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Técnicas Retrospectivas I - UND 1 Material Didatico

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Técnicas Retrospectivas I 
Unidade 1 - Princípios da restauração 
Apresentação 
Seção 1 de 6 
Objetivos 
Seção 2 de 6 
UNIDADE 1. 
Princípios da restauração 
OBJETIVOS DA UNIDADE 
Compreender o valor do patrimônio arquitetônico; 
Analisar o contexto pregresso e atual do campo da restauração; 
Conhecer técnicas e procedimentos de restauração em bens edificados. 
TÓPICOS DE ESTUDO 
História da restauração 
// Do patrimônio individual ao patrimônio coletivo 
// Ampliação do conceito de patrimônio 
// Princípios do campo da restauração 
Conceitos de restauração 
// O conceito de restauração por estudiosos dos séculos XIX e XX 
// O conceito de restauração nas cartas patrimoniais 
Teorias da restauração 
// As escolas francesas de restauração 
// As teorias da escola vienense 
Técnicas de restauração 
// Patologias da edificação 
// Técnicas construtivas tradicionais 
// Restauração de elementos construídos 
História da restauração 
Seção 3 de 6 
A restauração possui um percurso, enquanto campo do conhecimento e prática profissional, diretamente ligado 
à História da Arquitetura e ao modo como as sociedades, ao longo do tempo, passaram a compreender o valor 
das construções legadas por seus antepassados como registros da própria identidade. 
De modo geral, a arquitetura está intimamente relacionada às formas como cada comunidade produz sua 
identidade e seus valores culturais, bem como o modo de transmitir tais valores às futuras gerações. Isso é 
propagado de forma concreta por meio de técnicas construtivas, estilos, escolas e tipologias arquitetônicas. 
No Brasil, a casa colonial permaneceu com a mesma tipologia por praticamente três séculos, de 1500 a 1808, 
aproximadamente. Os hábitos dos colonos eram refletidos, com raras exceções, em um programa arquitetônico 
bastante simples, composto pelas alcovas, uma sala de permanência, cozinha, corredor e loja, em caso de 
edificações de uso misto. Somente com a chegada da Família Real, em 1808, a sociedade passou por 
significativas mudanças em sua estrutura social e as habitações passaram a receber salões de visita e de jantar, 
salas de leitura, costura e, posteriormente, varandas e jardins, conforme pontua Reis Filho, em seu livro 
Quadro da arquitetura no Brasil, publicado em 2006. 
Dessa forma, é importante compreender essas manifestações. Quando analisadas em conjunto, podem 
configurar, o patrimônio cultural coletivo. Nesse sentido, a restauração está também relacionada ao 
entendimento quanto à existência desse patrimônio cultural coletivo e quanto à necessidade de preservação 
para as gerações futuras, considerando a manutenção de seus valores simbólicos e materiais, históricos e 
artísticos. 
Embora essas formas de produção e acúmulo culturais tenham sempre existido na história da civilização, o 
entendimento quanto à existência desse patrimônio e importância de sua conservação são relativamente 
recentes, pois datam do século XVIII. 
DO PATRIMÔNIO INDIVIDUAL AO PATRIMÔNIO COLETIVO 
O termo patrimônio deriva da palavra patrimonium, utilizada desde o período do Império Romano para 
designar todos os bens de um cidadão romano, incluindo tudo aquilo que estava ligado a este chefe, como 
terras e outros bens imóveis, obras de arte e ainda esposas, filhos, escravos, dinheiro etc. 
De modo geral, patrimônio está relacionado à herança, a algo que uma pessoa (ou um grupo de pessoas) deixa 
de legado para a geração seguinte. Essa herança possui os mais diversificados valores, tais como históricos, 
artísticos, estéticos, simbólicos e financeiros. Esse legado também pode variar de acordo com sua 
materialidade, podendo ser, por exemplo, um medalhão de família ou um conjunto de canções antigas. 
Com o desenvolvimento do cristianismo, em quantidade de fiéis e em importância para a sociedade da Europa 
Ocidental da época, surgiu a categoria de patrimônio religioso, incluindo as igrejas, as relíquias sagradas e os 
lugares de celebrações coletivas. Foi nesse período, principalmente com a arte gótica, que se iniciou a prática 
de monumentalização das igrejas. Esses elementos, no entanto, permaneceram ligados a um grupo restrito 
de pessoas das camadas mais altas do clero. 
CONTEXTUALIZANDO 
As edificações religiosas desenvolveram um importante papel nas cidades medievais, tanto no que diz respeito à 
configuração espacial dos núcleos urbanos, destacando-se na paisagem com construções monumentais, como também 
no sentido simbólico, a partir do papel social, cultural e político que a Igreja Católica representava na sociedade, naquela 
época. No que se refere ao valor como patrimônio, essa importância pode ser verificada até os dias de hoje, considerando 
a predominância de edificações religiosas nos processos de preservação. 
O Renascimento Clássico promoveu as mudanças definitivas na ideia de patrimônio, promovendo o 
surgimento de uma nova compreensão quanto ao legado de seus antepassados clássicos. Dessa forma, foram 
lançadas as bases para o entendimento sobre a configuração do patrimônio coletivo como um legado mais 
amplo de referências culturais. 
AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO 
As primeiras ações ocorreram com o estudo aprofundado de remanescentes da cultura clássica da Grécia e de 
Roma. Pinturas, manuscritos, escultura, utensílios, edificações e fragmentos foram intensamente analisados, 
descritos e colecionados por diversos estudiosos e curiosos, especializados ou não. 
Para Choay, que escreveu o livro A alegoria do patrimônio, publicado em 2017, as numerosas coleções de 
vestígios dessa cultura se tornaram comuns em países como Itália, França e Inglaterra, dando origem ao que 
chamamos de antiquariado. É nesse momento que se inicia a construção de uma memória e de uma identidade 
coletiva, a partir da configuração de um grupo de se via como descendentes dos antigos povos clássicos. É 
também nesse período que o patrimônio alcança uma dimensão muito mais ampla, como colocam Funari e 
Pelegrini, no livro Patrimônio histórico e cultural, publicado em 2006: 
Alguns estudiosos enfatizam que o patrimônio moderno deriva, de uma maneira ou de outra, do 
antiquariado que, aliás, nunca deixou de existir e continua até hoje, na forma de colecionadores de 
antiguidades. No entanto, a preocupação com o patrimônio rompe as próprias bases aristocráticas 
e privadas do colecionismo, e resulta de uma transformação profunda nas sociedades modernas, 
com o surgimento dos Estados Nacionais (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p.13). 
No século XVIII, o patrimônio histórico consistiu um dos grandes aliados para a formação e consolidação dos 
Estados Nacionais na Europa. Até então, países como França, Itália, Espanha e Inglaterra constituíam reinados 
desarticulados, formados por comunidades distantes e heterogêneas, que não compartilhavam sequer o mesmo 
idioma. 
Dessa forma, foi preciso construir um conjunto de valores, normas e práticas culturais para que os reinados 
conseguissem forjar e consolidar uma unidade territorial e política, considerando as colônias fora da Europa, 
como o Brasil e as colônias espanholas. Funari e Pelegrini, no livro Patrimônio histórico e cultural, publicado 
em 2006, destacam o papel fundamental do patrimônio histórico na construção da identidade coletiva de cada 
país europeu: 
 
