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TUTORIA I – FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO E ESTATUTO DO IDOSO 1 – CONHECER OS PRINCÍPIOS DO ESTATUTO DO IDOSO CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 230 A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Lei n° 8842/94 (promulgada em 1994 e regulamentada em 1996) Dispõe sobre a política nacional do idoso e cria o Conselho Nacional do Idoso. A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Além disso, estabelece que, para os efeitos da lei, idoso é a pessoa maior de sessenta anos de idade. Lei n° 10.741/2003 ou Estatuto do Idoso O Estatuto do Idoso foi instituído por meio da Lei n° 10.741, de 1º de outubro de 2003, a qual representa um grande marco na garantia dos direitos da pessoa idosa. Por meio do Estatuto, a família, a comunidade, a sociedade e o Poder Público devem garantir a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, com prioridade absoluta. Portaria n° 2.528/2006 O Ministério da Saúde, no uso de suas atribuições, aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. A finalidade primordial da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa é recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade. Sendo as diretrizes: envelhecimento ativo e saudável; atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa; estímulo às ações intersetoriais; fortalecimento do controle social; garantia de orçamento; incentivo a estudos; pesquisas. No âmbito da Saúde, o desafio é ampliar o acesso, incluir e/ou potencializar o cuidado integral, concretizar ações intersetoriais nos territórios com foco nas especificidades e demandas de cuidado da população idosa. Cabe destacar que o cuidado à Saúde da Pessoa Idosa apresenta características peculiares quanto à apresentação, instalação e desfechos dos agravos em saúde, traduzidas pela maior vulnerabilidade a eventos adversos, necessitando de intervenções multidimensionais e multissetoriais com foco no cuidado. Lei n° 13.466/2017 A defesa dos direitos da pessoa idosa é permanente e está em constante aperfeiçoamento, como ocorreu com a edição da Lei n° 13.466, de 12 de julho de 2017, que estabeleceu tratamento ainda mais diferenciado aos maiores de 80 (oitenta) anos. ESTATUTO DO IDOSO No Brasil, o Estatuto do Idoso estabelece os direitos dos idosos, prevê punições para quem não cumpri-lo e garante uma maior qualidade de vida à pessoa idosa. Tal lei tem seu conteúdo valorado com base no Princípio da Dignidade Humana, uma vez que o princípio da dignidade humana é um conceito filosófico e abstrato que determina o valor inerente da moralidade, espiritualidade e honra de todo ser humano, independentemente da sua condição perante a circunstância dada. O Estatuto do Idoso abrange as seguintes dimensões: direito à vida; à liberdade; ao respeito; à dignidade; à alimentação; à saúde; à convivência familiar e comunitária. Com base em artigo publicado por pesquisadores do Direito da PUC-Rio, reservados especialmente para tutelar os interesses e direitos da pessoa idosa, há 3 princípios extraídos da interpretação direta do Estatuto do Idoso, todos orientados pelo princípio da dignidade humana. 1) Princípio da Proteção Integral do Idoso, que se baseia no Art. 2 Art. 2° O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. 2) Princípio da Absoluta Prioridade, baseado no Art. 3 Art. 3° É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. § 1º A garantia de prioridade compreende: I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. § 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente em relação aos demais idosos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017) 3) Princípio do Melhor Interesse do Idoso, ancorado no Art. 4 Art. 4° Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei. A partir do Estatuto do Idoso, o Ministério dos Direitos Humanos desenvolveu diversas ações para melhorar a situação das pessoas idosas no país, tais como: a Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa, o recadastramento dos Conselhos Municipais e Distrital, concurso literário nacional, parceria com universidades/escolas para inclusão digital da população idosa, campanhas de divulgação dos direitos, cursos à distância sobre garantia de direitos, mapeamento das ILPI (Instituições de Longa Permanência para Idosos) em conjunto com a UNESCO, acompanhamento de convênios com entidades governamentais e não governamentais, entre outras. 2 – ENTENDER OS MECANISMOS CELULARES E BIOQUÍMICOS, BEM COMO DIFERENCIAR AS TEORIAS (ESTOCÁSTICAS E SISTÊMICAS) DO ENVELHECIMENTO Biofísica, Neurobiologia, Bioquímica, Genética, Biologia Evolutiva, Medicina e Gerontologia estão entre as disciplinas estudadas pela Biogerontologia – campo da ciência que tenta compreender os “como” e “porquês” da senescência. Bernard Strehler, famoso gerontólogo americano, propõe algumas condições para definição do envelhecimento, as quais, mesmo limitantes, ainda são amplamente aceitas (Vina et al., 2007). Ademais, dada a natureza plural de nossas miscigenações e sua grande variabilidade genética, é difícil a caracterização de um determinante único, o que limita um conceito operacional simples para a biologia do envelhecimento (Cunha, 2011). O envelhecimento é o resultado das interações do organismo vivo ao longo da vida com o ambiente, e nenhum ser vivo apresenta o mesmo tipo de interação como meio (McDonald, 2014). