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Técnicas Retrospectivas I Unidade 2 - Conceitos fundamentais sobre preservação e restauração Objetivos Seção 1 de 4 UNIDADE 2. Conceitos fundamentais sobre preservação e restauração OBJETIVOS DA UNIDADE Compreender os conceitos relacionados ao monumento e ao monumento histórico; Analisar as diferentes formas de intervenção em edificações históricas e conjuntos urbanos; Elaborar ações de preservação do patrimônio cultural. TÓPICOS DE ESTUDO A noção de monumento e conjunto histórico // Conceituação de monumento e monumento histórico // Os conjuntos urbanos antigos As ideias de preservação desde o Renascimento até os dias de hoje // Entre adaptações e demolições até o século XV // Do século XVI ao XIX Restauração e conservação de edifícios e conjuntos urbanos // A preservação dos centros históricos // Preservação e uso do patrimônio cultural // Preservação de centros históricos e planejamento urbano A noção de monumento e conjunto histórico Seção 2 de 4 O desenvolvimento acelerado e desordenado das cidades tem acarretado cada vez mais a degradação, e mesmo a destruição, de importantes elementos construídos – sejam edificações individuais ou conjuntos urbanos – que constituem a materialização da nossa cultura, história, memória e identidade. Nesse sentido, a preservação é uma grande aliada na tentativa de manter os remanescentes edificados de períodos diversos, e com significados também diversos. A preservação do patrimônio cultural é extremamente importante para a sociedade e se faz necessária para garantir a permanência da memória coletiva da população e a consolidação de sua identidade enquanto grupo, transmitindo para as futuras gerações os indicadores de nossa construção cultural, evitando, dessa maneira, que os elementos culturais passem por processos de demolição, degradação ou mesmo a sua destruição completa. Nesse sentido, a preservação do patrimônio cultural envolve diversos aspectos relacionados às ações que devem garantir a perpetuação dos elementos culturais para as futuras gerações. Essas ações consistem em um aporte legal, teórico e prático, que abrange diversas leis e recomendações jurídicas; estudos e reflexões científicas e acadêmicas sobre as formas de relação com o patrimônio; técnicas e procedimentos práticos que visam garantir a integridade física dos bens culturais. Para compreender a importância da preservação do patrimônio cultural, é necessário entender também alguns conceitos relacionados aos elementos objetos dessa ação, como os monumentos históricos e os conjuntos urbanos, e como a construção e o entendimento desses conceitos ocorreram ao longo do tempo, considerando também como cada sociedade se relaciona com tais elementos. CONCEITUAÇÃO DE MONUMENTO E MONUMENTO HISTÓRICO Por monumento, de modo geral, entendemos como algo utilizado para homenagear algo ou alguém, ou então alguma edificação ou construção com grandes dimensões que se destaca na paisagem. Quando dizemos que algo é monumental, estamos nos referindo à grandiosidade de tal elemento. Entretanto, existe uma diferença conceitual entre monumento e monumento histórico. O primeiro está relacionado diretamente ao tempo presente de sua criação, construído com o intuito de marcar ou relembrar determinado fato histórico ou um personagem importante para aquela comunidade. De acordo com Choay (2017), iniciativas deliberadas de cristalizar a memória por meio de algo construído, como um obelisco, uma escultura, uma estátua, um mausoléu, um arco. De forma geral, esses monumentos não possuem uma função pragmática, utilitária enquanto elemento construído, ou seja, normalmente não servem para abrigar funções humanas. Espacialmente, esse tipo de monumento também possui algumas especificidades, como o destaque na paisagem, seja por sua grande escala, seja por estar desvinculado de outras construções, com um significativo espaço livre em seu entorno. É o caso, por exemplo, do Arco do Triunfo, em Paris, que foi construído em comemoração às vitórias de Napoleão Bonaparte, no século XIX, e está localizado em uma enorme rotatória da qual irradiam diversas avenidas, que funcionam também como eixos visuais da cidade, direcionadas a essa construção. Observe, na Figura 1, como este monumento se destaca na paisagem tanto em relação às edificações do entorno, por sua grande escala, quanto em relação ao sistema viário, servindo como ponto focal de localização nessa área da cidade, para que possa ser visto de vários pontos de Paris. Figura 1. Arco do Triunfo, Paris. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 20/01/2021. No Brasil, temos vários monumentos relacionados a personagens e fatos de nossa história, principalmente dos períodos imperial e republicano, como a estátua em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, localizada na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, Minas Gerais. E o monumento à independência, um conjunto escultórico, situado às margens do rio Ipiranga e representando cenas e pessoas relacionas à Proclamação da Independência, por D. Pedro I (Figura 2). Observe que este conjunto escultórico também se destaca na paisagem, pois está situado em um grande espaço livre e sobre uma escadaria, dando, assim, as sensações de imponência e monumentalidade. Veja a escala do monumento em relação às pessoas que estão próximas. É realmente monumental! Figura 2. Monumento à Independência, São Paulo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 20/01/2021. O segundo tipo de monumento, o histórico, consiste em construções, geralmente edificações, definidas como monumentos tempos depois de sua construção, por seus valores artísticos, estéticos ou históricos. Ou seja, remanescentes edificados no passado são escolhidos por sociedades no presente como representantes materiais de aspectos importantes de sua história, como a arte e a própria memória. Nesse caso, os valores também são definidos a posteriori, e não quando os edifícios são concebidos. É o caso, por exemplo, do Coliseu. Essa construção grandiosa foi edificada por um motivo muito prático: abrigar os jogos, as lutas e os espetáculos pelos quais os romanos eram aficionados. Suas grandes dimensões condizem com as atividades realizadas, com a grande quantidade de público possível e, simbolicamente, com o poderio do Império Romano. Suas arcadas demonstram a maestria com que os romanos utilizaram essa técnica para construir grandes estruturas, como os aquedutos. E os ornamentos, em diferentes ordens clássicas, indicam a admiração e a assimilação cultural que estes possuíam pelos gregos. Nesse sentido, podemos perceber por que o Coliseu possui, hoje, importância significativa enquanto monumento, quanto aos aspectos históricos, técnicos, artísticos e estéticos, pois representa, de várias maneiras, o modo de vida dos romanos antigos, costumes cotidianos e seus saberes. Na Figura 3, você pode observar um corte esquemático dessa edificação e perceber as questões técnicas e construtivas, como a complexidade das arcadas e arquibancadas, assim como aspectos sociais, como a divisão dos assentos a partir da posição social de cada um. Quanto mais próximo da arena, mais importante. Figura 3. Coliseu, Roma. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 20/01/2021. (Adaptado). A mesquita Hagia Sofia, situada em Istambul, na Turquia, é também um monumento histórico bastante significativo, tanto no que se refere aos aspectos históricos e culturais, como também aos aspectos estéticos, técnicos e arquitetônicos. Essa edificação foi construída originalmente como templo cristão pelo imperador romano Constantino, em meados do ano 532. Ao se tornar um templo mulçumano, a edificação recebeu minaretes – altas e delgadas torres de onde os mulçumanos convidam para as orações – como pode ser observado na Figura 4. Sua gigantesca cúpula (Figura 5) demonstra a habilidade construtiva e as técnicas utilizadas para sua edificação e permanência até os diasde hoje. Além disso, embora seja atualmente uma mesquita mulçumana, ainda preserva imagem e símbolos do tempo em que era utilizada pelos cristãos. Figura 4 e 5. Mesquita Hagia Sofia, situada em Istambul, na Turquia. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 20/01/2021. OS CONJUNTOS URBANOS ANTIGOS Enquanto os monumentos constituem elementos individuais, isolados, os conjuntos históricos correspondem a um sítio ou área que possui características semelhantes em sua composição e que compartilham de aspectos comuns em sua arquitetura, como, por exemplo, o período das construções ou o estilo arquitetônico, bem como em seu traçado urbano. A recomendação de Nairóbi (1976, p. 1) define os conjuntos urbanos históricos como sendo: [...] parte do ambiente do cotidiano dos seres em todos os países, constituem a presença viva do passado que lhes deu forma, asseguram ao quadro da vida a variedade necessária para responder à diversidade da sociedade e, por isso, adquirem um valor e uma dimensão humana suplementares. [...] constituem através das idades os testemunhos mais tangíveis da riqueza e da diversidade das criações culturais, religiosas e sociais da humanidade [...] O entendimento quanto aos valores dos conjuntos urbanos enquanto narrativas dos processos de construção da cidade ao longo do tempo, bem como enquanto registros dos aspectos sociais, econômicos e culturais de sociedades diversas que foram amalgamados como camadas materiais e imateriais de referências evidenciam a importância da história e da memória coletiva. Esses valores são consolidados também como forma de identidade da própria cidade. A Carta de Veneza, de 1964, alerta para a necessidade de preservação dos sítios históricos, considerando a sua importância enquanto conjunto e implementando ações continuadas de saneamento, limpeza e conservação. Já a Carta de Petrópolis (1987), aponta a preservação dos sítios históricos como forma de potencializar os aspectos essenciais para a consolidação da identidade e da cidadania. Alerta também para