Buscar

Lazer, Trabalho e Sociedade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Lazer, Trabalho 
e Sociedade
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Pedro Athayde
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti 
Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
• Introdução;
• As Transformações Societárias Contemporâneas;
• As Mudanças no Mundo do Trabalho;
• O Impacto das Transformações Sobre o Tempo Livre.
 · Identificar as principais mudanças na sociedade contemporânea;
 · Conhecer as principais características do processo de reestru–
turação produtiva;
 · Compreender como as transformações sociais determinam modifica-
ções no tempo livre e no lazer.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Mudanças Recentes na Sociedade 
e no Trabalho
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Introdução
Após a compreensão dos movimentos e das lutas operárias para a redução 
da jornada de trabalho e da conquista do chamado “tempo livre”, abordamos as 
preocupações de controle e direcionamento desse tempo para atividades orientadas 
à manutenção do status quo. Em outras palavras, que as pessoas no seu momento 
de ócio se mantivessem reproduzindo sua vida social, sem questionar as condições 
em que vivem e, tampouco, pensar em transformá-las.
Compreendemos, portanto, que com essas características as atividades desen-
volvidas no tempo de não trabalho fazem com que esse período não seja assim tão 
livre. Uma forma de percebermos isso é que o próprio lazer surge como instrumen-
to de controle social, a partir da definição de atividades orientadas e com conteúdos 
definidos para que não estimulassem o pensamento crítico e questionador do modo 
de produção vigente.
No entanto, um fenômeno tão dinâmico e plural como o lazer não pode ser 
compreendido apenas pela sua origem, sobretudo quando o relacionamos ao tra-
balho e à sociedade. Certamente, em seu desenvolvimento e nas relações estabe-
lecidas com outros complexos o lazer vai se modificando, desempenhando novos 
papéis e ressignificando antigas funções.
Por conseguinte, nesse momento, continuaremos nossa trajetória de reflexão, 
buscando entender alguns contextos e modificações que impactam nossa sociedade 
e que possuem influência direta nas transformações no “tempo livre” e no lazer.
Prontos para continuarmos nossa caminhada? Aperte o cinto, dê a partida e 
vamos conhecer um pouco melhor o contexto social no qual estamos inseridos. Para 
inspirá-lo, deixamos aqui os versos de um dos maiores escritores de nossa história.
 “Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças! 
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas; 
Apenas as mesmas com novas vestimentas.”
William Shakespeare
8
9
As Transformações 
Societárias Contemporâneas
Falar em transformações societárias não é algo simples, especialmente porque 
elas se referem a um conjunto muito amplo de fenômenos nos planos cultural, 
social, político e econômico. Além disso, a história é muito dinâmica e está sempre 
em um processo de constantes alterações.
Importante!
Afi rmar que a sociedade está em constante transformação é bem diferente de uma 
visão de progresso linear. Ou seja, o desenvolvimento da sociedade com o passar dos 
anos não ocorre sempre de forma progressiva e positiva. Há momentos da história da 
humanidade em que o movimento é de recuo e retrocesso dos patamares de civilidade 
anteriormente alcançados ou conquistados.
Importante!
Algumas das transformações pelas quais a sociedade passa são tão significa-
tivas que podem representar a ruptura com uma formação social e a mudança/
transição para um novo modelo social. Essa afirmação é clara para você? Você 
compreende o que seria uma formação ou modelo social? Vejamos isso com 
um pouco mais de calma e profundidade!
Resumidamente, modelo ou formação social é a forma como a sociedade se or-
ganiza, se relaciona e produz. Na história da humanidade tivemos, sinteticamente, 
a seguinte sucessão de formas de organização social:
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
1. Comunismo Primitivo – foi nesta 
primeira forma de organização que 
se iniciou o processo de desenvol-
vimento da sociedade, a partir do 
desenvolvimento da linguagem, de 
instrumentos, do domínio do fogo 
etc. Nesses grupos haviam mem-
bros mais fortes e mais fracos, mas 
não existia a ideia de exploração 
de uns pelos outros. Os homens 
viviam em um estado selvagem e 
percebem, então, que podem al-
terar a natureza para atender suas 
necessidades. Você se lembra da 
nossa primeira compreensão so-
bre o trabalho? A ideia do trabalho 
como intercâmbio orgânico entre 
homem e natureza com o potencial 
de desenvolvimento humano fi ca 
muito claro quando imaginamos 
esses primeiros grupos humanos.
9
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
2. Escravismo – com o desenvolvi-
mento e aprimoramento dos instru-
mentos de trabalho, aumentou-se 
em grande escala a produtividade, 
crescendo também o domínio do 
homem sobre a natureza. Segal 
(2016) afirma que a passagem do 
comunismo primitivo para o es-
cravismo se deu porque a “ambi-
ção estimulou a procura de novas 
‘forças de trabalho’ e a guerra as 
forneceu: os prisioneiros foram 
transformados em escravos. Au-
mentando a produtividade do traba-
lho, por conseguinte, dando origem 
à riqueza”. Surge a separação da 
sociedade em classes e a proprie-
dade privada, sendo o escravo tam-
bém considerado uma propriedade.
