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Carla Bertelli – 5° Período Consequências Crônicas do DM 1 – Compreender os fatores desencadeantes, fisiopatologia, critérios diagnósticos e manifestações clínicas das complicações crônicas da diabetes (retinopatia, nefropatia, neuropatia e pé-diabético) 2 – Entender o papel da equipe multi no acompanhamento do pé diabético Relacionada a complicações ô . Os mecanismos patogênicos das lesões retinianas, glomerulares e neurais não são bem conhecidos, mas existem hipóteses prováveis. Uma dessas hipóteses é a glicosilação não enzimática irreversível de fatores proteicos plasmáticos e teciduais, os chamados produtos finais de glicosilação avançada. Estes fatores podem se ligar ao colágeno dos vasos, contribuindo para a lesão endotelial da microvasculatura, levando à fragilidade capilar e à obstrução microvascular, pela formação de microtrombos. Outra teoria, aplicada à neuropatia diabética, é a da aldose redutase, enzima que converte a glicose em sorbitol no interior das células. O acúmulo de sorbitol pode ter duas consequências deletérias: o aumento da osmolaridade celular, fazendo a célula inchar; e a depleção do mioinositol celular, substância importante para o seu metabolismo e função. Outros efeitos deletérios que a hiperglicemia de longa data pode causar são: espessamento da membrana basal capilar, proliferação endotelial, aumento dos níveis de diacilglicerol dentro das células, entre outros. A retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira em indivíduos entre 20-74 anos A Retinopatia Diabética (RD) é classificada em RD não proliferativa, RD proliferativa e maculopatia diabética. A RD não proliferativa é dividida em formas muito leve, leve, moderada e grave, esta última chamada de RD pré- proliferativa. Na microcirculação da retina, a hiperglicemia pode contribuir para a perda de pericitos (células de reserva). A perda dessas células, associada à perda de adesão entre as células endoteliais, parece contribuir para a formação de microaneurismas. Essas condições favorecem o desenvolvimento de edema. Ocorre ainda expansão de zonas avasculares entre os capilares que, associadas aos distúrbios da autorregulação vascular, modificam o aporte sanguíneo, levando à instalação de áreas de hipóxia crônica, que, em última análise, contribuem para a proliferação vascular observada na retina – (espessamento da membrana basal do capilar) Os efeitos da hiperglicemia crônica sobre a RD são explicados por diferentes mecanismos bioquímicos, como aumento da atividade da via dos polióis, formação de produtos finais de glicação avançada, estresse oxidativo, ativação da proteinoquinase C (PKC) e aumento de atividade da via da hexosamina. Dislipidemia também foi associada ao surgimento de RD e edema macular. • ô – Contribui para o desenvolvimento e progressão da retinopatia. Evidencias mostram que a deficiência de GH tem efeito protetor contra retinopatia • í – Anormalidades hematológicas presentes na DM (aumento da agregação plaquetária, diminuição da deformidade dos eritrócitos) predispõe alentecimento da circulação sanguínea, dano endotelial e oclusão capilar (isquemia) • – O aumento persistente na glicemia faz com que o excesso de glicose seja metabolizado pela via da aldose redutase em alguns tecidos, levando à conversão do açúcar em álcool – glicose em sorbitol. Os pericitos intramurais dos capilares são afetados pelos níveis altos de sorbitol prejudicando sua autorregulação, predispõe enfraquecimento da estrutura da parede e formação de microaneurismas. Provoca hemorragias retinianas superficiais (vela) e profundas (puntiformes). • – PCK-beta é ativada pela hiperglicemia e está associada a quebra da barreiras hematorretiniana pela ativação de fatores de crescimento vascular • – Mais comum, ocorre devido aumento do diacilglicerol + PCK ativada levando a modificação da permeabilidade e fluxo sanguíneo • ó – Oclusão de capilares retinianos, leva a formação de exsudatos algodonosos. Consequências Crônicas do DM Carla Bertelli – 5° Período • çã – A isquemia retiniana leva à produção de fatores vasoproliferativos que estimulam a formação de novos vasos. Não Proliferativa ou Retinopatia de Fundo – Forma mais frequente. A lesão inicial ocorre no endotélio microvascular