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1 @poli.canuto III Período - FASAI Kdevem ser medidos Objetivos: 1) Estudar a etiologia, fisiopatologia da miocardiopatia dilatada 2) Compreender as manifestações clínicas e diagnóstico da IC esquerda e direita 3) Conhecer a principais doenças negligenciadas Miocardiopatia Um grupo heterogêneo de doenças do miocárdio associadas à disfunção mecânica e/ou elétrica, que normalmente (mas não invariavelmente) exibe hipertrofia ou dilatação ventricular inadequada, cujas causas são diversas e, em muitos casos, genéticas. (PORTH) As miocardiopatias são limitadas ao coração ou fazem parte de distúrbios sistêmicos generalizados que, com frequência, levam à morte cardiovascular ou à incapacitação relacionada à insuficiência cardíaca progressiva (PORTH) Incluem doenças que acometem tanto primariamente o músculo cardíaco, quanto doenças sistêmicas que levam a efeitos adversos no tamanho, forma e função do coração, sendo frequentemente de origem genética (SOCESP) A forma mais comum de apresentação desta entidade é a dilatada, podendo chegar a 90% dos casos. (SOCESP) Assim, para caracterizar uma doença cardíaca como cardiomiopatia é necessário que a disfunção cardíaca não esteja associada com isquemia miocárdica (coronariopatia) ou com fatores que acarretam sobrecarga pressórica ou volumétrica, como valvopatias, hipertensão arterial sistêmica ou cardiopatias congênitas. (BOGLIOGO) Em virtude do progressivo desenvolvimento científico, particularmente na área da biologia molecular e no esclarecimento das bases genéticas das cardiomiopatias, novas classificações têm sido propostas, baseadas não apenas na morfologia clássica e nos aspectos clínicos, mas também no componente genômico ou molecular associado à doença. Há iniciativas de novas classificações por parte da American Heart Association (AHA), da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) e da World Heart Federation (WHF), que incorporam as alterações genéticas ou o caráter familial da cardiomiopatia. (BOGLIOGO) Classificação Segundo a definição da AHA, as cardiomiopatias apresentam geralmente falência do desempenho cardíaco, o qual pode ser de origem mecânica ou primariamente elétrica, justificando a adoção das canaliculopatias (p.ex., síndrome de Brugada e do QT longo) nessa classificação. Por outro lado, as disfunções miocárdicas secundárias a doenças como hipertensão arterial, valvopatias ou doenças coronarianas não estão contempladas como cardiomiopatias, nessa classificação. (PORTH) Com base nessa definição, a classificação das miocardiopatias é dividida em dois grupos principais: primárias e secundárias. (PORTH) As miocardiopatias primárias representam os distúrbios cardíacos limitados ao miocárdio. Sendo subdivididas em genética, mista e adquiridas. As miocardiopatias secundárias representam as alterações miocárdicas que ocorrem com uma diversidade de distúrbios sistêmicos (de diversos órgãos). As miocardiopatias normalmente estão associadas a distúrbios relacionados ao componente mecânico (p. ex., insuficiência cardíaca) ou elétrico (p. ex., arritmias de risco à vida). (PORTH) Em 2008, a European Society of Cardiology (ESC) trouxe uma nova proposta de classificação das cardiomiopatias. A classificação europeia define as cardiomiopatias como desordem do músculo cardíaco, que se encontra estruturalmente e funcionalmente anormal, na ausência de causas específicas. (SOCESP) Já em 2013, a World Heart Foundation (WHF)3 publicou a classificação MOGE(S), inspirada no estadiamento dos tumores (estágio TNM) (SOCESP) M: anormalidades estruturais e funcionais; O: extensão do comprometimento do órgão envolvido G: se é de causa genética ou não E: natureza do defeito genético molecular ou se a etiologia é conhecida S: grau do estágio da insuficiência cardíaca ou grau de intolerância aos esforços; A definição de cardiomiopatia nesta classificação é descrita como desordem morfológica ou funcional do miocárdio anormal na ausência de qualquer outra doença que possa levar ao fenótipo observado. (SOCESP) Os fenótipos convencionais dos subtipos de cardiomiopatia (ex.: dilatado, hipertrófica, restritivo) são a base da classificação, além de descrever se a doença é sistêmica ou a coração é parte da doença sistêmica. (SOCESP) https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786555765182/epub/OEBPS/xhtml/part11chapter01.xhtml?favre=brett#s11ch1ref3 2 @poli.canuto III Período - FASAI A combinação M e O pode sugerir pistas diagnósticas. Por outro lado, incluindo a investigação para a história da família e do padrão de herança (G), adiciona valiosas informações para a caracterização completa da cardiomiopatia (SOCESP) Cardiomiopatia dilatada A cardiomiopatia dilatada (CMD) é definida como dilatação do ventrículo esquerdo associado com disfunção sistólica, não é causada por doença arterial coronariana, hipertensão ou doença valvar (SOCESP) Podem ocorrer dilatação e disfunção associada do ventrículo direito, mas não é necessário o envolvimento do ventrículo direito para o diagnóstico, geralmente realizado pelo ecocardiograma bidimensional. (SOCESP) Além de comprometer a contração ventricular esquerda, ou de ambos os ventrículos, é muito comum ser acompanhada de outras desordens como arritmias, tromboembolismo e, principalmente, a progressão quase que inexorável para insuficiência cardíaca importante. Muitas vezes a morte súbita pode se fazer presente na evolução clínica desses pacientes. (SOCESP) A MCD é caracterizada por aumento ventricular, redução da espessura da parede ventricular e comprometimento da função sistólica de um ou de ambos os ventrículos (PORTH) Histologicamente, a MCD é caracterizada por fibras miocárdicas atróficas e hipertróficas, além de fibrose intersticial. (PORTH) Os miócitos cardíacos, em particular no subendocárdio, frequentemente apresentam alterações degenerativas avançadas. (PORTH) Também há fibrose intersticial, de modo mais