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Zoonose e Saúde Pública Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Marianne Rachel Domiciano Dantas Martins Revisão Textual: Maria Cecília Andreo Brucelose e Tuberculose Brucelose e Tuberculose • Conhecer o Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Bruce- lose e da Tuberculose Animal – PNCEBT; • Aprofundar os conhecimentos sobre duas enfermidades de grande importancia economica no pais. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Tuberculose; • Brucelose. UNIDADE Brucelose e Tuberculose Introdução O estudo da tuberculose e da brucelose bovina é de suma importância para a pe- cuária brasileira, levando a prejuízos relacionados à queda da produção, diminuição do valor dos animais, bem como seu descarte, por força do programa nacional de controle. Além de doenças dos animais, são zoonoses transmitidas ao homem tanto por ali- mentos de origem animal quanto pelo contato e pela proximidade com animais doentes. É fundamental que o médico-veterinário, o responsável por atividades pecuárias, ins- peção e qualidade de alimentos de origem animal e aquele envolvido diretamente com a saúde pública tenha conhecimento amplo e completo dessas doenças. Tuberculose A tuberculose zoonótica, causada pelo agente Mycobaterium bovis, é transmitida ao homem principalmente pelo consumo de alimentos de origem animal, causando ao homem doença grave e de difícil tratamento. A tuberculose causada pelo Mycobacterium bovis é uma zoonose de evolução crô- nica que acomete, principalmente, bovinos e bubalinos. Caracteriza-se pelo desenvolvi- mento progressivo de lesões nodulares denominadas tubérculos, que podem se localizar em qualquer órgão ou tecido. Etiologia A tuberculose é causada por bactérias do gênero Mycobacterium. São bastonetes curtos aeróbicos, imóveis, não capsulados, não flagelados, apresentando aspecto granu- lar quando corados, medindo de 0,5 a 7,0 μm de comprimento por 0,3 μm de largura, sendo a álcool-ácido resistência na técnica de coloração de Ziehl-Neelsen (Figura 1) a sua propriedade mais característica. Essas características superpõem-se nos gêneros Nocardia, Rhodococcus e Corynebacterium, sendo estas algumas bactérias que devem ser diferenciadas quando da suspeita da presença do Mycobaterium. Figura 1 – Mycobacterium tuberculosis corado pela técnica de Ziehl-Neelsen evidenciando a bactéria com coloração rósea e o fundo em azul. Aumento de 1.000 X Fonte: Wikimedia Commons 8 9 As micobactérias do complexo M. tuberculosis (M. tuberculosis, M. bovis e M. africanum) são as principais causadoras da tuberculose nos mamíferos, sendo a espécie M. tuberculosis relacionada à tuberculose humana, e M. bovis, à dos bovinos com aspecto zoonótico. A parede celular do gênero Mycobacterium é rica em lipídios (60% do peso seco da célula), a parede celular é constituída de ácido micólico (cadeia de mais de 60 Carbonos), arabinogalactana que faz a ligação do peptideoglicano aos lipídeos, lipídeos frouxamente ligados como o Fator corda, cera D, sulfolipídeos, lipoarabinomanana, glicolipídeos e proteínas que formam a tuberculina utilizada nas provas diagnósticas. Esse tipo de parede é responsável pelas características de coloração, resistência e virulência da bactéria e confere estabilidade ao tratamento com ácidos e álcalis fracos, permitindo resistência ambiental a alguns desinfetantes. Também promove ativação de macrófagos. O gênero Mycobacterium não produz exotoxinas, sendo a virulência baseada na sua alta resistência a resposta imune, principalmente em não imunizados previamente por vacina ou exposição. Do ponto de vista de crescimento e cultivo, são aeróbios estritos e necessitam de meios orgânicos ricos para o seu crescimento; um desses meios é o Lowenstein-Jensen, cuja composição apresenta ovos, fécula de batata e Verde Malaquita, um inibidor para outras bactérias, permitindo seu crescimento sem a presença de contaminantes. O cultivo leva várias semanas de crescimento, por volta de 30 dias; as espécies que crescem em mamífe- ros necessitam de temperaturas entre 33 °C e 39 °C, as aviárias, de 25 °C a 45 °C. O Mycobacterium é sensível a poucos antibióticos, como estreptomicina, isoniazida, etambutol e rifampicina. É resistente