas. Novas aberturas se expandem na medida que damos espaços, liberdade para conseguirem serem “culturalmente” seres em construção. A cultura oculta por trás das brincadeiras, vai se desencadeando com o passar do tempo. Novas descobertas em querer ir além do imaginário. Toda essa construção histórica avança e oportuniza a criança modos diferentes de viver e ver o mundo. Com isto, as situações imaginárias criadas nas brincadeiras das crianças, lhes permitem operar com a recombinação – reinterpretação – modificação – a partir de elementos da realidade, possibilitando elaborarem seus próprios modos de agirem e de estabelecerem suas relações sociais. Ou seja, criando seus próprios códigos culturais, não resultando apenas num “conformismo de adaptação à cultura, tal como a cultura existe” (BROUGÈRE, 1997, p. 104). No exercício do criar, a imaginação infantil é capaz de transformar, recriar, resignificar a partir do que há no real. Todavia, da mesma maneira que o músico brinca com o som e sua melodia, o dançarino brinca com seu corpo, ao compasso de um determinado ritmo da música. O escritor transforma palavras soltas em grandes lições de vida, a criança vive a cultura que lhe é apresentada pela sociedade de forma imaginária, num processo criativo e cultural. Dessa forma, Wajskop (1999, p.25) sinaliza esta questão da seguinte maneira: A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar, recriar a experiência sócio- cultural dos adultos. 50 3.3 Cultura infantil e práticas educativas Toda brincadeira está enraizada em culturas; as significações adquiridas fazem uma alavanca a sair de um mundo imaginário, para um mundo totalmente específico, com pluralidade de idéias na construção e elaboração de outros campos condizentes com o que a criança vive no momento. Na sua brincadeira, a criança não se contenta em desenvolver comportamentos, mas manipula as imagens, as significações simbólicas que constituem uma parte da impregnação cultural à qual está submetida. Como conseqüência, ela tem acesso a um repertório cultural próprio de uma parcela da civilização [...] (BROUGÈRE, 1995, p. 47) Nessa sucessão de acontecimentos e de convívio no dia-a-dia das Instituições Educacionais, permite-se indagar que, a partir do contato e das interpretações com a cultura que lhes é proporcionada, as crianças reproduzem e criam outras formas de expressões, próprias da infância, incluindo elementos novos a esta cultura, ou seja, agindo como agentes ativos e seres completos no processo de produção cultural. Esse modo de olhar, de revelar o movimento coletivo e criativo, partilhado nas reproduções das culturas infantis, conduz a problematização da necessidade de se repensar a prática nos contextos de educação e cuidado. Então temos claro que são muitos os critérios para se interpretar e observar/conhecer as formas de expressões e manifestações culturais produzidas no contexto das Instituições Educacionais, com isto, alerta-se que muitas outras interpretações podem e devem ser feitas a cerca da cultura infantil, além, do viés das brincadeiras. Portanto, verificamos que as crianças, em contrapartida, ao se apropriarem de elementos do mundo do adulto, os trazem para o universo infantil, atribuem outros significados, inventando suas próprias brincadeiras e formas de brincar, recriando no mundo da ordem do adulto, outra ordem, porém, num tempo e espaço definido por elas, revelando com isto, nas suas interações a existência de uma especificidade no modo de ser criança, defendida aqui, como produção cultural infantil. Mais uma vez, vamos ressaltar que os educadores da infância colocam em suas falas, que criança ou infância é deixá-las viverem, brincarem, etc. Na prática, o que acontece é diferente: os objetivos são totalmente outros – somente se espera no final do dia, os objetivos 51 alcançados. As produções das crianças penduradas no “varal da sala”. Fala-se em trabalhar o lúdico, brincar, o mundo dos sonhos, das fantasias, sendo que no concreto usa-se somente o que manda o plano de aula. Aos olhos dos outros, os educadores trabalham todas as linguagens dos educandos. Percebemos que alguns educadores não priorizam a infância, não querem que as crianças mexam nos brinquedos e principalmente devem ouvir quietas o que eles têm a dizer. Alfabetizar uma criança não é só ensiná-la a ler e escrever, sim mostrar também quantas linguagens, fatos, etc., elas podem conhecer e aprender. Precisamos perceber e trabalhar as culturas das crianças, pois todas as brincadeiras, cantigas, faz-de-conta, interpretações de papéis, fazem parte da alfabetização da criança, e o educador deverá mediar, fazendo do espaço educativo um lugar de aprendizagem e construção de culturas. O educador Infantil, primeiramente deve ser um motivador e mediador da aprendizagem. Ele deve conhecer as teorias do desenvolvimento das crianças. Além, também, respeitar e acreditar nas potencialidades das mesmas, proporcionar um ambiente favorecedor da aprendizagem considerando o ritmo de desenvolvimento da criança. Deve ser alguém que tenha formação, qualificação, mas que também esteja aberto às novas mudanças, que priorize uma educação infantil onde as crianças tornem a questão central neste enfoque. Os objetivos só podem serem atingidos na medida em que as crianças vão produzindo e se interessando nos enunciados ditados pelos educadores. Incluir nos currículos, cultura de infância é abrir espaços para as crianças vivenciarem suas histórias, descobrir outros horizontes e serem capazes de modificarem suas ações, os pensamentos, o seu mundo, enquanto seres em desenvolvimento. Se faz necessário que os educadores valorizem a sua prática educativa, preservando os conhecimentos, os costumes e as sabedorias que as criancas já possuem, como: cantigas, histórias e outros “conhecimentos” que fazem parte do contexto onde vivem, articulando no espaço educativo, juntamente com as outras crianças, buscando sempre a interação entre todos. Uma cultura em que a criança deva ter espaço de ser criança, podendo explorar sua criatividade, sua imaginaçãoatravés de variados meios por ela proposta e também mediados pelo educador. As culturas infantis devem ser prioridades, devendo o educador resgatá-las na medida em que vai sendo trabalhado no coletivo, fazer do espaço educativo um lugar onde a criança sinta prazer e viva suas especificidades, um ambiente em que não sejam podadas, onde não prevaleça à fala do educador. Desta forma então, através da mediação, valorizar as atividades desenvolvidas pelas crianças. 