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Estágio Supervisionado II - Peça 1 (Penal)

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XXª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP
Fulano de tal, brasileiro, solteiro, profissão, portador do RG de n° XX.XXX.XXX, e CPF n° XXX.XXX.XXX-XX, atualmente residente e domiciliado na rua XXXX, n° XXXX, bairro XXXX, São Paulo/SP, vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, por seu advogado constituído, que esta subscreve, fulcro nos artigos 310 e 312, ambos do Código de Processo Penal, requerer o presente 
RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE
I – DOS FATOS
Ocorre que, a polícia civil recebeu uma denúncia anônima, sobre possível armazenamento e distribuição de drogas, e valendo-se de que o possível tráfico de drogas é flagrante delito, ou seja, um crime permanente, ingressaram na residência de Fulano de tal, sem ordem judicial e sem consentimento do morador, e encontraram no local, vários comprimidos de ecstasy, uma droga psicoativa, comumente conhecida como MDMA.
Realizaram sua prisão em flagrante e Fulano de Tal, permaneceu preso por um mês, quando fora encaminhado para a audiência de custodia, após a ocorrência dos fatos na comarca de São Paulo/SP.
Durante a audiência de custodia, o membro do Ministério Público requereu que a prisão em flagrante fosse convertida em prisão preventiva, visto que o acusado era pessoa rica e armazenava considerável quantia de MDMA, afirmando que o acusado é possivelmente um traficante de drogas perigoso, valendo-se do art. 33, caput, da Lei n° 11.343/06, que conceitua o tráfico de drogas:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
II – DO DIREITO
1) Da ilegalidade da prisão em flagrante
Conforme os fatos acima narrados, é notória a ilegalidade da prisão em flagrante, visto que o acusado permaneceu preso por um mês, até que se realizasse a audiência de custódia, por atraso injustificado e não sendo respeitado o prazo legal, previsto no art. 310, caput, do Código de Processo Penal, in verbis:
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
I - Relaxar a prisão ilegal; ou
II - Converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança
Sendo assim, como supracitado no dispositivo acima, a audiência de custodia deveria ter sido realizada em até 24 horas após os fatos, o que não ocorreu, gerando irregularidade quanto a prisão em flagrante e precariedade quanto aos dias sem homologação judicial, nos quais permaneceu o acusado restrito de sua liberdade.
2) Da Prisão Preventiva
O Ministério Público fundamentou seu pedido com base no acusado ser pessoa rica, cabe ressaltar que apenas tal alegação, não sustenta fundamentação, sendo necessário outros elementos existentes e concretos, como por exemplo, de que o acusado possa voltar a delinquir, apresente possibilidades de fuga para outro país ou que possa ameaçar as testemunhas.
Portanto, apenas o fator de riqueza não se torna necessário para gerar um decreto prisional, conforme o art. 312 do CPP:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação 
3) Da Inviolabilidade de domicilio 
A denúncia anônima, não é suficiente para configurar justa causa para que ocorra o ingresso da polícia ao domicilio do acusado sem determinação judicial, tendo o Superior Tribunal de Justiça pacifica jurisprudência neste sentido:
A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao avistar a polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.
(STJ. 5ª Turma. RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/02/2020 (Info 666).
(STJ. 6ª Turma. RHC 83.501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018 (Info 623).
Portanto, de acordo com a visão jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, a entrada no domicilio do acusado foi realizada de forma irregular pelos policiais civis, já que não haviam fundadas razões para tal, bem como, não houve o consentimento do acusado e determinação judicial.
O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da residência.
A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse autorizar abordagem policial em via pública para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento e sem determinação judicial.
(STJ. 6ª Turma. REsp 1574681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).
III – DOS PEDIDOS
Em razão do exposto, requer a procedência do pedido, com o consequente relaxamento de prisão em flagrante, bem como a liberdade do acusado, com expedição de alvará de soltura em favor do requerente, com base no art. 310, I, do Código de Processo Penal.
Nestes termos,
Pede deferimento,
São Paulo/SP, XX de XXXX de XXXX.
Advogado – OAB/XX. XXX.XXX

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