retiniana. A parede fica frágil levando à formação de microaneurismas (pontos vermelhos observados na fundoscopia). O aumento da permeabilidade vascular permite o extravasamento de material proteináceo e lipídico em alguns pontos, levando a exsudatos duros. Com a progressão da doença ocorre edema endotelial, descamação de células para o lúmen, proliferação intraluminal, levando obliteração de pequenos vasos. A agregação plaquetária e o sistema de coagulação ativado contribuem para este fenômeno As hemorragias intrarretinianas em chama de vela são decorrentes da rotura de vasos adjacentes à obstrução. Podem surgir pontos de isquemia retiniana, aparecendo como manchas algodonosas A fragilidade venular leva à formação de ‘’veias em rosário’’ Proliferativa Grave ou Pré-Proliferativa – Marcada por múltiplas lesões isquêmicas na retina. Há mais de 20 hemorragias intrarretinianas em cada um dos 4 quadrantes, e/ou veia em rosário em pelo menos 2 quadrantes, e/ou alterações microvasculares retinianas proeminentes em pelo menos 1 quadrante. É decorrente do agravamento da isquemia retiniana, que deriva da oclusão de capilares e de arteríolas. Outras características dessa fase da doença são o aparecimento de alterações venosas marcantes (dilatação intensa, tortuosidade excessiva, aparência em contas de rosário, reduplicação, etc.), agrupamentos de hemorragias, exsudatos moles ou algodonosos e extensas áreas de má perfusão capilar, vistas apenas por angiografia. Os exsudatos moles, ao contrário dos duros, representam áreas de microinfartos retinianos, aparecendo na fundoscopia como áreas esbranquiçadas ou branco- cinzentas, de contornos imprecisos. Proliferativa – Tipo mais grave e ameaçador. diabética. Devido à isquemia retiniana difusa e acentuada, são produzidos fatores locais de crescimento vascular, promovendo uma angiogênese descontrolada. Dentre esses fatores, destacamos o VEGF (fator de crescimento do endotélio vascular), o IGF-1 (fator de crescimento insulina-símile) e o fator de crescimento de fibroblasto básico. A perda de visão ocorre quando a hemorragia atinge o eixo visual. A formação e a fibrose dos neovasos na íris provocam glaucoma agudo. Maculopatia Diabética – Caracteriza-se pelo edema macular reversível (causa mais comum de sintoma visual no diabético), múltiplos exsudatos duros em volta da fóvea ou ainda pela maculopatia isquêmica (caracterizada pela falta de perfusão macular na angiografia, com aumento da zona avascular foveal). As maculopatias são a principais causas de perda da visão central em diabéticos. Fatores de Risco/Desencadeantes – Duração do DM, Controle, HAS, Doença Renal do Diabetes, Gestação, Dislipidemia, Tabagismo, Obesidade, Anemia. Os principais fatores associados ao aparecimento e evolução da RD são o tempo de evolução do DM e o mau controle glicêmico. Carla Bertelli – 5° Período Manifestações Clínicas – Nos estágios iniciais, os pacientes são assintomáticos. Com o progredir da doença, surgem sintomas variados, tais como escotomas, visão embaçada e distorção na imagem Crianças e adolescentes com DM1 devem iniciar a avaliação oftalmológica após a puberdade ou ao completarem 5 anos de doença. Em adultos com DM1, tal procedimento deve ser iniciado após 5 anos de doença.Em pacientes com DM2, a avaliação oftalmológica deve ser realizada imediatamente após o diagnóstico, visto que a doença é muitas vezes diagnosticada com 5 a 10 anos de atraso. Comprometimento glomerular. Sua incidência varia entre 20-40% em ambos os tipos de diabetes mellitus. A nefropatia ou glomerulopatia diabética geralmente se apresenta ao médico com proteinúria manifesta no exame de urina convencional (EAS) ou mais de 300 mg na urina de 24h. Estes pacientes costumam ser assintomáticos do ponto de vista renal, porém, já possuem uma glomerulopatia avançada que leva ao estado de rins terminais em menos de sete anos. Alguns pacientes, antes de evoluírem para insuficiência renal avançada, podem desenvolver proteinúria na faixa nefrótica (> 3,5 g/24h), eventualmente com repercussão clínica (síndrome nefrótica). Diminuição da TFG A glomerulopatia diabética é caracterizada histopatologicamente pelo processo de glomeruloesclerose difusa ou focal (lesão de Kimmelstiel- Wilson, que, embora seja a mais característica