o entendimento da preservação dessas áreas como um processo contínuo e integrado, com ações diversas. Um dos mais belos exemplos que temos no Brasil de centro histórico preservado consiste na cidade de Paraty (considerando apenas a sua parte mais antiga), localizada no estado do Rio de Janeiro. Situada ao nível do mar, Paraty foi fundada no século XVII em função das relações comerciais estabelecidas entre as regiões de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e obteve grande desenvolvimento no século XVIII com o escoamento de ouro por seu porto. Hoje, a cidade possui um rico casario (como pode ser observado na Figura 6), remanescente do período colonial, que mantém suas características arquitetônicas bastante homogêneas e preservadas, além de belíssimas igrejas. Além disso, aspectos de sua antiga infraestrutura, como a pavimentação das vias com grandes pedras e a iluminação pública realizada por luminárias nas próprias casas, também permanecem conservadas, mantendo a ambiência de uma pequena cidade colonial. Em 2019, a cidade, juntamente com Ilha Grande, recebeu a chancela da UNESCO de Patrimônio Cultural da Humanidade, considerando os critérios de “assentamento humano tradicional” e “conter hábitats naturais importantes e significativos” (UNESCO, 2019). Figura 6. Paraty - RJ. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 21/01/2021. Um dos conjuntos urbanos mais significativos e que foi objeto de tombamento no Brasil, embora seja bastante recente quando comparado aos sítios coloniais, é a cidade de Brasília. Planejada por Lucio Costa e inaugurada em 1960, essa cidade foi tombada em 1992 por representar um exemplar extraordinário do urbanismo moderno (IPHAN, 2020). Na Figura 7, é possível observar um de seus planos, com as largas avenidas e as grandes áreas livres públicas, além da Catedral e do Museu Nacional da República. Figura 7. Brasília - DF. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 21/01/2021 Uma discussão bastante recente e relevante no âmbito da preservação do patrimônio cultural consiste na reflexão sobre as edificações provenientes da arquitetura Moderna. Apesar de serem relativamente recentes na história da arquitetura e da humanidade (se comparadas às construções do Neoclássico, do Renascimento, do Barroco, por exemplo), constituem um conjunto linguístico bastante significativo e representam um período e uma sociedade muito claros e muito distintos em relação a outros períodos. EXPLICANDO O tombamento consiste em uma ação administrativa e jurídica de reconhecimento e registro do valor patrimonial de determinado bem cultural material. Esse termo deriva do termo português (de Portugal) “tombo”, que significa registro. Em Lisboa existe, inclusive, a Torre do Tombo, um imenso arquivo responsável por guardar diversos documentos. No Brasil, em relação à preservação do patrimônio cultural, o tombamento foi instituído pelo Decreto-Lei nº 25, de 1937, e consiste, até os dias de hoje, em uma das principais ações para a salvaguarda dos bens culturais materiais. As ideias de preservação desde o Renascimento até os dias de hoje Seção 3 de 4 O entendimento, ainda no século XVIII, quanto à existência de um patrimônio cultural coletivo e a importância de sua preservação enquanto registros da memória e da identidade de um povo para as futuras gerações ocasionou a busca por formas de manter a integridade dos monumentos construídos e garantir a sua perpetuação para o futuro. Entretanto, as intervenções em bens históricos são atividades muito anteriores a esse período. Ainda no Império Romano, eram muito comuns as obras de recuperação realizadas em edificações construídas em períodos anteriores. No período em que o cristianismo se consolidou como religião, por volta do século V d.C., e os cristãos puderam realizar suas celebrações abertamente (uma vez que, até esse período, esse grupo foi proibido de realizar suas celebrações, sendo inclusive perseguido pelos romanos), foi necessário providenciar locais de culto adequados às cerimônias cristãs. Dessa forma, os cristãos buscaram espaços que abrigassem uma grande quantidade de adeptos, pois estes eram caracterizados (e são até hoje) por congregarem de forma coletiva, diferentemente dos romanos e gregos, por exemplo, que priorizavam os cultos individuais aos deuses nos templos específicos. ENTRE ADAPTAÇÕES E DEMOLIÇÕES ATÉ O SÉCULO XV A partir do século VI, a tipologia arquitetônica existente escolhida para abrigar as celebrações cristãs foi a basílica romana. Várias dessas edificações foram adaptadas aos ritos processuais dos cultos cristãos a partir da remoção dos símbolos pagãos do antigo culto, da colocação de imagens de santos e da reorganização espacial. A basílica romana serviu tão bem aos propósitos cristãos que, até hoje, a Igreja Católica utiliza essa tipologia em algumas de suas igrejas, como a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Aparecida, São Paulo. Choay (2017) destaca a importância dos papas católicos nos processos