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13466.htm#art2 Durante a senescência ocorre uma redução da massa muscular total, assim como da massa óssea. Inúmeros marcadores a nível celular expressam um funcionamento inadequado, como transcrição genética, síntese proteica, processos de glicação e oxidação, causando disfunções na habilidade peptídica e traduzindo-se em funcionamento inadequado da célula, que pode ser observado por meio de marcadores de lesão de DNA – gama-H2AX e 53BP1. Uma abordagem ampla e que oferece uma definição interessante para o envelhecimento é a proposta de Comfort (1964). Para ele, o envelhecimento pode ser definido como um processo intrínseco, inevitável e irreversível associado à idade, que traz consigo perda da vitalidade orgânica e aumento da vulnerabilidade. Willians, em 1957, escreveu o artigo Pleiotropia, seleção natural e a evolução da senescência. Nesse ensaio, ainda referência nos dias de hoje, o autor procura responder a uma pergunta que é ao mesmo tempo intrigante e desafiadora: por que envelhecemos, ou melhor, por que passamos por um processo de deterioração física à medida que envelhecemos? (Costa, 2010). Willians se interessava pela senescência do ponto de vista evolutivo, com perguntas como: será que algum elemento orgânico (genes, organismos individuais, grupos de indivíduos etc.) se beneficiaria, em termos de aptidão (crescimento, viabilidade e fecundidade), com o processo de senescência e, levando-se em conta a resposta anterior, poderíamos dizer que a senescência evoluiu por seleção natural? Outra maneira de analisar o envelhecimento se dá por meio de algumas condições clínicas. Existe um conjunto de patologias raras que promovem um envelhecimento acelerado, e um desses protótipos é a síndrome de Werner. Trata-se de uma doença autossômica recessiva causada por mutação no gene WRN, localizado no cromossomo 8 p11-12, e caracterizada pela dramática alteração fisiológica que causa um envelhecimento precoce. A síndrome de Hutchinson-Gilford, ou progeria, é conhecidamente causada pela mutação no gene para Lamin A, um componente da membrana nuclear. Essas e outras condições apontam que o componente genético desempenha um papel importante, em especial a estrutura de telômeros, na determinação da apoptose celular como será visto adiante. O envelhecimento pode ser visto como um holograma multifatorial que se dá por diversos processos, com variações inúmeras, até mesmo para uma única espécie, amplamente suscetível a influências ambientais e também submetido a polimorfismos genéticos e variações da expressão gênica (Cunha, 2011). Hoje, além desses fatores, até mesmo a ação das diversas tecnologias oriundas das conquistas da sociedade interfere diretamente na resposta fisiológica do organismo humano, alterando, de fato, sua sobrevida. Assim, o envelhecimento não pode ser visto somente como um único processo, mas sim como uma coleção de incontáveis processos complexos para cada espécie (Miller, 2009). De modo bastante amplo, quando são analisados os mecanismos moleculares de dano e limitações celulares, existem três grandes processos pelos quais tais moléculas sofrem comprometimento, causando senescência ou doenças. O primeiro é secundário a reações químicas intracelulares, seja como consequência do surgimento de espécies tóxicas de oxigênio, os radicais livres, seja por agentes exógenos como poluentes ou radiação. Uma segunda causa está associada a subprodutos de componentes da glicose e seus metabólitos; por fim, a presença de erros espontâneos nos processos bioquímicos, como a duplicação de DNA, modificações nos processos de transcrição, pós-transcrição, translação e pós- translação no âmago celular. Muitas das teorias que serão descritas encontram-se envolvidas em um desses três processos, e algumas delas, em todos eles. Na tentativa de estruturar de forma didática e apresentar de modo simplificado a complexidade dessas teorias e dos conteúdos envolvidos, e assim como adotado por Cunha (2011), seguiremos a proposta de Arking (2008). O modelo de Descartes, fragmentando as partes para compreender o todo, é proposto por esse autor. As teorias serão divididas em estocásticas e sistêmicas. 1 – TEORIAS ESTOCÁSTICAS A segunda lei da termodinâmica afirma que, do ponto de vista da mecânica estatística, os processos físicos e químicos tendem a um aumento da desordem ou de sua entropia. Assim como qualquer outra estrutura física, todas as células estão submetidas às leis da termodinâmica. As estruturas celulares são capazes de transformar a energia absorvida do ambiente e, em seguida, modificar este meio distribuindo calor e outras formas de energia. Todas as células, guardadas as devidas proporções, são instáveis do ponto de vista termodinâmico. Sua organização intrínseca está submetida a um contínuo e ininterrupto processo de diversos “ataques” aleatórios – estocásticos – que podem causar, em cada unidade, uma degradação. As teorias de cunho estocástico sugerem que fenômenos diversos oriundos dessa desordem promoveriam erros em diversos segmentos orgânicos, provocando um declínio fisiológico e estrutural progressivo. 