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Kamilla Galiza / 5º Período Objetivos 1. Identificar a etiologia e os fatores de risco para as complicações crônicas da diabetes (CED); 2. Compreender a fisiopatologia e as manifestações clínicas das CCD; 3. Discorrer sobre o diagnóstico e as condutas terapêuticas das CD; 4. Caracterizar a função da APS nas orientações e prevenção das CCD; Retinopatia diabética É uma das oftalmopatias do diabetes, trata-se de uma doença própria da retina causada por distúrbios metabólicos, vasculares e neurológicos inerentes do diabetes. Além da retinopatia diabética (RD), o diabetes também pode causar catarata e glaucoma, mas a retinopatia continua sendo a principal causa de cegueira prevenível nesses pacientes. Estima-se que haja em torno de 5,5 milhões de brasileiros com a doença da retina em progressão, e aproximadamente 250 mil cegos. Fatores de risco • Tempo de evolução da doença: é o principal fator, mais importante inclusive que o descontrole da doença de base. Dessa maneira, um paciente diabético extremamente descontrolado, mas com apenas 3 anos de doença, dificilmente terá retinopatia; em contraste com um diabético há 15 anos com bom controle que muito provavelmente tem doença retiniana. Segundo o estudo WEDRS, a forma não proliferativa (RDNP) está presente em aproximadamente 13% dos indivíduos com DM1 após 5 anos do diagnóstico com aumento para 80% aos 15 anos de doença. É estimado que 100% dos diabéticos há 20 anos têm algum grau de retinopatia. A forma proliferativa (RDP) é rara até os 10 de diagnosticado o diabetes, mas pode chegar a 50% aos 20 anos de doença. No DM2, a RDNP está presente em até 40% dos casos com até 5 anos de doença, mas a partir dos 5 anos a chance vai aumentando de 53 até 84% aos 20 anos. Já a RDP está presente em 5% dos pacientes com 5 anos de diagnóstico do diabetes, podendo chegar a mais de 50% aos 20 anos de doença. • Nível glicêmico: o controle glicêmico retarda (não cura nem para) a evolução da doença. • Controle metabólico inadequado • Outros fatores adjuvantes são: idade, hipertensão arterial sistêmica, nefropatia, dislipidemia, gravidez e genética. A HAS e a dislipidemia funcionam de maneira semelhante ao controle glicêmico: o controle desses parâmetros por si só não para o desenvolvimento da RD, mas podem diminuir sua progressão. Quanto à gravidez, há um risco relativo 2-3 vezes maior da progressão da RD em uma paciente previamente diabética que engravidou. E na genética já se conhece alguns genes que predispõem a uma progressão mais rápida para doença retiniana, o HLA-DR fenótipo 4/0, 3/0 e XX. Medicamentos que alteram o curso Várias medicações já foram consideradas como capazes de alterar o curso da retinopatia, mas sabe- se atualmente que nenhuma delas impede a progressão para doença de retina, embora sejam capazes de melhorar ou piorar o quadro. A aspirina (AAS) aumenta o risco geral, sendo relacionada com maior risco TTO: INT CONV Início do estudo INT CONV Final do estudo 1 de hemorragias. Os inibidores da proteína quinase C – ruboxistaurina – apresentaram alguns benefícios, mas também possuem várias complicações que impedem seu uso. A rosiglitazona embora seja capaz de retardar o início da doença também causa retenção de água e sódio no interstício de todo o corpo, incluindo na camada Diabetes complicações crônicas Kamilla Galiza / 5º Período plexiforme externa da retina que atua como seu interstício. Como essa camada está mais presente na mácula, o edema que acaba se acumulando causa diminuição da acuidade visual do paciente e, por isso, essa medicação foi abandonada. Classificação A RD é dividida em duas formas principais: não proliferativa e proliferativa, nomeadas pela ausência ou presença de novos vasos sanguíneos anormais que emanam da retina. Retinopatia não proliferativa RD não proliferativa (RDNP) consiste em uma exibição variável de infartos da camada de fibras nervosas (manchas de algodão), hemorragias intra-retinianas e exsudatos duros e anormalidades microvasculares (incluindo microaneurismas, vasos ocluídos e vasos dilatados ou tortuosos) principalmente na mácula e retina posterior. A perda visual na RDNP ocorre principalmente pelo desenvolvimento de edema macular (EM). Figura 1. Fotografia colorida de fundo de olho de retinopatia diabética não proliferativa mostrando hemorragias retinianas, exsudatos lipídicos amarelos e manchas algodonosas esbranquiçadas (infartos da camada de fibras nervosas). Retinopatia proliferativa RD proliferativa (PDR) é marcada pela presença de neovascularização decorrente do disco e/ou vasos retinianos