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CONTRATOS E CONVÊNIOS DE SERVIÇOS HOSPITALARES AULA 1 Prof. Lourival Scheidweiler CONVERSA INICIAL A estrutura da presente aula foi baseada em elementos que ocorrem na prática diária das organizações da saúde, cujos objetivos são: demonstrar que as relações contratuais são necessárias às organizações, mas envolvem riscos para as partes contratantes, pensando aqui em direitos e obrigações; conscientizar os alunos da importância do controle e monitoramento dos riscos organizacionais; proporcionar uma visão dos riscos que afetam as pessoas e a organização como um todo; relacionar os riscos e a sua interação com as relações contratuais que as organizações mantêm com suas parcerias; despertar os participantes para a importância da atenção às pessoas como agentes para a diminuição e gestão adequada dos riscos; levar os alunos a perceber que os riscos são entes presentes a permear uma organização da saúde em seu cotidiano, de modo que requerem uma gestão cada vez mais eficiente; demonstrar a necessidade da adoção de técnicas de administração estratégica em organizações de saúde, a exemplo do que já ocorre em outros ramos de negócio; destacar a importância do apoio de uma assessoria jurídica para a melhor gestão dos riscos em contratos e convênios. A preocupação humana com os riscos, principalmente aqueles de caráter pessoal, não é novidade. Quando partia para as caçadas nos tempos primitivos, o ser humano corria riscos que até poderiam representar algo prazeroso, uma vez que se baseavam na busca de alimento e outras necessidades, com emoções inerentes às circunstâncias daqueles tempos, mesmo na presença de perigos já conhecidos e aos quais o homem se sujeitava por absoluta necessidade de sobrevivência. À medida que evoluiu, o ser humano tomou conhecimento de novas realidades e possibilidades, que de certa forma também fazem parte da sua exposição a riscos. Essa nova circunstância não é só de caráter pessoal, mas também parte da organização, que é o ente jurídico de representação, considerando-se aqui que o risco e a responsabilidade se fazem presentes na rotina diária. A submissão de pessoas à escravidão nos impérios da antiguidade, como Egito, Grécia e Roma, era comum, sendo imposta àqueles que nasciam fora das castas privilegiadas, e que não faziam parte da nobreza da época. Eles eram obrigados a trabalhos forçados, como a construção de novos monumentos dedicados à glória dos imperadores e governantes daqueles tempos. Dessa forma, a própria integridade física dos indivíduos estava em risco, com danos muitas vezes irreparáveis à sua saúde. No período que antecedeu à Revolução Industrial, já era sensível uma evolução de atitudes e ações voltadas à diminuição da sujeição a riscos, com mudanças significativas nas formas de trabalho. As novas maneiras de trabalhar, introduzidas na ordem política e no sistema econômico e social da época, trouxeram alguns benefícios, representados pela diminuição da pressão sobre os indivíduos e por uma forma de tratamento mais humana, visto que já se percebia que as práticas de humanidade eram fundamentais ao bem-estar do ser humano e à diminuição do risco no ambiente de trabalho, a que a maioria dos indivíduos acaba se sujeitando. A Revolução Industrial chegou trazendo no seu bojo a administração científica, que buscava mudanças nas formas empíricas de trabalho, transformando assim algumas práticas, até então usuais, de diversas formas, com a finalidade de facilitar a atuação dos colaboradores nas organizações. Tal evolução não cessou, pois continua seu processo até os dias de hoje. As organizações modernas consideram como risco a perda de colaboradores de qualidade e de competência comprovadas, pois há um custo expressivo para a empresa quando há aumento na rotatividade. O estabelecimento de um clima de diálogo, sempre que necessário, para que bons colaboradores sejam mantidos nos quadros, tem trazido benefícios nas novas relações contratuais entre colaboradores e empregadores. As organizações da área da saúde herdaram as práticas utilizadas na área industrial. Um dos traços dessa herança é a rotatividade de pessoas. Em determinadas categorias