de conservação e restauração dos monumentos da Antiguidade desde o século V d.C. Entretanto, é difícil diferenciar, nesse momento, as ações de preservação das intervenções de caráter mais utilitário, ou seja, de aproveitamento das antigas estruturas clássicas para novas funções. Na verdade, até o século XV, aproximadamente, ainda eram constantes as “mutilações” sofridas pelos edifícios clássicos, os quais tinham suas partes e seus materiais, como o mármore e as pedras, retirados para a construção de novas edificações. Somente por volta de 1430, de acordo com Choay (2017), é que as ações de preservação e restauro começaram a ser realizadas de forma mais objetiva e eficiente. Os papas não se contentam com medidas preventivas. Eles retiram o entulho, desobstruem as antiguidades. Martinho V restabelece a função de Magister viarum. Eugênio IV recupera o telhado do Panteão e limpaos arredores. Nicolau V (1447-1455) encarrega Alberti de fazer um levantamento topográfico de Roma, que será a base de um grande projeto de restauração da cidade, restabelecendo uma parte de seus eixos antigos. Alberti recebe também a tarefa de conservar e colocar em destaque os grandes monumentos da Antiguidade (CHOAY, 2017, p. 55). Várias outras restaurações foram realizadas em monumentos como os aquedutos, a muralha de Aureliano, o Partenon, as pontes. O Coliseu também passou por reparos, o Forum romanum e a coluna de Trajano, coluna comemorativa erguida pelo próprio imperador romano para rememorar seus feitos. Durante o papado de Sisto IV (1471-1484) foram realizadas remoções das construções medievais que “espremiam” o arco de Tito, como pode ser visto na Figura 8. Esse papa ainda foi responsável por criar normas que proibiam a expropriação de edificações e a exportação de obras de arte para fora de Roma. Figura 8. Arco de Tito, Roma. À esquerda, com os fragmentos da antiga fortificação medieval ao qual foi integrado; à direita, sem tais fragmentos. Fonte: Wikimedia Commons/Shutterstock, respectivamente. Acesso em: 21/01/2021. DO SÉCULO XVI AO XIX O período entre os séculos XVI e XVIII foi marcado pelo Iluminismo e pela tomada de consciência, pelo menos na Europa, da importância quanto à conservação dos monumentos da Antiguidade. Foi nesta época que a atividade dos antiquários se tornou fundamental para o estudo, a conservação e a difusão dos remanescentes antigos, como coloca Choay (2017, p. 62): Entre a segunda metade do século XVI e o segundo quartel do XIX, as antiguidades são objeto de um imenso esforço de conhecimento e de inventário. Um aparato iconográfico auxilia esse trabalho e facilita a memorização. Um corpus de edifícios, conservados apenas pelo poder da imagem e do texto, é assim reunido num museu de papel. As escavações das antigas cidades Pompeia e Herculano, na Itália, no século XVIII, também ampliaram as dimensões da compreensão quanto à preservação atrelada ao estudo histórico. A arquitetura tinha, portanto, grande importância para os estudos arqueológicos, tanto no que diz respeito a seus valores estéticos quanto históricos, pois, pelas edificações descobertas, era possível compreender os hábitos de vida das comunidades que ali habitaram, e aprofundar os conhecimentos quanto aos usos, às formas de culto e aos costumes da época, cristalizados em seus aspectos espaciais e em suas inscrições, pinturas e utensílios integrados. A cidade de Pompeia, ao sul da Itália, devido ao soterramento causado pela erupção do Vesúvio, no ano 79, permaneceu bastante conservada em sua materialidade. Analisando suas ruínas e fragmentos de utensílios e mobiliários, os estudiosos puderam conhecer diferentes hábitos e habilidades dos romanos daquela época. Além disso, também foi possível compreender melhor alguns aspectos artísticos, como as pinturas nas residências (como pode ser observado na Figura 9) e as diversas esculturas encontradas nas escavações. Figura 9. Ruínas de Pompeia, Itália. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 21/01/2021. CONTEXTUALIZANDO No período do Império Romano, Pompeia e Herculano eram cidades muito prósperas e com uma população bastante sofisticada. No ano de 79, o vulcão Vesúvio teve uma forte erupção, expelindo uma gigantesca nuvem de cinzas, além de rochas e lava. As cidades foram soterradas e ficaram ocultas até meados do século XVIII, quando algumas partes das ruínas foram descobertas e começaram as escavações. Por terem ficado encobertas, ambas se apresentavam bastante conservadas, sendo possível explorar e compreender muito da vida e da estrutura urbana dos romanos daquela época. Mas, ainda assim, até o século XIX, as ações efetivas contra a destruição dos monumentos históricos eram insuficientes, salvo alguns exemplos de sucesso. Na França, por exemplo, os estudiosos de antiguidades limitavam-se a uma “conservação iconográfica”. Embora lamentassem a perda de diversos elementos edificados, remanescentes dos períodos clássico e medieval, restringiam-se apenas ao estudo e ao registro minucioso de tais