e as consequências dessa neovascularização, incluindo hemorragia pré- retiniana e vítrea, fibrose subsequente e descolamento de retina por tração. A RDP pode desenvolver-se no contexto de alterações não proliferativas graves prévias ou coexistentes ou pode surgir sem RDNP substancial. A perda visual na RDP pode ocorrer de forma aguda se o sangramento dos vasos anormais no vítreo bloquear o caminho da luz para a retina; no entanto, o sangue é frequentemente reabsorvido e a visão clareia espontaneamente. A perda de visão mais permanente pode ocorrer por descolamento de retina, isquemia da mácula ou combinações desses fatores. Figura 2. Fotografia colorida de fundo de olho de retinopatia diabética proliferativa exibindo neovascularização proeminente no disco (NVD). Figura 3. Fotografia colorida de fundo de olho de retinopatia diabética proliferativa exibindo grave neovascularização ao longo da arcada superior (NVE). Patogênese Princípios gerais O desenvolvimento e a progressão da RD são causados principalmente pelos efeitos danosos nos tecidos da hiperglicemia crônica que resulta em uma interação complexa de múltiplos mecanismos, que causam duas alterações básicas dentro dos vasos retinianos: permeabilidade anormal e oclusão com isquemia e subsequente neovascularização. As contribuições relativas de diferentes mecanismos variam em importância em diferentes estágios da retinopatia e podem variar entre os indivíduos. • As vias bioquímicas (glicação, proteína quinase C e vias de poliol) e alterações na função neuronal e fluxo sanguíneo da retina são particularmente importantes durante a doença inicial, mesmo antes do desenvolvimento de microaneurismas ou outros achados clinicamente visíveis. • Fatores de angiogênese, como fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e fator de Kamilla Galiza / 5º Período crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), são mais propensos a serem importantes mais tarde no curso da doença, imediatamente antes e durante o desenvolvimento de RD proliferativa ou macular diabética edema. Figura 4. NO: óxido nítrico; PGI2: prostaciclina; VEGF: fator de crescimento endotelial vascular; TGF-beta: fator de crescimento transformante-beta; AGEs: produtos finais de glicação avançada; PIGF: fator de crescimento da placenta; PEDF: fator derivado do epitélio pigmentar. Diferenças na suscetibilidade genética aos efeitos da hiperglicemia na retina podem existir entre pessoas em diferentes estágios da doença diabética. Isso pode resultar em variações inter e intra-individuais nas respostas bioquímicas ou fisiológicas à hiperglicemia e pode existir entre pessoas em diferentes estágios da doença diabética. Essa variabilidade pode explicar por que alguns pacientes com diabetes têm retinopatia mínima, apesar de anos de hiperglicemia grave, enquanto em outros, a retinopatia grave se desenvolve em um curto período, apesar do controle glicêmico relativamente bom. Hiperglicemia crônica Estado de hiperglicemia crônica resulta em alterações estruturais, funcionais e bioquímicas que alteram o metabolismo celular, o fluxo sanguíneo retiniano e a competência capilar retiniana. Os dados que suportam esses mecanismos referem-se principalmenteà indução de lesão retiniana. Doenças retinianas mais avançadas, incluindo alterações vasculares proliferativas e neovascularização no contexto de isquemia retiniana, podem ser mediadas por outros mecanismos, como a ação do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) e do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Além disso, esse processo mostrou ser influenciado tanto por determinantes genéticos da suscetibilidade individual quanto por fatores aceleradores independentes, como a hipertensão. Alterações anatômicas estruturais da retina: Alterações estruturais clássicas relacionadas ao diabetes na retina incluem a perda de pericitos retinianos, espessamento da membrana basal capilar e saídas das paredes capilares chamadas microaneurismas. Essas alterações anatômicas podem levar ao fechamento de capilares e arteríolas retinianas, resultando em isquemia retiniana e ruptura da barreira hematorretiniana, aumentando a permeabilidade vascular e, posteriormente, edema retiniano. Mais tarde na doença, devido ao desenvolvimento progressivo de isquemia retiniana, há proliferação de novos vasos, crescimento de tecido fibroso e contração da proliferação vítrea e fibrosa, levando à tração e descolamento subsequentes da retina. Microtrombose retiniana: A ocorrência de microtrombose retiniana leva à oclusão dos capilares retinianos e vazamento capilar. O aumento da adesão