ao hidróxido de sódio (NaOH) e ácido clorídrico (HCL) a um normal de concentração (1N). Apesar de resistente a vários desinfetantes, é sensível aos desinfetantes fenólicos. No solo, resiste ao dessecamento por longos períodos. • Mycobacterium bovis: essa espécie tem amplo espectro de patogenicidade para animais domésticos e silvestres, principalmente bovinos e bubalinos, e pode parti- cipar da etiologia da tuberculose humana. A doença humana causada pelo M. bovis é também denominada tuberculose zoonotica; • Mycobacterium tuberculosis: é a principal causa de tuberculose no ser humano, pode infectar também os bovinos, porém não causa doença progressiva nessa es- pécie, todavia, ocasionalmente, pode sensibilizá-los ao teste de tuberculina; • Mycobacterium avium: é o agente causador da tuberculose em várias espé- cies de aves, sendo integrante do complexo MAIS (M. avium, M. intracellulare e M. scrofulaceum). As micobactérias do complexo MAIS causam lesões granulomatosas nos linfonodos do trato gastrointestinal de suínos, levando a linfadenite granulomatosa, que gera sérias perdas no abate desses animais. No ser humano, a infecção pelas micobactérias do complexo MAIS tem impor- tância para os indivíduos com deficiência imunológica, não ocorrendo em indiví- duos imunocompetentes. As micobactérias do complexo MAIS não são patogênicas para os bovinos e bubali- nos, mas provocam reações inespecíficas à tuberculinização, dificultando o diagnóstico da tuberculose nessas espécies. 9 UNIDADE Brucelose e Tuberculose Epidemiologia O reservatório para o homem da tuberculose zoonótica são os bovinos. Na espécie bovina, a transmissão se dá por via aerógena, a prevalência média nacional é de 1,3% de animais (bovinos e bubalinos) reagentes à tuberculina no período de 1989 a 1998. A transmissão (Figura 2) do M. bovis para outras espécies, incluindo o homem, se dá tanto por via aerógena como oral. Em suínos, a via de transmissão é oral e pode ser transmitida ao homem também por via aerógena. A transmissão entre humanos de tuberculose animal é rara. Digestiva > aerógena Aerógena DigestivaBovino Homem Entérica Raro Aerógena Suínos Caprinos Felinos Bovino Figura 2 – Transmissão de Mycobacterium bovis entre o homem e animais Patogenia Por volta de 90% das infecções por M. bovis em bovinos e bubalinos ocorrem pela via respiratória, por meio da inalação de aerossóis contaminados com o micro-organismo. Atingidos os alvéolos, o bacilo é capturado por macrófagos e o desenrolar vai depender da virulência do micro-organismo, da carga infectante e da resistência do hospedeiro. Os bacilos se multiplicarão dentro dos macrófagos até os destruir, aqueles liberados pelos macrófagos infectados serão fagocitados por outros macrófagos alveolares ou por monócitos, recém-chegados da corrente circulatória, atraídos pelos próprios bacilos liberados, ou por fatores quimiotáticos produzidos pelo hospedeiro. Quando cessa essa multiplicação, cerca de 2 a 3 semanas após a inalação do agente infeccioso, é caracterizada resposta imune mediada por células e reação de hipersensibilidade tardia. O hospedeiro destrói seus próprios tecidos por meio da necrose de caseificação para conter o crescimento intracelular das micobactérias. Com a mediação dos linfócitos T, ocorre a migração de novas células de defesa, culminando com a formação dos granu- lomas. Os granulomas são constituídos por uma parte central, por vezes com área de necrose de caseificação, circundada por células epitelioides, células gigantes, linfócitos, macrófagos e uma camada periférica de fibroblastos. Os bacilos da lesão tuberculosa do parênquima pulmonar propagam-se ao linfonodo- -satélite, no qual desencadeiam a formaçãode novo granuloma, constituindo, assim, o complexo primário. 