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
3. Feudalismo - as revoltas internas 
acabaram por destruir o escravis-
mo e as sociedades se organiza-
ram no modelo feudal, que con-
sistia na propriedade do senhor 
sobre a terra e num grande poder 
sobre o servo. O servo utilizava a 
terra do senhor para cultivar. Par-
te da produção ficava para si. Ele 
não era propriedade do senhor 
feudal, mas fazia parte da terra. 
Ou seja, se o senhor vendesse a 
terra, vendia junto os servos que 
ali trabalhavam. Essa forma de re-
lação social acabou prejudicando 
o desenvolvimento das cidades e 
dos processos de produção e, por 
isso, sua substituição era iminente.
10
11
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
4. Capitalismo – a organização nos 
burgos (cidades) já estava bem mais 
desenvolvida do que nos campos,o 
que propiciou um protagonismo da 
burguesia (comerciantes das cidades) 
na elaboração de estratégias para 
alteração do feudalismo. Alguns ou-
tros aspectos contribuíram, como: 
a crise no campo, as revoltas cam-
ponesas, a Peste Negra, a ascensão 
da razão (pensamento racional, não 
mais religioso) e o desenvolvimen-
to da ciência, dentre outros. O ca-
pitalismo surgiu, então, como uma 
alteração progressista em relação 
ao feudalismo, o que não signifi ca 
dizer que este é bom por si mesmo. 
É importante destacar que todas essas transições dos modos de produção e suas 
respectivas formações sociais não ocorreram de maneira etapista e nem no mesmo 
momento histórico em todas as regiões do planeta. Em alguns casos tivemos, 
durante certo período, a convivência de modelos mais antigos com formações mais 
atuais. Numa combinação entre arcaico e moderno. Essa é, por exemplo, uma das 
características da formação social brasileira. 
 Além disso, é bom acentuar que transformações dessa magnitude não pode-
riam acontecer de forma consensual e tranquila. Portanto, foram necessários vários 
processos conflituosos e ações revolucionárias, que culminariam em guerras e revo-
luções, sendo um dos principais exemplos a Revolução Francesa de 1789. 
Importante!
Outra informação importante que devemos destacar está na existência de outro 
modo de produção existente em nossa história, mas que não elencamos na sucessão 
acima por não ter sido realizada conforme suas elaborações originais: o socialismo. 
Este ocorreu em paralelo ao capitalismo e seria melhor defi nido se denominado de 
“Socialismo Real”.
Importante!
Todavia, é importante sabermos que nem todas as transformações societárias são 
tão profundas a ponto de resultarem em processos revolucionários e substituírem o 
modelo social vigente. Muitas vezes estas desencadeiam apenas novos fenômenos 
11
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
sociais e/ou culturais, responsáveis por reestruturações/reorganizações dentro do 
mesmo sistema. Essa tem sido a história da nossa sociedade nos últimos séculos, 
pois continuamos sob um modelo capitalista, ainda que esse tenha sofrido alterações 
em sua forma. Aliás, o capitalismo tem essa enorme capacidade resiliente, de se 
recuperar e se reinventar mesmo diante cenários de crise. 
O capitalismo tem-se transmutado ao longo dos últimos duzentos anos, 
seja sob a perspectiva de sua estrutura produtiva, dos atores sociais en-
volvidos na luta de classes, das instituições jurídicas que regem as relações 
econômicas, dos organismos internacionais que ordenam a economia 
mundial, do padrão de concorrência intercapitalista, dos mecanismos de 
intermediação financeira ou da forma de manifestação e superação de 
suas grandes crises (PRONI, 1997, p. 2).
Você conhece algumas dessas importantes mudanças pelas quais o ca-
pitalismo passou nos últimos anos? Ainda que não as conheça, provavelmen-
te você foi afetado por elas. Portanto, vejamos mais detalhadamente as princi-
pais e mais recentes reformulações de nossa sociedade, considerando a década 
de 1970 como um marco histórico para nosso início da análise. Antes disso é 
importante destacar que, a despeito dessas transformações, o capitalismo man-
tém suas tendências e leis mais gerais, tais como: aumento da concentração 
e centralização do capital, indução ao progresso técnico e revolucionamento 
da produção, diminuição do trabalho vivo socialmente necessário, ampliação 
da capacidade produtiva instalada além das possibilidades do mercado, entre 
outros (PRONI, 1997).
A partir de meados dos anos 1970, as alterações da sociedade tomaram uma pro-
porção e uma velocidade jamais vistas. Essas reviravoltas representaram o desdobra-
mento de uma profunda crise mundial, que afetou o padrão de acumulação e, conse-
quentemente, as relações sociais estabelecidas. Buscaremos agora uma síntese a partir 
de alguns aspectos mais gerais que nos auxiliará a entender e refletir a respeito dessas 
alterações recentes de maneira a tentar compreendê-las em sua totalidade.