de leucócitos ao endotélio vascular da retina é uma das primeiras alterações observadas na retina antes do início da RD clinicamente detectável e pode estar envolvida no aumento da permeabilidade vascular. A perda da integridade endotelial leva à isquemia retiniana, com subsequente liberação de fatores de crescimento, como IGF-1, fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), fator de crescimento de fibroblastos (FGF) e VEGF. Fluxo sanguíneo retiniano alterado: A hiperglicemia crônica pode aumentar o fluxo sanguíneo retiniano. O fluxo sanguíneo retiniano é autorregulado e permanece constante até que a pressão arterial média seja elevada aproximadamente 40% acima da linha de base. Na presença de hiperglicemia crônica, esse mecanismo autorregulatório fica prejudicado. O consequente aumento do fluxo sanguíneo retiniano devido à hiperglicemia e à perda dos mecanismos autorregulatórios causa aumento do estresse de cisalhamento nos vasos sanguíneos retinianos, o que pode ser um estímulo para a produção de substâncias vasoativas, vazamento vascular e aumento do acúmulo de líquido nas camadas externas da retina. na retina, resultando em edema macular. Alterações neurovasculares da retina: O bom funcionamento da retina depende de uma complexa interação de fotorreceptores e neurônios que transferem o sinal eletroquímico para o cérebro com suporte da glia e do tecido vascular. Esta função neuronal depende de uma interação complexa de células da retina que inclui a formação de uma Kamilla Galiza / 5º Período barreira hemato-retiniana. O diagnóstico clínico de RD é tipicamente caracterizado por anormalidades vasculares retinianas, mas déficits neurais podem ocorrer precocemente na doença. Alterações neurossensoriais foram detectadas antes do início da retinopatia observável por eletrorretinografia (ERG). Os achados iniciais de ERG relacionados ao diabetes incluem amplitudes de onda b diminuídas e alterações no potencial oscilatório que incluem amplitudes reduzidas e atrasos nos tempos de pico. As alterações eletrofisiológicas ocorrem precocemente no diabetes e podem potencialmente predizer doença proliferativa que leva a alterações degenerativas e comprometimento visual significativo. Sorbitol: A glicose que entra nas células é parcialmente metabolizada em sorbitol através da enzima aldose redutase; O sorbitol é então metabolizado em frutose, um processo relativamente lento. O papel da produção e acúmulo de sorbitol na patogênese da RD é incerto. A observação de que um polimorfismo próximo ao sítio de transcrição do gene da aldose redutase está associado ao início precoce da retinopatia em alguns pacientes com diabetes tipo 2 é compatível com um potencial papel patogênico para essa via. A utilização de NADPH durante a produção de sorbitol pode levar a uma mudança nos níveis de NADPH-para-NADP e estresse oxidativo, e o acúmulo subsequente de sorbitol pode resultar em atividade alterada de Na/K-ATPase, metabolismo prejudicado de fosfatidilinositol, aumento da produção de prostaglandinas e alterações na atividade das isoformas da proteína quinase C. A proteína quinase C é importante na patogênese da retinopatia porque pode mediar a atividade do VEGF, bem como regular a permeabilidade vascular, e pode causar o acúmulo adicional de sorbitol. O acúmulo de sorbitol nas células do cristalino é mais pronunciado com hiperglicemia crônica. Isso leva a um aumento na osmolalidade intracelular (que causa movimento de água para dentro das células e inchaço das células) e a uma diminuição do mioinositol intracelular, os quais podem interferir no metabolismo celular. O acúmulo de sorbitol também pode ser importante na formação de catarata induzida por hiperglicemia porque o inchaço das células da fibra do cristalino pode levar à sua ruptura. Figura 5. Representação esquemática das vias de síntese e metabolismo do sorbitol. A hiperglicemia está associada ao aumento da glicose celular em determinados tecidos, como os nervos periféricos e a retina, levando ao acúmulo de sorbitol. O aumento da osmolalidade celular, a diminuição do mioinositol celular e talvez outros fatores possam contribuir para a lesão tecidual. Produtos finais de glicação avançada: Na hiperglicemia crônica, parte do excesso de glicose se combina com aminoácidos livres ou proteínas séricas ou teciduais. Este processo não enzimático inicialmente forma produtos reversíveis de glicação precoce e posteriormente irreversíveis produtos finais de glicação avançada (AGEs) por meio de um rearranjo de Amador. As concentrações séricas de AGEs são altas em pacientes com diabetes, uma alteração