no ambiente da saúde, essa questão é sensivelmente mais acentuada, em comparação a outros setores da economia. Ocorre que, na área da saúde, o ser humano é submetido a situações inusitadas, que trazem pressão psicológica mais intensa. Isso faz com que muitos profissionais do setor realizem mudanças em sua vida profissional, em busca de outras atividades, fora de sua área, no afã de aliviar tais pressões sobre o psicológico. Hospitais de emergência, de um modo geral, são os que apresentam maior índice de tensão e convivência com a desgraça humana. Nesses locais, o grau de absenteísmo e evasão acaba sendo maior. TEMA 1 – OS RISCOS E A ERA DO CONHECIMENTO Riscos estão ligados diretamente a eventos, pessoas e organizações aos quais se acham vinculados. Desde os tempos mais remotos, o risco sempre acompanhou as organizações e as pessoas. De igual maneira, diferentes empreendimentos ao longo do tempo acarretavam níveis de desafios desconhecidos. Grande parte dos riscos assumidos pelos indivíduos estão ligados às estratégias previamente estabelecidas pelas organizações. Dessa maneira, os indivíduos e suas equipes de trabalho necessitam cada vez mais de habilidades apuradas, competências e capacidade para diferenciar-se no mercado, traduzindo sua atuação profissional em uma atividade permeada pelo comprometimento ético e profissional, de caráter eminentemente exemplar em todos os níveis organizacionais. Esses são elementos essenciais, que também permeiam as relações contratuais. Na era do conhecimento, desde o advento das pequenas organizações até o surgimento da Revolução Industrial, os riscos sempre estiveram presentes. Má gestão, incompetência, utilização de estratégias ou técnicas inadequadas em determinado tipo de negócio, determinam riscos essenciais que comprometem as pessoas e, consequentemente, a organização em que atuam. A questão do risco está sensivelmente atrelada aos investimentos financeiros, especialmente no Brasil, onde continuamente vivenciamos mudanças estruturais que trazem dúvidas e incertezas, tanto para indivíduos quanto para as organizações. Assim sendo, a questão do risco é algo que pode representar vantagens e desvantagens, a depender das circunstâncias e da forma como é realizado o gerenciamento. TEMA 2 – ELEMENTOS ESSENCIAIS NO GERENCIAMENTO DOS RISCOS Dados e informações consistentes são essenciais, pois servem como base para o cálculo de probabilidades mais assertivas em determinados tipos de empreendimentos. Evidentemente, os riscos acompanharão tais iniciativas, pois fazem parte dos empreendimentos humanos. Cabe aos profissionais o gerenciamento de situações de risco e a utilização de boas práticas, que possam ser minimizadas e administradas, de forma a levar as organizações ao sucesso esperado. A propósito dos profissionais, uma preocupação para com a minimização dos riscos organizacionais é a busca por uma melhor qualificação e competência, aliando não só capacidade técnica, mas também valores éticos no que tange à sua atuação em campos que podem expor a empresa a situações indesejadas e arriscadas. Vivemos continuamente no campo das incertezas. Assim, as empresas que se dedicam a planos de saúde, de modo particular, experienciam situações de risco, pois a roda viva do emprego e do desemprego paira sobre a carteira de clientes. Cancelamentos de planos e demandas judiciais são práticas com as quais essas organizações convivem continuamente, expondo-se diretamente ao risco. O risco faz parte de qualquer área de negócio em qualquer organização, não importa o tamanho. Nas situações mais inusitadas, as empresas precisam estar preparadas para enfrentar riscos, de qualquer natureza. Métodos de prevenção e proteção fazem parte do treinamento e do desenvolvimentoa que profissionais de todas as áreas devem ser submetidos. Aqui, enfatizamos a área da saúde por ser o foco e o tema central de nossa abordagem, como elemento essencial a ser considerado, visto tratar-se de uma área singular em termos de responsabilidade, que envolve por excelência o cuidado com o ser humano. Assim, os riscos na conduta das ações devem ser sempre pesados e administrados com competência e maestria. TEMA 3 – RESPONSABILIDADE