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1 Nathália Brendler | Med. Vet. | Farmacologia Farmacocinética Estuda o caminho percorrido pelos medicamentos no interior de organismo animal até sua eliminação. Seus componentes são (ADBE): a) Absorção b) Distribuição c) Biotransformação d) Eliminação. A concentração da droga muda nos diferentes locais do organismo. O fármaco deve chegar na circulação em sua forma livre e ser biotransformado pelo fígado (como a maioria são lipofílicos, deve ser transformado em hidrofílico para ser excretado na urina). Vias de administração Via tópica Medicamentos aplicados diretamente sobre a pele. Dependendo da formulação, podem ter efeito local ou sistêmico, quando chega até a derme (região vascularizada). Ex.: pomades e cremes; shampoo; acaricidas pour on; intramamária; oftálmica, otológica. Via enteral Quando o medicamento entra em contato com qualquer um dos segmentos do TGI, que se estende da boca até o reto. a) Via digestiva Para que os medicamentos sejam absorvidos, é necessário que estes sejam liberados de sua forma farmacêutica e tenham a capacidade de atravessar a barreira celulares do TGI. O principal local de absorção é o intestino delgado por apresentar uma grande área de absorção e rica vascularização. Ex.: Antibióticos como os aminoglicosídeos são mal absorvidos pelo TGI, portanto, são os mais recomendados para tratar microrganismos presentes no local (o seu efeito é prolongado pela má absorção). b) Via retal É utilizada de forma mais restrita por ter absorção irregular e incompleta e causar irritação da mucosa retal. Ex.: Diazepam em gatos que apresentam episódio epilético. Via parenteral Consiste na administração de medicamentos com agulha e seringa. a) Via intravenosa ou endovenosa (IV/EV) Tem efeito rápido, podem ser administrados grandes volumes e substâncias irritantes diluídas em solução fisiológica, além de que há melhor controle da dose administrada. As desvantagens são os riscos de embolias, infecções por contaminação e ser imprópria para administração de substâncias oleosas. Locais de aplicação: Grande porte jugular; Suíno marginal da orelha; Cães e gatos radial e femoral. b) Via intramuscular (IM) Seu efeito é relativamente rápido e é adequada para administração de substâncias aquosas e oleosas. As desvantagens são a dor e irritação da pele (pode promover um processo inflamatório). Locais de aplicação: Trapézio (lateral do pescoço) e bíceps femoral (posterior da coxa). c) Via subcutânea (SC) A absorção é lenta e contínua. Muito utilizada em cães e gatos. As desvantagens são a dor e, ocasionalmente, sensibilização no local. d) Via intradermal (ID) Identificação de reações alérgicas a fármacos e diagnóstico (p. ex., tuberculina). A Prova Cutânea da Tuberculina (PPD) é uma maneira de averiguar se tem uma infeção provocada pelo bacilo da tuberculose. e) Via intraperitoneal Utilizada em animais de laboratório ou quando é necessário utilizar grandes volumes de solução, já que o peritônio tem uma grande superfície de absorção. Ex.: antineoplásicos. 2 Nathália Brendler | Med. Vet. | Farmacologia f) Intracardíaca Utilizada para eutanásia. g) Epidural ou peridural Utilizada para anestesiar animais submetidos à cirurgia abdominal ou ortopédica. Via inalatória Utilizada quando os agentes terapêuticos são gases (voláteis). Chegam aos alvéolos e se distribuem pela corrente sanguínea. Atingem primeiramente o cérebro e então as demais partes do corpo rapidamente. A velocidade depende da ventilação pulmonar, perfusão dos alvéolos e débito cardíaco. São eliminados a priori pelo sistema respiratório, mas também podem sofrer uma pequena biotransformação hepática que varia de acordo com cada agente. Ex: Anestesia inalatória com isoflurano. Vias de administração mais utilizadas Grande porte IV, IM, nasoesofágica, nasogástrica Pequeno porte Oral, SC, IV, IM, ID, tópica, oftálmica, otológica. Absorção Processo pelo qual a substância penetra na corrente sanguínea sem lesão traumática. Pode ser sistêmica ou local. Ex.: Frontline spray é utilizado e cães e gatos para controle de pulgas e carrapatos e tem ação