52 As crianças desenvolvem linguagens, entonações em tudo que realizam. Conversam com o seu mundo de maneira eficaz, tendo a segurança de prosseguir sem temer o que virá depois. É com estes resgates de culturas, que as crianças transformam todos os espaços em espaços delas, vivem a vida de forma mais prazerosa. Elas vivendo nas Instituições Educacionais o que de casa trazem. É necessário atrelar outras fontes (invenções, faz-de-conta, brincadeira de roda) nos espaços educativos e com a prática educativa despertar nas crianças o interesse em formar no coletivo a construção de novas histórias. Deixar o livre arbítrio para que as diferentes formas de expressão se comuniquem. Respeitando-se a cultura de infância, tem como finalidade importantíssima para a formação da personalidade da criança - a educação em todos os contextos em que ela se encontra (sociedade, família, costumes, etc.) - atrelando a isso as suas próprias experiências adquiridas no cotidiano e transformadas e mediadas gradativamente pelo educador no espaço educativo. A Educação Infantil tem por finalidade a educação integral da criança e o seu pleno desenvolvimento, seja em casa ou em Instituições Educacionais específicas, transcedendo assim, o mero “cuidar” ditado pelo senso comum ao longo da história. É necessário também, ter clareza dos objetivos, tendo em vista que desde cedo a criança passa a apropriar-se de valores, informações e referências para a sua vida, bem como, dar oportunidade para as crianças se desenvolverem nas relações com outras crianças através da mediação do professor. A cultura infantil perpassa todos os contextos da Instituição Educacional e a criança possue seus conhecimentos e especificidades próprias. São bagagens culturais que elas vivenciam e praticam no seu dia-a-dia, construindo suas histórias a partir da aprendizagem do pré-estabelecido pelos adultos, o que escutam, vêem e experimentam, abstraem e transformam em várias ações. Na atualidade a finalidade volta-se para dois eixos essenciais na formação e construção do ser criança, e que consistem marco para a sociedade vigente, que é o educar e o cuidar, ou seja, além de fazer o papel assistencial, a Instituição Educacional, ainda prioriza a instrução (educação). A Instituição Educacional facilita o papel da educação, que seria construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter , levando o educando a ser crítico e construir seu caminho. Mas uma criticidade voltada para o prazer de construir sua história de vida, sentindo o prrazer de fazer parte desta historicidade cultural. É preciso na prática educativa valorizar a cultura de infância, mas se faz necessário todo um conhecimento da realidade da criança para fazer acontecer no coletivo novas aprendizagens, crescimento para a vida das mesmas. A finalidade da Instituição Educacional é 53 articular esta Cultura de Infância com a prática, envolvendo todos os aspectos vigentes proporcionando à criança, viver de forma a aprender a apreender, descobrir e construir seu mundo, tendo como base a mediação do adulto/educador. De fato, tudo isso implica na formação de opiniões, mas dentro do contexto educativo para a formação da personalidade, na construção cultural. Esse jogo de idéias nos leva a compreender alguns processos do aprender, é cheio de significações e a criança se expressa usando a linguagem corporal, gestual, etc. Deixar o corpo falar é um caminho (gestos, expressões faciais, movimento). Sobre isso Dias (1999, p. 176) nos coloca: Contribuir para a formação da sensibilidade das crianças significa incentivar e criar oportunidades para que elas se expressem, ampliem e enriqueçam suas experiências, aumentando suas possibilidades de interlocução e o entendimento da realidade que as cerca. [...] Segundo Forquin (1993), afetividade e inteligência enfatizam que o principal objetivo da educação seria criar homens capazes de inventar coisas novas e não apenas meros repetidores daquilo que outras gerações fizeram. A meta seria formar homens criativos, inventivos e descobridores. Nesse sentido, estudar a cultura significa interpretá-la, e ater-se aos dados coletados de forma densa, propicia à aproximação mais fidedigna4 possível da realidade investigada. Falando em cultura infantil não podemos deixar de citar sobre o brincar como manifestação primordial da infância. Desde as brincadeiras e os jogos de papéis que as crianças fazem e o modo de interpretação que seguem, fazem do seu mundo um outro espaço, no qual transformam-no em objetivos concretos o que estão vivendo. Quando brincamos, relembramos nosso lado criança, nos faz bem. As crianças se tornam felizes quando brincam e podem ser elas mesmas sem interferência do mundo adulto. Suas capacidades e responsabilidades ficam sérias, quando repassadas dentro dos limites que exigimos. Esses limites não podem ser impostos e nem autoritários, por que vem de certa forma bloquear as crianças no desenvolvimento e construções de suas culturas. Observamos que as brincadeiras inventadas pelas crianças passaram a ser palco de grandes descobertas. Pois, à medida que se percebe certa sensibilidade das crianças para expressarem suas produções culturais durante as brincadeiras, devemos incentivá-las 4 Toda criança em sua cultura específica, mostra uma realidade capacitada de mudanças e crescimento na sua especificidade como um ser pensante, digno de credibilidade, esperança enquanto cidadão em evolução. 54 possibilitando momentos ricos de observações de suas expressões culturais. Em um sentido mais amplo pode-se dizer que as crianças atribuem novos significados e deixam a sua marca nos elementos culturais no ato de brincar. Essa atitude composta possibilita à criança experimentar os diferentes papéis articulados na construção da brincadeira. ”Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência da realidade, ao mesmo tempo em que já vive uma possibilidade de modificá-la”. (WAJSKOP, 1999, p. 33) O educador deve ser exatamente isto: um educador, ou seja, alguém com sensibilidade e conhecimento suficientes para compreender o espírito infantil, para compreender e agir segundo as reais necessidades das crianças. Alguém que participe ativamente, com amor e comprometimento nesta etapa fascinante do desenvolvimento humano. Essa sensibilidade está imersa no respeito entre as crianças, no valor enquanto seres humanos, e o modo de viverem de cada uma. Mas é preciso que o educador sempre trabalhe esses aspectos para que gradativamente a criança possa ir construindo um mundo melhor. O educador é uma peça fundamental na vida das crianças, por isso é necessário que o mesmo se coloque no lugar das crianças, podendo então compreender os sentimentos de seus educandos. O educador precisa se transportar para o mundo das crianças, a fim de entender o quão importante é construir no desenvolvimento infantil e valorizar as culturas infantis, e não o mundo adulto. Conforme Pereira & Souza apud Kramer & Leite(1998, p. 40): Quando um adulto fala da infância geralmente se reporta à experiência do outro, e dificilmente se reconhece nessa história, como se a criança que habita o adulto já não encontrasse palavras para dar conta dessa experiência esquecida. O diálogo do adulto com a criança depende, num certo sentido, do diálogo do adulto com o seu passado,com a sua infância. [...] A partir dos conhecimentos advindos da família, o educador deverá mediar e abrir novo espaço educativo a fim de proporcionar às crianças novas maneiras de se relacionar com o mundo interno e externo. As brincadeiras fazem parte da cultura das crianças, inovando ou recriando elas transformam o mundo mais perfeito e mais diversificado. Também colhem do meio social fora do espaço educativo toda uma gama de informações e vão gradativamente construindo novas histórias. A educação infantil tem papel importante no desenvolvimento humano e social. A 55 prioridade das Instituições Educacionais é alavancar os conhecimentos e aprendizagens das crianças quanto a sua cultura de infância. Embasado nisso, a prática educativa do educador é levar em conta as diferentes culturas e fazer uma concordância com a real situação existente, desatando os nós do preconceito, atingindo outro viés para novas aquisições