que pode levar ao acúmulo tecidual de AGEs, que podem se cruzar com o colágeno, iniciando assim complicações microvasculares. O acúmulo de AGE também tem sido implicado na formação de catarata. Além disso, a interação entre os AGEs e seu receptor (RAGE) gera espécies reativas de oxigênio e, posteriormente, inflamação vascular. Espécies reativas de oxigênio têm se mostrado elevadas no líquido vítreo de pacientes com retinopatia diabética proliferativa (RDP), com uma correlação entre níveis crescentes de espécies reativas de oxigênio e RDP mais avançada. Há também evidências de que a inibição do sistema renina-angiotensina com um bloqueador do receptor de angiotensina II (BRA) in vitro pode inibir reações inflamatórias evocadas por AGE em células endoteliais, suprimindo a geração de espécies reativas de oxigênio. Manifestações clinicas A grande maioria dos pacientes que desenvolvem RD não apresenta sintomas até os estágios mais avançados (quando pode ser tarde demais para um tratamento eficaz). Os pacientes podem apresentar alguns sintomas dependendo do tipo de problema ocular (por exemplo, queda de cortina com sangramento vítreo, moscas volantes durante a resolução de sangramentos vítreos e diminuição da acuidade visual que não pode ser corrigida com refração no cenário de edema macular. Kamilla Galiza / 5º Período Características oftalmológicas Os pericitos da retina e as células endoteliais microvasculares são perdidos em um estágio muito precoce do diabetes. O espessamento da membrana basal da retina é outra alteração precoce na RD, um achado semelhante ao observado nos glomérulos. A morte de pericitos e células microvasculares da retina e o comprometimento da função da membrana basal estão associados à formação de microaneurismas capilares da retina e permeabilidade vascular excessiva. Microaneurismas(evoluções hipercelulares de capilares retinianos com paredes enfraquecidas devido, em parte, à perda de pericitos) e o vazamento de material lipídico e proteico (exsudatos "duros") são os sinais clínicos iniciais da RD. Neovascularização O estágio inicial de morte celular e aumento da permeabilidade capilar pode ser seguido por ciclos de renovação e posterior morte celular, levando à obliteração microvascular progressiva e lesão isquêmica com a subsequente liberação de fatores vasoproliferativos (como fator de crescimento endotelial vascular [VEGF], eritropoietina, e muitos outros) na área isquêmica da retina. Esses fatores difusíveis incitam o desenvolvimento de novos vasos (neovascularização) dos vasos retinianos adjacentes em uma tentativa abortada de revascularizar o tecido doente. Este processo está associado às seguintes alterações clínicas: • A proliferação intraluminal de células, bem como alterações na função plaquetária, agregação de eritrócitos e altas concentrações de fibrinogênio no plasma, resultam em oclusão e ruptura vascular. Isso pode causar pequenas hemorragias em forma de chama e manchas proximais à oclusão e infartos intra-retinianos ("algodão" ou "exsudatos moles") distais à oclusão. Figura 6. Manchas algodonosas são indicativas de isquemia retiniana. O diagnóstico diferencial inclui diabetes, hipertensão, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) e as alterações vasculares retinianas do lúpus eritematoso sistêmico • A proliferação das células endoteliais das veias da retina resulta em mudanças marcantes no calibre das veias com formação de alças tortuosas. Figura 7. Retinopatia diabética, mostrando alterações irregulares no calibre venoso, tortuosidade dos vasos sanguíneos e proliferação de redes de novos vasos frágeis, surgindo tanto de artérias quanto de veias (setas). • A isquemia mais grave resulta em vasoproliferação com formação de novos vasos (neovascularização ou RD proliferativa [PDR]). Espessamento e edema da retina O vazamento capilar está associado ao espessamento e edema da retina. Se o tratamento não for iniciado, pode ocorrer perda da acuidade visual se ocorrer próximo à mácula (ME). ME pode se desenvolver em todos os estágios da retinopatia. Geralmente se apresenta com o início gradual de embaçamento da visão de perto e de longe em pacientes que têm outras evidências de doença ocular microvascular, como microaneurismas perimaculares. Redução da acuidade visual: edema macular Escotoma relativo central: edema macular Escotoma flutuante: hemorragia vítrea Escotoma fixo: descolamento de retina Diagnostico • Um exame médico dos olhos • Angiografia por fluoresceína • Fotografias em cores e tomografia de coerência óptica Tratamento O oftalmologista poderá sugerir um ou mais métodos