1. Aspecto Social 
No aspecto social podemos citar alguns exemplos que demonstram as grandes 
transformações ocorridas nos últimos anos, são elas:
• O grande aumento da urbanização:
População Urbana no Mundo: De acordo com a edição de 2014 do 
relatório “Perspectivas da Urbanização Mundial” (World Urbanization 
Prospects) produzida pela Divisão das Nações Unidas para a População 
do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais (DESA), 54% da 
população mundial residia em área urbana, sendo que a projeção para 
2050 é de que esse percentual alcance 66%.
Fonte: https://goo.gl/MeH4Mb
12
13
• O crescimento da atividade de serviços:
Segundo a Pesquisa Anual de Serviços – PAS de 2014, realizada pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o setor de servi-
ços é o que mais emprega no país, sendo responsável por 40,5% das 
pessoas ocupadas (5.279.378).
Fonte: https://goo.gl/eK27cA
• A difusão da educação formal:
O último Censo Escolar da Educação Básica, pesquisa anual do Instituto 
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 
aponta 48,6 milhões de matriculados no ensino fundamental e 7,9 
milhões de matriculados no ensino médio. No entanto, é preciso lembrar 
que a difusão, ampliação e democratização do ensino não deve se pautar 
apenas em critérios quantitativos relativos ao aumento do acesso ou 
oferta, tão ou mais importante é a qualidade do ensino oferecido aos 
jovens brasileiros.
• A mudança no perfil demográfico das populações:
Características da população brasileira: O site de notícias BBC Brasil 
resumiu as principais mudanças no perfil da população brasileira, levando 
em consideração a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios do IBGE 
de 2014, nos seguintes enunciados: a) o Brasil continua envelhecendo; b) 
Mais de 80 milhões vivem fora de sua cidade natal; c) Analfabetismo cai, 
mas ainda reflete desigualdade regional; d) Diploma superior é privilégio 
de apenas 13%; e) Aumento brusco de “desocupados”; f) Trabalho infantil 
volta a subir; g) Computadores em casa têm primeira queda; h) Água e 
luz avançam, saneamento deixa a desejar; i) Desigualdade social continua 
em redução gradual; j) Pretos e pardos têm novo aumento proporcional.
Fonte: https://goo.gl/G9bNT9
• A socialização das pessoas por meio das redes sociais e:
Uso das redes sociais no Mundo: Estudo da eMarketer “Worldwide 
Social Network Users: eMarketer’s Estimates and Forecast for 
2016–2021” (Usuários da Rede Social Mundial: Estimativas e Previsão 
da eMarketer para 2016–2021) estimou que 2,46 bilhões de pessoas 
já contam com as redes sociais em sua rotina, o que significaria 
aproximadamente 1/3 da população mundial.
Fonte: https://goo.gl/fPGFr6
• A individualização do lazer:
Para essa última mudança social, reservamos uma exposição um pouco 
mais aprofundada em função de sua vinculação direta com a temática 
da disciplina. A sociedade atual caracteriza-se por uma exacerbação do 
individualismo hedonista e personalizado. Como consequência disso, não há 
mais uma consciência de classe, a significação das coisas e fenômenos não 
se constrói a partir da noção de coletivo e sim pelos sentimentos individuais 
e observa-se a formação de identidades fragmentadas e contraditórias. Ao 
mesmo tempo, observa-se uma descrença ou rejeição pela tradição e a 
experiência que não são mais vistas como fontes de saber e de explicação 
para as questões e problemas atuais.
13
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
No âmbito do lazer, atualmente influenciado pela forte indústria cultural e do 
entretenimento, o individualismo se expressa juntamente com a perspectiva hedo-
nista e o impulso consumista. Nesse panorama, a construção do lazer se conforma 
na busca pelo atendimento da necessidade ou do prazer individual mediados pela 
atividade de consumo (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004). 
Formiga et al. (2013) concordam que os hábitos de lazer podem expressar esse 
individualismoe busca de prazer, destinado unicamente ao próprio sujeito no momento 
da diversão. No entanto, os autores também concebem a possibilidade de que o lazer 
que incentive a formação cultural, intelectual e de informação, além de ser um tempo 
e espaço para o desenvolvimento da criatividade, dos conhecimentos e interação com 
os demais de forma que a diversão assuma uma característica de brincar.
Voltando às transformações societárias de forma geral, todas as transformações 
apresentadas são muito importantes para compreender a sociedade contemporânea 
e, para além delas, poderíamos citar outras de igual relevância, tais como: 1) o 
crescimento da importância do papel social das mulheres, sobretudo no mercado 
de trabalho; 2) a atuação dos jovens no cenário político; 3) o grande aumento do 
contingente de desprotegidos sociais; 4) o aumento dos movimentos migratórios, 
seja pela flexibilidade das fronteiras nacionais, seja pela fuga das guerras civis; 5) 
o recrudescimento dos movimentos nacionalistas e separatistas; 6) crescimento de 
correntes ultraconservadoras de inspiração fascista. 
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
2. Aspecto Cultural
No que se refere ao aspecto cultural, as alterações se deram fundamentalmente 
no que ficou conhecido como Indústria Cultural. Mas o que seria essa indústria? 
Na disciplina Lazer e Entretenimento tivemos a oportunidade de conhecê-la melhor. 
Você se recorda? 
