Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TÚBULO-INTERSTÍCIO RENAL P R O F . F E R N A N D A B A D I A N I Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Túbulo-Interstício Renal 2NEFROLOGIA PROF. FERNANDA BADIANI APRESENTAÇÃO: Estrategista, Sei bem que a preparação para a Residência Médica não é fácil. É uma fase de dúvidas, cobranças e inseguranças. A Residência é um período de profundo crescimento pessoal e profissional - não tenha dúvidas de que vale a pena! Tenha calma e perseverança - essa jornada compensa! A medicina é a ciência das verdades transitórias e o conhecimento transforma-se e evolui diariamente. A Nefrologia é uma especialidade complicada (concordo com você que pensa isso também!), mas estamos aqui para tentar desmistificar alguns conceitos e para evoluirmos juntos nessa caminhada. Espero que a gente consiga gostar um pouco mais de Nefro ao final deste livro digital! Eu sou a professora Fernanda Badiani e fiz toda minha formação na Escola Paulista de Medicina - UNIFESP: graduação médica, Residência em Clínica Médica e Residência em Nefrologia. Após a conclusão dessa etapa difícil, fui da Preceptoria da Nefrologia da UNIFESP e atualmente também continuo minha especialização no Mestrado em Doenças Renais na Gestação. Você percebe que o conhecimento nunca acaba e que estudar é fundamental para vida? Foco, porque em breve você estará onde quer estar e estudando o que gosta! DOENÇAS TÚBULO-INTERSTICIAIS Estrategista, este capítulo aborda as doenças que acometem o compartimento tubular e intersticial renal. Você deve ter em mente que esse assunto é o menos cobrado em comparação a todos os outros temas abordados em Nefrologia. O principal tema cobrado nas provas de Nefrologia, sem dúvidas, é Glomerulopatias. Um tema versátil, que pode estar dentro da prova de Clínica Médica e, também, frequentemente nas provas de Pediatria. Em segundo lugar, temos o tema de lesão renal aguda e, em terceiro lugar, questões sobre doença renal crônica (DRC). Nosso @prof.fernandabadiani https://www.instagram.com/prof.fernandabadiani/ https://www.instagram.com/prof.fernandabadiani/ Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Túbulo-Interstício Renal 3NEFROLOGIA tema de hoje corresponde a cerca de 3.5% das questões cobradas em Nefrologia – ou seja – não cai muito mesmo não! O gráfico a seguir demonstra a frequência com que os determinados temas em Nefrologia são cobrados nas diferentes provas de Residência pelo país – esses dados foram avaliados em Janeiro/2021: avaliados em Janeiro/2021: 20% 15% 7% Glomerulopa�as Lesão renal aguda NEFROLOGIA NAS PROVAS DE RESIDÊNCIA 30% 10% Doença renal crônica Infecção urinária Distúrbios ácido-básicos 5% 5% 5% 3% Li�ase renal Distúrbios do potássio Disnatremias Tubulo-inters�cio 50% 12% 8% Nefrite inters�cial Exame de urina TÚBULO-INTERSTÍCIO NAS PROVAS DE RESIDÊNCIA 30% Fisiologia renal Tubulopas�a Aqui, vamos focar nos acometimentos dos compartimentos tubular e intersticial do rim. Alguns acometimentos específicos deste capítulo já foram abordados em outros módulos para seu melhor entendimento e fluidez do assunto. Vamos começar do básico: a fisiologia renal. Embora seja um assunto especificamente pouco cobrado, precisamos passar por essa árdua tarefa para podermos entender as principais patologias dessa área. Não desanime no começo, pois iremos colher bons frutos ao final! Vamos dar uma olhada nesta estatística dos temas mais frequentes sobre túbulo-interstício – esses dados também foram Coruja, é fácil perceber que temos um tema que se sobressai em comparação com todos os outros: nefrite intersticial – corresponde a mais de 50% das questões! Nesse tópico, o que você deve prestar mais atenção é na nefrite intersticial aguda! Em segundo lugar temos a interpretação do exame de urina e, por último, questões que envolvem tubulopatias e a fisiologia renal (aqui incluímos o mecanismo de ação dos diuréticos!). Lembre-se: eu falei que esse tema não é muito cobrado, mas, por favor, não pule a introdução pois é essencial para entendermos a matéria e desmistificar a Nefrologia. Sabemos que Nefrologia pode ser complicada em um primeiro momento, mas vamos juntos compreender o funcionamento do sistema renal, como interpretar o exame de urina e as doenças que acometem o compartimento tubular (as tubulopatias) e o intersticial (as nefrites intersticiais agudas ou crônicas)! Vamos juntos em mais esse voo da coruja! @estrategiamed /estrategiamed t.me/estrategiamed Estratégia MED https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://t.me/estrategiamed https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?app=desktop Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 4 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED SUMÁRIO 1.0 ANATOMIA RENAL 5 2.0 FISIOLOGIA TUBULAR 9 2.1 TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL 12 2.2 ALÇA DE HENLE 13 2.3 TÚBULO CONTORCIDO DISTAL 15 2.4 DUCTO COLETOR 17 3.0 ALTERAÇÕES URINÁRIAS 21 3.1 EXAME DE URINA 21 3.1.1 COLETA DE URINA 21 3.1.2 ANÁLISE DO EXAME DE URINA 21 3.2 CILINDROS 26 4.0 NEFRITE INTERSTICIAL 30 4.1 NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA 30 4.2 NEFRITE INTERSTICIAL CRÔNICA 32 5.0 TUBULOPATIAS 39 5.1 SÍNDROME DE FANCONI 39 5.2 SÍNDROME DE GITELMAN 40 5.3 SÍNDROME DE BARTTER 40 5.4 SÍNDROME DE LIDDLE 40 6.0 LISTA DE QUESTÕES 45 7.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46 8.0. CONSIDERAÇÕES FINAIS 47 Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 5 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED CAPÍTULO ARTÉRIA E VEIA RENAIS RINS URETERES URETRA BEXIGA Figura 1. Anatomia do aparelho urinário. Adaptado de Shuttestock. 1.0 ANATOMIA RENAL Caro(a) aluno(a), os assuntos iniciais desse módulo são a base para o entendimento das patologias que acometem o sistema túbulo- intersticial renal. Esse assunto não é cobrado diretamente em provas de Residência, então não teremos questões a respeito dele. No entanto, precisamos passar por esses conceitos mais áridos para podermos entender as principais patologias e aí sim mergulharmos no mundo das questões de provas! Vamos iniciar esse módulo pela anatomia renal – você conhece todos os componentes do rim? O rim faz parte do sistema genitourinário e é o órgão primordial desse sistema. Macroscopicamente, esse sistema é formado pelos rins, ureteres, bexiga, uretra e vasos de grande calibre (artéria e veia renais), como podemos ver na figura a seguir: Essa anatomia é básica e bastante conhecida. Como, neste capítulo, vamos focar nas doenças túbulo-intersticiais, precisamos analisar o rim microscopicamente com mais detalhes, como no lado direito da figura acima. Veremos, com a ampliação da figura, que o rim possui diversas subdivisões vasculares e tubulares e o processo de filtração ocorre nessas subunidades microscópicas. A seguir, veremos como é a subdivisão dos sistemas vascular e tubular. Precisamos ter em mente que são dois sistemas diferentes: • o leito vascular é responsável pelo transporte do sangue que será filtrado; • e o sistema tubular é o encarregado de transportar a urina, que é formada a partir do sangue filtrado. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 5 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 6 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED O sistema vascular divide-se na seguinte sequência, da estrutura de maior calibre para a de menor calibre: artéria renal -> artérias interlobares -> artérias interlobulares -> artérias arqueadas -> arteríola aferente -> capilar glomerular -> arteríola eferente -> capilares peritubulares -> veias arqueadas -> veias interlobulares -> veias interlobares -> veia renal. A figura que você verá a seguir mostra a direção no fluxo sanguíneo através das setas roxas! O sistema tubular organiza-se na seguinte sequência, da estrutura de menor calibre para a de maior calibre: túbulo contorcido proximal -> alça de Henle-> túbulo contorcido distal -> ducto coletor -> papila renal -> cálice menor -> cálice maior -> pelve renal Figura 2. Microestrutura do sistema renal. -> ureter -> bexiga -> uretra. Estrategista, fique tranquilo: você não precisa decorar a ordem dessas estruturas, isso não é tema de prova! No entanto, precisamos falar delas para que você entenda qual é o caminho do sangue (que vai dos vasos de maior calibre para os vasos de menor calibre até chegar nos capilares glomerulares, onde sofre o processo de filtração glomerular e depois retorna para a circulação) e qual é o caminho da urina (que vai das estruturas menores até as maiores para ser eliminada pela uretra). A figura a seguir ilustra as porções microscópicas do aparelho renal para que você visualize melhor: Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 7 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Caro(a) aluno(a), como vimos, o sistema vascular é aquele incumbido de levar o sangue ao rim, sendo esse necessário para entregar o oxigênio que as células precisam para funcionar, como em todos os órgãos do corpo humano. No entanto, o sangue que chega ao rim possui outro papel fundamental: ele precisa ser filtrado para eliminar o excesso de toxinas e água do organismo! O mecanismo da filtração glomerular já foi abordado em outro módulo de Nefrologia e você pode conferir informações mais detalhadas no Livro-Digital de “Doença Renal Crônica – Parte 1”. O sistema tubular é responsável pela composição final da urina. Após a filtração glomerular, parte do que foi filtrado é reabsorvida de volta para o sangue e algumas outras substâncias são secretadas no fluido tubular para formar a urina. A figura abaixo também ilustra esse processo: Fonte: Shutterstock ETAPAS DA FORMAÇÃO DA URINA ARTERÍOLA AFERENTE FILTRAÇÃO REABSORÇÃO SECREÇÃO EXCREÇÃO CAPILARES GLOMERULARES TÚBULOS RENAIS ARTERÍOLA EFERENTE NÉFRON FLUXO SANGUÍNEO CAPILARES PERITUBULARES Figura 3. Etapas da formação da urina. Fonte: Shutterstock. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 7 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 8 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Dessa forma, o processo de formação da urina possui 4 etapas: • Filtração glomerular: realizada no glomérulo – envolve a passagem de substâncias do sangue para o sistema tubular. • Reabsorção tubular: realizada nos túbulos renais – compreende a reabsorção de parte da água e eletrólitos que foram filtrados. Apenas o que está em excesso deve ser eliminado e o restante, reabsorvido. • Secreção tubular: realizada nos túbulos renais – envolve a secreção de substâncias de maior tamanho que precisam ser eliminadas, como metabólitos de fármacos. • Excreção: compreende a eliminação da urina propriamente dita, após todo o processo de filtração, reabsorção e secreção. Esse é o conteúdo que será eliminado pela uretra. Esse mecanismo de reabsorção e secreção tubular é o que vamos explorar no capítulo das doenças tubulares primárias, as temidas tubulopatias! Para desvendarmos esse mundo, precisamos primeiramente entender a função normal do túbulo renal e é exatamente esse aspecto que vamos destrinchar na seção a seguir. Mas, antes de seguir em frente, vamos falar do último componente microscópico do rim: o interstício renal – afinal, este capítulo se intitula “doenças túbulo-intersticiais”, não é mesmo? O interstício renal é o espaço onde ficam os túbulos. Normalmente, esse espaço é reduzido e serve apenas de “material ligante” para os túbulos, glomérulos e vasos sanguíneos. Dessa forma, trata-se de um espaço virtual, que não é nem mesmo retratado nas figuras esquematizadas, como naquelas que apresentamos acima. Veremos a seguir uma imagem microscópica de um corte de tecido renal em lâmina de patologia para que você entenda um pouco melhor o que é o interstício: Figura 4. Imagem anatomopatológica dos compartimentos renais identificados pelas setas. Os processos que afetam o interstício em geral são secundários à infiltração desse espaço mínimo por células visitantes de outros locais, como nos casos de reações inflamatórias. Veremos as principais doenças ao longo deste capítulo. O interstício também torna-se mais proeminente com o desenvolvimento de doença renal crônica, uma vez que as estruturas renais atrofiadas são substituídas por colágeno e fibrose, aumentando esse “espaço morto do rim”. Os aspectos fundamentais da doença renal crônica (tema frequente de provas!) são abordados em módulo específico para esse tema! Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 9 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED CAPÍTULO Figura 5. Ilustração de uma célula tubular e os mecanismos de transporte de substâncias. 2.0 FISIOLOGIA TUBULAR Caro(a) aluno(a), quem nunca teve receio de falar sobre fisiologia renal que atire a primeira pedra. É um assunto muitas vezes minucioso e com diferentes mecanismos de transporte tubular que podem confundir nossa cabeça. Vamos tentar explicar esse assunto de forma que você possa entender melhor os principais conceitos e ficar mais seguro na hora da prova e no seu dia a dia! Primeiramente, vamos entender aspectos gerais sobre a fisiologia tubular. Como vimos na figura acima sobre os passos para a formação de urina, o papel dos túbulos renais consiste na reabsorção de água e eletrólitos que foram filtrados e na secreção de substâncias que permaneceram no compartimento sanguíneo e precisam ser eliminadas. A filtração ocorre no glomérulo e a excreção é o processo final, ou seja, a eliminação da urina. A figura a seguir ilustra como ocorre o processo no nível celular: Essa figura ilustra uma célula tubular com seus diversos transportadores. Aqui, precisamos entender espacialmente como essa célula está: o lado esquerdo da figura é o lúmen tubular, ou seja, o espaço dentro dos túbulos onde está o filtrado glomerular que vai formar a urina. O lado direito da figura é o interstício, ou seja, a comunicação entre a célula e os vasos sanguíneos: o que é jogado para fora da célula vai ser direcionado para o compartimento intravascular. A reabsorção consiste em recuperar parte da água e íons que foram filtrados e que são essenciais para o corpo humano. Como são moléculas pequenas e livremente filtradas, se não ocorrer a reabsorção, vamos perder tudo na urina e o organismo ficará sem água e sem eletrólitos para o funcionamento do metabolismo e a formação de novas células. Obviamente, nem tudo será reabsorvido – o papel dos rins é eliminar as substâncias em excesso e manter o que é essencial para o organismo! Para ocorrer a reabsorção temos três tipos principais de transportadores: cotransportadores, contratransportadores e transporte paracelular. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 9 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 10 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Vamos entender a diferença entre eles: • Cotransportadores: o cotransporte significa dizer que duas substâncias são transportadas em conjunto e na mesma direção. Isso quer dizer que ambas irão para o “mesmo lado”, ou seja, passarão juntas do fluido tubular para dentro da célula tubular e depois para a corrente sanguínea. » Exemplo prático: o cotransportador sódio-cloro absorve sódio E cloro do fluido tubular para a corrente sanguínea. • Contratransportadores: o contratransporte quer dizer que duas substâncias são transportadas ao mesmo tempo, mas em direções opostas. Isso significa que algo será reabsorvido do fluido tubular para a célula tubular em troca de algo que será secretado pela célula tubular para dentro do fluido tubular. Ou seja, vamos trocar um íon por outro! » Exemplo prático: a bomba sódio-potássio, presente em diversas células, troca 3 íons sódio por 2 íons potássio– ou seja – Essa divisão é importante porque cada segmento tubular do néfron é assim dividido por ter um tipo celular próprio e, portanto, uma conformação de transportadores exclusiva, sendo responsável pela reabsorção de íons e água de maneira característica. Assim, vamos ver separadamente cada um dos segmentos para entender qual é o papel deles na fisiologia tubular. a célula perde sódio e ganha potássio. • Reabsorção paracelular: não há um transportador específico, porém, devido ao gradiente osmótico gerado pela absorção de cargas, há o influxo passivo de íons para o sangue de maneira paracelular, ou seja, entre as células e sem necessidade de passar por nenhum transportador. A secreção envolve a descarga de substâncias maiores, que não compõem o filtrado glomerular inicial devido ao seu maior peso molecular. Isso ocorre porque as substâncias grandes não passam na barreira de filtração glomerular, que funciona como uma “peneira do rim”. Esse mecanismo está explicado com maiores detalhes no livro digital “Doença Renal Crônica – Parte 1”. Essas substâncias grandes são ânions e cátions maiores ou ligados à albumina, em geral oriundas do metabolismo de fármacos, como antibióticos, diuréticos e outros. Vamos dar uma olhada geral na conformação do túbulo renal na figura a seguir: Figura 6. Néfron: Glomérulo + sistema tubular. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 11 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED 2.1 TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL O túbulo contorcido proximal (TCP) é responsável pela absorção da maior parte dos eletrólitos, por isso tem a maior quantidade de transportadores. Nesse segmento do néfron, ocorre a reabsorção de grande parte do íon sódio. Esse é o ponto chave do funcionamento desse segmento do néfron. O sódio é o principal íon do meio extracelular e grande determinante da osmolaridade plasmática. Coruja, esses conceitos são difíceis, mas não se preocupe: tudo está muito bem explicado no módulo de Disnatremias! Mas, qual é a consequência desse fato? A consequência é que o sódio possui força osmótica, ou seja, ele é responsável por absorver água e outros íons junto com ele! Dessa forma, o TCP absorve a maior parte das substâncias em cotransportadores junto com o sódio: fósforo, ácido úrico, aminoácidos, glicose e bicarbonato, além de grande parte da água presente no fluido tubular. Lembra-se do papel dos cotransportadores? Então, aqui devemos lembrar que essas substâncias são absorvidas em conjunto! Outro fator que ocorre nesse segmento do néfron é a reabsorção passiva de ureia mediada pela força osmótica criada pela reabsorção de sódio. Quanto maior a reabsorção de sódio, maior a reabsorção de ureia – essa é a razão pela qual se aumenta muito o nível de ureia em comparação com o de creatinina no sangue nos casos de pré-renal (o rim está ávido por reabsorver sódio e água e reestabelecer a volemia perdida nos processos pré-renais e, assim, absorve muita ureia junto)! As alterações laboratoriais que ocorrem na pré-renal despencam em provas – não deixe de conferir esse tema no módulo de “Lesão Renal Aguda”! Assim, o que você precisa saber sobre esse segmento do néfron é o seguinte: a maior parte dos distúrbios desse segmento cursa com perda de muitas substâncias na urina! Vamos ver as implicações e alterações laboratoriais quando falarmos mais especificamente desses distúrbios mais a frente, combinado? Por ora, apenas tenha em mente que, nesse segmento do néfron, temos a absorção da maior parte dos eletrólitos! Os diuréticos que agem nesse segmento do néfron são os inibidores da anidrase carbônica – o nome comercial é acetazolamida. Eles agem através da inibição da absorção de bicarbonato e sódio, com consequente aumento da excreção urinária de sódio, bicarbonato e água. Seu potencial diurético é pequeno e, em geral, são utilizados em casos de alcalose metabólica para corrigir o excesso de bicarbonato no sangue. Há também os diuréticos osmóticos: os exemplos são o manitol e o glicerol. Eles agem através de seu potencial osmótico: não são reabsorvidos pelos túbulos renais e permanecem diluídos no fluido tubular. Dessa forma, aumentam a osmolaridade intratubular (há mais osmóis dissolvidos!) e impedem a reabsorção de água livre. Seu efeito diurético também não é muito proeminente e, além disso, pode haver nefrotoxicidade associada, resultando em lesão renal aguda. Atualmente, são pouco utilizados na prática clínica. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 11 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 12 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED 2.2 ALÇA DE HENLE Figura 7. Mecanismo de contracorrente. A alça de Henle é o segmento em “U” no túbulo renal e pode ser dividida em duas partes: a primeira é a alça descendente e a segunda, o segmento ascendente. No primeiro segmento, temos um túbulo renal permeável à água e não permeável ao sódio – ou seja – absorvemos apenas água e deixamos o líquido intratubular muito concentrado, cheio de solutos. Esse fenômeno é compensado na segunda porção: permeável apenas a solutos e impermeável à água. O intuito de realizar essa manobra é para aumentar a reabsorção de água final. Mas, como isso acontece se esse segmento é impermeável à água na segunda metade? Isso ocorre porque, ao absorver muito soluto, a medula renal fica hiperconcentrada em relação ao compartimento tubular. Assim, ocorre influxo passivo de água do meio menos concentrado para o meio mais concentrado, a fim de equilibrar a osmolaridade dos compartimentos. Dessa forma, a água é reabsorvida no último segmento do néfron, o ducto coletor. Esse mecanismo é denominado de “mecanismo de contracorrente”! Veja a figura abaixo para melhor entendimento da situação: Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 13 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Nessa figura, podemos observar o aumento da concentração medular na porção ascendente da alça (o segundo segmento), representada pela absorção de NaCl com consequente aumento da osmolaridade na medula (representada pela intensificação da cor azul no desenho) e redução da osmolaridade dentro do túbulo renal (representada pela redução progressiva da tonalidade azul dentro do túbulo). Isso faz com que, na porção final do néfron (ou seja, no ducto coletor), a água saia de dentro do túbulo (osmolaridade menor) para a medula renal (osmolaridade maior) através dos canais de aquaporina na membrana tubular. A medula possui vasos sanguíneos que absorvem o líquido para o meio intravascular. Caro(a) aluno(a), o entendimento desse fenômeno é complicado! Pode reler quantas vezes quiser e tirar todas as suas dúvidas com a gente no Fórum de Dúvidas – o importante é você estar tranquilo com a matéria e estamos aqui para ajudar! Agora vamos continuar... A reabsorção de eletrólitos ocorre através da ação da bomba NKCC2, que significa sódio-potássio-2-cloretos. Ela é a responsável por jogar sódio na medula renal e aumentar a osmolaridade local! Assim, ocorre o cotransporte desses 3 íons: sódio, potássio e cloro. Além disso, nesse segmento, há a reabsorção paracelular de cátions divalentes: magnésio e cálcio. Os diuréticos que agem nessa porção levam o mesmo nome do segmento: são os diuréticos de alça! São os principais diuréticos disponíveis, por causa desse efeito: eles bloqueiam a bomba NKCC2 e, assim, impedem a concentração medular e a consequente absorção de água no néfron distal. Com isso, há grande perda de líquidos e efeito diurético proeminente. Os efeitos colaterais desses diuréticos incluem a perda de líquidos e eletrólitos, cursando com hipomagnesemia, alcalose metabólica e hipocalemia. Esses dois últimos distúrbios ocorrem por aumento do aporte de água e sódio ao néfron distal e consequente troca de umíon sódio por um íon potássio ou hidrogênio. Vamos ver esse mecanismo com mais detalhes a frente, combinado? Estrategista, aqui está o que você precisa saber desse segmento do túbulo: Ele é responsável por concentrar a medula renal, com o objetivo final de reabsorver água no ducto coletor. Os efeitos colaterais de bloquear o cotransportador NKCC2 são: Hipomagnesemia: pela redução da absorção paracelular e consequente perda urinária de magnésio; Alcalose metabólica; Hipocalemia. - Esses dois últimos defeitos são decorrentes do maior aporte de sódio que chega ao néfron distal (uma vez que bloqueamos a absorção desse íon). Nesse segmento final do néfron, há troca de um íon de sódio por um íon de potássio ou hidrogênio. Como há aumento da absorção de sódio, há maior excreção desses íons com perda urinária de potássio (levando à hipocalemia) e hidrogênio (levando à alcalose metabólica pela perda de ácido). Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 13 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 14 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED 2.3 TÚBULO CONTORCIDO DISTAL O túbulo contorcido distal é o segmento do néfron basicamente responsável pela absorção de sódio e água. Existe uma bomba específica, que faz o cotransporte de sódio e cloro (cotransportador NaCl), associado à água. Também há canais de magnésio e cálcio, cuja função é reabsorver magnésio e excretar cálcio – ou seja, levam à conservação de magnésio e à perda de cálcio. O diurético que age nesse segmento é o tiazídico, cujos representantes são a hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida. Eles atuam bloqueando a bomba NaCl (sódio-cloro), o que leva ao aumento da perda de sódio e água na urina, além da perda de magnésio e conservação de cálcio. Os efeitos colaterais do uso dessa medicação são perda de líquidos, hipomagnesemia, hipocalciúria, alcalose metabólica e hipocalemia (esses dois últimos distúrbios são decorrentes do aumento do aporte de sódio ao néfron distal, conforme explicado acima). Falando um pouco mais especificamente dos diuréticos tiazídicos, outro efeito colateral relativamente comum é a ocorrência de hiponatremia. Os mecanismos exatos não são bem estabelecidos, mas acredita-se em aumento de reabsorção de água livre (ou seja, sem sódio) apesar do efeito diurético final. Assim, há uma redução do sódio sérico. Além desses, temos os efeitos metabólicos do uso dos tiazídicos: • Há hiperuricemia secundária ao aumento da reabsorção tubular de ácido úrico, não sendo aconselhado utilizar essas medicações em pacientes portadores de gota; • Hiperglicemia decorrente da redução de captação de glicose pelos músculos e fígado, além de redução da liberação de insulina (potencializada pela hipocalemia e hipomagnesemia); • Por último, diuréticos tiazídicos podem levar à dislipidemia (aumento do colesterol total, triglicérides e LDL + redução do HDL). Futuro Residente, aqui vamos frisar os pontos que mais caem em provas: • Nesse segmento do néfron, ocorre basicamente reabsorção de água e sódio; • Os efeitos tubulares complementares são: ◊ reabsorção de magnésio; ◊ excreção de cálcio na urina. • Os efeitos colaterais dos tiazídicos incluem: perda de líquidos, hipomagnesemia, hipocalciúria, alcalose metabólica, hipocalemia, hiponatremia, hiperuricemia, hiperglicemia e dislipidemia. Caro(a) aluno(a), repare que os efeitos dos diuréticos são sempre antagônicos ao efeito dos transportadores do segmento tubular. Assim, você precisa compreender apenas o funcionamento do túbulo normal – a consequência de bloquear o túbulo vai ser o contrário da função dele! Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 15 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Antes de prosseguirmos, precisamos falar de uma outra estrutura: o aparelho justaglomerular. Essa estrutura compreende a mácula densa, o mesângio extraglomerular e as células justaglomerulares produtoras de renina. Essa estrutura fica localizada na porção final da alça Henle e em algumas células na arteríola eferente (via de saída do sangue do rim), mas responde por alterações que são sentidas no túbulo contorcido distal! Essa estrutura é responsável pelo “feedback” túbulo- glomerular – isso é importante e você deve saber! O feedback túbulo-glomerular consiste em uma resposta hemodinâmica às alterações na composição do fluido tubular. Mas, isso é muito vago. O que realmente eu quero dizer com isso? Como o nome sugere, o “feedback” túbulo-glomerular consiste em uma resposta do glomérulo (mais especificamente da arteríola aferente) a alterações que ocorrem no túbulo. Isso ocorre da seguinte maneira: normalmente, o rim reabsorve uma certa quantidade de sódio no túbulo proximal, certo? Quando chega mais ou menos sódio do que o esperado, o rim sente que “algo estranho está acontecendo” e ele precisa ajudar de alguma forma – sua forma de ajudar é através da modulação da resistência da arteríola aferente – via de entrada do sangue no glomérulo! Há duas formas de “ajuda”: • Vasoconstrição da arteríola aferente: chega menos sangue no rim e isso reduz a pressão de filtração glomerular; • Vasodilatação da arteríola aferente: chega mais sangue no rim e isso aumenta a pressão de filtração glomerular. A figura a seguir ilustra melhor o que ocorre em cada situação: Figura 8. Esquema representativo do aparelho justaglomerular. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 15 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 16 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED 2.4 DUCTO COLETOR Olha o “bizu”: • Células Principais -> Potássio • Células Intercaladas -> hIdrogênio O ENaC é um canal cuja expressão é mediada pelo hormônio aldosterona. A aldosterona age na célula tubular aumentando a quantidade de canais ENaC expressos na membrana tubular. Assim, distúrbios desse segmento do néfron cursam com alcalose metabólica, pela perda de carga ácida representada pelo hidrogênio, e hipocalemia, pela perda renal de potássio. Além disso, também temos aumento da reabsorção de sódio, levando à hipertensão arterial. Da mesma forma que vimos acima, quando há aumento da absorção de sódio nesse segmento do néfron, seja pelo maior aporte de sódio vindo do bloqueio de outros segmentos do néfron ou por aumento da expressão de canais ENaC, há também maior perda urinária de potássio e hidrogênio! Os diuréticos que agem nesse segmento são os poupadores de potássio: triantereno e amilorida, pelo bloqueio direto do ENaC, e espironolactona ou eplerenona, por sua ação de antagonistas da aldosterona, hormônio responsável pela incorporação do canal ENaC na membrana da célula tubular. Mas, a função do ducto coletor não acaba por aí: mais adiante, o ducto coletor passa a ser permeável apenas à água. É nesse segmento do néfron que a água será absorvida passivamente através dos canais de aquaporina movidos pelo gradiente osmótico que foi gerado lá na alça de Henle (lembra?). Esses canais sofrem influência da ação do hormônio antidiurético – o mecanismo de ação desse hormônio também será abordado com mais detalhes no módulo de “Distúrbios do sódio”! Vamos, mais uma vez, ressaltar os pontos importantes desse segmento: • Há reabsorção de sódio em troca de um íon potássio ou hidrogênio; • A reabsorção de sódio é feita pelo canal ENaC ; • A aldosterona é responsável pela expressão do ENaC na membrana tubular; • A reabsorção de água ocorre na porção final, através dos canais de aquaporina. O ducto coletor possui inicialmente dois tipos celulares: as células intercaladas e as células principais. O objetivo principal dessas células é o mesmo: absorver sódio através de um canal denominado “ENaC” sem nenhum outro íon. No entanto, se absorvermos muitos íons sódio, teremos um ambiente intracelular muitopositivo (lembra-se da tabela periódica? O sódio é um cátion representado pelo símbolo Na+!). O princípio do organismo é manter a eletroneutralidade das membranas e, com isso, precisamos colocar outro cátion para fora. É aí que mora a diferença entre os tipos celulares: as células principais trocam sódio por um íon potássio e as células intercaladas, por um íon hidrogênio. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 17 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED O rim é incrível, não é mesmo? Tudo no rim se interliga – algo que foi feito no início do túbulo gera um efeito no final dele. É complicado de entender e a gente precisa ler mais de uma vez para memorizar! Não se preocupe, isso aconteceu comigo, acontece com você e com todo mundo! É difícil, mas a gente consegue! Vamos deixar o Mapa Mental como resumo abaixo para você gravar melhor: Glomérulo TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL • Absorção da maior parte das substâncias • Íons: sódio + fósforo + bicabornato • Moléculas: aminoácidos + ácido úrico + glicose ALÇA DE HENLE • Bomba NKCC2: absorção sódio + potássio + cloro • Absorção paracelular e magnésio • Local de ação dos diuréticos de alça • Concentra a medura renal para reabsorção passiva de água no néfron distal TÚBULO CONTORCIDO DISTAL • Bomba NaCl: absorção sódio + cloro + magnésio • Hipercalciúria: perda de cálcio na urina • Local de ação dos diuréticos tiazídicos DUCTO COLETOR • Absorção de sódio em troca de potássio ou hidrogênio • Troca através do canal ENaC que é influenciado pela aldosterona • Local de ação dos diuréticos poupadores de potássio Figura 9. Resumo da fisiologia tubular. CAI NA PROVA (CERMAM - 2020) Furosemida, diurético usado com frequência no tratamento de diversas patologias. Tem sua ação em qual região do rim? A) Membrana Basal Glomerular. B) Segmento ascendente da alça de Henle. C) Membrana Basal Tubular. D) Túbulo Contorcido Proximal. COMENTÁRIO Agora vamos fazer uma questão para ver se você memorizou o local de ação dos diuréticos! A furosemida é um diurético de alça - o nome já fornece a dica que precisamos para lembrar: ela atua bloqueando a bomba NKCC2 na alça de Henle, mais especificamente no segmento ascendente! Analisando as alternativas, temos: Incorretas as alternativas A, C e D. Correta a alternativa B. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 18 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED (RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO AMAPÁ - 2015) Sobre o uso de diuréticos pode-se dizer: A) Ajudam a controlar quadros de hipeuricemia, principalmente os tiazidicos. B) Diferente das demais classes, a classe dos diuréticos de alça é muito bem tolerada em grandes doses mesmo em pacientes com hipovolemia. C) São raramente utilizados nas síndromes nefróticas. D) Amilorida, triantereno e espironolactona são exemplos de diuréticos poupadores de potássio. E) Todas as anteriores. COMENTÁRIO Vamos direto analisar as alternativas, certo? Incorreta a alternativa A. Há aumento da reabsorção tubular de ácido úrico com o uso de diuréticos tiazídicos, o que pode piorar os casos de hiperuricemia. Incorreta a alternativa B. Os diuréticos de alça possuem o maior efeito diurético, ou seja, podem ocasionar perda hídrica intensa e cursar com hipovolemia. Incorreta a alternativa C. Casos de síndrome nefrótica enquadram-se na categoria de síndromes edemigênicas, ou seja, cursam com aumento do volume corporal total de água. Nesses casos, diuréticos são fundamentais e amplamente utilizados para o controle da volemia. Correta a alternativa D. Todos esses diuréticos atuam no ducto coletor e reduzem a eliminação renal de potássio, ou seja, atuam como diuréticos poupadores de potássio. Incorreta a alternativa E. Letra D correta. (SMS - JOÃO PESSOA - 2015) São alterações metabólicas decorrentes do uso crônico de diuréticos tiazidico, exceto: A) Hipoglicemia. B) Hipomagnessemia. C) Hiponatremia. D) Hiperuricemia. E) Hipertrigliceridemia. COMENTÁRIO Analisando as alternativas, temos: Incorreta a alternativa A. Os diuréticos tiazídicos cursam com HIPERGLICEMIA. Correta a alternativa B. Há perda urinária de magnésio. Correta a alternativa C. A hiponatremia é um efeito relacionado ao uso de tiazídicos. Correta a alternativa D. Há aumento da reabsorção tubular de ácido úrico. Correta a alternativa E. A dislipidemia é um efeito associado ao uso de diuréticos tiazídicos. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 18 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 19 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Glomérulo TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL • Diuréticos osmóticos: manitol, sorbitol e glicerol • Diuréticos inibidores da anidrase carbônica: acetazolamida ALÇA DE HENLE • Diuréticos de alça: furosemida, bumetanida torsemida e ácido etacrínico TÚBULO CONTORCIDO DISTAL • Diuréticos tiazídicos: hidroclorotiazida e clortalidona DUCTO COLETOR • Local de ação dos diuréticos poupadores de potássio: antagonistas da aldosterona (espironolactona e eplerenona) e bloqueadores do canal ENcAC (amilorida e triantereno) Vamos reforçar só mais uma vez os locais de ação dos diferentes diuréticos, combinado? Figura 10. Local de ação dos diuréticos. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 20 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED CAPÍTULO 3.0 ALTERAÇÕES URINÁRIAS Caro(a) aluno(a), acabamos de ver como é o processo de formação da urina e como é feita a reabsorção e a secreção tubulares. Agora, veremos como interpretar o exame de urina e suas alterações – a partir desse ponto teremos mais questões cobradas em provas! Vimos até agora como é o funcionamento tubular e a formação da urina do ponto de vista hidroeletrolítico. Porém, esses não são os únicos elementos presentes no exame de urina: são analisadas características físico-químicas e presença de elementos anormais, ou seja, que não deveriam estar ali no processo de filtração normal. 3.1 EXAME DE URINA Estrategista, vamos primeiro entender o processo de coleta do exame de urina e depois como analisá-lo. 3.1.1 COLETA DE URINA O exame de urina inicia-se com orientações sobre a coleta do mesmo. Recomenda-se a higienização local e desprezar o jato inicial. Na sequência, proceder à coleta com utilização do jato médio da segunda urina da manhã. Na primeira urina, podem haver cilindros decorrentes da lise celular induzida pela estase do material na bexiga, levando a resultados falso-negativos. Deve-se evitar a coleta no período menstrual, pelo risco de contaminação com sangue, e após prática de atividade física extenuante, pois essa está associada à proteinúria induzida pelo exercício. 3.1.2 ANÁLISE DO EXAME DE URINA A urina é formada pelo excesso de água, íons e toxinas do corpo, sendo que o que é essencial é reabsorvido no sistema tubular e não é eliminado na urina. Os componentes fisiológicos eliminados são aqueles que estão em excesso no corpo, como íons (sódio, potássio, magnésio, fósforo e cálcio), água e toxinas (exemplo: ureia e creatinina). Além disso, algumas células podem estar presentes em pequenas quantidades, como leucócitos e hemácias (quando estão em níveis muito elevados também significam condições anormais!). O exame de urina pode ser chamado de diferentes formas, a depender da região do país em que estamos: urina tipo I, sumário de urina ou EAS (Elementos Anormais e Sedimentos). Não importa qual é sua referência, as características analisadas são sempre as mesmas! No exame de urina, são analisadas, em TODAS as amostras, as características físicas, bioquímica e microscopia urinária. Veremos a seguir cada uma dessas características individualmente. A análise física consiste na avaliação de cor, aspecto, densidade e pH. • Cor: a cor normal da urina varia de amarelo-claro a amarelo-escuro ou âmbar.Condições patológicas cursam com urina avermelhada (casos de hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria, alto consumo de beterraba ou uso de fenazopiridina), marrom (bilirrubinúria ou ingestão de caroteno), rosa (cristalúria maciça por ácido úrico) ou roxa (pacientes sondados com infecção por Proteus mirabilis ou Klebsiella spp. na maior parte dos casos). A excreção urinária de porfirina (que ocorre na porfiria) está associada à urina escurecida, principalmente após exposição solar, que pode deixar a urina em tom avermelhado, marrom ou até mesmo púrpura. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 20 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 21 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED As causas da coloração diferenciada da urina são mais cobradas em provas de R3. Para o R1, é importante estar atento a casos clínicos que indiquem urina avermelhada no diagnóstico de síndromes glomerulares (hematúria) ou rabdomiólise (mioglobinúria). • Aspecto: límpido (urina normal) ou turva (associada a condições patológicas diversas com aumento de células, cristais ou bactérias). • Densidade: avalia a diluição urinária. Casos de acentuada diluição (1.000-1.003) são compatíveis com diabetes insipidus; diluição semelhante à do plasma (1.010) pode ocorrer em casos de prejuízo da concentração urinária como na necrose tubular aguda; e uma alta concentração urinária pode estar presente nos casos de pré-renal ou mediante ação de um agente osmótico. Vamos colocar a tabela a seguir apenas como um lembrete de como interpretar as variações da densidade urinária: Densidade urinária Densidade Significado Patologia associada 1.000-1.003 Diluição excessiva: muita água na urina Diabetes insipidus 1.010 Concentração semelhante à do plasma Necrose tubular aguda Doença renal crônica > 1.020 Concentração excessiva, pouca água na urina ou presença de agente de alta osmolaridade Pré-renal Presença de agente osmótico Tabela 1. Análise da densidade urinária. Maiores detalhes acerca dessas patologias complexas são abordados em capítulos específicos sobre “Distúrbios do sódio” e “Lesão renal aguda”, assim como as questões sobre o tema! • pH: o pH normal da urina varia de 5,5 a 6,5 e reflete a presença de íons hidrogênio na urina. Existem situações em que o pH urinário está alterado, seja para baixo ou para cima. As patologias que caem em provas e que cursam com alterações do pH urinário serão abordadas no módulo sobre “Distúrbios ácido- básicos”. • Bioquímica: além dos itens já especificados acima (cor, aspecto, densidade e pH), também avaliamos glicose, proteína, cetonas, urobilinogênio, bilirrubinas, esterase leucocitária, hemepigmentos e nitrito. Cada um desses exames pode se correlacionar com situações clínicas diversas e traz um significado patológico em geral. No exame de urina normal, esses elementos estão ausentes! A tabela a seguir resume as correlações existentes para que você compreenda melhor: Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 22 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Bioquímica urinária Achado positivo Patologia associada Glicose Diabetes mellitus descontrolado Uso de inibidores do SGLT-2 Síndrome de Fanconi Proteína Síndrome glomerular Doença renal crônica Nefropatia diabética Doença de cadeia leve Cetonas Cetoacidose diabética Urobilinogênio ou bilirrubinas Patologia de via biliar ou hepática Nitrito Infecção urinária bacteriana Dieta com poucos vegetais Esterase leucocitária Infecção urinária bacteriana Hemepigmentos Hematúria Rabdomiólise Caro(a) aluno(a), aqui, vemos uma ampla gama de situações clínicas que serão abordadas nos mais diversos módulos: Glomerulopatias, Doença renal crônica, Endocrinologia, Gastroenterologia, Hepatologia e Infectologia. O intuito de expor essa tabela é tornar o tema menos abstrato e facilitar o entendimento, mas essas situações não são cobradas individualmente em provas e sim no contexto de suas respectivas patologias. Assim, os pormenores de cada uma das patologias e as questões acerca do tema serão adequadamente abordados em material específico, combinado? Aqui, gostaria apenas de ressaltar um acometimento específico – a glicosúria. Ela consiste na perda de glicose na urina. Em situações habituais, a glicose é reabsorvida no túbulo contorcido proximal através dos cotransportadores sódio-glicose (chamados de transportadores SGLT: sodium-glucose cotransporter), que absorvem ambos para a circulação, sendo que a excreção de glicose na urina normal é mínima. A glicosúria ocorre em 3 situações clínicas, a saber: • Situações de sobrecarga glicêmica: cursam com aumento da excreção urinária de glicose para tentar reduzir a hiperglicemia e são uma resposta fisiológica do organismo. • Uso de inibidores SGLT2: medicações recentes e inovadoras que inibem a reabsorção de sódio e glicose no túbulo contorcido proximal levando à glicosúria induzida por drogas; • Disfunção primária do túbulo contorcido proximal pela síndrome de Fanconi congênita ou adquirida. Veremos mais detalhes dessa síndrome ao longo deste módulo, não se preocupe! Tabela 2. Interpretação da bioquímica urinária. Sedimentoscopia ou microscopia urinária: consiste na avaliação de hemácias, leucócitos, dismorfismo eritrocitário, cilindros, leveduras, cristais e células. Cada um desses exames pode se correlacionar com situações clínicas diversas. Vamos abordar com mais detalhes o exame da microscopia urinária. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 22 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 23 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED A microscopia urinária pode revelar informações acerca dos componentes celulares: hemácias, leucócitos ou células epiteliais. As hemácias podem apresentar dismorfismo eritrocitário, ou seja, forma irregular que denota dano à estrutura da hemácias quando passa por um capilar glomerular lesado – isso ocorre nos casos de glomerulonefrites! A presença de cilindros hemáticos também denota essa origem glomerular. Quando o dismorfismo é ausente, o sangramento é proveniente do sistema excretor urinário, ou seja, está presente, por exemplo, em casos de litíase ou neoplasia do sistema urinário. Os leucócitos podem ser decorrentes da presença de reação neutrofílica contra microrganismos em casos de infecção urinária; reação inflamatória em situações de glomerulopatias, rejeição ao transplante ou nefrite intersticial aguda e crônica; e contaminação em casos de antissepsia inadequada na coleta. As células epiteliais podem estar presentes em casos de lesões do parênquima renal, como quadros de necrose tubular aguda, nefrite intersticial, rejeição ao transplante e glomerulopatias. Por último, os cristais estão presentes em casos de nefrolitíase ou na presença de certos fármacos, como o aciclovir. Falaremos sobre os cilindros em tópico específico. Caro(a) aluno(a), agora que vimos qual é a composição do exame, vamos deixar ainda mais claro na tabela abaixo o que é avaliado em TODO exame de urina. Essa tabela é importante porque é alvo da maior parte das questões! Exame de urina Análise física Bioquímica Sedimentoscopia Cor Aspecto Densidade pH Glicose Proteína Cetonas Urobilinogênio Bilirrubinas Nitrito Esterase leucocitária Hemepigmentos Hemácias Leucócitos Dismorfismo eritrocitário Cilindros Leveduras Cristais Células Tabela 3. Componentes do exame de urina. Agora, vamos ver algumas questões sobre o tema! CAI NA PROVA (UFPI - 2017) É dado analisado (fornecido) no sumário de urina (EAS, Urina tipo I): A) Enzimúria. B) Proteinúria de Bence Jones. C) Microalbuminúria. D) Mioglobinúria. E) Cetonúria. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 24 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED COMENTÁRIOCaro(a) aluno(a), essa questão cobra os elementos do exame de urina como acabamos de ver. Analisando as alternativas, temos: Incorretas as alternativas A, B, C e D. Esses elementos podem ser encontrados na urina I em situações patológicas. Dessa forma, precisam de avaliação específica. Correta a alternativa E. A bioquímica sempre avalia a presença de cetonas no exame de urina. (HOSPITAL DOS OLHOS DE CONQUITA - 2016) Ao pedirmos um exame de urina “tipo I”, queremos ver a análise do sedimento urinário, além de: A) Flora bacteriana e presença de cilindros. B) Exame bioquímico e presença de cilindros. C) Exame bioquímico e flora bacteriana. D) Exame bioquímico e densidade urinária. COMENTÁRIO Caro(a) aluno(a), essa questão se refere aos componentes de um exame de urina tipo I. Lembra-se dos seus componentes? Analisando as alternativas, temos: Incorretas as alternativas A, B e C. A flora bacteriana e a presença de cilindros já são parte integrante da sedimentoscopia. Correta a alternativa D. O exame bioquímico e a densidade urinária são elementos de todos os exames de urina tipo I, a densidade urinária é componente da análise física da urina. (HOSPITAL DO CÂNCER DE MATO GROSSO - 2016) A análise dos sedimentos e seus elementos urinários nos proporciona uma vasta quantidade de informações com baixo custo e de forma não invasiva. Assinale a alternativa mais correta dentre as abaixo: A) A) A presença de hematúria com dismorfismo eritrocitário, cilindros hemáticos e proteinúria não indicam a presença de glomerulonefrites B) B) A urina para o exame deverá ser coletada do primeiro jato após criteriosa antissepsia local C) C) A piúria como alteração única pode indicar uma infecção no trato urinário D) D) A proteinúria maciça é patognomônica de síndrome nefrítica. COMENTÁRIO Caro(a) aluno(a), essa questão abrange conhecimentos a respeito do exame de urina e da avaliação do sedimento urinário. Analisando as alternativas, temos: Incorreta a alternativa A. As glomerulonefrites são decorrentes de alterações no compartimento glomerular e suas principais manifestações urinárias são proteinúria e hematúria dismórfica. A hematúria secundária à alteração renal glomerular precisa necessariamente apresentar dismorfismo eritrocitário positivo! Isso ocorre porque, em situações normais, não passam hemácias pelo glomérulo. Quando ele está danificado por qualquer razão, há passagem de hemácias, porém essas têm que se espremer para passar pelos capilares glomerulares e, assim, são eliminadas na urina com pequenas deformações – isso é o dismorfismo eritrocitário! Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 25 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Incorreta a alternativa B. O exame de urina deve ser coletado a partir do jato médio da segunda urina da manhã para evitar a presença de cilindros falso-positivos. (CENTRO ESPECIALIZADO OFTALMOLÓGICO QUEIROZ LTDA - CEOQ 2018) O achado de glicosúria isolada em um exame de urina, não associada à hiperglicemia do paciente, sugere alteração em qual segmento renal? A) No túbulo distal. B) Na alça de Henle. C) No tubo coletor. D) No túbulo proximal. Correta a alternativa C. A piúria é definida pela presença de pus na urina, ou seja, presença de leucócitos degenerados. Em geral, esse processo é decorrente de infecções do trato urinário baixo ou alto. Incorreta a alternativa D. A proteinúria maciça está presente nos casos de síndrome nefrótica. COMENTÁRIO Caro(a) aluno(a), essa questão cobra uma anormalidade urinária: glicosúria! Lembra-se das causas de glicosúria? Em um paciente sem hiperglicemia, precisamos pensar em alteração tubular reabsortiva, seja por meio do uso de fármacos (os inibidores do SGLT-2) ou por alteração tubular primária do túbulo contorcido proximal, onde é realizada a reabsorção de glicose! Analisando as alternativas, temos: Incorretas as alternativas A, B e C. Correta a alternativa D. 3.2 CILINDROS Os cilindros são estruturas formadas nos túbulos distais e coletores a partir da precipitação da proteína de Tamm-Horsfall (também denominada uromodulina), que possui o formato cilíndrico. Essas proteínas podem precipitar sozinhas ou associadas a diferentes elementos oriundos dos túbulos renais, como células epiteliais ou hemácias, e denotar diferentes situações clínicas. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 25 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 26 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Caro(a) aluno(a), aqui é importante entender que situação clínica se correlaciona a que tipo de cilindro, pois essa correlação é questão de prova! • Cilindros hialinos: são formados apenas pela proteína de Tamm-Horsfall. Sua precipitação aumenta em situações de aumento da concentração urinária ou redução do pH urinário. Correlacionada à doença renal crônica, pré-renal, síndrome nefrótica, insuficiência cardíaca, febre, exercício intenso ou uso de diuréticos. • Cilindros hemáticos: contêm eritrócitos em sua composição. São decorrentes de hematúria de origem glomerular, portanto correlacionam-se com quadros de glomerulopatias. • Cilindros granulosos: possuem restos de células epiteliais em sua composição e denotam lesão do parênquima renal. Estão presentes em casos de necrose tubular aguda e doença renal crônica. • Cilindros gordurosos/graxos: contêm material lipídico em sua composição. Correlacionam-se com o diagnóstico de síndrome nefrótica, a qual cursa com hipercolesterolemia e lipidúria. Os detalhes mais aprofundados sobre síndrome nefrótica veremos em capítulo específico, combinado? • Cilindros leucocitários: formados por células leucocitárias polimorfonucleares. Estão presentes em situações de infecção urinária, nefrite intersticial aguda e, mais raramente, em glomerulopatias. • Cilindros céreos: possuem esse nome pelo aspecto em cera derretida e são oriundos das células do epitélio renal disfuncional, por isso são dilatados. Indicam disfunção renal, aguda ou crônica. • Cilindros de mioglobina: cilindros pigmentares associados à rabdomiólise. • Cilindros de bilirrubina: cilindros pigmentados associados à hiperbilirrubinemia. • Cilindros de cristais: podem ocorrer em situações de nefrolitíase ou de lesão renal aguda por cristais, como com uso de certas medicações (aciclovir, ciprofloxacino e sulfadiazina). As figuras a seguir indicam alguns exemplos de tipos de cilindros que são vistos na microscopia urinária: Figura 12. Cilindro graxo. Fonte: Shutterstock.Figura 11. Cilindro granuloso. Fonte: Shutterstock. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 27 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Estrategista, realmente são muitos tipos de cilindros para decorar! No entanto, temos os queridinhos das bancas e os que são mais cobrados em provas para você focar mais nesses subtipos! Imagens de cilindros não são questões de prova e expomos aqui apenas para que você entenda como é a estrutura sobre a qual estamos conversando! CILINDROS MAIS COBRADOS EM PROVAS: • Hialinos → Pré-renal ou exercício extenuante; • Graxos ou gordurosos → Síndrome nefrótica; • Céreos → Doença renal crônica ou insuficiência renal aguda; • Granulosos → Necrose tubular aguda. CAI NA PROVA (HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE - 2018) Sobre o exame de urina (Elementos Anormais e Sedimentos – EAS), os cilindros que se formam nos túbulos e caracterizados pela disposição das células numa matriz claramente estruturada, composta pela proteína de Tamm-Horsfall, são encontrados na (s) seguinte (s) condição (ões): A) Após atividades físicas. B) Nas glomerulopatias. C) Nas pielonefrites. D) Na necrose tubular aguda. COMENTÁRIO Caro(a) aluno(a), lembra-se de qual é a situação associada à ocorrência de cilindros hialinos - apenas com a presença da proteína de Tamm- Horsfall na sua composição? Analisando as alternativas, temos: Correta a alternativa A. Após atividadefísica extenuante, em que há sudorese excessiva, há aumento de reabsorção de água e sódio no túbulo renal com aumento da concentração urinária, o que favorece a precipitação da proteína de Tamm-Horsfall e, consequentemente, dos cilindros hialinos. Incorreta a alternativa B. As glomerulopatias apresentam um amplo espectro de apresentação, sendo que, em geral, apresentam cilindros hemáticos, leucocitários ou gordurosos a depender das suas características clínicas. Incorreta a alternativa C. Pielonefrite cursa com aumento de leucócitos na urina e está relacionada a cilindros leucocitários. Incorreta a alternativa D. A necrose tubular aguda cursa com lesão das células do parênquima renal que se desprendem dos túbulos e precipitam na forma de cilindros granulosos. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 27 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 28 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED (UFPR - 2017) O exame de urina e a análise do sedimento urinário são ferramentas que, apesar de sensibilidade e de especificidade geralmente limitadas, fornecem importantes informações quando há correlação clínica adequada. Um achado decorrente de túbulos que sofreram hipertrofia compensatória e que pode ser encontrado na urina de pacientes com doença renal crônica são os cilindros: A) Granulares pigmentados. B) Largos ou céreos. C) Leucocitários. D) Hemáticos. E) Graxos. COMENTÁRIO Caro(a) aluno(a), lembra-se de qual é o tipo de cilindro relacionado à doença renal crônica? Analisando as alternativas, temos: Incorreta a alternativa A. Cilindros pigmentados estão presentes em casos de rabdomiólise (pela mioglobina) ou de hiperbilirrubinemia. Correta a alternativa B. Os cilindros céreos estão presentes em casos de disfunção renal. Incorreta a alternativa C. Relacionados a situações de infecção ou inflamação do trato urinário Incorreta a alternativa D. Presentes em casos de glomerulopatias. Incorreta a alternativa E. Presentes em casos de síndrome nefrótica. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 29 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED CAPÍTULO Estrategista, a nefrite intersticial aguda (também conhecida como NIA) é uma causa rara, porém cada vez mais comum de lesão renal aguda (LRA). Essa entidade se caracteriza pela presença de infiltrado inflamatório no interstício renal, o que é uma reação de hipersensibilidade a determinado agente – na maioria dos casos é um medicamento, mas pode ser de origem autoimune ou infecciosa. Dessa forma, podemos caracterizar a NIA como a “alergia” do rim, que compromete o espaço virtual, o interstício renal (lembra-se da figura no início do capítulo?), pela presença de células inflamatórias nesse espaço renal. Agora, que entendemos o que é a NIA, vamos compreender suas especificidades. As questões de provas costumam cobrar os principais agentes associados, o diagnóstico através do quadro clínico e exames complementares e, mais raramente, o tratamento. As principais drogas associadas à ocorrência de NIA são os antibióticos (em particular os beta-lactâmicos, sulfonamidas, quinolonas e rifampicina), anti-inflamatórios não hormonais (AINHs), inibidores de bomba de prótons, alopurinol, fenindiona e fenitoína. No entanto, virtualmente qualquer medicação pode ocasionar NIA! Quando estivermos diante de um paciente que desenvolveu LRA após a introdução de certo medicamento (exemplo: paciente com dor que recebe AINH ou com infecção urinária que recebe antibiótico), temos o dever de pensar em NIA! O quadro clínico consiste na elevação dos níveis de creatinina associada a manifestações alérgicas renais e sistêmicas. A elevação da creatinina é a caracterização da LRA (se você não se lembra da definição, revise no livro digital de “Lesão Renal Aguda”). As manifestações renais ocorrem, na maior parte das vezes, em poucos dias a semanas após o início da droga. O aumento abrupto