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Infecções de Vias Aéreas Superiores (IVAS)

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@flashmedcards Juliana Reichmann 
Infecções de Vias Aéreas Superiores 
(IVAS) 
Atualizado em: agosto/2022 
As Infecções Respiratórias Agudas (IRAs) incluem um extenso grupo de doenças respiratórias de grande importância 
na faixa etária pediátrica, uma vez que corresponde ao principal motivo de atendimento nos serviços de Unidade 
Básica de Saúde e nos serviços de urgência e emergência em Pediatria. As IRAs se dividem em: Infecções de Vias Aéreas 
Superiores (IVAS) e Infecções de Vias Aéreas Inferiores (IVAI). A divisão entre via aérea superior e inferior é feita 
anatomicamente através da carina, no limite de bifurcação da traqueia. Além disso, os agentes etiológicos mais 
comuns são os vírus, seguidos das bactérias. 
As IVAS englobam diversas patologias, compreendendo 40 a 60% do total de atendimentos na faixa pediátrica, nos 
serviços médicos de urgência e emergência e nas intercorrências ambulatoriais. Costumam ter curso benigno e 
autolimitado em sua maioria, incluindo: Rinofaringite aguda (resfriado comum); Faringite; Laringotraqueobronquite; 
Rinossinusite aguda; Otites agudas. 
- Fatores de risco: Prematuridade; Baixo Peso ao Nascer; Baixo nível socioeconômico; Desmame precoce; Atopia; 
Deficiência imunológica; Desnutrição energético-proteica; Baixa cobertura vacinal; Síndrome genética ou presença de 
anomalias craniofaciais e do palato; Aglomerações de pessoas (creches, escolas); Tabagismo familiar e/ou domiciliar; 
Número elevado de crianças < 5 anos; Dificuldade de acesso aos serviços de saúde. 
- Agentes etiológicos: incluem vírus principalmente e bactérias, além de agentes atípicos. 
• Vírus – rinovírus (30 a 40% dos casos); adenovírus; influenza; parainfluenza; vírus sincicial respiratório (VSR) e 
coxsackievírus; 
• Bactérias – Streptococcus pyogenes (Streptococcus beta-hemolítico do grupo A); Streptococcus pneumoniae; 
Haemophilus influenzae não tipável; Staphylococcus aureus e Moraxella catarrhalis. 
- Quadro clínico: os quadros de IVAS têm morbidade especialmente alta na faixa etária pediátrica, uma vez que trata-
se do primeiro contato como agente agressor, há falta de imunidade que faz o agente ser transmitido em grande 
quantidade por mais tempo, as vias aéreas são de menor calibre e podem complicar com desconforto respiratório e 
insuficiência respiratória, há maior contato social, aumentando a taxa de ataque. 
Rinofaringite aguda/Resfriado comum 
É a IVAS mais comum, sendo da mesma forma um dos problemas mais comuns nos serviços de atendimento médico 
pediátricos, que resulta em morbidade significativa em todo o mundo. Trata-se de uma síndrome clínica benigna e 
autolimitada, causada por inflamação aguda da mucosa do nariz, dos seios paranasais e da faringe, provocada 
principalmente por um amplo grupo de vírus. 
- Etiologia: O agente mais comum é o Rinovírus (pelo menos 50% dos casos), também podendo estar envolvido o VSR, 
Metapneumovírus, Influenza, Coronavírus, Parainfluenza (tipos 3 e 4), Adenovírus e Enterovírus. 
- Epidemiologia: acomete com maior frequência crianças menores de 5 anos de idade, tendo incidência inversamente 
proporcional à idade. A disseminação ocorre através do ambiente domiciliar ou em creches e escolinhas. Além disso, 
fatores genéticos podem afetar ou alterar a suscetibilidade individual ao resfriado comum, entretanto os mecanismos 
são desconhecidos. Estresse psicológico e exercício físico intenso também podem aumentar o risco de doença. Em 
países sem desenvolvimento, crianças menores de 5 anos apresentam em média 4 a 8 episódios por ano de resfriado 
comum, principalmente entre 6 a 24 meses. 
Há uma clara sazonalidade, embora possa acontecer durante todo o ano, tem maior incidência no Outono e no 
Inverno, sendo no Brasil, as estações de chuva e meses frios o período de maior incidência. Além disso, a sazonalidade 
pode variar de acordo com o agente viral envolvido: Rinovírus (início de outono e final da primavera); Influenza e VSR 
(inverno); Parainfluenza (final de outono); Coxsackievírus (verão). 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
- Transmissão: contato direto, especialmente mãos contaminadas ou partículas virais aerossolizadas, que transmitem 
de pessoas para pessoa, ou permanecem suspensas. No caso de Rinovírus e VSR, um importante mecanismo de 
contaminação é a auto inoculação por meio do contato da mão contaminada ou objeto contaminado com a mucosa 
nasal ou ocular. No caos do Influenza, a principal via é por meio de pequenas partículas de aerossol. 
