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Guilherme Rios – Módulo III – p6 1. COMPREENDER A TUBERCULOSE PULMONAR: CONCEITO: → A tuberculose (TB) é causada por microrganismos do complexo Mycobacterium tuberculosis, o qual consiste no: ○ M. tuberculosis: O agente mais comum e importante da doença micobacteriana humana. ○ M. bovis: O qual (como várias outras espécies de micobactérias) é contraído por ingestão de leite não pasteurizado. → Essa doença acomete mais frequentemente os pulmões, embora outros órgãos sejam acometidos em até 1/3 dos casos. → Se adequadamente tratada, a TB causada por cepas suscetíveis aos fármacos é curável na grande maioria dos casos. Se não for tratada, a doença pode ser fatal em 5 anos em 50 a 65% dos casos. EPIDEMIOLOGIA: → Cerca de 10,4 milhões de novos casos de TB ocorreram no mundo em 2016, com aproximadamente 1,7 milhões de mortes relacionadas com TB – quase todas em países de baixa renda. → De modo geral, estima-se que até 10% dos indivíduos infectados acabarão desenvolvendo TB ativa durante a sua vida – metade deles durante os primeiros 18 meses após a infecção. ○ O risco é muito maior entre indivíduos infectados pelo HIV. → Segundo a OMS (2021), a pandemia de covid-19 reverteu anos de progresso no controle da TB. → Estima-se que, em 2020, a TB tenha acometido cerca de 9,9 milhões de pessoas no mundo, sendo responsável por 1,3 milhão de óbitos entre pessoas sem a infecção pelo HIV. → Até 2019, a doença era a primeira causa de óbito por um único agente infeccioso, tendo sido, desde 2020, ultrapassada pela covid-19 (WHO, 2021). → No Brasil, em 2021, foram notificados 68.271 casos novos de TB (32 casos por 100 mil habitantes). → Em 2020, o Brasil, junto com outros 15 países, foi responsável por 93% da redução das notificações da TB no mundo. Essa variação negativa pode ser justificada pelos impactos causados pela pandemia de covid-19 nos serviços e sistemas de saúde (WHO, 2021). OBJETIVOS: 1. Compreender a tuberculose pulmonar (conceito, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento). 2. Entender a tuberculose extrapulmonar (focar em no quadro clínico das principais e tratamento). 3. Elucidar a síndrome consumptiva. Guilherme Rios – Módulo III – p6 → O número de óbitos registrados em 2020 foi de 4.543 (2,1 óbitos por 100 mil habitantes). → Até 2035, o Plano Nacional pelo fim da TB como problema de saúde pública (Governo Federal) tem como objetivo diminuir a incidência de TB para < 10 casos por 100 mil habitantes e < 230 óbitos. → Em 2021, o estado de Sergipe apresentou a incidência de 28,6 casos por 100 mil habitantes. → Dos 59.735 casos novos de TB pulmonar notificados em 2021, 41.904 (70,1%) ocorreram em pessoas do sexo masculino. → Entre as pessoas infectadas, a incidência de TB é mais alta no final da adolescência e no início da idade adulta (as razões disso ainda não foram esclarecidas). → A incidência entre mulheres atinge o seu valor máximo aos 25 a 34 anos de idade. → O risco pode aumentar no indivíduo idoso, possivelmente devido ao ↓ da imunidade e a comorbidades. → A maior parte dos novos casos de TP pulmonar concentrou-se em pessoas autodeclaradas pretas ou pardas. → Em pessoas brancas, a TB segue em declínio em todo o recorte temporal analisado. → Houve uma queda no número de casos de TB registrados em 2020 e 2021, o que provavelmente é um reflexo da pandemia de covid-19. → Entre os anos de 2015 e 2021, o total de casos de TB em populações vulneráveis (p. ex., PPL, PSR, indígenas e imigrantes) apresentou um aumento, variando de 17.442 a 24.710 casos entre 2015 e 2019. Posteriormente a 2019, houve uma queda no número de casos, cujo total atingiu 20.064 casos em 2021 (provavelmente pela pandemia). → A coinfecção TB-HIV entre os casos novos de TB apresentou queda ao longo dos anos, variando de 9,9% em 2012 a 8,3% em 2021. ETIOLOGIA: → A tuberculose pulmonar tem como agente etiológico o Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch). → O M. tuberculosis é um bacilo aeróbio fino, em forma de bastonete, não formador de esporos, neutro na coloração de Gram, mas que, uma vez corado, torna-se ÁLCOOL-ÁCIDO-RESISTENTE (ou seja, não pode ser descorado pelo álcool-ácido por causa do alto conteúdo de ácidos micólicos e outros lipídeos na parede celular). → Na parede celular das micobactérias, os lipídeos (p. ex., ácidos micólicos) estão ligados a arabinolactanos e peptideoglicanos subjacentes. Essa estrutura resulta em uma permeabilidade muito baixa à parede celular, reduzindo, assim, a eficiência da maioria dos antibióticos. → Outra molécula na parede celular das micobactérias, a lipoarabinomanana, está envolvida na interação do patógeno com o hospedeiro e facilita a sobrevida do M. tuberculosis no interior dos macrófagos. → TRANSMISSÃO: Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ O Mycobacterium tuberculosis é transmitido por via aérea, quando a pessoa com TUBERCULOSE, tanto PULMONAR como LARÍNGEA, tosse, fala ou espirra, eliminando bacilos no ambiente e infectando pessoas saudáveis. ○ As gotículas com diâmetro < 5 a 10 μm podem ficar suspensas no ar por várias horas. ○ Os pacientes com TB pulmonar de cultura negativa e TB extrapulmonar são, essencialmente, não infecciosos. ○ A aglomeração em salas pouco ventiladas constitui um dos fatores mais importantes na transmissão de bacilos da TB (contato prolongado em locais fechados). OBS: Como os indivíduos com infecção pelo HIV e TB têm menos tendência a apresentar cavitações, podem ser menos infectantes do que os sem coinfecção pelo HIV. FISIOPATOLOGIA: → DA EXPOSIÇÃO À INFECÇÃO: ○ Algumas das gotículas liberadas pelos pacientes portadores de TB pulmonar ou laríngea podem permanecer suspensas no ar durante várias horas e alcançar as vias aéreas terminais quando inaladas. ○ O risco de transmissão e subsequente aquisição da infecção pelo M. tuberculosis é determinado, principalmente, por FATORES EXÓGENOS. ○ Os fatores de risco para o surgimento da doença ativa após infecção por M. tuberculosis consistem em: • Contato recente com pessoa que apresenta a forma infecciosa da TB (nos 18 meses precedentes) e o ambiente compartilhado no contato. • Comorbidade (p. ex., infecção pelo HIV, diabetes, silicose, imunossupressão, gastrectomia). • Intimidade e duração do contato com um paciente portador de TB. • Grau de infecciosidade do paciente e virulência do microrganismo. • Desnutrição, tabagismo e lesões fibróticas. → DA INFECÇÃO À DOENÇA: ○ O risco de desenvolver a doença após ter sido infectado depende, em grande parte, de FATORES ENDÓGENOS, como: • As defesas imunológicas inatas e não imunológicas do indivíduo. • O nível em que a imunidade mediada por célula isoladamente está funcionando. ○ TB PRIMÁRIA: • Consiste na doença clínica que ocorre diretamente após a infecção. • Normalmente, ocorre em crianças < 5 anos e em indivíduos imunocomprometidos. • Geralmente, não está associada a um alto nível de transmissibilidade, embora possa ser grave e disseminada. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ TB SECUNDÁRIA ou PÓS-PRIMÁRIA: • Consiste na TB originada da reativação de bacilos latentes (podem permanecer anos inativos). • Devido à frequente ocorrência de cavitação, essa forma, normalmente, é mais infectante do que a doença primária. • O risco de a infecção latente da tuberculose (ILTB) evoluir para a doença ativa está diretamente relacionado com o grau de imunossupressão do paciente. ♦ Em termos absolutos, o fator de risco mais potente para a TB entre indivíduos infectados é claramente a coinfecção pelo HIV, que suprime a imunidade celular. → INFECÇÃO E INVAÇÃO DE MACRÓFAGOS: ○ Após inalados, uma pequena quantidade de bacilos (< 10%) consegue ultrapassar as vias aéreas superiores (não sendo expelidos pelas células mucosas ciliadas) e chegar aos alvéolos.○ Ao chegar nos alvéolos, os BAAR que alcançam essa região são fagocitados pelos macrófagos. ○ A ligação de determinados receptores (p. ex., o receptor de manose) regula os eventos pós- fagocíticos, como a fusão fagossomo-lisossomo e a produção de citocina inflamatória. ○ Os bacilos prejudicam a maturação dos fagossomos, através de alguns mecanismos, como: • A lipoarabinomanana (presente na parede dos bacilos) inibe o aumento intracelular de Ca2+ e, como consequência, ocorre comprometimento da via Ca2+/calmodulina (que leva à fusão do fagossomo-lisossomo). Dessa forma, os bacilos podem sobreviver no interior dos fagossomos ao bloquearem a fusão. • O fagossomo do M. tuberculosis inibe a produção de fosfatidilinositol 3-fosfato, não havendo a formação do fagolisossomo que destruiria as bactérias. • Ocorre bloqueio da autofagia pelos fatores bacterianos. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Se os bacilos tiverem sucesso na interrupção da maturação do fagossomo (i. e. a formação do fagolisossomo), ocorre a sua multiplicação, seguida pela lise dos macrófagos e liberação do conteúdo bacilar. ○ Outras células fagocíticas não infectadas são recrutadas para continuar o ciclo da infecção por meio da ingestão dos macrófagos que estão morrendo e de seu conteúdo bacilar, tornando-se, assim, elas próprias infectadas e expandindo a infecção. OBS: Os bacilos são resistentes à lise por complemento. → RESPOSTA DO HOSPEDEIRO, FORMAÇÃO DE GRANULOMA E “LATÊNCIA”: ○ Antes do início de uma resposta imune mediada por células (IMC) adquirida, o M. tuberculosis dissemina-se amplamente através dos vasos linfáticos, espalhando-se para outros locais nos pulmões e outros órgãos e passa por um período de crescimento extenso dentro de macrófagos não ativados imaturos. ○ Outros macrófagos imaturos são recrutados para o granuloma inicial. ○ O M. tuberculosis usa mecanismos de virulência específicos para subverter a sinalização celular do hospedeiro e para evocar uma resposta inicial pró-inflamatória que promove expansão do granuloma e crescimento bacteriano durante essa fase inicial essencial. ○ MECANISMOS DE PRODUÇÃO DO GRANULOMA: • A micobactéria libera uma proteína (ESAT-6) que estimula as células vizinhas aos macrófagos infectados a liberarem uma proteína (metaloproteinases matricial 9 – MPM9) que recruta macrófagos imaturos. ♦ Dessa maneira, ocorre a indução da maturação do granuloma e crescimento bacteriano. • O AMPc da micobactéria estimula o macrófago infectado a liberar TNF-a, resultando em um recrutamento celular pró-inflamatório adicional. ○ As quimiocinas e produtos bacterianos liberados durante a lise celular e infecção dos macrófagos possibilitam o contato entre as células dendríticas e os bacilos. • Essas APC migram para os linfonodos e apresentam os antígenos das micobactérias aos linfócitos T. • Nesse momento a imunidade mediada por células e a humoral se iniciam. OBS: Esses estágios são, normalmente, assintomáticos. → Após cerca de 2 a 4 semanas da infecção, surgem duas respostas do hospedeiro ao M. tuberculosis: 1. RESPOSTA DA IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULA: • Ocorre a ativação de macrófagos, mediados por células T, capazes de matar e digerir os bacilos da TB. • Esses macrófagos ativados agregam-se ao redor do centro da lesão e neutralizam efetivamente os bacilos da TB, sem causar destruição tecidual adicional. Na parte central da lesão, o material necrótico assemelha-se a queijo mole (necrose caseosa). Guilherme Rios – Módulo III – p6 • Existem dois tipos de células são essenciais: Os macrófagos, que fagocitam diretamente os bacilos da TB, e as células T (principalmente linfócitos T CD4+), que induzem proteção por meio da produção de citocinas, especialmente γ-IFN. 2. RESPOSTA DE LESÃO TECIDUAL: • Resulta de uma reação de hipersensibilidade do tipo tardio a vários antígenos bacilares, a qual lesa os tecidos (consiste na base para o teste cutâneo da tuberculina [TCT]). • Essa resposta destrói os macrófagos inativados que contêm bacilos em multiplicação, mas também provoca necrose caseosa dos tecidos acometidos. OBS: O equilíbrio entre as duas que determina as formas de TB que irão surgir subsequentemente. ○ Com o desenvolvimento da imunidade específica e o acúmulo de grandes números de macrófagos ativados no local da lesão primária, formam-se LESÕES GRANULOMATOSAS (tubérculos). • Essas lesões consistem em acúmulos de linfócitos e macrófagos ativados que evoluem para morfologias de células epitelioides e células gigantes. ○ A princípio, a resposta de lesão tecidual pode limitar o crescimento das micobactérias no interior dos macrófagos. ○ A resposta mediada por diversos produtos bacterianos não apenas destrói os macrófagos, como também provoca necrose sólida precoce no centro do tubérculo. • Embora o BAAR possa sobreviver, seu crescimento é inibido dentro desse ambiente necrótico pela baixa tensão de oxigênio e pelo pH baixo. • Nesse estágio, algumas lesões podem cicatrizar por fibrose, com calcificação subsequente, enquanto ocorrem inflamação e necrose em outras lesões, ou podem evoluir. OBS: Apesar da “cicatrização”, os bacilos viáveis podem permanecer adormecidos dentro dos macrófagos ou no material necrótico por vários anos. ○ Granulomas isolados que são formados durante essa fase da infecção podem variar em tamanho e composição celular. • Alguns podem conter a disseminação de micobactérias, enquanto outros, não. OBS: A imunidade mediada por células confere proteção parcial contra a TB. As citocinas secretadas pelos macrófagos alveolares contribuem para as manifestações da doença, a formação dos granulomas e a morte das micobactérias. → HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO TARDIA: ○ Em uma minoria de casos, a resposta de ativação dos macrófagos é fraca, e o crescimento das micobactérias só pode ser inibido por respostas de hipersensibilidade tardia intensificadas, as quais levam à destruição do tecido pulmonar. ○ A lesão tende a aumentar ainda mais e o, no seu centro, o material caseoso se liquefaz. ○ As paredes brônquicas e os vasos sanguíneos são invadidos e destruídos com formação de CAVIDADES. • O material caseoso liquefeito, que contém grande número de bacilos, é drenado por meio dos brônquios. Guilherme Rios – Módulo III – p6 • No interior da cavidade, os bacilos da TB multiplicam-se, espalham-se pelas vias aéreas e são eliminados no ambiente por meio de manobras expiratórias, como tosse e o ato de falar. ○ Nos estágios iniciais da infecção, os bacilos são geralmente transportados por macrófagos até os linfonodos regionais, a partir dos quais têm acesso ao retorno venoso central. • De lá, eles são implantados novamente nos pulmões e também podem se disseminar amplamente pelo corpo, por meio da circulação cardíaca. → PAPEL DOS LINFÓCITOS T: ○ Os macrófagos alveolares, os monócitos e as células dendríticas podem apresentar os bacilos para os linfócitos T, principalmente as células T CD4+ e CD8+. ○ O resultado consiste na ativação e proliferação de linfócitos T CD4+, cruciais na defesa do hospedeiro contra o M. tuberculosis. • Defeitos qualitativos e quantitativos nas células T CD4+ explicam a incapacidade dos indivíduos infectados pelo HIV de conter a proliferação de micobactérias. ○ Os linfócitos T CD4+ ativados podem sofrer diferenciação em células TH1 ou TH2 produtoras de citocinas. • As células TH1 produzem γ-IFN (um ativador dos macrófagos e monócitos) e IL-2. • As células TH2 produzem IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13, podendo também promover a imunidade humoral. OBS: O γ-IFN pode induzir a geração de intermediários reativos de nitrogênio e regular genes envolvidos nos efeitos bactericidas. QUADRO CLÍNICO: → A TB é classificada em pulmonar, extrapulmonar ou ambas. → As manifestações da doença dependem de vários fatores, inclusive da cepa infectante,a qual pode apresentar uma virulência maior ou menor. → TUBERCULOSE PULMONAR PRIMÁRIA: ○ Ocorre poucos dias após a infecção pelo bacilo da TB. ○ Pode ser assintomática ou estar presente com febre e, ocasionalmente, dor torácica pleurítica. ○ Forma frequentemente observada em crianças (IMC imatura) e em indivíduos com comprometimento de imunidade (p. ex., pacientes com HIV e desnutridos). ○ Normalmente as regiões médias e inferiores do pulmão estão mais acometidas. ○ Alguns pacientes desenvolvem eritema nodoso nas pernas ou conjuntivite flictenular. ○ A lesão que se forma após a infecção inicial (nódulo de Ghon) é geralmente periférica e acompanhada de linfadenopatia hilar ou paratraqueal transitória, que pode ou não ser visível na radiografia de tórax padrão. • Na maioria dos casos, a lesão cicatriza espontaneamente e torna-se evidente apenas na forma de um pequeno nódulo calcificado. Guilherme Rios – Módulo III – p6 OBS: COMPLEXO DE GHON → Nódulo de Gohn, com ou sem reação pleural, espessamento e linfadenopatia regional subjacentes. ○ POSSÍVEIS SINTOMAS PRESNTES EM CRIANÇAS E IMUNOCOMPROMETIDOS: • O paciente com TB primária pode evoluir com derrame pleural (2/3), a qual resulta da penetração de bacilos no espaço pleural a partir de um foco subpleural adjacente. • Nos casos graves, o sítio primário aumenta rapidamente, sua parte central sofre necrose, e verifica-se o desenvolvimento de CAVITAÇÃO (TB primária progressiva). • A TB em crianças pequenas é quase sempre acompanhada de linfonodomegalia hilar ou paratraqueal devido à disseminação de bacilos do parênquima pulmonar através dos vasos linfáticos. ♦ Os linfonodos aumentados podem comprimir os brônquios, causando obstrução total com colapso distal, obstrução parcial com sibilo de via aérea de grande calibre ou efeito de movimento de válvula com hiperinsuflação segmentar/lobar. ♦ Os linfonodos também podem romper-se na via aérea com desenvolvimento de pneumonia. ○ Na ausência de uma resposta imune adquirida suficiente, que em geral contém a infecção, pode ocorrer doença disseminada ou miliar. → DOENÇA PÓS-PRIMÁRIA (tipo adulto): ○ Também chamada TB de reativação ou secundária. ○ Pode resultar da reativação endógena de ILTB distante ou infecção recente (infecção primária ou reinfecção). OBS: Estudos apontam que uma grande porcentagem de casos de TB pulmonar no adulto resulta de infecção recente (seja infecção primária ou reinfecção), e não de reativação. ○ Localiza-se, geralmente, nos segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores, onde a tensão de oxigênio média consideravelmente mais alta (em comparação com a das regiões inferiores), o que favorece o crescimento das micobactérias. • Os segmentos superiores dos lobos inferiores também ficam frequentemente acometidos. ○ A extensão do comprometimento por esse tipo de TB pode variar desde pequenos infiltrados até doença cavitária extensa. ○ Com a formação de CAVIDADES, o conteúdo necrótico liquefeito é, em última análise, liberado nas vias aéreas e pode sofrer disseminação broncogênica, resultando em lesões-satélite dentro dos pulmões, que, por sua vez, podem sofrer cavitação. • O comprometimento maciço de segmentos ou lobos pulmonares, com coalescência das lesões, provoca pneumonia caseosa. ○ Enquanto até 1/3 dos pacientes sem tratamento sucumbem à TB pulmonar grave em poucas semanas ou meses após o início da doença (a “consunção galopante” clássica do passado), outros podem sofrer um processo de remissão espontânea ou seguem um curso crônico, progressivamente debilitante (“consunção” ou tísica). Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ No início da evolução da doença, os sinais e sintomas são frequentemente inespecíficos e insidiosos, caracterizando o quadro clássico de: • Tosse, febre vespertina, suor noturno, emagrecimento (>10% do peso em até 6 meses), cansaço/fadiga, anorexia e mal-estar geral. OBS: Embora a febre (normalmente baixa e intermitente) esteja presente em até 80% dos casos, a sua ausência não exclui a TB. ○ A tosse, inicialmente, é improdutiva e limitada à manhã e, mais tarde, acompanhada da produção de secreção brônquica purulenta, algumas vezes com rajas de sangue. ○ A hemoptise pode ocorrer em 20-30% dos casos e é consequente ao rompimento de vasos sanguíneos na parede de uma cavidade. ○ Algumas vezes, surge dor torácica pleurítica em pacientes com lesões parenquimatosas subpleurais ou doença pleural. ○ Alguns casos cursam com baqueteamento digital e palidez. ○ Os achados hematológicos mais comuns consistem em anemia discreta, leucocitose e trombocitose com VHS ↑ e/ou nível de PCR ligeiramente ↑ (inespecíficos). DIAGNÓSTICO: → O SINTOMÁTICO RESPIRATÓRIO (SR), na população geral, é a pessoa que apresenta tosse por três semanas ou mais. Entretanto, em populações consideradas de alto risco (p, ex, PVHIV, PPL, PSR e povos indígenas), considerar tosse de qualquer tempo de duração para a busca ativa. DIAGNÓSTICO CLÍNICO: → Não raramente, a TB pode manifestar-se sob diferentes apresentações clínicas, relacionadas com o órgão acometido, desta forma, outros sinais e sintomas, além da tosse prolongada, podem ocorrer e devem ser valorizados na investigação diagnóstica individualizada. → TUBERCULOSE PULMONAR: ○ Os sinais, sintomas e as manifestações radiológicas dependem do tipo de apresentação da TB. Classicamente, as principais formas de apresentação são a forma primária, a pós-primária (ou secundária) e a miliar. ○ Os sintomas clássicos, como tosse persistente seca ou produtiva, febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento, podem ocorrer em qualquer das três apresentações. ○ TB PULMONAR PRIMÁRIA: • Normalmente, ocorre em seguida ao primeiro contato do indivíduo com o bacilo e, por isso, é mais comum em crianças. • As manifestações clínicas podem ser insidiosas, com o paciente apresentando-se irritadiço, com febre baixa, sudorese noturna e inapetência. • Nem sempre a tosse está presente. • O exame físico pode ser inexpressivo. • Normalmente as regiões médias e inferiores do pulmão estão mais acometidas. Guilherme Rios – Módulo III – p6 • A lesão que se forma após a infecção inicial (nódulo de Ghon) é geralmente periférica e acompanhada de linfadenopatia hilar ou paratraqueal transitória, que pode ou não ser visível na radiografia de tórax padrão. ○ TB PULMONAR PÓS PRIMÁRIA OU SECUNDÁRIA: • Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum no adolescente e no adulto jovem. • Tem como característica principal a tosse seca ou produtiva. • Nos casos em que a tosse é produtiva, a expectoração pode ser purulenta ou mucoide, com ou sem sangue. • Em locais com elevadas taxas de incidência de TB, toda pessoa que procura a unidade de saúde devido à tosse prolongada (busca passiva) deve ter a TB incluída na sua investigação diagnóstica. • A febre vespertina, sem calafrios, não costuma ultrapassar os 38,5°C. • A sudorese noturna e a anorexia são comuns. • O exame físico, geralmente, mostra fácies de doença crônica e emagrecimento, embora indivíduos com bom estado geral e sem perda do apetite também possam ter TB pulmonar. • A ausculta pulmonar pode apresentar diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico (ruído semelhante ao soprar garrafas de vidro - presente apenas quando têm cavitações) ou mesmo ser normal. ○ TB MILIAR: • Refere-se a um aspecto radiológico pulmonar específico, que pode ocorrer tanto na forma primária quanto na forma secundária da TB. • É uma forma grave da doença, que é mais comum em pacientes imunocomprometidos, como pessoas infectadas com HIV em fase avançada de imunossupressão. • A apresentação clínica pode ser aguda ou subaguda, com maior frequência em crianças e em adultos jovens. • De uma forma mais incomum, a TB miliar apresenta-se como doença crônica (idosos) ou mesmofebre de origem obscura, os sintomas como febre, astenia, emagrecimento e tosse ocorrem em 80% dos casos. • O exame físico pode mostrar hepatomegalia (35% dos casos), alterações do sistema nervoso central (30% dos casos) e alterações cutâneas do tipo eritema-máculo-pápulo-vesiculosas (incomum). → TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR: ○ As apresentações extrapulmonares da TB têm seus sinais e sintomas dependentes dos órgãos ou sistemas acometidos. Sua ocorrência aumenta em pacientes coinfectados pelo HIV, especialmente entre aqueles com imunocomprometimento grave. ○ TB PLEURAL: • É a forma mais comum de TB extrapulmonar em pessoas NÃO infectadas pelo HIV. • Ocorre mais em jovens e cursa com dor torácica do tipo pleurítica. • A tríade astenia, emagrecimento e anorexia ocorre em 70% dos pacientes, e febre com tosse seca, em 60%. Guilherme Rios – Módulo III – p6 • Eventualmente, simula pneumonia bacteriana aguda. • Nos pacientes com maior tempo de evolução dos sintomas pode ocorrer dispneia. • O líquido pleural tem características de exsudato, predomínio de linfócitos e baixo rendimento tanto da pesquisa de BAAR (<5%) quanto da cultura (<15%). • Níveis elevados de adenosina deaminase (ADA) no líquido pleural têm sido aceitos como critério diagnóstico de TB. • A cultura para TB do escarro induzido é positiva em até 50% dos pacientes, mesmo sem outra alteração visível na radiografia de tórax além do derrame pleural. ○ EMPIEMA PLEURAL TUBERCULOSO: • É consequência da ruptura de uma cavidade tuberculosa para o espaço pleural e, por isso, além de líquido no espaço pleural, muitas vezes ocorre também pneumotórax secundário à fístula broncopleural. • Clinicamente, é indistinguível de um empiema pleural por bactéria comum. • Diferentemente do que ocorre na TB pleural, o rendimento da baciloscopia direta e da cultura para TB no líquido do empiema tuberculoso é alto. ○ TB GANGLIONAR PERIFÉRICA: • É a forma mais frequente de TB extrapulmonar em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) e em crianças, sendo mais comum abaixo dos 40 anos. • Cursa com aumento subagudo, indolor e assimétrico das cadeias ganglionares cervicais anterior e posterior, além da supraclavicular. • Em PVHIV, o acometimento ganglionar tende a ser bilateral, associado com maior comprometimento do estado geral. • Ao exame físico, os gânglios podem apresentar-se endurecidos ou amolecidos, aderentes entre si e aos planos profundos, podendo evoluir para flutuação e/ou fistulização espontânea, com a inflamação da pele adjacente. • O diagnóstico é obtido por meio de aspirado por agulha e/ou ressecção ganglionar, para realização de exames bacteriológicos e histopatológicos. • A biópsia de gânglio pode cursar com fístula no pós-operatório. ○ TB MENINGOENCEFÁLICA: • É responsável por 3% dos casos de TB em pacientes não infectados pelo HIV e por até 10% em PVHIV. • A meningite basal exsudativa é a apresentação clínica mais comum e é mais frequente em crianças abaixo dos seis anos de idade. • Clinicamente, pode ser subaguda ou crônica (sinais e sintomas com duração superior a quatro semanas). • Na forma subaguda, cursa com cefaleia holocraniana, irritabilidade, alterações de comportamento, sonolência, anorexia, vômitos e dor abdominal associados à febre, fotofobia e rigidez de nuca por tempo superior a duas semanas. Guilherme Rios – Módulo III – p6 • Eventualmente, apresenta sinais focais relacionados a síndromes isquêmicas locais ou ao envolvimento de pares cranianos (pares II, III, IV, VI e VII), podendo-se evidenciar sinais de hipertensão intracraniana. • Na forma crônica, o paciente evolui várias semanas com cefaleia, até que o acometimento de pares cranianos faz o médico suspeitar de meningite crônica. • Ocorre doença pulmonar concomitante em até 59% dos casos. • Outra forma de TB do sistema nervoso central é a forma localizada (tuberculomas). ♦ Nessa apresentação, o quadro clínico é o de um processo expansivo intracraniano de crescimento lento, com sinais e sintomas de hipertensão intracraniana, sendo que a febre pode não estar presente. ○ TB PERICÁRDICA: • Tem apresentação clínica subaguda e geralmente não se associa à TB pulmonar, embora possa ocorrer simultaneamente com a TB pleural. • Os principais sintomas são dor torácica, tosse seca e dispneia. • Muitas vezes, a dor não se manifesta como a dor pericárdica clássica. • Pode haver febre, emagrecimento, astenia, tontura, edema de membros inferiores, dor no hipocôndrio direito (congestão hepática) e aumento do volume abdominal (ascite). • Porém, raramente a TB pericárdica evolui com sinais clínicos de tamponamento cardíaco. ○ TB ÓSSEA: • É mais comum em crianças (10% a 20% das lesões extrapulmonares na infância) ou em pessoas entre a quarta e a quinta década de vida. • Atinge mais a coluna vertebral e as articulações coxofemoral e do joelho, embora possa ocorrer em outros locais. • A TB de coluna (mal de Pott) é responsável por cerca de 1% de todos os casos de TB e até 50% de todos os casos de TB óssea. ♦ Ela afeta mais comumente a coluna torácica baixa e a lombar e seu quadro clínico apresenta-se com a tríade dor lombar, dor à palpação local e sudorese noturna. ○ TB CUTÂNEA: • É dividida entre as manifestações que correspondem à inoculação do Mycobacterium tuberculosis na pele (TB cutânea) e as manifestações que correspondem a uma reação cutânea de hipersensibilidade. • A presença do bacilo na lesão cutânea (TB cutânea) pode se apresentar clinicamente como TB primária de inoculação, TB verrucosa, TB coliquativa (ou escrofuloderma), lúpus vulgar, goma tuberculosa, TB cutânea miliar aguda, TB orificial e tuberculides obrigatórias. • As reações de hipersensibilidade devido à presença do bacilo de Koch no organismo, mas não no local da lesão, são a vasculite nodular (eritema endurado de bazin) e o eritema nodoso. ○ TB