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ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I MARC 01 - SINDROME METABOLICA OBJETIVO 1: FISIOPATOLOGIAs DIABETES TIPO 2 O DM2 tem início, quando o pâncreas endócrino falha em secretar insulina adequadamente para as demandas metabólicas, por disfunção secretória e/ou diminuição da massa de células β. A disfunção secretória bem caracterizada é uma redução relativa da fase rápida de secreção de insulina, demonstrada durante o teste oral ou intravenoso de tolerância à glicose, ou mesmo após refeições mistas. Esta menor secreção pode ser consequência de alterações funcionais genéticas e/ou adquiridas da célula β, mas a hipótese mais provável para a maioria dos casos de DM2 é a associação da disfunção secretória e da redução da massa dessas células. Falência das células beta A maioria dos pacientes com DM2, magros ou obesos, apresenta uma redução da massa de células β. Assim, o DM2 pode ser visto como uma doença caracterizada por deficiência relativa de insulina. A massa de células β é regulada por, pelo menos, três mecanismos independentes: replicação, neogênese e apoptose. No adulto, ela se mantém relativamente constante, com baixa taxa de apoptose, compensada pela replicação. Nos idosos, a massa de células β pode reduzir-se, porque a apoptose supera a capacidade de replicação. Isto pode explicar a maior propensão a DM2 nesse grupo etário. Aproximadamente um terço dos obesos desenvolve DM2, provavelmente em decorrência da predisposição genética que envolve esse controle da massa de células β. No DM2 há um maior grau de apoptose de células β, provavelmente em decorrência dos seguintes fatores: hiperglicemia, lipotoxicidade, estresse oxidativo, estresse do RE e ação de algumas citocinas. O cérebro está também envolvido na patogênese da obesidade e do DM2. Dieta rica em gorduras, estresse oxidativo e citocinas pró-inflamatórias podem causar inflamação hipotalâmica, com redução dos sinais anorexígenos mediados pela insulina e pela leptina, gerando hiperfagia e ganho de peso. Além disso, estudos em roedores forneceram evidências de que RI cerebral leva a aumento da produção hepática de glicose e redução da captação muscular de glicose. Por fim, os rins também contribuem para a hiperglicemia no DM2, em virtude do aumento da atividade dos transportadores de sódio e glicose 2 (SGLT-2) nos túbulos proximais. Essas proteínas são responsáveis pela reabsorção de 90% da glicose filtrada nos glomérulos. Estudos de culturas de células tubulares proximais renais de pacientes com DM2 demonstraram aumento acentuado dos níveis de mRNA dos SGLT-2. Anormalidades metabólicas Metabolismo anormal do músculo e da gordura A resistência à insulina, a menor capacidade da insulina em agir efetivamente sobre os tecidos-alvo (em especial músculo, fígado e gordura), constitui uma característica proeminente do DM tipo 2 e resulta de uma combinação de suscetibilidade genética e obesidade. A resistência à insulina prejudica a utilização da glicose pelos tecidos sensíveis à insulina e aumenta a produção hepática de glicose; ambos os efeitos contribuem para a hiperglicemia. O maior débito hepático de glicose é responsável predominantemente pelos maiores níveis de GPJ, enquanto a menor utilização periférica da glicose resulta em hiperglicemia pós-prandial. No músculo esquelético, observa-se maior deterioração da utilização não oxidativa da glicose (formação de glicogênio) do que no metabolismo oxidativo da glicose pela glicólise. Outras anormalidades incluem o acúmulo de lipídeos dentro dos miócitos esqueléticos, o que pode prejudicar a fosforilação oxidativa das mitocôndrias e reduzir a produção de ATP mitocondrial estimulada pela insulina. A oxidação prejudicada dos ácidos graxos e o acúmulo de lipídeos dentro dos miócitos esqueléticos também podem gerar espécies reativas do oxigênio, como os peróxidos lipídicos. Comprometimento da secreção de insulina No DM tipo 2, inicialmente a secreção de insulina aumenta em resposta à resistência à insulina a fim de manter uma tolerância à glicose normal. No início, o defeito secretor da insulina é leve e envolve seletivamente a secreção de insulina estimulada pela glicose, ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I incluindo uma acentuada redução da primeira fase secretora. A resposta a outros secretagogos diferentes da glicose, como a arginina, é preservada, porém a função β global está reduzida em até 50% no início do DM tipo 2. As anormalidades no processamento da pro-insulina refletem-se por um aumento da secreção de pro-insulina no DM tipo 2. Por fim, o defeito secretor da insulina é progressivo. Aumento na produção hepática de glicose e lipídeos Como resultado da resistência à insulina no tecido adiposo, a lipólise e o fluxo de ácidos graxos livres a partir dos adipócitos aumentam, levando a um aumento da síntese de lipídeos nos hepatócitos. Esse armazenamento lipídico ou esteatose hepática pode levar à esteatose hepática não alcoólica e a provas de função hepática anormais. Isso também é responsável pela dislipidemia observada no DM tipo 2. HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) superam os riscos. Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/ epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. É aconselhável, quando possível, a validação de tais medidas por meio de avaliação da PA fora do consultório por meio da Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), da Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA) ou da Automedida da Pressão Arterial (AMPA). Os fatores genéticos podem influenciar os níveis de PA entre 30-50%; com o envelhecimento, a PAS torna-se um problema mais significante, resultante do enrijecimento progressivo e da perda de complacência das grandes artérias. Em torno de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam HA; Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres; A etnia é um fator de risco importante para a HA, mas condições socioeconômicas e de hábitos de vida parecem ser fatores mais relevantes para as diferenças na prevalência da HA do que a implicação étnica propriamente dita; Parece haver uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA; A ingestão elevada de sódio tem-se mostrado um fator de risco para a elevação da PA, e consequentemente, da maior prevalência de HA. A literatura científica mostra que a ingestão de sódio está associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio; Há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da PA e da HÁ; Uma característica da hipertensão é a hiperatividade do sistema renina-angiotensina, que contribui para várias alterações funcionais e estruturais em vários órgãos-alvo. Um dos produtos deste sistema, a angiotensina II (Ang II) promove lesão vascular por induzir vasoconstrição, proliferação e hipertrofia de células musculares lisas e inflamação vascular, bem como a degradação da matriz extracelular. Além disso, contribui com o aumento da contratilidade miocárdica, retenção de sódio e água e elevação da pressão arterial. Barorreceptores situados na camada adventícia do arco aórtico e seio carotídeo sentem variações na pressão arterial, propagando potenciais de ação para o Sistema Nervoso Central (SNC), que por sua vez desencadeiam ajustes autonômicos reflexos que tamponam as alterações da pressão arterial. Em condições patológicas, como na hipertensão, há prejuízo na regulação autonômica da pressão arterial, resultando em danos na sensibilidade dobarorreflexo. O aumento nos níveis de Ang II tanto em nível sistêmico quanto no SNC pode desencadear um aumento na atividade simpática e aumento da pressão arterial. produção de Ang II é decorrente da ativação do SRA. Uma vez ativo, este sistema consiste em uma cascata enzimática formada de duas etapas, catalisadas pela renina e pala enzima conversora de angiotensina (ECA). A renina atuará na conversão do angiotensinogênio em um decapeptídeo, a angiotensina I. Este polipeptídio apresenta características bastante instáveis, sendo rapidamente convertido por ação da ECA em Ang II. SÍNDROME METABÓLICA ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I A Síndrome Metabólica (SM) é um conjunto de fatores de risco cardiovascular que tendem a ocorrer de forma associada em um mesmo indivíduo, havendo estreita relação com o acúmulo de gordura no compartimento intra-abdominal, a chamada obesidade visceral, e a resistência tecidual às ações biológicas da insulina. Componentes da sindrome metabolica: 1. Fatores de risco cardiovascular modificáveis com hábitos de vida: hipertensão arterial e dislipidemia – geralmente, hipertrigliceridemia e colesterol HDL baixo; 2. Distúrbios do metabolismo da glicose: resistência à insulina, hiperinsulinemia, glicemia alterada em jejum ou após teste de tolerância a glicose, diagnóstico prévio de Diabetes Mellitus (DM); 3. Obesidade: Índice de Massa Corpórea (IMC), cintura abdominal ou relação cintura-quadril. Apesar de a obesidade visceral e a resistência a insulina parecerem os principais