O período de incubação varia de 2 a 5 dias (geralmente 1 a 3 dias) e o período de contágio de algumas horas antes até 
2 dias após o início dos sintomas. 
- Fisiopatologia: envolve a invasão do epitélio da nasofaringe, dos seios paranasais e do trato respiratório superior, 
com lesão celular subsequente. Há estimulação colinérgica que resulta em aumento da produção do muco, com 
surgimento de coriza e tosse. Ainda, secundariamente à invasão do epitélio, há liberação de mediadores inflamatórios 
nas secreções nasais, aumento da permeabilidade vascular, edema de mucosa e congestão nasal. 
- Quadro clínico: a coriza é o sintoma mais precoce (podendo evoluir de hialina para esverdeada sem indicar infecção 
bacteriana) e pode ser acompanhada de espirros, obstrução nasal e febre baixa nos primeiros 3 dias. O pico 
sintomático é entre o 2° e 4° dia, podem ainda estarem associados: irritação nasal, dor de garganta, dor muscular, 
cefaleia, mal-estar, inapetência, apesar de não tão frequentes em crianças maiores. Em lactentes jovens pode-se notar 
inquietação, choro fácil, recusa alimentar, vômitos, alteração do sono e dificuldade respiratória por obstrução nasal. 
A persistência da febre após os primeiros dias, ou pior ada mesma, pode indicar infecção bacteriana. A resolução dos 
sintomas se dá de 5 a 7 dias e eventualmente a tosse seca pode persistir por até 14 dias. Ao exame físico nota-se 
congestão nasal, hipertrofia, hiperemia das mucosas nasais e faríngeas, e hiperemia das membranas timpânicas e da 
conjuntiva ocular. 
- Diagnóstico: essencialmente clínico e baseado no quadro clínico. Um aspecto importante de ser avaliado é a 
cronologia e duração dos sintomas, uma vez que doenças virais podem ter um curso clínico por volta de 1 a 2 semanas 
e que sintomas recorrentes ou persistentes podem ser sugestivos de infecção bacteriana ou alergia. O surgimento de 
um quadro de IVAS de repetição, com sintomas quase permanentes no período de inverno e primavera, deve levar o 
diagnóstico diferencial com a existência de uma rinite alérgica. 
- Tratamento: medicamentos sintomáticos, lavagem nasal, inalação com soro fisiológico e antitérmicos e/ou 
analgésicos, e medidas de suporte como hidratação, repouso e manutenção da dieta. O mel é uma boa indicação para 
controle de tosse seca, comprovado através de estudos, entretanto, não é recomendado para crianças menores de 2 
anos. O uso de xaropes, expectorantes e descongestionantes é contraindicado, devido ao efeito questionável e risco 
de intoxicação. Ainda, o uso de anti-histamínicos é recomendado apenas em pacientes com rinite alérgica. Por fim, o 
paciente deve ser reavaliado se piora sintomática, persistência da febre por mais de 72h ou queda do estado geral da 
criança, pois estes são sinais de alerta. 
- Complicações: uma das complicações mais comuns do resfriado comum é o desenvolvimento de OMA, devido a 
disfunção tubária concomitante, ocorrendo em até 30% dos casos. Outras complicações incluem: rinossinusites, 
bronquites, laringotraqueítes e pneumonias. Especialmente em lactentes, pode ser desencadeante de sibilância. 
Influenza – Síndrome Gripal 
A gripe é uma síndrome clínica marcada por uma doença infecciosa epidêmica causada principalmente pelo vírus 
Influenza tipos A e B, que se diferencia do resfriado comum pela sua maior repercussão sistêmica, com febre, mialgia, 
cefaleia, mal-estar e prostração, decorrentes do maior acometimento da árvorerespiratória. 
- Etiologia: gerada apenas pelo vírus Influenza, é um vírus RNA grande, família ortomixovírus e do gênero influenza. 
Possui uma alta capacidade mutagênica e suas inúmeras mutações sucessivas ao longo do tempo e do espaço 
produziram diversos subtipos e uma infinidade de variantes. Há 4 tipos sorológicos, tipos A, B, C e D, divisão a qual 
baseia-se nas diferenças antigênicas da nucleoproteína e da proteína de matriz. O tipo C não possui grande relevância 
par ao ser humano, pois suas infecções são em geral raras e leves. 