DOS GESTORES NA CONDUÇÃO DO RISCO ORGANIZACIONAL Outro fator de fundamental importância é a questão da responsabilidade dos gestores em preservar a qualidade de trabalho dos colaboradores na área da saúde. O próprio ambiente e manuseio de equipamentos especializados pode submeter os indivíduos a riscos, por vezes desnecessários, os quais requerem uma gestão preventiva. Em épocas remotas, o uso exacerbado do poder proporcionou uma pressão desnecessária sobre os indivíduos, que certamente não trouxe resultados favoráveis. Atualmente, as facilidades são outras; porém, os colaboradores necessitam não só de preparo técnico, mas também de uma atuação com paciência, tranquilidade e educação, principalmente no trato com outros seres humanos. Atualmente, o exercício da autocracia e do poder não conduzem a bons resultados nas organizações. De um modo especial, hospitais e outras organizações de saúde necessitam de um ambiente cada vez mais humanizado, onde impere a ideia de trabalho em equipe para a obtenção de resultados mais favoráveis, que reflitam em qualidade da atenção aos pacientes. Isso tem reflexos na manutenção de contratos e na fidelização de clientes e operadoras de saúde. Desta forma, a ideia conceitual de que indivíduos que atuam nas organizações somente exercem suas funções mediante pressão continuada hoje está superada. O trabalho em equipe, que surgiu na organização industrial, é visto hoje nos demais ambientes organizacionais, em especial hospitais, clínicas, operadoras de saúde e outras organizações que atuam na área. Uma das práticas foi a adoção do chamado lean manufacturing, inicialmente adotado pela indústria, e que hoje já apresenta larga aplicabilidade nos sistemas organizacionais das organizações da saúde, principalmente na área de gestão e logística de materiais e medicamentos, traduzindo um senso mais apurado de organização. A técnica é responsável pela diminuição de estoques volumosos, que anteriormente colocavam em risco a liquidez das organizações de saúde, considerando a imobilização financeira desnecessária em materiais e medicamentos. De igual forma, havia também há possibilidade de terem seu vencimento comprometido pela não utilização. A medida representa hoje uma importante estratégia de ordem econômica, pois evita o desperdício com uma maior produtividade no contexto como um todo. As organizações da área da saúde têm evoluído de forma expressiva, saindo de uma fase empírica e improvisada, para uma forma mais profissional, científica e planejada de fazer gestão. A adoção do planejamento estratégico por essas organizações é bastante recente, vindo representar a adoção de um profissionalismo administrativo. Outro aspecto importante a ser considerado em relação ao risco de pessoas nas organizações de saúde é a questão das jornadas de trabalho. Muitos estabelecimentos ainda submetem os indivíduos a jornadas que por vezes ultrapassam 12 ou 15 horas, o que realmente é um risco sob o ponto de vista da saúde ocupacional do funcionário, bem como sob o aspecto jurídico. A consequência é que muitos colaboradores, ao deixarem a empresa, ingressam com ações na justiça trabalhista, representando pesados e desnecessários encargos financeiros às organizações. Atualmente, tanto o risco pessoal como o patrimonial devem ser considerados com muita atenção. Mesmo que haja uma aparente nos quadros funcionais, isso pode vir a representar um problema silencioso, com consequências danosas nos momentos menos esperados. Daí a importância de se adotar ações preventivas. Cabe destacarmos também a necessidade do desenvolvimento e do exercício de lideranças, que devem ser muito bem formadas no âmbito organizacional. No período do Renascimento, Maquiavel elaborou conceitos muito interessantes, que vieram a contribuir para o desenvolvimento da gestão baseada no conhecimento. Suas ideias foram basicamente centradas em aspectos relacionados ao poder e ao comportamento dos dirigentes de sua época. Esses conceitos em muito contribuíram para o desenvolvimento da ciência da administração e do desenvolvimento da liderança. Maquiavel separou tais conceitos da ideia de poder e dominação, trabalhando elementos relacionados ao poder