DE INTESTINO: • Acomete a região ileocecal e/ou a região jejunoileal em 75% dos casos, embora possa ocorrer também no cólon ascendente, apêndice, duodeno e retossigmóide. ○ TB DE GLÂNDULAS ENDÓCRINAS: Guilherme Rios – Módulo III – p6 • As suprarrenais são as glândulas mais acometidas. • Na TC de abdômen, a visualização de uma adrenal aumentada sugere doença granulomatosa (que aumenta a glândula em até 87% dos casos) ou tumor. ○ TB GENITURINÁRIA: • Pode acometer qualquer parte do TGU. • Há predomínio de sintomas locais. • Até 75% dos pacientes apresentam anormalidades na radiografia torácica sugerindo doença pulmonar prévia ou concomitante. • Os sintomas mais comuns incluem: ♦ Poliúria, disúria, nictúria, hematúria e dor no flanco ou abdominal. OBS: Quando a doença é assintomática, normalmente, os pacientes só a descobrem após o desenvolvimento de lesões destrutivas graves dos rins. DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO: → A pesquisa bacteriológica é de importância fundamental em adultos, tanto para o diagnóstico quanto para o controle de tratamento da TB. → Os resultados bacteriológicos positivos confirmam a tuberculose ativa em pacientes com quadro clínico sugestivo de TB e em sintomáticos respiratórios identificados através da busca ativa. → EXAME MICROSCÓPICO DIRETO - BACILOSCOPIA DIRETA: ○ Por ser um método simples e seguro, deve ser realizado por todo laboratório público de saúde e pelos laboratórios privados tecnicamente habilitados. ○ A pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente – BAAR, pelo método de Ziehl-Nielsen, é a técnica mais utilizada em nosso meio. ○ A baciloscopia do escarro, desde que executada corretamente em todas as suas fases, permite detectar de 60% a 80% dos casos de TB pulmonar em adultos, o que é importante do ponto de vista epidemiológico, já que os casos com baciloscopia positiva são os maiores responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão. ○ Em crianças, a sensibilidade da baciloscopiaé bastante diminuída pela dificuldade de obtenção de uma amostra com boa qualidade. ○ INDICAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA BACILOSCOPIA DE ESCARRO: • No sintomático respiratório, durante estratégia de busca ativa • Em caso de suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar, independentemente do tempo de tosse. • Para acompanhamento e controle de cura em casos pulmonares com confirmação laboratorial. ○ MÉTODO DE REALIZAÇÃO: • A baciloscopia de escarro deve ser realizada em duas amostras: Uma por ocasião do primeiro contato com a pessoa que tosse e outra, independentemente do resultado da primeira, no dia seguinte, com a coleta do material sendo feita preferencialmente ao despertar. Guilherme Rios – Módulo III – p6 OBS: Nos casos em que houver indícios clínicos e radiológicos de suspeita de TB e as duas amostras de diagnóstico apresentarem resultado negativo, podem ser solicitadas amostras adicionais. • A baciloscopia de outros materiais biológicos também está indicada na suspeição clínica de TB extrapulmonar. ○ RESULTADO DO EXAME: • A baciloscopia positiva e quadro clínico compatível com TB FECHAM O DIAGNÓSTICO e autorizam o início de tratamento da TB. OBS: É importante lembrar, contudo, que outros microrganismos podem ser evidenciados na baciloscopia direta e essa possibilidade deve ser considerada na interpretação de casos individualizados. OBS: O diagnóstico de certeza bacteriológica só é obtido com a CULTURA (que é o padrão ouro) e/ou testes moleculares. ○ LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE BACILOSCOPIA DE ESCARRO: ○ LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE BACILOSCOPIA DE OUTROS MATERIAIS: → TESTE RÁPIDO MOLECULAR PARA TUBERCULOSE (TRM-TB): ○ O TRM-TB está indicado, prioritariamente, para o diagnóstico de tuberculose PULMONAR e LARÍNGEA em adultos e adolescentes. ○ O TRM-TB é um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado para: 1. Detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis. 2. Triagem de cepas resistentes à rifampicina pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real. ○ O teste apresenta o resultado em aproximadamente duas horas em ambiente laboratorial, sendo necessária somente uma amostra de escarro. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ A sensibilidade do TRM-TB em amostras de escarro de adultos é de cerca de 90% sendo superior à da baciloscopia, o teste também detecta a resistência à rifampicina, com uma sensibilidade de 95%. ○ Aa sensibilidade do TRM-TB para o diagnóstico em crianças (<10 anos de idade) é menor que a apresentada para adultos (66%). A evolução do conhecimento sobre o TRM-TB na TB pediátrica mostrou que a sua utilização ainda é limitada na infância. ○ INDICAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DO TRM-TB: • Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes. • Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes de populações de maior vulnerabilidade • Diagnóstico de TB extrapulmonar nos materiais biológicos já validados. • Triagem de resistência à rifampicina nos casos de retratamento. • Triagem de resistência à rifampicina nos casos com suspeita de falência ao tratamento da TB. ○ CONTRAINDICAÇÕES: • Como também pode detectar bacilos mortos ou inviáveis, o TRM-TB não deve ser utilizado para diagnóstico nos casos de retratamento (reingresso após abandono e recidivas). • Nesses casos, o diagnóstico da TB deve ser feito com baciloscopia de escarro e cultura para micobactérias, seguida do teste de sensibilidade antimicrobiano (TS) para verificação de resistência aos fármacos, e o TRM-TB poderá ser utilizado apenas para triagem da resistência à rifampicina. ○ AMOSTRAS RECOMENDADAS PARA REALIZAÇÃO DO TRM-TB: • Escarro; Escarro induzido; Lavado broncoalveolar; Lavado gástrico; Líquor; Gânglios linfáticos e outros tecidos. ○ POSSÍVEIS RESULTADOS E SUAS INTERPRETAÇÕES: OBS: Todos os exames (baciloscopia, TRM-TB ou cultura) deverão ser realizados, preferencialmente, na mesma amostra de escarro. Caso o volume seja insuficiente, deve-se coletar uma segunda amostra. Para confirmação da resistência à rifampicina por meio do TRM-TB (segundo exame), deve-se realizar nova coleta. → CULTURA PARA MICOBACTÉRIA, IDENTIFICAÇÃO E TESTE DE SENSIBILIDADE: Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ A CULTURA é um método de elevada especificidade e sensibilidade no diagnóstico da TB. Nos casos pulmonares com baciloscopia negativa, a cultura do escarro pode aumentar em até 30% o diagnóstico bacteriológico da doença. ○ Os métodos para cultura de micobactérias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura sólidos e líquidos. • Os meios de cultura mais comumente utilizados são os sólidos à base de ovo, Löwenstein- Jensen e Ogawa-Kudoh. ♦ Eles têm a vantagem de serem de menor custo e de apresentarem um baixo índice de contaminação. ♦ A desvantagem do meio sólido é o tempo de detecção do crescimento bacteriano, que varia de 14 a 30 dias, podendo estender-se por até oito semanas. • O meio líquido é utilizado nos métodos automatizados disponíveis no Brasil, entre eles MGit, no qual o tempo de resultado varia entre 5 a 12 dias, quando positivo; e 42 dias, quando negativo. ○ A identificação da espécie é feita por métodos bioquímicos e fenotípicos ou por meio de técnicas moleculares. ○ INDICAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA CULTURA MICOBACTERIANA: • Locais com acesso ao TRM-TB: ♦ Todo caso com diagnóstico de TB por meio de TRM-TB deverá realizar cultura e TS, independentemente de apresentar ou não resistência à rifampicina. ♦ Todo caso com suspeita de TB com TRM-TB negativo, com persistência do quadro clínico, deverá realizar cultura e TS. • Locais sem acesso ao TRM-TB: ♦ Nos locais onde não há a disponibilidade do TRM-TB, o diagnóstico da doença será realizado por meio da baciloscopia, ou seja, será necessária a coleta de duas amostras de escarro, conforme já descrito. ♦ Além disso, a cultura deverá ser realizada independentemente do resultado da baciloscopia para todos os casos com suspeita de TB. ♦ A cultura é realizada em apenas uma das amostras coletadas. ♦ A cultura e o TS poderão ser realizados em meio sólido ou líquido, de acordo com a disponibilidade local. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM: → RADIOGRAFIA DE TÓRAX: ○ É o método de imagem de escolha na avaliação inicial e no acompanhamento da TB pulmonar. Nela podem ser observados vários padrões radiológicos sugestivos de atividade de doença, como cavidades, nódulos, consolidações, massas, processo intersticial (miliar), derrame pleural e alargamento de mediastino. → INDICAÇÕES PARA A RADIOGRAFIA DE TÓRAX: ○ A radiografia de tórax deve ser solicitada para TODO paciente com suspeita clínica de TB pulmonar. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Juntamente com as radiografias de tórax, sempre devem ser realizados exames laboratoriais (baciloscopias, cultura e/ou teste rápido molecular) na tentativa de buscar o diagnóstico bacteriológico. ○ O exame radiológico em pacientes com diagnóstico bacteriológico tem como principais objetivos excluir outra doença pulmonar associada, avaliar a extensão do acometimento e sua evolução radiológica durante o tratamento. → CLASSIFICAÇÃO DOS ACHADOS: → TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE TÓRAX: ○ A TC do tórax é mais sensível para demonstrar alterações anatômicas dos órgãos ou tecidos comprometidos e é indicada na suspeita de TB pulmonar quando a radiografia inicial é normal, e na diferenciação com outras doenças torácicas, especialmente em pacientes imunossuprimidos. → ACHADOS DA TUBERCULOSE PULMONAR EM EXAMES DE IMAGEM: ○ TB PRIMÁRIA: • Opacidade parenquimatosa (nódulo ou consolidação), denominada foco primário ou nódulo de Ghon. ♦ Decorrente do processo inflamatório granulomatoso. • Em adultos, a forma primária acomete mais os lobos superiores, enquanto queem crianças não há essa predileção. • Cavidades, consolidações, nódulos, massas ou opacidades retículo-nodulares. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ♦ Ocasionadas pela progressão para necrose caseosa, eliminação do material necrótico e disseminação broncogênica a partir do foco inicial. • Linfonodomegalias hilares e/ou alargamento do mediastino. ♦ Geralmente, são linfonodos maiores que 2 cm, com áreas de baixa atenuação central associadas a um aumento de atenuação perinodal, correspondendo a focos de necrose caseosa central. OBS: A associação do nódulo de Ghon e linfonodomegalias hilares é denominada complexo de Ranke. • Atelectasias. ♦ Ocasionadas pela obstrução brônquica parcial ou total pelo aumento dos linfonodos mediastinais. • Derrame pleural e pericárdico. ♦ Ocasionados pela presença de bacilos ou proteínas do bacilo que sofrem disseminação ou contato anatômico com determinadas estruturas. • A TB miliar é caracterizada por opacidades retículo-micronodulares difusas de distribuição randômica. ♦ São decorrentes da disseminação hematogênica do Mycobacterium tuberculosis pelo parênquima pulmonar. ○ TB PÓS-PRIMÁRIA: • Nódulos, massas e consolidações. • Cavitações únicas ou múltiplas com paredes geralmente espessas na fase ativa da doença. • Bandas, calcificações e retração do parênquima após a cura de cavitações. • Espessamento da parede brônquica. • Aspecto de “árvore em brotamento”. • Atelectasias. DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO: → A avaliação histológica de fragmento de tecido obtido por biópsia é um método empregado na investigação das formas pulmonares que se apresentam radiologicamente como doença difusa e nas formas extrapulmonares. → Além do granuloma, a análise histológica pode também buscar bacilos no fragmento de tecido. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: → A TB deve ser incluída no diagnóstico diferencial dos casos de febre de origem indeterminada, síndrome consumptiva, pneumonias de resolução lenta e em todo paciente com tosse prolongada sem causa conhecida. → FORMA PULMONAR: Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Na forma pulmonar, o diagnóstico diferencial deve ser feito principalmente com silicose, infecções fúngicas, neoplasias, infecções bacterianas, outras micobacterioses, doenças autoimunes, embolia pulmonar, entre outras. → FORMA PLEURAL: ○ Os linfomas representam o principal problema no diagnóstico diferencial na TB pleural, uma vez que em ambos há exsudados linfocíticos em pacientes com faixas etárias próximas, história clínica semelhante e, frequentemente, com adenosina deaminase (ADA) em níveis superiores a 40 u/l. No entanto, os linfomas raramente apresentam-se com derrame pleural sem envolvimento de outras estruturas torácicas e/ou extratorácicas, com exceção dos linfomas primários de cavidade, que são raros. Geralmente são observados alargamento de mediastino na radiografia de tórax e linfonodomegalias na tomografia computadorizada de tórax. Nesses casos, exames citológicos do líquido pleural associados a técnicas de imunofenotipagem conduzem, com relativa segurança, ao diagnóstico etiológico. ○ A ADA é produzida por linfócitos e monócitos e encontra-se elevada nas doenças nas quais essas células estão ativadas. Na TB pleural, o diagnóstico diferencial (ADA > 40 u/l) deve incluir, além do linfoma, o empiema e a artrite reumatoide. → FORMA GANGLIONAR: ○ Na forma ganglionar, o diagnóstico diferencial da TB deve ser feito com doenças linfoproliferativas; outras micobactérias (complexo Mycobacterium avium-intracellulare, Mycobacterium scrofulaceum, Mycobacterium kansasii, Mycobacterium bovis, Mycobacterium haemophilum); infecções bacterianas; infecções fúngicas, como histoplasmose e criptococose, especialmente em pacientes imunocomprometidos; toxoplasmose e sarcoidose. → FORMA MENINGOENCEFÁLICA: ○ Por ter apresentação inespecífica, a TB meníngea deve incluir, entre os diferenciais, outras infecções bacterianas, fúngicas ou virais do SNC. Outras causas de meningite, como neoplasias, sarcoidose e lúpus eritematoso sistêmico, também devem ser consideradas. O diagnóstico radiológico diferencial inclui a criptococose meníngea, sarcoidose, linfomas, metástases e encefalite por citomegalovírus. → FORMA OSTEOARTICULAR: ○ Na TB óssea, o principal diferencial deve ser feito com artrite séptica ou osteomielite causadas por outros patógenos como Staphylococcus aureus e Brucella melitensis, criptococose, histoplasmose e Guilherme Rios – Módulo III – p6 etiologias não infecciosas como osteossarcoma, mieloma múltiplo, linfoma não Hodgkin, histiocitose X, doença de paget e outras neoplasias ósseas. TRATAMENTO: → A tuberculose é uma doença curável em praticamente todos os casos, em pessoas com bacilos sensíveis aos medicamentos antituberculose, desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e que haja a adequada operacionalização do tratamento. → Para o sucesso do tratamento da tuberculose, é fundamental que o profissional de saúde acolha o usuário no serviço de saúde, desde o diagnóstico até a alta. A abordagem humanizada e o estabelecimento de vínculo entre profissional de saúde e usuário, com escuta de saberes, dúvidas, angústias e a identificação de vulnerabilidades, auxiliam tanto no diagnóstico como na adesão ao tratamento. → O paciente deve ser orientado, de forma clara, quanto às características clínicas da TB e do tratamento ao qual será submetido. Informações referentes aos medicamentos, consequências do uso irregular, eventos adversos, controle de contatos e duração do tratamento devem ser fornecidas desde o primeiro contato com o paciente. → BASES BACTERIOLÓGICAS E FARMACOLÓGICAS: ○ Os medicamentos anti-TB, em geral, interferem no sistema enzimático do bacilo ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial para o seu crescimento. ○ Os fármacos só atuam quando há atividade metabólica, ou seja, bacilos em estado de latência não são atingidos pelos medicamentos, mas são destruídos pelo sistema imunológico. → A atuação dos medicamentos anti-TB difere conforme o metabolismo bacilar. ○ Na população intramacrofágica, agem os fármacos que melhor se difundem no meio intracelular e em pH ácido (p. ex., rifampicina, pirazinamida e etambutol). ○ Nas lesões caseosas fechadas, o fármaco mais efetivo é a rifampicina, sendo a ação da isoniazida mais lenta e demorada. ○ Na lesão cavitária, a rifampicina, isoniazida e estreptomicina são muito efetivas e atuam em pH neutro. Guilherme Rios – Módulo III – p6 → ESCOLHA DO MELHOR ESQUEMA DE TRATAMENTO: ○ Levando-se em consideração o comportamento metabólico e a localização do bacilo, o esquema terapêutico anti-TB, para ser mais efetivo, deve atender a três grandes objetivos: ○ TER ATIVIDADE BACTERICIDA PRECOCE: • A atividade bactericida precoce é a capacidade de matar a maior quantidade de bacilos, o mais rapidamente possível, sendo medida pela velocidade com que são mortos. • Em geral, após duas a três semanas de tratamento com esquema anti-TB que contenha fármacos com atividade bactericida precoce, ocorre significativa diminuição da capacidade de transmissão de bacilos pelos indivíduos doentes. • Os medicamentos com maior atividade bactericida precoce são a isoniazida, estreptomicina e rifampicina. ○ SER CAPAZ DE PREVENIR A EMERGÊNCIA DE BACILOS RESISTENTES: • Para a prevenção da seleção de bacilos resistentes e a efetiva cura da doença, é necessária a utilização de esquemas terapêuticos com associação de diferentes medicamentos que agirão sobre os bacilos sensíveis e nas diversas populações de bacilos naturalmente resistentes, uma vez que bacilos resistentes a um medicamento podem ser sensíveis a outro. • O etambutol é bacteriostático e é estrategicamente associado aos medicamentos mais potentespara prevenir a emergência de bacilos resistentes ○ TER ATIVIDADE ESTERILIZANTE: • A atividade esterilizante é a capacidade de eliminar todos os bacilos presentes no indivíduo, seja nas cavidades pulmonares, no interior das lesões caseosas fechadas ou no interior dos macrófagos, e é definida pela proporção de recidivas que ocorrem após o término do tratamento. • Os medicamentos com maior poder esterilizante são: Rifampicina e pirazinamida → ESQUEMAS DE TRATAMENTO PARA A TUBERCULOSE: Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ O esquema de tratamento da tuberculose é padronizado, deve ser realizado de acordo com as recomendações do Ministério da saúde e compreende duas fases: a intensiva (ou de ataque), e a de manutenção. ○ FASE INTENSIVA: • Tem o objetivo de reduzir rapidamente a população bacilar e a eliminação dos bacilos com resistência natural a algum medicamento. • Uma consequência da redução rápida da população bacilar é a diminuição da contagiosidade. Para tal, são associados medicamentos com alto poder bactericida. ○ FASE DE MANUTENÇÃO: • Tem o objetivo de eliminar os bacilos latentes ou persistentes e a redução da possibilidade de recidiva da doença. • Nessa fase, são associados dois medicamentos com maior poder bactericida e esterilizante, ou seja, com boa atuação em todas as populações bacilares. ○ No Brasil, o esquema básico para tratamento da TB em adultos e adolescentes é composto por QUATRO fármacos na FASE INTENSIVA e DOIS na FASE DE MANUTENÇÃO. ○ A apresentação farmacológica dos medicamentos, atualmente em uso, para o esquema básico é de COMPRIMIDOS em doses fixas combinadas com a apresentação tipo 4 em 1 (RHZE) ou 2 em 1 (RH). ○ O esquema básico em crianças (< de 10 anos de idade) é composto por TRÊS fármacos na FASE INTENSIVA (RHZ), e DOIS na FASE DE MANUTENÇÃO (RH), com apresentações farmacológicas individualizadas (comprimidos e/ou suspensão). ESQUEMA BÁSICO: → TRATAMENTO DE ADULTOS E ADOLESCENTES (> 10 ANOS) → 2RHZE/4RH ○ INDICAÇÕES: 1. Casos novos de tuberculose ou retratamento (recidiva e reingresso após abandono que apresentem doença ativa) em adultos e adolescentes (≥ 10 anos de idade). 