fatores responsáveis pelo surgimento das anormalidades componentes da SM, provavelmente não são os únicos. Em média, indivíduos com SM têm maior resistência a insulina do que indivíduos sem SM. Entretanto, há aqueles com resistência (demonstrada por estudos bioquímicos) que não apresentam os componentes da SM, assim como há indivíduos com diagnóstico de SM sem evidências bioquímicas de resistência. Provavelmente, os fatores genéticos desempenham um papel ao menos parcial na determinação da SM, haja vista que algumas mutações (por exemplo, no gene do receptor da insulina, ou no PPAR-gama) podem provocar um estado de resistência a insulina e manifestações compatíveis com a SM. Entre as anormalidades fisiopatológicas observadas em portadores de SM, as mais comumente citadas na literatura são: 1. Aumento dos níveis de ácidos graxos livres circulantes: os ácidos graxos livres no plasma aumentam de forma diretamente proporcional à quantidade de tecido adiposo depositado no compartimento visceral abdominal. Esses adipócitos apresentam lipólise mais acentuada do que os adipócitos em outras localizações (subcutâneo), entretanto o tecido adiposo subcutâneo do tronco também contribui para o aumento dos ácidos graxos livres circulantes; 2. Fosforilação em serina dos substratos do receptor de insulina (IRSs): a fosforilação em serina dos IRSs nos tecidos alvo desse hormônio (fígado, músculos) diminui a sinalização intracelular na cascata geralmente ativada pela insulina e o transporte de glicose transmembrana. Essa fosforilação é estimulada por altos níveis de ácidos graxos circulantes; 3. Acúmulo de lipídios no músculo e no fígado (esteatose): a esteatose hepática e muscular interfere na sinalização intracelular da insulina e reduz a captação de glicose nesses tecidos. A esteatose hepática pode evoluir para esteato-hepatite não alcoólica, quando ocorre inflamação do fígado com aumento da TGO e TGP e cirrose; 4. Alteração na secreção de hormônios pelos adipócitos: há aumento da secreção de visfatina e resistina e redução da secreção de adiponectina, acarretando redução da sensibilidade tecidual a insulina. A redução de adiponectina é reconhecida como fator de risco independente para DM2, além de favorecer a dislipidemia e o estado inflamatório e protrombótico; 5. Estado inflamatório sistêmico: encontram-se secreção aumentada de citocinas inflamatórias (interleucina-6, TNF-alfa) pelo tecido adiposo (visceral) e aumento da proteína C reativa, em associação ao aumento de risco cardiovascular; 6. Estado protrombótico: nota-se secreção aumentada do inibidor do ativador do plasminogênio-1 (PAI-1) e do fibrinogênio, estimulada pelas citocinas inflamatória; 7. Aumento na síntese de Very-Low Density Lipoprotein (VLDL) pelo fígado e aumento da ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I atividade da Cholesteryl Ester Transfer Protein (CETP): a síntese hepática de VLDL é estimulada pela grande oferta de ácidos graxos livres, levando a aumento dos triglicérides e consequente redução do HDL plasmático (maior atividade da CETP). A atividade aumentada da CETP também é uma das responsáveis pela alteração no padrão das partículas de LDL, que se tornam menores e mais densas (tipo B), atingem a camada íntima com mais facilidade e são mais oxidadas, o que as torna mais aterogênicas; 8. Hipertensão arterial: acontece pelo aumento da retenção de sódio e água, maior ativação do sistema renina-angiotensinaaldosterona e pela ativação do sistema nervoso simpático, pela hiperinsulinemia (em pacientes com resistência a insulina); 9. Disfunção endotelial: há menor produção de óxido nítrico (normalmente, estimulada pela insulina), um importante vasodilatador Fisiologicamente, a leptina reduz o apetite, promove gasto de energia e aumenta a sensibilidade à insulina. Além disso, a leptina pode regular a função cardíaca e vascular por um mecanismo dependente de óxido nítrico. A hipótese do estresse oxidativo fornece uma teoria unificadora para o envelhecimento e a predisposição à síndrome metabólica. Em estudos realizados em indivíduos resistentes à insulina com obesidade ou diabetes tipo 2, na prole dos pacientes com diabetes tipo 2 e em idosos, identificou-se um defeito na fosforilação oxidativa mitocondrial que levou ao acúmulo de triglicerídeos e moléculas lipídicas relacionadas no músculo. A hipertrigliceridemia não apenas é uma característica da síndrome metabólica, como também os pacientes com síndrome metabólica apresentam níveis elevados de ApoCIII carregadas nas VLDLs