democrático e não autocrático, como aquele exercido nos primórdios. Organizações da saúde buscam, gradualmente adaptar-se aos novos tempos. Assim, podemos afirmar com segurança que muitos hospitais e assemelhados vêm buscando o aprimoramento da gestão, não somente com a mudança de atitude de seus líderes, mas também introduzindo equipamentos mais modernos, informatizando dados, e introduzindo em seus quadros indivíduos melhor preparados e com um temperamento mais adequado ao ambiente. Assim, o profissional necessita atuar de forma mais madura e coerente, em sintonia com variáveis que rotineiramente trazem desafios importantes aos que desejam atuar nessa importante área organizacional. Talvez vocês perguntem: Mas qual a relação dos riscos com a questão contratual, objeto principal desta disciplina? Podemos afirmar que a manutenção de contratos é de fundamental importância também às organizações da saúde; sem dúvida, se soubermos trabalhar da melhor forma as questões relacionadas à minimização dos riscos, as relações contratuais que uma organização dessa natureza mantiver terão sua gestão sensivelmente facilitada, com atitudes mais adequadas e sempre baseadas na melhoria contínua da prestação de bons serviços a seus clientes, garantindo os melhores resultados. TEMA 4 – SOBRE A GESTÃO DO RISCO A questão da gestão do risco é algo que merece especial atenção, fazendo parte de um conjunto de elementos que constituem os controles necessários e essenciais às organizações. O primeiro desses elementos está ligado às condições de trabalho que a organização oferece aos seus colaboradores. O ambiente de trabalho das organizações de saúde é tenso, submetendo os indivíduos a questões peculiares, que se caracterizam pela diversidade de comportamento dos seres humanos, que diariamente comparecem às organizações em busca de alívio para as suas enfermidades, ou até mesmo para preventivamente realizarem exames e outros procedimentos que envolvem as mais variadas situações. Em ambas as situações, tanto clientes/pacientes quanto seus familiares encontram-se tensos e vivem a expectativa dos acontecimentos que envolvem a sua saúde pessoal. Nesse caso, muitas vezes um simples detalhe acaba por se transformar em um problema de grandes proporções, levando a discussões desnecessárias com funcionários e demais profissionais que atuam na área da saúde, o que gera um ambiente insuportável às partes envolvidas. O gestor hospitalar, principalmente no trato com seus subordinados, deve estar muito bem preparado emocionalmente, pois as condições de trabalho a serem ofertadas precisam estar em consonância com a qualidade de boas práticas, com o padrão de qualidade e referência que pretendamos alcançar com as atividades desenvolvidas pelas equipes. Não podemos esquecer, em nossa observação contínua, de verificar se temos as pessoas certas no lugar certo. É preciso pensar se estamos oferecendo condições adequadas de trabalho aos nossos colaboradores, como vestuário compatível, mobiliário com ergonometria ideal, intervalos em tempo certo e melhores condições de ambiente. Se os colaboradores estão devidamente treinados e adaptados aos equipamentos e sistemas, minimizamos os riscos ao patrimônio e ao nome da instituição, que foi construído e lapidado ao longo de anos de trabalho, e quepode ruir em segundos pela má atuação de um colaborador que não esteja adequadamente treinado e preparado para o desenvolvimento das tarefas e atribuições que estão sob sua responsabilidade. Em todas essas ocasiões, a equipe precisa estar preparada. Na gestão de riscos surge um fator de essencial importância, que é o cumprimento daquilo que se acha estabelecido em contratos de prestação de serviços. O risco da insatisfação por um pequeno deslize das nossas equipes, ou até mesmo a apresentação de um resultado nefasto, pode conduzir à insatisfação do cliente/paciente e de seus familiares, que certamente multiplicarão as críticas negativas à nossa organização, de modo a denegrir significativamente a sua imagem. Treinamento e desenvolvimento de pessoas é também um fator essencial, que não deve jamais ser negligenciado em tais organizações, pois se constitui em uma forma de gestão