terapêuticos com objetivo de reduzir a perda de visão do paciente (ou cegueira) ou na tentativa de melhorar a sua acuidade visual. Fotocongulação a laser Kamilla Galiza / 5º Período Técnica indicada em casos de RD não proliferativa muito severa, RD proliferativa e maculopatia diabética. • Principais, dentre outros, aspectos considerados para a adoção desse tratamento. • Efeitos colaterais: redução do campo visual e alteração na adaptação claro/escuro. Farmacomodulação com antiangiogênico Técnica padrão-ouro utilizada no tratamento do EMD e também é utilizada no tratamento da RD em algumas situações específicas. Principal efeito adverso é a ocorrência de infecção ocular, dentre outros menos frequentes. Implante intravítreo de polímero farmacológico de liberação controlada Esse implante conta com liberação controlada de corticosteroide (dexametasona) e é empregado no tratamento da D quando há presença de edema. Os principais efeitos adversos: aumento da pressão intraocular e formação de catarata. Tratamento cirúrgico Alguns casos graves éindicada a técnica cirúrgica conhecida por vitrectomia via pars plana. • Indicada na RD quando há hemorragia vítrea importante, persistente ou recorrente, descolamentos tracionais da retina ou próximos da região macular, descolamento de retina com defeito retiniano, descolamento de retina misto, membrana epirretiniana, tração vitreomacular ou no nervo óptico entre outras alterações da interface vitreorretiniana. Esses são os métodos mais utilizados e mencionados na literatura e cabe ao oftalmologista avaliar cada situação específica e fazer a escolha junto ao paciente do melhor tratamento possível, respeitando os princípios éticos da medicina. Neuropatia Diabética A neuropatia diabética é uma complicação crônica comum, que afeta mais de 50% das pessoas com diabetes. Atinge grande número de órgãos e sistemas, causando notável morbidade e aumento da mortalidade. Compromete tanto o sistema nervoso somático quanto o autonômico e pode ter uma ampla gama de apresentações e sintomatologias, a depender do órgão acometido. • O risco de neuropatia tem relação estreita com a duração do diabetes e o nível de controle glicêmico. Pode estar presente já no momento do diagnóstico do DM2, inclusive em indivíduos com pré-diabetes e graus discretos de hiperglicemia. No DM1, costuma surgir a partir de 5 anos do início do diabetes. O tipo mais comum é a polineuropatia simétrica distal, também conhecida como polineuropatia sensitivo-motora crônica, com prevalência de 25 a 50% dependendo do método diagnóstico utilizado. Neuropatia hiperglicêmica Geralmente acomete indivíduos com diagnóstico recente de DM e níveis de glicemia muito elevados. Cursa com anormalidades reversíveis da condução nervosa, manifestando, principalmente, hipoestesias e parestesias em extremidades. Trata-se de um distúrbio funcional do nervo, com regressão rápida à normalidade após a melhora do controle glicêmico. Polineuropatia simétrica distal (ou sensitivo-motora crônica) Trata-se da forma mais comum, com prevalência em torno de 25 a 50% dos pacientes com DM; em 10% daqueles com DM2, já está presente no momento do diagnóstico. Cursa com alterações da sensibilidade, com progressão centrípeta, e seus primeiros sintomas são hipoestesia ou parestesia “em bota e luva”. Manifestações clinicas • As primeiras sensações perdidas, em geral, são a térmica e a dolorosa. A propriocepção é a última a ser acometida. A queixa mais comum é dor, principalmente noturna, do tipo queimação ou choque, associada ou não a alodinia e cãibras. As principais manifestações clínicas de comprometimento somático são: • Dormência ou queimação nos membros inferiores; • Formigamento, pontadas, choques, agulhadas em pernas e pés; • Desconforto ou dor ao toque de lençóis e cobertores; • Além de queixas de diminuição ou perda de sensibilidades tátil, térmica ou dolorosa. Evolui, após período variável, para anestesia completa nas extremidades, o que determina (nos pés) a distribuição anormal da pressão, provocando deformidades (artropatia de Charcot), com alto risco de infecção e amputação. Uma forma comum dessa manifestação é o mal perfurante plantar, em que o paciente, por perda da Kamilla Galiza / 5º Período sensibilidade, evolui om lesão necrótica crônica da região plantar dos pés, indolor, de difícil cicatrização. Sintomas motores também podem estar presentes, mas costumam ser mais tardios e leves, atingindo, principalmente, a musculatura intrínseca distal das mãos e dos pés. Diagnóstico O rastreamento é muito importante. A pesquisa de sensibilidade com monofilamento de 10 