e outras lipoproteínas. Esse aumento da ApoCIII é inibitório para a lipoproteína lipase, contribuindo para a hipertrigliceridemia, e também associado a mais doença cardiovascular aterosclerótica. Outro distúrbio principal da lipoproteína na síndrome metabólica é uma redução do HDL-colesterol. Essa redução é uma consequência das modificações na composição e no metabolismo da HDL. Os defeitos na ação da insulina na síndrome metabólica levam à deficiência na supressão da produção de glicose pelo fígado e pelos rins, além de redução da captação de glicose e do metabolismo nos tecidos sensíveis à insulina, isto é, tecidos muscular e adiposo. Para compensar os defeitos da ação da insulina, a secreção de insulina e/ou a depuração têm de ser modificadas para sustentar a euglicemia. Finalmente, esse mecanismo compensatório falha, em geral devido a defeitos na secreção de insulina, resultando na evolução da glicemia em jejum alterada e/ou tolerância à glicose diminuída para o diabetes melito. COMPLICAÇÕES DA SM A SM e o DM compõem um espectro de doenças multissistêmicas, em particular do endotélio vascular, e que contribuem dramaticamente para a progressão dos substratos fisiopatológicos da DAC. Evidências robustas sugerem que o risco CV aumenta ainda em estágios que precedem o diagnóstico clínico de DM em 10 a 20 anos, com base nos critérios atuais. Sendo a SM um dos principais fatores de risco para DM, é razoável considerá-la dentro de um mesmo continuum de alterações metabólicas relacionadas à aterotrombose coronária. De fato, estima-se que as alterações do metabolismo glicídico precedam o diagnóstico de diabetes em 4 a 12 anos. Enquanto em estágios mais precoces a resistência a insulina pode ser compensada com hiperprodução de insulina, a partir de certo ponto, a reserva funcional pancreática se esgota e a produção de insulina passa a não compensar a resistência à mesma. A partir desse momento, o diagnóstico será percebido pela hiperglicemia, masas modificações CV adaptativas à resistência a insulina e estresse oxidativo celular já não são mais reversíveis. Outro mecanismo que parece ocorrer mesmo em estágios precoces (pré-hiperglicemia) é o acúmulo de ácidos graxos em diversos tecidos como pâncreas, coração e fígado, acelerando a disfunção na produção de insulina, na produção hepática de glicose e na diástole do VE. Dessa forma, mesmo remotamente antes do período de hiperglicemia, diversos mecanismos celulares cooperam para determinar disfunção endotelial, mudanças fenotípicas em lípides com hipertrigliceridemia, e LDL pequena e densa, compondo o cenário ideal para aterogênese acelerada. Em conjunto, esses dados sugerem que a DAC é acelerada mesmo muitos anos antes do aparecimento da hiperglicemia. Sem nenhuma dúvida, a síndrome metabólica engloba ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I variáveis que aumentam o risco para as doenças cardiovasculares. Não são encontrados ainda estudos prospectivos específicos da síndrome metabólica que permitam a elaboração de uma tabela de estimativa do risco cardiovascular, semelhante à que foi proposta, por exemplo, pelo estudo de Framingham. Neste estudo, as variáveis utilizadas para a montagem da equação que permitiu a elaboração da tabela foram: idade, sexo, colesterol total, HDL-colesterol, níveis de pressão arterial, presença ou não de diabetes e tabagismo. A consideração destas variáveis permitiu a formação de um escore de risco. A tabela de Framingham foi construída para avaliar o risco cardiovascular da sua população, mas tem sido largamente aplicada também para outras populações, desde que sejam usadas as mesmas variáveis de risco. No caso da síndrome metabólica, independentemente da sua classificação, as variáveis que a compõem não são exatamente as mesmas da tabela de Framingham e, portanto, ela seria em princípio inaplicável. Contudo, na população de Framingham, a presença apenas da síndrome metabólica, classificada de acordo com o III NCEP, foi capaz de predizer cerca de 25% dos novos casos de doença cardiovascular observados em oito anos de seguimento. Aplicando-se a tabela de Framingham à síndrome metabólica, na ausência de diabetes, o risco para doença coronariana variou entre 10% e 20% em dez anos. Por outro lado, os investigadores de Framingham, utilizando métodos estatísticos específicos não encontraram diferença significativa da estimativa do risco cardiovascular quando agregaram ao algoritmo de Framingham, valores da síndrome metabólica, considerados no todo ou em separado, tanto