e minimização de riscos dos fatos apresentados no cotidiano. Esses eventos devem ser objeto de preocupação constante da alta administração das organizações de saúde, e não isentam os diretores e demais gestores de manifestar atitudes participativas com relação a iniciativas proporcionadas aos colaboradores de um modo geral. Quanto maior a complexidade dos atendimentos e procedimentos realizados, maior a necessidade de uma constante conscientização das equipes, e até mesmo algumas paradas estratégicas em meio à rotina diária, visando à minimização de eventuais riscos. É importante ressaltar que a gestão do risco é essencial não só para as organizações prestadoras de serviços de saúde, mas também para as operadoras de planos de saúde, bem como para as agências gestoras e unidades de prestação de serviços do SUS – Sistema Único de Saúde. No sistema, os colaboradores são submetidos a um ambiente de pressão, de maneira semelhante ao que acontece em hospitais, clínicas, consultórios, laboratórios de análises clínicas ou empresas que prestam serviços na área de imaginologia. Na área da saúde, os desafios se renovam a cada dia. A novidade permeia cada expediente e no início de cada rotina surgem situações inusitadas, para as quais as equipes necessitam estar devidamente preparadas. É preciso estar atento para mudanças, por exemplo, em relação às tabelas estabelecidas pelas operadoras de saúde e pelo próprio SUS. Também é necessário atualizar-se quanto a normas e processos internos da organização, que podem sofrer mudanças em função dos diversos fatores. Outro risco a ser gerenciado são os materiais e medicamentos que podem se tornar obsoletos, por conta do surgimento de novidades, o que é comum na área da saúde. Nesse caso, as equipes de farmácia e de enfermagem precisam estar atentas às novidades. Novos eventos, como congressos e seminários, dos quais participam os profissionais de saúde, podem trazer novos lançamentos, que de pronto são indicados pelo corpo clínico, que deseja utilizar as novidades em seus pacientes. O risco maior nesse caso são os custos, que podem representar uma alteração na curva dos custos da organização – afinal, não raro, medicamentos e materiais de consumo hospitalar novos acabam sendo mais onerosos. Aqui, entram em ação estudos de viabilidade. De igual maneira, a manutenção preventiva e corretiva de equipamentos de alto custo, tais como computadores, tomógrafos e aparelhos de ressonância magnética, expõe a organização ao risco. Nesse caso, é de boa política o estabelecimento de contratos de manutenção bem articulados, firmados para garantir uma boa manutenção preventiva, o que pode antecipar custos que, na manutenção corretiva, seriam mais elevados. Em relação aos equipamentos, é de boa política que a equipe técnica e de gestão se preocupem com os levantamentos periódicos a respeito de eventuais atualizações, uma vez que a tecnologia se encontra em contínua evolução e transformação. Muitas vezes, a troca por equipamentos mais modernos pode representar uma vantagem significativa. TEMA 5 – ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E SUA INFLUÊNCIA NA GESTÃO DO RISCO Uma preocupação constante dos gestores das organizações de saúde, em especial as de maior complexidade, deve ser a questão da realização de eventos, como treinamento e desenvolvimento, e o estabelecimento de programas de prevenção à preservação do ambiente de trabalho. Tudo isso é essencial à manutenção da qualidade de serviços prestados, com a consequente fixação dos indivíduos por maior tempo em um determinado setor de trabalho na organização, evitando assim a sua saída precoce ou a necessidade de remanejamento para outras funções. Tanto a linha de frente, representada pelos colaboradores lotados nas recepções, como (e principalmente) aqueles envolvidos no atendimento direto aos pacientes na área assistencial, devem ser objeto de atenção especial por parte dos gestores. De igual maneira, não se deve negligenciar o corpo clínico e de enfermagem, com foco especial à forma de prestação de serviços, com vistas à melhoria contínua do atendimento. O stress e o desgaste são muito grandes na área da saúde, a ponto de os profissionais, por