10 11 As lesões pulmonares têm início na junção bronquioloalveolar com disseminação para os alvéolos e linfonodos brônquicos, podendo regredir, persistir estabilizadas ou progredir. A disseminação da infecção para outros órgãos pode ocorrer precocemente durante o desenvolvimento da doença, ou em fase tardia, em razão de queda na imuni- dade do animal. A generalização da infecção pode assumir duas formas: • Miliar: quando ocorre de maneira abrupta e maciça, com entrada de um grande número de bacilos na circulação; • Protraída: a mais comum, que se dá por via linfática ou sanguínea, acometendo o próprio pulmão, linfonodos, fígado, baço, úbere, ossos, rins, sistema nervoso cen- tral, disseminando-se por, praticamente, todos os tecidos. As lesões macroscópicas têm, em geral, coloração amarelada em bovinos e ligeira- mente esbranquiçadas em búfalos, apresentam-se na forma de nódulos de 1 cm a 3 cm de diâmetro, ou mais, que podem ser confluentes, de aspecto purulento ou caseoso, com presença de cápsula fibrosa, podendo apresentar necrose de caseificação no centro da lesão ou, ainda, calcificação nos casos mais avançados. As lesões são encontradas com mais frequência em linfonodos (mediastínicos, retrofaríngeos, bronquiais, parotíde- os, cervicais, inguinais superficiais e mesentéricos), em pulmão e fígado. É uma doença de evolução muito lenta, os sinais clínicos são pouco frequentes em bovinos e bubalinos. Em estágios avançados e dependendo da localização das lesões, os bovinos podem apresentar caquexia progressiva, hiperplasia de linfonodos superficiais e/ou profundos, dispneia, tosse, mastite e infertilidade, entre outros. • Doença nos bovinos: Nos bovinos, a transmissão do Micobacterium bovis se dá por via aerógena em adultos e por via oral em bezerros. Após penetração por via aerógena, formam-se complexos primários nos linfonodos brônquicos. A imunode- pressão propicia a disseminação por via linfo hematógena levando a lesões gene- ralizadas. Normalmente, o curso é crônico e o animal torna-se fonte de infecção; • Enfermidade nos suínos: Em suínos, a tuberculose pode ocorrer por M. tuber- culosis, M. bovis ou M. avium. A transmissão se dá principalmente por via oral, após oferecer restos de alimento humano, subprodutos lácteos ou restos de aves. Formam-se complexos primários na orofaringe, linfonodos submaxilares, intestino e linfonodos mesentéricos; • Doença no homem: No homem, M. bovis causa as mesmas formas clínicas apre- sentadas em infecções por M. tuberculosis. A transmissão ocorre por ingestão do leite cru de animais infectados, gerando a forma extrapulmonar da doença. Diagnóstico O diagnóstico direto se dá por meio do isolamento da bactéria utilizando o método de Petroff para descontaminação da amostra, que consiste em triturar o fragmento de tecido suspeito, submeter a álcalis e ácidos para eliminação de contaminantes e proce- der tanto o cultivo a 37 °C por 60 dias como a coloração do material para micoscopia utilizando a técnica de Ziehl Nielsen. O diagnóstico indireto pode ser feito pela detecção de resposta imune específica utili- zando antígenos de Mycobacterium chamado de tuberculina. A tuberculina é um extrato 11 UNIDADE Brucelose e Tuberculose filtrado de cultivos de Mycobacterium previamente esterilizados pelo calor, para ser uti- lizado com o propósito de medir a hipersensibilidade tardia causada pela infecção por micobactérias. A tuberculina preparada originalmente por Robert Koch, em 1890, é atu- almente denominada “tuberculina velha” (OT-Old tuberculin). Em 1934, Seibert desenvol- veu a tuberculina conhecida como Purified Protein Derivative (PPD). Nesse processo, as proteínas de superfície são separadas do meio de cultura por precipitação, purificadas por lavagens com ácidos e fosfatos e diluídas na concentração adequada para uso. No Brasil, a PPD bovina é produzida a partir da amostra AN5 de M. bovis, contendo 1 mg de proteína por mL (32.500 UI). No teste intradérmico cervical utiliza-se também o PPD aviário, produzido a partir da amostra D4 de M. avium, contendo 0,5 mg de proteína por mL (25.000 UI). Esses antígenos devem ser mantidos sob a temperatura de 2 °C a 8 °C (não congelar) e têm validade de um ano após a data de fabricação. Os frascos precisam ser protegidos da luz solar e devem ser utilizados em um único dia, descartando-se eventuais sobras. O PPD bovino apresenta-se sob a forma líquida incolor, enquanto o PPD aviário, sob a forma líquida com coloração vermelho-claro. O teste de tuberculina em bovinos pode ser realizado na prega da cauda e na tábua do pescoço. Importância econômica da tuberculose A ocorrência da tuberculose em rebanhos bovinos leva a perdas diretas resultantes da morte de animais, da queda no ganho de peso, da