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A incidência da síncope é bimodal, com um pico no final da adolescência até o início da vida adulta (principalmente a de origem vasovagal) e um segundo pico na terceira idade, com um aumento acentuado após os 70 anos. O aumento do risco de síncope em pacientes idosos pode ser justificado pelas anormalidades relacionadas à idade e às doenças que prejudicam a capacidade de responder a estresses fisiológicos que normalmente não causariam síncope. Um dos principais fatores de risco para ter um episódio de síncope, é já ter tido um episódio anteriormente. A incidência é ligeiramente maior em mulheres do que em homens. Em indivíduos jovens, costuma haver história familiar em parentes de primeiro grau. Síncope O que é síncope e desmaio? A síncope é uma perda transitória e autolimitada da consciência decorrente de comprometimento global agudo do fluxo sanguíneo cerebral. O início é rápido, a duração, curta, e a recuperação, espontânea e completa. Um pródromo de síncope (pré-síncope) é comum, embora possa ocorrer perda da consciência sem qualquer sintoma de alerta. Os sintomas de pré-síncope típicos incluem tontura, vertigem, fraqueza, fadiga e distúrbios visuais e auditivos. As causas de síncope podem ser divididas em três categorias gerais: (1) síncope neuromediada (também conhecida como síncope reflexa ou vasovagal), (2) hipotensão ortostática e (3) síncope cardíaca. Popularmente, a síncope é chamada de desmaio. Epidemiologia: Fisiopatologia: Em relação as causas de síncope, a reflexa ou neuromediada é a mais frequente em todas as faixas etárias, tendo destaque a vasovagal. Ocorre vasodilatação episódica (ou perda do tônus vasoconstritor) e bradicardia em combinações variáveis, resultando em falha temporária do controle da pressão arterial. Em contrapartida, nos pacientes com hipotensão ortostática decorrente de insuficiência autonômica, esses reflexos cardiovasculares homeostáticos estão comprometidos de maneira crônica, mais comum em idosos. As causas cardíacas representam cerca de 1% dos casos de síncope em pacientes jovens, enquanto que no grupo >75 anos chegam a 16%. A síncope cardíaca pode ser decorrente de arritmias ou cardiopatias estruturais que causam diminuição do débito cardíaco. Deborah Batista - M35 AES10 - Sinais e Sintomas Apesar desse limiar de 10 segundos, já foi demonstrado que interrupções curtas de fluxo cerebral, como 6-8 segundos, também podem estar associadas a perda transitória de consciência com perda do tônus postural e síncope. Do ponto de vista clínico, uma queda na pressão sistólica sistêmica para aproximadamente 50 mmHg ou menos resulta em síncope. Uma redução do débito cardíaco e/ou da resistência vascular sistêmica – os determinantes da pressão arterial –, portanto, é a base da fisiopatologia da síncope. As causas comuns de comprometimento do débito cardíaco incluem diminuição do volume sanguíneo circulante efetivo, aumento da pressão torácica, embolia pulmonar maciça, bradiarritmias e taquiarritmias, cardiopatia valvar e disfunção miocárdica. A resistência vascular sistêmica pode estar diminuída por doenças do sistema nervoso autônomo periférico e central, medicações simpatolíticas e transitoriamente durante uma síncope neuromediada. O aumento da resistência vascular cerebral, mais frequentemente devido à hipocarbia induzida pela hiperventilação, também pode contribuir para a fisiopatologia da síncope. Todas as etiologias de síncope têm um mesmo caminho final: a disfunção transitória de ambos os hemisférios cerebrais ou de tronco cerebral por hipoperfusão. A diminuição de fluxo pode ser regional (por ex. vasoconstrição) ou sistêmica (por uma hipotensão). Para ocorrer a síncope são geralmente necessários cerca de 10 segundos de interrupção completa do fluxo sanguíneo ou de entrega de nutrientes tanto para o córtex cerebral quanto para o sistema de ativação reticular do tronco encefálico ou uma redução da perfusão cerebral em 35% a 50%. Síncope neuromediada: A síncope neuromediada (reflexa; vasovagal) é a via final de um arco reflexo complexo dos sistemas nervosos central e periférico. Há uma alteração súbita e transitória na atividade autonômica eferente com aumento do fluxo de saída parassimpático mais inibição do simpático (resposta vasodepressora), resultando em bradicardia, vasodilatação e/ou redução do tônus vasoconstritor. Múltiplos gatilhos da alça aferente do arco reflexo podem resultar em síncope neuromediada. Em algumas situações, estes podem ser claramente definidos, por exemplo, seio carotídeo, trato gastrintestinal ou bexiga. Porém, é comum que o gatilho não seja reconhecido e a causa seja multifatorial. A síncope vasovagal (um exemplo de síncope reflexa) pode ser desencadeada por dor, emoções, estresse, ambientes muito quente, muito tempo em pé... diante dessas situações o paciente desenvolve uma resposta exacerbada do sistema nervoso autonômico, com estimulação vagal e inibição simpática resultando em bradicardia e hipotensão com consequente hipoperfusão cerebral e perda da consciência. Alguns estudos sugerem que exista uma predisposição genética nesses pacientes já que na maioria dos casos existe uma história de parentes de primeiro grau com a mesma patologia. Deborah Batista - M35 AES10 - Sinais e Sintomas Aspectos da síncope neuromediada: Além dos sintomas de intolerância ortostática, como tontura, vertigem e fadiga, pode haver aspectos premonitórios de ativação autonômica em