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Capítulo 22: A linguagem e suas alterações Definições A linguagem, particularmente em sua forma verbal, é o principal instrumento de comunicação dos seres humanos, de fundamental importância na elaboração e na expressão de pensamentos e das emoções. Especialmente em relação à língua, é preciso diferenciar as dimensões ou elementos essenciais, de qualquer língua ou idioma, sendo eles: Fonético: se refere-se aos sons produzidos, transmitidos e recebidos linguagem humana. Fônica: se refere aos fonemas, as unidades fonológicas mínimas, distintivas, de cada língua. Semântica: diz respeito à significação dos vocábulos, das palavras, utilizadas em determinada língua. Sintática: implica a relação e a articulação lógica das diversas palavras entre si. Pragmática: se refere ao emprego da linguagem em situações sociais concretas, os contextos, circunstâncias, implicações e repercussões da linguagem quando utilizada concretamente pelos seres humanos em suas vidas sociais. Funções da linguagem O linguista russo Roman Jakobson descreveu diferentes funções da linguagem, sendo elas: Função referencial ou cognitiva: é a função mais comum da linguagem centrada na informação, é a linguagem na sua tarefa básica de representar e transmitir dados da realidade. Função emotiva ou expressiva: a linguagem como instrumento de expressão dos estados emocionais, das vivencias internas, subjetiva; as interjeições (ai, ih, ah, nossa, etc.) representam o estado puramente emotivo da linguagem. Função conativa ou apelativa: é a linguagem que visa uma ação intencional sobre o interlocutor que escuta, a linguagem que busca persuadir, mudar algo, enfim, influenciar as ações do interlocutor. Função fática: esta se revela quando a mensagem linguística visa basicamente estabelecer o contato, prolongar, confirmar, controlar ou interromper a comunicação; quem fala visa manter um controle sobre o fluxo da fala com o interlocutor. Função metalinguística: a preocupação do produtor da mensagem é com a própria linguagem utilizada, com o próprio código que está sendo utilizado; quando falamos discutindo, colocando em pauta elementos de nossa própria fala, estamos exercendo a função. Função poética ou estética: quando o emissor produz uma fala ou texto escrito e, ao fazê-lo, considera e dá atenção à seleção e à combinação de palavras, preocupado com a sonoridade, o ritmo, a surpresa das imagens ou situações que tais palavras evocam, a função poética é a que está, então, predominando nessa fala ou texto. Aspectos da teoria linguística de Noam Chomsky Partindo da grande flexibilidade da produção da linguagem Chomsky chama a atenção para este aspecto essencial da linguagem humana: a criatividade, este domínio criativo da linguagem do ser humano, torna o estudo dos distúrbios da linguagem em psicopatologia um dos mais complexos. Se teornando mais difícil descriminar o normal do patológico. Havendo certa polêmica na literatura cientifica quanto a independência e a autonomia da linguagem em relação ao pensamento e inteligência. Alterações patológicas da linguagem Embora seja um tanto artificial ou criticável, por motivos didáticos, serão apresentados separadamente as alterações da linguagem secundária a disfunção ou lesão neuronal e as alterações da linguagem especificas da psicopatologia, mais presentes nos transtornos mentais. Alterações de linguagem secundarias a disfunção ou lesão neuronal identificável Ocorrem geralmente associados a acidentes vasculares, tumores, traumas e etc, na maioria dos casos, lesões no hemisfério esquerdo, nas regiões conhecidas como áreas cerebrais da linguagem; é comum que os déficits orgânicos da linguagem venham acompanhados de hemiparesias do dimídio direito do corpo. Linguagem e cérebro Aqui a linguagem é concebida como localizada e laterizada no hemisfério esquerdo do cérebro; as áreas dos lobos frontais inferiores e posteriores estão ligadas à produção da linguagem e as áreas dos lobos temporais posteriores e superiores estão relacionadas à compreensão da linguagem e por fim, o fascículo arqueado conecta-se as duas grandes áreas da linguagem e está relacionada à capacidade de repetir as palavras Afasias É a perda da linguagem, falada, ouvida e escrita, por incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais que foi previamente adquirida no desenvolvimento do sujeito; tal perda acontece por alguma lesão neuronal. Os principais tipos de afasias são: Afasia de expressão