diminuição da produção de leite, do descarte precoce e eliminação de animais de alto valor zootécnico, além da condenação de carcaças no abate. Estima-se que os animais infectados percam de 10% a 25% de sua eficiência produtiva. Além dessas perdas diretas, ocorre a perda de prestígio e credibili- dade da unidade de criação onde a doença é constatada. Medidas preventivas e controle As medidas preventivas estão relacionadas ao descarte de animais acometidos e à execução de exames diagnósticos rotineiros para detectar novos casos. O tratamento de bovinos não é uma medida aceitável; além do alto custo do tratamento, que envolve antibiótico, terapia por seis meses, leva à seleção de amostras resistentes, constituindo grande risco à saúde pública. Em relação à população humana, deve-se pasteurizar o leite para consumo e promover a vacinação da população com a vacina BCG. Brucelose A brucelose é uma doença relacionada à reprodução, transmitida pelo coito, levando a infecções sistêmicas e interferindo na reprodução, levando a casos de aborto. O homem a adquire pelo contato com tecido de animais infectados ou ingerindo leite de animais doentes. 12 13 Etiologia Bactérias do gênero Brucella são cocobacilos, gram-negativos. De acordo com o antígeno O, são classificados em amostras lisas (3 tipos clássicos): Brucella abortus; B. melitenses; B. suis. E amostras rugosas (2 tipos): B. canis; B. ovis. Na Tabela 1 encontra-se a relação entre espécies de Brucella e principais hospedeiros. Tabela 1 – Relação entre espécies de Brucella e hospedeiros Espécie de Brucella Hospedeiro B. abortus Bovinos (não são susceptíveis até a maturidade sexual) e equinos B. suis Suínos (jovens são bastante susceptíveis) B. ovis Ovinos B. melitensis Caprinos A Brucella sobrevive ao congelamento, 4 meses no leite, urina, água e solo úmido. É sensível à exposição aos raios solares, à maioria dos desinfetantes e ao processo de pas- teurização. Trata-se de bactéria de vida intracelular, sobrevivendo nos macrófagos. Apre- senta quimiotaxia pelo eritritol, um açúcar presente no útero gravídico, ocasionando o tropismo para o trato reprodutor. O cultivo da Brucella deve ser realizado em meio ágar brucella, a 37 °C por 3 a 5 dias em condições de microaerofilia. Epidemiologia A brucelose bovina é a de maior risco zoonótico no Brasil. As fontes de infecção são os bovinos, principalmente fêmeas em gestação e lactação. A via de transmissão pode ser leite, sêmen, feto, anexos fetais, secreções vaginais e fezes. A porta de entrada pode ser por via oral, contato com conjuntiva, mucosas e pele lesada. No último levantamento oficial, em 1975, foram estimados 4,0% de soropositivos na região Sul, 7,5% na Sudeste, 6,8 % na Centro-Oeste, 2,5% na Nordeste e 4,1% na Norte. Segundo os dados de notificação oficial, os níveis estavam entre 4,0 % de 1988 a 1998. O Ministério vem, desde 2001, refazendo estudos epidemiológicos para atualizar a prevalência dessa doença. Patogenia O estabelecimento da infecção é influenciado pelo tamanho da dose infectante, vi- rulência da bactéria e pela resistência (idade, sexo e status reprodutivo). A B.abortus penetra pela mucosa da faringe e trato digestório, sobrevive e multiplica-se principal- mente nas células do sistema reticuloendotelial. É fagocitada por macrófagos e neutrófilos que carreiam para os linfonodos regionais, onde se multiplica e causa linfadenites que persistem por meses. Essa multiplicação é seguida de uma bacteremia por pelo menos alguns meses, que pode se resolver ou re- correr em pelo menos dois anos, normalmente quando estão gestantes. 13 UNIDADE Brucelose e Tuberculose Durante a bacteremia, são distribuídas pelo plasma ou dentro dos neutrófilos e ma- crófagos pelos mais diversos órgãos, especialmente o útero gravídico, úbere e linfonodos supramamários. Nos machos, pode ocorrer ainda nos testículos e glândulas acessórias. A Brucella possui quimiotaxia pelo eritritol, levando-a então ao endométrio do útero grávido e membranas fetais. Ocorre uma lesão nas carúnculas, resultando em aborta- mento no final da gestação por descolamento (terço final da gestação). Nas infecções agudas em vacas há aumento dos níveis de IgM, logo, a IgG predomina e persiste por todo o período em que o animal