de valores e o acesso e permanência na sociedade colocando suas expressões e opiniões. Segundo Buffa (1996), também em termos qualitativos o trabalho realizado nas Instituições Educacionais ainda não é democrático: muitos têm apenas caráter assistencial ou sanitário, que são importantes, mas não substituem a dimensão educativa, social e cultural, cruciais para favorecer o desenvolvimento das crianças e seu direito de cidadania. A educação infantil como espaço de socialização e convivência, que assegura cuidado e educação da criança, não é ainda realidade em muitas das Instituições de Educação Infantis brasileiras. Respeitar a cultura na Educação Infantil, é fazer o resgate dos antepassados, repassando às crianças toda essência de como viviam tempos atrás, fazendo um resgate juntamente com elas para serem conhecedoras da realidade onde vivem. Segundo Wajskop (1995), através da experiência, as crianças vivem momentos de reflexão como lócus importante para transformar gradativamente a sua realidade. As crianças vivem sua infância a cada instante, a cada ação, vivem a sua maneira, a seu modo, sendo transparente consigo mesmo e com os outros. Elas aprendem, ensinam e modificam a cultura. O brincar como especificidade infantil, faz parte da cultura infantil. Brincando, a criança cria outros vínculos com mundos diferentes, nos quais as “invenções” que usarão nas brincadeiras mudam toda uma estrutura já preestabelecia até então. Diante de tudo isso, nas palavras de Brougère (1995, p. 42): O brinquedo pode ser uma reprodução da realidade, mas trata-se de uma realidade selecionada, isolada e, na maior parte das vezes, adaptada e modificada nem que seja pelo seu tamanho. Certos universos de objetos e de seres são desse modo, privilegiados como o universo doméstico (em particular para os brinquedos destinados às meninas), o universo do automóvel, do transporte (para os meninos), certos aspectos do mundo natural (animais), certas épocas do passado, etc. [...] Hoje as brincadeiras estão mescladas num mesmo universo, no mesmo espaço. As culturas infantis acontecem tanto no feminino, quanto no masculino, existindo um entrosamento 56 recíproco. As construções culturais, as histórias sociais se modificam, são reconstruídas sem distinção de gênero, mas os objetivos devem ser direcionados com o propósito de visar às aprendizagens mútuas autonomia e respeito fazendo da brincadeira um espaço cultural e construtivo. Podemos refletir que: A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um mundo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos. (WAJSKOP 1999, p. 25) Através da cultura, acontece socialização, interação com grupos sociais e formação de suas identidades. Para a criança, o mundo que era objetivo começa a se apresentar de forma diferente; aonde vai gradativamente se modificando em um mundo subjetivo. Nossos objetivos devem ser de priorizar a importância das culturas infantis com os educadores em sua prática educativa. A realidade objetiva passa a ser realidade subjetiva. Vários são os fatores culturais que acontecem no espaço educativo e o processo das várias diversidades culturais, constituindo modos de organização no mundo infantil, que voluntariamente ou involuntariamente interfere na vida da criança, pois as relações sociais ocorrem na família. Em que a base do conhecimento é o alicerce primordial para uma vida mais segura na participação mais ampla no meio. Significa que criança irá internalizando, apropriando-se da realidade subjetiva na sua formação psíquica, que lhe possibilitará sua ação do mundo, construindo outros cenários culturais que estão sempre inacabados. A prática educativa tem como função, levar até as crianças um pouco mais de ação e reflexão diante de suas práticas culturais. Avaliando os seus modos de viver, hábitos, costumes, crenças..., sem que tudo isso interfira em sua vida como que dizendo, o que você aprendeu está errado. Mas ressaltando a grande valia da sua participação nas relações que envolvam novas culturas num contexto global. Enfim, a prática educativa, dentro do espaço educacional, consiste em ouvir as crianças em suas opiniões e expressões, envolvendo suas relações culturais. 57 Falar em construção de cultura de infância nos fez perceber muitos pontos culminantes em relação à cultura, desmistificando certos entrelaços5 presos e abarrotados por preconceitos e informações repassadas a nós informalmente; quebrando paradigmas, envolvendo-nos a novas situações de entendimento e dinamismo diante das várias construções culturais. Analisamos que no espaço educativo os educadores compreendem a importância de priorizar a cultura infantil, porém nas relações criança/educador e na prática educativa, não se observa tal ação concreta e presente no dia-a-dia. Torna-se necessário por parte destes não só a compreensão como a concretização de todos os significados da construção cultural infantil. A atual conjuntura moderna requer muitos olhares voltados as nossas crianças, não só no sentido de educação, mas uma educação que envolva todos os fatores de sua vida: responsabilidade, compromisso, cidadania e uma educação ampla, envolvendo os espaços educativos numa caminhada de liberdade de expressão, criticidade e preparação para vida. Querendo ou não, a construção cultural está dentro de nossas Instituições Educacionais onde as crianças representam seus diferentes papéis fazendo-nos perceber que cada vez mais são necessários enfoques que abordem as especificidades dentro de um contexto sócio-cultural. Ampliando a visão de mundo, aprofundando em debates a reflexão sobre opiniões, dignidade e individualidade dos educadores e crianças. Todos os educadores vivem momentos de transição na educação, por isso é preciso que se trabalhem todos os conceitos de culturas, os métodos que usam a fim de resgatar as várias culturas presentes nas Instituições Educacionais. E, mediações que o educador deverá fazer para relacionar as formas culturais com o dia-a-dia das crianças nas Instituições Educacionais. Precisamos refletir que o assunto cultura infantil está presente nas Instituições Educacionais e que discuti-las no contexto educativo é fazer um paralelo entre o interno e o externo, priorizando a cultura infantil e não apenas a cultura adulta. Que os educadores saibam entender e interpretar as manifestações de culturas em suas crianças. Saibam, acima de tudo, ouvir para depois encaminhá-las para as descobertas, sem que haja distorções dos fatos e conseqüentemente, que possam 5 Compreender a criança na sua totalidade, desfazendo os nós que aprisionam em suas característicascomo seres ímpares na construção de suas histórias culturais – como atores principais, dando voz e vez para suas expressões, interpretações na vida de todas as pessoas. Fonte:http://www.pca.org.br/guia_do_voluntario .php 58 compreender melhor as novas concepções de culturas sob novos olhares. Nossa prática educativa precisa ser resignificada com outros olhares para o resgate das culturas infantis. Para refletir... Brincadeiras esquecidas Amarelinha, chicote queimado, Roda pião, esconde-esconde, Bola de gude, pega-pega, Cantigas de roda, cabra cega... Você não sabe? Não aprendeu? Pobre criança de hoje, Trancada na sala Pra ver tevê... (Extraído de “Sonhos de criança”, Belo Horizonte: Nova Safra; Blumenau: FURB, 1988) Qual a sua opinião sobre o que a autora quis dizer quando escreveu: “pobre criança de hoje...”