1.1 TEORIA DO USO E DESGASTE: quanto mais desgaste sofre uma célula, maior é o comprometimento em sua habilidade de sobrevida. Ao longo do envelhecimento celular são observados inúmeros agravos que promovem uma limitada capacidade de reparação, a qual, com o passar do tempo, é cada vez menor. Essa constatação é parte integrante da percepção dessa teoria. Tão antiga quanto o nascimento da Geriatria, deu origem a hipóteses sugerindo que o desgaste gradual das células somáticas era resultado exclusivo de seu uso contínuo e ininterrupto, ou seja, que a causa principal do envelhecimento era sua incessante replicação, provocando, consequentemente, um desgaste (Weissman, 1891). Hoje, entretanto, essa teoria é totalmente discordante das observações práticas. Um primeiro item que merece destaque e que fez com que a mesma permanecesse como ponto de reflexão é a observação de que mesmo animais que estão protegidos de lesões ambientais ou patologias secundárias não apenas envelhecem, como também falham em exibir qualquer melhora no tempo máximo de vida. 1.2 TEORIA DAS MODIFICAÇÕES PROTEICAS: A produção de proteínas ocorre em duas fases: transcrição do gene que envolve a produção de RNA mensageiro (mRNA), seguido de translação da mensagem para a produção de proteína. Para aquelas células que estão em replicação, dividindo-se há um terceiro passo, a replicação do DNA, que precede as duas etapas anteriores. Erros podem ocorrer em qualquer uma dessas etapas. Quando eles ocorrem, genes defeituosos, mRNA e proteínas são produzidos de modo inadequado e/ou defeituosos. Champion (1942) postulou que modificações pós-traducionais poderiam ser disseminadas e, assim, esse fenômeno ser um mecanismo plausível de envelhecimento. A “falha na reparação” é a sugestão de que o acúmulo de modificações químicas irreparáveis em macromoléculas importantes poderia impedir o funcionamento adequado de algumas células. Outra importante observação é que a atividade proteica parece ficar mais lenta com o envelhecimento. As vias citoplasmáticas de degradação expressam um processamento inadequado de proteínas. Estas proteínas pós-tradução tornam-se anormais e se acumulam, e, com o passar do tempo, sua taxa de degradação diminui. 1.3 TEORIA DA MUTAÇÃO SOMÁTICA E DO DANO AO DNA: Nesta teoria a ideia principal é que fatores orgânicos poderiam causar alterações específicas na composição do DNA e nas células somáticas. Falha na reparação ou anomalias existentes promoveriam “golpes” aleatórios que comprometeriam a expressão de grandes regiões cromossômicas ou mesmo cromossomos inteiros (Arking, 2008). Como consequência, a expressão inadequada de suas funções promoveria o envelhecimento celular.1.4 TEORIA DO ERRO CATASTRÓFICO: A teoria do erro catastrófico apresenta que, ao longo dos anos, erros aleatórios e constantes poderiam construir alterações drásticas nas atividades enzimáticas, levando à limitação do funcionamento celular e, em nível macro, de todo o organismo (Panno, 2005). Na teoria do erro catastrófico, o funcionamento incorreto de elementos da síntese proteica foi proposto como modelo de observação. Um dos exemplos é a ação da enzima aminoacil- tRNA sintetase (aaRS), que tem como papel precípuo catalisar a esterificação de um aminoácido específico em um dos possíveis tRNA correspondentes durante a síntese proteica (McDonald, 2014). Erros aleatórios cumulativos podem ocorrer nesta estrutura, comprometendo-a drasticamente e induzindo a gênese imprópria de proteínas e um processo de feedback com autoamplificação. Seu funcionamento incorreto promoveria uma catástrofe na origem de novas proteínas e, em consequência, danos graves à célula e desfechos incompatíveis com a vida. 1.5 DESDIFERENCIAÇÃO: Esta teoria baseia-se no conceito de que as células diferenciadas têm a habilidade de repressão seletiva da atividade de genes desnecessários para a sobrevivência. Nessa hipótese, o envelhecimento normal ocorreria pelo fato de essas células desviarem-se de seu processo de diferenciação. Mecanismos estocásticos promoveriam ativação ou repressão gênica, causando síntese inadequada de proteínas ou mesmo a síntese de proteínas desnecessárias, que, com o tempo, diminuiriam a atividade celular e, em consequência, causariam a morte. Richard Cutler, em 1985, cunhou o termo “desdiferenciação” para indicar esse processo e sugeriu que a consequente falta de um controle gênico rigoroso poderia resultar em produção de proteínas sintetizadoras, além de outras características de seu estado diferenciado (Arking, 2008). A suposição é que modificações aleatórias poderiam ocorrer no aparato de regulação gênica, resultando em mudanças na sua expressão (Cunha, 2011). 