ou de broca: trata-se da afasia não-fluente, o sujeito não fala ou fala com dificuldade, de forma monótona, pois sua fala é curta, com latência aumentada nas respostas. Afasia de compreensão ou de Wernicke: afasia fluente em que o sujeito pode falar, mas a fala é defeituosa, vazia e as vezes incompreensível; o paciente não consegue compreender a linguagem e tem dificuldade em repetição. Afasia global: afasia grave, não fluente, acompanhada por hemiparesia direita, mais acentuada no braço Afasias associadas a demência: o paciente tem uma afasia predominantemente não fluente, podendo ter relativamente preservada a capacidade de repetir palavras, mas progressivas dificuldades na nomeação. Além dos quatro tipos de afasia expostos, existem ainda outros tipos de afasia presentes do quadro abaixo: Agrafia É a perda , por lesão orgânica , da linguagem escrita, sem que haja qualquer déficit motor ou perda cognitiva global. A forma mais comum é a agrafia associada à afasia e a forma mais rara é a agrafia pura, sem afasia. A agrafia com alexia (incapacidade ou prejuízo para a leitura) às vezes chamada de agrafia parietal e a agrafia apráxica se caracteriza por dificuldade em formar os grafemas, tanto na escrita espontânea como no ditado. Alexia É a perda da capacidade previamente adquirida para a leitura, ocorre associada ás afasias e às agrafias; foi percebido que existem alexia mais relacionada a déficit visual e alexia relacionada a déficit linguístico. Há a alexia atencional (déficit graves na atenção seletiva, implicando alexia), a alexia por síndromes de heminegligência (incapacidade de perceber um hemicampo visual), a alexia ortográfica e a alexia fonológica. Na chamada alexia profunda (ou dislexia profunda), há uma paralexia semântica, ou seja, a palavra é visual e fonologicamente percebida de forma correta, mas o significado da palavra é modificado, transformando em algum aspecto relacionado à palavra, mais distinto dela. Disartria É a dificuldade ou incapacidade motora de articular corretamente palavras devido a fraqueza muscular, paralisia ou coordenação falha dos músculos; embora a compreensão, a formulação e o significado das palavras sejam normais, sua articulação motora está prejudicada. A fala é fraca, pastosa, aparentemente embriagada, com seu ritmo prejudicado, a articulação é pobre, com pouca precisão na pronúncia dos fonemas, o que resulta em uma fala lenta e variável em sua intensidade. Parafasias São alterações da linguagem nas quais são deformadas determinadas palavras, há a perda da habilidade em colocar a silaba ou palavra na sequência correta. As parafasias fonêmicas, nas quais há troca de fonemas das palavras, deformando as palavras, e as parafasias semânticas (troca de palavra) podem ocorrer no início das síndromes demenciais. Alterações da linguagem associadas a estados, condições ou transtornos psicopatológicos Dislexia: o termo dislexia designa disfunção no aprendizado da leitura, havendo dificuldades em graus variáveis em identificar a correspondência entre símbolos da escrita e os fonemas, assim como em transformar signos escritos em signos verbais. Alterações da fala Disfonia (rouquidão): é o termo para perturbação da qualidade da voz humana, que em geral se traduz por rouquidão,restrição do desempenho vocal e vocalização tensa ou contida; a condição pode ter um impacto negativo para o paciente, prejudicando a naturalidade na produção da fala e dificultando a comunicação. Afonia (ou disfemia): se caracteriza pela perda, mais ou menos abrupta da voz, de modo geral, sem causa aparente; eclode após um evento estressante onde o sujeito fica totalmente sem voz mesmo havendo intenção de falar. Distúrbios da fala em crianças Dislalia: é a alteração da fala que resulta da deformação, da omissão ou da substituição de fonemas, não havendo alterações identificáveis. Disglossia: resultam de alterações na fala relacionadas a distúrbios anatômicos ou fisiológicos. Transtornos da fluência da fala: a gagueira A gagueira (tartamudez ou disfluência da fala) é considerada um transtorno da comunicação, havendo perturbação da fluência normal, com descontinuidade no fluxo da fala e repetições de sons e sílabas. As palavras podem ser interrompidas no meio da locução, bem como as frases; pode haver prolongamento sonoro de consoantes e vogais, com prejuízo da velocidade e do ritmo da fala. Apresenta também com frequência circunlocuções, que são evitações de certas sílabas e palavras, no início ou ao longo