predominante na zona subendocárdica, e possível presença de células inflamatórias dispersas. (PORTH) Há fortes indícios de que a doença seja o resultado final e comum de uma grande variedade de agressões ao miocárdio ocorridas ao longo da vida. (BOGLIOGO) Etiologia A CMD pode apresentar diversas etiologias, contudo não são considerados consequência de doença hipertensiva, isquêmica, valvar, pericárdica ou congênita. Por tal motivo, devemos utilizar recursos para que essas entidades citadas anteriormente sejam excluídas para podermos estabelecer o diagnóstico de CMD. (SOCESP) Suas principais causas são doenças virais, afecções autoimunes, toxicidade pelo álcool ou outras drogas, distúrbios associados à gravidez e anormalidades genéticas, conforme comentado anteriormente. (BOGLIOGO) Na maioria dos pacientes, no entanto, esta cardiomiopatia não se associa a nenhuma causa conhecida, recebendo, por isso, a denomiação cardiomiopatia dilatada idiopática. (BOGLIGO) Estudos em adultos demonstraram que a principal causa de CMD é idiopática (47%), seguida de miocardite (12%), doença coronariana (11%) e outras causas (30%)l (HOROWITZ,2004) A forma familiar da CMD ocorre em 20-30% dos casos, sugerindo que a CMD tenha características genéticas. O conhecimento da hereditariedade das CMD poderá contribuir para melhor compreensão das cardiomiopatias consideradas idiopáticas(HOROWITZ,2004) A maior parte dos casos familiares parece ser transmitida como um traço autossômico dominante, mas foram identificados padrões autossômicos recessivos, ligados ao cromossomo X recessivos e de herança mitocondrial. (PORTH) Epidemiologia A prevalência nos Estados Unidos está em 1:2500 habitantes, sendo responsável por 50.000 internações e 10.000 mortes por ano nos Estados Unidos (SOCESP) A cardiomiopatia dilatada é uma das principais responsáveis por insuficiênciacardíaca congestiva e transplantes cardíacos em todo o mundo, inclusive no Brasil (BOGLIGO) Em adultos a incidência é de 7 para 100.000 por ano. (SOCESP) 3 @poli.canuto III Período - FASAI É mais frequente entre homens do que em mulheres (2,5: 1) e entre os negros do que em brancos (SOCESP) Em crianças a incidência é de 1,13 casos por 100.000 por ano, sendo maior em meninos do que em meninas (0,66 vs. 0,47 casos por 100.000; p < 0,006). (SOCESP) Em bebês menores de 1 ano do que em crianças maiores (4,40 vs. 0,34 casos por 100.000; p < 0,001) (SOCESP) Nas últimas décadas o papel da genética ganhou importância muito elevada com a identificação de uma frequência de casos familiares maior do que o que se antecipava previamente (30 a 50% dos casos). Um grande número de genes identificados (mais de 40) e uma clara evidência de que, mesmo os chamados “casos esporádicos”, podem abrigar um defeito genético. (SOCESP_ Denomina-se forma esporádica os casos em que não se conseguiu estabelecer um determinante genético e de forma familiar os casos em que o fenótipo é expresso em mais de um membro da família. (SOCESP) Fisiopatologia Alterações da matriz Alterações da matriz extracelular que levam ao deslizamento das fibras cardíacas entre si, cuja patogênese pode estar associada ao aumento local de metaloproteases, parecem ocorrer nesse grupo de doenças, contribuindo para a dilatação ventricular (BOGLIOGO) Forma esporádica Sabemos que são múltiplos os fatores envolvidos na fisiopatologia da CMD idiopática, como fatores genéticos, infecciosos ou autoimunes, que podem agir em sinergismo, gerando o fenótipo da doença. Como exemplo, foi visto em uma metanálise que 10 a 20% dos casos de CMD são causados por sequela de infecção viral, em especial por vírus do grupo Coxsackie B. (SOCESP) A autoimunidade baseia-se na presença de anticorpos específicos para componentes do miocárdio, assim sendo, as alterações imunológicas poderiam ser resultantes de infecção viral prévia. (SOCESP) Uma possível explicação patogenética parece ser que os vírus com potencial danoso ao miocárdio, chamados cardiotrópicos, induzem anormalidades na resposta imunitária, que resulta na formação de autoanticorpos e/ou em citotoxicidade direta contra cardiomiócitos. (BOGLIOGO) Forma familiar A grande maioria dos casos são autossômica dominante e uma minoria recessivo ligado ao X, autossômico recessivo e mitocondrial (SOCESP) Também sabemos hoje que a penetrância é dependente da idade a expressão clínica variável. Nos estudos iniciais acreditava-se que a disfunção genética da cardiomiopatia dilatada idiopática se localizava nas proteínas do citoesqueleto. Com o avanço da tecnologia genética, viu-se que existem mutações em praticamente todas as estruturas e vias de condução do cardiomiócito, podendo conduzir a dilatação ventricular e má contração do músculo cardíaco. (SOCESP) As causas genéticas foram inicialmente consideradas associadas a mutações em genes que codificam proteínas localizadas apenas no citoesqueleto e no sarcômero; no entanto, com o avanço na compreensão mecanística, os papéis dos canais iônicos, disco Z, mitocôndria, proteínas nucleares, fatores de transcrição cardíaca e os fatores envolvidos na homeostase do cálcio também foram identificados e considerados implicados em casos familiares e esporádicos de CMD. (SOCESP) Foram identificadas mutações em mais de 40 genes diferentes implicadas na patogênese da CF. Em sua maioria, os genes envolvidos fazem parte de codificações do sarcomêro, citoesqueleto, cápsula nuclear e sarcolema (SOCESP) Genes Ação Mutações em gene do sarcômero: incluem TTN (titina), MYH7 (miosina de cadeia pesada); TNNT2 (troponina T) e TPM1 (alfa – tropomiosina). A titina (gigante TTN) é altamente expressa no coração onde funciona como uma mola gigante, que proporciona uma força passiva e regula a contração do sarcômero. Mutações em gene LMNA: mutações no gene da lamina A/C, que codificam uma proteína da cápsula nuclear, têm sido demonstradas e podem causar diferentes fenótipos associados a cardiomiopatia dilatada. - O fenótipo resultante de