- Epidemiologia: as epidemias sistemáticas de gripe a cada 1 a 3 anos são decorrentes das chamadas mutações 
menores (drifts) na estrutura glicoproteica do vírus, criando novas cepas, enquanto famosas pandemias, são 
decorrentes de mutações maiores (shifts), modificando o subtipo, e têm ocorrido, em média, a cada 30 anos. 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
A gripe por influenza é uma das infecções de vias aéreas amis frequentes, e em crianças, o vírus afeta principalmente 
os pré-escolares e escolares, entretanto lactentes também apresentam infecção pelo vírus, especialmente a influenza 
A, possuindo maiores taxas de hospitalização e mortalidade. 
No Brasil sua epidemiologia é bem conhecida nas regiões Sul e Sudeste, onde a sazonalidade é bem caracterizada, 
ocorrendo nos meses de outono e inverno. Nos países de clima temperado, a incidência tem picos bem demarcados 
durante do inverno. 
- Transmissão: As crianças representam ainda um papel relevante na transmissão, uma vez que propagam o vírus por 
um período maior que os adultos. Enquanto adultos transmitem por 24 a 72 horas antes do início dos sintomas e até 
5 dias após, as crianças transmitem o vírus desde vários dias antes até 10 dias após o início dos sintomas. Além de 
altamente mutagênica, o vírus influenza possui um poder de transmissão interpessoal muito grande e um curto 
período de incubação (1 a 4 dias), configurando a rápida transmissão e possíveis surtos e epidemias. É transmitido de 
pessoas para pessoa através de gotículas ou contato direto com objetos contaminados por secreções nasofaríngeas. 
O portador do vírus é mais infectante durante 24 a 72 horas anteriores são início dos sintomas e o período amis 
sintomático. 
- Fisiopatologia: uma pessoa pode ter inúmeras gripes durante a vida, pois cada epidemia é causada por uma nova 
cepa viral, não reconhecida pela memória imunológica. O vírus infecta as células epiteliais ciliadas da árvore 
respiratória devido ao seu tropismo, afetando indiscriminadamente desde a mucosa nasal até os alvéolos, destruindo 
o epitélio e levando a perda da função ciliar, facilitando uma superinfecção bacteriana. Assim, do ponto de vista 
anatômico, a gripe pode ser considerada uma IVAS ou IVAI. 
- Quadro clínico: geralmente trata-se de uma doença benigna, autolimitada e de bom prognóstico, mas, pode produzir 
marcada morbidade na presença de fatores de risco como: <2 anos ou >60 anos; portadores de doenças respiratórias 
crônicas; portadores de doenças cardiovasculares; imunodeficientes; portadores de doenças renais crônicas; 
hepatopatas; portadores de doenças hematológicas ou metabólicas (como DM); transtornos neurológicos e do 
desenvolvimento; gestantes ou mulheres no período de puerpério; e obesos. 
Há predomínio de manifestações sistêmicas sobre as manifestações respiratórias nos casos de gripe. Em crianças 
menores, geralmente há febre alta, coriza hialina, obstrução nasal e tosse, associados a sintomas gastrointestinais 
como anorexia, náuseas e vômitos. Já em crianças maiores, há cefaleia, mal-estar, mialgia, adinamia e fadiga. A 
intensidade dos sintomas respiratórios é variável e, às vezes, podem estar ausentes. Os principais sintomas tendem a 
melhorar de 3 a 5 dias, entretanto, tosse e mal-estar podem persistir por até 2 semanas. 
- Diagnóstico: é presuntivo, de forma essencialmente clínica e epidemiológica. Há métodos de detecção do vírus. 
 
Testes Método 
Vírus 
detectado 
Distinção de 
subespécies 
Tempo de 
resultado 
Desempenho 
Moleculares 
rápidos 
Amplificação de 
ácido nucleico 
Influenza A e B 
Não 
15 a 30 minutos 
Alta 
sensibilidade e 
especificidade 
Testes rápidos 
Detecção de 
antígeno 
Não 
Melhor 
especificidade 
Imunofluorescência 
direta ou indireta 
Não 1 a 4 horas 
Melhor 
especificidade e 
baixa 
sensibilidade 
Moleculares RT-
PCR Amplificação de 
ácido nucleico 
Sim, se forem 
utilizados 
primers para 
subtipos 
1 a 8 horas 
Alta 
sensibilidade e 
especificidade 
Moleculares 
multiplex 
Influenza e 
outros vírus 
1 a 3 horas 
Cultura do vírus Isolamento viral Influenza A e B -- 3 a 10 dias 
 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
- Tratamento: semelhante à rinofaringite aguda, são utilizadas medicações sintomáticas, medidas de suporte, visando 
diminuir o desconforto decorrente da febre, rinorreia, obstrução nasal ou tosse persistente. A indicação do uso de 
antivirais é referente ao quadro clínico, estando disponível 2 classes. A primeira classe envolve o Oseltamivir, 
Zanamivir, Paramivir e Laninamivir, cuja ação é a inibição da neuraminidase (proteína do envelope viral), e a segunda 
classe se refere aos inibidores de polimerase, licenciados em outros países, o Favipavir e o Baloxavir. 
