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DIDÁTICA Diretor-geral Valdir Carrenho Junior Diretor de Operações Paulo Pardo Coordenadora Fabiana Aparecida Arf Organizadora de conteúdo Fabiana Aparecida Arf Professoras Cristiane Lima Sampaio Cleusa Maria Braz Torres de Andrade Mariana Spadoto de Barros Projeto gráfico-editorial, capa e revisão Belaprosa Comunicação Corporativa e Educação Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca da Faculdade Católica) Sumário INTRODUÇÃO ................................................................5 AULA 1: O que é e para que serve a Didática? ..................6 AULA 2: Um pouco de história geral da Didática ..............12 AULA 3: As correntes filosóficas sobre a aprendizagem: o inatismo, o empirismo e o associacionismo ......18 AULA 4: Teorias Pedagógicas focadas em métodos de ensino: o comportamentalismo ......................................23 AULA 5: Teorias Pedagógicas focadas em métodos de ensino: o cognitivismo ...................................................30 AULA 6: Teorias Pedagógicas focadas em métodos de ensino: o socioconstrutivismo .........................................37 AULA 7: As Tendências Pedagógicas Brasileiras: Liberal Tradicional, Liberal Renovada e Liberal Tecnicista ..40 AULA 8: As Tendências Pedagógicas Brasileiras: Progressista Libertadora e Progressista Crítico-Social ..............46 AULA 9: Métodos de Ensino ............................................50 AULA 10: A relação pedagógica em questão: professor, aluno e conhecimento .....................................57 AULA 11: A importância da interação professor e aluno ....63 AULA 12: O planejamento educacional ...........................72 AULA 13: Organizando a prática docente: o plano de ensino........................................................78 AULA 14: Colocando em prática o plano de ensino: o plano de aula ..............................................85 AULA 15: Uma proposta de plano de aula: a sequência didática ..........................................................90 AULA 16: A avaliação escolar .........................................94 CONCLUSÃO .............................................................104 ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................105 REFERÊNCIAS ..............................................................108 Introdução 5 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), você iniciará seus estudos em Didática. Esta é uma disciplina que trata espe- cificamente da matéria-prima do ofício do professor: o ensino e a aprendizagem. Como se aprende? Qual a melhor forma de ensinar? Como organizar minhas aulas? Quais são as finalidades do ensino de determinados conteúdos? Como estabelecer uma boa relação com meus alunos? Tenho clareza quanto os objetivos do ensino de conteúdos escolares? Todas essas questões se- rão exploradas neste material. Mas não se engane: não há respostas prontas. Certas dúvidas persegui- rão o pedagogo por toda a sua vida profissional, já que as respostas variam de acordo com o contexto histórico, social e político em que o processo educativo e o próprio pedagogo estão inseridos. O que a disciplina Didática fará é fornecer elementos para que você pense sua prática pedagógica de maneira a assumir sua responsabilidade técnico-político, inerente à carreira profissional. A palavra didática vem do grego didasko, que significa instruir, ensinar. Foi, porém, o educa- dor checo Comenius (1592 – 1670), no século XVII, quem atribui à didática, por meio de sua obra Di- dática Magna, o sentido “a arte de ensinar”. Você também já deve ter ouvido a palavra “didática” como adjetivo para algo relacionado à educação: livro didático, material didático. Ou como substantivo e sinônimo de técnica de ensino: “Esta professora tem didática! Sabe ensinar!”. Tais sentidos para o conceito de didática cabem nele. Em nosso curso, contudo, vamos apro- fundá-los, pois nos debruçaremos sobre a Didática como disciplina responsável por orientar o pro- fessor acerca de tudo que envolve o processo de ensino, tais como seu objetivo, seus conteúdos, seus métodos. O curso tratará do conceito de Didática e de sua história geral. Em seguida, você estudará as principais concepções sobre a forma de aprender e as propostas de ensino e tendências pedagógicas que podem embasar o processo pedagógico do professor. Trataremos também de alguns métodos de ensino, da relação pedagógica e especificamente da relação professor-aluno. Adentrando a etapa final do curso, discutiremos a importância a as instâncias do planejamento educacional. E, finalizando o curso, discutiremos o processo avaliativo escolar e suas dimensões. É muito importante que você faça a leitura do material e acompanhe as vídeo-aulas, pois são complementares. O material também conterá sugestões que podem ampliar sua visão sobre os assun- tos trabalhados, o que ajudará na efetivação da aprendizagem. Vamos juntos desbravar alguns caminhos destes fenômenos incríveis da ação humana: ensinar e aprender! Aula 1 Aula 1 O QUE É E PARA QUE SERVE A DIDÁTICA? Fonte: Pixabay. O que é e Para que Serve a Didática? 7 Aula 1 Aula 1 1.1 O conceito de Educação Dentre tantas profissões que você poderia ter elegido, você escolheu ser pedagogo: o profissio- nal da educação. Quando falamos de educação, certamente estamos citando um termo amplo que engloba muitas dimensões humanas, individuais e sociais. Abordaremos aqui o conceito de educação - o objeto de conhecimento da Pedagogia. Definir o termo educação é algo complexo, já que o fenômeno educativo – educar e ser educa- do – é multidimensional. Pense comigo: os profissionais que, de alguma forma, estão ligados ao cam- po educacional, como, por exemplo, psicólogos, sociólogos, antropólogos ou profissionais da saúde, se perguntados sobre sua definição de educação, dariam respostas relacionadas a sua área de atuação. Um psicólogo, provavelmente, diria algo relacionado à aprendizagem dos comportamentos, das emo- ções ou mesmo do desenvolvimento dos processos cognitivos. Do mesmo modo, se perguntarmos a uma pessoa que não é do campo educacional “O que é educação?” ou “O que é educar?”, sua resposta basear-se-á em concepções do senso comum, como, por exemplo, ensinar ou aprender sobre boas maneiras, aprender ou ensinar coisas, dizer ou ouvir de alguém o que se deve ou não fazer. De acordo com o dicionário online Michaelis: Senso comum, FILOS: conjunto de ideias, opiniões e pontos de vista de um grande número de pessoas em um determinado contexto social que se estabelecem e impõem como naturais e necessárias, não admitindo grandes questio- namentos nem reflexões; consenso. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=senso Na contemporaneidade, o conceito de educação assume uma identidade muito abrangente, vistos os inúmeros processos nos quais o sujeito está inserido: campos social, cultural, econômico, político, religioso e científico, além das questões psicológicas. Portanto, de acordo com Libâneo (2010, p. 30), “Educação é o conjunto das ações, processos, influências, estruturas que intervêm no desen- volvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos sociais”. Apoiados em Libâneo (2010), então, compreendemos que tudo aquilo que interfere no desen- volvimento integral do ser humano ou de um grupo, que o modifica, é educação. A partir dessa compreensão, qualquer fator, seja natural ou social, que transforma o sujeito, é educação. Assim, po- demos afirmar que existem situações intencionais de educação – em que se há sistematização e pla- nejamento a fim de educar – e situações não-intencionais de educação, em que a educação acontece de forma intuitiva, não-planejada. Como a educaçãose dá em diversos campos da vida, Libâneo (2010) classifica tais situações em três categorias. São elas: Aula 1O que é e Para que Serve a Didática? 8 Aula 1 • Educação informal: ações e influências exercidas pelo meio (ambiente sociocultural), por meio das relações. Ex.: relações familiares. Fonte: Freeimages • Educação não-formal: instituições educativas com certo grau de sistematização e estrutura- ção. Ex.: Meios de comunicação sociais, associações de bairro, museus. Fonte: Freeimages • Educação formal: onde há objetivos educativos explícitos e uma ação educacional institu- cionalizada, estruturada, sistemática (mesmo que fora do ambiente escolar propriamente dito). Ex.: escolas formais, educação profissional, educação de adultos. Fonte: Freeimages O que é e Para que Serve a Didática? 9 Aula 1 Aula 1 É importante saber que a educação formal e a não-formal são sem- pre perpassadas pela educação informal. É função da educação formal considerar, de forma crítica, as diversas influências vindas do ambiente natural e sociocultural de seus alunos. Também a educação formal e não-formal se interpenetram, pois os alunos das escolas formais são também agentes de outras esferas educativas. Assim, o professor deve considerar que o aluno é também participante de outras esferas educativas e traz consigo uma bagagem de conhecimentos. Após entendermos que a educação acontece nas mais variadas esferas sociais (nas famílias, nos grupos sociais, nas instituições educacionais ou assistenciais, nas associações profissionais, sindicais e comunitárias, nas igrejas, nas empresas, nos meios de comunicação de massa, etc.) e assume diferentes formas de organização, é possível agora, compreender, que é ela o objeto de estudo da Pedagogia, isto é, cabe à Pedagogia estudar o fenômeno educativo em sua globalidade, propondo teorias e práticas. Agora sim, caro(a) aluno(a), é possível compreender melhor o que é a Pedagogia e o que faz um pedagogo para só então conseguirmos entender a importância da disciplina Didática. Para entender melhor o conceito de educação não-formal, co- nheça o projeto Curumim, idealizado pelo SESC SP em 1987 e que permanece ativo. Acesse: https://www.sescsp.org.br/online/ artigo/9676_APRENDER+E+BRINCAR+O+QUE+E+O+CU- RUMIM. 