vezes, serem agressivos em relação a outros profissionais, e bastante alterados em situações de tomada de decisão, o que representa um risco pessoal e institucional importante. Áreas como pronto socorro, pronto atendimento, unidades de cuidados intensivos e centros cirúrgicos devem ser objetos de atenção contínua por parte dos gestores. São elas que submetem os profissionais a uma maior tensão, visto que nem tudo acontece em conformidade com o programado. Assim, intercorrências acabam sendo normais e rotineiras, abatendo os indivíduos psicologicamente, por lidarem com as misérias humanas diariamente. Organizações hospitalares, de um modo particular, vêm buscando a excelência nos serviços que prestam, melhorando sensivelmente as práticas de gestão como um todo, e buscando enquadrar-se às normas estabelecidas pela ONA – Organização Nacional de Acreditação, entidade que atua especificamente na área da saúde para a melhoria na qualidade dos atendimentos prestados por essas organizações. A ONA oferece, por assim dizer, uma espécie de preventivo ao risco institucional, uma vez que, mediante programas de conscientização das equipes, as organizações procuram enquadrar-se às normas estabelecidas, que requerem registro constante das chamadas conformidades e não conformidades, que determinam a qualidade de atendimento percebida pelos clientes. Uma organização do setor da saúde necessita ser tratada como as organizações de outros ramos: como um verdadeiro negócio. Deve-se assim objetivar resultados favoráveis, para continuar investindo em pessoas e no empreendimento como um todo, visando a excelência dos serviços prestados aos clientes. É indubitável que os clientes percebem com muita sensibilidade a qualidade dos serviços prestados, por uma e por outra organização, em especial no setor da saúde. Por essa razão, é essencial monitorar a atuação dos colaboradores e do corpo clínico e de enfermagem, para que a melhoria seja contínua, despertando o interesse de todos que trabalham pelo bem da organização. Ações assertivas e coerentes também são desejáveis por parte dos gestores, sendo altamente perceptíveis pelas equipes de trabalho. Trazem o bem-estar a todos, principalmente no estabelecimento de um clima organizacional favorável ao relacionamento mútuo. Esse conjunto de ações determina não só uma melhoria contínua no atendimento às pessoas, mas também um cuidado marcante em relação ao manuseio de equipamentos, evitando riscos que possam causar danos, uma vez que a sua manutenção é extremamente onerosa a essas organizações. Sobre a relação entre riscos e atendimento aos pacientes, o treinamento de colaboradores deve estar voltado principalmente aos cuidados com equipamentos que têm contato direto com o paciente, como respiradores, ventiladores, aparelhos de pressão e outros que necessitam de calibragem e funcionamento correto de maneira constante.De igual maneira, a administração de medicamentos aos pacientes e a realização de curativos e cuidados diários, como a sua higienização, devem ser objetos de contínua orientação por parte dos gestores, o que traz reflexos diretos na qualidade assistencial percebida. O modo de conduzir uma maca, por exemplo, evita quedas e exposição a riscos desnecessários aos pacientes, o que também pode denegrir a imagem institucional, submetendo-a ainda aos riscos de indenizações e reparos, que causam demandas jurídicas desagradáveis, com consequências onerosas. As organizações da saúde, de modo especial os hospitais, não prescindem atualmente da manutenção e controle de uma eficiente CCIH – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Este é um fator que tem exposto as organizações do setor a riscos elevados, representados por aumento da permanência de pacientes e custos elevados na administração de antibióticos cada vez mais potentes, com valores cada vez mais onerosos às finanças da organização. Profissionais médicos necessitam estar atentos à indicação mais adequada daqueles medicamentos que tragam eficiência ao tratamento. Além disso, no caso de cirurgiões em diversas áreas, deve-se seguir o melhor protocolo possível quanto ao uso de próteses e materiais de implante que sejam