? _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _______________________________ Curiosidade... Bonecas, carrinhos, urso de pelúcia, videogame… Os brinquedos existem há milhares de anos. É claro que não eram Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Brinquedo 59 fabricados por indústrias, mas eram feitos à mão, usando panos, madeiras, ossos, louça. Entre antigos brinquedos, guardados hoje em museus, estão às bonecas de madeiras, de barro cozido, de pedra ou metal. Também as miniaturas de mesas, cadeiras e jarras eram brinquedos apreciados pelas crianças. Alguns brinquedos de hoje não eram brinquedos antigamente. A perna- de-pau era usada para atravessar lugares alagados, e o urso de pelúcia era almofada para alfinetes. (Informações extraídas da “Folhinha”, SP, 2/11/91) O que as crianças hoje, nos transmitem, na questão do brincar, baseado no texto acima? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Crianças brincando de esconde-esconde em pintura do século XIX http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIX 60 _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Dê a sua opinião sobre infância vivida e infância inventada: ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ A infância é etapa fundamental para que possamos incutir hábitos culturais que irão acompanhar nossas crianças, durante toda a sua vida escolar e, posteriormente, também em sua experiência familiar, profissional e emocional. Isso é corrente entre especialistas em Fonte:http://www.pca.org.br/guia_do_voluntario.php 61 educação, que estão diretamente relacionados com a formação das crianças, devem usar todas as ferramentas disponíveis para que seus alunos desenvolvam ao máximo suas potencialidades. É primordial que, entre as ferramentas legadas as crianças durante sua fase inicial de estudos, se consolide a leitura. Isso só pode ser feito se as crianças tiverem contato freqüente e prazeroso com recursos que estimulem sua curiosidade, despertem sua criatividade, informem divertindo e permitam certa interação. Nesse aspecto a utilização dos livros, contação de histórias, pesquisar, descobrir novas fontes que estimulem o prazer de conhecer outras formas culturais, são valiosas aprendizagens para as crianças, que as levarão a ter uma vida digna de conhecimentos, amadurecimento de sua personalidade. Instigar as crianças é montar estratégias através das quais as crianças contem as histórias, releiam os textos, troquem revistinhas, ganhem novos exemplares, desenhem, pintem, dramatizem e tantas outras possibilidades, é decisivo. Fonte: http://www.qdivertido.com.br/cronicas.php 62 Reflita... Fonte:“Sonhos de criança”, Belo Horizonte: Nova Safra; Blumenau: FURB, 1988. 63 Baseado no texto acima analise a seguinte questão: A realidade educacional está voltada para a emancipação do ser humano ou para a sua escravização, diante de tanta complexidade? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ________________________ “[...] A educação desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.” (Adaptado de Antônio Cândido) 64 4 RECORDANDO A INFÂNCIA Quem não se lembra da sua infância, das travessuras sadias, das brigas... sem conseqüências maiores, mas... Com um entendimento, que levava a um único objetivo: fazer acontecer a brincadeira... Uma cultura “quase” esquecida... Construía-se carretilha para se descer do morro em alta velocidade, brincava-se de Tarzan (filme da TV) nos cipós da mata, nadava em rios e banhava-se nas cachoeiras... Os domingos eram saborosos: eram programados oito dias antes. Tinham o sabor da espera: ora colhia-se araticum, ora contava quantos ninhos de passarinhos se achava. Para as meninas, bonecas de panos, confeccionados pelas mães, tias e avós, carrinhos de madeira... Os carrinhos eram construídos. Todos os brinquedos possuíam detalhes, que só a imaginação conhecia... Meninos e meninas, riam, rolavam na grama, conversavam sobre o futuro, das paixões secretas, dos segredos escondidos, sem pensar, se um dia iriam sofrer... As meninas brincavam de casinha, meninos jogavambola e quando ambos os grupos se juntavam, as brincadeiras, os brinquedos e a infância tinham o gosto gostoso de aventura. Ficavam cansadas, mas adormeciam satisfeitas por terem explorado mundos distantes. Dragões, feras e bicho papão, eram derrubados, enchendo suas vidas de heroísmo e alegria. Capazes de enfrentar qualquer desafio formavam seus grupos, defendiam-se, organizavam-se, e ali aconteciam suas próprias crenças, mitos e sonhos... Construíam suas culturas; tinham opiniões individuais, mas com objetivos em comum: brincar, criar brincadeiras, brinquedos. Cada um interpretava seus papéis no jogo teatral da vida... Fonte: http://products.austriantrade.org/listobj.php?p=57&sec=122 9&l=de&inf=7063&idl=pt 65 Se havia criança depressiva não se sabia frustrada pela rigidez das famílias, não se tinha conhecimento, tudo isso, porque não se tinha tempo para deixar a “cabeça vazia”, o mais importante era viver o tempo de criança. A infância era construída, reconstruída a cada experiência trocada, caminhos trilhados e vivenciados. Esperança que brotava d’alma enchendo os olhos de brilho, de expectativa, como se jamais fossem crescer... Eram jogos culturais, que estavam presentes nas famílias, aperfeiçoando-se com o passar do tempo. As crianças aprendiam a ser elas mesmas, viajavam no tempo com as histórias contadas, e cada uma delas relatadas e as crianças colocavam a cabeça para funcionar, onde uma aventura acontecia... a imaginação fluía. Se pensarmos em infância, como um marco da nossa vida, sendo também fonte de energia para um futuro cheio de novas esperanças. Voltadas para um mundo melhor, sendo a criança que alavanca nossos sonhos e desejos de recomeçar, porque então esconder de nossas crianças as brincadeiras que estão guardadas no sótão das nossas lembranças? Brinquedos e ROCHA, Denise M. da Produzindo leitura e escrita, Curitiba: Braga, 93. 66 brincadeiras que em épocas passadas deixavam as crianças satisfeitas? Temos o anseio de ver nossas crianças (hoje) felizes? Enfim, era uma infância incomparavelmente diferente da infância contemporânea, pois não era tempo de consumo e de massificação dos valores. Mas ao contrário, era a vivência dos acontecimentos cotidianos com uma intensidade que o tempo não apagava da lembrança. As crianças se transformavam em seres únicos, formadores de inesquecíveis histórias culturais. As memórias eram vivas e com um processo de constituição subjetiva, expressando-se e valorizando cada etapa, que ia ganhando contornos a partir do encontro com pessoas e coisas que permearam a vida de infância. Lembrar a infância é fazer um resgate para reviver nossa criança interior. É contemplar o presente aperfeiçoando o futuro: nossas crianças fazem parte dele. 4.1 História do brinquedo Fonte: http://www.monica.com.br/revistas/brincade/rolima.htm 67 O brinquedo faz parte de nossa vida à longa data, por isso, somos descendentes de gerações que tinha o brinquedo como um grande valor cultural. Ao nascermos recebemos nosso primeiro brinquedo e começamos a aprender a brincar. À medida que crescemos vamos aumentando nossa relação com ele, objeto fundamental para a formação da nossa personalidade. Interagimos com ele como se fosse nossa própria proteção; fazia parte de nossa existência