1.6 DANO OXIDATIVO E RADICAIS LIVRES: Tal teoria postula que o envelhecimento seria consequente aos efeitos deletérios das espécies reativas de oxigênio nas organelas citoplasmáticas. A teoria de radicais livres é também dividida em hipóteses associadas, especialmente no papel desempenhado por algumas organelas citoplasmáticas e nos tipos de danos sob algumas moléculas durante o envelhecimento. Mutações no DNA mitocondrial acelerariam as lesões oriundas dos radicais livres através da introdução de componentes enzimáticos na cadeia de transporte de elétrons na crista mitocondrial. Hipóteses também sugerem que os radicais livres promovem oxidação de proteínas que se acumulam nas células e, uma vez que elas têm reduzida capacidade de degradação, causam, a longo prazo, disfunções moleculares e falência da célula (McDonald, 2014). 2 – TEORIAS SISTÊMICAS As teorias sistêmicas tentam, de certa forma, agrupar o processo de envelhecimento de maneira encadeada e organizada. Para este conjunto de teorias, o envelhecimento estaria relacionado com o declínio dos sistemas orgânicos desencadeado pela inabilidade de comunicação e adaptação inter e intracelular do ser vivente com o ambiente em que ele vive. Nas palavras de Arking (2008): “as teorias sistêmicas não são puramente deterministas, uma vez que todas admitem, em diferentes graus, a modulação ambiental do envelhecimento e da longevidade.” 2.1 TEORIAS METABÓLICAS: As teorias metabólicas envolveram um perfil prático da observação cotidiana. Desse modo, longevidade e metabolismo estariam ligados por um nexo causal em que taxas metabólicas elevadas promoveriam ou estariam associadas a um tempo de vida curto. A evidência científica experimental aponta que alterações na taxa metabólica podem modificar o tempo de vida em alguns animais. Duas teorias dentro das teorias metabólicas tentam explicar o fenômeno metabólico. A primeira, teoria da taxa de vida, afirma que a longevidade seria inversamente proporcional à taxa metabólica. A segunda, teoria de dano mitocondrial, explicita que danos oriundos das espécies tóxicas de oxigênio sobre a mitocôndria promoveriam um declínio das funções celulares durante o envelhecimento. As mitocôndrias são organelas intracitoplasmáticas, autorreplicantes, com um DNA próprio (mtDNA) e responsáveis pelo transporte de elétrons na cadeia oxidativa. Estima-se que, de todo o oxigênio consumido, 4% é convertido em subprodutos de peroxidação. Um possível dano no mtDNA é 10 vezes maior que o dano no DNA celular, dada sua proximidade ao processo de produção de energia. Enquanto envelhecemos, esses danos específicos parecem acumular-se exponencialmente na mitocôndria, causando mutações somáticas em mtDNA de humanos. 2.2 TEORIAS GENÉTICAS: As teorias genéticas afirmam que modificações na expressão gênica seriam responsáveis pelas alterações observadas nas células senescentes. Nas últimas décadas, achados contundentes mostraram que nossos genes têm um papel crucial no tempo que uma célula poderá viver (Panno, 2005). O papel da Biogerontologia é tentar compreender como esses genes interagem com os fenômenos ambientais, emocionais e alimentares, bem com o estilo de vida, determinando aumento ou diminuição da velocidade do envelhecimento celular. 2.3 TEORIAS NEUROENDÓCRINAS E IMUNOLÓGICAS: O postulado das teorias neuroendrócrinas é que o envelhecimento seria decorrente de alterações ocorridas nas funções neurais e endócrinas, notadamente no sistema hipotálamo-hipófise-adrenal. Este sistema alterado limitaria a integração das funções orgânicas específicas, levando à degradação das funções homeostáticas. A hipótese de alguns autores é que o envelhecimento seria o resultado da redução da habilidade adaptativa do organismo ao estresse por uma queda da resposta simpática. Seja pela diminuição dos receptores de catecolaminas, pelo declínio de proteínas responsáveis pela resistência ao estresse (heat shock proteins) ou mesmo pela diminuição da habilidade das catecolaminas como indutoras de formação proteica, traduziriam-se, com o envelhecimento, em mecanismos de contrarresposta inadequada do eixo central e periférico, apresentando inúmeras limitações nos feedbacks e causando, com isso, a senescência. 2.4 EPIGENÉTICA: A epigenética é conceituada como um conjunto de modificações no genoma que são herdadas pelas gerações subsequentes, mas que não alteraram a sequência do DNA. De forma bastante interessante a ciência tem apresentado que variações não genéticas (ou epigenéticas) apresentadas por determinado organismo ao longo de sua vida podem ser passadas aos seus descendentes. Hábitos de vida e até mesmo o ambiente social podem modificar o funcionamento celular. Esses efeitos são secundários a determinadas modificações pós-transcricionais do DNA (Arking, 2008). 