efetivamente benéficos ao paciente, e que não tragam problemas, como rejeição ou assemelhados, que os submetam a riscos desnecessários. Baraldi (2005, p.111) destaca: as pessoas são o componente mais importante no ambiente empresarial, pois elas estabelecerão os objetivos estratégicos e executarão os meios relevantes para atingi-los; são os meios e os fins das organizações e da sociedade. As pessoas são a competência das empresas. As empresas são a competência em pessoas. NA PRÁTICA Um paciente busca o setor de internamento de um hospital, por exemplo, uma vez que tinha agendado uma cirurgia de apêndice, com todos os detalhes previamente acordados com o médico assistente. Efetuados os trâmites burocráticos, o cliente/paciente é encaminhado à acomodação a que tem direito por força contratual com seu plano de saúde. Lá permanece naquela noite; no dia seguinte pela manhã, é devidamente preparado e encaminhado ao centro cirúrgico para a realização do procedimento. Tudo corre de acordo com o combinado; depois de ter se recuperado, ele retorna às acomodações iniciais. Todos os cuidados são devidamente tomados com alimentação, higiene e demais rotinas. Ocorre que, por um motivo que aqui não nos cabe comentar, o funcionário encarregado da medicação prescrita comete um engano, trocando o medicamento com o de outro paciente internado em outra unidade. O paciente pós apendicectomia acaba passando mal, por ter sido medicado com o produto errôneo, que não produziu o efeito desejado. O médico é chamado para fazer as devidas verificações, e acaba constatando o engano. Conclusão: na prática, pacientes e colaboradores são submetidos diariamente a riscos nas organizações de saúde, assim como em quaisquer organizações. Cabe aos gestores uma atenção especial nas questões de treinamento, desenvolvimento e monitoramento dos colaboradores, para que situações desagradáveis como essas sejam evitadas, a fim de que a qualidade assistencial seja mantida e a excelência sempre percebida pelo cliente. Verifica-se também que, na prática, o cumprimento de contratos e convênios, cujos pontos foram previamente acertados e aceitos pelos gestores de uma organização (como um hospital, por exemplo), requerem a medida constante dos riscos a que o cumprimento das cláusulas é submetido, uma vez que o contexto prático é exercido por pessoas que nem sempre se acham imbuídas de responsabilidade, ética e da devida capacitação para exercer suas funções, necessitando dos cuidados permanentes do monitoramento realizado pelos seus gestores. FINALIZANDO O cumprimento de contratos e convênios no âmbito das organizações de saúde encontra-se constantemente cercado de riscos e de situações adversas, que requerem monitoramento permanente. Os riscos acabam sendo sinônimo de danos no ambiente hospitalar. Por este motivo, ações preventivas são indispensáveis em todas as áreas, com uma presença efetiva de gestores, capazes de efetivamente supervisionar e orientar os seus colaboradores. São inúmeros os prejuízos que a organização assume por não exercer um trabalho preventivo de qualidade em relação aos riscos a que se sujeita. Por outro lado, também são prazerosos os resultados positivos alcançados com o perfeito cumprimento das atividades por colaboradores atentos e comprometidos com a qualidade final percebida pelos clientes. A melhoria contínua da gestão de riscos pode prevenir e diminuir a incidência de doenças e acidentes, e até mesmo salvar vidas. Com isso, evitamos dissabores e situações desagradáveis que causam prejuízo às pessoas e ao patrimônio. O gestor atento e preocupado com a organização deve tomar esta obrigação como elemento de atenção diária, tendo a consciência de que o seu alcance é abrangente, exigindo educação continuada de todas as equipes de trabalho. REFERÊNCIAS BARALDI, P. Gerenciamento de Riscos Empresariais: a gestão de oportunidades, a avaliação de riscos e a criação de controles internos nas decisões empresariais. 2. ed. São Paulo: Elsevier: Campus, 2005. SCHEIDWEILER, L. Gestão dos Serviços de Saúde: uma visão setorial sobre contratos, convênios, riscos e pessoas. 1. ed. Curitiba: InterSaberes. 2019.
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