uma mutação LMNA pode variar de uma cardiomiopatia isolada a uma distrofia muscular e frequentemente essas características clínicas podem produzir fenótipos de sobreposição. - Pacientes com mutações LMNA também apresentam instabilidade elétrica, com arritmias supraventriculares e bloqueios atrioventriculares 4 @poli.canuto III Período - FASAI frequentemente presentes antes da disfunção sistólica Mutações em gene SCN5A: gene do canal de sódio; também apresentam relação com a presença de cardiomiopatia familiar Tendência para um traço arritmogênico, incluindo defeitos de condução; fibrilação atrial e taquicárdica ventricular Mutações em gene desmossomal: são uma das causas conhecidas de cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (CAVD), mas também podem ter um papel na CF. Alguns pacientes com CAVD podem apresentar doença predominantemente no ventrículo esquerdo, muitas vezes causada por mutações no gene desmossomal (DSP) desmoplakin Mutações no cromossomo X: podem-se identificar duas patologias bem distintas: - A CF ligada ao X (mutação do gene distrofina, que também ocorre nas distrofias musculares de Becker e de Duchenne), que refletem a doença esquelética associada. - A síndrome de Barth, que é uma doença rara, recessiva, que afeta somente meninos. Se expressa por miopatia esquelética e CMD. A evolução para ICC e morte súbita é o esperado. OBS: Mutações menos frequentes: são comuns CF com doenças do esqueleto, incluindo as causadas por mutações DMD (distrofina), DES (desmina), EMD (emerina) e ZNF9. Mutações nestes genes podem causar também cardiomiopatia sem miopatia esquelética aparente (SOCESP) Agentes cardiotóxicos e álcool ou cobalto Inúmeros agentes cardiotóxicos (p. ex., cloroquina, antraciclinas, ciclofosfamida) e ingestão de álcool ou cobalto em grandes quantidades causam descompensação cardíaca por lesão direta dos cardiomiócitos. (SOCESP) Quando a associação entre o consumo excessivo de álcool e a cardiopatia é bem evidente e comprovada pela melhora do quadro clínico após abandono do consumo etílico, a entidade é denominada cardiomiopatia alcoólica. (BOGLIGO) Todavia, nem sempre essa associação fica bem caracterizada, devendo-se ressaltar que os aspectos morfológicos da cardiomiopatia alcoólica, tanto macro quanto microscópicos, são indistinguíveis da cardiomiopatia dilatada idiopática. (BOGLIGO) Por outro lado, o etanol parece agravar lesões miocárdicas provocadas por outros fatores, como deficiências nutricionais (particularmente tiamina), que também levam à cardiomiopatia dilatada. (BOGLIOGO) Fibroelastose do endocárdio Caracteriza-se por espessamento difuso do endocárdio, preferencialmente do ventrículo esquerdo, podendo comprometer também o ventrículo direito. (BOGLIOGO) A lesão aparece sobretudo em lactentes e crianças jovens e acompanha-se de dilatação ventricular. (BOGLIOGO) Provavelmente, representa reação inespecífica do endocárdio à pressão aumentada no interior das câmaras cardíacas, daí porque a tendência atual é não considerá-la como doença primária. A lesão seria apenas uma característica morfológica da cardiomiopatia dilatada, associada aos fatores citados acima, e não uma doença própria. (BOGLIOGO) Em casos raros, as cavidades ventriculares são pequenas e a doença tem caráter restritivo, pois há redução no enchimento diastólico e aumento da pressão e do volume atriais. O aspecto morfológico consiste em espessamento difuso, brancacento e opaco do endocárdio, muitas vezes comparável a porcelana. Ao microscópio, observa-se espessamento endocárdico regular, sem penetração no miocárdio, com grande quantidade de fibras elásticasque se dispõem paralela e ordenadamente, como no endocárdio normal. I(BOGLIOGO) Manifestações clinicas da cardiomiopatia dilatada Pacientes com CMD podem passar por longos períodos assintomáticos, mesmo já na presença de disfunção ventricular. Todavia, deve-se sempre realizar uma história completa, buscando sinais e sintomas de falência ventricular tanto esquerda quanto direita. (SOCESP) Em adolescentes e adultos jovens, sinais e sintomas de congestão venosa pulmonar e/ou baixo débito são mais comuns, geralmente com queixas de cansaço aos esforços de início recente ou por vezes com duração de meses e até anos. (SOCESP) Normalmente, a afecção é identificada com o surgimento de suas manifestações clínicas, incluindo: (PORTH) Dispneia; Ortopneia; Redução da capacidade de praticar exercícios; Tosse noturna; 5 @poli.canuto III Período - FASAI Pelo risco de arritmias ventriculares e de defeitos de condução como bloqueios atrioventriculares avançados, deve-se sempre pesquisar também história de síncope ou pré-síncope, uma vez que não raramente, estas podem ser a manifestação inicial da CMD. (SOCESP) A respiração pode estar normal ou taquipneica, e em alguns casos, é possível encontrar o padrão de Cheyne-Stokes, o que está associado a um pior prognóstico. (SOCESP) A pressão arterial pode estar normal ou baixa, refletindo o baixo volume ventricular esquerdo. (SOCESP) Também por isso, as extremidades podem estar frias e até com cianose, gerando sinais de má perfusão periférica. (SOCESP) Sinais de falência do ventrículo direito como turgência jugular, refluxo hepatojugular, ondas a e v proeminentes no pulso venoso, hepatomegalia e edema de membros inferiores também podem ser comum nos pacientes com essa patologia. (SOCESP) Podemos encontrar o ictus desviado, presença de B2 paradoxal, muitas vezes refletindo um bloqueio de ramo esquerdo. (SOCESP) Além disso em alguns casos é possível também encontrar B4, e nos casos de insuficiência cardíaca descompensada, B3 em ritmo de galope. (SOCESP) Nos estágios terminais, as pessoas com MCD costumam apresentar frações de ejeção inferiores a 25% (a normal é de aproximadamente 50 a 60%). (PORTH) À medida que a doença progride, a estase do sangue junto às paredes das câmaras cardíacas pode levar à formação de trombos e à embolia sistêmica. (PORTH) É comum haver