 
O Estado nacional surgiu, portanto, a partir da invenção de um conjunto de cidadãos que deveriam 
compartilhar uma língua e uma cultura, uma origem e um território. Para isso, foram necessárias 
políticas educacionais que difundissem, já entre as crianças, a ideia de pertencimento a uma nação. 
[...] a importância da invenção de uma cultura nacional que não podia prescindir de suas bases 
materiais, seu patrimônio nacional. Assim começa a surgir o conceito de patrimônio que temos 
hoje, não mais no âmbito privado ou religioso das tradições antigas e medievais, mas de todo um 
povo [...]. 
Na Itália, por exemplo, vários são os fragmentos dessa herançaclássica que permanecem até os dias de hoje 
como símbolos da cultura italiana, utilizadas no discurso para a construção de um patrimônio comum, como 
as ruínas do Foro Romano, e os monumentos, como o Arco de Tito (Figura 1), símbolo do esplendor do 
império e de um legado compartilhado entre os italianos. 
Vinculando esse conjunto de referências a fatos memoráveis da história das nações, passou-se a utilizar o 
termo patrimônio histórico, evidenciando o caráter de antiguidade dos bens patrimoniais. Nesse sentido, o 
termo foi consolidado a partir da valorização de bens concretos, monumentais, belos, excepcionais, 
relacionados a aspectos e/ou pessoas consideradas importantes para a história de cada país. Isto foi 
intensificado nos séculos XIX e começo do XX, quando o patrimônio foi associado às questões nacionalistas. 
Após a Segunda Guerra Mundial, sociedades em diversas partes do mundo intensificaram as lutas sociais em 
busca de melhores condições de vida, considerando, inclusive, a ampliação do conceito de patrimônio para 
inserir elementos mais representativos da cultura e da identidade dos grupos marginalizados pelas elites, que 
determinavam o que era patrimônio. 
Devemos lembrar que as duas grandes guerras foram também responsáveis por uma grande destruição do 
patrimônio edificado em diversas cidades europeias, como foi o caso de Florença, que teve a maior parte de 
suas pontes medievais destruídas pelo exército alemão na Segunda Guerra Mundial. 
A partir da segunda metade do século XX, essa discussão tomou proporção mundial por meio das ações da 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que buscou orientar os 
países no sentido de preservar os bens culturais existentes em seus territórios, ampliando tanto o conceito 
como a classificação dos bens para abranger uma maior quantidade de categorias. Em 1972, foi adotada uma 
convenção quanto à composição do patrimônio da humanidade, como explicitado no Quadro 1. 
Quadro 1. Classificação do patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO. Fonte: FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 25. (Adaptado). 
 