da ND, não é a mais comum, nem patognomônica, também podendo ser observada na doença de cadeia leve), associado à expansão do mesângio e ao espessamento da membrana basal. • Hipertrofia e Hiperfiltração glomerular (aumento do rim e hiperfunção) • Espessamento da membrana basal glomerular e expansão mesangial • Microalbuminúria • Nefropatia manifesta-se através de proteinúria franca • Insuficiência renal progressiva • Rim em fase terminal (síndrome urêmica) Na da ND está envolvida a deposição em excesso de proteínas da matriz extracelular nos glomérulos. O fator de crescimento transformador beta (TGF-beta) é um dos principais mediadores do acúmulo de proteínas da matriz extracelular na ND. A manifestação da ND é caracterizada por proteinúria, HAS e perda da função renal (síndrome urêmica). Foi demonstrada a ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona pela hiperglicemia, contribuindo para muitas das alterações patológicas observadas na ND. A angiotensina II parece estar envolvida em muitos processos patológicos da ND, entre eles alterações hemodinâmicas, hipertrofia, acúmulo de matriz extracelular, indução de fatores de crescimento, etc. Diagnóstico – O grande avanço na abordagem precoce está na identificação e tratamento da denominada microalbuminúria. A classificação da DRC leva em consideração os níveis da TFGe (graus 1 a 5) e os valores de albuminúria (A1- A3). Existe a possibilidade de diferentes combinações dessas variáveis, que podem ter impacto no manejo e no prognóstico do paciente, conforme proposto pelo KDIGO Independentemente do estágio de TFGe, o grau de albuminúria se associa com o risco de doença cardiovascular (DCV), progressão da DRC e mortalidade aumentada Carla Bertelli – 5° Período Fatores de Risco/Desencadeantes – Duração da doença, microalbuminúria, mau controle glicêmico, fatores genéticos, HAS, tabagismo, hipercolesterolemia, obstrução urinária, ITU de repetição e uso de drogas nefrotóxicas. As neuropatias diabéticas são as complicações crônicas mais prevalentes do diabetes melito e constituem um grupo de distúrbios heterogêneos que afeta partes diferentes do sistema nervoso. Afeta em maior parte pacientes portadores de DM2. De um modo simples, ND são definidas como “presença de sintomas e/ou sinais de disfunção dos nervos periféricos em indivíduos com DM, após a exclusão de outras causas” Caracteristicamente, a neuropatia periférica instala-se a partir de lesão neural em nervos longos que fazem a inervação dos dedos dos pés e progride de forma proximal. O Consenso de Toronto definiu a ND típica como distúrbio sensitivo-motor, simétrico e dependente do comprimento, decorrente de alterações metabólicas e microvasculares resultantes de exposição à hiperglicemia de longa duração e de distúrbios metabólicos. Formas de Neuropatias Diabéticas: • Rapidamente reversível: neuropatia hiperglicêmica. • Polineuropatia simétrica generalizada: sensitivo- motora crônica, sensitivo-motora aguda e autonômica. • Neuropatias focal e multifocal: cranial, radiculoneuropatia toracolombar, focal de membros, motor proximal (amiotrofia) e neuropatia desmielinizante crônica. Postula-se uma combinação de um efeito metabólico (hiperglicemia, glicação não enzimática, estresse oxidativo, ativação da proteína quinase C, etc.) dependente do acúmulo de sorbitol nos axônios, associado ao comprometimento isquêmico endoneural, devido à lesão microvascular. Os efeitos metabólicos da hiperglicemia crônica associada a estresse oxidativo no desenvolvimento das complicações microvasculares diabéticas estão bem estabelecidos. A hiperglicemia crônica atua no desenvolvimento da lesão e na disfunção neuroaxonal. O excesso intracelular de glicose resulta do fluxo aumentado da via poliol que acarreta aumento de sorbitol e frutose pela maior atividade das enzimas aldose redutase, sorbitol desidrogenase e aumento do estresse oxidativo. A glicólise excessiva sobrecarrega a cadeia de transporte mitocondrial de elétrons, com geração de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio. Há aumento da osmolalidade celular, redução do transportador NADPH, o que também promove estresse oxidativo. O fluxo aumentado da via hexosamina associa- se à lesão inflamatória; excesso de ROS induz alterações intracelulares no