g, também conhecido como monofilamento de Semmes- Weinstein, deve ser realizada anualmente. Infelizmente, muitos médicos não têm o hábito de examinar os pés de seus pacientes com diabetes regularmente. Também é importante a avaliação dos reflexos tendinosos nos membros inferiores (o primeiro a ser perdido é o aquileu). Diapasão, para avaliar a sensibilidade vibratórianos pés, aparelhos para avaliar a distribuição de pressão na região plantar e eletroneuromiografia podem ser indicados, dependendo da apresentação. Além disso, sempre se deve afastar outras causas comuns de neuropatia: deficiência de vitamina B12, hipotireoidismo, insuficiência renal, neoplasia, alcoolismo, neuropatias compressivas e hepatites virais. Neuropatias autonômicas Envolvem múltiplos órgãos e sistemas, com sintomatologia variada. Provavelmente são subdiagnosticadas, apesar de constituírem importante causa de morbidade, perda de qualidade de vida e mortalidade. Pacientes com neuropatia autonômica (principalmente cardiovascular) apresentam risco 2 vezes maior de isquemia miocárdica silenciosa e morte súbita. Sistema cardiovascular A neuropatia autonômica cardiovascular está presente em 7 a 20% dos pacientes com DM e é, provavelmente, uma causa importante de morte súbita entre pessoas com diabetes. A mortalidade em 5 anos varia de 16 a 53% em portadores de neuropatia cardiovascular reconhecida, sendo mais importante nas fases avançadas. Principais Manifestações Clínicas 1. Regulação anormal de frequência cardíaca: taquicardia em repouso é o primeiro sinal de neuropatia autonômica cardiovascular. Também pode ocorrer falta de variação da frequência cardíaca com exercício ou manobra de Valsalva (intervalo RR fixo ao eletrocardiograma), além de pouca tolerância ao exercício físico; 2. Hipotensão postural: definida como a queda de 20 mmHg na pressão sistólica, ou 10 mmHg na diastólica, após 2 a 5 minutos de posição ortostática (em pé), comparada com a pressão arterial deitada; 3. Denervação do miocárdio: isquemia silenciosa (10 a 15% dos episódios de infarto agudo do miocárdio ocorrem de forma indolor em portadores de neuropatia autonômica cardiovascular); 4. Arritmia cardíacas: taquiarritmias, fibrilação ventricular; 5. Morte súbita: 2 vezes mais comum em portadores de neuropatia autonômica cardiovascular. Alguns testes funcionais podem ser realizados nesses pacientes, como o tilt table para aqueles com importante hipotensão postural sintomática, ou a avaliação da variação do intervalo RR no eletrocardiograma. Medidas simples, como a elevação da cabeceira da cama, evitar mudanças posturais bruscas e o uso de meias elásticas compressivas, podem reduzir os episódios de hipotensão postural. Pacientes com neuropatia cardiovascular devem ser muito bem avaliados antes de iniciar um programa de atividade física, devido ao risco de arritmias e isquemia silenciosa. Trato gastrintestinal Manifesta-se com anormalidades de motilidade, absorção e secreção do aparelho gastrintestinal. Está presente em cerca de 15% das pessoas com diabetes. A neuropatia autonômica gastrintestinal é caracterizada, clinicamente, por 2 problemas principais: 1. Gastroparesia Diabética: Apresenta-se com náuseas, vômitos e plenitude pós-prandiais e outros sintomas dispépticos. 2. Enteropatia Diabética: Os pacientes podem alternar períodos de obstipação e diarreia, esta predominantemente noturna, de caráter explosivo e com vários episódios de evacuações escurecidas. • O aumento da ingesta de fibras alimentares pode ser útil. Aparelho geniturinário Apresenta-se com 2 manifestações principais, relatadas a seguir: Disfunção Erétil Está presente em cerca de 28% dos homens com DM. Costuma ser multifatorial, porém, na maioria, a neuropatia autonômica é o determinante mais importante. Bexiga neurogênica Kamilla Galiza / 5º Período É uma importante causa de infecção urinária de repetição devido à retenção urinária. Os pacientes de vem ser orientados a realizar a manobra de Credé (compressão da bexiga) durante a micção. Pé diabético Pé diabético é definido como úlcera, infecção ou destruição de tecidos moles associadas a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica nos membros inferiores. Assim, uma complicação importante da neuropatia diabética é a úlcera neuropática (mal perfurante plantar), que constitui a principal causa de internação de pessoas com diabetes. De fato, 85% das amputações de membros em pessoas com DM são precedidas por 1 ou mais úlceras nos pés. Úlceras tendem a tornar-se infectadas em pelo menos 50% dos casos. Além disso, pacientes submetidos à amputação apresentam alta