 
PRINCÍPIOS DO CAMPO DA RESTAURAÇÃO 
Este contexto de construção e consolidação do patrimônio cultural foi de fundamental importância para o 
surgimento e desenvolvimento de uma nova área de reflexão teórica e atuação profissional, voltada para 
garantir a perpetuação dos bens patrimoniais para as futuras gerações: a restauração. 
Um dos eventos que contribuiu com este entendimento foi a Revolução Francesa, tanto no sentido de buscar 
elementos que configurassem a identidade do povo francês, como também de proteger os bens e monumentos 
que haviam sido destruídos ou vandalizados durante o movimento. 
As ações de preservação e restauração de bens, entretanto, ocorriam desde períodos muito anteriores, quando, 
por exemplo, edificações deterioradas, provenientes da Idade Média, foram reconstruídas e utilizadas para 
outros fins na Idade Moderna, conforme pontua Roth em Entender a arquitetura: seus elementos, história e 
significados, publicado em 2017. 
Essas intervenções possuíam o objetivo de recuperação da funcionalidade e/ou integridade de um determinado 
bem. Tais ações não possuíam o caráter teórico-reflexivo que adquiriram a partir do século XVIII, nem 
objetivavam a conservação da memória e da identidade de um povo, além da materialidade do bem. 
Dessa forma, esse campo de atuação passou por várias transformações, tanto práticas quanto teóricas, ao longo do tempo. 
No século XIX, por exemplo, predominou na França e em parte da Europa o restauro estilístico, caracterizado pela 
reconstituição da obra, com base em estudos e documento originais, buscando o restabelecimento de seu estado completo 
e original. 
Nesse mesmo período, em outras partes da Europa, a restauração era entendida de forma diferente, sendo 
considerada uma agressão ao monumento, o qual deveria manter todas as marcas do tempo e das ações 
humanas. Restaurá-lo seria como apagar a sua história. 
Por fim, as práticas da restauração continuam sendo discutidas quanto à sua aplicabilidade, aos níveis de 
intervenção, aos materiais utilizados, às possibilidades de inclusão de novas tecnologias, às formas de uso 
compatíveis, aos usos possíveis para as ruínas, dentre outras temáticas, configurando uma busca coerente pelo 
equilíbrio entre restauração, intervenção e descaracterização 
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? 
Qual é a importância dos estudos e consolidação do patrimônio cultural para o surgimento e 
manutenção da área de restauração? 
A partir do entendimento sobre a importância do patrimônio cultural foi possível começar a pensar 
uma forma de garantir a preservação de bens materiais coletivos. 
Conceitos de restauração 
Seção 4 de 6 
É muito comum vermos, em diferentes partes da cidade, edificações antigas sendo restauradas e recebendo, 
muitas vezes, um novo uso para a sociedade atual. Você sabe no que consiste essa restauração? Será que é 
possível defini-la em poucas palavras? 
A restauração, de modo geral, consiste em uma intervenção em um bem de interesse cultural, com o objetivo 
de valorizar seus aspectos históricos e estéticos, de forma a recuperar, quando possível, partes perdidas ou 
desgastadas pelo tempo, para devolver a unidade de leitura desse bem. Ela envolve uma complexidade e um 
conhecimento interdisciplinar, que vai muito além do simples procedimento técnico. 
Podemos fazer, ainda, as seguintes perguntas: até que ponto a restauração pode avançar enquanto intervenção 
material e reconstituir os elementos perdidos? Até que ponto devem ser respeitados os processos de 
transformação que determinada obra passou ao longo do tempo? É isso que vamos tentar responder a partir da 
concepção de alguns estudiosos quanto a esse processo. 
Essas questões revelam a complexidade da restauração. Cabe ressaltar que embora a restauração seja aplicada 
também às obras de arte, como pintura e escultura, neste estudo vamos nos concentrar apenas nos elementos 
arquitetônicos. 
O CONCEITO DE RESTAURAÇÃO POR ESTUDIOSOS DOS SÉCULOS 
XIX E XX 
Podemos considerar que o termo restauração é uma temática complexa. Desde o surgimento do termo, vários 
foram os desdobramentos quanto à sua conceituação, bem como às ações relacionadas ao restauro, sobretudo 
de edificações. 
Um dos primeiros profissionais a conceituar o termo restauração foi o arquiteto francês Eugène Viollet-le-