para nos proteger sendo um grande amigo com quem conversar e acima de tudo confiar. É nessa fase que damos vida a seres inanimados e os incorporamos às nossas próprias vidas. Quem não se lembra com carinho daquela boneca ou carrinho? Eles de fato faziam parte do nosso mundo, interagiam conosco, mesmo que não possuíssem bateria ou movimento. Nossa imaginação cuidava de tudo. E é na imaginação que os brinquedos atuam, preparando as pessoas para uma vida toda que virá pela frente. Por meio deles, transpomos barreiras de tempo e espaço. Somos capazes de ser o que sonhamos por isso eles se tornaram únicos, reservando espaço em nossos corações e mentes. Alguns filósofos garantem que brincar é à base da cultura de um povo. Dá-se a partir desta construção a base que toda criança precisa para a socialização e interação com o meio. Para todos, educadores da infância, que estão envolvidos dia-a-dia com o brincar, sabem que brinquedo é coisa séria. O fascinante elo entre o mundo do faz-de-conta e a vida real recebe, com o resgate da infância, um aliado de peso, num terreno nem sempre fértil de divulgação da infância. Muitas mudanças ocorreram e as nossas crianças passaram a conhecer uma infância mais forçada, mais precoce, perante aos novos parâmetros indicadores que norteiam a vida infantil. Ao conhecer esse universo mágico, descobrimos que o brinquedo é muito mais que entretenimento. É acima de tudo, um processo cultural que forma, amplia e estabelece valores. A criança ao brincar viaja no tempo de sua imaginação, e recria outras novas formas de reinventar o prazer de viver; o brinquedo age como espelho da sociedade, e partindo da sua aprendizagem, ela associa o presente com o futuro. A criança está inserida numa sociedade, que vem sofrendo transições, mas que retrata usos, costumes, moda, tecnologia através do brinquedo/brincadeira, de um período, como um corte radiografado no tempo. É uma transformação que nós 68 educadores devemos sempre fazer um paralelo, para informar às crianças da importância do brincar para o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas. Feliz da nação que percebe quão importante é o respeito pela criança e a importância do brincar. Pois é brincando que a criança amadurece, realiza seus sonhos, extravasa seus medos, imita os pais e o mundo adulto, testando seus limites. E feliz a nação que sempre utiliza o brinquedo ou a brincadeira, como instrumento de ação e de educação, pois ao brincar, as crianças, criam seu mundo –invisível - onde o desconhecido é vencido pela imaginação. A história do brinquedo é tão antiga quanto à história do homem. Muitos brinquedos que temos hoje nasceram nas grandes civilizações antigas e boa parte deles permanece inalterada ao longo dos tempos (exemplos): # Do Egito, herdamos o jogo-da-velha e as bolinhas de gude; # Da China, o dominó, os cata-ventos e as pipas; # Da Grécia e de Roma, pernas-de-pau e marionetes. A viagem pela história dos brinquedos nos permite percorrer culturas, estilos, modos de vida, regras sociais, utilização de materiais, ferramentas e relações pessoais. Uma história recheada de curiosidades, inventores criativos, brinquedos que fazem sucesso e fábricas que lutam para se aperfeiçoar. 4.2 Segurança do brinquedo No Brasil, todo brinquedo comercializado deve ter o selo do Inmetro. Para isso ele vai passar pelo Instituto da Qualidade do Brinquedo e de Artigos Infantis (IQB), pelo Instituto Falcão Bauer da Qualidade Fonte: http://www.cienciahoje.pt/mod/loja/index.php? op=detail&list=2&id=14648 69 (IFBQ) ou pelo Instituto Brasileiro de Certificação (IBC). Esses institutos analisam se o brinquedo está dentro das normas de qualidade: se o material não é tóxico, se não têm peças que a criança possa engolir, etc. Outra recomendação importante: ao darmos um brinquedo a uma criança, precisamos sempre tirá-lo da embalagem para verificação das peças. Cabe às indústrias seguir as normas para produzir brinquedos seguros e imprimir as recomendações de uso na embalagem, assim como cabe aos responsáveis pela criança seguir as instruções e vigiar a brincadeira. Isso porque, mesmo o brinquedo tendo o selo do Inmetro, alguns problemas podem ocorrer como um irmão menor que pode ter acesso a um brinquedo que não é próprio para sua idade. Foi criada no Brasil, a Abrinq - Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos, fundada em São Paulo, no dia 2 de julho de 1985 para cuidar e defender os interesses do setor.A Fundação Abrinq pelos direitos da criança nasceu em 1990, com o objetivo de promover os direitos e exercícios da cidadania da criança e do adolescente. Conforme a Convenção Internacional dos Direitos da Criança (ONU, 1989), a Constituição Brasileira (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente. (1990). Algumas datas e autores de alguns brinquedos: 1902 - O imigrante russo Morris Michtom fabricou os primeiros ursos de pelúcia. Há versões que dizem que, antes dele, a alemã Margaret Steiff já fazia animaizinhos de feltro; 1935 - O norte-americano Charles B. Darrow inventou o Banco Imobiliário; 1949 - Na Dinamarca, o marceneiro Olé Kirk Christiansen desenvolveu as peças de encaixe que compunham o Lego; 1956 - O autorama, uma minipista de corrida com carrinhos movidos a pilha, foi lançado na Inglaterra; 1959 - A norte-americana Ruth Handler criou a Barbie, uma das bonecas mais famosas da história. O primeiro modelo vinha com um maiô listrado; 70 1965 - Surgiram os primeiros skates produzidos industrialmente. O brinquedo foi criado pelos surfistas californianos, nos Estados Unidos, como forma alternativa de diversão para os dias em que o mar estava de ressaca; 1972 - Quatro alunos da Escola Politécnica de São Paulo elaboraram uma versão nacional de um jogo de estratégia de guerra europeu, o War; 1974 – Metall ware infabrik Georg Branstatter, uma fabricante alemã de telefones e caixas registradoras, lançou o Playmobil, um brinquedo com kits temáticos de bonecos feitos com um novo tipo de plástico (mais resistente e lavável); 1978 - Chegou ao Brasil o Genius, um jogo eletrônico de memória criado nos Estados Unidos; 1996 - O Tamagochi, um bichinho de estimação eletrônico, foi criado no Japão. O desenhista Kazuki Takahashi desenvolveu um jogo de cartas com monstros chamados Yu-Gi- Oh; 4.3 A criança e a cultura no papel moderno Sabemos que atualmente a infância de nossas crianças é marcada pelas novas brincadeiras de Power-Rangers, meninas superpoderosas, Hello Kitty, músicas do RBD, entre outras. Não podemos esquecer a Tiazinha, homem-aranha, etc. Com tudo isso, e mais um pouco, vem se formando uma nova cultura, transformando a criança em uma criança enveredada ao consumo dos brinquedos, prontos inseridos no mundo dos adultos. Em que muitas vezes, como compensação, os próprios adultos preferem preencher o mundo das crianças, viciando-as a uma cultura sistematizada, devido ao corre-corre das agendas cheias, dos compromissos. Apesar de muitas e muitas vezes nos depararmos com situações que requerem ponderação antes de agirmos, precisamos reconhecer nas crianças um emaranhado de inteligências e capacidades, que poderão nos ensinar muitas coisas. As brincadeiras infantis têm 71 muito de construção de culturas, e é relevante fazer uma ponte que liga a educação nas Instituições Educativas com o que está acontecendo, com as novas formas culturais das nossas crianças. Não