da creatinina pode estar associado ou não à redução do débito urinário – cerca de 50% dos casos permanecem com diurese normal. Além disso, temos alterações no exame de urina caraterizadas por proteinúria de origem tubular (ou seja, de pequena a moderada quantidade - em torno de 1g/dia), eosinofilúria, leucocitúria e hematúria (em menor proporção) podem estar presentes. Aluno(a), aqui preste especial atenção à presença de EOSINOFILÚRIA, que é a presença de eosinófilos (células associadas a reações alérgicas de hipersensibilidade) na urina: as duas principais entidades relacionadas a esse achado clínico são NIA e doença renal ateroembólica – grave essa dica de prova! Para saber mais sobre a doença renal ateroembólica, confira nosso conteúdo no livro digital de “Lesão Renal Aguda”. Os sintomas extrarrenais são decorrentes de reação de hipersensibilidade e cursam com febre baixa, rash cutâneo eritematoso e eosinofilia. Essa é a tríade clássica da NIA: febre + rash cutâneo + eosinofilia! No entanto, a ocorrência simultânea da tríade acontece em uma minoria dos casos, portanto não espere ter todos os sintomas para suspeitar de NIA – seja na prova ou na vida real! 4.0 NEFRITE INTERSTICIAL 4.1 NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 29 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 30 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Alguns medicamentos cursam com alterações sistêmicas específicas. Essas alterações são cobradas em provas e você infelizmente precisa estar atento a elas: • Anti-inflamatórios não hormonais: presença de NIA com síndrome nefrótica. Coruja, essa é uma das mais cobradas! Guarde com carinho na sua memória! • Beta-lactâmicos: artralgia, hematúria microscópica e eosinofilúria. • Alopurinol: ocorre mais frequentemente em pacientes portadores de doença renal crônica e está associado a doenças mais graves, como síndrome de Stevens-Johnson. • Rifampicina: pode ocorrer em um dia a vários meses após o início do uso. Pode cursar, em raros casos, com hemólise, trombocitopenia e hepatite. • Fenindiona: associada à ocorrência de hepatite e pode ser fatal. DICA: Esses dois últimos medicamentos são MUITO menos cobrados em provas, então gaste sua memória com os 3 primeiros! Além das medicações, outras condições associadas à NIA são doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico (LES), sarcoidose, síndrome de Sjögren, doença relacionada à IgG-4 e síndrome TINU (que é a abreviação para nefrite túbulo-intersticial com uveíte – doença que acomete rins e olhos!). Causas infecciosas incluem quadros ocasionados por Legionella, leptospirose, tuberculose e citomegalovírus, dentre outros. Caro(a) aluno(a), essas causas são muito menos cobradas em provas – foque nas medicações! Outra característica interessante é a dor lombar secundária à distensão da cápsula renal ocasionada pelo aumento de volume renal em decorrência do edema intersticial. No exame de ultrassom, os rins apresentam-se com tamanho normal ou levemente aumentado. Outro exame complementar que pode ser utilizado é a cintilografia com gálio – esse exame já foi cobrado em provas! O racional do uso do gálio é que ele é captado em processos inflamatórios como a NIA e a evidência da hiperconcentração dessa substância no rim pode corroborar com o diagnóstico de NIA. No entanto, o diagnóstico de certeza é realizado através da biópsia renal, que vai evidenciar o infiltrado inflamatório túbulo-intersticial característico da doença. A figura abaixo ilustra o achado patológico da biópsia renal: Infiltrado inflamatório no interstício renal Se você não lembra como era o rim normal, volte para o início do capítulo e compare as imagens! 😉 igura 13. Infiltrado inflamatório intersticial. Fonte: Shutterstock. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 31 Túbulo-InterstícioRenalNEFROLOGIA Estratégia MED O tratamento preconizado é a suspensão da medicação agressora – essa é a principal conduta! A administração de corticoide pode ser recomendada, porém o benefício ainda é controverso nos estudos e por isso não é formalmente recomendada. Agora vamos fazer um resumo das principais características da NIA: Tríade extrarenal: febre + rash cutâneo + eosinofilia Manifestação renal: LRA + proteinuria + eosinofilúria Principais causas: MEDICAMENTOS Tratamento: suspensão da droga agressora Exame confirmatório: biópsia renal Exame complementar: cintilografia com gálio Figura 14. Resumo sobre nefrite intersticial aguda. Fonte da imagem: Shutterstock. 4.2 NEFRITE INTERSTICIAL CRÔNICA Caro(a) aluno(a), acabamos de ver sobre a nefrite tubulointersticial AGUDA – tema mais recorrente em provas! Agora, vamos conversar sobre a nefrite tubulointersticial CRÔNICA, a NIC, que possui menos questões em provas. A NIC é uma entidade histológica, ou seja, é um padrão de lesão do epitélio renal que possui diversas etiologias diferentes. A definição é pela lesão histológica, que compreende fibrose intersticial, atrofia tubular com dilatações tubulares e infiltrado inflamatório linfomononuclear. Perceba que as alterações são inespecíficas e podem estar presentes na doença renal progressiva de diversas etiologias – isquêmica, glomerular ou com perda de proteínas. No entanto, algumas etiologias são causa de nefrite intersticial crônica primária, ou seja, por lesão inicial desse compartimento. A lesão tubulointersticial crônica primária pode ser causada por obstrução crônica do trato urinário, metais pesados (chumbo, cádmio, mercúrio, arsênio e ouro), medicações (analgésicos, lítio, inibidores de calcineurina, ifosfamida, cisplatina, mesalazina e sulfassalazina), radiação, doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, sarcoidose, síndrome de Sjögren e vasculites), rejeição crônica do transplante, distúrbios metabólicos (hiperuricemia, hipocalemia, hipercalcemia, cistinose e hiperoxalúria), neoplasia hematológicas, nefropatia dos Balcãs e infecções crônicas. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 32 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Ufa, que lista longa! Será preciso gravar todas essas causas? Para a vida real e diagnóstico diferencial é sempre bom checar a lista completa para seu melhor diagnóstico! Para as provas, as causas mais cobradas são: • Obstrução crônica do trato urinário: é a principal causa nas provas e na vida real! • Medicações: lítio, paracetamol e inibidores da calcineurina; • Metais pesados; • Doenças autoimunes; • Neoplasias hematológicas: Mieloma múltiplo. Nos casos de NIC, o comprometimento da função renal pode ser insidioso, caracterizado pelo aumento lento e progressivo da creatinina. As principais manifestações clínicas decorrem da lesão tubular: proteinúria em torno de 1g/dia (exatamente como vimos na NIA – essa é a proteinúria de origem tubular!), leucocitúria discreta, anemia desproporcional à disfunção renal por perda de células intersticiais produtoras de eritropoetina, hipertensão sal-dependente, dificuldade de concentração urinária e perda de substâncias na urina por dificuldade de reabsorção tubular, cursando com aminoacidúria, glicosúria, fosfatúria e acidose metabólica. Vamos rever esse tópico mais a frente, mas a espoliação de tantas substâncias na urina fala a favor de alteração em que porção do túbulo? Você se lembra? Aguarde alguns minutinhos que teremos a resposta no início do próximo tópico! O diagnóstico de certeza também é através da biópsia renal com os achados descritos acima: fibrose intersticial, atrofia tubular com dilatações tubulares e infiltrado inflamatório linfomononuclear – afinal de contas, essa é uma entidade histológica, certo? A investigação etiológica vai depender da causa de base do paciente e vai variar de acordo com cada situação. O tratamento baseia-se na resolução da causa de base, seja ela suspensão da toxina agressora, desobstrução do trato urinário ou tratamento da doença subjacente. Caro(a) aluno(a), vamos dar especial atenção à NIC induzida por analgésicos, que possui algumas especificidades. Essa entidade também é denominada nefropatia analgésica e decorre do uso prolongado e excessivo de analgésicos como paracetamol, aspirina e fenacetina. A nefropatia analgésica era importante causa de doença renal crônica na Europa e Estados Unidos, mas teve redução da incidência após parada da comercialização da fenacetina, cujo metabólito é o acetaminofeno. Em geral, a NIC por analgésicos ocorre após 5 anos de uso diário dessas medicações, ou seja, muito tempo mesmo! Relatos de casos falam do aumento do risco se houver ingesta associada com drogas como a cafeína e a codeína, pois essas podem induzir ao vício. O mecanismo de lesão renal é através de uma lesão isquêmica: há redução do suprimento sanguíneo para o rim decorrente de atividade vasoconstrictora dos analgésicos e que a longo prazo ocasiona calcificação de papila renal e necrose de papila renal com consequente atrofia tubular e fibrose intersticial secundárias à falta de oxigenação. A principal complicação associada a essa condição é a obstrução urinária! Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 32 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 33 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED A imagem típica da calcificação de papila renal pode ser visualizada na figura a seguir: Figura 15. Imagem tomográfica da calcificação de papila renal (seta). O diagnóstico é dado pela combinação da história clínica compatível e imagem tomográfica característica, como vimos acima, sendo que a biópsia renal é menos importante nesses casos. O tratamento consiste na interrupção do uso das medicações agressoras. Um ponto de atenção é que a nefropatia analgésica está associada ao aumento da incidência de neoplasia urotelial e doença aterosclerótica. Estrategista, vamos fazer um resumo rápido do que você precisa saber sobre a nefropatia por analgésicos – isso é o que mais cai em provas e é o que você deve saber: • Lesão renal é decorrente do uso prolongado; • Principais agentes: paracetamol, aspirina e fenacetina; • Padrão de lesão: nefrite intersticial crônica + calcificação de papila + necrose de papila. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 34 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED CAI NA PROVA (FACULDADE DE MEDICINA DO ABC - 2020) Em quadros de Nefrite Intersticial Aguda, a tríade de febre, rash e artralgias é mais relacionada ao uso de: A) Anti-inflamatórios não estereoidais (AINE’s) B) Beta-lactâmicos C) Anticonvulsivantes D) Sulfas COMENTÁRIO Futuro Residente, este tema é chave nas provas: NIA! Você se lembra das especificidades das medicações? Analisando as alternativas, temos: Incorreta a alternativa A. A NIA associada a AINEs cursa tipicamente com síndrome nefrótica. Correta a alternativa B. A meticilina é uma penicilina da classe dos beta-lactâmicos, sendo que a descrição inicial da NIA no enunciado foi nesse contexto, com a tríade de febre, rash cutâneo e artralgias. Incorreta a alternativa C. Pode causar NIA e até quadros mais graves, como síndrome de Stevens-Johnson ou DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms). Incorreta a alternativa D. As sulfas estão presentes em antibióticos e em diuréticos de alça, como furosemida, bumetanida e torsemida. Existe um diurético de alça que não é derivado das sulfonamidas – o ácido etacrínico. Se você estiver diante de um quadro de NIA por diurético de alça, troque o derivado de sulfa por ácido etacrínico! (SUS - SP - 2019) A cintilografia com Gálio é recurso propedêutico indicado na investigação de: A) Nefrites rapidamente progressivas. B) Nefrite intersticial aguda. C) Doença policística. D) Nefropatia de lesõesmínimas. E) Nefropatia por contraste iodado. COMENTÁRIO Aluno(a), essa questão cobra o exame complementar da NIA: cintilografia com gálio! Vamos às alternativas: Incorreta a alternativa A. Nefrites rapidamente progressivas devem ser investigadas com biópsia renal. Correta a alternativa B. A nefrite intersticial é caracterizada por uma reação inflamatória do epitélio renal após exposição a algum medicamento. A cintilografia com gálio apresenta maior captação da molécula desse elemento na presença de inflamação, por isso pode auxiliar no diagnóstico. Incorreta a alternativa C. A doença renal policística é investigada com exame de imagem abdominal - triagem com ultrassonografia e acompanhamento com ressonância magnética. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 34 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 35 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED Incorreta a alternativa D. A nefropatia por lesões mínimas é uma síndrome glomerular caracterizada por quadro de síndrome nefrótica com investigação através de biópsia renal. Incorreta a alternativa E. A nefropatia por contraste iodado é um diagnóstico clínico realizado na elevação dos níveis de creatinina 3 a 5 dias após exposição ao contraste, principalmente em pacientes com fatores de risco (diabéticos e doença renal crônica prévia) e após outras causas de lesão renal aguda serem descartadas. (PSU - MG - 2020) Uma mulher de 28 anos, previamente hígida, foi à UPA no dia 10 de abril de 2019 queixando-se de disúria, dor no flanco direito e febre (38,4ºC). O exame de urina revelou 54 piócitos/campo, 13 hemácias/campo e presença de bastonetes Gram-negativo. Optou-se pelo tratamento ambulatorial com ciprofloxacino. Evoluiu com melhora dos sintomas e da febre após 48h do uso do medicamento. No dia 14 de Abril, retornou à UPA com queixa de prurido generalizado, recidiva da febre e edema de membros inferiores. Ao exame físico, apresentava PA 120/70mmHg, FC 89bpm, FR 17irpm, SpO² em ar ambiente 97%. Edema maleolar bilateral depressível. O restante do exame físico não apresentava anormalidades. Exames de laboratório: Em 10/04/2019: Hb13,1g/dL; LG 15.800/mm³; NS 11.570/mm³; Linf 2.450/mm³; Eos 360/mm³; Plq 178.000/mm³; Creat 1,1mg/dL; Ureia 23mg/dL. Urocultura: Escherichia coli, 100.00UFC/mL, resistente a ampicilina; sensível a ciprofloxacino, nitrofurantoína, cefalexina, ceftriaxona, sulfametoxazol-trimetoprim e amoxicilina-clavulanato. Em 14/04/2019: Hb 13,5g/ dL; LG 11.800/mm³; NS 6.570/mm³; Linf 2.890/mm³; Eos 1.550/mm³; Plaq 160.000/mm³, Creat 2,5mg/dL; Ureia 32mg/dL; K+ 5,2mEq/L. Considerando o diagnóstico mais provável, a conduta imediata MAIS ADEQUADA é: A) Manter o ciprofloxacino e adicionar a hidrocortisona. B) Substituir o ciprofloxacino por ceftriaxona e adicionar a hidrocortisona. C) Substituir o ciprofloxacino por nitrofurantoína. D) Substituir o ciprofloxacino por sulfametoxazol-trimetoprim. COMENTÁRIO Futuro Residente, essa questão aborda o caso de uma paciente jovem e hígida com quadro típico de pielonefrite (dor lombar + febre + disúria), que foi adequadamente tratado com o uso de ciprofloxacino (o exame de urina mostra que a bactéria era sensível e a paciente teve melhora dos sintomas típicos!). No entanto, a paciente apresentou nova piora 4 dias após a primeira visita hospitalar, cursando com prurido, febre, edema, eosinofilia e lesão renal aguda (LRA). O fator “novo” nessa história é o uso de ciprofloxacino – temos que pensar em uma reação à medicação, já que a infecção urinária foi devidamente resolvida! Nessa situação, o diagnóstico mais provável é a nefrite intersticial aguda! Você sabe qual é o tratamento indicado? SUSPENSÃO DA DROGA AGRESSORA – Grave esse conceito! Analisando as alternativas, temos: Incorreta a alternativa A. O tratamento preconizado é a suspensão da medicação agressora – o passo fundamental é suspender o ciprofloxacino. Incorreta a alternativa B. A infecção está controlada no momento, sendo que não há indicação de internação hospitalar para antibioticoterapia endovenosa. Além disso, não seria apropriado imunossuprimir com uso de corticoide uma paciente em tratamento de infecção potencialmente grave. Incorreta a alternativa C. A nitrofurantoína não deve ser utilizada para o tratamento de infecções urinárias complicadas que atingem o trato urinário superior: parênquima renal e ureteres (pielonefrite). Isso porque a nitrofurantoína é uma medicação que se concentra apenas na urina e não atinge nível sérico adequado para combater infecções que atingem o parênquima renal. Dessa forma, só pode ser utilizada para o tratamento de cistites. Correta a alternativa D. O tratamento é a suspensão da droga; deve-se manter o tratamento mais prolongado para a pielonefrite com uma droga com ação adequada: o sulfametoxazol- trimetoprim age no parênquima renal e a bactéria é sensível. Prof. Fernanda Badiani | Curso Extensivo | Junho 2022 36 Túbulo-Interstício RenalNEFROLOGIA Estratégia MED (AMRIGS - 2016) A causa mais comum de doença tubulointersticial crônica é: A) Refluxo vesicoureteral. B) Uso de rifampicina. C) Obstrução prolongada do trato urinário. D) Uso de furosemida. E) Infecção por Corynebacterium diphtheriae. COMENTÁRIO Caro(a) aluno(a), essa questão aborda a doença túbulo-intersticial crônica e suas principais etiologias. Lembra-se do quadro apresentado acima? Vamos às alternativas: Incorreta a alternativa A. O refluxo vesicoureteral pode ser congênito ou adquirido, em que há fluxo retrógrado da urina da bexiga para os rins. Pode estar associada a infecções urinárias de repetição. A fisiopatologia da lesão renal cursa com inflamação e desenvolvimento de cicatrizes renais, além de hiperfiltração glomerular e desenvolvimento de GESF. Dessa forma, a lesão é multifatorial e inclui doença túbulo-intersticial crônica, porém é menos prevalente do que a obstrução urinária. Incorreta a alternativa B. A rifampicina é mais associada à ocorrência de nefrite intersticial aguda, junto com a maioria das medicações. Correta a alternativa C. A obstruções urinárias são inicialmente funcionais e reversíveis, porém, se não for realizado tratamento adequado a tempo, essas alterações se tornam crônicas e irreversíveis, acometendo principalmente o compartimento túbulo-intersticial. Incorreta a alternativa D. A furosemida é mais associada à ocorrência de nefrite intersticial aguda, junto à maioria das medicações. Incorreta a alternativa E. Infecções são uma causa rara de NIC, sendo que o principal agente é o Mycobacterium tuberculosis. (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ - AMP 2017) Você atende no pronto-socorro um homem de 32 anos, com rim único e história de 3 dias de lombalgia irradiada para abdome inferior. Refere ainda náuseas e vômitos associados à dor, principalmente nas últimas 24h. No primeiro dia do quadro foi atendido na unidade municipal de saúde do bairro e, com diagnóstico presumido de Infecção de trato urinário, prescrito amoxicilina. Fez uso de todas as doses do antibiótico, conforme prescrição. Por conta das dores, tomou nestes 3 dias, 5 comprimidos de paracetamol e 4 comprimidos de anti-inflamatório. Devido ao rim único, dosa a creatinina sérica a cada 6 meses. Última dosagem havia sido 15 dias antes com creatinina 0,8 mg/dL. Você repete o exame no pronto-socorro e assusta-se com o atual valor: creatinina 3,1 mg/dL. Enquanto aguarda os demais exames que solicitou, você avalia as possíveis etiologias para a insuficiência renal aguda do paciente. Dentre as hipóteses a seguir, qual a que tem a menor probabilidade de justificar a disfunção renal deste paciente? A) Insuficiência renal aguda pós renal por cálculo ureteral impactado. B) Insuficiência renal aguda pré-renal por depleção. C) Insuficiência renal aguda por paracetamol. D) Nefrite intersticial por beta-lactâmico. E) Nefrite intersticial por AINE. Prof. Fernanda Badiani |
Compartilhar