14
15
De forma bastante resumida, trata-se de um termo desenvolvido pelos autores 
Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) para demonstrar 
e criticar que a cultura também foi convertida em mercadoria. 
O entretenimento e os elementos da indústria cultural já existem muito 
tempo antes dela. (...) A indústria cultural pode se ufanar de ter (...) despido 
a diversão de suas ingenuidades inoportunas e de ter aperfeiçoado o feitio 
das mercadorias (ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 126).
Nesse contexto, é a espetacularização do entretenimento que dita os padrões 
de expressão cultural. Utilizam principalmente os meios de comunicação de mas-
sa, dentre eles, com destaque para a televisão e, mais recentemente, a internet. 
Os hábitos, a moda, o comportamento, os valores são, em boa parte, ditados por 
esses mecanismos.
O professor José Paulo Netto afirma que a cultura de nossa época está fundada 
em dois vetores:
 [...] a translação da lógica do capital para todos os processos do espaço 
cultural (produção, divulgação e consumo) e desenvolvimento de formas 
culturais socializáveis pelos meios eletrônicos (a televisão, o vídeo, a cha-
mada multimídia). (NETTO, 1996, p. 97).
Nesta citação, Netto demonstra o que Adorno e Horkheimer já haviam sinalizado, 
a cultura sendo transformada em mercadoria, ou seja, tendo inserido a lógica do 
capital em sua produção e proporcionado seu consumo através do desenvolvimento 
tecnológico dos meios eletrônicos. 
A lógica capitalista, onde tudo pode ser transformado em mercadoria passa, 
então, a se generalizar e fazer parte de todos os setores da vida social, até mesmo 
os que representavam antes uma resistência à mercantilização, como as expressões 
artísticas e culturais. A título de exemplo, segundo Mascarenhas (2005), as tribos 
da chamada contracultura já se encontram domesticadas e homogeneizadas pela 
indústria cultural global.
3. Aspecto Econômico 
A hegemonia do pensamento neoliberal promoveu uma reestruturação do ca-
pitalismo. Esse novo arranjo caracterizou-se pelo aumento exponencial do capital 
fictício e da financeirização da economia em detrimento dos investimentos produ-
tivos. Ao mesmo tempo, difundia-se a ideia de que o Estado deveria assumir um 
compromisso social mínimo.
O ajuste neoliberal da economia almejava reduzir o aumento inflacionário e 
impulsionar a taxa de crescimento econômico. Todavia, Chauí (1999) observa 
que o primeiro objetivo foi alcançado, enquanto o segundo não, isto “porque o 
modelo [adotado] incentivou a especulação financeira em vez dos investimentos na 
produção; o monetarismo superou a indústria” (p. 28-29).
15
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
No período de trinta anos (1980 e 2010), o capitalismo conviveu com sucessi-
vas crises e instabilidades. Dentro desse cenário incerto, as taxas de crescimento 
decaíram na comparação com o período de vigência do Welfare State (Estado de 
Bem-Estar Social); o índice de desemprego teve registros de crescimento exponen-
cial; a estabilidade social dos “anos dourados” (nome criado por Eric Hobsbawn 
para se referir ao período de 1945 a 1973, no qual a Europa passou por um cres-
cimento econômico significativo) deu lugar ao sentimento de insegurança; e houve 
o crescimento da disparidade na distribuição da renda.
O agravamento dos problemas sociais resultou em um capitalismo contemporâ-
neo, sumarizado por Chauí (1999), nos seguintes traços:
1. desemprego tornou-se estrutural, deixando de ser acidental ou expres-
são de uma crise conjuntural [...] 2. o monetarismo e o capital financeiro 
tornaram-se o coração e o centro nervoso do capitalismo, ampliando a 
desvalorização do trabalho produtivo e privilegiando a mais abstrata e 
fetichizada das mercadorias, o dinheiro [...] 3. a terceirização, isto é, o 
aumento do setor de serviços, tornou-se estrutural, deixando de ser su-
plementar à produção [...] 4. a ciência e a tecnologia tornaram-se forças 
produtivas, deixando de ser mero suporte do capital para se converter em 
agentes de acumulação [...] 5. [...] a privatização tanto de empresas quan-
to de serviços públicos também tornou-se estrutural. Disso resulta que a 
ideia de direitos sociais como pressuposto e garantia dos direitos civis ou 
políticos tende a desaparecer [...] 6. a transnacionalização da economia 
torna desnecessária a figura do Estado nacional como enclave territorial 
para o capital e dispensa as formas clássicas do imperialismo [...] 7. a dis-
tinção entre países de Primeiro e Terceiro Mundo tende a ser substituída 
pela existência, em cada país, de uma divisão entre bolsões de riqueza 
absoluta e de miséria absoluta [...] (p. 31).