em pacientes diabéticos como em não-diabéticos. Portanto, os resultados desta análise mostram que não há aumento do risco cardiovascular pela adição dos fatores de risco da síndrome metabólica não contemplados na tabela ao cálculo do escore de Framingham. É provável que a maior parte do risco associado à síndrome metabólica seja marcado pela idade, pela pressão arterial, pelo colesterol total, pelo diabetes e pelo HDL-colesterol, já incluídos na tabela de Framingham. Além desses, a obesidade, os triglicerídeos e a glicose elevada, excluído o diabetes, não teriam poder de aumentar significativamente o risco cardiovascular. No entanto, quando foi analisado o risco para início recente de diabetes na população de Framingham, em ambos os sexos, a síndrome metabólica, classificada de acordo com o III NCEP, foi capaz de explicar quase a metade do risco para diabetes atribuído à população. Assim sendo, a consideração do risco cardiovascular global do indivíduo, levando-se em consideração a idade e as variáveis que compõem os diferentes fatores de risco cardiovascular é extremamente atrativa na avaliação do portador de síndrome metabólica. OBJETIVO 2: Diagnóstico e exames Os critérios diagnósticos mais frequentemente citados na literatura e utilizados na prática clínica são os da OMS, publicados originalmente em 1998 e revistos em 1999; do NCEP-ATP III, publicados originalmente em 2001 e atualizados em 2005 para mudar o valor de corte da glicemia de jejum de > 110 mg/dL para ≥ 100 mg/dL; os mais recentes, da International Diabetes Federation (IDF), publicados em 2005 e atualizados em 2006. São objetivos da investigação clínica e laboratorial: confirmar o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) de acordo com os critérios do NCEP-ATP III e identificar fatores de risco cardiovascular associados16. Para tanto, realiza-se: 1. História clínica - idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteroides, betabloqueadores, diuréticos). 2. Exame físico necessário para diagnóstico da SM: • Medida da circunferência abdominal. A medida da circunferência abdominal é tomada na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior. • Níveis de pressão arterial. Deve-se aferir no mínimo duas medidas da pressão por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso18,19. Além destes dois dados obrigatórios deverá estar descrito no exame físico destes pacientes: ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I • Peso e estatura. Devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal através da fórmula: IMC = Peso/Altura2. • Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans. Examinar pescoço e dobras cutâneas. • Exame cardiovascular. 3. Exames laboratoriais necessários para o diagnóstico da SM: • Glicemia de jejum. A SM, definida pelos critérios do NECP-ATP III, recomenda para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose apenas a avaliação laboratorial de jejum, não exigindo teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de avaliação da insulino-resistência. • Dosagem do HDL-colesterol e dos triglicerídeos. Outros exames laboratoriais adicionais poderão ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global, tais como: colesterol total, LDL-colesterol, creatinina, ácido úrico, microalbuminúria20, proteína C reativa, TOTG (glicemia de jejum e após duas horas da ingestão de 75g de dextrosol), eletrocardiograma. A presença de LDL aumentado não faz parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, porém, frequentemente, os pacientes portadores de resistência à insulina e síndrome metabólica apresentam aumento da fração pequena e densa do LDL colesterol que tem um potencial aterosclerótico maior. Em 2009, a SBD publicou um novo posicionamento oficial, em que tece várias considerações sobre a SM e conclui que, embora ambas as definições (NCEP-ATP III e IDF) sejam úteis e amplamente utilizadas na prática clínica, a definição da IDF é preferível, visto que valoriza mais a importância da obesidade visceral e da resistência a insulina como alterações fundamentais da síndrome, muito embora faltem estudos para definir o melhor valor de corte de circunferência abdominal a ser adotado para a população brasileira. Para tentar dirimir tantas controvérsias quanto aos critérios diagnósticos para SM, em 2009 foi feita uma reunião de consenso entre representantes da IDF, da American Heart Association e do National Institutes of Health (que havia proposto originalmente os critérios do NCEP-ATP III), em que todos