regurgitação de valva mitral secundária e arritmias cardíacas. (PORTH) A morte normalmente decorre de insuficiência cardíaca ou arritmias e pode ser súbita. (PORTH) Insuficiência cardíaca A síndrome da insuficiência cardíaca pode ser produzida por qualquer condição cardíaca que reduza a capacidade de bombeamento do coração (PORTH) IC com fração de ejeção reduzida FEVE < 40% IC com fração de ejeção intermediária FEVE = 40 A 49% IC com fração de ejeção preservada FEVE ≥ 50% OBS.: Recentemente, foi publicada a nova definição e classificação universal de IC, que recomenda o termo IC com fração de ejeção melhorada (ICFEm) para pacientes com FEVE prévia < 40% e tiveram um aumento de 10 pontos percentuais atingindo taxas acima de 40%. Esta classificação universal recomenda que seja utilizado o termo “melhorada” ao invés de “recuperada” (DIRETRIZ, 2021) Disfunção ventricular direita x esquerda A insuficiência cardíaca é classificada de acordo com o lado do coração (ventricular direita ou ventricular esquerda) primariamente afetado. (PORTH) Embora o evento inicial que leva à insuficiência cardíaca possa ser de origem ventricular direita ou esquerda, a insuficiência cardíaca a longo prazo normalmente envolve ambos os lados. (PORTH) Disfunção ventricular direita A insuficiência cardíaca do lado direito compromete a capacidade de transporte do sangue desoxigenado da circulação sistêmica para a circulação pulmonar. Consequentemente, quando o ventrículo direito é insuficiente, ocorre uma redução na quantidade de sangue deslocada adiante, para a circulação pulmonar, e em seguida para o lado esquerdo do coração, finalmente causando redução do débito cardíaco ventricular esquerdo. (PORTH) Além disso, se o ventrículo direito não ocasiona o movimento anterógrado do sangue, ocorre acúmulo ou congestão de sangue no sistema venoso sistêmico. Isso eleva as pressões diastólica final ventricular direita, atrial direita e venosa sistêmica (PORTH). Se há insuficiência ventricular esquerda, os paciente podem apresentar dispneia devido ao edema pulmonar. Em alguns pacientes com IC direita, congestão das veias hepáticas com 6 @poli.canuto III Período - FASAI formação de ascite pode interferir na função normal do diafragma e contribuir para a sensação de dispneia. (GARY) Além disso, o débito cardíaco reduzido do lado direito pode causar acidose, hipóxia e dispneia (GARY) A congestão venosa pode ser manifestada por edema generalizado (anasarca), ascite (acúmulo de líquido no espaço peritoneal) e dema gravitacional (inchaço dos pés e pernas) (GARY) Um importante efeito da insuficiência cardíaca do lado direito é o desenvolvimento de edema periférico. Os efeitos da ação da gravidade fazem com que o edema seja mais pronunciado nas partes inferiores do corpo. (PORTH) Quando a pessoa está em posição ortostática, observa-se edema nos membros inferiores; em decúbito dorsal, o edema é observado na área acima do sacro. (PORTH) O acúmulo do líquido do edema é evidenciado por um ganho de peso (i. e., 560 mℓ de líquido acumulado resultam em um ganho de peso de 0,45 kg). (PORTH) A verificação diária do peso pode ser utilizada como um meio de avaliar o acúmulo de líquido em uma pessoa com insuficiência cardíaca crônica. Como regra, um ganho de peso superior a 0,9 kg em 24 h ou 2,2 kg em 1 semana é considerado um sinal de agravamento da insuficiência. (PORTH) A insuficiência cardíaca do lado direito também produz congestão das vísceras. À medida que a distensão venosa progride, o sangue se acumula nas veias hepáticas que drenam na veia cava inferior, e o fígado fica ingurgitado. Isso pode causar hepatomegalia e dor no quadrante superior direito. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave e prolongada, a função hepática está comprometida e as células hepáticas podem morrer. (PORTH) A congestão da circulação porta também pode levar ao ingurgitamento do baço e ao desenvolvimento de ascite. (PORTH) A congestão do trato gastrintestinal pode interferir na digestão e na absorção de nutrientes, causando anorexia e desconforto abdominal. (PORTH) As veias jugulares, que estão acima do nível do coração, normalmente são invisíveis na posição ortostática ou sentada com a cabeça em um ângulo superior a 30°. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave, as veias jugulares externas se tornam distendidas e podem ser visualizadas quando a pessoa está sentada ou em pé. (PORTH) As causas da disfunção ventricular direta incluem condições que impedem o fluxo sanguíneo nos pulmões ou que comprometem a eficácia do bombeamento do ventrículo direito. (PORTH) A insuficiência ventricular esquerda é a causa mais comum de insuficiência ventricular direita. (PORTH) A hipertensão pulmonar prolongada também causa disfunção e insuficiência ventricular direita. (PORTH) A hipertensão pulmonar ocorre em pessoas com doença pulmonar crônica, pneumonia grave, embolia pulmonar ou estenose aórtica ou mitral. Quando a insuficiência cardíaca do 7 @poli.canuto III Período - FASAI lado direito ocorre em resposta à doença pulmonar crônica, é denominada cor pulmonale. (PORTH) Outras causas comuns incluem estenose ou regurgitação das valvas tricúspide ou pulmonar, infarto ventricular direito e miocardiopatia. (PORTH) A disfunção ventricular direita com insuficiência cardíaca também é causada por defeitos cardíacos congênitos, como tetralogia de Fallot e defeito do septo interventricular.