de uma frase, e substituições de certas palavras percebidas pelo falante como mais difíceis ou problemáticas. Alterações da linguagem em crianças A linguagem implica a compreensão, o processamento e a produção dos meios linguísticos de comunicação com o mundo, fundamentais na socialização da criança em sua constituição como pessoa madura. Assim, uma alteração de linguagem é sempre algo mais pronunciado do que é esperado para crianças na faixa etária e de inteligência na qual o sujeito se situa. Acelerações psicopatológicas da linguagem mais observadas em adultos: logorreia, taquifasia e loquacidade Logorreia: existe o produção aumentada e acelerada (taquifasia) da linguagem verbal, um fluxo incessante de palavras e frases, frequentemente associados à aceleração geral de todos os processos psíquicos, podendo haver perda lógica do discurso. Loquacidade: é o aumento da fluência verbal sem qualquer prejuízo da lógica do discurso. Lentificação patológica da linguagem: bradifasia Uma alteração da linguagem oposta à taquifasia, onde o paciente fala muito vagarosamente; as palavras seguem-se umas às outras de forma lenta e difícil; há também a latência aumentada entre a pergunta e a resposta dada pelo paciente. Mutismo É definido como a ausência de resposta verbal oral por parte do paciente, o sujeito não responde mesmo estando desperto, escutando e consciente, ou seja, nada que comprometa a produção de palavras faladas por parte do sujeito. Mutismo eletivo: é uma forma de mutismo relacionada a ansiedade social em que a ausência de fala em contextos específicos (escola, grupo de amigos e etc.). Mutismo com bases neurológicas: o paciente apresenta mutismo associado de afasia. Mutismo acinético: há ausência de resposta mesmo com a consciência e a vigilância preservada. Mutismo cerebelar: mutismo relacionado a tumores. Preservação Verbal Aqui, há a repetição automática de palavras ou trechos de frases, de modo estereotipado, mecânico e sem sentido; a perseverção da linguagem pode ser da linguagem falada ou escrita. Ecolalia É a repetição da última ou das últimas palavras que o entrevistador falou ou dirigiu ao paciente, uma repetição em eco da fala; é automático, sem planejamento e controle. Palilalia e logoclonia Palilalia: é a repetição automática e estereotipada pelo paciente de suas palavras ou frases, que ele próprio emitiu em seu discurso. Logoclonia: é a repetição automática e involuntária das ultimas silabas que o paciente pronunciou. Tiques verbais ou fonéticos e coprolalia Tiques verbais ou fonéticos: são produções de fonemas ou palavras de forma recorrente, impropria e irresistível; o paciente produz sons guturais, abruptos e espasmódicos; é desagradável, mas impossível de ser contido. Coprolalia: é a emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas, vulgares ou relativas a excrementos. Alogia, verbigeração e mussitação Alogia: é o empobrecimento da produção de linguagem, que se vê pela diminuição da fluência verbal e pelo discurso empobrecido. Verbigeração: é a repetição, de forma monótona e sem sentido comunicativo aparente, de palavras, silabas ou trechos de frases. Mussitação: é a produção repetitiva de uma voz muito baixa, murmurada, em tom monocórdico, sem significado comunicativo. Glossolalia e pararrespostas Glossolalia: é a produção de uma fala gutural, pouco compreensível, um verdadeiro conglomerado de sons (ou escritas) sem sentido; os sons imitam uma fala normal, apesar de não fazer sentido. Pararespostas: implica nas alterações tanto do pensamento quanto do comportamento verbal mais amplo, o conteúdo da fala do paciente é completamente disparatado. Neologismos Neologismo patológico: são palavras inteiramente novas, criadas pelo paciente, ou palavras já existentes que recebem acepção totalmente nova. Neologismo passivo: os fonemas, palavras, imagens, ideias se associam por si mesmos, como resultado de automatismo psicológico. Neologismo ativos: são criados voluntariamente pelo paciente, com intenção definida, correspondendo a uma ideia, mais ou menos clara, da mente do paciente. A linguagem nas demências No início dos quadros demenciais, podem se encontrar alterações da linguagem como as parafasias (deformações de palavras existentes; ‘’caneira’’, em vez de ‘’cadeira’’) , mais frequentemente, a dificuldade em encontrar palavras. O paciente tende a usar termos vagos e inespecíficos. Também responde às perguntas de modo inespecífico.
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