concordaram em gerar uma versão ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I “harmonizada” desses critérios, os quais são apresentados: OBJETIVO 1: plano terapeutico TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO DA SÍNDROME METABÓLICA A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercício físico são considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica. Está comprovado que esta associação provoca a redução expressiva da circunferência abdominal e a gordura visceral, melhora significativamente a sensibilidade à insulina, diminui os níveis plasmáticosde glicose podendo prevenir e retardar o aparecimento de diabetes tipo 2. Há ainda, com essas duas intervenções, uma redução expressiva da pressão arterial e nos níveis de triglicérides, com aumento do HDL-colesterol. Esses recentes resultados em pacientes com síndrome metabólica fundamentam as condutas referentes ao plano alimentar e ao exercício físico como tratamento não-medicamentoso da SM. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL O tratamento medicamentoso da hipertensão arterial na síndrome metabólica tem como objetivo reduzir a morbidade e a mortalidade cardiovascular e renal, além de prevenir o agravamento metabólico. Esses benefícios podem ser alcançados em pacientes tratados com diuréticos, inibidores adrenérgicos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II (BRA), antagonistas de canais de cálcio e vasodilatadores diretos. Sendo a síndrome metabólica constituída de inúmeros fatores de risco cardiovascular, deve-se considerar o tratamento farmacológico da hipertensão arterial nela presente a partir de 140/ 90mmHg ou 130/85mmHg na presença de diabetes mellitus. 1.Diuréticos São eficazes no tratamento da hipertensão arterial, tendo sido comprovada a sua eficácia na redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular, inclusive em pacientes com diabetes. Em função dos múltiplos mecanismos que induzem à retenção de sódio nos pacientes portadores da SM, frequentemente torna-se necessário o uso de diuréticos para se obter a meta de redução da pressão arterial. Como anti-hipertensivos, recomendam-se os diuréticos tiazídicos e similares em baixas doses. Considerando-se que a monoterapia anti-hipertensiva dificilmente promoverá o controle da pressão arterial dos pacientes com síndrome metabólica e que a maioria dos hipertensos necessitará de associações medicamentosas, sugere-se que esse hipotensor seja associado a drogas que bloqueiam o sistema renina-angiotensina e minimizam a hipocalemia. 2. Inibidores da enzima conversora da angiotensina São eficazes no tratamento da hipertensão arterial. Também reduzem a morbidade e a mortalidade cardiovascular dos pacientes hipertensos com síndrome metabólica e elevado risco para doença aterosclerótica; dos pacientes com doenças cardiovasculares e ainda retardam o declínio da função renal em pacientes com nefropatia diabética. Em pacientes diabéticos, alguns estudos mostraram que estes agentes foram superiores em prevenir eventos cardiovasculares quando comparados aos bloqueadores de canais de cálcio e diuréticos/betabloqueadores esses hipotensores não possuem efeitos deletérios ao metabolismo lipídico e glicídico e alguns estudos mostraram redução na incidência de novos casos de diabetes mellitus tipo 2. 3. Antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II São eficazes no tratamento do paciente hipertenso. São reconhecidamente nefro e cardioprotetores nos pacientes diabéticos do tipo 2 com nefropatia estabelecida. 4. Antagonistas dos canais de cálcio. Esses hipotensores são bastante eficazes em reduzir a pressão arterial e não provocam alterações no metabolismo lipídico e no de carboidratos. Lembrar que esse grupo de fármacos tem menor capacidade de prevenir insuficiência cardíaca comparado aos diuréticos e IECA. ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I 5. Betabloqueadores São eficazes no tratamento da hipertensão arterial tendo também sido comprovada a sua eficácia na redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular. Estão especialmente indicados como a primeira opção para o tratamento da hipertensão arterial associada à doença coronariana. Do ponto de vista metabólico, podem induzir ao aumento de peso, à intolerância à glicose e aumentar o risco para o desenvolvimento de DM2 e hipertrigliceridemia e redução do HDL-colesterol. 