4. Aspecto Político
Todas essas alterações nos âmbitos econômico, cultural e social se relacionam 
mutuamente e impactam também nas transformações políticas ocorridas contem-
poraneamente. As principais delas são:
• O fortalecimento de uma oligarquia financeira transnacional;
• Descaracterização das classes sociais e, por conseguinte, da clássica oposição 
capital x trabalho;
16
17
• Enfraquecimento do movimento operário, tanto em função do desemprego 
crescente em função da automação da indústria, quanto em função do 
crescimento do setor de serviços, da terceirização e flexibilização das leis 
trabalhistas; e
• Fortalecimento dos tradicionais e “novos” movimentos sociais (movimento dos 
sem-terra, movimento dos sem-teto, movimento dos aposentados, movimento 
negro, movimento LGBT, entre outros).
Além desses aspectos, identificamos também o enfraquecimento de ordenamen-
tos político-sociais, que são fundamentais para o fortalecimento dos direitos sociais. 
Tais ordenamentos seriam a base para uma alternativa progressista ao capitalismo, 
como o socialismo e a socialdemocracia. 
Até aqui abordamos algumas das mais importantes transformações sociais con-
temporâneas. Ainda que de forma apenas introdutória, já foi possível perceber 
o impacto delas sobre o tempo livre e, mais especificamente, sobre o lazer. No 
entanto, essas mudanças também causam impacto sobre o contraponto do tempo 
de não trabalho. Nesse sentido, vejamos agora como todas essas transformações 
impactaram o mundo do trabalho.
As Mudanças no Mundo do Trabalho
Você lembra que na seção anterior fizemos uma diferenciação entre níveis de 
transformações sociais? No caso das últimas mudanças que apresentamos, elas são 
alterações que não revolucionam ou não causam ruptura dentro da formação social 
vigente. Você conseguiu perceber isso? Em outras palavras, poderíamos dizer queelas são “adaptações” no interior da sociedade capitalista, sendo muitas vezes uma 
resposta de sobrevivência às crises engendradas no próprio capitalismo. 
Hobsbawn (1995) afirma que a crise estrutural do sistema capitalista teve como 
uma de suas consequências a reconfiguração do padrão de acumulação. Antes o 
modelo adotado era o taylorista/keynesiano, baseado no aumento da produção, 
na racionalização do tempo e no Estado interventor na economia e garantidor do 
pleno emprego. Com o esgotamento desse modelo, surge, então, um novo padrão 
fundado na chamada flexibilização, reestruturação produtiva ou acumulação flexível.
O que seria essa acumulação fl exível? É uma nova forma de organização da produção 
(como o toyotismo, por exemplo) considerando as novas relações econômicas globais 
(globalização), a fi nanceirização do capital, revolução informacional (desenvolvimento da 
indústria eletrônica) e a desterritorialização do capital. Perceba que não há mais fronteiras, 
principalmente a partir da formação dos megablocos transnacionais.
Ex
pl
or
17
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Para responder a sua crise, o capital realiza um processo de reestruturação 
produtiva, que é exatamente a estruturação da acumulação flexível, que consiste em 
substituir a produção “rígida” (taylorismo/fordismo). Permanece com a produção 
em larga escala, no entanto, buscando mercados específicos e tentando romper 
com a padronização, atendendo variabilidades culturais e regionais e voltando-se 
para peculiaridades de setores particulares de consumo. Como não poderia deixar 
de ser, é essencial para a reestruturação produtiva uma alta e intensa incorporação 
à produção de tecnologias resultantes de avanços técnico-científicos.
Com a implementação dessas novas tecnologias no processo produtivo, o tra-
balho vivo (do ser humano) no setor industrial passa a ser cada vez menor, o que 
acarreta no aumento do desemprego. Essa parece ser uma conta fácil, não é 
mesmo? Mas, então, seria o caso de sermos contrário ao avanço tecnológi-
co? De forma alguma! Não é esse nosso objetivo; por ora queremos tão-somente 
demonstrar/acentuar uma mudança que acontece no setor industrial e da produção 
em tempos recentes e que gera impactos sociais e também na esfera do lazer. 
A alteração no modo de produção tem como consequência a mudança no perfil 
profissional. Deixa-se a figura daquele trabalhador fabril (do século XIX) fixado em 
uma única função de lado e em seu lugar aparece o trabalhador que deve ser o mais 
polivalente possível dentro de sua especialidade. 
Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
Ricardo Antunes (1999) afirma que essa reorganização do processo produtivo 
está vinculada à reorganização do capital para responder aos seus interesses de 
“retomada do seu patamar de acumulação e do seu projeto de dominação global” 
(p.50). Com base nessa afirmação, Antunes esclarece sobre duas das principais 
mudanças operadas no processo de reorganização da produção material: 1) quali-
dade total; e 2) liofilização organizativa da empresa “enxuta”.
18
19
1. Qualidade Total
Antunes (1999) questiona a validade e veracidade do discurso sobre a qualidade 
total dos produtos. Você já ouviu falar sobre “obsolescência planejada”? Já 
reparou na velocidade com que são lançados novos produtos no mercado? 
Um Smartphone que hoje é considerado de última geração no ano seguinte está 
ultrapassado! Como isso é possível? Será que somos capazes de conhecer, 
utilizar e esgotar todas as ferramentas e funcionalidades de nosso aparelho 
de celular antes de trocá-lo por um modelo mais moderno? 