Duc, que o incluiu como verbete em seu Dictionnaire Raisonné de l’Architecture Française du XI au XVI 
Siècle, em meados do século XIX, como sendo o restabelecimento de um edifício “em um estado completo 
que pode não ter existido nunca em um dado momento” (VIOLLET-LE-DUC, 2000, p. 29). 
Outros autores do século XIX também contribuíram com a conceituação do termo e da atividade de 
restauração, como o arquiteto, escritor e historiador italiano Camillo Boito, que definiu a ação como um 
processo que deve priorizar o respeito à obra e ao seu próprio tempo. 
Cabe destacar que essas definições estão relacionadas ao entendimento do patrimônio enquanto monumento 
histórico isolado, bem como apresentam um movimento no sentido de evitar as reconstituições estilísticas. 
A partir do século XX, no entanto, essas definições ganharam novos significados e foram ampliadas quanto 
ao próprio alcance do termo. Dentre os autores que trouxeram significativa contribuição neste século, o italiano 
Cesare Brandi é um dos principais. 
Brandi evidencia a importância da valorização dos aspectos históricos e estéticos dos monumentos, assim 
como a responsabilidade do restaurador no entendimento da materialidade da obra de arte. Para o autor, no 
livro Teoria da Restauração, publicado em 2004, a restauração consiste em “qualquer intervenção voltada a 
dar novamente a eficiência a um produto da atividade humana” (p. 25). 
O CONCEITO DE RESTAURAÇÃO NAS CARTAS PATRIMONIAIS 
Outras contribuições significativaspara o conceito de restauração podem ser observadas em diversas cartas 
patrimoniais, que ora abordam a temática de forma mais restrita, na escala do monumento, ora de forma mais 
abrangente, considerando o entorno imediato do bem e os conjuntos edificados. 
EXPLICANDO 
As cartas patrimoniais são documentos provenientes de congressos e outras reuniões realizadas por 
profissionais envolvidos com a preservação dos bens culturais em todo o mundo. São recomendações para que 
os países possam desenvolver ações de preservação do patrimônio cultural existente em seu território, 
abrangendo atividades concretas, como a própria restauração, e ações políticas, como a cooperação 
internacional para a salvaguarda de um bem. É possível encontrar essas cartas no site do Instituto do 
Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN). 
A primeira carta foi escrita em 1931, na Conferência Internacional de Atenas sobre o Restauro dos 
Monumentos, realizada pelo Serviço Internacional de Museus, e embasa a conceituação consolidada 
posteriormente por Brandi, ao observar, à época, a predominância de intervenções que abandonaram “as 
reconstituições integrais”, priorizando as ações de conservação. Indica, ainda, que em casos de extrema 
necessidade, a restauração deve respeitar a obra histórica e artística do passado, sem prejudicar o estilo de 
nenhuma época. 
Esse documento reforça, portanto, a importância quanto à preservação das várias fases arquitetônicas pelas 
quais a obra pode ter passado, considerando o valor dos acréscimos posteriores à sua construção original. 
Um exemplo disso pode ser observado na restauração do Convento de Santa Maria Madalena, situado na 
cidade de Marechal Deodoro. Durante o restauro, realizado no entre 2007 e 2012, no momento de retirada dos 
retábulos dos altares colaterais da nave principal da igreja, foram encontradas pinturas anteriores aos altares 
de madeira, possivelmente pintados em um período em que a ordem franciscana não dispunha de recursos para 
os retábulos entalhados em madeira. 
Embora as pinturas fossem mais antigas que os retábulos, optou-se por manter os últimos em substituição às 
pinturas, pois a equipe envolvida compreendeu a importância perante a memória da própria comunidade local, 
respeitando as dinâmicas da história e da cultura da própria edificação. 
A Carta de Atenas destaca, também, a importância de definir uma utilização compatível para os bens 
edificados que estejam abandonados, pois as edificações históricas, ainda que restauradas, estão fadadas à 
degradação e à descaracterização, uma vez que a conservação adequada é o que garante que não sejam 
necessárias novas restaurações. 
Além disso, a carta discute sobre o processo de anastilose empreendido nos templos da Acrópole, em Atenas, 
na Grécia, realizando recomendações quanto à recuperação de algumas partes de edificações como o 
Parthenon. 
 