1.1.1 A Pedagogia como ciência da educação Alguém já lhe fez a pergunta “O que é Pedagogia?” quando você comentou ter escolhido este curso de graduação? E o que você respondeu? Provavelmente, você respondeu que é o curso que for- ma professores. Mas será que a Pedagogia se restringe ao ensino? No tópico anterior, vimos que a Pedagogia é o campo de conhecimento que estuda a educação. Porém, dentro do universo científico, há muitas disciplinas que têm a educação como um de seus fo- cos de estudo, tais como a psicologia, as ciências sociais e algumas áreas da saúde, entre outras. Então, o que difere a Pedagogia dessas ciências? Essas ciências e muitas outras que estudam a educação o fazem abordando-a a partir de suas próprias perspectivas e métodos. A Pedagogia estuda o ato edu- cativo em si, ou seja, os elementos da ação educativa e sua contextualização. De acordo com Libâneo (2010, p. 38), a Pedagogia analisa, então, “[...] o sujeito que se educa, o educador, o saber e os contextos em que ocorre”. Observe o esquema baseado nessa afirmação: Aula 1O que é e Para que Serve a Didática? 10 Aula 1 Agora você pode responder aos amigos e familiares que a Pedagogia é a ciência da Educação. E que o pedagogo é um especialista em educação, pois, não apenas domina as técnicas de ensino, mas compreende, por meio da teoria pedagógica, a problemática educativa na sua totalidade, além de produzir teoria pedagógica em resposta aos problemas da prática. Por isso é que um pedagogo pode atuar tanto como professor, em sala de aula, na gestão escolar (coordenação pedagógica, direção, su- pervisão e dirigente de ensino), como na organização de projetos educativos em empresas e ONGs, ou dedicando-se à pesquisa acadêmica nas universidades. Concluindo: A Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investi- ga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de inter- venção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao entendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas edu- cativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. (LIBÂNEO, 2010, p. 32-33). E onde entra a Didática nesse contexto? A Didática é uma disciplina da Pedagogia, um ramo de estudo dessa ciência. Vejamos. 1.1.1.1 A Didática como disciplina pedagógica Enfim, chegamos à resposta para a pergunta que dá título à nossa aula: o que é a Didática e para que ela serve? Após entendermos que a educação é todo e qualquer processo em que haja modificação, inten- cional ou não, no desenvolvimento do sujeito e que a Pedagogia é a ciência que estuda esse processo de modificação, analisando todo o contexto em que ele ocorre, é possível inferir que a Didática é um ramo da Pedagogia. Objeto de Estudo da Pedagogia Fonte: A autora O que é e Para que Serve a Didática? 11 Aula 1 Aula 1 A Didática é uma disciplina da Pedagogia. Ela se preocupa, basicamente, com a investigação e a proposição de teorias acerca do ensino. Libâneo (2001) conceitua: A didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. (LI- BÂNEO, 2001, p. 2). A Didática, então, como disciplina da Pedagogia, ajuda o professor na orientação de seu traba- lho, proporcionando a segurança profissional necessária para este árduo ofício. Isto porque o profes- sor, compreendendo as finalidades do ensino, é capaz de selecionar os métodos mais adequados para o sucesso de sua ação educativa. É de primordial importância que você, futuro professor, compreenda que a atividade docente está diretamente ligada com o para que educar (Libâneo, 2001). Isso porque a educação acontece inserida em uma determinada sociedade, composta por grupos sociais diferentes, com visões igualmente distin- tas do sentido da educação. É função do pedagogo compreender as relações de disputa para que se posi- cione criticamente e tenha clareza das finalidades que tem em mente para a educação das crianças. Portanto: Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, como não há concepção de homem e sociedade sem uma competência técnica para realizá-la educacio- nalmente. Por isso, o planejamento do ensino deve começar com propósitos claros sobre as finalidades do ensino na preparação dos alunos para a vida social: que objetivos mais amplos queremos atingir com o nosso trabalho, qual o significado social da matéria que ensinamos, o que pretendemos fazer para que meus alunos reais e concretos possam tirar proveito da escola, etc. As finalidades ou objetivos gerais que o professor deseja atingir vão orientar a seleção e organização de conteúdos e métodos e das atividades propostas aos alunos. Essa função orientadora dos objetivos vai aparecer a cada aula, perpassando todo o ano letivo. (LIBÂNEO, 2001, p. 2-3). Mais adiante, nossas aulas tratarão dos processos relacionados ao ensino e à aprendizagem, como a relação professor-aluno e os métodos de ensino. Antes disso, conheceremos um pouco da história da Didática. O importante sobre a Didática é compreender que, apesar de sua im- portância, não se trata de uma disciplina específica para ensinar técni- cas de ensino ao professor, mas que se propõe a estudar todo o contex- to em que o ensino se dá, com que objetivo ele ocorre, qual conteúdo ele apresenta e como ensiná-lo, considerando o espaço em que ele acontece e as relações desenroladas nesse espaço.É para isso que a Didática serve: para que o professor consiga realizar intencionalmente o seu ofício de ensinar para além do senso puramente prático, de modo que o aluno aprenda de fato. Unidade 1 Aula 2 UM POUCO DE HISTÓRIA GERAL DA DIDÁTICA Fonte: Pexels. Um Pouco de História Geral da Didática 13 Aula 2 Unidade 1 Cordeiro (2007) explica que a palavra didática vem do grego didasko, que significa ensinar ou instruir. Na Grécia antiga, o ensino infantil não acontecia em bancos escolares, com lousa, giz e pro- fessor. Vamos compreender um pouco da história do ensino e da Didática? Segundo Malheiros (2012), muitos autores consideram Platão o primeiro professor de que se ouviu falar. Considerando que Platão nasceu por volta de 427 a. C., as formas e objetivos de ensino mudaram muito nesses aproximadamente 2.500 anos. É importante conhecer o desenvolvimento histórico da Didática para compreender muitas das ideias atuais de educação. Nosso modelo de instrução atual, centra-se, basicamente, em paradigmas europeus de educação. Por isso, centremo-nos neles. Muito da forma de educação da Idade Média (séculos V – XV), de acordo com Malhei- ros (2012), vinha da Antiguidade. As crianças podiam ser dadas, vendidas ou mortas a partir da decisão do pai. Com a expansão do cristianismo, no entanto, a Igreja passou a assumir a tarefa de acolher as crianças, garantindo não a educação integral tal qual pensamos hoje, mas sua sobrevivência (alimentação, vestimenta, higiene). A educação dada era basicamente uma ca- tequização. As corporações medievais, que eram associações de pessoas de uma determinada profissão, também admitiam crianças para que aprendessem um ofício e futuramente fizessem parte da associação. Malheiros (2012) explica ainda que foi a partir do século VI que a Igreja passou a abrir espaços escolares para garantir a formação cristã nas maiores cidades europeias. Nesse momento, não havia um ensino diferenciado que considerasse a maneira própria das crianças aprenderem. A partir dos cinco anos, elas aprendiam juntamente com os adultos. Foi somente com o início da Idade Moderna, no fim do século XV, que os jesuítas criaram a ideia de seriação. As escolas, no formato como conhecemos hoje, são fruto do modelo europeu de escola consolidado a partir do século XVII. Esse século consolida a ideia de professores regentes e grupos mais homogêneos de alunos, separados fisicamente. Foi nesse século que se começou a pensar especificamente em conteúdos, objetivos e métodos de ensino. Vejamos quem deu esse passo. 2.1 Comenius: o “pai” da Didática Costuma-se dizer que a Didática foi fundada no século XVII por um educador da Europa central chamado Comenius (ou Comênio). Nesse século, ele publicou um livro que se chamava Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos (1632). Por que essa obra tornou- se tão importante? Por dois motivos: pelo seu pioneirismo em propor um método universal que orientasse a prática do professor e por influenciar muitas teorias e práticas futuras que busca- riam tornar o ensino efetivo, eficiente, por meio da racionalização das formas de ensinar. Sua obra também é considerada muito relevante porque traz como inovação a aprendizagem do aluno como elemento central na prática educativa, além da ideia da profissionalização do ensino, ou seja, de um conjunto de competências cabíveis ao professor. Aula 2Um Pouco de História Geral da Didática 14 Conheça a obra Didática Magna de Comenius, com tradução do pro- fessor doutor da Faculdade de Letras de Coimbra Joaquim Ferreira Go- mes, publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 2001, que está disponível no formato e-book. Acesse: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf. Comenius foi o primeiro educador a ter a intenção de que os conhecimentos fossem difundidos para todos, segundo princípios e regras do ensino. Libâneo (2013, p. 59) salienta que: Comênio desenvolveu ideias avançadas para a prática educativa nas escolas, numa época em que surgiam novidades no campo da Filosofia e das Ciências e grandes transformações nas técnicas de produção, em contraposição às ideias conservadoras e do clero. O sistema de produção capitalista, ainda incipiente, já influenciava a organização da vida social, po- lítica e cultural. A