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Principais doenças transmitidas por carrapatos em cães, bovinos e equinos Os carrapatos Carrapatos são artrópodes pertencentes à classe Arachnida, isto é, possuem os apêndices articulados e exoesqueleto de quitina, apresentam quatro pares de patas e corpo dividido em cefalotórax e abdome. Suas peças bucais são modificadas (gnatossoma) apresentando dois pares de quelíceras e de palpos. A fêmea adulta chega a depositar no ambiente mais de 3000 ovos de uma só vez. Dos ovos, eclodem as larvas, que irão se alimentar no hospedeiro e voltar para o ambiente, evoluindo para uma fase jovem chamada de ninfa, que também procura o hospedeiro para se alimentar e volta para o ambiente para se tornar adulto. No ciclo monoxeno, é necessário somente um hospedeiro, enquanto no ciclo heteroxeno são necessários dois (ou mais) hospedeiros. Os carrapatos são ectoparasitas de vertebrados, são hematófagos e podem transmitir diversos agentes patogênicos aos animais e aos seres humanos. As doenças em cães são transmitidas pelo carrapato marrom (Rhipicephalus sanguineus), cuja espécie tem preferência por canídeos. O Rhipicephalus (Boophilus) microplus é um carrapato com preferência por bovinos, podendo acometer pequenos ruminantes e equídeos, entre outros mamíferos. Tem grande importância econômica, porque limita a pecuária no Brasil, tanto pela ação espoliativa e lesões no couro dos animais quanto pela transmissão de doenças. O Dermacentor nitens (antigo Anocentor nitens) é uma espécie de carrapato que se instala na orelha de equinos, acometendo o pavilhão auricular e causando sua “quebra”. É o principal transmissor da babesiose equina. Já o Amblyomma cajennense, ou carrapato-estrela, é frequentemente encontrado em equinos, mas também pode parasitar bovinos, outros animais domésticos e animais silvestres, e é transmissor de zoonoses. Figura 1: carrapatos – 1. Rhipicephalus sanguineus, 2. Rhipicephalus (Boophilus) microplus, 3. Dermacentor nitens, 4. Amblyomma cajennense (Fonte: https://www.insectimages.org/) Principais doenças transmitidas por carrapatos em cães 1. Babesiose A babesiose canina é uma das mais importantes infecções que acomete os cães nas regiões tropical e subtropical do mundo. Agente causador: Protozoários das espécies Babesia canis e Babesia gibsoni Transmissão: Por transfusões sanguíneas ou pela picada do carrapato do cão, que inocula o protozoário no sangue do hospedeiro definitivo, onde ocorre a invasão dos glóbulos vermelhos. Patogenia: Está relacionada à hemólise, causada pela multiplicação do parasita no interior das hemácias, com seu posterior rompimento. Com o rompimento das células parasitadas, além da anemia, ocorre liberação de hemoglobina, o que gera hemoglobinúria e bilirrubinemia, portanto, a doença se caracteriza por uma anemia hemolítica regenerativa. Sintomas: – anorexia; – apatia; – febre; – diarreia; – icterícia. Em alguns casos, pode haver o aparecimento de sintomas neurológicos, como: – extrema apatia; – agressividade; – paralisia; – ataxia. Diagnóstico: Clínico (achados de anamnese e exame físico) e laboratorial, por: – pesquisa do parasita em esfregaço sanguíneo; – teste de ELISA; – imunofluorescência indireta; – PCR. Profilaxia e tratamento: O principal erro dos tutores é procurar pelos carrapatos apenas no cachorro, pois a maior parte dos ovos, larvas e ninfas estão no ambiente, principalmente em locais frequentados por muitos animais. Assim, a melhor maneira de prevenir é mantendo os cães livres de carrapatos: – desparasitar o ambiente; – manter a grama do jardim baixa; – realizar o controle do carrapato nos animais com o uso de produtos carrapaticidas (sprays, banhos e/ou coleiras). O tratamento medicamentoso pode ser realizado com doxiciclina. 2. Erliquiose e anaplasmose Embora sejam causadas por agente diferentes, a erliquiose e a anaplasmose, juntamente com a babesiose, são popularmente conhecidas como “doença do carrapato”, pois muitas vezes ocorrem concomitantemente. Agente causador: Rickettsias (Ehrlichia canis e Anaplasma platys) Transmissão: Por meio de vetores (sendo os carrapatos os mais importantes) e transfusões sanguíneas. Sintomas: Ehrlichia canis é um parasita intracelular obrigatório de leucócitos, enquanto que Anaplasma platys parasita as plaquetas (trombócitos). A sintomatologia é caracterizada por: – febre; – anorexia; – apatia; – depressão; – vômitos; – palidez de mucosas; -comprometimento imunológico; – glomerulonefrite pela deposição de imunocomplexos; – sinais oculares (hifema, uveíte, cegueira, descolamento de retina); Diagnóstico: Clínico e laboratorial: – hemograma: trombocitopenia, hipoalbuminemia, hiperglobulinemia; – pesquisa dos parasitas em esfregaço sanguíneo; – PCR; – teste de ELISA. Profilaxia e tratamento: Controle dos carrapatos, tratamento de suporte, tetraciclina, doxiciclina. * O Anaplasma phagocytophilum infecta os granulócitos e é o agente causador da anaplasmose granulocítica em cães, humanos e cavalos. Apesar de pouco comum no Brasil, infecções por A. phagocytophilum estão sendo documentadas em algumas regiões, sendo que a rickettsia é transmitida pelos carrapatos Rhipicephalus sanguineus e Amblyomma cajennense. Assim, por ser um agente zoonótico, ressalta-se a importância da identificação deste patógeno. 