2.5 APOPTOSE: A apoptose, ou morte celular programada, desempenha um papel essencial no remodelamento celular e na manutenção da vida, sendo considerada um componente vital de vários processos orgânicos, como: desenvolvimento e funcionamento do sistema imune, desenvolvimento embrionário, turnover celular, entre outros. A apoptose ocorre normalmente durante o desenvolvimento dos organismos, assim como na manutenção da homeostase de tecidos e células (Elmore, 2007). Apesar de a apoptose desempenhar um papel reconhecido no envelhecimento, excluindo células nocivas, modulando potenciais células tumorais ou mesmo executando aquelas com morfologia alterada pelo papel do tempo, sua relação com o envelhecimento humano é ainda pouco clara. A taxa de apoptose é alta em células senescentes do cérebro e dos sistemas cardiovascular, gastrintestinal, endócrino e imune (Higami e Shimokaia, 2000). Genes como p53 e da família caspase (Casp3, Casp8, Casp9) diminuem a expressão de apoptose com o envelhecimento. Gupta (2005) observa que mudanças na sinalização da apoptose têm consequências diretas no envelhecimento. Se existir uma grande ativação da cascata deapoptose, há como consequência uma degeneração do tecido; pouca apoptose permite a permanência de células disfuncionais que podem contribuir para o envelhecimento ou mesmo doenças degenerativas e câncer. Entretanto, análises de fibroblastos humanos demostraram maior resistência de células longevas a insultos apoptóticos (Lu et al., 2012). ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO COMPOSIÇÃO CORPORAL: Toda a celularidade diminui, reduzindo a função dos órgãos continuamente. A musculatura vai diminuindo, especialmente as fibras tipo II, de contração rápida, como as encontradas nas mãos. Diminuição da água intracelular – desidratação fisiológica (turgor x confusão); Diminuição da massa celular; Diminuição do tecido mineral ósseo; Diminuição da densidade corpórea. PELE: A pele torna-se seca, devido a diminuição das glândulas sebáceas, e espessada – facilitando a formação de lesões e bolhas. O número de melanócitos diminui, o que acarreta maior risco de câncer de pele quando aliado à exposição solar. MUSCULATURA: perda muscular acelerada, chegando a 30%/década aos 70 anos. Essa redução ocorre tanto em número quanto no volume das fibras (especialmente o m. esquelético). MARCHA, POSTURA E EQUILÍBRIO: Há redução na amplitude dos movimentos, tendendo a modificar a marcha, passos mais curtos e mais lentos com tendência a arrastar os pés. A base de sustentação se amplia e o centro de gravidade corporal tende a se adiantar, em busca de maior equilíbrio. Para vencer as dificuldades o idoso diminui o tamanho dos passos e anda mais devagar. O grande problema nos distúrbios da marcha é a queda, com todas as complicações posteriores. (Clarke e Sokoloff, 1999). SONO E REPOUSO: As queixas de insônia, sonolência diurna, despertares durante a noite e sono pouco reparador são frequentes. •Acordam fácil e demoram a adormecer; • Dormem menos horas por dia – menor gasto de energia. •Sono entrecortado – apnéia; •Sonolência durante o dia; •Cansaço, mau humor; •Diminuição da memória, cefaléia e até depressão. OLHOS: A flacidez das pálpebras superiores leva a uma limitação do campo visual lateral, podendo a pessoa não ver objetos ao seu lado, não ver um veículo se aproximar ao atravessar a rua, aumentando o risco de sofrer acidentes. •Atrofia da fáscia palpebral pode levar à herniação da gordura orbitária para dentro do tecido palpebral; •Surgimento do arco senil - halo senil; •Opacidade do cristalino - catarata; •Redução da secreção lacrimal - olho seco. OUVIDO E NARIZ: •Espessamento do tímpano; •Degeneração do ouvido interno; •Diminuição da capacidade auditiva – cerume; •Diminuição da capacidade olfativa; •Aumento do tamanho do nariz e orelhas. CAVIDADE ORAL: •Perda de dentes (cáries, doença periodontal, desmineralização óssea); •Retração gengival; •Redução da saliva – boca seca; •Alterações no paladar – perda de papilas gustativas; •Diminuição da força de mastigação; •Perda de elasticidade de mucosas; •Disfagia orofaríngea – perda do tônus e motricidade muscular. ESTÔMAGO: •Diminuição da secreção de ácido clorídrico e de pepsina; •Alterações do esvaziamento gástrico – gastroparesia; •Diminuição na secreção de prostaglandinas; •Alterações na absorção de nutrientes e medicamentos; •Maior susceptibilidade a úlceras e sangramentos digestivos. Ainda pode ocorrer a ruptura da barreira da mucosa gástrica, permitindo que o ácido clorídrico e a pepsina do lúmen do estômago entrem nas células da mucosa, destruindo-as. O rompimento dessa barreira acontece também com o uso de antiinflamatórios, álcool, cafeína e por bactérias (Sonnenberg e Genta, 2015). INTESTINO: •Atrofia da mucosa – diminuição das vilosidades; •Menor absorção de nutrientes e vitaminas (especialmente Vitamina D e Ferro); •Lentificação do trânsito intestinal – constipação; •Predisposição a divertículos; •Maior susceptibilidade a lesões e sangramentos digestivos. A diminuição do tônus e da força do esfíncter anal, associada a menor complacência retal, aumenta a chance de incontinência fecal nas pessoas idosas, sendo as mulheres mais predispostas que os homens. FUNÇÃO ENDÓCRIMA: •Alteração nos receptores de insulina – intolerância à glicose. •Baixa do hormônio melatonina – regula o sono; •Baixa de hormônio paratireoidiano, especialmente em mulheres, causando a diminuindo a produção da forma ativa da vitamina D e a baixa absorção de cálcio – osteoporose; •Disfunção hepática – diminuição no metabolismo de medicamentos; •Baixa de hormônios sexuais. SIST. IMUNE E