mortalidade (50% em 3 anos) em razão das comorbidades frequentemente associadas (nefropatia, neuropatia autonômica, aterosclerose). Figura 8.Mal perfurante plantar. Em 60% dos casos, as úlceras se devem à neuropatia por perda da sensibilidade protetora nos pés, e em 30% à associação de neuropatia e isquemia. • Apenas 10% são causadas, exclusivamente, por isquemia. A insensibilidade é decorrente da lesão das fibras nervosas finas (tipos C e delta) devido à exposição prolongada a hiperglicemia associada a fatores de risco cardiovasculares. Quando as fibras grossas (beta, A-alfa) são comprometidas, ocorre perda da propriocepção, do movimento articular e do feedback da percepção de posição pelos receptores nas pernas e nos pés. Em estágios avançados, ocorrem fraqueza muscular e alterações estruturais dos pés pelo comprometimento motor. Fatores de risco 1. Perda de sensibilidade tátil (detectada pelo monofilamento de 10 g, descrito no item 5.5.2) e dolorosa; 2. Ausência de pulsos pediosos; 3. Calosidades, anidrose, micose, fissuras, locais de alta pressão nas plantas dos pés; 4. Deformidades (artropatia de Charcot); 5. História de úlceras ou amputações prévias; 6. DM de longa duração; 7. Mau controle glicêmico; 8. Tabagismo; 9. Deficiência visual; 10. Doença renal do diabetes – especialmente diálise Medidas para a prevenção de úlceras e infecções 1. Calçados adequados: os calçados devem ter tamanho apropriado e devem ser bem ajustados ao formato e tamanho dos pés, macios, que acolchoem os pés e redistribuam a pressão; pessoas com deformidades dos pés podem precisar de calçados extralargos ou extraprofundos (feitos sob medida); 2. Educação do paciente: os pacientes devem ser orientados quanto ao cuidado apropriado com os pés, inclusive unhas, que devem ser cortadas em linha reta, e à importância do exame diário dos pés por inspeção ou palpação para detecção precoce de quaisquer lesões. Evitar andar descalço. Lavar os pés diariamente e secar bem entre os dedos; 3. Avaliação vascular: pacientes com sintomas de claudicação intermitente, ou com pulsos diminuídos ou ausentes em pés, devem ser prontamente encaminhados para avaliação por cirurgião vascular, para avaliar necessidade de revascularização do membro afetado; 4. Tratamento de comorbidades: fissuras e xerose devem ser tratadas com uso diário de hidratantes para a pele. Onicomicose e micose interdigital devem ser tratadas com antifúngicos. Calos, bolhas, úlceras ou outras lesões devem ser prontamente avaliadas e tratadas por médico (evitar uso de “calicidas” ou emplastros). Áreas de pressão excessiva na planta dos pés devem ter a pressão aliviada pelo uso de órteses; 5. Infecção: o paciente deve ser instruído a procurar o médico imediatamente se notar sinais de infecção, para pronta instituição do tratamento adequado Rastreamento A pesquisa de neuropatia periférica deve ser realizada pelo menos anualmente, usando o monofilamento de 10 g (monofilamento de Semmes-Weinstein), e com Kamilla Galiza / 5º Período exame clínico cuidadoso dos pés no mínimo 1 vez por ano. O monofilamento deve ser aplicado com pressão suficiente para encurvar-se em, pelo menos, 4 locais na região plantar de ambos os pés (hálux e extremidades distais do primeiro, terceiro e quinto metatarsos), perguntando ao paciente se sentiu a pressão nesses locais. Dois erros na percepção da pressão padronizada de 10 g já são suficientes para considerar um teste positivo. Esse teste simples tem sensibilidade próxima de 90% para detecçãode neuropatia com risco de amputação. Os pés devem ser classificados de acordo com sua categoria de risco. Aqueles de maior risco devem ter avaliação mais frequente. Outros exames, como a eletroneuromiografia, podem ser necessários nos casos de dúvida diagnóstica. Na suspeita de insuficiência arterial, pode-se realizar Doppler vascular ou angiografia. índice tornozelo- braço é útil para detectar casos subclínicos de insuficiência vascular crônica nos membros inferiores. Figura 9. Aplicação do monofilamento de 10 g na identificação do pé de risco. Figura 10. Classificação em graus de risco de amputação. Nefropatia diabética A nefropatia diabética (ND) é uma síndrome clínica caracterizada por: • Albuminúria persistente (confirmada em 2 testes com intervalo de 4-6 meses) ou proteinúria: dependendo do estágio. Nas fases iniciais, há uma albuminúria seletiva, depois há uma proteinúria persistente. • Queda progressiva da TFG: pode levar anos, relação com predisposição genética, controle glicêmico. • Pressão arterial elevada • É uma complicação crônica microvascular que leva a Glomeruloesclerose • Está