2. Todas as apresentações clínicas (pulmonares e extrapulmonares), exceto a forma meningoencefálica e osteoarticular. Guilherme Rios – Módulo III – p6 → TRATAMENTO DE TB MENINGOENCEFÁLICA E OSTEOARTICULAR EM ADULTOS E ADOLESCENTES (> 10 anos) → 2RHZE/10RH ○ INDICAÇÕES: 1. Casos novos e retratamento (recidiva e reingresso após abandono) que apresentem doença ativa meningoencefálica e óssea em adultos e adolescentes (≥ 10 anos de idade). OBS: Quando existir concomitância entre a forma meningoencefálica ou osteoarticular e quaisquer outras apresentações clínicas, utilizar o esquema para TB meningoencefálica ou osteoarticular. OBS: Associar com CORTICOSTEROIDES como prednisona (1 a 2 mg/kg/dia) por quatro semanas ou, nos casos graves de TB meningoencefálica, dexametasona injetável (0,3 a 0,4 mg/kg/dia), por quatro a oito semanas, com redução gradual da dose nas quatro semanas subsequentes. OBS: Para evitar sequelas, recomenda-se aos pacientes que a fisioterapia, em casos de tuberculose meningoencefálica, seja iniciada o mais cedo possível. Guilherme Rios – Módulo III – p6 → MODALIDADES DE TRATAMENTO: ○ O tratamento será realizado em regime ambulatorial, preferencialmente em regime de TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO (TDO). A hospitalização é recomendada nos seguintes casos: • TB meningoencefálica. • Intolerância aos medicamentos anti-TB incontrolável em ambulatório. • Estado geral que não permita tratamento em ambulatório. • Intercorrências clínicas e/ou cirúrgicas relacionadas ou não à TB que necessitem de tratamento e/ou procedimento em unidade hospitalar. • Situação de vulnerabilidade social como ausência de residência fixa ou grupos com maior possibilidade de abandono, especialmente se for um caso de retratamento, falência ou multirresistência. → CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO: ○ Deve-se atentar ao fato de que em todos os esquemas de tratamento, os medicamentos deverão ser ingeridos DIARIAMENTE e DE UMA ÚNICA vez. ○ O tratamento das formas extrapulmonares tem a duração de seis meses, exceto as formas meningoencefálica e osteoarticular (12 meses). ○ Em casos individualizados, independentemente da presença de outras morbidades, quando a TB apresentar evolução clínica não satisfatória, o tratamento poderá ser prolongado na sua segunda fase, de quatro para sete meses. • O prolongamento da fase de manutenção deve ser definido, idealmente, na referência secundária da tuberculose. ○ Algumas indicações para a ampliação do tempo de tratamento da segunda fase são: • Pacientes com baciloscopias de acompanhamento negativas, com evolução clínica e/ou radiológica insatisfatórias. • Pacientes com baciloscopia positiva (poucos bacilos) no quinto ou sexto mês de tratamento, isoladamente, com boa evolução clínica e radiológica. ♦ Investigar a possibilidade de TB resistente. • Pacientes com apresentação radiológica evidenciando múltiplas cavidades, especialmente se exibem baciloscopia positiva ao final do segundo mês de tratamento. ♦ Investigar a possibilidade TB resistente. ○ Uma vez iniciado o tratamento, ele não deve ser interrompido, salvo após uma rigorosa revisão clínica e laboratorial que determine mudança de diagnóstico. TRATAMENTO DA TB NA CONCOMITÂNCIA DE INFECÇÃO PELO HIV: O tratamento da TB em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) segue as mesmas recomendações para os não infectados, tanto na utilização dos fármacos quanto na duração total do tratamento. A tuberculose é curável na quase totalidade dos casos também nessa população, porém falhas ou intercorrências ao longo do tratamento podem implicar maior risco de abandonos e óbitos. Guilherme Rios – Módulo III – p6 → REAÇÕES ADVERSAS: ○ A maioria dos pacientes completa o tratamento sem qualquer reação adversa relevante. As reações adversas podem ser divididas em dois grandes grupos: reações adversas “menores”, em que normalmente não é necessária a suspensão dos medicamentos anti-TB; e reações adversas “maiores”, que normalmente causam a suspensão do tratamento. OBS: A frequência das reações adversas “maiores” varia de 3% a 8%. Os fatores de risco mais referidos para o desenvolvimento de tais efeitos são: • Idade (a partir da quarta década). • Dependência química ao álcool (ingestão diária de álcool > 80g). • Desnutrição (perda de mais de 15% do peso corporal). • História de doença hepática prévia. • Coinfecção pelo vírus HIV, em fase avançada de imunossupressão. → As reações adversas mais frequentes ao esquema básico são: Mudança da coloração da urina (ocorre universalmente), intolerância gástrica (40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e dores articulares (4%). OBS: O paciente deve ser orientado da ocorrência dos principais efeitos adversos e da necessidade de retornar ao serviço de saúde na presença de algum sintoma que identifique como possivelmente associado ao uso dos medicamentos. → REAÇÕES ADVERSAS MENORES AOS FÁRMACOS DO ESQUEMA BÁSICO: Guilherme Rios – Módulo III – p6 → REAÇÕES ADVERSAS MAIORES AOS FÁRMACOS DO ESQUEMA BÁSICO: → SEGUIMENTO DO TRATAMENTO EM ADULTOS: ○ O acompanhamento do tratamento consiste nas seguintes atividades: Acompanhamento clínico para todos os casos; controle bacteriológico para os casos pulmonares; e controle radiológico, principalmente quando o exame de imagem tiver sido utilizado como parâmetro auxiliar para o diagnóstico. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ ACOMPANHAMENTO CLÍNICO: Deve ser realizado mensalmente, visando à identificação de queixas, sinais e sintomas que indicam a evolução e/ou regressão da doença após o início do tratamento, o monitoramento dopeso para eventuais ajustes posológicos das medicações e a ocorrência de reações adversas para o adequado manejo. OBS: A oferta do teste de HIV deve ocorrer já no primeiro mês, quando não for possível, realizar durante o tratamento. ○ CONTROLE BACTERIOLÓGICO: É fundamental a realização de baciloscopia mensal nos casos de TB pulmonar para o monitoramento da efetividade do tratamento. • Espera-se a negativação da baciloscopia a partir do final da segunda semana de tratamento. ♦ Entretanto, pacientes podem persistir com baciloscopia positiva sem que isso signifique falha terapêutica. OBS: Pacientes com baciloscopia positiva ao longo do tratamento ou que positivam após negativação devem ser avaliados quanto à adesão, falência e/ou resistência. • O TRM-TB não deve ser utilizado para controle de tratamento, podendo ser realizado somente para investigação da resistência à rifampicina. ○ CONTROLE RADIOLÓGICO: Pode ser realizado após o segundo mês de tratamento, para acompanhar a regressão ou ampliação das lesões iniciais, especialmente nos casos pulmonares com exames bacteriológicos negativos e na ausência de expectoração para controle bacteriológico. • Na vigência de evolução clínica favorável, outro exame radiológico pode ser realizado somente ao final do tratamento. Guilherme Rios – Módulo III – p6 2. ENTENDER A TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR: ASPECTOS GERAIS: → A TB extrapulmonar pode ocorrer em 10 a 40% dos pacientes, com taxas ainda maiores entre pacientes infectados pelo HIV. → Até 66% dos pacientes acometidos pelo complexo TB-HIV podem ter TB tanto pulmonar quanto extrapulmonar ou apenas TB extrapulmonar. → Pode ser acometido qualquer local no corpo, mas os locais mais afetados são (em ordem decrescente de frequência) linfonodos, pleura, trato geniturinário, ossos e articulações, meninges, peritônio e pericárdio. TB NOS LINFONODOS (LINFADENITE TUBERCULOSA): → Apresentação extrapulmonar da TB mais comum (≅ 35% dos casos extrapulmonares). → Particularmente frequente em pacientes HIV positivos e crianças e, em menor quantidade, mulheres (particularmente não brancas). → Manifesta-se na forma de tumefação indolor dos linfonodos, em geral em locais supraclaviculares e cervicais posteriores (afecção historicamente denominada escrófula). → Em geral, os linfonodos são discretos no estágio inicial da doença, mas evoluem, com o tempo, para massa indolor coalescente e podem resultar em um trajeto fistuloso drenando material caseoso. → Em <50% dos casos, ocorre concomitante à TB pulmonar. → Normalmente não manifesta sintomas sistêmicos associados (exceto nos casos HIV positivos). → DIAGNÓSTICO: ○ É estabelecido por biópsia por PAAF (com rendimento de até 80%) ou biópsia excisional. ○ A confirmação bacteriológica é conseguida na maioria dos casos, lesões granulomatosas com ou sem BAAR visível são observadas, e as culturas são positivas em 70 a 80% dos casos. TB PLEURAL: → Corresponde a ≅20 dos casos extrapulmonares. → O derrame pleural isolado, em geral, reflete infecção primária recente, e o acúmulo de líquido no espaço pleural representa uma resposta de hipersensibilidade aos antígenos micobacterianos. → Também pode se originar da disseminação parenquimatosa contígua, como em muitos casos de pleurite que acompanha a doença pós-primária. → A extensão do derrame dependerá da extensão da reatividade, podendo ser pequeno (despercebido e de resolução espontânea) ou grande (sintomático). → Quando presentes, os sintomas mais frequentes são: ○ Febre, dor torácica pleurítica e dispneia. → DIAGNÓSTICO: ○ EXAME FÍSICO: • Derrame pleural → Macicez à percussão e ausência de ruídos respiratórios. Guilherme Rios – Módulo III – p6 • RX de tórax → Derrame (1/3) e lesões do parênquima. ○ TORACOCENTESE: • Verifica a natureza do derrame e faz o diagnóstico diferencial de outras etiologias. • Líquido (exsudato) cor de palha e, às vezes, hemorrágico. ○ A determinação da concentração pleural de adenosina-desaminase (ADA) constitui teste de triagem útil e a TB pode ser excluída se os valores forem muito baixos. ○ PAAF: • Revela granulomas e/ou produz uma cultura positiva em até 80% dos casos. ○ BIÓPSIA PLEURAL (resultado positivo em ≅75% dos casos). → Essa forma responde rapidamente à quimioterapia e pode ter resolução espontânea. TB DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES: → É, quase sempre, uma complicação da TB pulmonar cavitária avançada. → Pode acometer laringe, a faringe e a epiglote. → Os principais sintomas são: ○ Rouquidão, disfonia e disfagia, além de tosse produtiva crônica. → A depender do local acometido, podem ser observadas ulcerações na laringoscopia. → DIAGNÓSTICO: ○ O esfregaço do escarro para BAAR é frequentemente positivo. ○ A BIÓPSIA deve ser realizada para firmar o diagnóstico e afastar os diferenciais (p. ex., carcinoma de laringe, o qual possui características semelhantes, mas costuma ser indolor). TB GENITURINÁRIA: → Pode acometer qualquer parte do TGU. → Há predomínio de sintomas locais. → Até 75% dos pacientes apresentam anormalidades na radiografia torácica sugerindo doença pulmonar prévia ou concomitante. → Os sintomas mais comuns incluem: ○ Poliúria, disúria, nictúria, hematúria e dor no flanco ou abdominal. OBS: Quando a doença é assintomática, normalmente, os pacientes só a descobrem após o desenvolvimento de lesões destrutivas graves dos rins. → TB GENITAL: ○ Geralmente é mais diagnosticada em mulheres do que em homens. ○ Nas mulheres, acomete as tubas uterinas e o endométrio, podendo provocar infertilidade, dor pélvica e anormalidades menstruais. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Nos homens, acomete preferencialmente o epidídimo, produzindo uma massa ligeiramente hipersensível que pode drenar para o exterior por meio de um trajeto fistuloso. Pode haver também desenvolvimento de orquite e prostatite. → DIAGNÓSTICO: ○ O exame de urina fornece resultados anormais em 90% dos casos, revelando piúria e hematúria. • A cultura de três amostras de urina pela manhã fornece o diagnóstico definitivo em quase 90% dos casos. ○ A pielografia intravenosa, bem como a TC ou RM de abdome podem revelar deformidades, obstruções, calcificações e estenoses ureterais, as quais constituem achados sugestivos. → A TB geniturinária responde de modo satisfatório à quimioterapia. TB ESQUELÉTICA: → Na doença osteoarticular, a PATOGÊNESE está relacionada com a REATIVAÇÃO de focos hematogênicos ou com a DISSEMINAÇÃO a partir de linfonodos paravertebrais adjacentes. → Normalmente, as articulações mais acometidas são aquelas que sustentam peso (a COLUNA VERTEBRAL em 40% dos casos, os QUADRIS em 13% e os JOELHOS em 10%). → A TB da COLUNA VERTEBRAL (mal de Pott ou espondilite tuberculosa) acomete, frequentemente, dois ou mais corpos vertebrais adjacentes. ○ Vértebras torácicas superiores → Crianças. ○ Vértebras torácicas inferiores e lombares superiores → Adultos. ○ Na doença avançada pode ocorrer: • Surgimento de cifose (giba) decorrente do colapso dos corpos vertebrais. • Formação de um abscesso “frio” paravertebral. ♦ Na parte superior da coluna, esse abscesso pode crescer e penetrar a parede torácica, ocorrendo na forma de massa de tecido mole. ♦ Na parte inferior da coluna, pode atingir os ligamentos inguinais ou manifestar- se na forma de abscesso do psoas. → OUTROS SINTOMAS E COMPLICAÇÕES: ○ Uma complicação catastrófica do MAL DE POTT é a paraplegia, geralmente decorrente de abscesso ou lesão que comprime a medula espinal. ○ A paraparesia (incapacidade de mover parcialmente os membros) provocada por um grande abscesso representa uma emergência médica, exigindo rápida drenagem. ○ A TB das articulações do quadril, que geralmente acomete a cabeça do fêmur, provoca dor. ○ A TB do joelho provoca dor e tumefação. OBS: Se adoença não for identificada, pode ocorrer destruição das articulações. → DIAGNÓSTICO: ○ A TC ou a RM revelam a lesão característica e sugerem a sua etiologia. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ A aspiração do abscesso ou a biópsia óssea confirmam a etiologia tuberculosa, visto que as culturas são geralmente positivas, e os achados histológicos, muito típicos. ○ Em casos de acometimento articular deve ser realizado o exame do líquido sinovial (biópsia sinovial, cultura do tecido). OBS: Deve-se afastar os diagnósticos diferenciais de tumores e outras infecções. → A TB esquelética responde à quimioterapia, porém os casos graves podem necessitar de cirurgia. MENINGITE TUBERCULOSA: → É observada, com mais frequência, em crianças pequenas, mas também ocorre em adultos, particularmente nos HIV positivos. → Resulta da disseminação hematogênica da TB pulmonar primária ou pós-primária, ou da ruptura de um tubérculo subependimário no espaço subaracnóideo. → São encontradas evidências de lesões pulmonares antigas ou de um padrão miliar na radiografia de tórax (>50%). → MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: ○ Normalmente, a doença manifesta-se, inicialmente, de modo sutil na forma de cefaleia e alterações mentais discretas depois de um pródromo de semanas de febre baixa, mal-estar, anorexia e irritabilidade. ○ A meningite tuberculosa pode evoluir de modo agudo com cefaleia intensa, confusão, letargia, alterações sensoriais e rigidez de nuca. OBS: Apresenta uma evolução mais longa que a da meningite bacteriana (1 a 2 semanas). ○ Como o acometimento meníngeo na base do crânio é pronunciado, a paresia dos nervos cranianos (em particular dos nervos oculares) constitui um achado frequente, e o acometimento das artérias cerebrais pode ocasionar isquemia focal. ○ A evolução final leva ao coma, com hidrocefalia e HIC. OBS: O TUBERCULOMA, manifestação incomum de TB do SNC, manifesta-se na forma de uma ou mais lesões expansivas e, em geral, provoca convulsões e sinais focais. → DIAGNÓSTICO: ○ EXAME FÍSICO: • Kernig e Brudzinski, normalmente, positivos. ○ PUNÇÃO LOMBAR: • Leucocitose e glicose ↓ (entretanto, podem estar normais). • BAAR são observados com pouca frequência no esfregaço direto do sedimento do LCR e a repetição das punções lombares ↑ a taxa de resultados positivos. • A CULTURA DO LCR é diagnóstica em até 80% dos casos e (PADRÃO-OURO). ○ A amplificação automatizada em tempo real do ácido nucleico tem uma sensibilidade de até 80% e é a opção de diagnóstico inicial preferida. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Os EXAMES DE IMAGEM (TC e RM) podem revelar hidrocefalia e ↑ anormal das cisternas da base ou do epêndima. OBS: Se não for diagnosticada, a meningite tuberculosa é sempre fatal. OBS: O tratamento deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico. → A doença responde à quimioterapia, entretanto, são documentadas sequelas neurológicas em 25% dos casos tratados, na maioria dos quais o diagnóstico foi tardio. TB GASTRINTESTINAL: → Forma de TB extrapulmonar incomum. → Possíveis mecanismos patogênicos: ○ Deglutição do catarro (disseminação direta). ○ Disseminação hematogênica. ○ Ingestão de leite não pasteurizado de vaca com TB bovina (maioria dos casos). → Embora qualquer parte do trato gastrintestinal possa ser afetada, o íleo terminal e o ceco constituem os locais mais acometidos. → Sintomas mais comuns: ○ Dor abdominal, tumefação, obstrução, hematoquezia e massa palpável no abdome. ○ Também é comum a ocorrência de febre, perda ponderal, anorexia e sudorese noturna. ○ Quando ocorrem ulcerações e fístulas na parede intestinal, pode-se confundir com doença de Crohn (difícil diagnóstico). ○ A presença de fístulas anais deve levar a uma avaliação de TB retal. → DIAGNÓSTICO: ○ Como a cirurgia é necessária na maioria dos casos, o diagnóstico pode ser estabelecido pelo exame histológico e pela cultura de amostras obtidas durante a cirurgia. → PERITONITE TUBERCULOSA: ○ Ocorre por disseminação direta dos bacilos da TB a partir de linfonodos que sofreram ruptura e de órgãos intra-abdominais (p. ex., TB genital em mulheres) ou por disseminação hematogênica. ○ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • A dor abdominal inespecífica, a febre e a ascite devem levantar a suspeita de peritonite tuberculosa. OBS: A coexistência de cirrose em pacientes com peritonite tuberculosa complica o diagnóstico. ○ DIAGNÓSTICO: • Paracentese: ♦ Líquido exsudativo ↑ [ ] proteínas e leucócitos. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ♦ A taxa de resultados positivos do esfregaço direto e da cultura é relativamente baixa, entretanto, tende a aumentar se houver uma remoção de grande volume ascítico. • Gradiente albumina sérica e albumina do líquido ascítico (GASA): ≤ 1,1 (sugestivo de carcinomatose ou TB peritoneal). • Normalmente, é necessária a realização de biópsia peritoneal (com uma amostra mais bem obtida por laparoscopia) para estabelecer o diagnóstico. TB PERICÁRDICA (PERICARDITE TUBERCULOSA): → Tem sido observada em pacientes idosos em países com ↓ prevalência de TB, bem como em adultos portadores de HIV. → Ocorre por disseminação direta de linfonodos mediastinais ou hilares adjacentes ou por via hematogênica. → Sem tratamento, a TB pericárdica é, geralmente, fatal. → Sintomas: ○ De maneira insidiosa, pode surgir dispneia, febre, dor retroesternal surda e atrito pericárdico. ○ Por fim, ocorre derrame pericárdico em muitos casos (suspeitar de TB nas populações de alto risco, evidência de TB prévia ou se a TC ou RM evidenciar derrame e espessamento ao longo do espaço pericárdico). • Comum haver derrame hemorrágico, embora seja de natureza exsudativa. ○ Os pacientes podem apresentar sinais e sintomas cardiovasculares de tamponamento cardíaco. → DIAGNÓSTICO: ○ Pericardiocentese → Material coletado submetido à avaliação citológica, bioquímica e microbiológica. ○ Cultura e biópsia do pericárdio. TB MILIAR (DISSEMINADA) → Deve-se à disseminação hematogênica dos bacilos da TB. → Pode acometer tanto as crianças (normalmente infecção primária) quanto os adultos (infecção recente ou reativação de antigos focos disseminados). → As lesões consistem, geralmente, em granulomas amarelados de 1 a 2 mm de diâmetro, que lembram sementes de milho. → Se não for diagnosticada, a TB miliar é fatal. → MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: ○ São inespecíficas e multiformes (depende do local de acometimento predominante). ○ Normalmente, os sintomas de apresentação consistem em febre, sudorese noturna, anorexia, fraqueza e perda de peso. ○ Os pacientes podem apresentar tosse e outros sintomas respiratórios devido ao comprometimento pulmonar, bem como sintomas abdominais. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Os achados físicos são: Hepatomegalia, esplenomegalia e linfonodomegalia. ○ O exame oftalmológico pode revelar tubérculos corióideos, que são patognomônicos da TB miliar, em até 30% dos casos. ○ Ocorre meningismo em < 10% dos casos. → DIAGNÓSTICO: ○ Requer um elevado nível de suspeita. ○ ACHADOS RADIOLÓGICOS: • Normalmente, pode ser visualizado na radiografia de tórax um padrão reticulonodular miliar (exceto em pacientes com HIV). • Podem ser observados grandes infiltrados, infiltrados intersticiais (particularmente em pacientes infectados pelo HIV) e derrame pleural. ○ Podem-se observar várias anormalidades hematológicas, como anemia com leucopenia, linfopenia, leucocitose neutrofílica, reações leucemoides, policitemia e CIVD. ○ O esfregaço de catarro, bem como o TCT geralmente são negativos. ○ O lavado broncoalveolar e a biópsia transbrônquica tendem a fornecer confirmação bacteriológica. 3. ELUCIDAR A SÍNDROME CONSUMPTIVA: DEFINIÇÃO: → Sinônimo: Emagrecimento Involuntário. → A síndrome consumptiva pode ser definida como oestado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia. → Quando o emagrecimento ocorre de maneira involuntária geralmente está associado a alguma patologia, demandando avaliação e tratamento. → Para definição da síndrome consumptiva, deve-se levar em consideração a quantidade de peso perdida e o tempo em que a perda ocorreu. ○ Devem ser avaliados sempre de acordo com o seu peso basal anterior ao quadro de emagrecimento involuntário. ○ Considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de > 2% do peso basal em 1 semana, >5% em 1 mês, >7,5% em 3 meses e > 10% em 6 a 12 meses. OBS: Algumas situações devem ser avaliadas de forma específicas, como em IDOSOS, nos quais considera-se síndrome consumptiva em perdas > 5% em 6 a 12 meses e em pacientes portadores de ANOREXIA NERVOSA, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas > 15% em 6 meses. Guilherme Rios – Módulo III – p6 EPIDEMIOLOGIA: → A síndrome consumptiva apresenta incidência semelhante entre os sexos. → Seus principais fatores de risco são: ○ Tabagismo, idade avançada e um autorrelato de “mal estado de saúde”, ou seja, uma saúde prejudicada basalmente. ○ Esses fatores também são associados a um pior prognóstico no emagrecimento, assim como o fator idade (pacientes idosos), deficientes físicos e pacientes com doença sistêmica crônica. → Estima-se que 15-20% de todos adultos > 65 anos terão emagrecimento involuntário se acompanhados e observados por um período de 5 a 10 anos. → As neoplasias malignas configuram-se como as causas mais comuns entre as etiologias, ocorrendo em cerca de 15 a 37% dos pacientes com emagrecimento involuntário. → Em seguida, existem as causas gastrointestinais não malignas e as causas psiquiátricas, ambas representando cerca de 10 a 20% do total. → Mais de 25% dos casos de emagrecimento involuntário não apresentam uma causa definida. FISIOPATOLOGIA: → A perda de peso só ocorrerá se houver: 1. Diminuição do aporte de energia e/ou 2. Aumento do gasto energético e/ou 3. Perda de energia por via urinária ou intestinal. → Em cada patologia predisponente, um desses componentes vai predominar, ou podem estar associados em uma mesma doença. → Cada doença ou grupo de doenças associadas ao emagrecimento involuntário possui seu mecanismo fisiopatológico específico. NEOPLASIAS: → As neoplasias culminam em emagrecimento, normalmente, secundário a anormalidades metabólicas. CONCEITOS IMPORTANTES → CAQUEXIA: É a perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo ou não haver perda de gordura. É o estado mais grave do emagrecimento. → DESNUTRIÇÃO: É a deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não à perda de peso. → SARCOPENIA: É usualmente uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando um déficit funcional no idoso. → DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTEICA (DEP): Ocorre por aporte inadequado de energia associado ou não ao déficit de proteínas. Guilherme Rios – Módulo III – p6 ○ Estado de alto consumo de energia (↑ turnover celular) associado ao hipercatabolismo (estímulo de hormônios catabólicos, como adrenalina e cortisol). → O câncer é uma doença eminentemente inflamatória, portanto há uma grande produção e liberação de citocinas como a TNF-alfa, IL-1, IL-6, as quais são anorexígenas e geram saciedade precoce. → Além disso, as neoplasias podem promover a perda de massa magra, através do estímulo aos processos de lipólise e proteólise. → O sítio específico acometido pela neoplasia também pode gerar mecanismos para o emagrecimento. ○ Cânceres de cabeça e pescoço podem gerar anosmia, ageusia, hiporexia, disfagia. ○ Neoplasias do TGI podem causar náuseas, vômitos, diarreia e má absorção intestinal. → O paciente portador de uma neoplasia não consegue restabelecer o seu peso basal justamente pela conjuntura anorexígena da doença, associada ao estado metabólico de gasto energético acelerado (estímulos de proteólise, lipólise, entre outros). DOENÇAS GASTROINTESTINAIS: → Nesse grupo de doenças, temos como exemplos a úlcera péptica, a doença celíaca e as doenças inflamatórias intestinais. → Tais patologias podem gerar emagrecimento por dor (durante a alimentação, inclusive), disfagia (principalmente em doenças que acometem ao esôfago, como esofagite, acalasia), estado inflamatório sistêmico (semelhante ao abordado no tópico das neoplasias) e perda de nutrientes nas fezes (síndromes disabsortivas). → A clínica dos pacientes com doenças gastrointestinais pode ser caracterizada pela presença de anorexia, dor abdominal, disfagia, odinofagia, saciedade precoce, diarreia, esteatorreia ou sangramento crônico do TGI. DOENÇAS NEUROLÓGICAS: → As doenças neurológicas mais comumente associadas ao emagrecimento involuntário são o AVE, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Demência e Doença de Parkinson. → O mecanismo gerador do emagrecimento depende muito de cada patologia e em qual nível do sistema nervoso ocorre o acometimento. → Porém, de uma forma geral, as doenças neurológicas causam muitas sequelas ou déficits neurológicos permanentes, como alteração da cognição, disfunções motoras (tanto periférica como central, como alteração do aparelho muscular mastigatório) ou mais comumente a disfagia. ○ A DISFAGIA ocorre principalmente associada ao AVE de tronco encefálico, pois é nessa estrutura do SNC em que se encontra o centro da deglutição, na formação reticular bulbar. • Os principais núcleos associados à deglutição são o núcleo do trato solitário (NTS) e o núcleo ambíguo. → Dessa forma, ocorre uma perda de controle do tônus lingual, do reflexo de deglutição, ocorre um enfraquecimento generalizado da musculatura, gerando a disfagia como consequência. DIABETES MELLITUS (DM): → Nessa patologia o mecanismo fisiopatológico é um pouco mais peculiar, pois há um emagrecimento apesar do apetite preservado e, muitas vezes, exacerbado. Guilherme Rios – Módulo III – p6 OBS: Isso ocorre tanto no Diabetes Mellitus quanto no hipertireoidismo. → Há um processo de “fome celular”, estimulando o paciente a se alimentar, que gera uma hiperglicemia associada, pois o paciente continua ingerindo os alimentos mas não há sensibilidade à insulina ou insulina circulante para fazer o transporte da glicose para as células, permanecendo o paciente nesse ciclo, o que justifica as perdas energéticas abundantes. → O quadro clínico clássico, portanto, é de polifagia, poliúria, polidipsia e perda de peso (4 p’s). → Há perda de glicose e nutrientes na urina (aumento da eliminação de urina), levando a uma perda de água (pelo componente osmolar). ○ Essa perda justifica a polidipsia (ingestão de água aumentada) e a polifagia (ingestão de alimentos aumentada). → Além do mecanismo fisiopatológico básico, os pacientes com DM podem vir a emagrecer por um evento secundário, como um AVE ou um IAM. HIPERTIREOIDISMO: → De forma semelhante ao DM, ocorre um estado de hipermetabolismo sistêmico causado pelo aumento do hormônio tireoidiano circulante. ○ Portanto, também se apresenta com um emagrecimento apesar do apetite preservado e/ou exacerbado. → O quadro clínico que será sugestivo de hipertireoidismo em um paciente com síndrome consumptiva pode envolver sintomas como a hiperfagia, palpitação, tremores distais, sudorese quente, insônia, hiperdefecação e presença de bócio. TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: → Os transtornos psiquiátricos ocupam uma grande porcentagem das causas de perda de peso não intencional, podendo corresponder a 10 a 23% dos casos. → Os principais transtornos psiquiátricos associados à síndrome consumptiva são a DEPRESSÃO e os TRANSTORNOS ALIMENTARES. ○ A depressão possui um emagrecimento multifatorial, onde há uma grande sobreposição de causas. ○ Os transtornos alimentares,
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