6. Inibidores adrenérgicos A síndrome metabólica usualmente se acompanha de hiperatividade simpática e os inibidores adrenérgicos podem auxiliar na obtenção da meta de reduzir a pressão arterial nesses pacientes. Os simpaticolíticos de ação central (alfametildopa, clonidina, moxonidina, rilmenidina) têm efeitos metabólicos neutros, porém seus efeitos colaterais limitam seu uso clínico, ficando reservados como auxiliares para os pacientes que não respondem adequadamente aos demais hipotensores. A experiência favorável para o binômio materno-fetal recomenda a alfametildopa como medicamento de escolha para o tratamento da hipertensão durante a gravidez. Os bloqueadores alfa-1 apresentam baixa eficácia como monoterapia, devendo ser utilizados em associação com outros anti-hipertensivos. Apresentam a vantagem de propiciar melhora da sensibilidade insulínica. A associação de anti-hipertensivos deve obedecer à premissa de não se associar fármacos com mecanismos similares de ação. As seguintes associações de classes distintas de anti-hipertensivos são atualmente reconhecidas como eficazes: betabloqueadores e diuréticos; IECA e diuréticos; BRA e diuréticos; antagonistas dos canais de cálcio e betabloqueadores; antagonistas dos canais de cálcio e IECA. Para os casos de hipertensão resistente à dupla terapia, podem-se associar três ou mais medicamentos. Nessa situação, o uso de diuréticos é fundamental. O esquema terapêutico nos pacientes hipertensos com SM está centrado na meta da redução da pressão arterial em curto prazo de tempo (de três a seis meses), utilizando-se a monoterapia ou a associação de fármacos. Considerando-se que 75% dos pacientes necessitam da associação de hipotensores, sugere-se este esquema desde o início do tratamento. Já para os pacientes com Diabetes mellitus e SM, sugere-se a utilização de bloqueadores do sistema renina-angiotensina como parte do esquema terapêutico. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA DIABETES O tratamento deve objetivar a normoglicemia e a sua manutenção em longo prazo. É importante ressaltar que não se tem um estudo comprobatório sobre a redução da mortalidade na síndrome metabólica com a utilização dos agentes antidiabéticos existentes. Estes medicamentos estão indicados no tratamento da hiperglicemia quando os valores encontrados no jejum e/ou pós-sobrecarga estiverem acima dos requeridos para o diagnóstico do diabetes mellitus. Antidiabéticos orais Antidiabéticos orais são substâncias que têm a finalidade de baixar e manter a glicemia normal (Jejum < 110 mg/dl e pós-sobrecarga <140 mg/dl). Sob esse conceito amplo, de acordo com o mecanismo de ação principal, os antidiabéticos orais podem ser separados em medicamentos que: reduzem a velocidade de absorção de glicídios (inibidores da alfa-glicosidases), diminuem a produção hepática de glicose (biguanidas), aumentam a sua utilização periférica (glitazonas) e incrementam a secreção pancreática de insulina (sulfoniluréias e glinidas). No entanto, com finalidade prática, os antidiabéticos orais podem ser classificados em duas categorias: os que não aumentam a secreção de insulina – anti-hiperglicemiantes e os que aumentam a secreção de insulina – hipoglicemiantes. ● Medicamentos que não aumentam a secreção de insulina: Estes medicamentos, quando usados em monoterapia, em geral não estão relacionados com o aparecimento de ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I hipoglicemia e, portanto, podem ser utilizados com segurança desde o início da enfermidade. Fazem parte deste grupo: a metformina (biguanida), a rosiglitazona e pioglitazona (tiazolidinedionas ou glitazonas) e a acarbose (inibidor da alfa-glicosidase). A metformina tem sua maior ação anti-hiperglicemiante na diminuição da produção hepática de glicose, com uma ação sensibilizadora periférica menor, baixando a A1c em 1,5% – 2%. As glitazonas atuam mais na insulino-resistência periférica no músculo, célula adiposa e hepatócito, reduzindo a A1c em 1% – 1,5%, enquanto que a acarbose reduz a velocidade de absorção intestinal de glicose, portanto agindo mais na glicemia pós-prandial, com redução de 0,7% – 1% na A1c. ● Medicamentos que aumentam a oferta de insulina: São os secretagogos de insulina.Compreendem as sulfoniluréias que desenvolvem uma ação hipoglicemiante mais prolongada (clorpropamida, glibenclamida, gliclazida, glipizida, e glimepirida) que promovem queda de 1,5% a 2% na A1c e as metglitinidas ou glinidas, com menor tempo de ação, cobrindo principalmente o período pós-prandial, com redução de A1c de 1% com a nateglinida e de 1,5% a 2% com a repaglinida. A escolha do medicamento vai depender dos