associada tanto ao DM1 como DM2, mas muito mais comum em DM2 pelo maior número de pessoas, porém é na DM1 que é mais fácil de acontecer Etiologia A etiologia ainda não é muito clara - é multifatorial. Hipóteses: • Hiperglicemia • Hiperfiltração glomerular → aumento da perfusão renal → alterações hemodinâmicas: em decorrência da ação de mediadores vasoativos (IGF-1 [insulin like growth factor], Oxido Nítrico, prostaglandinas, VEGF [fator de crescimento endotelial vascular] - espessamento da membrana basal glomerular e proliferação mesangial) • AGES (produtos finais da glicação) → proteínas ou outros elementos, hemoglobina glicada → são caminhos alternativos para metabolização da glicose pela falta de insulina, os produtos desses caminhos são tóxicos → essas toxinas se depositam na membrana basal glomerular. Proteínas que sofrem transformações na sua conformação molecular através da metabolização alternativa da glicemia. Isso acaba produzindo substâncias tóxicas que estimulam a proliferação celular dentro do glomérulo. • Ativação de citocinas (inflamação) • Doença autoimune → Toll-like receptor (TLR, receptor de membrana) e células T reguladoras ® Induzem a formação de citocinas inflamatórias e espécies reativas de oxigênio que contribuem para a piora do DM2 ® A expressão do TLR tem correlação com a obesidade e níveis elevados de glicose ® Contribui com a disfunção pancreática ® Patógenos ativam o TLR: processo infeccioso como desencadeador do DM2 ® A insulina suprime a expressão do TLR ® Novas drogas no tratamento do DM voltadas para o bloqueio do TLR ® *Muitas vezes pensamos apenas na hiperglicemia, mas há outras áreas em estudo que podem explicar o desenvolvimento da nefropatia diabética. • Genética (polimorfismos de gene da ECA; alelo D do gene da ECA) Fisiopatologia • São 3 as alterações histológicas mais importantes na ND: Kamilla Galiza / 5º Período ® Expansão mesangial → induzida pela hiperglicemia. A metabolização alternativa da glicose faz com que produzam substâncias que estimulam a proliferação celular no mesângio. Com a expansão do mesângio, empurro os capilares glomerulares, diminuindo a taxa de filtração glomerular. ® Espessamento da membrana basal glomerular (MBG) → proteínas glicadas ® Esclerose glomerular pela hipertensão intraglomerular → dilatação da arteríola aferente • Os glomérulos e os rins têm tamanho normal ou aumentado e o rim também aumenta de tamanho → Diagnóstico Diferencial de outras patologias renais onde os rins têm tamanho reduzido → Exceção para amiloidose e rins policísticos que possuem rins de tamanho normal ou aumentado. • Fase de hiperfiltração: a nefropatia diabética tem um aumento na taxa de filtração para depois reduzir com o tempo. • A hipertensão tem papel deletério na evolução da ND → controlar hipertensão, glicemia. • Metabolização da glicose por via alternativa: De todas as hipófises relacionadas ao metabolismo alternativo da glicose. Se não tenho insulina de forma crônica (como é a diabetes), toda a glicose/hiperglicemia irá ser resolvida, irei metabolizar a glicose. Posso ter várias vias, tudo são vias alternativas que irei metabolizar a glicose. Pela metabolização da glicose de uma maneira alternativa, começo a produzir substâncias que contribuem de uma certa forma para fazer com que o paciente evolua na nefropatia diabética. Terei neovascularização, síntese do colágeno, altera pH intracelular (quando tenho pH alterado, o metabolismo celular muda), produção de citocinas inflamatórias que prejudica a evolução do paciente do ponto de vista de função renal. Acumulam-se metabólitos nos tecidos renais, nos vasos... proliferação das células mesangiais, síntese da matriz extracelular e esclerose nodular. Ou seja, metabolizar a glicose de uma forma diferente/alternativa gera esses processos degenerativos crônicos da função renal no diabético. Prognóstico • A proteinúria é um preditor de morbimortalidade. • Microalbuminúria está associada a doença coronariana e vascular periférica. • Pacientes com proteinúria, se comparados aos pacientes sem proteinúria, tem risco 40x maior de morte • Doença cardiovascular é a principal causa de morte > relação com níveis de glicose e de glicose pós-prandial • 50% dos pacientes com DM1, após 10 anos do início da proteinúria, estão em diálise. Nos pacientes com DM2, 11%. Referências SHUKLA, Unnati V.; TRIPATHY, Koushik. Diabetic retinopathy. StatPearls [Internet], 2022. Diehl LA, Migliano Porto JNC. Endocrinologia. 1ed. São Paulo: Medcel; 2018. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2015.
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