(PORTH) Disfunção ventricular esquerda A insuficiência cardíaca do lado esquerdo compromete o movimento do sangue a partir da circulação pulmonar (de baixa pressão) até o lado arterial (de alta pressão) da circulação sistêmica. (PORTH) Com o comprometimento da função cardíaca esquerda, ocorre uma diminuição no débito cardíaco para a circulação sistêmica. (PORTH) O sangue se acumula no VE, no átrio esquerdo e na circulação pulmonar, o que causa uma elevação na pressão venosa pulmonar. (PORTH) Quando a pressão nos capilares pulmonares (normalmente de cerca de 10 mmHg) excede a pressão osmótica capilar (em geral ao redor de 25 mmHg), ocorre uma transferência do líquido intravascular para o interstício dos pulmões, resultando em edema pulmonar (PORTH) Os pacientes com ICE apresentam-se mais comumento com uma sensação de dispneia, quando deitados (ortopneia) ou à noite (dispneia paroxística noturna). Além disso, o paciente pode se queixar de escarro com rajar de sangue (hemoptise) e, ocasionalmente, dor torárica (GARY) O episódio de edema pulmonar costuma ocorrer à noite, após a permanência da pessoa em posição reclinada durante algum tempo e a remoção das forças gravitacionais do sistema circulatório. Nesse momento, o líquido do edema sequestrado nos membros inferiores ao longo do dia retorna para o compartimento vascular e é redistribuído para a circulação pulmonar. (PORTH) A fadiga e a confusão surge devido à incapacidade do corção de suprir quantidade adequadas de sangue aos músculos esqueléticos (GARY) A nictúria ocorre, pois a insuficiência cardíaca pode levar à perfusão renal reduzida durante o dia enquanto o paciente está de pé, que se normaliza somente á noite enquanto o paciente está em supinação, com diurese consequente (GARY) As causas mais comuns de disfunção ventricular esquerda são a hipertensão e o infarto agudo do miocárdio. (PORTH) A insuficiência cardíaca ventricular esquerda e a congestão pulmonar podem se desenvolver muito rapidamente em pessoas com infarto agudo do miocárdio. Até mesmo quando a área infartada é pequena, pode haver uma área adjacente de tecido isquêmico. Isso pode resultar em grandes áreas de hipocinesia ou acinesia da parede ventricular, e no rápido aparecimento de congestão e edema pulmonar. (PORTH) A estenose ou regurgitação da valva aórtica ou mitral também gera o nível de retorno do lado esquerdo que resulta em congestão pulmonar. Conforme a pressão pulmonar aumenta como resultado da congestão, pode haver progressão para insuficiência cardíaca do lado direito. (PORTH) 8 @poli.canuto III Período - FASAI Diagnóstico de insuficiência cardíaca Avaliação inicial O diagnóstico da insuficiência cardíaca é principalmente baseado em história cínica, exames físico e laboratoriais, auxiliados pelos exames imagem. (SOCESP) É importante para o diagnóstico da IC a presença de sinais e sintomas sugestivos de disfunção cardíaca, porém, alguns como dispneia e edema são de difícil interpretação principalmente em obesos, idosos e pneumopatas. Assim, a suspeita clínica inicial deve ser seguida de exames laboratoriais e de imagem. (SOCESP) História e exame físico Uma história clínica e um exame físico detalhados devem ser feitos em todos os pacientes em busca dos principais sinais e sintomas de IC (DIRETRIZES) No entanto, em pacientes crônicos, a detecção de sinais clínicos de congestão pode estar esmaecida ou ausente, por processos adaptativos e pela grande adaptação do sistema linfático em lidar com congestão (DIRETRIZES) Na doença de Chagas, dados como nascimento em zona endêmica, familiares com a doença, associados a sintomas de IC, sugerem a etiologia. (DIRETRIZES) A presença de angina de peito, antecedente de infarto do miocárdio, aterosclerose, área inativa em eletrocardiograma e disfunção segmentar ao ecocardiograma sugerem etiologia isquêmica. (SOCESP) História de hipertensão, arritmias, quimioterapia prévia, hipo/hipertireoidismo, infecções prévias e história familiar de IC também sugerem etiologias diversas da IC (SOCESP) Critérios de Framingmam para diagnóstico O diagnóstico de IC exige a presença simultânea de pelo menos dois critérios maiores ou um critério maior em conjunto com dois critérios menores: (FALCÃO) Critérios maiores: - dispneia paroxística noturna - Turgência jugular – Crepitações pulmonares. – Cardiomegalia (à radiografia de tórax). – Edema agudo de pulmão. – Terceira bulha (galope). – Aumento da pressão venosa central (> 16cmH2 átrio direito). – Refluxo hepatojugular. – Perda de peso > 4,5kg em 5 dias em resposta ao tratamento. Critérios menores: – Edema de tornozelos bilateral. – Tosse noturna. – Dispneia a esforços ordinários. – Hepatomegalia. – Derrame pleural. - diminuição da capacidade funcional em um terço da máxima registrada - taquicardia Anamnese A partir da anamnese e do exame físico pode-se levantar a hipótese diagnóstica de IC, mas também presumir se há predomínio de insuficiência ventricular esquerda ou direita; padrão de cardiopatia dilatada ou hipertrófica; sinais de baixo ou alto débito cardíaco; e a sugestão de algumas etiologias, como a alcoólica, a isquêmica e a chagásica. (MANUAL) Regressão na capacidade de exercício físico Falta de ar: dispneia de esforço ou em repouse, ortopnéia, dispneia paroxística noturna. Fadiga Possíveis causas ou fatores que desencadeiem a insuficiência cardíaca: angina, distúrbios cardíacos de ritmo ou condução; uso de drogas inotrópicas negativas, NSAIDs1, corticosteróides ou tiazolidinedionas. Em pacientes com CMD, devem ser buscados antecedentes familiares em parentes próximos até três gerações. Caracterizar a duração da doença (os pacientes com sintomas recentes podem melhorar ao longo do tratamento). (FALCÃO) Caracterizar a severidade e os gatilhos da dispneia e fadiga, presença de dor torácica e tolerância aos esforços, no intuito de determinar a classificação NYHA. (FALCÃO) Anorexia, perda de peso, dor abdominal e sintomas gastrointestinais são comuns em pacientes com IC. (FALCÃO) Deve-se buscar informações sobre o uso de medicamentos que podem ser prejudiciais em pacientes com IC, como também antecedentes de fatores de risco cardiovasculares. (FALCÃO) 9 @poli.canuto III Período - FASAI Exame físico O exame físico cuidadoso é sempre preconizado e ajuda no diagnóstico da IC. Nele inclui-se a observação de sinais e sintomas como dispneia, edema, palpitações, taquicardia (SOCESP) Os sinais mais específicos e de maior valor prognóstico (pressão venosa elevada e B3) são pouco sensíveis