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Maria Clara Fernandes - MEDICINA DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA: A Síndrome Metabólica é definida como um conjunto de fatores de risco cardiovascular, estando relacionada à deposição central de gordura e à resistência insulínica. A OMS, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e o Nacional Cholesterol Education Program (NCEP) elegem 5 critérios para definir a síndrome metabólica, sendo eles: 1. hipertensão arterial (≥ 130x85mmHg) 2. glicose ≥ 100mg/dL 3. aumento da circunferência abdominal (≥ 102cm para homens e ≥ 88cm para mulheres); 4. triglicerídeos 150mg/dL 5. colesterol HDL (< 40mg/dL em homens e < 50mg/dL em mulheres) Porém, apesar de serem 5 critérios, a presença de 3 já caracteriza o paciente como portador da síndrome. Quando presente, a síndrome metabólica é associada com uma taxa de mortalidade geral duas vezes maior que na população normal, e com uma taxa de mortalidade cardiovascular três vezes maior. No mundo, a prevalência da SM varia amplamente de acordo com as características da população estudada e os critérios utilizados para tal Segundo o Ministério da Saúde, a maioria das pessoas acometidas pela síndrome se sentem bem e assintomáticas, porém, estão na faixa de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares graves e diabetes. FATORES DE RISCO: Os fatores de risco mais importantes associados ao desenvolvimento da síndrome metabólica nos pacientes são a predisposição genética, a alimentação inadequada, o sedentarismo, o tabagismo, a idade avançada e a obesidade abdominal. Maria Clara Fernandes - MEDICINA FISIOPATOLOGIA: O mecanismo fisiopatológico básico da síndrome metabólica ainda é controverso, mas tem-se a resistência insulínica e a liberação excessiva de ácidos graxos como os componentes principais para o desencadeamento da doença. Essa liberação excessiva de ácidos graxos ocorre, justamente, por conta do excesso de tecido adiposo visceral e diminuição do tecido adiposo subcutâneo, que também liberam citocinas inflamatórias na circulação. O excesso de citocinas inflamatórias, como o TNF-alfa e a IL-6 acabam por gerar uma inflamação no tecido adiposo, que se propaga para uma inflamação sistêmica generalizada. Apesar de ainda não muito esclarecido, estudos apontam que a ação dessas citocinas acontece pelo fato delas inibirem diretamente a ativação do receptor de insulina, dificultando, dessa forma, o transporte da glicose entre as células. Além disso, o aumento da lipólise nos adipócitos viscerais ocasiona um aumento do aporte de ácidos graxos livres tanto para o fígado, quanto para o músculo esquelético, inibindo a ação da insulina também nesses órgãos (lipotoxicidade). Essa resistência insulínica gerada no fígado, acaba levando a um aumento da gliconeogênese hepática (gerando a hiperglicemia), da produção de citocinas inflamatórias (gerando inflamação) e da secreção de VLDL (gerando a hipertrigliceridemia e a redução dos níveis de colesterol HDL). EXAMES E DIAGNÓSTICO: Para o diagnóstico clínico da síndrome metabólica é necessária: 1. a coleta correta da história clínica do paciente: incluindo idade, histórico de doenças como hipertensão, diabetes, AVC, SOP e doenças cardiovasculares; 2. o histórico familiar em relação a essas doenças; 3. o uso de medicamentos hiperglicemiantes, como os corticosteroides, os betabloqueadores e os diuréticos. Em seguida, deve ser realizado o exame físico avaliando: 1. circunferência abdominal; 2. valores de PA em 2 medidas de momentos distintos; 3. peso e altura; 4. avaliação da função cardiovascular; É importante observar também a possível presença de acantose nigricans nos pacientes, que são indicativos de pacientes diabéticos. Os exames laboratoriais principais incluem: 1. a glicemia em jejum ou a curva glicêmica, com o objetivo de determinar o nível glicêmico utilizado pelo paciente; 2. o lipidograma, que mede triglicerídeos, HDL, LDL e VLDL; Porém, além desses exames, também podem ser solicitados: 1. peptídeo C, que atua como um indicador da produção insulínica no organismo; 2. microalbuminúria, que atua como um indicador precoce de doença renal, Maria Clara Fernandes - MEDICINA sendo utilizado para monitorização de pacientes diabéticos; 3. PCR ultrassensível, que é utilizado para avaliação de risco cardíaco pois mede baixos níveis de inflamação; 4. insulina, que pode variar muito, mas, no geral, se apresenta elevada em pessoas acometidas pela síndrome ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO CDV: Tendo em vista que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil, a VI Diretriz Brasileira de Hipertensão (2010) passou a dar um maior valor a estratificação de risco cardiovascular. Essa estratificação é feita baseada em 4 itens: 1. reconhecimento dos fatores de risco cardiovasculares; 2. fatores de risco adicionais para HAS; 3. identificação de lesões em órgão-alvo; 4. identificação de lesões subclínicas de órgãos-alvo O individuo pode ser classificado em três níveis de risco, sendo eles baixo, moderado ou alto. Para que a estratificação de risco seja realizada, é preciso se basear no exame clínico e nos exames complementares, que indicarão o grau de risco sugerido. Indivíduos homens com menos de 45 anos e mulheres com menos de 55 anos que não apresentarem manifestações clínicas ou indicadores de risco intermediário, são classificados como baixo risco e não necessitam de exames complementares. A classificação de risco pode ser repetida a cada 3 a 5 anos ou sempre que eventos clínicos apontem a necessidade de uma reavaliação, como um evento vascular, infarto do miocárdio ou AVC. Embora não exista um consenso no escore a ser utilizado para