exclusivamente local ao ser absorvido nas glândulas sebáceas e liberado diariamente confrome a gordura da pele. Ex. 2: advocate para controle de pulgas, carrapatos e vermes em cães têm ação sistêmica uma vez que é absorvido pelas células da pele até alcança a corrente sanguínea, quando é distribuído por todo corpo do animal. Fatores que afetam a velocidade de absorção: a) Via de administração: depende de quantas barreiras tissulares tem que atravessar e da irrigação sanguínea da área de aplicação, além das particularidades de cada via. b) Peso molecular: as moléculas menores tendem a penetrar pelas membranas mais rapidamente do que as maiores. c) pKa da substância e pH do fluido O pKa é o valor que representa a capacidade de dissociação do fármaco e este deve ser semelhante ao pH do fluido. Nesse caso, há predomínio da forma não ionizada (ou molecular), que se difunde com mais facilidade pelas membranas biológicas. Ex.: a aspirina, que é um ácido fraco, ao penetrar em um meio de pH ácido, como o suco gástrico, tem sua reação deslocada no sentido de predominar a forma não ionizada, o que facilita sua absorção. Os tipos de transporte através das membranas são: Difusão passiva (sem gasto de energia) Difusão facilitada (com ou sem gasto de energia) Transporte vesicular (com gasto de energia) o Pinocitose e fagocitose Barreiras tissulares Para que seja absorvido, deve atravessar diversas barreiras tissulares corporais, como: a) Barreiras epiteliais da pele, córnea e bexiga As células epiteliais são muito aderidas entre si, impedindo a passagem das substâncias químicas pelos espaços intercelulares. Portanto, a única forma de penetração é por difusão. b) Epitélio gastrointestinal Também são muito unidas, logo as substâncias devem se difundir através das membranas plasmáticas. c) Barreira hematoencefálica A barreira hematoencefálica é uma estrutura formada por células endoteliais alinhadas com capilares e diversas proteínas, cujo 3 Nathália Brendler | Med. Vet. | Farmacologia objetivo é proteger o SNC de substâncias neurotóxicas. A maioria dos medicamentos não ultrapassa essa barreira extremamente seletiva, o que configura um dos principais desafios na terapêutica do SNC. d) Barreira hematotesticular As células de Sertoli funcionam como uma barreira de proteção no testículo dos animais para impedir que agentes nocivos que circulam na corrente sanguínea atinjam as células germinativas. As substâncias penetram nessas estruturas apenas por difusão facilitada e transporte ativo. e) Barreira placentária Placenta é o conjunto de tecidos entre a circulação materna e fetal. Esta barreira permite um contato íntimo entre o feto e a mãe bem como a troca de nutrientes. Substâncias químicas de baixo peso molecular e lipossolúveis atravessam essas camadas por difusão simples e facilitada e transporte ativo, inclusive pinocitose. Caso seja necessário utilizar algum fármaco durante a prenhez, é fundamental o conhecimento dos efeitos sobre o feto e ponderar sempre o risco-benefício ao feto e a mãe. Distribuição Distribuição é o processo pelo qual os medicamentos são transportados através do sangue para seu local de ação. Os medicamentos ficam na circulação sob duas formas: 1) Forma livre – farmacologicamente ativa, pois é capaz de atravessar membranas, se distribuir pelo organismo e atingir os receptores onde vai exercer sua função. 2) Ligados às proteínas plasmáticas – as principais são: Albumina: maior afinidade por medicamentos ácidos. Glicoproteína: medicamentosbásicos. Quanto maior a afinidade do fármaco pelas proteínas, mais tempo permanecerá em circulação. Isso é importante ao calcular o intervalo de administração medicamentosa. A administração de uma segunda dose desse tipo de fármaco pode acarretar um aumento inesperado do efeito, uma vez que praticamente toda a nova dose permanecerá na forma livre, visto que as proteínas plasmáticas estão saturadas pelas moléculas da primeira dose. A distribuição depende de: a) Características físico-químicas do fármaco; b) Débito cardíaco; c) Características do indivíduo (peso corporal e idade); d) Ligação às proteínas