precisamos “queimar” as etapas da infância em prol disso, mas sim mediarmos às verdadeiras funções do brincar perante as novas realidades. É necessário pensar na Instituição Educacional, na qual as crianças com suas diferentes culturas possam criar e recriarem brincadeiras. Inventar e imaginar de como fazer para a brincadeira acontecer. É preciso pensar que a Instituição Educacional, fundamenta sua atuação na abordagem centrada na criança, como uma concepção humanística de educação, que todo ser tem uma potencialidade natural para aprender, mas esta aprendizagem só será significativa se o indivíduo perceber o conteúdo como importante para seus objetivos. Dentro deste enfoque temos o educador como facilitador da aprendizagem, convencido de que a eficácia de sua ação depende fundamentalmente do grau de sua própria autenticidade, aceitando o grupo de crianças como é, colocando-se à disposição deste e proporcionando condições para que construam o seu próprio desenvolvimento. A criança deve ser respeitada como pessoa que é. Partindo do princípio de que a criança é o centro da ação educativa, o planejamento inicia-se a partir de um tema que surge das vivências e interesses da criança. A escolha de um tema cultural parte do contexto familiar e social, onde a criança está inserida, portanto, é considerada a bagagem sociocultural que a criança traz. A infância está sendo (quase) roubada de nossas “crianças modernas”, mas ainda a tempo de construirmos juntos, uma infância melhor, buscando aquilo que se perdeu. Resgatar as brincadeiras, os jogos do faz-de-conta, o contar histórias, os brinquedos, ouvir as interpretações das crianças no palco de suas vidas, para fazer uma conexão da imagem que temos das mesmas. As linguagens que as crianças traduzem de suas realidades, são na verdade o que elas absorvem no cotidiano do espaço familiar, educacional e social. Fazem seus Fonte:http://www.canalkids.com.br/central/arquivo/ar t_greguinhos.htm 72 jogos em forma de brincadeiras expressando-se da mais pura inocência. A criança depende muito dos adultos para crescer, aprender e socializar-se. As fases de transição que a criança passa, pois como está inserida na vida dos adultos, onde também ocorrem mudanças. E, conseqüentemente a criança está dentro dessas transformações, torna- se importante que nós saibamos levá-las a sério e tenhamos cuidado ao impormos responsabilidades, compromissos, muitas vezes, exigindo dela o que não podem cumprir, “pulando a infância”, todo seu desenvolvimento e descoberta do mundo. A criança poderá receber dos adultos, instruções de limites, regras, mas sem tirar as oportunidades de ser criança, construindo sua personalidade numa "visão de mundo" menos chocante, continuando sua jornada progressiva na construção de sua história. Segundo Jussara Hoffmann: Acompanhar a criança em seu desenvolvimento exige um olhar teórico-reflexivo, sobre seu contexto sócio-cultural e manifestações decorrentes do caráter evolutivo de seu pensamento. Significa respeitá-la em sua individualidade e em suas sucessivas e gradativas conquistas de conhecimento em todas as áreas (2000, p. 8). O novo mundo, na qual ela começa a fazer parte, tem outros significados, símbolos, objetos e caminhos diferentes que, outrora, a criança estava protegida. É sem dúvida, urgente analisar o significado dessas descobertas no próprio contexto da educação infantil, pois, a construção de vida no mundo adulto, requer muito acompanhamento e oportunização ao desenvolvimento máximo de cada criança. A cada aprendizagem descoberta, ela vai fazendo história. História diferente da história do outro. 73 As cantigas de roda ajudam a embalar a infância, a prolongá-la. Dessa forma permitem que nossos meninos e meninas continuem sendo crianças por muito mais tempo... Fonte:http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=538 Assistência se dá à criança sempre que ela precisa do apoio para seu entendimento dentro do processo de evolução. Ela tem dimensões amplas, julgadoras e inquestionáveis, indagações sobre o que ela é ou não capaz de fazer. É nesse embasamento, da interação adulto/criança, que ela vai construindo sua abordagem histórica sociocultural. A concepção da criança diante de tanta complexidade do real, e experiências sobre o meio e das condições que o meio oferece para isso, é que se percebe que a criança é um ser ativo. Construindo história, impulsionado pelos adultos sobre a ação existente, isto é, o adulto é o divã da criança: mostramos vários mundos, fases, e a história ela mesma vai construindo e a aprendizagem sendo interiorizada. Segundo Piaget (2000, p. 22): "A criança constrói o conhecimento na sua interação com o objeto, entendido como seu próprio corpo, as coisas, os animais, a natureza, os fenômenos do mundo físico em geral."74 É necessário instigar a criança para sempre continuar fazendo história, resgatando e aperfeiçoando o que já adquiriu, e adquirirá. Dessa forma a criança participa ativamente da construção de sua própria cultura e de sua história, construindo conhecimentos e constituindo sua identidade a partir de relações interpessoais. A criança está envolvida nos mais variados prismas e com isso, a interação com os novos compromissos reais, perdeu-se um pouco, por que não dizer muito, da verdadeira infância. Aspectos considerados fundamentais no processo de desenvolvimento da criança como as brincadeiras tradicionais, foram gradativamente perdendo seu espaço. As crianças são de enorme importância para resgate da cultura dos povos, valorizando a interação entre os membros, pelo sentido de que elas dependem da ação e interação dos outros para acontecer e se desenvolver. É justamente por este motivo, que se faz necessário uma maior abertura de tempo disponível para que as brincadeiras aconteçam. É perfeitamente notável que as formas, maneiras em que as crianças brincam são totalmente competitivas, ressaltando a guerra, a violência, tudo para vencer. Grande parte das brincadeiras atuais está girando neste sentido, deve-se a forte influência que a mídia (TV) exerce na vida das famílias, atingindo principalmente as crianças, que assistem aos programas e acham tudo natural, normal, pelo fato de que assim lhe é transmitido. As crianças incorporam isso como verdade e acabam assumindo posturas extremamente radicais nas brincadeiras que realizam. É de extrema urgência um repensar em nossas práticas pedagógicas, pois com elas podemos possibilitar uma visão diferenciada do padrão dominante impregnado na sociedade atual. Criar oportunidade aos educandos é sem sombras de dúvidas, uma tarefa de todo educador que se preocupa com o desenvolvimento físico, emocional e intelectual de seus educandos. Por que nestas, é possível encontrar uma bagagem na qual, muitos ensinamentos podem ser aprendidos por quem dela, participa. Incentivar brincadeiras tradicionais nas Instituições Educacionais é um passo fundamental na conquista dos objetivos propostos por um educador que realmente preocupa-se com as ações humanas, pois é a base que dá sustentação ao todo do indivíduo. 