estimativa de risco global, recomenda-se aplicar o modelo de Framingham, utilizado no Manual de Capacitação dos Profissionais de Saúde da Rede Básica, revisto em 2005. Essa determinação de risco exige a obtenc ̧ão de pelo menos 2 exames complementares: glicemia de jejum e colesterol total. A determinação do perfil lipídico completo, com dosagem de triglicerídeos, HDL-C e estimativa de LDL-C1, que torna a predicação um pouco mais precisa para a maioria dos pacientes. Maria Clara Fernandes - MEDICINA Para pacientes com HAS ou DM, solicita-se também dosagem de creatinina, sumário de urina tipo 1 e eletrocardiograma. Pacientes portadores de nefropatia, hipertrofia do ventrículo esquerdo ou diabéticos são automaticamente classificados como de alto risco. TRATAMENTOS: Para o tratamento não medicamentoso da síndrome metabólica, recomenda-se a mudança no estilo de vida a partir da elaboração de um plano alimentar individualizado prevendo a redução de peso e gordura, além da prática regular de exercícios físicos. É importante que seja sempre considerada as características e preferências individuais de cada paciente, assim como seu poder aquisitivo e sua realidade. Além disso, também é importante a recomendação e o acompanhamento para a cessação do fumo e controle da ingestão de bebidas alcóolicas, aumentando também a ingesta hídrica. Já para o tratamento medicamentoso, temos aqueles para o tratamento da HAS (anti- hipertensivos), para o tratamento da diabetes (antidiabéticos) e para o tratamento da dislipidemia. O tratamento farmacológico da HAS, com o objetivo de redução da morbimortalidade cardiovascular e renal, é considerado para valores de PA a partir de 140x90mmHg ou de 130x85mmHg em pacientes diabéticos. Dentre eles, existem os tiazídicos (diuréticos), que são recomendados em baixas doses e em associação com inibidores do SRAA e que minimizam hipocalemia. Existem também os inibidores da ECA, que retardam o declínio da função renal em pacientes com nefropatia diabética sem apresentar efeitos deletérios no metabolismo dos lipídios e da glicose. Os betabloqueadores também são eficazes e são os de primeira escolhapara pacientes com HAS associada à doença coronariana, mas que aumentam peso, intolerância à glicose e o risco de desenvolvimento da DM2. *OBS: são contra-indicados em pacientes portadores de asma brônquica, DPOC e bloqueio AV de 2º ou 3º grau* O esquema terapêutico visa a redução da PA num período de 3 a 6 meses com monoterapia ou associação. O tratamento do diabetes tem como objetivo controlar a glicemia e promover a queda da Maria Clara Fernandes - MEDICINA hemoglobina glicada, tendo uma relação independente entre os níveis sanguíneos de glicose e a doença cardiovascular. Os antidiabéticos orais visam baixar e manter a glicemia normal, podendo ser classificados em duas categorias: os que não aumentam a secreção de insulina (anti-hiperglicemiantes) e os que aumentam (hipoglicemiantes). Os anti-hiperglicemiantes são utilizados em monoterapia e não costumam estar associados com a hipoglicemia. São eles: - metformina (biguanida): causa diminuição hepática da glicose, reduzindo a hemoglobina glicada em 1,5% a 2%; - acarbose (inibidor de alfa-glicosidase): causa redução da velocidade de absorção intestinal da glicose, agindo principalmente no pós-prandial. Já os hipoglicemiantes são chamados de secretagogos da insulina, podendo ser: - sulfonilureias: apresentam ação hipoglicemiante mais prolongada e promovem queda de 1,5% a 2% da hemoglobina glicada; - metglitinidas ou glinidas: apresentam menor tempo de ação e cobrem principalmente o período pós-prandial Combinando-se dois ou mais antidiabéticos orais com mecanismos de ac ̧ão diferentes obtém-se uma queda adicional na glicemia, com melhora do controle metabólico. Quando a combinação terapêutica com medicamentos orais falha na obtenção do bom controle, a indicação é a introdução de insulina de depósito (NPH ou Glargina) antes de o paciente dormir, ainda em combinação com medicamentos orais. Nesse caso, a dose de insulina noturna deve ser ajustada de acordo com a glicemia de jejum, que deverá ser mantida entre 100mg/dL e 120mg/dL, promovendo melhora no controle glicêmico com menor ganho ponderal. Por fim, o tratamento farmacológico da dislipidemia traça metas lipídicas a serem alcançadas com o tratamento levando em consideração o risco individual de cada paciente e o custo-benefício. A primeira meta é a redução do colesterol LDL e a correção dos níveis de colesterol HDL e triglicerídeos. É importante ressaltar que, em pacientes diabéticos, o controle glicêmico deve ser feito antes de iniciar-se a atuação sobre os valores de triglicerídeos e HDL. Maria Clara Fernandes - MEDICINA - estatinas: são os medicamentos de primeira escolha, devido à sua relação com a redução da morbimortalidade cardiovascular, agindo através da redução da síntese de colesterol e aumento da expressão hepática dos receptores de LDL, além de bloquearem a síntese hepática de triglicérides; *OBS: são contra-indicados absolutos para pacientes com doença hepática aguda ou crônica* - fibratos: atuam modulando genes que aumentam a expressão da lipase lipoproteica, resultando na redução da trigliceridemia em 20% a 50% e elevando o HDL em 10% a 20%; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (Arquivos Brasileiros de Cardiologia), 2005; 2. Síndrome Metabólica: diagnóstico e tratamento, Rev Med (São Paulo). 2008 3. O escore de risco de Framingham para Doenças Cardiovasculares, Paulo Andrade Lotufo 4. Prevenção Clínica de Doença Cardiovascular, Cerebrovascular e Renal Crônica. Cadernos de Atenção Básica no Ministério da Saúde. Brasília – DF. 2006.
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