retículo endoplasmático e DNA, provocando danos e alterações funcionais da célula nervosa. O óxido nítrico (NO), potente vasodilatador, antagoniza trombose, tem propriedades anti-inflamatórias e pode inibir o crescimento de células do músculo liso vascular e a produção do peptídeo vasoconstritor, a endotelina-1. A disponibilidade de NO está reduzida, uma vez que o superóxido se liga ao NO para formar o oxidante peroxinitrito, diretamente tóxico para as células endoteliais. A membrana basal das células endoteliais, glicosilada, contribui para diminuir a vasodilatação juntamente com o insuficiente NO, além de baixa resposta aos efeitos vasodilatadores da substância P, do peptídeo relacionado com o gene da calcitonina, da bradicinina, da histamina e do polipeptídeo intestinal vasoativo O excesso de glicose aumenta o fluxo da via poliol (que transforma o açúcar em glicose) e aumenta o estresse oxidativo (complementado pela osmolalidade celular e redução do transportador NADPH). A glicólise sobrecarrega a cadeia de transporte mitocondrial de elétrons, formando espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, os quais induzem alterações intracelulares no RE e DNA, provocando danos e alterações funcionais da célula nervosa. Outra via, que possui o fluxo aumentado, é a hexosamina, associada à lesão inflamatória. Além disso, a disponibilidade de NO (fisiologicamente, um vasodilatador e antagonista da trombose, com propriedades anti-inflamatórias) é diminuída devido à ligação do Carla Bertelli – 5° Período superóxido ao NO para formação de oxidante peroxinitrito, diretamente tóxico para as células endoteliais. A membrana basal das células endoteliais, glicosilada, contribui para diminuir a vasodilatação (já reduzida pelo NO), além da baixa reposta aos efeitos vasodilatadores da substância P, do peptídeo relacionado com o gene calcitonina, da bradicinina, da histamina e do polipeptídeo intestinal vasoativo. Produtos finais da glicação (glicose + proteínas) avançada aumento e, ligados ao receptor extracelular, iniciam uma cascata inflamatória por meio de NADPH oxidases e de ativação de macrófagos, com produção de citocinas inflamatórias (IL, TNF-alfa), fatores de crescimento (semelhante à insulina, derivado de plaquetase do nervo), moléculas de adesão intracelular e fatores vasculares, danificando a função biológica das proteínas. Além disso, os produtos finais da glicação interagem com receptores tipo Toll, com RAGE, fator de transcrição NFk-beta e citocinas pró-inflamatórias. Um elevado conteúdo intracelular de glicose também estimula a formação de diacilglicerol, ativando a proteinoquinase C (PKC), cujas isoforma atuam nos nervos e nas artérias epineurais. Fatores de Risco/Desencadeantes – Os fatores de risco para neuropatia diabética ainda não foram plenamente estabelecidos, porém a idade avançada, a duração do DM, suscetibilidade genética, glico/lipotoxicidade, inflamação e estresse oxidativo parecem interferir no curso desta complicação. Manifestações Clínicas í mais prevalente, evolução crônica e relacionada com o tempo de exposição hiperglicêmica, fatores metabólicos e CV. É simétrica, distal e sensitivo- motora. A presença de retinopatia e DRD assegura a etiologia pelo DM. Disautonomias e dor neuropática podem ocorrer ao longo do tempo. í surge em qualquer época do curso do DM, de evolução monofásica ou flutuante, com dor neuropática aguda ou subaguda. Disautonomias são comuns e aventam-se alterações autoimunes. ê í : observada em portadores de diabetes recém- diagnosticados e com mau controle glicêmico. É resultante de anormalidades reversíveis da condução nervosa. Os sintomas de dor em membros inferiores são pronunciados e melhoram com o controle glicêmico. ô é a forma mais comum de neuropatia diabética. Geralmente é insidiosa e pode estar presente ao diagnóstico no diabetes mellitus tipo 2 em até 10% dos pacientes. A importância do diagnóstico se deve às sequelas da neuropatia, que incluem ulceração, artropatia de Charcot e amputação. Os sintomas podem ser dor tipo fisgada, pontada, cãibra, dormência e anestesia. Entre os sinais, está a perda sensorial com distribuição em bota, ascendente, que pode envolver os membros superiores (luva) em um estágio mais avançado. Há ainda diminuição ou perda dos