e de reprodutibilidade inter-observador limitada, principalmente entre não especialistas. (SOCESP) Avaliar o índice de massa corporal (IMC) para identificar a evidência de perda de peso e obesidade. A obesidade pode contribuir como causa da IC; caquexia corresponde a pior prognóstico (FALCÃO) Medir a pressão arterial e identificar hipertensão ou hipotensão (FALCÃO) Palpar os pulsos e avaliar a regularidade. (FALCÃO) Avaliar turgência jugular, presença de sopros, B3 e B4. (FALCÃO) Ausculta pulmonar: estertores, frequência respiratória e murmúrio abolido, sugerindo derrame pleural. (FALCÃO) Hepatomegalia e/ou ascite e edema periférico identificam os pacientes congestos. (FALCÃO) Extremidades frias podem indicar pacientes com baixo débito cardíaco. (FALCÃO) Exames complementares Avaliação bioquímica e hematológica A avaliação inicial desses pacientes deve incluir hemograma para avaliação de anemia, eletrólitos, função renal, glicemia, hemoglobina glicada, perfil lipídico, função hepática e uroanálise, função tireoidiana, troponina, CPK, sorologias e ácido úrico. (SOCESP) A função hepática pode estar alterada em casos de congestão e baixo débito. (SOCESP) Alteração da funçãorenal pode ocorrer em decorrência de diabete melito, hipertensão arterial sistêmica, débito cardíaco reduzido pela cardiopatia ou efeito do tratamento (uso de diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina li e bloqueadores dos receptores da angiotensina). (SOCESP) Peptídeos natriuréticos (BNP /NTproBNP) O BNP e o NTproBNP são os biomarcadores mais utilizados para diagnóstico da IC, assim como para prognóstico na mortalidade e na hospitalização. Eles aumentam conforme há distensão da parede dos ventrículos e estão relacionados com a fração de ejeção e nos casos de hipervolemia (SOCESP) OBS: estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, insuficiência renal crônica (IRC), e idade avançada, e apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade (DIRETRIZ) Eletrocardiograma A realização de eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações é recomendada na avaliação inicial de todos os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos (DIRETRIZ) Radiografia de tórax A avaliação de um paciente com IC inclui obrigatoriamente a radiografia de tórax. Com ela avalia-se a presença de cardiomegalia , dilatação de câmaras atriais e ventriculares, congestão pulmonar e derrames pleurais. (SOCESP) Vale ressaltar que a sensibilidade do método é bastante limitada e, ainda, que a disfunção sistólica cardíaca significativa pode ocorrer sem cardiomegalia na radiografia de tórax (DIRETRIZES) O método tem maior valor no contexto da IC aguda, em que as alterações de congestão pulmonar são mais intensas (DIRETRIZES) Ecocardiograma O ecocardiograma Doppler bidimensional é o exame mais utilizado para avaliação da anatomia e da função cardíaca. É um exame barato, rápido e não invasivo que pode ser realizado à beira do leito. Também pode ser feito tanto no repouso quanto no esforço. (SOCESP) 10 @poli.canuto III Período - FASAI É um bom método para avaliação da função global e regional do ventrículo esquerdo (VE), da função sistólica (inferior a 50% já é considerado disfunção sistólica) e da função diastólica, da anatomia e da função valvar, avaliação da aorta, veia cava, pericárdio e presença de trombos intracavitários (SOCESP) Ressonância magnética Utilizada para avaliação morfológica e funcional do coração, visualização do pericárdio e dos grandes vasos. Permite a avaliação da função global e segmentar do ventrículo esquerdo e direito, da perfusão miocárdica regional e viabilidade miocárdica, da função sistólica e diastólica e da anatomia orovalvar (SOCESP) Holter A utilização de Holter é útil na avaliação de pacientes com suspeita de cardiomiopatia secundária a taquiarritmias. Na análise de indivíduos com palpitações e/ou síncopes, pode identificar a presença de arritmias supraventriculares e/ou ventriculares. Além disso, pode ser considerado para documentação de arritmias ventriculares em candidatos a estudo eletrofisiológico. (FALCÃO) Radioisótopos A medicina nuclear com técnicas de SPECT (single photon emission tomography) pode contribuir na IC de duas maneiras distintas: avaliação da perfusão miocárdica e da função ventricular deVE e VD. (SOCES´P) Cintilografia miocárdica de perfusão é utilizada para o diagnóstico de doença arterial coronariana, fornecendo informações de isquemia e viabilidade miocárdica, assim como prognóstica (SOCESP) Doenças negligenciadas As doenças negligenciadas são endêmicas em 149 países e afetam mais de um bilhão de pessoas no mundo (SANTOS, 2019). O emprego do termo “doenças negligenciadas” é relativamente recente e polêmico Esta tipologia tem sido desde então utilizada para se referir a um conjunto de doenças causadas por agentes infecciosos e parasitários (vírus, bactérias, protozoários e helmintos) que são endêmicas em populações de baixa renda vivendo, sobretudo em paises em desenvolvimento na África, Ásia e nas Américas. (ACADEMIA) O adjetivo “negligenciada” originalmente proposto tomou como base o fato de que por um lado elas não despertam o interesse das grandes empresas farmacêuticas multinacionais, que não vêem nessas doenças compradores potenciais de novos medicamentos, e por outro o estudo dessas doenças vem sendo pouco financiado pelas agências de fomento. (ACADEMIA) São consideradas doenças negligenciadas, as enfermidades caracterizadas por incidirem em regiões tropicais, por serem mortais ou muito graves e afetarem um país ou região de maneira endêmica e pelo fato das opções para o tratamento não existirem, serem inadequadas ou ultrapassadas e com pouca eficácia (SANTOS, 2019). Em uma época marcada pelas transformações tecnológicas, é contraditório abordar um assunto que trata da ausência de tecnologias, pesquisa e inovação na área da saúde, visto que as doenças negligenciadas são um grupo de afecções transmissíveis