75 A nova cultura moderna dos brinquedos e brincadeiras que acontecem no cotidiano das instituições infantis ou fora delas, exige dos educadores um olhar voltado para novos fazeres pedagógicos, isto é, dar importância a todos os aspectos que envolvem a criança – social, emocional, familiar aprendizagem, etc. Instituindo nelas esta nova realidade, porém dando a elas a oportunidade de acontecer, criando suas próprias histórias, interpretando e buscando descobrir por si as novas descobertas deste “mundo em construção”. As crianças têm seus traços – suas raízes – atrelados a famílias tradicionais, por mais que a modernidade se faz presente, a essência cultural popular fica com as conexões de família para família. E esse resgate, por vezes, pouco presente à realidade das crianças do nosso tempo, com toda sua historicidade, as brincadeiras tradicionais infantis, ainda é um meio de modificar algumas concepções de “modernidade” que vem sendo incutida nas crianças. Considerando como parte da cultura popular, as brincadeiras/brinquedos tradicionais são transmitidas de geração em geração preservando sua estrutura inicial, facilitam o conhecimento espontâneo sobre os elementos do ambiente. O papel educativo das brincadeiras é exatamente esse, quando desenvolvido livremente pela criança, tem efeitos positivos na esfera cognitiva, social e moral. Do ponto de vista histórico, a análise dos brinquedos/brincadeiras, é feito a partir da imagem da criança presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que mantêm com personagens do seu mundo. Tudo isso permite compreender melhor o cotidiano infantil – é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do brincar. Todo ser humano tem seu cotidiano marcado pela heterogeneidade e pela presença de valores hierárquicos que dão sentido às imagens culturais de cada época. Segundo Heller (1989, p. 16-17): [...] O homem participa da vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nele, colocam-se em funcionamento todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias, ideologias. 76 4.4 Jogo, brinquedo e brincadeira No Brasil, termos como jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta, demonstrando um nível baixo de conceituação deste campo. Brinquedo é outro termo indispensável para compreender esse campo. Diferindo do jogo, o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Admite-se que o brinquedo representa certas realidades. Uma representação é algo presente no lugar de algo6. Representar é corresponder a alguma coisa e permite sua evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetivos reais, para que possa manipulá-los. Os brinquedos podem incorporar também um imaginário preexistente criado pelos desenhos animados, seriados televisivos, mundo de ficção científica com motores e robôs, mundo encantado dos contos de fadas, histórias de piratas, índios e bandidos. Ao representar realidades imaginárias, os brinquedos expressam, preferencialmente, personagens sob forma de bonecos, como manequins articulados ou super-heróis, mistos de homens, máquinas, monstros. O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do objeto lúdico. No caso da criança, o imaginário varia conforme a idade, integrando predominantemente elementos da realidade. Por tais razões, o brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com representações veiculadas pela memória e imaginação. O vocábulo “brinquedo” não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira. É estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. E a 6 Construção de novas oportunidades, interagindo com o objeto real dos brinquedos e brincadeiras a partir do que se já tem conhecimento. A criança inventa e reinventa situações novas. 77 brincadeira? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Desta forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. Falando um pouco sobre o jogo infantil, alguns pedagogos e psicólogos, estão de acordo que os jogos Infantis, são atividades físicas e mentais que favorecem tanto o desenvolvimento pessoal como a sociabilidade, de forma integral e harmoniosa. A criança evolui com o jogo e o jogo da criança vai evoluindo quando representa (o jogo) seu papel na integração com brinquedo/brincadeira, criando individualmente suas várias encenações para um melhor aprofundamento de sua cognição de aprendizagem. Independente de época, cultura e classe social, os jogos e os brinquedos/brincadeiras estão imersos na vida das crianças, pois elas vivem num mundo de fantasia, onde se transportam para qualquer lugar, imaginam cenas, vivem diversos personagens, fazendoacontecer sua própria realidade(Kishimoto, 1999). O jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo. Apesar de o jogo ser uma atividade espontânea nas crianças, isso não significa que o professor não necessite ter uma atitude ativa sobre ela, inclusive, uma atitude de observação que lhe permitirá conhecer muito sobre as crianças com que trabalha. É imprescindível que o educador saiba também interpretar o que as crianças estão representando nas suas brincadeiras com seus brinquedos, para poder avaliá-las em todo o seu desenvolvimento. Sejam nas afetividades com colegas, seus sentimentos, suas angústias, seus anseios, nas suas histórias de mundo imaginário de “novas” culturas ligadas direta ou indiretamente nas suas construções ligadas ao mundo moderno. Claparéde (1956), procurando conceituar pedagogicamente a brincadeira, recorre à psicologia da criança, embebida de influências da biologia e do romantismo. Para o autor, o jogo Fonte: http://www.eb1-sede-2.rcts.pt/actividades.htm 78 infantil desempenha papel importante como o motor do autodesenvolvimento e em conseqüência, método natural de educação e instrumento de desenvolvimento. É pela brincadeira e imitação que se dará o desenvolvimento natural como postula a psicologia e a pedagogia do escolanovismo7. Piaget (1978, 1977) adota, em partes, o referencial escolanovista, ao dar destaque à imitação, que participa de processos de acomodação, na forma de assimilação. Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma conceituação específica. Entendida como ação assimiladora, a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, adotada de características metafóricas como espontâneas, prazerosas, semelhantes às do romantismo e da biologia. Ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não na estrutura cognitiva, Piaget distingue a construção de estruturas mentais da aquisição de conhecimentos. A compreensão das brincadeiras e a recuperação do sentido lúdico de cada povo dependem do modo de vida de cada agrupamento humano, em seu tempo e espaço. Daí emerge a imagem que se faz da criança, seus valores, costumes e brincadeiras. 4.5 Relação educador/educando na educação infantil e o desenvolvimento humano Ouvimos falar, repetidamente, que estamos vivendo uma crise de valores. E realmente estamos. Quando a impunidade parece ser a lei maior, quando entre o “certo” e o “errado” parece não mais haver fronteiras, é comum, é humano vermos educadores se questionando: vale à pena continuarmos nossa luta? E educar nossas crianças segundo as regras da honestidade e da honradez? Haverá algum jeito de mudar essa situação? O que podemos fazer para que nossas crianças sejam cidadãos honrados e cumpridores de deveres e direitos? 7 O ideário da Escola Nova veio para contrapor o que era considerado “tradicional”. Os seus defensores lutavam por diferenciar- se das práticas pedagógicas anteriores. No fim do século XIX, muitas das mudanças que seriam afirmadas como originais pelo “escolanovismo” da década de 20, já eram levantadas e colocadas em prática. 