reflexos motores e, em casos mais graves, perda da propriocepção. Frequentemente está associada à neuropatia autonômica distal simpática, caracterizada por pés secos e quentes e presença de calosidade plantar. é um tipo distinto de polineuropatia simétrica que tem início agudo ou subagudo e é caracterizado por sintomas sensoriais. Sintomas como perda de peso, depressão, disfunção erétil, dor em queimação nos pés, hiperestesia grave, dor profunda e dores do tipo choque elétrico podem estar presentes e exacerbarse durante a noite. Essa forma de neuropatia pode surgir após melhora rápida e intensa do controle glicêmico. são mais comuns em portadores de diabetes mellitus tipo 2. As neuropatias focais de membros são, na maioria das vezes, compressivas, como a síndrome do túnel do carpo. Entre os nervos cranianos, os da musculatura ocular extrínseca são os mais envolvidos. Radiculoneuropatias toracolombares podem se apresentar com dor de distribuição em cinta, ocasionalmente com fraqueza nos músculos da parede abdominal. A neuropatia motora proximal (amiotrofia) pode ser uni ou bilateral e apresenta-se com quadro de dor, perda de peso e fraqueza, que pode ter início relativamente agudo ô a polineuropatia desmielinizante crônica ocorre mais frequentemente em portadores de diabetes e deve ser considerada quando uma polineuropatia grave, progressiva e não usual se desenvolve em portadores de diabetes mellitus. Essa forma de neuropatia responde bem ao tratamento com corticosteroide, imunossupressores, plasmaférese e imunoglobulina intravenosa. “infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles do pé associadas a neuropatia e/ou doença arterial nas extremidades dos membros inferiores em pessoas com diabetes melito” Ulcerações em pés de pacientes diabéticos (UPD) precedem mais de 80% das amputações, com piora na qualidade de vida do paciente diante do impacto pessoal e para a família decorrente do tratamento hospitalar Carla Bertelli – 5° Período prolongado, do absenteísmo e da aposentadoria precoce, além de elevado custo para o sistema de saúde. Esses pés com ulcerações em geral mostram-se comprometidos principalmente por isquemia e neuropatia. A associação de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) afeta amplamente os resultados do tratamento do pé diabético em relação à cicatrização de úlceras, amputações de membros inferiores e mortalidade. A DAOP é uma comorbidade causada, principalmente, pela aterosclerose. O pé diabético representa uma das complicações mais devastadoras do diabetes mellitus e envolve infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos, associadas com anormalidades neurológicas e graus variados de doença arterial periférica. O desenvolvimento do pé diabético resulta da integração da neuropatia com a vasculopatia, com ou sem a presença de infecção. A gangrena diabética é multifatorial, contudo tem na neuropatia diabética, na vasculopatia diabética (isquemia) e na disfunção leucocitária (facilitando a ação dos micro- organismos) as suas principais causas. Se conseguimos palpar o pulso pedioso do membro acometido, provavelmente a principal causa desencadeante da lesão não foi vascular, mas, sim, neurológica. A neuropatia diabética tem um papel primordial, pois impede que o paciente note que apareceu uma calosidade ou ferida no pé, que acaba por ulcerar e infectar-se. A neuropatia autonômica contribui pela secura podal (anidrose), predispondo a fissuras ou pequenas rachaduras. A perda da sensibilidade proprioceptiva desestabiliza a musculatura do arco plantar, levando à distribuição de toda a pressão do peso do corpo para apenas uma área, geralmente a região tenar – um local comum de úlcera diabética. A infecção aliada à isquemia distal pode levar à gangrena úmida. Neuropatia periférica: (perda de sensibilidade nas extremidades, fazendo com que pequenos traumas abertos ou fechados passem despercebidos; causados por calçados inadequados ou estresse contínuo repetitivo em superfícies ósseas, que origina calosidades e /ou ulcerações, das quais 45 a 60% são puramente neuropáticas, enquanto 45% apresentam concomitância com algum grau de isquemia); (atrofia da musculatura crural anterior e/ou dos músculos intrínsecos, levando a deformidades no pé, como pé caído, equino, dedos