fica infectado. A principal defesa é do tipo celular por ativação de linfócitos. Diagnóstico O diagnóstico da brucelose em bovinos leva em consideração informações epidemio- lógicas, como número de partos e se há fêmeas em idade de reprodução, exames clínico e laboratorial. O diagnóstico é através de soroaglutinação rápida em placa com antígeno acidificado tamponado. O antígeno é uma suspensão celular inativada de Brucella abortus, corada com rosa de bengala, diluída a 8% em solução tampão pH 3,63. O pH ácido impede a aglutina- ção da IgM, que tem maior poder aglutinante que a IgG, levando a reações inespecíficas, e é considerado um teste muito sensível de triagem. Em uma placa limpa, deve-se adicionar 0,03 mL de antígeno e 0,03 mL de soro, e a leitura deve ocorrer em quatro minutos. Como prova confirmatória, temos o teste com 2-mercaptoetanol, que destrói a estru- tura pentamérica da IgM anulando o poder aglutinante. Deve-se fazer diluições seriadas com volume igual de soro e 2-mercaptoetanol e antígeno e solução salina em tubos. Esse é um teste específico e adequado como confirmatório dos testes de aglutinação. Para monitorar rebanhos leiteiros, é possível fazer o Ring Test, em que o antígeno consiste em amostra 119-3 corada com hematoxilina na concentração de 4,0%. Essa prova detecta IgA no leite. Deve-se adicionar 1 mL de formalina a 1% para cada 10 mL de leite coletado; em seguida, adicionar 0,03 mL de antígeno para 1 mL de leite em tubo. O positivo ocorre quando forma anel de nata roxo azulado e coluna branca de leite. Como prova sensível e específica, temos a fixação do complemento que deve ser utilizado para os casos em que os outros testes tiveram respostas duvidosas. Medidas preventivas Como medidas preventivas para brucelose, temos a vacinação, que deve ser realizada em fêmeas, entre 3 e 8 meses, com amostra B19. Animais positivos devem ser descar- tados. Para evitar a transmissão para o homem, é fundamental a pasteurização do leite. Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal – PNCEBT (BRASIL, 2017) O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) foi instituído em 2001 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) com o objetivo de diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na saúde humana e animal, além de promover a competitividade da pecuária nacional. 14 15 Objetivos do programa • Reduzir a prevalência e a incidência de novos focos de brucelose e de tuberculose, visando a erradicação; • Criar um número significativo de propriedades certificadas como livres de brucelo- se e tuberculose ou monitoradas para brucelose e tuberculose, e que ofereçam ao consumidor produtos de baixo risco sanitário. Estratégias Medidas compulsórias Vacinação obrigatória de bezerras de bovinos e bubalinos e controle do trânsito de animais destinados à reprodução. A marcação das fêmeas vacinadas entre três e oito meses de idade é obrigatória, utilizando-se ferro candente ou nitrogênio líquido, no lado esquerdo da cara. Fêmeas vacinadas com a vacina B19 deverão ser marcadas com o algarismo final do ano de vacinação. Fêmeas vacinadas com a amostra RB51 deverão ser marcadas com um V. Ações de adesão voluntária Diz respeito à certificação de propriedades livres e controladas visando proporcionar ao consumidor um produto com maior segurança e ao produtor um melhor retorno associado à qualidade. Proposta técnica Vacinação contra a brucelose É obrigatória a vacinação de todas as fêmeas das espécies bovina e bubalina, na faixa etária de três a oito meses, utilizando-se dose única de vacina viva liofilizada, elaborada com amostra 19 de Brucella abortus (B19). A vacinação será efetuada sob responsabilidade técnica de veterinários cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária animal de seu Estado de atuação. O médico-veterinário cadastrado poderá incluir em seu cadastro vacinadores auxi- liares, permanecendo com a responsabilidade técnica pela vacinação. Certificação de Propriedades Livres de Brucelose e Tuberculose A certificação de estabelecimento de criação livre de brucelose ou de tuberculose é de adesão voluntária, devendo ser formalmente solicitada à unidade local do serviço veteri- nário estadual, na qual o estabelecimento de criação encontra-se