edifícios, sem que desses estudos derivassem ações concretas no próprio local. O século XIX, a partir da sua segunda metade, foi caracterizado por profundas mudanças no campo da preservação e da restauração de monumentos históricos, bem como no próprio entendimento quanto aos valores dos bens do patrimônio histórico. Nesse período, diversos profissionais, entre historiadores da arte e arquitetos, elaboraram diversos escritos teóricos que passaram a orientar a prática da restauração em diversos países europeus. Os reflexos da Revolução Industrial foram intensificados nos núcleos urbanos europeus, como Paris, Londres, Madri etc., que cresceram aceleradamente por conta da instalação de diversas indústrias nas áreas próximas aos antigos centros, criando periferias desordenadas e precárias. O crescimento dessas cidades prescindia também de modificações urbanas e arquitetônicas para acomodar a crescente população e os novos usos do solo. Dessa forma, antigas construções e vias foram demolidas para dar lugar a novas edificações e a um sistema viário que acomodasse, de forma apropriada, o intenso tráfego de veículos (carruagens, carroças etc.) e pessoas. Essas demolições acionaram o alerta entre os profissionais e estudiosos que prezavam pela preservação dos remanescentes materiais de sociedades pregressas, seja para o seu estudo, seja pela compreensão enquanto objetos artísticos ou representantes da memória e da identidade. Os séculos XX e XXI foram marcados também por grandes transformações na temática da restauração e da preservação de modo geral, começando com a aplicação do conceito de patrimônio, que passou do histórico para o cultural, abrangendo, atualmente, a diversidade de manifestações e de povos então representados. As ações de intervenção propriamente ditas passaram a ser norteadas por discussões internacionais que visavam orientar os diversos países quanto à conservação dos bens considerados de valor para a sociedade como um todo. Restauração e conservação de edifícios e conjuntos urbanos Seção 4 de 4 As ações de preservação de bens culturais edificados, sejam eles isolados ou conjuntos urbanos, são bastante diversificadas e podem ser intervenções diretas na materialidade das obras, ou indiretas, considerando outros aspectos como a legislação, por exemplo, que pode proibir demolições, incentivar o uso de edificações antigas, controlar a verticalização, entre outros aspectos. Aqui trataremos de alguns conceitos básicos relacionados à preservação, os quais, no sentido geral, se aplicam tanto para edificações quanto para conjuntos urbanos. Entre as ações diretas, a conservação consiste em um conjunto de intervenções que visam garantir a manutenção da edificação ou conjunto edificado. A Carta de Lisboa define, de forma bem semelhante, a conservação e a manutenção de edifícios: i) Conservação de um edifício: Conjunto de medidas destinadas a salvaguardar e a prevenir a degradação de um edifício, que incluem a realização das obras de manutenção necessárias ao correcto funcionamento de todas as partes e elementos de um edifício. j) Manutenção de um edifício: Série de operações que visam minimizar os ritmos de deterioração da vida de um edifício e são desenvolvidas sobre as diversas partes e elementos da sua construção assim como sobre as suas instalações e equipamentos, sendo geralmente obras programadas e efectuadas em ciclos regulares (sic) (CULTURA NORTE, 1995, p. 2). A Carta de Veneza (1964), um dos principais documentos de referência para as práticas atuais de intervenção, coloca os seguintes aspectos para a conservação: Artigo 2º - A conservação e a restauração dos monumentos constituem uma disciplina que reclama a colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudoe a salvaguarda do patrimônio monumental. Artigo 3º - A conservação e a restauração dos monumentos visam salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. Artigo 4º - A conservação dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente. Considerando ainda as intervenções diretas, possivelmente umas das principais é a restauração. Esse processo é frequentemente adotado para recuperar edificações deterioradas, que podem ter sofrido descaracterizações e mesmo a perda de partes importantes. Nesse caso, a intervenção ocorre no edifício isolado, de forma específica. Ainda que um conjunto urbano seja inteiramente restaurado, cada edificação consistirá em uma situação individual e demandará soluções específicas. Nesse sentido, podemos entender a restauração como um processo técnico, teórico e metodológico, no qual os profissionais devem analisar a edificação a ser restaurada e avaliar as possibilidades de intervenção, considerando seus aspectos históricos e estéticos. ASSISTA Entre 2011 e 2012, a Capela do Santíssimo, do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, passou por uma criteriosa restauração das pinturas em suas paredes e forro, que precisou ser realizada devido aos danos causados por excesso de umidade, eflorescências