Didática de Comenius se consolidava com base em alguns princípios norteadores. Vamos conhecê-los? Princípios da Didática de Comenius. Fonte: Adaptado de Libâneo (2013, p. 59-60). Um Pouco de História Geral da Didática 15 Aula 2 Considerada a época dessas ideias, podemos dizer que são uma grande novidade. Embora acreditasse na importância da observação e da experiência dos sentidos, Comenius tinha em seus ideais alguns vestígios comuns do período, como o caráter transmissor do ensino, o método único e o ensino simultâneo. Além disso, considerava que a única forma de aprendizagem seria pela experi- ência sensorial, o que o fez desconsiderar a experiência socialmente acumulada, que faz parte de cada sujeito, ou seja, não é algo a ser descoberto. Mesmo com essas ressalvas, é inegável que Comenius teve uma influência significativa pelo empenho ao desenvolvimento dos métodos mais eficientes de instrução e também pelo desejo de que todas as pessoas fossem beneficiadas pela aquisição dos conhecimentos. No século XVII, mesmo com as influências de Comenius e também nos séculos seguintes, houve ainda a predominância de práticas escolares da Idade Média, como o ensino com foco intelec- tual, verbal e dogmático, com a valorização da memorização e repetição mecânica do ensino. “Nessas escolas não havia espaço para ideias próprias dos alunos, o ensino era separado da vida, mesmo por- que ainda era grande o poder da religião na vida social”. (LIBÂNEO, 2013, p. 60). Ainda de acordo com Libâneo (2013), nesse contexto, transformações intensas se sucederam, gerando avanços significativos na ciência e cultura. Com isso, houve a diminuição do poder da nobre- za e do clero e, consequentemente, a burguesia teve ascensão. Com o seu fortalecimento como classe social, na disputa pelo poder econômico e político com a nobreza, cresceu também a intenção de que o ensino estivesse ligado ao mundo da produção e dos negócios, contemplando o desenvolvimento livre das capacidades e dos interesses de cada um. Outros tratados didáticos, mais focados no desenvolvimento do sujeito, surgem, então. 2.1.1 Rousseau, Pestalozzi e Herbart: o desenvolvimento da Didática Fonte: Pixabay Já no século XVIII, com a ascensão da burguesia, a era moderna começa a se instalar com novas visões de mundo. Jean Jacques Rousseau (1712-1778), um pensador que procurou interpretar esse cenário, propôs outra concepção de ensino e um novo conceito de infância com base nos interesses imediatos da criança. Embora em alguns aspectos possa parecer continuar as ideias anteriores, de- monstrou inovação “quando põe em relevo a natureza da criança e transforma o método num proce- dimento natural, exercido sem pressa e sem livros” (CASTRO, 1991, p. 17). Aula 2Um Pouco de História Geral da Didática 16 As ideias de Rousseau eram as seguintes: • Para preparar a criança para a vida futura, era preciso partir do estudo das coisas que refletiam os seus interesses e necessidades atuais. “Os verdadeiros professores são a natureza, a experiên- cia e o sentimento. O contato da criança com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais”. (LIBÂNEO, 2013, p. 60). • A educação era um processo natural, fundamentada no desenvolvimento interno da criança ou jovem. “As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência natural para se desen- volverem” (LIBÂNEO, 2013, p. 60). Neste ponto, com base em Castro (1991, p. 17), fica nítido que “enquanto Comenius, ao seguir as pegadas da natureza, pensava em domar as paixões das crianças, Rousseau parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade”. Entretanto,cabe ressaltar que Rousseau não colocou em prática tais ideias e também não elaborou uma teoria de ensino. Essa tarefa foi cumprida por outro pedagogo: o suíço Henrique Pestalozzi (1746-1827), que trabalhou até o fim da vida na educação de crianças pobres, em instituições que ele mesmo dirigia. Sobre Pestalozzi, Haydt (2011, p. 15) esclarece que ele: [...] acreditava que o ser humano nascia bom e que o caráter de um homem era formado pelo ambiente que o rodeia. Sustentava que era preciso tornar esse ambiente o mais próximo possí- vel das condições naturais, para que o caráter do indivíduo se desenvolvesse ou fosse formado positivamente. Para ele, a transformação da sociedade iria se processar através da educação, que tinha por finalidade o desenvolvimento natural, progressivo e harmonioso de todas as faculdades e aptidões do ser humano. Pestalozzi valorizava o ensino como meio de desenvolver as capacidades humanas, que envolvem sentimentos, a mente e o caráter. Buscava favorecer os alunos a que desenvolvessem a linguagem, o senso de observação e de análise (de objetos e fenômenos da natureza). Além disso, dava importância à Psicologia infantil, considerando como fonte do desenvolvimento do processo de ensino. Se analisarmos mais profundamente, percebemos em Pestalozzi as sementes da Pedagogia moderna. “Foi ele o primeiro a formular de forma clara e explícita o princípio de que a educação deveria respeitar o desenvolvimento infantil” (HAYDT, 2011, p. 15). Você consegue perceber como são atuais as ideias de Pestalozzi? É importante ressaltar que as ideias que conhecemos, de Comênio, Rousseau e Pestalozzi, influenciaram muitos pedagogos, entre os quais o mais importante foi Johann Friedrich Herbart (1766-1841), um pedagogo alemão que na primeira metade do século XIX teve participação rele- vante na Didática e também nas práticas docentes. Foi considerado (e ainda é) inspiração da peda- gogia conservadora. Segundo Libâneo (2013), é relevante compreender as ideias de Herbart, pois estão presentes até os dias atu- ais nas salas de aula brasileiras. Tal concepção valoriza a aquisição de conhecimentos, direcionados pelo profes- sor, entendido como um “arquiteto da mente”. Cabe ao professor inserir ideias corretas na cabeça dos alunos, de modo que controle o interesse deles. Um Pouco de História Geral da Didática 17 Aula 2 Segundo Haydt (2011, p. 17), Herbart considera que a educação moral decorre da educação intelectual, pois são as ideias que formam o caráter. “O conhecimento produz ideias que moldam a vontade, isto é, o caráter. A este ciclo, conhecimento-ideias-caráter, Herbart chamou de instrução educativa”. Para Herbart, a instrução educativa permite atingir a moralidade, entendida como a fina- lidade da educação. Desse modo, ao instruir o aluno, o professor introduz as ideias que considera relevantes, sendo possível assim dominar a mente do aprendiz. Aproveitando as leis da psicologia do conhecimento, Herbart formulou um método de ensino, estabelecendo os quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos (LIBÂNEO, 2013). Vejamos: • 1º passo - Clareza: é preciso realizar a preparação e a apresentação do conteúdo novo de forma clara e completa; • 2º passo - Associação: é necessário que haja associação das ideias antigas com as novas; • 3º passo - Sistematização: deve ocorrer a sistematização dos conhecimentos com vistas à ge- neralização; • 4º passo - Aplicação: fazer uso dos conhecimentos adquiridos com exercícios. Libâneo (2013) ainda esclarece que posteriormente os seguidores de Herbart acrescentaram mais um passo didático, e tal sequência ainda é muito utilizada atualmente. Os passos, ficaram na seguinte ordem: preparação; apresentação; assimilação; generalização; e aplicação. Assim, a aprendizagem se torna mecânica, por isso não mobiliza a atividade mental do aluno. Além disso, inibe a reflexão e o pensamento independente e a criatividade dele. Vale ressaltar que: O sistema pedagógico de Herbart e seus seguidores — chamados de herbartianos — trouxe esclarecimentos válidos para a organização da prática docente, como por exem- plo: a necessidade de estruturação e ordenação do processo de ensino, a exigência de compreensão dos assuntos estudados e não simplesmente memorização, o significado educativo da disciplina na formação do caráter. Entretanto, o ensino é entendido como repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem compreender o que o professor transmite, mas apenas com a finalidade de reproduzir a matéria trans- mitida. (LIBÂNEO, 2013, p. 62). Até aqui, exploramos a influência de Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Herbart para a Didática e para a educação, de modo geral. Tais autores são considerados referenciais da Didática Tra- dicional. Veremos, nas próximas aulas, quais são as características da concepção tradicional de ensino. Os pensadores citados formularam estratégias que acreditavam ser do- tados de valor universal, ou seja, aplicável a qualquer um, em qual- quer situação. A sequência, apresentada por Herbart, por exemplo, é, até hoje, seguida por muitos professores. Nesse sentido, para tais au- tores, a Didática tem como objetivo divulgar os conteúdos de ensino como fim em si mesmo. É a valorização do conteúdo pelo conteúdo. Valoriza-se a transmissão cultural e se concebe o aluno como um ser passivo e o professor como figura principal do processo ensino-aprendizagem. Unidade 1 Aula 3 AS CORRENTES FILOSÓFICAS SOBRE A APRENDIZAGEM: O INATISMO, O EMPIRISMO E O ASSOCIACIONISMO Fonte: Pixabay. As Correntes Filosóficas Sobre A Aprendizagem: O Inatismo, O Empirismo e O Associacionismo 19 Aula 3 Unidade 1 Você viu, até aqui, que a nossa disciplina se ocupa de investigar os conteúdos de ensino (o que ensinar), os objetivos desse ensino (por que ensinar) e os métodos de ensino (como ensinar), bem como suas finalidades mais amplas, ou seja, qual a importância que o que está sendo ensinado tem para a sociedade, de forma que o aluno efetivamente aproveite a escola como meio de inserção e inte- ração social e econômica. Por isso, é muito importante que você, futuro professor, aproveite o máximo de nossas aulas para que, ultrapassando as ideias de ensino e escola do senso comum, faça boas escolhas, preocupadas realmente com a aprendizagem de seus alunos. Como as pessoas aprendem? Para um pedagogo, a resposta a essa pergunta pode determinar suas escolhas didáticas e relação pedagógica. Por muito tempo, os sujeitos se questionaram - e ainda se questionam - sobre esse assunto. Segundo Malheiros (2012), historicamente, as teorias construídas acerca de como se aprende podem ser agrupadas em três blocos: o inatismo, o empirismo e o associacionismo. 