TERMORREGULAÇÃO: IMUNOSENESCÊNCIA •Redução da resposta imunológica a invasores; •Maior susceptibilidade às infecções; •Menor atividade de glândulas sudoríparas; •Menor produção de calor; •Diminuição da atividade física; •Diminuição do metabolismo basal - menor gasto de energia. FUNÇÃO NEUROLÓGICA: •Diminuição de água intra e extracelular – diminuição de massa cerebral; •Diminuição do número de neurônios e sinapses; •Alterações na membrana lipídica e na condução nervosa; •Diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose; •Permeabilidade da barreira hematoencefálica. Em resposta ao dano neuronal, as células gliais aumentam. Esse acúmulo de células gliais, denominado gliose, representa uma resposta compensatória protegendo a função neuronal e a plasticidade. FUNÇÃO CARDÍACA: •Débito cardíaco e fração de ejeção diminuídos; •Diminuição da capacidade contrátil – aumento da área cardíaca; •Contração prolongada; •Tempo de relaxamento aumentado; •Aumento da rigidez miocárdica e vascular; •Hipertrofia de VE – hipertensão arterial sistólica; •Modificações em receptores de catecolaminas: diminuição de sensibilidade dos barorreceptores – hipotensão postural; •Deposição de cálcio – calcificação do anel mitral e esclerose da valva aórtica. Diminuição do consumo máximo de O2; Capacidade de exercício diminuída; Reserva cardíaca diminuída. FUNÇÃO RESPIRATÓRIA: •Diminuição da complacência pulmonar; •Diminuição de superfície de troca gasosa; •Diminuição do surfactante pulmonar - atelectasias; •Clearance mucociliar diminuído - acúmulo de secreção; •Diminuição do reflexo da tosse; •Alteração em quimiorreceptores – sensibilidade ao uso de drogas depressoras do SNC. Susceptibilidade à PNEUMONIA. FUNÇÃO RENAL: •Perda progressiva de massa renal; •Redução da taxa de filtração glomerular; •Diminuição na produção e excreção do ADH (hormônio antidiurético); •Diminuição da capacidade renal de concentração e conservação do sódio, estando os idosos mais propensos à hiponatremia e à hipopotassemia; •Poliúria – urinar mais vezes e a noite. Muitas pessoas idosas sofrem perda da habilidade de concentrar ou diluir a urina de tal modo que se tornam incapazes de equilibrar o organismo frente a uma desidratação ou a uma sobrecarga hídrica. INCONTINÊNCIA URINÁRIA: A incontinência urinária NÃO é comum. A frequência e a importância do evento estão associadas às repercussões emocionais e sociais. Muitas causas são reversíveis - delírio, restrição de mobilidade, retenção urinária, infecção e efeito medicamentoso. SIST. HEMATOLÓGICO: •Diminuição da hemoglobina e hematócrito - anemia; •Diminuição do número de hemácias; •Demora no início da eritropoiese; •Alterações nos fatores de coagulação - estado prócoagulante, importante fator de risco para trombose venosa profunda. 3 – COMPREENDER OS ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS (SENESCÊNCIA E SENILIDADE) NO ENVELHECIMENTO (INFANTILIZAÇÃO, VULNERABILIDADE, CUIDADO DO IDOSO/ DEPENDÊNCIA, FALTA DE AUTONOMIA, SOLIDÃO, IDOSO, VELHICE, SEXUALIDADE, BAIXA ADAPTAÇÃO AO MEIO, AUTOESTIMA E LUTOS) Segundo a Organização Panamericana da Saúde (OPAS), o envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumentesua possibilidade de morte.” Nesse contexto, cabe diferenciar: senescência x senilidade • Senescência – processo natural, de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduos. A senescência resulta do somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas que são próprias do envelhecimento normal. Cabe ressaltar que certas alterações decorrentes do processo de senescência podem ter seus efeitos minimizados pela assimilação de um estilo de vida mais ativo. • Senilidade – é caracterizada por modificações determinadas por mecanismos fisiopatológicos, podendo estes serem decorrentes de doenças crônicas, interferências ambientais, medicamentos etc. A senilidade tem como resultado a grande classe das Síndromes Geriátricas: imobilidade, instabilidade postural, incontinências, iatrogenias, incapacidade comunicativa, insuficiências familiar e cognitiva. Assim, no cuidado à pessoa idosa, dois grandes erros devem ser evitados: 1) Considerar que todos os processos envolvendo saúde/doença são decorrentes do envelhecimento natural e não podem ser evitados; 2) Tratar aspectos inerentes ao envelhecimento como doença. Dentro do grupo das pessoas idosas, os denominados "mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice avançada" (idade igual ou maior que 80 anos), também vêm aumentando proporcionalmente e de forma muito mais acelerada, constituindo o segmento populacional que mais cresce nos últimos tempos. É nesse contexto que a denominada “avaliação funcional” torna-se essencial para o estabelecimento de um diagnóstico, um prognóstico e um julgamento clínico adequados, que servirão de base para as decisões sobre os tratamentos e cuidados necessários às pessoas idosas. É um parâmetro que, associado a outros indicadores de saúde, pode ser utilizado para determinar a efetividade e a eficiência das intervenções propostas. A avaliação funcional busca verificar, de forma sistematizada, em que nível as doenças ou agravos