e descascamento da tinta em diversas partes. No vídeo recomendado, você poderá conferir os princípios e critérios utilizados pela equipe de restauração para a realização do trabalho minucioso de recuperação dessa pintura. Esse processo deve, portanto, priorizar a unidade potencial da obra e evitar acréscimos estilísticos, demolições que interfiram na história da edificação, mudança de sítio de implantação, salvo em caso de risco de destruição (BRANDI, 2017) São admitidas, no entanto ações como acréscimos de partes estruturais; limpeza de pinturas e esculturas, respeitando a pátina existente; anastilose baseada em documentação segura (Carta do Restauro, 1972). Em 2012, o edifício do antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo, localizado no Vale do Anhangabaú, passou por um significativo processo de restauração, que incluiu a recuperação da edificação mais antiga e a sua incorporação a um novo anexo, construído para abrigar as novas funções e necessidades da chamada Praça das Artes. O escritório responsável pela obra restaurou os ambientes internos e os adaptou aos novos usos, com a renovação das instalações, mas priorizou o respeito por seus elementos artísticos, como frisos e outros ornamentos. Observe, na Figura 10, na fachada do conjunto resultante, que a construção recente, em concreto aparente e com esquadrias de vidro, envolve a edificação antiga sem prejudicar a sua leitura. A PRESERVAÇÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS Os centros históricos são essenciais para as cidades, pois além da sua relação com sua origem, geralmente possuem grande concentração de funções, sejam elas cívicas, religiosas, militares, comerciais, de moradia etc. Ainda que, em várias cidades, outras centralidades multifuncionais sejam formadas, os centros permanecem como referência, tanto espacial quanto histórica e estética. No decorrer do tempo, principalmente a partir do século XX, com o crescimento acelerado das cidades, surgiram novas áreas urbanas mais valorizadas, e com o uso do solo também diversificado, chegando a disputar, em importância, com as áreas centrais. Dessa forma, em várias cidades pelo mundo, os bairros centrais sofreram um processo de esvaziamento e deterioração, caracterizado pelo uso monofuncional, o abandono ou a subutilização dos imóveis e a consequente degradação material. Em muitos casos, ocorreu até mesmo o arruinamento de várias edificações. Esses fatores acarretam na perda de partes importantes da memória e da identidade coletivas, enfraquecendo o sentido de pertencimento. Entretanto, em várias partes do mundo, a partir da década de 1950, as cidades passaram a compreender que o restabelecimento dessas áreas era fundamental para a manutenção das funções essenciais da cidade, bem como para consolidar as relações com a memória e a identidade da população. No Quadro 1, Vargas e Castilho (2015) sintetizam as motivações para a recuperação dos centros das cidades. Quadro 1. Razões para a recuperação dos conjuntos urbanos históricos. Fonte: VARGAS; CASTILHO, 2009, p. 5. A cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, é um belo exemplo de conjunto urbano histórico preservado. A antiga Vila Rica foi fundada em 1689, em função da intensificação da exploração de ouro e pedras preciosas na região. Sua urbanização se deu a partir de princípios urbanísticos portugueses, como a implantação no alto de colinas, adaptação à topografia do sítio, ruas sinuosas e definidas pelas edificações, localização privilegiada para as funções religiosas e administrativas (IPHAN, 2020). Sua arquitetura é caracterizada por construções térreas e sobrados alinhados à rua e geminados, com telhados uniformes e uma linguagem estética homogênea para as esquadrias. O Barroco é predominante nas igrejas, enriquecido pelas inúmeras folhas de ouro utilizadas nos retábulos, imagens e outros detalhes. Além disso, os trabalhos de cantaria em ornamentos das edificações, nas fontes, pontes e chafarizes também são bastante presentes na cidade. O conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade de Ouro Preto foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1938 e foi o primeiro sítio histórico brasileiro a receber o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1980, você pode observar como a ambiência e os aspectos arquitetônicos da antiga cidade colonial ainda estão bem preservados. Para a salvaguarda de conjuntos urbanos, são utilizadas algumas intervenções que, por vezes, podem ter o sentido semelhante entre si e, mesmo em diferentes autores e nas cartas patrimoniais, podem ser encontradas conceituações diversas. A renovação urbana, por exemplo, foi uma operação bastante comum na década de 1950, principalmente em cidades da Europa e dos Estados Unidos. A renovação possui como principal intuito substituir os edifícios antigos por novas construções por meio de massivas demolições. Nos EUA, por exemplo, quarteirões inteiros foram demolidos para dar lugar a grandes edifícios de escritórios na