pacientes com síncope neuromediada. Tais fatores incluem diaforese, palidez, palpitações, náusea, hiperventilação e bocejos. Durante o evento da síncope, pode ocorrer mioclonia proximal e distal (geralmente arrítmica e multifocal), levantando a possibilidade de epilepsia. Os olhos costumam permanecer abertos e, em geral, desviam-se para cima. As pupilas costumam estar dilatadas. Podem ocorrer movimentos oculares errantes. Pode haver grunhidos, gemidos, roncos e estertores respiratórios. Pode haver incontinência urinária. Avaliação e diagnóstico: A maioria dos pacientes chegam na emrgência assintomático, pois a síncope é um evento rápido e transitório. Na abordagem inicial é necessário procurar se existem critérios de instabilidade e se a sincope é recorrente. Nesses pacientes a avalição deve ser rápida com estabilização do paciente e procura por diagnósticos críticos. A maioria das causas e dos episódios de síncope é associada a patologias benignas. O objetivo da avaliação na emergência é identificar aqueles pacientes em risco de morbidade imediata e futura ou morte súbita. Por isso alguns possíveis diagnósticos críticos não podem escapar durante a avaliação do paciente: Deborah Batista - M35 AES10 - Sinais e Sintomas Depois de estabilizar o paciente (se preciso for) e afastar as causas de maior morbimortalidade é importante fazer uma anamnese detalhada e abrangente junto a um exame físico e SEMPRE solicitar uma ECG, pois mesmo que o ECG leve a um diagnóstico em apenas alguns pacientes, é um teste simples e não invasivo e é importante para a estratificação de risco. Pacote básico na síncope para TODOS os pacientes: HISTÓRIA DETALHADA + EXAME FÍSICO + ECG; A entrevista clínica e o interrogatório de testemunhas oculares em geral permite diferenciar a síncope de quedas devido a disfunção vestibular, doença cerebelar, disfunção do sistema extrapiramidal e outros distúrbios da marcha. O diagnóstico de síncope pode ser particularmente difícil em pacientes com demência que experimentam quedas repetidas e não conseguem fornecer uma história precisa dos episódios. Se a queda for acompanhada por traumatismo craniano, uma síndrome pós-concussão, amnésia quanto aos eventos precipitantes e/ou perda da consciência também podem contribuir para a dificuldade diagnóstica. A perda aparente da consciência pode ser uma das manifestações de doença psiquiátrica, como ansiedade generalizada, transtornos do pânico, depressão maior e transtorno de somatização. Tais possibilidades devem ser consideradas em indivíduos que desmaiam com frequência sem apresentar sintomas prodrômicos.É raro esses pacientes sofrerem alguma lesão, apesar das inúmeras quedas. Não há alterações hemodinâmicas significativas concomitantes com esses episódios. Em contrapartida, a perda transitória de consciência devido à síncope vasovagal precipitada por medo, estresse, ansiedade e sofrimento emocional é acompanhada por hipotensão, bradicardia ou ambas. Exames: A monitoração com Holter ambulatorial é recomendada para pacientes que apresentam episódios frequentes de síncope (1 ou mais por semana), enquanto o monitor de eventos (loop event recorder), que continuamente registra e apaga o ritmo cardíaco, é indicado para pacientes com suspeita de arritmias com baixo risco de morte súbita cardíaca. Deve- se fazer uma ecocardiografia em pacientes com antecedentes de cardiopatia ou caso sejam encontradas anormalidades ao exame físico ou no ECG. O teste de esforço com monitoração de ECG e pressão arterial deve ser realizado em pacientes que experimentam síncope durante ou logo após esforços. O teste de esforço na esteira pode ajudar a identificar arritmias induzidas por exercícios (p. ex., bloqueio AV relacionado à taquicardia) e vasodilatação exagerada induzida por exercícios. O rastreamento de transtornos psiquiátricos pode ser apropriado em pacientes com episódios recorrentes inexplicados de síncope. O teste da mesa inclinada, com demonstração de sintomas na ausência de alteração hemodinâmica, pode ser útil para reproduzir a síncope nos pacientes em que se suspeita de síncope psicogênica. Deborah Batista - M35 AES10 - Sinais e Sintomas Tratamento: Tranquilizar, evitar estímulos provocativos e expandir o volume plasmático com líquido e sal são os princípios fundamentais do tratamento da síncope neuromediada. Manobras isométricas de contrapressão dos membros superiores (cruzar as pernas ou dar aperto de mão e tensionar o braço) podem elevar a pressão arterial pelo aumento do volume sanguíneo central e do débito cardíaco. Ao manter a pressão na zona de autorregulação, essas manobras evitam ou retardam o início da síncope. Ensaios clínicos controlados randomizados corroboram essa intervenção. Fludrocortisona, agentes vasoconstritores e antagonistas β-adrenorreceptores são usados em ampla escala por especialistas para tratar pacientes refratários, embora não haja evidência consistente de ensaios clínicos controlados randomizados sobre qualquer farmacoterapia para tratar a síncope neuromediada. Como a vasodilatação é o mecanismo fisiopatológico dominante na síncope na maioria dos pacientes, o uso de marca-passo cardíaco raramente é benéfico. Exceções possíveis são pacientes mais velhos (> 40 anos) em que a síncope está associada a assistolia ou bradicardia grave e aqueles com cardioinibição proeminente devido à síndrome do seio carotídeo. Deborah Batista - M35 AES10 - Sinais e Sintomas
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