plasmáticas; Quanto maior a afinidade de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas, menor será seu acesso a outros compartimentos do organismo. e) Características das barreiras tissulares; f) pH do meio; g) Fluxo sanguíneo. Órgãos com maior fluxo sanguíneo (coração, fígado e rins) recebem maiores proporções da substância, enquanto a chegada das moléculas em órgãos com pior perfusão (músculos e pele) é mais lenta. Biotransformação Transformação química de um medicamento dentro do organismo vivo visando favorecer sua eliminação. O fígado constitui-se no principal local de ocorrência desse processo farmacocinético, o qual consiste em duas fases: a) Fase I: conversão do medicamente original em metabólitos mais polares (hidrossolúveis) através da oxidação, redução ou hidrólise. b) Fase II (ou reações de conjugação): acoplamento dos metabólitos a moléculas endógenas de alta polaridade a fim de aumentar o peso molecular das substâncias para serem mais facilmente eliminadas. 4 Nathália Brendler | Med. Vet. | Farmacologia O resultado dessas reações frequentemente é a inativação do fármaco, mas também pode ser a sua ativação, como no caso da prednisona que é metabolizada em prednisolona (forma ativa) no fígado. O fígado é o principal e algumas vezes o único sítio de metabolização de fármacos, todavia também pode ocorrer biotransformação em outros locais como nos rins, pele, pulmões, sangue e trato gastrointestinal. É importante considerar com cuidados quais medicamentos usar para tratar animais hepatopatas para não comprometer o fígado por conta destas fases. Excreção Excreção é a eliminação do fármaco do organismo através da urina, bile ou respiração. Pode ser eliminado em sua forma inalterada caso o efeito desejado seja nos rins, p. ex., antimicrobianos utilizados para problemas renais. Os órgãos excretores são: a) Rins – os medicamentos hidrossolúveis (polares) e de pequeno peso molecular são filtrados pelo glomérulo e eliminados pela urina. A excreção renal é a principal via, já que a biotransformação torna a maioria dos medicamentos mais hidrossolúveis. b) Fígado – os metabólitos são excretados pela bile, desembocando no intestino e saindo pelas fezes. A excreção biliar é ideal para medicamentos lipossolúveis (apolares) e de elevado peso molecular. Em função do ciclo entero-hepático, o medicamento pode ser reabsorvido várias vezes, o que afeta a meia-vida. Isso acontece quando os fármacos são hidrolisados pela microbiota intestinal após sua excreção biliar, tornando-os mais hidrossolúveis e facilitando sua reabsorção para a corrente sanguínea. c) Pulmões – excreção de medicamentos voláteis, como anestésicos inalatórios. Farmacodinâmica É o estudo do mecanismo de ação dos medicamentos no organismo do animal. Ou seja, os mecanismos pelos quais um medicamento atua sobre as funções bioquímicas ou fisiológicas. Estuda a relação dose-resposta, como a droga exerce seu efeito, qual a sua ação sobre a célula e qual a sua potência. Gráfico da concentração do fármaco x tempo a) Tempo de meia-vida (t ½): tempo decorrido para que a concentração plasmática de um fármaco no organismo se reduzida à metade. b) Janela terapêutica: limites de concentração de um fármaco no organismo em que este exerce o efeito desejado. Quando abaixo do limite, não oferece a resposta pretendida; quando acima, aumenta a probabilidade de efeitos adversos. A segurança na utilização da substância é proporcional ao tamanho desse intervalo. É o tamanho da janela terapêutica e a velocidade de eliminação que irão determinar a dose de manutenção e a frequência de administração dos medicamentos. c) Relação dose-efeito: a intensidade do efeito produzido é diretamente proporcional à sua concentração no local de ação, num tempo determinado. Logo, sua farmacodinâmica pode ser quantificada pela relação entre a dose (concentração) do fármaco e a resposta do organismo ao mesmo. d) Biodisponibilidade: fração do fármaco administrado e não metabolizado que atinge a circulação sistêmica e está disponível para se ligar a um receptor no organismo.
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