cidade de Nova Iorque (VARGAS; CASTILHO, 2009). Segundo Maricato (2018, p. 135), a renovação urbana é bastante prejudicial, pois consiste em: Uma mudança no uso do solo devido à instalação, na área central, de novos serviços, ligados aos setores dinâmicos da economia: comunicação, publicidade, gerenciamento, informática, além de serviços de luxo nas sedes de grandes corporações. Os grandes centros comerciais – shopping centers – e as redes de comércio e serviço expulsam os pequenos negócios de características tradicionais. Como estes, a população moradora também é expulsa, especialmente pela forte valorização imobiliária que acompanha esses processos. Outros termos também são utilizados quando se trata da recuperação e salvaguarda de bens históricos edificados. Ao contrário da renovação, os processos de revitalização, reabilitação e requalificação de centros urbanos históricos consideram a preservação dos edifícios antigos e a convivência com o novo. Cada termo foi conceituado em contextos diferentes, mas apresentam semelhanças, como o incremento do fator econômico no processo de reconstrução, a permanência da população existente no local, a valorização das questões de identidade e a retomada da vida social. Cabe destacarmos um pouco mais a conservação integrada, pois esta busca mais do que a recuperação dos conjuntos urbanos: é baseada no desenvolvimento urbano sustentável, agindo por meio da coexistência entre a materialidade, a sociedade e as novas funções. As ações de conservação integrada buscam a dinamicidade a partir da compreensão quanto à inevitabilidade da mudança. EXEMPLIFICANDO Na cidade deBolonha, na Itália, a conservação integrada tem sido a estratégia utilizada para a recuperação de seu centro histórico, unindo a integração com o novo e o respeito ao antigo, como, por exemplo, a restrição da política expansionista; a intensificação da participação popular nas decisões tomadas; a realização de estudos de tipologia arquitetônica, para embasar a reutilização das preexistências; o uso social dos grandes edifícios e a reabilitação dos espaços públicos como catalizadores da reabilitação privada, entre outras ações (SAMPAIO, 2017). PRESERVAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO CULTURAL Um dos aspectos fundamentais para a preservação do patrimônio edificado consiste no seu uso. Somente a continuidade de sua utilização pode garantir a salvaguarda dos bens culturais, considerando a permanência de seus significados e o estreitamento das suas relações com a população. Isso não significa, entretanto, que uma edificação antiga deve abrigar uma mesma função desde a sua origem até os dias atuais. A Carta de Veneza (1964) alerta para a importância do uso de monumentos históricos, ressalvando que essa utilização deve ser, no entanto, compatível com ele: Artigo 5º - A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve conceber e se pode autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes. Essa compreensão quanto à transformação dos usos e costumes da sociedade ao longo do tempo, bem como das relações interpessoais e de seus aspectos culturais e tecnológicos, é fundamental para que ocorra a integração entre a cidade e os edifícios antigos e a vida e cidade contemporâneas. Por isso, os projetos de reabilitação devem considerar as novas possibilidades de uso. Além disso, a atribuição de novas funções aos bens culturais consiste em um instrumento bastante eficaz no que se refere à preservação, pois a retomada da funcionalidade dessas edificações justifica tanto os investimentos na restauração como também asseguram a sua existência, uma vez que, possivelmente, essas construções passarão por manutenções periódicas necessárias à sua utilização adequada e segura (OLIVERA, 2017). A preservação de edificações históricas associadas a novos usos assegura a sua permanência como documento, registro de uma época e de uma sociedade. Além disso, possibilita, também, a sua utilização como instrumento de educação, uma vez que permite o aprendizado sobre diversos aspectos cristalizados na materialidade da edificação, bem como de desenvolvimento, pois auxilia na consolidação da dinamicidade da área onde está inserida. A reutilização de uma edificação histórica a partir da atribuição de novas funções pode ser uma atividade bastante complexa, pois os novos usos devem ser adaptados à edificação, e não o contrário. Em caso de edificações tombadas, as restrições podem ser ainda maiores, visto que as descaracterizações são proibidas e as adaptações devem ser analisadas de modo criterioso para que seu aspecto original seja preservado. Na cidade de Recife (PE), podemos ver um exemplo positivo de utilização contemporânea de edificações históricas. O Forte de São Tiago das Cinco Pontas foi construído em 1630, pelos holandeses, quando estes invadiram a Capitania de Pernambuco. Funcionou como edificação militar até meados do século XX, e foi transformado no Museu da Cidade do Recife (VAINSENCHER, 2008). O edifício passou por