impedem o desempenho, de forma autônoma e independente, das atividades cotidianas ou atividades de vida diária (AVD) das pessoas idosas permitindo o desenvolvimento de um planejamento assistencial mais adequado. A capacidade funcional surge, assim, como um novo paradigma de saúde, proposto pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI). A independência e a autonomia, pelo maior tempo possível, são metas a serem alcançadas na atenção à saúde da pessoa idosa. A dependência é o maior temor nessa faixa etária e evitá-la ou postergá-la passa a ser uma função da equipe de saúde, em especial na Atenção Básica. O cuidado à pessoa idosa deve ser um trabalho conjunto entre equipe de saúde, idoso e família. No final da década de 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a utilizar o conceito de “envelhecimento ativo” buscando incluir, além dos cuidados com a saúde, outros fatores que afetam o envelhecimento. Pode ser compreendido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. Envolve políticas públicas que promovam modos de viver mais saudáveis e seguros em todas as etapas da vida, favorecendo a prática de atividades físicas no cotidiano e no lazer, a prevenção às situações de violência familiar e urbana, o acesso à alimentos saudáveis e à redução do consumo de tabaco, entre outros. Tais medidas contribuirão para o alcance de um envelhecimento que signifique também um ganho substancial em qualidade de vida e saúde. Sua implementação envolve uma mudança de paradigma que deixa de ter o enfoque baseado em necessidades e que, normalmente, coloca as pessoas idosas como alvos passivos, e passa a ter uma abordagem que reconhece o direito dos idosos à igualdade de oportunidades e de tratamento em todos os aspectos da vida à medida que envelhecem. Essa abordagem apoia a responsabilidade dos mais velhos no exercício de sua participação nos processos políticos e em outros aspectos da vida em comunidade. O maior desafio na atenção à pessoa idosa é conseguir contribuir para que, apesar das progressivas limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir possibilidades de viver sua própria vida com a máxima qualidade possível. Essa possibilidade aumenta na medida em que a sociedade considera o contexto familiar e social e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas idosas. Portanto, parte das dificuldades das pessoas idosas está mais relacionada a uma cultura que as desvaloriza e limita. (INFANTILIZAÇÃO, VULNERABILIDADE, CUIDADO DO IDOSO/ DEPENDÊNCIA, FALTA DE AUTONOMIA, SOLIDÃO, IDOSO, VELHICE, SEXUALIDADE, BAIXA ADAPTAÇÃO AO MEIO, AUTOESTIMA E LUTOS) SEXUALIDADE: A sexualidade da pessoa idosa também deve integrar a avaliação da mesma. Estudos mostram que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm vida sexual ativa após os 60 anos. A identificação de disfunção nessa área pode ser indicativa de problemas psicológicos, fisiológicos ou ambos. Muitas das alterações sexuais que ocorrem com o avançar da idade podem ser resolvidas com orientação e educação. Alguns problemas comuns também podem afetar o desempenho sexual: artrites, diabetes, fadiga, medo de infarto, efeitos colaterais de fármacos e álcool. Embora a frequência e a intensidade da atividade sexual possam mudar ao longo da vida, problemas na capacidade de desfrutar prazer nas relações sexuais não devem ser considerados como parte normal do envelhecimento. Devem fazer parte da avaliação sistemática das pessoas idosas sexualmente ativas a investigação de doenças sexualmente transmissíveis/AIDS. As mulheres após a menopausa, principalmente, após os 60 anos, normalmente apresentam algum desconforto nas relações sexuais com penetração vaginal, devido às condições de hipoestrogenismo e, consequentemente, hipotrofia dos tecidos genitais. A utilização de um creme vaginal à base de estriol, 2ml, uma a duas vezes por semana, permite uma manutenção do trofismo do epitélio (mucosa), favorecendo uma melhoria nas condições genitais para o exercício pleno da sexualidade. Para o início de sua utilização, é necessário a realização dos exames preventivos para o câncer ginecológico e mamário, conforme protocolos vigentes, recomendados nessa faixa etária. 4 – COMPREENDER A IMPORTÂCIA DA CONDUTA GERIÁTRICA HUMANIZADA A Humanização na saúde caracteriza-se como um movimento no sentido da concretização dos princípios do SUS no dia-a-dia dos serviços. Com a Política Nacional de Humanização(PNH). O HumanizaSUS, como também é conhecida a Política Nacional de Humanização, aposta na inclusão de trabalhadores, usuários e gestores na produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho. A comunicação entre esses três atores do SUS provoca movimentos de perturbação e inquietação que a PNH considera o “motor” de mudanças e que também precisam ser incluídos como recursos para a produção de saúde. Humanizar se traduz, então, como inclusão das diferenças nos processos de gestão e de cuidado. Tais mudanças são construídas não por uma pessoa ou grupo isolado, mas de forma coletiva e compartilhada. Incluir para estimular a produção de novos modos de cuidar e novas formas de organizar o