em sua maioria causada por protozoários e transmitidas por vetores cujo tratamento é inexistente, precário ou desatualizado (SANTOS, 2019) Para Morel (2016), são três as causas principais da permanência das doenças negligenciadas relacionadas ao que identificado como falhas, quais sejam: (SANTOS, 2019) Falhas de ciência: referem-se a conhecimentos insuficientes, apontando para uma construção de sentidos em que a solução das doenças negligenciadas está situada no tempo futuro Falhas de mercado: dizem respeito à situação de medicamentos ou vacinas que existem, porem disponíveis a custos proibitivos. Falhas de saúde pública: ocorrem quando estratégias terapêuticas acessíveis ou gratuitas não chegam às populações afetadas devido a problemas de planejamento. O Brasil buscou, durante os últimos anos, definir um plano de ação no controle às doenças negligenciadas por meio de investimento em pesquisa e financiamento em novas tecnologias, iniciando em 2006, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas (SANTOS, 2019). Em um primeiro momento, as seguintes doenças foram incluídas no conceito de “doença negligenciada”: doença de Chagas, doença do Sono, leishmanioses, malária, filarioses, esquistossomose. (ACADEMIA) Posteriormente foram incluídas outras doenças como a Hanseníase, a Tuberculose, Dengue, Febre Amarela e HIV/AIDS. Mais recentemente outras doenças tais como Ascaríase, Tricuríase, Necatoríase, Ancilostomíase, Tracoma, Dracunculíase e a Úlcera de buruli foram também incluídas. (ACADEMIA) 11 @poli.canuto III Período - FASAI OBS: No que se refere ao nível de financiamento internacional para pesquisa HIV/AIDS, Tuberculose e Malária tem recebido investimentos significativos, não podendo ser mais consideradas como “negligenciadas” se levarmos em consideração apenas o nível de financiamento. O coeficiente de mortalidade pela doença declinou em decorrência da universalização do acesso gratuito à terapia antirretroviral (TARV) na rede pública de saúde, garantida por lei em 1996,2 e está estabilizado em cerca de seis óbitos por 100 mil habitantes (ACADEMIA) Dada a importância do combate a estas como ferramenta promotora do desenvolvimento socioeconômico, e com o intuito de subsidiar a discussão sobre a política de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de medicamentos no Brasil (ACADEMIA) Análise da situação epidemiológica Tuberculose A tuberculose é uma doença contagiosa, mas somente quem tem esta na forma pulmonar pode transmiti-la. Como o resfriado comum, a tuberculose se transmite pela fala, pelo espirro, pela tosse e pela expectoração (catarro). Se não for tratada, uma pessoa com tuberculose ativa pode infectar entre 10 a 15 pessoas a cada ano. (GARCIA) De acordo com a OMS, esta doença mata mais jovens e adultos que qualquer outra do tipo infecciosa (GARCIA) No Brasil, atualmentesão registrados aproximadamente 85 mil novos casos de tuberculose e quase 6 mil óbitos pela doença, a cada ano. (GARCIA) No período 2001-2009, a maioria dos casos foram registrados nas regiões Sudeste e Nordeste. (GARCIA) A elevada capacidade infectante da doença, o uso incorreto de medicamentos e a ocorrência de grandes aglomerações nos centros urbanos, associados a condições sanitárias precárias, estão entre os fatores que podem explicar as diferenças regionais nos coeficientes de incidência de tuberculose (GARCIA) A redução da incidência pode estar relacionada às ações de saúde, com destaque para a ampliação da oferta de tratamento medicamentoso e a implementação da estratégia de tratamento supervisionado (TS-DOTS). (GARCIA) Malária A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Plasmodium. No Brasil, três espécies de plasmódios se destacam: vivax, falciparum e malariae. (GARCIA) É a principal causa de morte na África subsariana, matando cerca de 3.000 crianças por dias (ACADEMIA) A OMS estimou a ocorrência de 247 milhões de casos de malária, em 2006, entre os 3,3 bilhões de pessoas, ou aproximadamente metade da população mundial, que estavam sob risco de contrair malária. Nesse ano, ocorreram quase 1 milhão de óbitos pela doença, sendo a maior parte deles entre crianças menores de 5 anos. (GARCIA) Em 2008, 109 países eram endêmicos para malária; entre eles, o Brasil (GARCIA) No Brasil, são registrados aproximadamente 500 mil casos de malária a cada ano. A região da Amazônia Legal concentra 99,9% destes casos no país. (GARCIA) Após a realização da campanha de erradicação da malária, realizada no Brasil durante a década de 1960, a transmissão foi praticamente confinada à região amazônica. A manutenção da transmissão, após a campanha, pode ser atribuída à baixa densidade e à dispersão populacional na Amazônia, que dificultam a execução das ações de controle; ao tipo de habitação predominante nessa área que facilita o contato com o mosquito e dificulta a aplicação de inseticidas; e ao aumento progressivo da resistência do parasita, impedindo o esgotamento das fontes de infecção, com os recursos habitualmente utilizados (GARCIA) . Os picos de incidência observados estão, em geral, associados ao processo de colonização na região, que envolve a exploração de recursos das florestas e a consequente exposição ao vetor e ao agente infeccioso (GARCIA) Hanseníase A hanseníase é uma doença infecciosa associada a condições de vida precárias. A distribuição da doença nas regiões brasileiras reflete o grau de desenvolvimento e as condições de vida da população nessas áreas geográficas. Condições de habitação, estado nutricional e escolaridade (GARCIA) A hanseníase está associada à pobreza. Condições de vida precárias, baixa escolaridade e fome apresentaram associação com a ocorrência da doença. Variáveis ligadas à pobreza agem em diferentes níveis de transmissão da bactéria e/ou no progresso de infecção para doença (GARCIA) A distribuição de casos no Brasil é heterogênea e embora a taxa de prevalência, hoje, gire em torno 17 casos para 100.000 habitantes, há