algumas adaptações internas para abrigar o acervo museológico, mas mantém ainda toda a sua estrutura arquitetônica original. Além de conhecer um pouco sobre a história da cidade de Recife, os visitantes podem também aprender sobre as construções militares do período colonial e entender um pouco mais sobre as questões sociais, políticas e econômicas da época. PRESERVAÇÃO DE CENTROS HISTÓRICOS E PLANEJAMENTO URBANO Para que as ações de salvaguarda de conjuntos urbanos históricos sejam eficientes, é necessário desenvolver as políticas de preservação desses bens de forma integrada às políticas urbanas das cidades e aos planos de desenvolvimento econômico. De acordo com Cardoso e colaboradores (2011), a articulação entre a revitalização de centros históricos e o desenvolvimento sustentável é possível pelo entendimento quanto a alguns aspectos essenciais: 1- Planejamento urbano abrangente, integrando as ações efetuadas por organizações governamentais e não governamentais, que tratam a questão cultural; 2- Intervenções que considerem cada componente do patrimônio cultural, de acordo com suas peculiaridades; 3- Gestão democrática do patrimônio cultural, ampliando a participação das comunidades envolvidas; 4- Ampliação e difusão do conhecimento sobre os bens históricos e culturais por meio de pesquisas, inventários e mapeamento; 5- Aplicação de instrumentos da política urbana que possibilitem incentivar a preservação de bens históricos, como incentivos fiscais para conservação de bens imóveis de interesse histórico; 6- Restauração de imóveis públicos e privados, e qualificação de espaços urbanos históricos, bem como ações de capacitação e geração de renda, visando principalmente a população residente na cidade e os visitantes; 7- Realização de projetos estratégicos de planejamento, gestão e acompanhamento em perspectiva a longo prazo. De acordo com a Carta de Washington (1986, p. 2), as ações de salvaguarda devem preservar os valores históricos e artísticos das cidades e de seus elementos componentes, tais como: A forma urbana definida pela malha fundiária e pela rede viária; as relações entre edifícios, espaços verdes e espaços livres; a forma e o aspecto dos edifícios (interior e exterior) definidos pela sua estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e decoração; as relações da cidade com o seu ambiente natural ou criado pelo homem; as vocações diversas da cidade adquiridas ao longo da sua história. De acordo com a Carta de Burra (2013), podem ser estabelecidas algumas etapas para o planejamento e gerenciamento dos sítios que possuem valor cultural. Essas etapas evidenciam a importância de um processo integrado, considerando os diversos aspectos dos bens e as várias dimensões – políticas, econômicas e sociais – da preservação. O documento recomenda, em vários de seus artigos, a ativa participação da população nesse processo, inclusive como detentora de conhecimento. O esquema a seguir apresenta uma síntese das etapas envolvidas. Quadro 2. Etapas para o planejamento e gerenciamento de bens culturais. Fonte: IPHAN, 2013, p.12. (Adaptado). Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO A preservação do patrimônio cultural é decorrente de um longo processo de construção e consolidação do pensamento quanto aos valores inerentes aos objetos, materiais e imateriais, produzidos pela sociedade ao longo do tempo, e quanto à importância da salvaguarda desses elementos referenciais para que as gerações seguintes possam, ao mesmo tempo, usufruir de tal cultura e contribuir com a sua formação. Podemos observar que existem diferentes categorias de bens culturais, como os monumentos e os monumentos históricos, os quais apresentam funções, valores e significados muito diferentes para a sociedade em que estão inseridos. Porém, ambos carecem de ações de preservação e conservação, de modo que sua importância seja perpetuada. Observamos, também, que o próprio entendimento quanto à existência de um patrimônio cultural coletivo foi deliberadamente construído por volta do século XVI, com um intuito claramente político, mas que se tornou algo de fato relacionado à essência das comunidades, diferenciando-as umas das outras ao redor do mundo. Embora, nos dias de hoje, a globalização pareça homogeneizara tudo e a todos, a cultura e o patrimônio continuam sendo elementos de singularidade para cada povo. Hoje, essa ideia de memória e cultura coletivas vem acompanhada de ações muito consistentes de reafirmação da identidade local e de preservação do patrimônio construído por meio de operações como o tombamento e a restauração, que visam reconhecer o valor dos bens e manter a sua integridade física e sua originalidade. Por fim, observamos que a preservação tanto de edificações como de conjuntos urbanos deve ser realizada por meio de ações mais abrangentes de planejamento, considerando o patrimônio cultural como parte integrante da dinâmica das cidades e do cotidiano de sua população.
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