 
 
EXPLICANDO 
Anastilose consiste em um procedimento muito utilizado em arqueologia e nas restaurações de edificações 
históricas que apresentam elevado nível de fragmentação. Consiste no reagrupamento de partes originais da 
edificação, ligadas por materiais contemporâneos, os quais devem ficar evidentes. Esse processo deve ser 
utilizado apenas quando se tem a total certeza do lugar de cada fragmento e deve ser realizado com base em 
um estudo minucioso do edifício. 
Observe, na Figura 3, que o entorno do Parthenon está repleto de blocos e outros fragmentos de pedra, que 
podem constituir partes deste templo, como também podem ter pertencido a outras edificações próximas. 
Dadas as incertezas dessas partes faltantes, apenas alguns trechos foram reconstituídos pela anastilose, como 
parte da coluna do lado esquerdo. 
A Carta de Veneza, elaborada em 1964, no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos 
dos Monumentos Históricos (ICOMOS), amplia um pouco mais o conceito de restauração: 
A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores 
estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos 
autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho 
complementar reconhecido como indispensável, por razões estéticas ou técnicas, destacar-se-á da composição 
arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo (ICOMOS 2020, p. 4). 
Uma das evoluções no processo de restauro que a carta apresenta é a possibilidade de utilização de novos 
materiais, desde que compatíveis com os antigos, para garantir a conservação dos monumentos. Alerta também 
para a importância em distinguir os acréscimos recentes dos elementos originais para que a restauração não 
incorra em uma falsificação histórica e/ou artística. 
No âmbito das cartas patrimoniais, ao longo do século XX e na primeira década do século XXI, veremos que 
as discussões sobre o conceito de restauração, bem como de preservação dos bens culturais, foram bastante 
ampliadas e passaram a abordar outros elementos além dos monumentos históricos edificados. 
Foram elaboradas recomendações para as paisagens e sítios naturais, jardins históricos, sítios arqueológicos, 
conjuntos urbanos históricos, patrimônio imaterial, bens culturais etnológicos e paleontológicos, cujos 
documentos podem ser vistos no Quadro 2. 
Quadro 2. Alguns documentos de recomendações para restauração. 
Atualmente, a prática da restauração é desenvolvida, sobretudo, com base na conceituação elaborada por 
Cesare Brandi e pelas complementações e aprofundamentos discutidos nas convenções internacionais sobre 
a salvaguarda do patrimônio cultural e sistematizadas nas cartas patrimoniais. 
Teorias da restauração 
Seção 5 de 6 
Se você chegou até aqui, já deve ter compreendido que a restauração é um processo teórico-prático bastante 
complexo, e vem sendo discutido por diversos estudiosos, desde o século XIX. Para compreendermos um 
pouco mais sobre este campo do conhecimento e de atuação, é importante conhecer sobre algumas teorias 
desenvolvidas e difundidas sobre a temática nos séculos XIX e XX. 
As diversas transformações ocorridas no século XVIII ativaram um alerta entre os profissionais, estudiosos e 
simpatizantes do patrimônio histórico. É nesse contexto que vão surgir as primeiras teorias sistematizadas para 
a preservação e restauração de bens edificados. 
Dentre os pioneiros dessas teorias, está o escritor e crítico de arte inglês John Ruskin. O autor possuía uma 
visão romantizada da sociedade, defendendo a retomada dos valores tradicionais em contrapartida aos efeitos 
e transformações drásticas que as sociedades sofreram com a Revolução Industrial (1789), que ocasionou o 
acelerado desenvolvimento das cidades. 
No que se referia à conservação e restauração das edificações históricas, Ruskin acreditava que estas 
constituíam registros materiais de sociedades pregressas e que, para ser considerado um monumento histórico, 
as edificações deveriam ter sido utilizadas por várias gerações, amalgamando em suas partes físicas aspectos 
da cultura e da identidade dos povos. 
Dessa forma, considerava inadmissível a intervenção, alegando que as alterações e tentativas de reconstituição 
violavam a integridade e a originalidade da edificação, defendendo, dessa maneira, a não restauração e a 
“morte do monumento”, ou seja, seu desgaste natural, causado pelo tempo. 
Na Figura 4, é possível compreender um pouco mais sobre o entendimento de Ruskin quanto a não intervenção 
em monumentos e a passagem do tempo como parte da própria história da edificação. As ruínas são, 
possivelmente, os exemplares mais claros desse processo. 
A ESCOLA FRANCESA DE RESTAURAÇÃO 
Na França, país também pioneiro nas ações de preservação de monumentos históricos, foi difundido um 
entendimento diferente daquilo que se propagou na Inglaterra. Podemos dizer que eram teorias antagônicas. 
O responsável por esta teoria, EugèneViollet-le-Duc, acreditava que a restauração deveria buscar a unidade 
estilística da obra, ainda que esta nunca tivesse existido em determinada edificação. Dessa forma, para ele, o 
arquiteto deveria ser um profundo conhecedor dos estilos e escolas arquitetônicas e artísticas do passado. 
Podemos observar como exemplo interessante a restauração da Catedral de Notre Dame, no século XIX, pelo 
arquiteto Eugène Viollet-le-Duc. Essa igreja passou por vários processos destrutivos, como incêndios e 
bombardeios. Quando foi restaurada por Le Duc, a edificação recebeu elementos típicos da arquitetura gótica, 
como as esculturas das gárgulas. O arquiteto buscou reconstituir o seu estilo arquitetônico da forma mais 
completa possível. 
AS TEORIAS DA ESCOLA VIENENSE 
Na Áustria, dois teóricos foram fundamentais para a compreensão da importância da preservação dos 
monumentos históricos. O primeiro foi o historiador da arte Alois Riegl (1858-1905), com a obra O culto 
moderno aos monumentos (1903). Nesta obra, Riegl discutia o valor atribuído aos monumentos a partir de três 
dimensões: a evolução histórica, a rememoração e a contemporaneidade. 
Riegl contribuiu para a consolidação do pensamento quanto às diversas possibilidades de preservação dos 
monumentos, considerando os valores a eles atribuídos, instituindo, dessa forma, na restauração como um ato 
cultural e reflexivo, baseado no estabelecimento de um juízo crítico, conforme pontua Choay, no livro A 
alegoria do patrimônio, publicado em 2017. 
O segundo austríaco que também contribuiu com este campo de atuação foi o historiador da arte Max Dvořák. 
Seus escritos aproximaram-se um pouco das teorias de John Ruskin, defendendo que os profissionais 
restauradores deviam evitar as reconstituições aproximativas, pois corriam o risco de incorrer ao erro. 
Dvořák, em seu livro intitulado Catecismo da preservação de monumentos, republicado em 2008, afirmava 
que, em uma edificação antiga, a originalidade não podia ser resgatada no tempo presente. Além disso, ainda 
que existam registros sobre o monumento, não teríamos como saber como ele era realmente em seu estado 
original. O autor alertava ainda para as possíveis mudanças arbitrárias, que poderiam causar a perda de 
significado das obras, e criticava os profissionais que ultrapassavam os limites da conservação. 
Nesse sentido, ocorrem restaurações mal sucedidas tanto em edificações como em esculturas e pinturas. A 
Figura 6 mostra dois casos desse tipo. O primeiro, o restauro desastroso da pintura Ecce Homo, do artista 
barroco Bartolomé Esteban Murillo, foi realizado por um restaurador de móveis na Espanha em 2020. O 
segundo caso, também na Espanha, foi a tentativa de restaurar uma estátua de São Jorge, do século XVI, por 
uma senhora frequentadora da igreja onde a estátua está situada. O trabalho acabou por descaracterizar 
completamente a estátua. 
Figura 6. Restaurações mal sucedidas: Ecce homo e Estátua de São Jorge, respectivamente. Fonte: BBC, 2020. (Adaptado). 
 