valores das glicemias no jejum e pós-prandial da hemoglobina glicada, do peso, da idade, de complicações e doenças associadas. Ainda, as possíveis interações com outros medicamentos, reações adversas e as contra-indicações deverão ser analisadas. Com glicemia inferior a 150mg/dL, estão indicados os medicamentos que não promovam aumento na secreção de insulina, principalmente se o paciente for obeso. Quando a glicemia de jejum for superior a 150mg/dL, mas inferior a 270mg/dL, a indicação da monoterapia antidiabética oral dependerá do predomínio entre insulino-resistência ou insulino-deficiência. Na maioria das vezes, é verificado no início clínico do diabetes, a presença de obesidade, hipertrigliceridemia, HDL colesterol baixo, hipertensão arterial, entre outros estigmas observados na síndrome metabólica. Eles indicam a presença de resistência à insulina e, neste caso, são mais apropriadas as drogas anti-hiperglicemiantes, que irão melhorar a atuação da insulina endógena, com melhor controle metabólico, evitando ganho ponderal excessivo. Já a associação perda de peso e hiperglicemia, revela a deficiência de insulina. Nesta circunstância, os medicamentos secretagogos devem ser os mais indicados (sulfoniluréias ou glinidas). Para aqueles pacientes com glicose de jejum normal ou próximo do normal, mas com hemoglobina glicada acima do normal, está indicado o uso de drogas que atuem mais na glicemia pós-prandial (acarbose ou glinidas). Combinando dois ou mais agentes antidiabéticos orais com mecanismos de ação diferentes obtém-se uma queda adicional na glicemia, com melhora do controle metabólico confirmado pela dosagem de A1c. Vários esquemas de combinações foram propostos e são utilizados. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA DISLIPIDEMIA As alterações do metabolismo lipídico apresentam uma relação frequente com a aterogênese e, conseqüentemente, com a aterosclerose e a elevada morbimortalidade cardiovascular. Convém enfatizar que apesar de os níveis de LDL-colesterol não constituírem um dos critérios diagnósticos desta síndrome, as evidências de estudos clínicos controlados apontam para a necessidade da redução do LDL-colesterol como meta primária a ser alcançada com o tratamento, concomitantemente com a correção dos níveis do HDL-colesterol e dos triglicérides. 1.As estatinas são os medicamentos de escolha para reduzir o LDL-C em adultos. Estudos de prevenção primária e secundária mostram que as estatinas diminuem os eventos coronarianos, a incidência de acidente vascular encefálico e a necessidade de revascularização do miocárdio e a mortalidade cardiovascular total. ANA PAULA CASTRO - 6° PERÍODO CLÍNICA INTEGRADA I 2. Os fibratos demonstraram benefício na redução de eventos cardiovasculares em indivíduos com HDL-C abaixo de 40mg/dL, componente frequente da síndrome metabólica. Os fibratos são também indicados para o tratamento da hipertrigliceridemia quando a dieta e a atividade física não forem suficientes para corrigi-la. Os ácidos graxos ômega-3 podem ser usados como terapia coadjuvante da hipertrigliceridemia ou em substituição aos fibratos em caso de intolerância a estes. 3. O ácido nicotínico de liberação intermediária pode aumentar o HDL-C e, segundo alguns estudos contribui para redução de eventos cardiovasculares. 4. O ezetimiba associado às estatinas permite acentuada redução do LDL-C e a sua utilização pode ser considerada para atingir as metas lipídicas preconizadas. A terapêutica combinada de estatinas com fibratos ou com o ácido nicotínico pode ser uma opção atrativa nos indivíduos com síndrome metabólica que apresentem elevação do LDL-colesterol e dos triglicerídeos e redução do HDL-colesterol. TRATAMENTO DA OBESIDADE Caso as medidas não-medicamentosas recomendadas não consigam induzir à perda de pelo menos 1% do peso inicial por mês, após um a três meses, deve-se considerar a introdução de drogas adjuvantes da dieta para os indivíduos com IMC ≥30kg/m2 ou ainda, naqueles com IMC entre 25kg/m2 e 30kg/m2 desde que acompanhado de comorbidades. As drogas mais indicadas são a sibutramina e o orlistat. ESTADO PRÓ-COAGULANTE E PRÓ-INFLAMATÓRIO A síndrome metabólica se associa a elevações do fibrinogênio, do PAI-1 e possivelmente de outros fatores de coagulação, caracterizando um estado pró-trombótico. Para os indivíduos com síndrome metabólica de médio e alto risco (risco de DAC ≥10%) pelo escore de Framingham, deve ser recomendado o uso contínuo de AAS em baixas doses.
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