regiões no Pará, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Goiás com valores 10 vezes maiores que a média nacional. (ACADEMIA) O desconhecimento e a falta de atenção primária em saúde fazem da doença a maior causa de incapacidade não traumática sendo que pacientes com diagnóstico tardio podem 12 @poli.canuto III Período - FASAI apresentar comprometimento importante e duradouro dos nervos periféricos que leva a deformidade (ACADEMIA) Em 1991, a OMS aprovou uma resolução para eliminar a hanseníase como problema de saúde pública até 2000, definida como uma prevalência menor que um caso a cada 10 mil habitantes. Globalmente, a meta foi atingida no prazo estipulado; entretanto, nove países da África, Ásia e América Latina não atingiram a meta de eliminação; entre eles, o Brasil (GARCIA) O número de casos novos confirmados de hanseníase no Brasil declinou de 58.837, em 2003, para 45.801, em 2008 (GARCIA) Em 2008, quase 38% dos casos novos confirmados de hanseníase no Brasil estavam concentrados na região Nordeste, enquanto a região Sul detinha 4% destes. (GARCIA) O preocupante quadro epidemiológico da hanseníase no Brasil pode ser atribuído ao ainda precário estado de qualificação dos serviços de saúde. Os programas de controle da doença apresentam desorganização estrutural, com sistema de registro de pacientes inoperante e carente de informações clínico-epidemiológicas essenciais. É possível que esta situação deva-se à deficiência quantitativa e qualitativa dos recursos humanos atuantes nos serviços, assim como à inexistência de uma supervisão sistemática da pouca capacitação fornecida (GARCIA) Leishmaniose A leishmaniose, ou leishmaníase, é uma antropozoonose, ou seja, doença primária de animais que pode ser transmitida ao homem. Esta é provocada pelos protozoários da Família Tripanosoma, gênero Leishmania, que parasita animais. A transmissão se dá por meio da picada de mosquitos infectados (flebotomíneos), também conhecidos como mosquitos palha, tatuquira, birigui, entre outros (GARCIA) Os trabalhadores rurais e aqueles que realizam atividades de extrativismo, por apresentarem maior contato com reservatórios, vetores e agentes etiológicos, são a população mais atingida pela doença no Brasil (GARCIA) A doença, entretanto, também apresenta um perfil periurbano de transmissão, relacionado com a falta de saneamento básico, a situação econômica precária, a migração da população para as periferias das cidades, os materiais de construção inadequados e o convívio com animais ermos ou até mesmo domesticados que servem de novos reservatórios para a doença, aliados ao aumento da população de ratos que se concentram nos depósitos de lixo destas áreas (GARCIA) A OMS estima que 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco de infecção e que ocorram aproximadamente 1,5 a 2 milhões de novos casos das diferentes formas clínicas ao ano (GARCIA) No mundo, cerca de 15 milhões de pessoas estão infectadas. Américas, África, Ásia e sul da Europa são consideradas regiões endêmicas (GARCIA) Cerca de 90% dos casos de leishmaniose na América Latina ocorrem no Brasil. Os dados de 2007 constaram 3505 casos, principalmente em crianças. (ACADEMIA) Doença de chagas A doença de Chagas resulta da infecção humana pelo protozoário Trypanosoma cruzi. O inseto conhecido como “barbeiro” é o principal vetor envolvido na transmissão desta doença. Entretanto, existem outras formas de transmissão. A DC também pode ser transmitida por via oral, por meio de alimentos contaminados com o parasito, principalmente a partir de triatomíneos ou de suas dejeções (GARCIA) A transmissão da doença de Chagas é registrada apenas na América Latina; entretanto, em todo o mundo, existe um número desconhecido de pessoas infectadas. Nos 21 países endêmicos, existem entre 12 e 14 milhões de indivíduos infectados, com uma incidência anual de até 200 mil casos e milhares de óbitos (GARCIA) O número de mortes é hoje de cerca de quatorze mil por ano. Ainda constitui a doença parasitária responsável pelo maior número de mortes na América Latina, superando a malária. (ACADEMIA) Os dados da OMS indicam que cerca de 2,5 bilhões de pessoas estão em área de risco sendo que a cada ano registra-se cerca de 50 milhões de casos de dengue. Hoje a doença é endêmica em 100 paises (ACADEMIA) Dengue O dengue é uma doença febril aguda que ocorre nos trópicos, sendo causada por quatro sorotipos de vírus dengue do gênero Flavivirus (família Flaviviridae). É prevalente tanto na área rural como urbana. Sua transmissão se dá por mosquitos do gênero Aedes, principalmente A. aegypti e A. albopictus. (ACADEMIA) Referências CARLO; PEREIRA-BARRETTO. Cardiomiopatias Dilatada, Periparto e Alcoólica. In:MAGALHÃES, C. C. et al. Tratado de Cardiologia SOCESP 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2015. NORRIS, T. L. Porth fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. 13 @poli.canuto III Período - FASAI SOUZA, P. V.; RAMIRES, F. J. A.; FERNANDES, F. Cardiomiopatia dilatada, periparto e alcoólica. In: JATENE, I. B. et al. Tratado de cardiologia SOCESP. 5. ed., rev. e atual. - Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2022. FILHO, G. B. Bogliogo, Patologia, 10ª edição – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021 ROHDE et. al. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2018 FALCÃO, C.A.; II, J.M. Cardiologia - Diagnóstico e Tratamento. [Digite o Local da Editora]: MedBook Editora, 2017. 9786557830482. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786557830482/. Acesso em: 17 Aug 2022 HAMMER, G.D.; MCPHEE, S.J. Fisiopatologia da doença. [Digite o Local da Editora]: Grupo A, 2015. 9788580555288. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580555288/. Acesso em: 17 Aug 2022 SANTOS, C. S. As doenças negligenciadas e suas representações sociais: um estudo com profissionais de saúde, Tese de Doutorado, RJ, 2019.
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