em garra e proeminência plantar da cabeça dos metatarsos → podem culminar em restrição articular, aumento da pressão plantar no antepé e em locais não fisiológicos, gerando ulcerações); ô (autossimpatectomia, disfunção termorregulatória microvascular e shunts arteriovenosos, provocando a perfusão tecidual e resposta microvascular às lesões, além da consequente pela seca com descamações e fissuras DAOP: geralmente acomete o território infragenicular e é frequentemente associada a oclusões segmentares longas. Cerca de 8% dos pacientes já apresentam algum grau de comprometimento macrovascular no primeiro diagnóstico de diabetes, sendo que, após 20 anos de curso de doença, esse quadro atinge até 45% desses pacientes. Apesar de raramente gerar diretamente lesões ou ulcerações, uma vez instalada, a insuficiência arterial resulta em cicatrização prolongada e aumento significativo no risco de amputação. Infecção: a hiperglicemia prejudica a função dos leucócitos de combate aos patógenos bacterianos, levando ao comprometimento da resposta imunológica, o que permite um aumento na velocidade e extensão da evolução dos processos infecciosos em pacientes diabéticos. Quando associados à isquemia que leva à restrição à entrega de antibioticoterapia na área infectada e à neuropatia periférica, pode acarretar infecções graves, sistêmicas, por vezes com danosteciduais irreversíveis e até mesmo com risco à vida. Alteração na mobilidade: a glicosilação do colágeno durante a evolução do diabetes gera enrijecimento de estruturas capsulares e ligamentares, principalmente em articulações do tornozelo, subtalar e primeira metatarsofalangeana, que causam um aumento na pressão plantar. Associada a tal restrição articular, soma-se as alterações do tecido conjuntivo, com o aumento da espessura da fáscia plantar com limitação à dorsiflexão do hálux, com diminuição da espessura da gordura plantar, enrijecimento da pele e propensão à formação de calosidades. Fatores de Risco/Desencadeantes – o perfil demográfico típico do paciente que evolui com UPD e/ou amputação é de indivíduos com DM tipo 2 (DM2) de longa duração, do sexo masculino, com comorbidades (principalmente doença renal do diabetes em estágio avançado ou em fase terminal e limitada deambulação. O pé diabético é classificado em seis graus de lesão (classificação de Wagner): Carla Bertelli – 5° Período Conhecer a equipe multidisciplinar e o atendimento do pé diabético O acompanhamento por equipe multidisciplinar é o principal pilar na condução de pacientes portadores de diabetes. A avaliação desses pacientes compreende a anamnese e o exame físico detalhado, com avaliação de pés, de maneira estática e dinâmica, observando deformidades, pele, fâneros, calosidades e palpação de pulsos. Essencial que a UBS faça os cuidados, atualizando as planilhas para que haja acompanhamento e até mesmo busca ativa dos pacientes para manutenção desse acompanhamento, em consultas de 2x2 meses. O risco do pé diabético é estratificado para consequente agendamento de consultas de manejo e orientação ao paciente sobre as manutenções glicêmicas, uso de calçados adequados e possível preparação cirúrgica para amputação. Estratégias populacionais de prevenção a DM2: Detecção: glicemia em jejum, TOTG e HbA1c. Pode-se usar escores clínicos para aumentar sensibilidade e especificidade. Importante saber o que fazer com os resultados dos exames. Glicemia de jejum alterada (ADA) (maior ou igual a 100mg/Dl e menor que 126mg/dL). REFERÊNCIAS Clínica médica, volume 5: doenças endócrinas e metabólicas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. – Barueri, SP: Manole, 2009. – (Clínica médica). Vários autores. Vários editores. ISBN 978-85-204-2496-4 (obra completa) ISBN 978-85-204- 2956-3. SBACV-SP Consenso no Tratamento e Prevenção do Pé Diabético/Marcelo Calil Burihan ... [et al.]. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020 VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 7ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022. Ebook. ISBN 9788527737180. Gusso, Gustavo, et al. Tratado de medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, formação e prática. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo A, 2019.
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