CURIOSIDADE 
Em arquitetura, é comum que algumas restaurações causem polêmicas, como a da torre da antiga fortificação 
de Matrera, na cidade de Cádis, Espanha, pois a inserção de materiais completamente contemporâneos e de 
técnicas distintas das originais causou muita estranheza entre os moradores locais e entre os especialistas, 
gerando uma controvérsia internacional. 
Outras teorias mais equilibradas, no sentido de não negar completamente a restauração e nem reconstituir de 
forma arbitrária as obras de arte, surgiram na Europa no final do século XIX e meados do século XX, com 
dois italianos, Camillo Boito e Cesare Brandi. 
Ambos ajudaram a lançar os fundamentos da teoria e da prática contemporâneas da restauração, estabelecendo 
esse tipo de intervenção como uma ação de caráter estritamente excepcional, aplicada apenas quando 
realmente indispensável, para garantir a continuidade da integridade física e simbólica das obras. 
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? 
Resposta está correta! 
John Ruskin defendia a não intervenção, Viollet-le-Duc defendia a reconstituição do estilo da obra e Alois 
Riegl afirmava que a preservação deveria considerar os valores históricos dos monumentos. 
 
 
 
 
 
Técnicas de restauração 
Seção 6 de 6 
A restauração não está limitada apenas às reflexões conceituais e teóricas, pois consiste também em um 
processo metodológico e prático que envolve diversas técnicas e tecnologias capazes de reparar e/ou 
reconstituir a materialidade de partes de uma edificação, de acordo com os diversos materiais disponíveis e 
considerando os valores a serem revelados e preservados. 
Para realizar as operações de restauração, é necessário, primeiramente, desenvolver um extenso e minucioso 
estudo sobre a edificação, de modo a conhecer profundamente aspectos da história em relação à arquitetura e 
aos estilos artísticos, das técnicas construtivas, dos aspectos sociais e culturais envolvidos, como o patrimônio 
imaterial, dos bens móveis integrados (se for o caso) e de seu estado de conservação. 
Além das etapas de investigação, são necessárias, também, as atividades in loco, como o levantamento 
cadastral pormenorizado da edificação, e o levantamento fotográfico. Quanto mais detalhada e aprofundada 
essa compreensão, mais coerentes e acertadas serão as intervenções de restauro. 
O estudo histórico deve, por exemplo, identificar as diferentes fases pelas quais a edificação pode ter passado, 
possíveis alterações ao longo do tempo, como acréscimos e omissões, adaptações conformes os usos, e ainda, 
conforme consta no documento de normas para apresentação de projetos de restauração do patrimônio 
edificado do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais (IEPHA), emitido e publicado em 
2014: 
• vãos que tenham sido fechados; • estrutura da cobertura; • alteração dimensional dos vãos; • alteração 
dimensional de elementos construtivos; • materiais de construção utilizados, estado de conservação; • 
cor e pintura original de paredes, portas, janelas e elementos decorativos; • pintura decorativa dos forros 
e paredes; • desfigurações que o partido arquitetônico tenha sofrido; • abertura de valas, trincheiras ou 
poços de inspeção (escavações) para vistoria e reforço estrutural de fundações; • avaliação do potencial 
arqueológico do bem (p. 10). 
CURIOSIDADE 
O levantamento cadastral deve apresentar, em forma de desenhos técnicos e outras formas de registro, as 
condições físicas atuais da edificação, podendo conter várias peças gráficas. No Manual de elaboração de 
projetos de preservação do patrimônio cultural, publicado pelo Programa Monumenta em 2005, fala-se sobre 
esses requisitos necessários para o projeto de restauração no capítulo 5 do documento. 
PATOLOGIAS DA EDIFICAÇÃO 
Para descrever o estado de conservação, é a etapa de identificação das patologias da edificação é importante. 
Esse termo, emprestado da área de saúde, corresponde aos sintomas que a edificação pode apresentar, 
indicando os danos causados no decorrer da longa vida de uma edificação antiga, principalmente se ela não 
estiver sendo conservada de forma correta. 
As patologias da edificação podem ter três origens distintas: as ações humanas diretas, como vandalismos e 
depredações, as “causas imprevistas”, como terremotos e bombardeios, e as causas naturais, provenientes do 
local onde a edificação foi construída. As mais comuns em construções antigas estão relacionadas com as 
ações da natureza, do tempo e da falta de conservação. 
Nesse sentido, podemos identificar alguns dos principais agentes causadores de danos físicos: 
A) Poluição do ar 
Causa manchas e até mesmo placas escurecidas, que aderem à superfície das alvenarias, esquadrias e 
coberturas, podendo provocar desgastes causados pela composição química do ar. 
B) Umidade 
Um dos principais problemas encontrados, pode atingir os revestimentos, as argamassas e alvenarias,o sistema 
estrutural – em madeira, em ferro, em pedra ou de concreto. Pode provocar o apodrecimento de partes da 
edificação, o desgaste de pedras e favorecer o desenvolvimento de fungos. 
C) Água (chuva e lençol freático) 
Chuvas podem conter elementos químicos nocivos e, assim como a umidade, contribuir para o desgaste de 
vários elementos da edificação. Os lençóis freáticos, quando muito próximos das fundações, podem favorecer 
o aumento do nível de umidade no ambiente e provocar infiltrações no sistema estrutural. 
D) Vegetação 
É comum vermos edificações antigas em desuso, com espécies vegetais crescendo nas fachadas, na calçada, 
nas coberturas e até mesmo na alvenaria. A presença de vegetação pode causar fissuras nos elementos 
construídos e contribuir para a sua degradação. 
E) Agentes biológicos (fungos, insetos, pombos) 
Os fungos são causadores do bolor, que pode atacar o madeiramento, a alvenaria, os revestimentos e 
argamassas, provocando descolamentos, manchas, eflorescências e bolhas. Os insetos, principalmente os 
xilógrafos, aqueles que se alimentam de madeira, como os cupins, podem causar sérios danos às partes de 
madeira, como forro, esquadria, piso, vigas e colunas. Já os pombos podem provocar o desgaste das alvenarias 
e coberturas por conta de reações químicas relacionadas aos seus excrementos, além da significativa sujeira. 
Os danos causados por estes e outros agentes nocivos podem atingir diversas partes da edificação e provocar 
problemas que podem causar riscos até mesmo à saúde e à vida das pessoas que utilizam tais edificações. É o 
caso, por exemplo, do bolor causado por fungos e umidade excessiva, que podem desencadear problemas 
respiratórios graves. Outro risco são as lesões em elementos do sistema estrutural, como pilares e vigas, que 
podem colapsar, a depender do nível do dano e causar desabamentos. 
Como podemos perceber, as patologias das edificações podem ser as mais diversas. Por isso, é essencial que 
o profissional dessa área seja um profundo estudioso e conhecedor da temática, e esteja também muito atento 
aos sinais que a própria edificação emite. 
 