trabalho. A PNH propõe que o Acolhimento esteja presente em todos os momentos do processo de atenção e de gestão e que atinja todos aqueles que participam na produção da saúde, voltando seu olhar atencioso para os usuários e para os trabalhadores da saúde. O Acolhimento não é um espaço ou um local específico, não pressupõe hora ou um profissional determinado para fazê-lo. É uma ação que pressupõe a mudança da relação profissional/usuário e sua rede social. Implica o compartilhamento de saberes, necessidades, possibilidades, angústias constantemente renovados. O processo de trabalho das equipes de saúde dafamília deve caracterizar-se pelo desenvolvimento de ações proativas. O planejamento torna-se fundamental para a efetivação do acolhimento, levando-se em conta o "acolher na família/comunidade". Para a efetivação do Acolhimento da pessoa idosa, os profissionais de saúde devem compreender as especificidades dessa população e a própria legislação brasileira vigente. Para isso, devem: • Estar preparados para lidar com as questões do processo de envelhecimento, particularmente no que concerne à dimensão subjetiva da pessoa idosa; • Romper com a fragmentação do processo de trabalho e interação precária nas equipe multiprofissionais, pois, é preciso reconhecer que a complementaridade interdisciplinar e a integração entre a rede básica e o sistema de referências; • Facilitar o acesso dos idosos aos diversos níveis de complexidade da atenção; • Investir na qualificação dos trabalhadores, especialmente no que se refere à saúde da pessoa idosa. No Acolhimento à pessoa idosa os profissionais de saúde devem estar atentos, entre outros aspectos, para: • O estabelecimento de uma relação respeitosa, considerando que, com a experiência de toda uma vida, as pessoas se tornam em geral mais sábias, desenvolvem maior senso de dignidade e prudência e esperam ser reconhecidas por isso; • Partir do pressuposto de que o idoso é capaz de compreender as perguntas que lhe são feitas ou as orientações que lhe são fornecidas, nunca se dirigindo primeiramente a seu acompanhante; • Chamar a pessoa idosa por seu nome e manter contato visual, preferencialmente, de frente e em local iluminado, considerando um possível declínio visual ou auditivo; • A utilização de uma linguagem clara, evitando-se a adoção de termos técnicos que podem não ser compreendidos. Segundo Oliveira e colaboradores (2006), humanizar a assistência em saúde implica dar lugar tanto à palavra do usuário quanto à palavra dos profissionais da saúde, de forma que possam fazer parte de uma rede de diálogo que pense e promova as ações, as campanhas, os programas e as políticas assistenciais a partir da dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade. Entretanto, o problema em muitos locais é justamente a falta de condições técnicas, seja por falta de capacitação ou materiais, tornando o atendimento desumanizante pela má qualidade, resultando num atendimento de baixa resolubilidade. Essa falta de condições técnicas e materiais também pode induzir à desumanização na medida em que profissionais e usuários se relacionem de forma desrespeitosa, impessoal e agressiva, piorando uma situação que já é precária. É o que se vê na maioria das Unidades de Saúde, onde os espaços físicos são improvisados, inadequados e em péssimo estado de conservação, afetando negativamente a recepção dos usuários, interferindo na qualidade dos atendimentos e, muitas vezes, impedindo ou impossibilitando a privacidade dos procedimentos. Além disso, a ausência de um ambiente adequado, a falta de recursos humanos e a deficiência na qualidade e quantidade de materiais desmotivam o profissional para uma mudança de atuação (Simões e col., 2007). Dentre as características do processo de trabalho das equipes destacam-se: 1. Atenção Continuada ou Longitudinalidade – a garantia de efetivação do cuidado ao longo do tempo confere vantagens, especialmente, no acompanhamento da pessoa idosa, como: • Não é necessário se esgotar todos os assuntos num único contato; • É possível negociar mudanças de hábitos gradual e continuamente, onde cada conquista pode ser comemorada, ou quando necessário, novas negociações são estabelecidas; • É possível haver maior agilidade na percepção de reações inadequadas a uso de medicamentos ou de outras condutas que possam prejudicar a vida da pessoa idosa, possibilitando a correção dessas condutas; • Estreitam-se os vínculos entre usuários e equipe, o que contribuirá no aumento da adesão aos tratamentos. É preciso que se reflita também sobre a postura ética da equipe que vai atuar junto dessas pessoas, desde os profissionais de saúde até o pessoal de apoio. A comunicação é fundamental nas relações interpessoais de qualquer natureza, ganhando um significado ainda maior quando envolve pessoas em posições diferentes e em situações de fragilidade física e emocional. Estabelecida com objetividade, clareza e respeito, a comunicação pode reduzir as incertezas, tão frequentes em situações de doença, e fortalecer o relacionamento entre as pessoas envolvidas (BURLÁ, 2006).
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