cadastrado. Brucelose A obtenção do certificado de estabelecimento de criação livre de brucelose está con- dicionada ao cumprimento dos seguintes requisitos: 15 UNIDADE Brucelose e Tuberculose • Todas as fêmeas, entre 3 e 8 meses de idade, devem ser vacinadas contra a brucelos; • Realização de dois testes de rebanho negativos consecutivos, com intervalo de 6 a 12 meses, sendo o segundo realizado em laboratório da Rede Nacional de Labora- tórios Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. A manutenção do certificado de estabelecimento de criação livre de brucelose fica condicionada à realização e apresentação ao serviço veterinário oficial de testes de re- banho negativos para diagnóstico de brucelose com intervalos máximos de 12 meses. Tuberculose A obtenção do certificado de estabelecimento de criação livre de tuberculose está condicionada à realização de 2 testes de rebanho negativos consecutivos realizados em bovinos e bubalinos a partir de 6 semanas de idade, em um intervalo de 6 a 12 meses. Poderão ser dispensadas da realização dos testes diagnósticos propriedades sem bovi- nos ou bubalinos que venham a ser povoadas exclusivamente com animais provenientes de propriedade certificada livre de tuberculose, segundo condições definidas pelo DSA. A manutenção do certificado de estabelecimento de criação livre de tuberculose fica condicionada à realização e apresentação ao serviço veterinário oficial de testes de reba- nho negativos para diagnóstico de tuberculose com intervalos máximos de 12 meses. Para trânsito e participação em eventos, os animais devem ter o Guia de Trânsito Animal (GTA) atentando à negatividade nas provas contra brucelose e tuberculose. Diagnóstico Brucelose Deve-se realizar a prova com antígeno acidificado tamponado (Figura 3): teste de triagem realizado por veterinários credenciados. A prova com 2-mercaptoetanol é um teste confirmatório em laboratórios oficiais. Para casos inconclusivos ou para exporta- ção, deve-se realizar a Fixação de complemento. O Ring Test (Figura 4) é exclusivo para monitoramento de propriedades certificadas. Figura 3 – Teste de antígeno acidificado para brucelose Fonte: BRASIL, 2006 16 17 Figura 4 – Ring Test para detecção de brucelose em rebanho leiteiro através do leite Fonte: cidasc.sc.gov.br Tuberculose Para tuberculose, a prova é a tuberculinização intradérmica em bovinos e bubalinos com idade igual ou superior a 6 semanas. As fêmeas submetidasa teste de diagnóstico para tuberculose no intervalo de 15 dias antes do parto até 15 dias após o parto deverão ser retestadas entre 60 e 90 dias após o parto, obedecendo a um intervalo mínimo de 60 dias entre os testes. É obrigatória a utilização de material próprio para tuberculiniza- ção, seguindo as determinações do Departamento de Defesa Animal. O Teste Cervical Simples (TCS) é o teste de rotina recomendado, observando-se as seguintes condições e critérios: • Deve ser realizado com inoculação intradérmica de tuberculina PPD bovina, na do- sagem de 0,1 mL, na região cervical ou na região escapular de bovinos, devendo a inoculação ser efetuada de um mesmo lado de todos os animais do estabelecimento de criação; • O local da inoculação será demarcado por tricotomia e a espessura da dobra da pele medida com cutímetro antes da inoculação; • Após 72 horas, mais ou menos 6 horas da inoculação, será realizada nova medida da dobra da pele no local de inoculação da tuberculina PPD bovina; • O aumento da espessura da dobra (ΔB), Tabela 2, da pele será calculado sub- traindo-se da medida da dobra da pele após 72 horas, mais ou menos 6 horas após a inoculação, a medida da dobra da pele no dia da inoculação da tubercu- lina PPD bovina; • Os animais reagentes inconclusivos poderão ser submetidos a teste confirmatório, em um intervalo de 60 a 90 dias ou, a critério do médico-veterinário habilitado, ser considerados positivos e destinados ao sacrifício ou à destruição. 