 
TÉCNICAS CONSTRUTIVAS TRADICIONAIS 
Um aspecto muito importante para quem pretende atuar na área de restauração de edificações é o conhecimento 
das técnicas construtivas tradicionais, uma vez que se trata de uma atividade que lida com construções antigas. 
O estudo de tais técnicas é imprescindível, elas podem demandar procedimentos de restauro diversos, com 
base em suas propriedades físicas, químicas e até mesmo culturais. 
Ao longo do tempo, nossa arquitetura tem acumulado diversas técnicas construtivas, provenientes de saberes 
também diversos, desenvolvidos em uma sociedade e uma cultura de determinada época e em um lugar. No 
Brasil, durante o Período Colonial, era muito comum que as edificações importantes das vilas e cidades, tais 
como igrejas, fortificações e casas de governadores, fossem construídas com pedras e tijolos de barro cozido. 
Não é à toa que muitas dessas construções sobreviveram até os nossos dias, por serem mais resistentes do que 
as edificações mais simples, feitas de terra. 
Além disso, a pedra era também muito utilizada nos trabalhos de cantaria para ornamentar as edificações, 
principalmente as religiosas. No século XVIII, por exemplo, na região de Minas Gerais, tornaram-se muito 
comuns os ornamentos realizados em pedra calcária, abundante na região, da qual a mais conhecida é a pedra-
sabão, que tem ótimas propriedades para ser esculpida. 
Essa pedra é bastante porosa e suscetível aos efeitos das intempéries, por isso necessita de manutenção 
constante e, se for o caso, a restauração requer conhecimento especializado para tal. Foi com ela que o mestre 
escultor Aleijadinho criou as diversas esculturas que embelezam cidades mineiras como Ouro Preto e 
Congonhas do Campo (Figura 7). 
Figura 7. Estátua em pedra-sabão, do mestre Aleijadinho, em Congonhas do Campo, MG. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 
09/10/2020 
 