Antunes (1999) nos ajuda a pensar sobre essas questões ao demonstrar que há, 
na verdade, um antagonismo entre qualidade total e qualidade do produto:
A “qualidade total” torna-se, ela também, a negação da durabilidade das merca-
dorias. Quanto mais “qualidade” as mercadorias apresentam (e aqui a aparência faz 
a diferença), menor tempo de duração elas devem efetivamente ter. Desperdício e 
destrutividade acabam sendo seus traços determinantes (p. 51).
De acordo com Mascarenhas (2005): 
A aparente e falsa qualidade e as diversas técnicas de diminuição do tem-
po de uso das mercadorias, encurtando deliberadamente sua vida útil, 
é algo que vem sendo discutido também, como assinala Haug (1997), 
sob o conceito de obsoletismo artificial ou obsoletismo planejado. De um 
lado, as mercadorias já saem da fábrica com uma espécie de detonador, 
um relógio de contagem regressiva que dá início à sua destruição depois 
de um tempo devidamente pré-calculado, a obsolescência embutida. 
De outro, os esforços de manipulação e propaganda concentram-se no 
descarte antecipado de objetos ainda em condições de perfeita utilização. 
Esta técnica, da obsolescência prematura, é bem mais sofisticada (p.88 
e 89, grifos do autor).
Ou seja, o que os autores acima tentam nos demonstrar é que a chamada 
qualidade total dos produtos não está mais vinculada a sua durabilidade. Ao 
contrário, o maior investimento está em sua imagem e aparência, bem como nas 
estratégias de propaganda que impulsionaram os indivíduos a consumi-lo. Será 
que, a partir desses exemplos, ficou mais clara para você a diferença entre 
qualidade total e qualidade do produto?
2. Liofi lização Organizacional
Provavelmente ao ler esse aspecto da reorganização da produção, você deve ter se 
perguntando: Mas, afinal, o que significa “liofilização”? O significado é bem mais simples 
do que parece, liofilização significa a eliminação, a transferência e o “enxugamento” 
das unidades produtivas. O melhor exemplo dessa mudança é o toyotismo.
19
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images
Antunes (1999) demonstra que há elementos de continuidade e descontinuidade 
na transição do modelo fordista/taylorista para o toyotismo, afirmando existir um 
padrão diferente de produção, que se baseia na liofilização organizacional, no 
enxugamento, com o objetivo final de reduzir o tempo de trabalho:
[...] trata-se de um processo de organização do trabalho cuja finalidade 
essencial, real, é a intensificação das condições de exploração da força 
de trabalho, reduzindo muito ou eliminando tanto o trabalho improdutivo, 
que não cria valor, quanto as suas formas assemelhadas, especialmente nas 
atividades de manutenção, acompanhamento, e inspeção de qualidade, 
funções que passaram a ser diretamente incorporadas ao trabalhador 
produtivo. Reengenharia, lean production, team work, eliminação de 
postos de trabalho, aumento da produtividade, qualidade total, fazem 
parte do seu ideário (e da prática) cotidiana da fábrica moderna. Se no 
apogeu do taylorismo/fordismo a pujança de uma empresa mensurava-se 
pelo número de operários que nela exerciam sua atividade de trabalho, 
pode-se dizer que na era da acumulação flexível e da ‘empresa enxuta’ 
merecem destaque, e são citadas como exemplos a serem seguidos, 
aquelas empresas que dispõem de menor contingente de força de trabalho 
e que apesar disso têm maiores índices de produtividade. (p. 53).
Como já apontamos na seção anterior, essas transformações no mundo do 
trabalho também impactam na organização dos trabalhadores. Sob esse aspecto, 
Antunes (1999) aponta para uma:
[...] desregulamentação enorme de direitos do trabalho, que são eliminados 
cotidianamente em quase todas as partes do mundo onde há produção 
industrial e de serviços; aumento da fragmentação no interior da classe 
trabalhadora; precarização e terceirização da força humana que trabalha; 
destruição do sindicalismo de classe e sua conversão num sindicalismo 
dócil, de parceria (partnership), ou mesmo em um sindicalismo de 
empresa. (p. 53).
20
21
Netto (1996) e outro autor que, ao analisar essa reestruturação produtiva, faz 
uma síntese muito interessante sobre suas consequências:
Não é preciso muito fôlego analítico(...) para concluir que a revolução 
tecnológica tem implicado uma extraordinária economia de trabalho vivo, 
elevandobrutalmente a composição orgânica do capital. Resultado direto 
(exatamente conforme a projeção de Marx): cresce exponencialmente a 
força de trabalho excedentária em face dos interesses do capital. O capi-
talismo tardio, transitando para um regime de acumulação ‘flexível’, rees-
trutura radicalmente o mercado de trabalho, seja alterando a relação entre 
excluídos/incluídos, seja introduzindo novas modalidades de contratação 
(mais “flexíveis”, do tipo ‘emprego precário”), seja criando novas estratifi-
cações e novas discriminações entre os que trabalham (cortes de sexo, ida-
de, cor, etnia). A exigência crescente, em amplos níveis, de trabalho vivo 
superqualificado e/ou polivalente (coexistindo com a desqualificação ana-
lisada por BRAVERMAN, 1987), bem como as capacidades de decisão 
requeridas pelas tecnologias emergentes (que colidem com o privilégio do 
comando do capital), coroa aquela radical reestruturação – reestruturação 
que, das “três décadas gloriosas” do capitalismo monopolista, conserva os 
padrões de exploração, mas que agora se revelam ainda mais acentuados, 
incidindo muito fortemente seja sobre o elemento feminino que se tornou 
um componente essencial da força de trabalho, seja sobre os estratos mais 
jovens que a constituem, sem esquecer os emigrantes que, nos países 
desenvolvidos, fazem o “trabalho sujo”. (p. 92-93). 