3. Hepatozoonose É uma doença considerada rara no Brasil, e, apesar do nome, não é uma zoonose e raramente afeta o fígado. Agente causador: No Brasil a doença e causada por um hemoprotozoário da espécie Hepatozoon canis. Transmissão: Ingestão de carrapatos contendo oocistos maduros de H. canis. Sintomas: As manifestações clínicas dependem do nível de parasitemia podendo variar de mucosas pálidas e letargia até febre, severa perda de peso e esplenomegalia. Diagnóstico: Identificação de células leucocitárias parasitadas, em esfregaços sanguíneos. Profilaxia e tratamento: Controle dos carrapatos, tratamento de suporte, cloranfenicol e a doxiciclina. Principais doenças transmitidas por carrapatos em bovinos 1- Tristeza parasitária bovina (TPB) É um complexo de doenças causadas pela rickettsia Anaplasma marginale e pelos protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina. Animais debilitados por outros motivos, gado de raças europeias e bezerros são os mais susceptíveis. Alguns adultos podem ser assintomáticos. A TPB traz prejuízos econômicos, como a redução da produção de leite e carne, infertilidade, gastos com tratamentos e mortalidade. Transmissão: A babesiose e a anaplasmose bovinas são hemoparasitoses transmitidas pela picada do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, sendo que a anaplasmose pode ainda ser transmitida por dípteros hematófagos e fômites. Sintomas: A sintomatologia da TPB incluem: – apatia e prostração; – febre alta; – mucosas pálidas. São diferenciais os achados: – Babesia bovis: sintomatologia nervosa (ataxia, tremores e agressividade); – Babesia bigemina: hemoglobinúria por hemólise intravascular; – Anaplasma marginale: icterícia Diagnóstico: Clínico e laboratorial. Apesar de ser possível determinar qual o parasita que está infestando o animal, na rotina de uma fazenda não há necessidade desse diagnóstico. Profilaxia e tratamento: A prevenção pode ser feita por meio do controle estratégico de carrapatos e também através da imunização de animais passíveis de adoecer, com a utilização de um dos três métodos: 1. Premunição – inoculação de sangue infectado com os agentes da TPB, retirado de um bovino portador. É um processo que pode gerar bons resultados, porém, com grande risco de perda por morte do animal ou por falha na imunização 2. Vacinas atenuadas – inoculação de sangue infectado padronizado, assim, como os parasitas não apresentam sua virulência normal, haverá o desenvolvimento de uma infecção subclínica, que não requer tratamento e que leva ao desenvolvimento da imunidade nos animais. 3. Quimioprofilaxia – utilização do dipropionato de imidocarb nos animais e a subsequente exposição à infestação pelo carrapato de maneira constante. A queda gradual dos níveis sanguíneos da droga permite um aumentogradual dos agentes da TPB nos bovinos, o que leva ao desenvolvimento da resposta imune. Porém, é necessário garantir uma infestação baixa e constante de carrapatos logo após a utilização da droga. O tratamento específico para babesiose constitui-se nos derivados da diamidina e para a anaplasmose recomenda-se o uso das tetraciclinas, enquanto que o dipropionato de imidocarb tem ação nas duas doenças. Geralmente, o tratamento específico aplicado antes do aparecimento de sintomas graves leva à recuperação do quadro clínico. Caso contrário, deve ser realizado também o tratamento de suporte (transfusões sanguíneas, fluidoterapia, etc.). Principais doenças transmitidas por carrapatos em equinos 1. Babesiose Também conhecida como nutaliose, piroplasmose ou febre biliar, é uma enfermidade que acomete cavalos, asnos, mulas e zebras. As barreiras sanitárias são o maior entrave para a aceitação dos equinos brasileiros no exterior, por conta de não existir um controle efetivo da babesiose no País. Agente causador: Protozoário Babesia caballi Transmissão: Pela picada de carrapatos, em especial Dermacentor nitens Sintomatologia: Na fase aguda: – Febre; – icterícia; – anemia; – hepatoesplenomegalia; – reabsorções embrionárias; – abortos. Na fase final: – bilirrubinúria; – hemoglobinúria. A maioria dos animais desenvolve a forma crônica, que pode reagudizar quando ocorre queda na imunidade, podendo apresentar: – Queda de performance; – inapetência; – perda de peso. Diagnóstico: Identificação do agente através de esfregaço sanguíneo. A Organização Mundial da Saúde Animal preconiza o teste de imunofluorescência indireta e o de fixação de complemento para triagem dos casos em animais que serão destinados à exportação para países onde a doença não ocorre, mas existe a presença do vetor. Profilaxia e tratamento: Controle dos carrapatos e uso do medicamento dipropionato de imidocarb. 2. Theileriose O termo theileriose equina é recente e surgiu devido à reclassificação taxonômica do protozoário Babesia equi, que passou a se chamar Theileria equi devido às diferenças morfológicas e em seu ciclo de vida quando comparado a outros membros da família Babesiidae. Agente causador: Protozoário intraeritrocitário Theileria equi Transmissão: Pela picada de carrapatos Sintomatologia: – Febre; – anemia hemolítica intravascular; – hemoglobinúria; – insuficiência renal; – hepatoesplenomegalia; – morte embrionária, abortamento ou o nascimento de um potro com theileriose neonatal. A profilaxia e o tratamento são muito semelhantes aos da babesiose. Entretanto, salienta-se que o teste de imunofluorescência indireta é realizado para diferenciar as infecções por T. equi e B. caballi. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ALECRIN, I.; PINTO, B.; AVILA, T.; COSTA, R.; PESSOA, I. 1983. Registro do primeiro caso de infecção humana por Babesia spp. no Brasil. Rev. Patol. Trop. 12:11-29.
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