 
A madeira também é um material bastante versátil e muito utilizada na arquitetura tradicional, podendo ser 
aplicada no sistema estrutural, nas esquadrias, em pisos, em forros e até mesmo na alvenaria de vedação, como 
é o caso das construções tradicionais dos imigrantes europeus que se instalaram na região Sul do Brasil, como 
os alemães e os poloneses. 
Após a Revolução Industrial (1760), a arquitetura também recebeu o incremento de novas tecnologias 
construtivas, como o uso do vidro e do ferro. Este último revolucionou o sistema construtivo vigente, sendo 
incorporado em elementos estruturais, decorativos e até mesmo para fechamento das edificações, como é o 
caso da antiga estação ferroviária da cidade de Bananal (SP), que foi construída completamente com peças 
metálicas pré-fabricadas, importadas da Bélgica e montadas no local de implantação por volta de 1883. 
Por outro lado, em termos patológicos e de danos, o ferro é muito suscetível à umidade, principalmente em 
áreas litorâneas, como a extensa faixa costeira que temos no Brasil. Esse agente pode causar um acelerado 
desgaste caso as peças metálicas não recebam o tratamento adequado, como a galvanização. 
RESTAURAÇÃO DE ELEMENTOS CONSTRUÍDOS 
Assim como existem diversas patologias nas edificações e várias técnicas construtivas, é possível também a 
aplicação de uma grande quantidade de técnicas de restauração. Essas técnicas passam por vários processos 
de transformação, tanto no sentido da evolução tecnológica como no sentido da reflexão crítica sobre os 
próprios processos metodológicos, como pode ser visto no Quadro 3. 
Quadro 3. Síntese dos processos de planejamento para restauração de edificações. Fonte: BRAGA, 2003, pp. 111-112. (Adaptado). 
A Carta do Restauro, elaborada pelo governo italiano em 1972, orienta os processos de salvaguarda e 
amplia a dimensão dos bens a serem preservados, incluindo, por exemplo, os vestígios arqueológicos e os bens 
subaquáticos. Além disso, ela apresenta uma série de proibições e de recomendações quanto às intervenções 
diretas nas edificações. Entre as ações que são vedadas, estão: 
1. Aditamentos de estilo ou analógicos, inclusive em forma simplificada, ainda quando existirem 
documentos gráficos ou plásticos que possam indicar como tenha sido ou deva resultar o aspecto da 
obra acabada; 
2. Remoções ou demolições que apaguem a trajectória da obra através do tempo, a menos que se trate 
de alterações limitadas que debilitem ou alterem os valores históricos da obra, ou de aditamentos de 
estilo que a falsifiquem; 
3. remoção, reconstrução ou traslado para locais diferentes dos originais, a menos que isso seja 
determinado por razões superiores de conservação; 
4. alteração das condições de acesso ou ambientais em que chegou até os nossos dias a obra de arte, o 
conjunto monumental ou ambiental, o conjunto decorativo, o jardim, o parque etc.; 
5. alteração ou eliminação das patinas. 
Quanto às ações de restauração permitidas, a carta apresenta as seguintes recomendações: 
1. aditamentos de partes acessórias de função sustentante e reintegrações de pequenas partes 
verificadas historicamente, executadas, se for o caso, com clara determinação do contorno das 
reintegrações, ou com adopção de material diferenciado, embora harmônico, facilmente 
distinguível ao olhar, particularmente nos pontos de enlace com as partes antigas e, além disso, 
com marcas e datas onde for possível; 
2. limpeza de pinturas e esculturas, que jamais deverá alcançar o estrato da cor, respeitados a 
pátina e eventuais vernizes antigos; para todas as outras categorias de obras, nunca deverá 
chegar à superfície nua da matéria de que são constituídas as obras; 
3. anastilose documentada com segurança, recomposição de obras que se tiverem fragmentado, 
assentamento de obras parcialmente perdidas reconstruindo as lacunas de pouca identidade 
com técnica claramente distinguível ao olhar ou comzonas neutras aplicadas em nível 
diferente do das partes originais, ou deixando à vista o suporte original e, especialmente, jamais 
reintegrando ex. novo zonas figurativas ou inserindo elementos determinantes da figuração da 
obra; 
4. modificações ou inserções de caráter sustentante e de conservação da estrutura interna ou 
no substrato ou suporte, desde que, uma vez realizada a operação, na aparência da obra vista 
da superfície não resulte alteração nem cromática nem de matéria; 
5. nova ambientação ou instalação da obra, quando já não existirem ou houverem sido 
destruídas a ambientação ou instalação tradicionais, ou quando as condições de conservação 
exigirem sua transferência. 
Esse documento apresenta outras recomendações em relação à reversibilidade da restauração, à intervenção 
em objetos arqueológicos, à conservação da pátina por motivos históricos e estéticos, à substituição de pedras 
somente em casos de riscos estruturais, dentre outras. 
Podemos perceber, portanto, que a carta reforça o caráter excepcional da restauração, e como ela deve ser 
compreendida enquanto metodologia de intervenção material, e não de recomposição estilística e/ou artística. 
Vejamos, a seguir, algumas possibilidades de intervenção em elementos edificados, como o sistema 
estrutural, pisos e forros de madeira, as coberturas e as argamassas de revestimento. 
 
 
 
1 a) para partes do sistema estrutural: limpeza das fissuras e preenchimento dos vazios com 
argamassa (selamento). Em caso de fissuras com dimensões maiores, realizar o preenchimento 
com fragmentos de pedra ou tijolos. 
2 b) para argamassas de revestimento: em caso de eflorescência, secar o revestimento, escovar 
a superfície e realizar os reparos necessários. Para bolor, lavar com hipoclorito e realizar os 
reparos necessários 
3 c) para telhas cerâmicas: substituição imediata das peças quebradas, amarração das partes 
soltas e aplicação de mantas impermeabilizantes que impeçam a entrada de água, mas que 
também permitam a saída da umidade interna. 
4 d) para pisos e forros de madeira: mapeamento das peças para que, no momento de 
recolocação, cada peça fique em seu devido lugar, reaproveitamento das tábuas originais e, 
quando for o caso, preencher com cola e pó de serra fino no mesmo tom da madeira original. 
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? 
 
A resposta está correta! 
O conhecimento e a identificação das técnicas construtivas tradicionais e das patologias é importante 
para que o profissional saiba a técnica correta a ser aplicada na restauração. Por outro lado, o uso de 
materiais contemporâneos é adequado apenas em situações específicas, sendo que eles devem ser 
compatíveis com os materiais antigos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! 
SINTETIZANDO 
O contexto da consolidação do patrimônio cultural coletivo e da preservação e restauração dos 
bens patrimoniais teve seu início ainda no século XVIII, com as vultosas transformações, 
sobretudo na Europa, advindas da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, que deram 
novas dimensões para o entendimento quanto aos valores dos artefatos da produção humana. 
Ainda que outras ações mais pontuais tenham sido empreendidas em períodos anteriores, 
observamos que somente no século XIX a preservação e a restauração de bens edificados 
tornaram-se objetos de uma reflexão teórica mais aprofundada e de uma prática baseada em 
dados científicos e empíricos, constituindo-se um campo disciplinar. 
Observamos, também, que diversos teóricos e várias organizações, inclusive internacionais, 
contribuíram tanto para a conceituação da restauração, como também para sua definição 
propriamente dita, enquanto atividade metodológica teórico-prática, considerando as 
possibilidades de intervenção e os conflitos entre o que deve ser preservado e o que deve ser 
suprimido das obras. 
Além disso, entramos em contato com alguns processos técnicos de restauração e 
compreendemos, dessa forma, que se trata de um campo de atuação bastante complexo, mas 
também muito importante, uma vez que lida com memória, identidade e afetos de uma 
determinada população, demandando aprendizado e pesquisa constantes, com investigações 
sobre processos e tecnologias que evoluem de forma muito acelerada.

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