79 A criança necessita de ambiente material e social adequado, capaz de estimular o pleno desenvolvimento. São indispensáveis recursos humanos (educadores) qualificados, em todos os níveis, bem como, o trabalho de estimulação essencial ao desenvolvimento. Pois a estimulação essencial é como um conjunto de aspectos que concorrem para o desenvolvimento global da criança, não se limitando a um grupo de atividades ministrado por um adulto, em determinada sala ou horário. O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, a educação a qual está submetida e o conjunto de relações sociais que mantêm com personagens do seu mundo, tudo isto permite compreender melhor o cotidiano que se forma a imagem da criança e seu brincar. E é nesse cotidiano, que nós educadores temos o dever de estarmos inseridos, para permitir a construção de diferentes tipos de imagens da criança, conforme o contexto social ao qual a criança está submetida, e neste contexto, o brincar aparece como elemento indispensável para educar a criança. Desde Froebel, o criador do jardim de infância, a relevância da brincadeira é apontada ora pela ação livre e espontânea da criança ora pela ação orientada pelo educador como um fator importante para a educação infantil. No desenvolvimento das crianças, é evidente a transição de uma forma para outra através do jogo, que é a imaginação em ação. A criança precisa de tempo e de espaço para trabalhar a construção do real pelo exercício da fantasia. Infelizmente nossas crianças, na maioria das escolas, recebem regras prontas, não significativas. Elas devem aceitá-las para poder se transformar num “bom adulto”. E o mesmo acontece com os educadores. As relações na escola estão congeladas e os conhecimentos ritualizados. Existe um abismo entre o jogo metafórico e a aprendizagem mecanicista8. A força da manipulação autoritária faz sombra à força da vida instintiva da criança e à possibilidade de construção do conhecimento significativo. No entanto, o jogo está presente na escola quer o educador permita quer não. Mas é um jogo de regras marcadas, predeterminadas em que a única ação permitida à criança é a obediência, ou melhor, a submissão. Por isso, é preciso resgatar o direito da criança a uma educação que respeite seu processo de construção do pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens expressivas do jogo, do desenho e da música. 8 “Ato ou efeito de tornar sempre nas mesmas “coisas”, transformando as ações em algo mecânico, programado”. 80 As idéias e as ações que as crianças adquirem provêm do mundo social em que vive, incluindo a família e o seu círculo de relacionamento, o currículo apresentado pela escola, as idéias discutidas em classe, os materiais e os pares. O conteúdo das representações simbólicas recebe, geralmente, grande influência do currículo e dos professores. Os conteúdos veiculados durante as brincadeiras infantis bem como os temas de brincadeiras, os materiais para brincar, as oportunidades para interações sociais e o tempo disponível são todos os fatores que dependem basicamente do currículo proposto pela escola. Normalmente, a criança precisa de tempo para elaborar as idéias que encontra. Esse fator é bastante negligenciado pela maioria das escolas que privilegiam as atividades individuais orientadas. É importante perceber a Instituição de Educação Infantil como um espaço de animação cultural, onde jogos livres, escolhidos pelas crianças, possam colaborar com o cultivo do corpo. Entretanto, não é essa a realidade que predomina nas Instituições de Educação Infantil. É necessária a conscientização da importância de conciliar a tarefa de educar com a necessidade irresistível de brincar. Assim surge o jogo educativo, metade jogo e metade educação, como uma forma de instrução, um importante recurso para ensinar que o educador poderá fazer uso e ao mesmo tempo um fim em si mesmo, para a criança que quer brincar. http://pipocaecompanhia.blogs.sapo.pt/arquivo/escola3.jpg 81 4.6 Brincadeiras tradicionais infantis e o seu papel na formação da cidadania Sabe-se que a brincadeira tradicional é transmitida pela oralidade infantil e seus conteúdos provêm dos tempos passados, de fragmentos de contos, mitos, práticas religiosas e culturais abandonadas pelos adultos. Há brincadeiras muito antigas que provavelmente derivam de objetos de culto e dá margem para a criança desenvolver a sua fantasia. Há outras brincadeiras, simplesmente impostas pelos adultos enquanto a expressão da criança se mostra com um sentimentode nostalgia. Nas brincadeiras tradicionais infantis, existe uma relação harmoniosa entre todos os jogadores, e essa relação é fundamental para que a criança desde pequena aprenda a necessidade do companheirismo, da ajuda, do desafio. Fonte: http://uei2005.blogs.sapo.pt/arquivo/10444 46.html 82 Em uma sociedade como a nossa capitalista, onde se perdeu o direito de partilha, as brincadeiras tradicionais infantis resgatam os valores que a criança ocupa num contesto social. São esses valores que orientam a elaboração de um banco de imagens culturais, que se refletem nas concepções e formação da criança e possibilita a percepção total da criança em seus aspectos motor, afetivo, social ou moral. Percebemos que hoje, o processo de industrialização e urbanização roubou o espaço das brincadeiras. Nesse contexto, é importante enfatizar o crescimento das ciências da educação, porém, apontar para a importância do jogo, brinquedos e brincadeiras, que são primordiais no desenvolvimento da criança. O jogo tradicional infantil é um tipo de jogo livre, espontâneo no qual a criança brinca pelo prazer de fazer. Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da criança, o jogo tradicional infantil tem um fim em si mesmo e preenche a necessidade de jogar da criança. Tais brincadeiras acompanham a dinâmica da vida social permitindo alterações e criação de novos jogos e brincadeiras. Desde tempos passados, os jogos tradicionais infantis fazem parte da cultura infantil. Estudos atuais mostram a necessidade de incorporar as concepções de criança e de jogo na análise dos jogos tradicionais infantis. É pelo jogo e brincadeiras, que a criança se revela. As suas inclinações boas ou más, a sua vocação, as suas habilidades, o seu caráter, tudo que ela traz no seu eu em formação, torna-se visível pelos jogos e pelos brinquedos que ela executa. A criança se habilita, na medida em que seus conhecimentos buscam um aperfeiçoamento, com intenção de mudar, transformar, criar e recriar seu mundo; um ser em construção, capaz de interagir com o meio. A criança faz sua história. Faz o seu mundo ficar colorido, viaja, interpreta, molda seus percursos, vais e vem buscando sempre fazer do jogo e da brincadeira a mola propulsora para a aquisição de novos horizontes... 83 Fonte: jrjuniao@uol. jrjuniao@uol.com.br com.br A criança faz sua cultura. Inventa faz sua história... Entra e sai da sua própria realidade... Cultiva sua identidade de infância... Revive os momentos e os transforma em outros; realiza, fazendo acontecer os sonhos em ações reais... Interpretam vários papéis e cada qual com especificidades diferenciadas. Vive e revive e socializa sua inocência, sem se importar com o mundo adulto. Criança faz e desfaz. É única, ímpar. Infância só faz bem. 84 REFERÊNCIAS AGUIAR, Carmen Maria. Educação, Cultura e Criança. 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