Importante!
Fim da sociedade do trabalho? Apesar do grande impacto das novas tecnologias 
sobre a classe operária, não é verdadeira a ideia de que ela esteja morrendo 
numericamente. Significa muito mais mudanças em seu interior. Nota-se um 
claro processo de desindustrialização, ou uma passagem da velha para a nova 
indústria. Embora no Brasil tenhamos um alto número de trabalhadores informais, 
as estatísticas não demonstram uma alteração demográfica significativa no 
contingente de trabalhadores. De acordo com dados da Pesquisa Mensal de 
Emprego (PME) de 2014, realizada pelo IBGE, naquele ano tínhamos 50,8% da 
população ocupada, trabalhando com carteira assinada no setor privado, o que 
corresponde a 11,807 milhões de pessoas.
Importante!
Esperamos que, até esse ponto, você já consiga perceber as implicações 
das mudanças apontadas nas relações de trabalho. Você consegue, por 
exemplo, notar com mais clareza que a evolução tecnológica possui 
aspectos positivos e negativos? Que há um novo perfil de trabalhador 
para um novo modo de produzir as coisas? E que essas coisas nem sempre 
possuem a qualidade anunciada em suas propagandas e embalagens? E 
que muitos dos produtos mais modernos da atualidade se caracterizam 
por uma acelerada descartabilidade?
21
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
O Impacto das Transformações Sobre o 
Tempo Livre
Em nosso percurso nessa terceira unidade de conteúdo já passamos pelas mu-
danças mais abrangentes na sociedade contemporânea, no mundo do trabalho, 
resta agora mais um dos aspectos que compõem essa disciplina. Ou seja, se já fa-
lamos sobre a sociedade e o trabalho, é chegada a hora de abordarmos a temática 
do lazer. Vejamos, agora, de que forma as transformações que apresentamos nas 
seções anteriores impactam também no “tempo livre”.
Vamos começar, então, relembrando a estreita relação entre o trabalho e o 
tempo livre. Para Adorno (1995) a expressão tempo livre:
[...] aponta a uma diferença específica que o distingue do tempo não 
livre, aquele que é preenchido pelo trabalho e, poderíamos acrescentar, 
na verdade, determinado desde fora. O tempo livre é acorrentado ao seu 
oposto. Esta oposição, a relação em que ela se apresenta, imprime-lhe 
traços essenciais. Além do mais, muito mais fundamentalmente, o tempo 
livre dependerá da situação geral da sociedade. Mas esta, agora como 
antes, mantém as pessoas sob um fascínio. Nem em seu trabalho, nem 
em sua consciência dispõem de si mesmas com real liberdade.
Percebe-se que a relação entre os tempos é muito forte e é definido brutalmente 
pelo trabalho, embora haja a preocupação em dar uma roupagem diferente ao 
tempo fora do trabalho. No entanto, este é determinado também pelo trabalho e 
por suas alterações. Aqui, vale lembrar a observação de Antunes (2001), de que 
uma vida com sentido no tempo livre depende de uma vida com sentido no traba-
lho, sob o risco deste último interferir/macular a esfera fora do trabalho. 
Na parte anterior destacamos que o processo de reestruturação produtiva tem 
provocado uma redução do emprego regular em favor do crescente uso do trabalho 
em tempo parcial, temporário ou subcontratado, modificando o perfil do tempo 
e do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, observamos que uma das conse-
quências negativas do avanço tecnológico é o crescimento do “exército industrial 
de reserva” (os desempregados), o que, por conseguinte, resulta em uma redução 
salarial real.
Você percebe que nos colocamos diante de um cenário paradoxal? Por um 
lado, o avanço tecnológico nos deu a possibilidade concreta de trabalharmos 
menos e, portanto, ter mais tempo livre para usufruir as atividades de lazer. 
No entanto, por outro lado, a automação veio acompanhada do desemprego 
e a dificuldade dessas pessoas de se recolocarem no mercado de trabalho, o 
que impede que elas possam utilizar esse tempo disponível com atividades que 
contribuam com o seu desenvolvimento humano e social. Ao contrário, muitas 
vezes, para voltar urgentemente à condição de empregado, passam a utilizar esse 
maior tempo livre para atualização ou qualificação profissional.