17 UNIDADE Brucelose e Tuberculose Tabela 2 – Interpretação do teste cervical simples em bovinos ΔB (mm) Sensibilidade Consistência Outras alterações Interpretação 0 a 1,9 – – – Negativo 2,0 a 3,9 Pouca dor Endurecida Delimitada Inconclusivo 2,0 a 3,9 Muita dor Macia Exsudato Necrose Positivo ≥ 4,0 – – – Positivo Fonte: Adaptada de in.gov.br A tuberculinização na prega da cauda pode ser utilizada como teste de rotina, ex- clusivamente em estabelecimentos de criação especializados na pecuária de corte e de acordo com as seguintes condições e critérios: • PPD bovina inoculada por via intradérmica, 0,1 mL, na junção das peles pilosa e glabra, efetuada de um mesmo lado da prega caudal de todos os animais do esta- belecimento de criação; • Leitura e interpretação: 72 horas, +/– 6 horas após a inoculação da tuberculina, comparando-se a prega inoculada com a prega do lado oposto, por avaliação visual e palpação; • Qualquer aumento de espessura na prega inoculada classificará o animal como reagente; • Animais reagentes poderão ser submetidos a teste confirmatório, em um intervalo de 60 a 90 dias, ou, a critério do médico-veterinário habilitado, ser destinados ao sacrifício ou à destruição. O teste cervical comparado (Figura 5) é o teste confirmatório utilizado em animais inconclusivos ao teste cervical simples e reagentes ao teste da prega caudal. O teste deve seguir os seguintes critérios (Tabela 3): • A PPD aviária e bovina serão realizadas por via intradérmica, na dosagem de 0,1 mL, na região cervical ou na região escapular, a uma distância entre as duas inoculações de 15 a 20 cm, a PPD aviária inoculada cranialmente e a PPD bovina caudalmente, a inoculação do mesmo lado de todos os animais; • Os locais das inoculações serão demarcados por tricotomia e a espessura da dobra da pele medida com cutímetro, antes da inoculação; • Após 72 horas, +/– 6 horas da inoculação, será realizada nova medida da dobra da pele, no local de inoculação das tuberculinas PPD aviária e bovina; • O aumento da espessura da dobra da pele será calculado subtraindo-se da medida da dobra da pele após 72 horas a medida da dobra da pele no dia da inoculação para a tuberculina PPD aviária (ΔA) e a tuberculina PPD bovina (ΔB); • A diferença de aumento da dobra da pele provocada pela inoculação da tuberculi- na PPD bovina (ΔB) e da tuberculina PPD aviária (ΔA) será calculada subtraindo- -se ΔA de ΔB; • Animais inconclusivos poderão ser submetidos a um segundo teste cervical compara- tivo, em um intervalo mínimo de 60 dias entre os testes, ou, a critério do médico-vete- rinário habilitado, ser considerados positivos e destinados ao sacrifício ou à destruição; 18 19 • Os animais que apresentarem dois resultados inconclusivos consecutivos serão clas- sificados como reagentes positivos. Figura 5 – PPD (PPD bovino) Fonte: USP Tabela 3 – Interpretação do teste cervical comparado em bovinos ΔB – ΔA (mm) Interpretação ΔB < 2,0 Negativo ΔB < ΔA < 0 Negativo ΔB > ΔA 0,0 a 1,9 Negativo ΔB > ΔA 2,0 a 3,9 Inconclusivo ΔB > ΔA > 4,0 Positivo Fonte: Adaptada de in.gov.br 19 UNIDADE Brucelose e Tuberculose Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Instrução Normativa nº 10, de 3 de março de 2017 Regulamento técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Bruce- lose e da Tuberculose Animal. Instrução Normativa n. 10, de 3 de março de 2017. https://bit.ly/3dNaRJH Instrução normativa nº 30, de 7 de junho de 2006 Normas de habilitação de médicos veterinários que atuam no setor privado, para fins de execução de atividades previstas no Regulamento Técnico do Programa Na- cional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal – PNCEBT. https://bit.ly/3g10W5Q Brucelose https://bit.ly/2RuhB7K A importância do controle da Brucelose e Tuberculose https://bit.ly/3uAgxNO 20 21 Referências ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonoses and communicable diseases common to man and animals. 3. ed. Washington: Pan American Health Organization, 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Vera Cecilia Ferreira de Figueiredo, José Ricardo Lôbo, Vitor Salvador Picão Gonçalves (org.). Brasília: MAPA/SDA/DSA, 2006. 188 p. ________. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal. Instrução Normativa n. 10, de 3 de março de 2017. GODOI, M. T. J.; HINDRICHSEN, S. L.; MACHADO, R. L. et al. Rickettsioses. In: HINDRICHSEN, S. L. Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Medsi, 2005. REY, L. Parasitologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 21
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