3.1 Como as pessoas aprendem? - O inatismo Como as pessoas aprendem? Para um pedagogo, a resposta a essa pergunta pode determinar suas escolhas didáticas e relação pedagógica. Por muito tempo, os sujeitos se questionaram - e ainda se questionam - sobre esse assunto. Segundo Malheiros (2012), historicamente, as teorias construídas acerca de como se aprende podem ser agrupadas em três blocos: o inatismo, o empirismo e o associacionismo. Fonte: FREEIMAGES O inatismo: parte do princípio de que todas as características que definem o sujeito nascem com ele. Nesta perspectiva, as pessoas nascem com mais ou menos potencialidades. O desenvolvi- mento precede a aprendizagem. Alguns nascem mais desenvolvidos que outros. Essa teoria tem como seu primeiro representante o filósofo Platão (427-347 a.C.). Platão defen- dia que aprender significa desenvolver os dons com os quais as pessoas nascem. Assim, o meio social não tem influência no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Atualmente, quase não há pesquisadores que defendam essa teoria. Isso porque ela foi muita utilizada para justificar atos discriminatórios ao longo do tempo, embasando a ideia de que pais pouco Aula 3 As Correntes FilosóficasSobre A Aprendizagem: O Inatismo, O Empirismo e O Associacionismo 20 instruídos passam essa herança a seus filhos, mesmo que tivessem crescido em outro contexto social, político ou econômico. Muitos grupos étnicos foram discriminados ao longo do tempo por conta, entre outras coisas, dessa ideia. Não há evidências científicas que justifiquem essa teoria. Por se tratar da mais antiga con- cepção de aprendizagem, está ainda presente no imaginário das pessoas. Você certamente já ouviu al- guém – ou mesmo um professor – dizer: “Tal pessoa não nasceu pra isso”. Ou mesmo: “Aquele sujeito consegue realizar tal atividade porque possui um dom”. A maior crítica que se faz a este tipo de crença é que se o sujeito nasce com determinadas características, de forma inata, então, não é possível mudar. O meio, portanto, não interfere no desenvolvimento cognitivo da pessoa. O inatismo acredita que todas as características que definem uma pessoa estão presentes no momento em que esta pessoa nasce. Aprender seria, portanto, estimular características que já existem. (MALHEIROS, 2012, p. 9). 3.1.1 Como as pessoas aprendem? - O empirismo Fonte: ISTOCKPHOTO O empirismo: se opõe completamente ao inatismo, pendendo para o outro extremo. De acor- do com o empirismo, nascemos sem saber nada e que as estruturas cognitivas vão sendo constru- ídas a o longo da vida. Quanto mais experiências vivenciadas, mais informações acumuladas. A aprendizagem acompanha o desenvolvimento, e não vem depois dele. John Locke (1632-1704) se opôs profundamente ao inatismo e entrou para a história como filó- sofo da teoria do conhecimento. Provavelmente, você ouvir falar que a mente humana é uma “tábula rasa”. Foi ele quem deu visibilidade a essa expressão. Isso significa dizer que a cognição humana é uma tela em branco a ser preenchida com informação retiradas de sua própria experiência. Acontece, en- tão, uma aprendizagem “de fora para dentro”, ou seja, o meio constrói o desenvolvimento cognitivo do sujeito. Para Lock, a experiência (empiria) se dá por meio dos sentidos (visão, olfato, paladar, tato). Por meio da apreciação de um objeto, o sujeito constrói o seu conceito. As Correntes Filosóficas Sobre A Aprendizagem: O Inatismo, O Empirismo e O Associacionismo 21 Aula 3 A crítica que se faz ao empirismo tem a ver com a forma de apreensão do conhecimento. Ora, se conhecer é simplesmente entrar em contato com o objeto e descobrir com ele, aprender é, então, apreender, decorar, receber um conteúdo. Assim, descartam-se as questões subjetivas que permitem ao ser humano reconstruir o conhecimento, buscando suas próprias interpretações e respostas. O empirismo acredita que nascemos sem saber absolutamente nada, e que construímos nosso conhecimento por meio das experiências. (MA- LHEIROS, 2012, p. 10). 3.1.1.1 A relação entre empirismo e inatismo Observe o quadro que compara as duas teorias vistas até aqui: Fonte: Barros, 2012, p. 11. Você deve estar se perguntando: inatismo e empirismo não reconhecem a relação entre as pes- soas como ponto importante para a aprendizagem? E a resposta é não; não reconhecem. Ainda segundo Malheiros (2012), foi a partir do início do século XIX que alguns pensadores co- meçaram a considerar e a investigar o impacto do meio e das relações sociais no ensino e na aprendi- zagem. Isso se deu porque a psicologia, no ocidente, começou a se afirmar como disciplina autônoma e a fortalecer ideias acerca da influência das interações sociais na formação do indivíduo, além da noção de que existia um vínculo entre o meio no qual se vivia e o tipo de educação oferecida. A partir de então, novas formas de se conceber a aprendizagem, e também o ensino, passaram a figurar. Unidade 1 Aula 3 As Correntes Filosóficas Sobre A Aprendizagem: O Inatismo, O Empirismo e O Associacionismo 22 3.1.1.1.1 Como as pessoas aprendem? – O associacionismo A partir das descobertas da psicologia que apontavam para uma influência do meio no desen- volvimento humano, as teorias denominadas associacionistas despontaram. • Associacionismo: a educação acontece por meio de um estímulo e de uma recom- pensa. Por exemplo, os pais recompensam seus filhos com uma sobremesa caso estes comam o alimento saudável oferecido durante a refeição. Caso não comam verduras e legumes, não ganham a sobremesa. Dessa forma, o resultado esperado é que o filhos compreendam a relação estabelecida entre o estímulo e a recompensa, entenden- do as consequências positivas e negativas dessa relação, e passem a dar respostas positivas a tais estímulos, mantendo tal comportamento. As ideias associacionistas foram a gênese do comportamentalismo. Você pode se perguntar se aprender depende de algo tão simples e mecânico, como pro- vocar o estímulo adequado para obter a resposta desejada. Pare e pense: quando você era criança, provavelmente sua professora fazia um elogio em seu caderno esperando que você continuasse a aprender e a se esforçar para isso. Entretanto, a carinha feliz ou a estrelinha colada em seu caderno provavelmente tinha pouca influência sobre sua dificuldade de aprender determinados conteúdos. Mesmo assim, séculos depois dessa formulação teórica acerca de como aprendemos aparecer, ainda há pais, professores e psicólogos que se orientam pela concepção associacionista de aprendizagem, mãe do comportamentalismo. “O inatismo, o empirismo e o associacionismo são correntes filosóficas que orientam a forma como se crê que o conhecimento se estabelece. Não são métodos. Os métodos de ensino são os caminhos utilizados para garantir que o outro aprenda.” (MALHEIROS, 2012, p. 12). Baseadas nessas três formas de conceber a aprendizagem, foram desenvolvidas teorias focadas em como ensinar – em métodos. Veremos quais são elas a seguir: Inatismo, empirismo e associacionismo são correntes filosóficas que postulam a forma como as pessoas aprendem. Não são métodos de en- sino. (MALHEIROS, 2012, p. 12). Saiba mais sobre as diversas formas de se compreender a aprendizagem, de maneira simples e atrativa, acompanhando online os conteúdos da Revista Nova Escola. Web: https://novaescola.org.br/conteudo/41/inatismo-empirismo-e-construtivismo-tres-i- deias-sobre-a-aprendizagem Unidade 1 Aula 4 TEORIAS PEDAGÓGICAS FOCADAS EM MÉTODOS DE ENSINO: O COMPORTAMENTALISMO Fonte: Unsplash. Aula 4 Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Comportamentalismo 24 Na aula anterior, discutimos as principais formas de se conceber a aprendizagem que embasa- ram os primeiros estudos sobre educação escolar no ocidente. Tais correntes deram origem a estudos mais estruturados sobre a aprendizagem, que propuseram métodos de ensino. Nós vimos em nossa primeira aula que é função da Didática estudar as finalidades do ensino. De posse dessa informação, é fundamental que você, futuro pedagogo, compreenda que dependendo da visão de mundo do educador, ou de um sistema organizado de ensino, a educação terá deter- minadas finalidades e utilizará determinados meios para alcançá-las. Nenhum tipo de educação é neutro. Nenhum método de ensino é neutro. Sempre há uma concepção de homem e de sociedade para os quais a educação forma. É importante diferenciar os conceitos método e metodologia, que são comumente utilizados no campo da educação como sinônimos. Mé- todo significa o caminho que se percorre para chegar a um objetivo, o passo a passo, as estratégias, as técnicas. Metodologia é um conceito mais amplo, que engloba o estudo do método, a análise dos procedi- mentos, os conhecimentos teórico-filosóficos que embasam as técnicas. Nesta aula, discutiremos o comportamentalismo e suas implicações para a educação. O comportamentalismo estabeleceu-se como teoria psicológica afirmando que todo compor- tamento pode ser controlado por estímulos. Além disso, centra seus estudos psicológicos estudando o comportamento que pode ser observado, se opondo a outros estudos, como a psicanálise freudiana. Um cientista que viveuentre os séculos XIX e XX, Pavlov, foi o primeiro a ser mundialmente conhe- cido por utilizar cães para comprovar o condicionamento comportamental. Uma experiência muito famosa que ele realizou com cães consistia em transferir a resposta de um estímulo para outro estímulo. Por exemplo: sempre que ele apresentava um pedaço de carne, o cão salivava. Em seguida, ele passou a apresentar um pedaço de carne e tocar um sino simultaneamente. Algum tempo depois, apenas ao tocar o sino, o cão já́ salivava. O grande feito de Pavlov foi mostrar que é possível moldar o comportamento (pelo menos em animais), o que instigou pesquisadores da psicologia a buscar compreender se esta associação também seria possível em humanos. (MALHEIROS, 2012, p. 13). Fonte: Pexels. Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Comportamentalismo 25 Aula 4 Logo em seguida, dando continuidade aos estudos comportamentalistas, Watson (1878-1958) iniciou uma corrente chamada de comportamentalismo (ou behaviorismo) clássico, que acredita ser possível comandar todos os comportamentos humanos a partir da identificação do melhor estí- mulo. Ele afirmava que qualquer comportamento poderia ser condicionado por meio de estímu- lo-resposta, sem, contudo, conseguir comprovar completamente tal afirmação. Tolman, contemporâneo de Watson, explanou que entre o estímulo e a resposta há um organismo, e que o mesmo estímulo pode desencadear respostas diferentes dependendo do organismo em questão. As pesquisas que orientam Tolman o levaram a apresentar o conceito de aprendizagem por mapas cognitivos, que são estruturas mentais orientadoras do comportamento a ser manifes- tado, dependendo do objetivo. É o que atualmente se chama de behaviorismo cognitivo. A relação entre as duas palavras (behaviorismo e cognitivo) sinaliza que, além da importância dada aos estímulos, Tolman coloca a cognição dentro da discussão. Neste caso, a resposta dada a um determinado estímulo dependerá fundamentalmente da intenção do organismo. (MALHEIROS, 2012, p. 14). Hull, contemporâneo de Watson e Tolman, opõe-se a este último, discutindo a ideia de aprendizagem por meio de memorização. Para Tolman, a manifestação da aprendizagem se dava pela realização de um comporta- mento que correspondia a uma experiência passada. Hull defendia que a experiência pro- voca alterações neurofisiológicas e, portanto, não se trataria simples- mente de um processo de aquisição de memória. É possível afirmar que nesta nova visão do behaviorismo, os diversos reforços de comportamento são capazes de alterar a própria morfofisiologia da- quele que é alvo do experimento. Hull é o autor que mais leva sua concepção de aquisição ou modulação de comportamentos para a educação. Ao se opor à ideia da separação entre corpo e mente, reforça a questão da modulação do comportamento por meio da modulação biológica. (MALHEIROS, 2012, p. 14). Foi com o psicólogo Skinner que o comportamentalismo teve sua expressão denominada com- portamentalismo radical (MALHEIROS, 2012). Para esse autor, haveria uma separação entre corpo e mente. A mente decide como agir e o corpo recebe os estímulos externos. Skinner apresentou o conceito de condicionamento operante. Nesse condicionamento, um es- tímulo é oferecido visando a uma determinada resposta. E essa resposta só existirá se ela gerar um novo estímulo, dentro dos desejos deste respondente. Para Skinner, “o comportamento não surge de um estímulo isolado, mas da expectativa do estímulo futuro.” (MALHEIROS, 2012, p. 15). Tal ideia contraria o comportamentalismo clássico, pois a resposta não é simplesmente uma resposta fisiológica a um estímulo, mas nasce de uma expectativa de novo estímulo. Duas ideias são fundamentais para entender essa forma de entender a aprendizagem: reforço e punição. O reforço são os estímulos que produzem a ocorrência e a repetição do comportamento. A punição são estímulos que fazem com que um comportamento seja evitado. Observe a seguir o esquema que representa esse conceito. Aula 4 Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Comportamentalismo 26 Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 15. O esquema explicita que o reforço leva à repetição da mesma resposta se o estímulo for o mesmo e a punição suspende a resposta. Essa ideia influenciou fortemente a educação, mais especificamente a escolha de um méto- do de ensino. Aceitando que o comportamento pode ser modelado por meio de estímulos, basta que se ofereça aos alunos os estímulos corretos para que apresentem comportamentos social- mente desejáveis e punindo comportamentos indesejáveis. Skinner defendia que simplesmente ter contato com o meio não bastava para que houvesse aprendizagem, mas que é necessária uma transmissibilidade organizada. Malheiros (2012, p. 16) apresenta o desenvolvimento das ideias comportamentalistas no ensino: Em sala de aula, o comportamentalismo se manifestou principalmente pela criação e utilização das máquinas de ensinar. Estas máquinas apresentavam o conteúdo em uma sequência tal que permitiam que o aluno fosse apresentando as respostas esperadas. Os tipos de aprendizado eram categorizados por Skinner em três grupos: >Comportamento reflexo: como a dilatação das pupilas diante da mudança na intensidade da luz. Neste caso, o sujeito não tem controle do comportamento. >Comportamento operante: são voluntários, como escrever um texto. É controlado pelas consequências dos estímulos. >Comportamento respondente: similar ao comportamento operante, mas controlado pelos estímulos que o precedem, como correr para atender ao chamado de alguém que chama. Mizukami (2014) explica que a abordagem comportamentalista de educação preconiza que o conhecimento está fora do sujeito; é uma descoberta. A ciência, nessa abordagem, é uma forma de descobrir a ordem e a natureza dos eventos, para utilizá-la e controlá-la. Por isso, o aluno é considerado como um “recipiente de informações e reflexões” (MIZUKAMI, 2014, p. 20). Ensinar é mudar padrões de comportamento através do treinamento, de acordo com obje- tivos predefinidos. Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Comportamentalismo 27 Aula 4 De acordo com a autora, neste tipo de abordagem: [...]supõe-se e objetiva-se que o professor possa aprender a analisar os elemen- tos específicos de seu comportamento, seus padrões de interação, para, dessa forma, ganhar controle sobre eles e modifica-los em determinadas direções quando necessário, ou mesmo desenvolver outros padrões. (MIZUKAMI, 2014, p. 21). Para Mizukami (2014), adotar a perspectiva comportamentalista implica compreender o ho- mem como uma consequência da influência do meio ambiente. Assim, a subjetividade do indivíduo é praticamente ignorada. O ideal dessa teoria, entretanto, é que o controle da situação ambiental seja transferido para o próprio indivíduo, de modo que ele possua autocontrole. Porém, são as forças ex- ternas que continuam a exercer, ainda, maior controle. A visão de mundo dos comportamentalistas é a de que esta é uma realidade objetiva, cons- truída, pronta, e que cabe ao homem apenas manipulá-lo. O comportamento pode ser modificado alterando-se os elementos ambientais. Segundo Mizukami (2014, p. 23): Para que a formulação das relações entre um organismo e seu meio seja adequada, devem-se sem- pre especificar três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocorreu, a própria resposta e as consequ- ências reforçadoras. As relações entre esses três elementos constituem as contingências de reforço. São essas contingências de reforço que alteram o comportamento. Com relação à sociedade e à cultura, os comportamentalistas acreditam que é preciso que haja uma ciência para o planejamento desta última, isso porque o centro desta teoria, como vimos, admite a alteração por meio do controle das contingências. Assim, por meio do controle dos comportamen- tos, seria possível uma sociedade sem violência, sem autoridade, sem classes sociais ou propriedades privadas. Ateoria do reforço garantiria uma nova forma de viver, encontrando a eficiência ao máximo. Ora, se o comportamento humano é totalmente determinado pelas forças genéticas e ambientais, não é possível haver mérito individual. Segundo Mizukami (2104) o indivíduo é, então, como uma peça de uma máquina controlada, realizada a função que se espera dele. 4.1 O comportamentalismo e a educação Você pôde observar, estimado(a) aluno(a), que o conhecimento, para os comportamentalistas, é o resultado direto da experiência. Vimos que o maior expoente do comportamentalismo, Skinner, não se preocupou em investigar de que modo o conhecimento é construído na mente do indivíduo, mas lidou com o controle do comportamento observável. Assim, o comportamentalismo tem uma base empirista, que vimos na nossa segunda aula. A inteligência, para os comportamentalistas, foi herdade à medida que contingências de reforço que controlaram as respostas fornecidas pelo homem, cujas consequências têm a ver com a sobrevivência da espécie. É por esse motivo que a educação, nesta abordagem, está ligada à transmissão cultural, porque acredita-se que é impossível que o homem descubra por si mesmo elementos importantes de sua cultura. A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos, assim comportamentos éticos, práticas sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente (cultural, social etc.). (MIZUKAMI, 2014, p. 27). Aula 4 Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Comportamentalismo 28 Observe como a educação assume um caráter bastante controlador, pois, nesta teoria, saber significa apreender exatamente o que se quer ensinar. Nada a mais. O sistema educacional, portanto, tem como objetivo promover mudanças individuais desejáveis, adquirindo-se comportamentos e modificando os já existentes por meio do reforço (recompensa e punição). O objetivo máximo é que cada indivíduo seja também controlador das contingências de reforço. Quanto maior o controle sobre si, mais responsabilidade e mais liberdade. Por isso, as contingências de reforço devem seu usadas de forma organizada e sistematizada pelo sistema educacional para o treinamento social eficiente. Para pôr em prática tais conceitos educacionais, a escola, explica Mizukami (2014), é o am- biente que deve adotar formas de controle de acordo com o os comportamentos que se deseja instalar e manter, isto é, aqueles que úteis e desejáveis para a sociedade; por isso é que os comportamentalistas criticam uma escola voltada para o saber clássico, conteudista, mas defende uma escola voltada para as demandas de controle social. O desenvolvimento da individualidade é, portanto, pautado por valores sociais, não subjetivos. Como aconteceriam os processos de ensinar e aprender nesta abordagem? Mizukami (2014) salienta que ensinar é planejar contingências de reforço sobre os quais os estudantes aprendem, e o professor é quem deve assegurar esta aprendizagem. Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, graus, notas, prêmios, reconhecimentos do mes- tre e dos colegas, prestígio, etc., os quais, por sua vez, estão associados a uma outra classe de reforçadores mais remotos e generalizados, tais como: o diploma, as vantagens da futura profissão, a aprovação final no curso, a possibilidade de ascensão social, monetária, status, prestígio da profissão etc. (MIZUKAMI, 2014, p. 30). A organização das contingências, realizadas pelo professor, vai depender dos comportamentos observáveis: um evento anterior, uma resposta, um reforço e fatores contextuais. O foco da propos- ta de aprendizagem da abordagem comportamentalista se encontra na organização das experiências curriculares. Essa organização dirigirá os alunos pelos caminhos adequados para que eles cheguem ao comportamento final. A aprendizagem, assim, é garantida pela organização. Fonte: UNSPLASH Para os comportamentalistas, como acontece a relação entre professor e aluno? O controle do processo está nas mãos do professor. É ele quem planeja e desenvolve o sistema de ensino-aprendiza- FONTE: UNSPLASH Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Comportamentalismo 29 Aula 4 gem, a fim de maximizar o desempenho do aluno. Ele é um planejador e um analista e deve organizar as contingências de reforço de modo a possibilitar a ocorrência de uma resposta aprendida. Ao aluno, cabe apresentar as respostas esperadas. O ensino é individualizado, pois parte de um diagnóstico para detecção do melhor planejamento para o alcance da resposta esperada. Segundo Mizukami (2014), Skinner propôs uma metodologia de ensino baseada na elabora- ção de uma tecnologia adequada para isso, com vistas a uma maior eficiência na aprendizagem. Por isso, as estratégias pensadas são individualizadas. A individualização do ensino surge, na abordagem comportamentalista, como decorrente de uma coerência teórico-metodológica. Tal individualização implica: especificação de objetivos; envolvimento do aluno; controle de contingências; feedback constante que forneça elementos que especifiquem o domínio de uma determinada habilidade; apresentação do material em pe- quenos passos; e respeito ao ritmo individual de cada aluno. (MIZUKAMI, 2014, p. 33). O comportamentalismo se preocupa com que o maior número possível de alunos atinja níveis altos de eficiência. Para isso, uma das estratégias principais utilizadas é o módulo instrucional como material de ensino (Mizukami, 2014). Para os comportamentalistas, é fundamental que o aluno tenha conhecimento preciso do que dele se espera e dos resultados que ele atingiu no processo. O ensino com base na competência é caracterizado por: especificação dos objetivos em ter- mos comportamentais; especificação dos meios para determinar se o desempenho está de acordo com os níveis indicados de critérios; fornecimento de uma ou mais formas de ensino pertinentes aos objetivos; conhecimento público dos objetivos, critérios, formas de atingi-las e atividades alternativas. A experiência de aprendizagem, pois, é considerada em termos de competência. (MIZUKAMI, 2014, p. 33). Neste formato, o módulo de ensino pode ser utilizado para a aquisição de um ou vários objetivos de ensino. Os comportamentalistas, como se vê, não se preocupam em estudar por que o aluno aprende, mas em fornecer uma tecnologia que produza mudanças no comportamento e fazer o aluno estudar. Como visto, a programação é o fundamento do ensino comportamentalista. A matéria deve ser dividida em pequenos passos, de modo que o professor consiga reforçar todas as respostas e compor- tamentos operantes emitidos pelo aluno. Podemos concluir que uma educação baseada no comportamentalismo objetiva a autonomia do aluno, ao dominar os objetivos de ensino, mas em nome de algo que é exterior a ele, planejado por seu professor, garantindo objetivos importantes para o social. Vimos uma educação pautada na programação, em que o aluno é ativo, mas não para objetivos subjetivos. E uma educação diretivista. Não cooperação entre os alunos. A educação é pensada para cada indivíduo. A metodologia e os princípios utilizados nessa abordagem derivam da análise experimental do comportamento. A aplicação desse tipo de análise ao ensino, produziu, até o momento, grande quantidade de pesquisa básica e aplicada, o que, a partir dos anos 1950, aproximada- mente, permitiu a elaboração de uma tecnologia de ensino, que, por sua vez, tem fornecido dados para a própria análise comportamental. (MIZUKAMI, 2014, p. 36). Unidade 1 Aula 5 TEORIAS PEDAGÓGICAS FOCADAS EM MÉTODOS DE ENSINO: O COGNITIVISMO Fonte: Pexels. Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Cognitivismo 31 Aula 5 Unidade 1 A quinta aula traz para você os fundamentos do cognitivismo e suas propostas para a educação. O cognitivismo, de acordo com Malheiros (2012), passou a ser estruturado pela psicologiatam- bém no século XIX e tem em Wundt seu primeiro expoente. Os trabalhos desse autor investigavam as atividades que estruturam a mente e a consciência. Essa abordagem entende que há algo dentro da mente do sujeito que é responsável pela rela- ção entre as pessoas, e das pessoas para com o meio. Ao contrário da abordagem da aula passada, o cognitivismo busca conhecer o mundo interno do sujeito, já que compreende que a aprendizagem é um processo interior. Portanto, compreende o processo de aprendizagem como algo individual e orgânico, que pode ser estimulado por fatores externos, mas que não pode ser controlado. O maior objetivo dos pesquisadores cognitivistas é compreender a estrutura da mente humana. No campo da educação, este entendimento serviria de base para a estruturação de métodos de ensino mais eficientes, ante a esta nova compreensão da aprendizagem. (MALHEIROS, 2012, p. 17). Segundo Malheiros (2012), foi o biólogo Piaget (1896-1980), considerado por muitos o nome mais importante da educação do século XX, quem deu a maior contribuição a essa teoria. Ele dedicou sua vida a compreender as estruturas mentais envolvidas na construção do conhecimento, mas ele não desenvolveu um método de ensino. Ele aponta para a compreensão do fenômeno cognitivo, mas não indica métodos a serem seguidos. A epistemologia genética, a partir dos trabalhos de Piaget, tornou-se um campo de investiga- ção que passou a ocupar espaço privilegiado nas teorias de educação. Neste campo, percebeu- se que não se pode fazer uma pessoa aprender um conteúdo para o qual ela não está prepara- da. Tal compreensão serve de subsídio à estruturação de currículos educacionais até os dias de hoje, dando prevalência à aprendizagem cumulativa, que organiza os conteúdos partindo dos mais simples para os mais complexos. Além disso, notou-se que o interesse pelo conteúdo a ser estudado influenciaria na construção do conhecimento. (MALHEIROS, 2012, p. 17). Perceba, querido(a) aluno(a), que a ideia de aprendizagem cumulativa, do mais simples ao mais complexo, interfere completamente na organização dos currículos, de modo que Piaget ganhou im- portância ímpar na área educacional. A expressão epistemologia genética não tem a ver com “gene”, “gen”, mas com a “gênese” do conhecimento, ou seja, o conjunto de saberes teó- ricos acerca de como o conhecimento nasce, como ele é internamente construído. Piaget destacou-se por propor que há uma relação intrínseca entre afetividade e cognição, e que uma não acontece sem a outra; mas sua maior contribuição foi ter comprovado que a aprendizagem é construída pelo aluno, e jamais transferida de fora para dentro por outra pessoa: um professor ou alguém mais experiente que o sujeito. Esta constatação se opõe completamente ao comporta- mentalismo e inaugura a corrente construtivista de ensino. Nela o professor não é um controlador do processo, mas um estimulador da construção do saber, a partir da criação de situações que motivem o aluno a buscar respostas. Aula 5 Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Cognitivismo 32 Piaget descobriu, por meio de suas investigações, segundo Malheiros (2012), que a construção do conhecimento se dá por meio de dois processos: a assimilação e a acomodação, que acontecem simultaneamente e de forma inter-relacionada em nossa cognição. • Assimilação: o aprendiz identifica novos conceitos e busca, por meio de seus conheci- mentos anteriores, enquadrá-los em uma lógica, dar sentido a eles. • Acomodação: o novo conhecimento é acomodado quando se adequa às estruturas atuais, modificando-as, criando ainda novos esquemas. • Equilibração: o novo conhecimento busca sua acomodação na cognição do sujeito, fortalecendo as estruturas cognitivas. Para que você compreenda melhor todos esses processos que acontecem quando aprendemos um novo conhecimento, preste atenção ao exemplo dado por Malheiros (2012). Tente pensar em uma criança que está aprendendo a nomear os animais. Ela conhece, até este momento, o cachorro. Quando se depara com um cavalo ela exclama: “Nossa! Que cachorro enorme!”