22
23
Polato (2003) afirma que por essa instabilidade econômica, devido à grande 
taxa de desemprego e à precariedade das relações de trabalho para a classe 
trabalhadora, seu tempo fora do trabalho também passa a ser afetado. Percebe-se 
que o trabalhador acaba destinando esse tempo disponível fora do trabalho para 
buscar qualificação profissional (lembram quando falamos da necessidade de um 
trabalhador polivalente?) – essa qualificação lhe daria maiores possibilidades de ter 
seu emprego garantido – e também para procurar outras atividades remuneradas 
que o ajudem a aumentar a renda familiar.
Mas, o que há de errado no uso do tempo livre para a qualificação e capa-
citação profissional? Esse conhecimento que estou adquirindo também não 
pode me levar a um desenvolvimento pessoal? De fato, o problema maior não 
está na utilização do tempo livre, mas sim em essa ser uma “opção” forçada devido 
a uma condição de vida desfavorável.
De outro lado e concomitantemente, observa-se uma acentuada redução de tempo 
disponível para que o sujeito se aproprie de conteúdos desenvolvidos pelo gênero 
humano, através da realização de atividades de lazer. Ou seja, há pouca possibilidade 
para que esse sujeito vivencie a arte, a cultura, o esporte, a dança, uma vez que as 
experiências de lazer concorrem com as preocupações geradas por esse processo de 
exclusão social. Você percebe, agora, onde está o problema?
Esses processos de fragmentação do trabalho fazem parte do contexto da 
sociedade contemporânea e, ao mesmo tempo, escancaram e ampliam os 
problemas sociais, a retirada de direitos conquistados e dificultam a vida nos 
grandes centros urbanos etc. Curiosamente, mesmo com tantas privações e 
exclusões, tem crescido cada vez mais o investimento no setor de entretenimento 
associado à indústria do lazer. 
Você deve estar se questionando que essa afirmação parece contraditória, 
não é mesmo? O que sustenta esse crescimento? Quem são as pessoas que 
consomem os produtos ofertados por esse setor? 
Essas perguntas são chave para compreendermos como o lazer vem sendo en-
carado nessa sociedade de consumo e como ele tem sido transformado em merca-
doria. Entretanto, esses são assuntos para nossa próxima unidade.
23
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Do escravismo ao feudalismo
https://goo.gl/ZWD3aA
 Livros
O novo (e precário) mundo do trabalho
ALVES, G. O novo (eprecário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000.
Adeus ao trabalho? 
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? São Paulo: Cortez, 2000.
 Vídeos
A História das Coisas
A História das Coisas. (versão brasileira do documentário “The Story of Stuff”, de 
Annie Leonard).
https://youtu.be/7qFiGMSnNjw
 Filmes
O Corte
O Corte. (Le Couperet). Bélgica/França/Espanha. 2005. Direção: Costa-Gravas. 
Duração: 122 min.
Ou Tudo ou Nada
Ou Tudo ou Nada. Reino Unido. 1997. Direção: Peter Cattaneo. Duração: 1h 35m.
24
25
Referências
ADORNO, T. W. Tempo Livre. In: Palavras e Sinais, modelos críticos 2. 
Petrópolis: Vozes, 1995, pp. 70-82.
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o esclarecimento como 
mistificação das massas. In: ________. Dialética do esclarecimento: fragmentos 
filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p. 113-156.
ALMEIDA, m. A. B. de e GUTIERREZ, G. L. Subsídios teóricos do conceito cultura 
para entender o lazer e suas políticas públicas. Conexões, Campinas, v. 2, n. 1, 2004.
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.
________. Tempo de trabalho e tempo livre: algumas teses para discussão. In: BRUHNS, 
H. e GUTIERREZ, G. L. Representações do lúdico: II Ciclo de Debates Lazer e 
Motricidade. Campinas: Autores Associados/FEF UNICAMP, 2001 pp. 21-25.
CHAUI, M. Ideologia neoliberal e universidade. In: OLIVEIRA, F. & PAOLI, M. C. 
Os sentidos da democracia: políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 1999.
FORMIGA, N. S.; MELO, G.; LEME, J. Pares sócio-normativos, orientação 
cultural, hábitos de lazer e condutas desviantes: verificação de um modelo teórico 
em jovens. Rev. psicol. univ. antioquia, v.5, n.1, Medelin, jun. 2013.
HOBSBAWN, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995.
MASCARENHAS, F. Entre o ócio e o negócio: teses acerca da anatomia do lazer 
[tese]. Campinas (SP): Faculdade de Educação Física: Universidade Estadual de 
Campinas; 2005. 
NETTO, J. P. Transformações societárias e Serviço Social – notas para uma análise 
prospectiva da profissão no Brasil. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano 
XVII, n. 50, Cortez, p. 87-132, abril 1996.
POLATO, Thelma Hoehne Peres. Lazer e Trabalho: algumas reflexões a partir da 
ontologia do ser social. Revista Motrivivência, Florianópolis, Ano XV, nº 20-21, 
P. 139-162 Mar./Dez.-2003.
PRONI, M. W. História do capitalismo: uma visão panorâmica. Cadernos do CESIT, 
Campinas, n.25, out. 1997.
SEGAL, L. O desenvolvimento econômico da sociedade. 2016. Disponível em: 
<https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/estudo/segal/02.htm#tr3>.
25

Continue navegando