. Isso porque ela possui estruturas cognitivas que fazem com que interprete o cavalo como um cachorro grande, já que ele também anda sobre quatro patas, é marrom, tem rabo, focinho, etc. Esse é um exem- plo do processo de assimilação; a criança acessou conhecimentos prévios para tentar dar sentido ao novo conhecimento identificado. Fonte: UNSPLASH Imagine agora que um adulto intervenha nessa situação e diga: “Aquilo não é um cachor- ro, é um cavalo: é de outra espécie.” Então, a criança percebe que existem algumas característi- cas que diferenciam os animais, criando uma nova estrutura cognitiva, já que nenhuma estrutu- ra consolidada identificou o cavalo. Assim acontece o processo de acomodação, no confronto do conhecido com o novo. Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Cognitivismo 33 Aula 5 Fonte: UNSPLASH Nesse exemplo, os dois processos, assimilação e acomodação visam ao processo de equilibra- ção das estruturas cognitivas, que é a aprendizagem do conhecimento novo. Observe o esquema que exemplifica esses processos. Fonte: (MALHEIROS, 2012, p. 19). Piaget, ao explanar os processos de assimilação e acomodação do conhecimento, prioriza as estruturas cognitivas em detrimento da aquisição de novos conteúdos, explica Malheiros (2012). Des- loca-se a ênfase dada à inteligência como demonstração de retenção de conteúdos para a capacidade de alterar estruturas mentais. Inteligência é, portanto, não o domínio de um conteúdo, como sus- tentava as formas tradicionais de ensino. Observe, então, como isso revoluciona as formas de se pensar o ensino. Ensinar não é trans- mitir conhecimentos, mas promover situações desequilibradoras da cognição para que novas es- truturas sejam formadas. Por isso, o ensino centrado na fala do professor se desloca para a ênfase no aluno, porque é nele que o conhecimento é construído, daí o nome construtivismo. Aula 5 Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Cognitivismo 34 Assim como você encontrará atitudes comportamentalistas nas instituições de ensino que você conhecerá em seus está- gios, você também encontrará muitas escolas dizendo-se cons- trutivistas, e algumas ações pedagógicas nesse sentido também (muito mais falas e escritos teóricos do que ações, é verdade, porque a utilização da metodologia construtivista implica, no geral, mudança total da estrutura da escola que temos hoje). Outra enorme contribuição de Piaget para a educação diz respeito às fases de desenvolvimento da criança, organizadas por ele, e que ajudariam as escolas a organizarem seus currículos de modo a considerar conteúdos para os quais as crianças estejam cognitivamente preparas para aprenderem. Veja: Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 20. Vamos compreender um pouco dos estágios de desenvolvimento propostos por Piaget, de acor- do com Malheiros (2012, p. 20). No período sensório-motor, que abrange os meses iniciais da vida da criança, acontece a aprendizagem sensorial. Esta fase é responsável pela base de conhecimentos e habilidades que serão demandadas para futuras assimilações. Desta forma, a criança constrói o conhecimento no uso dos reflexos, coordenações e combinações mentais. No período pré-operacional, a criança já consegue se perceber sepa- rada do mundo ligando- se ao concreto. Torna-se, portanto, capaz de compreender uma situação completa, mas ainda não consegue perceber por um ponto de vista que não seja o seu próprio. Esta fase é caracte- rizada pela sensação de integralidade vivida pela criança, ou seja, acontecimentos deixam de ser fatos isolados. O período operacional concreto é marcado pelo pensamento reversível e pelo entendimento de que as ações da criança repercutem no meio no qual estão inseridas. Todavia, conforme o nome atribuído ao período, a criança ainda não é capaz de desenvolver situações em sua mente. E o último período apresentadopor Piaget é o período operacional formal. Esta fase é carac- terizada pela capacidade de o pensamento reter o conhecimento e, em seguida, desenvolver situações exclusivamente no âmbito mental. É importante frisar que essa classificação ligando a idade da criança ao potencial de aprendi- zagem não é algo estanque nem rígido, são parâmetros variáveis. De posse desses conhecimentos, o professor pode pensar no método de ensino adequado para a faixa etária de seus alunos e seu estágio de desenvolvimento. Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Cognitivismo 35 Aula 5 Ao perceber, por exemplo, que aos oito anos de idade, a criança não é capaz de abstrair uma situação, o método deveria valorizar o concreto. Um exemplo seria o ensino das operações básicas na matemática. Os números são uma abstração que representa uma quantidade concreta. Se a criança não é capaz de abstrair, o entendimento de uma operação será extremamente complicado, o que pode ser contornado pela utilização de elementos reais em sala de aula. Em vez de questionar qual o resul- tado da operação 2+2, seria adequado questionar: se tenho duas laranjas e comprei mais duas, com quantas laranjas fiquei? Melhor ainda se for possível utilizar as laranjas para o ensino. (MALHEIROS, 2012, p. 20 - 21). A abordagem construtivista pede métodos de ensino que proporcionem desequilíbrio cogni- tivo: situações-problema reais a serem desenvolvidos, alunos em grupos heterogêneos com relação ao desenvolvimento cognitivo, atividades práticas que partam do que as crianças já sabem. Fonte: PEXELS O construtivismo recebeu críticas de alguns estudiosos da educação no sentido de que Piaget focou demasiadamente seus estudos nos processos internos da aprendizagem, sem debruçar-se tanto sobre a importância das interações sociais na construção do conhecimento. Veremos, na próxima aula, uma teoria pedagógica denominada socioconstrutivismo que impõe maior peso às relações nos processos cognitivos. Assista ao vídeo do professor Yves de La Taille, professor da USP, um dos expoentes dos estudos piagetianos no Brasil, sobre a teoria constru- tivista do Piaget para a série “Grandes Educadores”. https://www.youtube.com/watch?v=2OzhE4pX_ng. Unidade 1 Aula 6 TEORIAS PEDAGÓGICAS FOCADAS EM MÉTODOS DE ENSINO: O SOCIOCONSTRUTIVISMO (OU SOCIOINTERACIONISMO) Fonte: Pexels. Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Socioconstrutivismo (ou Sociointeracionismo) 37 Aula 6 Unidade 1 A corrente socioconstrutivista ou sociointeracionista é, juntamente com a construtivista, a mais importante e inovadora teoria educacional surgida no século XX. O expoente dessa teoria é o russo Lev Vygotsky (1896-1934). Apesar de ter vivido apenas 38 anos, seu legado teórico influenciou e influencia muitos países na construção de seus sistemas educa- cionais. Do mesmo modo que Piaget, Vygotsky não desenvolveu nenhum método de ensino. Seu pen- samento é fundamentado, segundo Malheiros (2012) na ideia de que a aprendizagem está intimamen- te ligada às interações sociais realizadas indivíduo, que interferem mais do que questões biológicas na hora de aprender. Você já deve ter ouvido falar nas irmãs indianas Amala e Kamala, conhecidas como meninas -lobo. Tais meninas se comportavam como os animais que viviam e ilustram a forma de Vygotsky compreender a importância das interações sociais para a aprendizagem. Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 21. Para Vygotsky, a formação da pessoa acontece apenas na relação com o outro. Ele rechaçava as teorias que apregoavam que o homem nasce com o conhecimento potencial (inatismo) e as empiris- tas-comportamentalistas, que acreditam que os estímulos adequados podem influenciar o desenvolvi- mento do sujeito, como vimos em aulas anteriores. De acordo com Malheiros (2014), Vygotsky dividiu o processo de aprendizagem em dois: os elementares e os complexos. Os processos elementares correspondem às atitudes inerentes à raça humana e, sobre os quais, não se tem controle por estímulo (respirar, por exemplo). Os complexos são fruto do processo de aprendizagem aliada ao desenvolvimento. Ler, fazer contas, dirigir, dentre outras ativida- des, são processos complexos. (MALHEIROS, 2012, p. 22). Além dos elementos mediadores entre o sujeito e o mundo, Vygotsky também propõe, segun- do Malheiros (2012) que o próprio sujeito é um mediador entre o estímulo recebido e a resposta que é dada. Na perspectiva comportamentalista, como vimos, o estímulo gera uma resposta. Já para o socioconstrutivismo, esta relação não é mais linear, ou seja, é triangular. Para Vygotsky, entre o estí- mulo e a resposta está o sujeito. Observe a imagem: Aula 6 Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Socioconstrutivismo (ou Sociointeracionismo) 38 Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 22. Para Vygotsky, a relação de uma pessoa com o mundo sempre acon- tece por meio de uma ferramenta ou de um símbolo. A linguagem, por exemplo, é uma estrutura simbólica de mediação. (MALHEIROS, 2012, p. 22). Vygotsky, então, preconiza que o homem se relaciona com o mundo não diretamente, mas de forma intermediária, por meio de signos e instrumentos. Assim, o papel da escola, de acordo com Ma- lheiros (2012), seria estimular interações entre as pessoas e destas com um ambiente que proporcione o desenvolvimento intelectual. A escola deve ser a instituição capacitada para que esse desenvolvi- mento ocorra. Observe, por meio deste esquema, como acontecem os processos cognitivos da aprendizagem acontecem. Este esquema demonstra a suprema importância da mediação educacional para a aprendiza- gem, em Vygotsky. O papel da cultura e dos símbolos é central na teoria socioconstrutivista. Na escola, as crianças com habilidades ainda parciais vão desenvolvê-las com a ajuda de um parceiro mais habilitado (professores), até que tais habilidades passem de parciais para totais. Vygotsky valoriza a linguagem como instrumento de comunicação e aprendizagem, já que é por meio dela que há interação. A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento. Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases: Teorias Pedagógicas Focadas em Métodos de Ensino: O Socioconstrutivismo (ou Sociointeracionismo) 39 Aula 6 a linguagem social, que seria esta que tem por função denominar e comunicar, e seria a pri- meira linguagem que surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento. (RABELLO; PASSOS, 2013, p. 8). Vygotsky e Piaget foram contemporâneos, mas não estabeleceram diálogo entre suas teorias. Há, no espaço acadêmico, muitas tentativas de confluência e contraponto entre os dois, mas ambos estavam preocupados com a aprendizagem, sendo que Piaget preocupou-se mais com elementos in- ternos, enquanto Vygotsky preocupou-se mais com as formas de mediação intencionais que devem acontecer para que o aluno passe daquilo que ela ainda não sabe para o que ele pode vir a fazer. Para J. Piaget, dentro da reflexão construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem, tais conceitos se inter-relacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. A pers- pectiva piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza o desenvolvi- mento das funções biológicas – que é o desenvolvimento - como base para os avanços na aprendizagem. Já na chamada perspectiva sócio-interacionista, sociocultural ou sociohis- tórica, abordada por L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo. (RABELLO; PASSOS, 2013, p. 4).A ideia de que toda criança pode aprender, desde que a atuação na Zona de Desenvolvimento Proximal aconteça de forma intencional pelo professor, traz para a educação um caráter democrático, igualitário, não-segregador. Assista ao vídeo da professora Marta Kohl de Oliveira, professora da USP, um dos expoentes dos estudos vygotskyanos no Brasil, sobre a teoria interacionista do Vygotsky para a série “Grandes Educadores”. https://www.youtube.com/watch?v=T1sDZNSTuyE.. Você pode estar pensando como as concepções do modo de aprender e as correntes pedagógicas estudadas até aqui influenciaram no pensamento e na prática pedagógicos brasileiros. Na próxima aula, conversaremos sobre isso. Unidade 1 Aula 7 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS: LIBERAL TRADICIONAL, LIBERAL RENOVADA E LIBERAL TECNICISTA Fonte: Pexels. As Tendências Pedagógicas Brasileiras: Liberal Tradicional, Liberal Renovada e Liberal Tecnicista 41 Aula 7 Unidade 1 7. 1 As Tendências Pedagógicas Brasileiras Sabemos que a prática escolar sofre influências sociais e políticas que refletem nas diversas con- cepções de homem e de sociedade, gerando diferentes ideias sobre o papel da escola e do aluno, da aprendizagem, das relações e dos métodos. Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Este professor é muito tradicional, não permite que nin- guém fale na aula dele”. Grande parte dos professores, em sua prática, adota técnicas pedagógicas da própria vivência como aluno ou se espelha em colegas de profissão com mais experiência. Sabe o que isso significa? Que nas práticas cotidianas na sala de aula eles seguem pressupostos teóricos/metodo- lógicos implícitos. Há também os que entendem sua prática de modo mais amplo, e ainda outros que aderem às tendências da “moda”, pouco se importando se possuem ou não relação com as suas crenças (LIBÂNEO, 1998). Agora, estudaremos essas abordagens pedagógicas que aconteceram ou acontecem na atualida- de nas escolas brasileiras pela prática dos professores. Vale ressaltar que alguns autores usam o termo abordagens pedagógicas, ao passo que outros preferem chamar de tendências pedagógicas. É impor- tante saber que ambos estão corretos e usaremos os dois nesta unidade. Você pode ampliar os seus conhecimentos sobre as tendências pedagógi- cas, assistindo ao vídeo “Tendências Pedagógicas”. De maneira resumida e complementar, os esquemas apresentados podem ajudá-lo na compreen- são dos conceitos. Ele está disponível em: https://youtu.be/HLZtZILFAps. Essa temática pode parecer complexa, mas para que você compreenda melhor vamos nos re- ferir à posição que as tendências pedagógicas adotam em relação às circunstâncias sociopolíticas da escola e como a Didática é entendida em cada tendência. Muitas pesquisas são realizadas para identificar as formas de perceber como o ensino e a aprendizagem acontecem. Malheiros (2012, p. 23) esclarece que: “Nas duas últimas décadas, várias teorias foram formuladas para esclarecer a história dos métodos de ensino no Brasil. A classificação de Libâneo (1998) ainda parece ser a mais adotada.” Observe. Fonte MALHEIROS, 2012, p. 23. Aula 7 As Tendências Pedagógicas Brasileiras: Liberal Tradicional, Liberal Renovada e Liberal Tecnicista 42 De acordo com Malheiros (2012, p. 23, grifo nosso), As correntes não críticas são definidas como aquelas que utilizam o processo educativo vi- sando à perpetuação do modelo social vigente. Nesta compreensão, a diferenciação entre os modelos pedagógicos é dada pelo método escolhido, não pelo fim do ato educativo. Já as correntes dialéticas são caracterizadas pelo foco em levar o educando a construir um conhe- cimento que o torne passível de mudar a realidade na qual está inserido. Vamos explorar a princípio a Pedagogia Liberal. 7.1.1 A Pedagogia Liberal O foco da Pedagogia Liberal é que a escola deve preparar os indivíduos para desempenhar papéis sociais seguindo as aptidões individuais; o importante é que os sujeitos se adaptem aos valores e às normas da sociedade de classes; assim, camufla as diferenças de classes e desconsidera a desigualdade de con- dições existentes. Libâneo (1998, p. 6) enfatiza que “historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada”, mas não houve substituição de uma pela outra e ambas são ainda vistas na prática escolar. Temos quatro tendências da Pedagogia Liberal. A primeira delas é a tendência tradicional, segundo a qual depende do esforço do próprio aluno o alcance de sua plena realização como pessoa. Assim, aqueles com menos potencial para as atividades escolares precisam se dedicar para superar suas dificuldades e alcançar os “mais capazes”. A escola disciplina os alunos “[...] de acordo com os padrões éticos e religiosos, incentivando a virtude” (CANDAU, 2010, p. 140). Como a Didática é concebida nessa abordagem? Segundo Libâneo (2013), ela reflete o con- junto de regras e princípios que regem o ensino e é centrada no professor, que explica a matéria – na maioria das vezes usando a exposição oral como único recurso. Assim, o aluno é passivo, ao fazer exercícios repetitivos e ouvir a explicação do professor consegue “gravar” o que lhe é ensinado para depois reproduzir nas provas. O papel do aluno é memorizar o conteúdo ensinado, desvinculado de sua realidade; assim, a aprendizagem é receptiva e não estimula a sua capacidade mental. Libâneo (2013, p. 66) completa essa ideia ao afirmar que: A Didática tradicional tem resistido ao tempo, continua prevalecendo na prática escolar. É comum nas nossas escolas atribuir-se ao ensino a tarefa de mera transmissão de conhecimen- tos, sobrecarregar o aluno de conhecimentos que são decorados sem questionamento, dar somente exercícios repetitivos, impor externamente a disciplina e usar castigos. Processo ensino/aprendizagem baseado na repetição. Fonte: Pixabay. As Tendências Pedagógicas Brasileiras: Liberal Tradicional, Liberal Renovada e Liberal Tecnicista 43 Aula 7 Outra tendência da Pedagogia Liberal é a tendência renovada, que também valoriza o sentido da cultura para desenvolver as aptidões individuais, porém vê a educação como um processo interno que parte dos interesses individuais para a adaptação ao meio. A escola renovada valoriza o aluno como sujeito do conhecimento. É importante saber que essa tendência inclui outras correntes: a tendência renovada progres- sivista (ou pragmática) e a tendência renovada não diretiva. A tendência renovada progressivista, difundida pelo movimento escolanovista, desenvolveu-se nos Estados Unidos e teve como princi- pal representante John Dewey. No Brasil, as ideias desse educador foram marcantes na liderança de Anísio Teixeira e outros educadores com o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, com atuação importante na formulação da política educacional. A Didática da Escola Nova valoriza o aluno como sujeito da aprendizagem, identificando como papel do professor o de oferecer situações que partam da necessidade e do interesse do aluno, para que assim ele possa por si mesmo buscar conhecimentos. Você já deve ter percebido, então, que o centro das práticas educativas não é o professor nem o conteúdo, e sim o aluno, concebido como um ser ativo. De acordo com Haydt (2011, p. 25), a Escola Nova pretendia ser um movimento de renovação peda- gógico/didática que tentou aplicar na prática educativa e também “[...] na organização escolar e nos proce- dimentos de ensino, as conclusões dos estudos das ciências do comportamento. Mas ela não era apenas isso, pois trazia em seu interior uma visão de homem e de mundo, isto é, uma concepção filosófica”. Como o professor alia as situações de aprendizagem às necessidades individuais dos alunos, a Didática, nessa tendência, valoriza os métodos e técnicas que possibilitem atividades em grupo, pesquisa e experiências. Desse modo, Libâneo (2013, p. 67) reforça que “os adeptos da escola nova
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