Indicações de uso de Oseltamivir incluem: Casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave; Síndrome Gripal em pacientes 
com condições se fatores de risco para complicações como crianças <5 anos (principalmente <2 anos e <6 meses), 
adultos >60 anos, gravidas e puérperas, indígenas, e portadores de comorbidades (TB, pneumopatias, 
cardiovasculopatias, nefropatias, transtornos neurológicos e do desenvolvimento, imunossupressão e obesidade). 
Ainda, por critério clínico, qualquer paciente dentro de 48 horas de quadro, pode receber a terapia antiviral. 
 
Faixa etária Posologia 
Adulto 75mg, 12/12 horas por 5 dias 
Crianças >1 ano 
15kg ou menos 30mg, 12/12 horas por 5 dias 
16kg a 23 kg 45mg, 12/12 horas por 5 dias 
24kg a 40kg 60mg, 12/12 horas por 5 dias 
40kg ou mais 75mg, 12/12 horas por 5 dias 
Crianças <1 anos 
0 a 8 meses 3mg/kg, 12/12 horas por 5 dias 
9 a 11 meses 3,5mg/kg, 12/12 horas por 5 dias 
 
O uso de AAS é contraindicado devido ao risco de desenvolvimento da Síndrome de Reye, caracterizada por 
insuficiência hepática e encefalopatia graves. Há risco quando AAS relacionado ao vírus Influenza ou Varicela Zoster. 
- Complicações: a mais frequente e responsável por aumentar a morbidade do quadro é a OMA, pneumonia 
bacteriana, a miosite e rabdomiólise (principalmente por Influenza B) e as Síndromes neurológicas (Guillain-Barré, 
meningite asséptica, mielite transversa e encefalite pós-infecciosa). Os quadros gripais podem complicar com 
Síndrome expiratório Aguda Grave (SRAG), marcada por Sat02 <95%, sinais de desconforto respiratório, piora das 
condições clínicas em pacientes com doenças de base e hipotensão. Quadros de insuficiência respiratória também 
devem ser suspeitados em crianças com cianose, desidratação e inapetência. 
- Prevenção: imunização anual com vacinação contra influenza. No Brasil está disponível a vacina trivalente inativada 
que contém 2 subtipos do vírus (H1N1 e H3N2) e 1 subtipo do vírus da influenza B. nos serviços particulares há a vacina 
quadrivalente. Não há risco vacinal para imunodeprimidos visto que trata-se do vírus inativado. Recomendada a partir 
de 6 meses de vida e na primovacinação de menores de 9 anos, devem ser administradas 2 doses, com intervalo de 1 
mês entre elas, depois passando a ser anual. 
Faringoamigdalites Agudas 
São um grupo de doenças que envolvem processos inflamatório nas vias aéreas superiores, acometendo faringe, 
amígdalas e os tecidos adjacentes. Possui um quadro clínico similar apesar de suas causas variadas, dessa forma, 
definir a necessidade ou não de uso de antimicrobianos se torna mais difícil. 
- Etiologia: os vírus são os agentes mais comuns emtodas as faixas etárias, envolvendo principalmente vírus 
respiratórios como Influenza, Parainfluenza, Adenovírus e Rinovírus, assim como vírus como Coxsackievírus, Echovírus 
e o vírus Epstein-Barr (EBV) da mononucleose. Em relação a agentes bacterianos, o Streptococcus beta-hemolítico do 
grupo A (S. pyogenes) é o mais frequente, sendo raro em crianças menores de 2 anos de vida. Outras bactérias 
possivelmente envolvidas incluem Mycoplasma, Chlamydia e o Gonococo. 
- Quadro clínico: a análise no exame físico visa tentar diferenciar o processo inflamatório apresentado, em relação a 
etiologia da infecção, viral ou bacteriana. Apesar de semelhantes, tenta-se distinguir os sintomas apresentados: 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
• Faringoamigdalite estreptocócica - início agudo de dor de garganta, febre alta, cefaleia, odinofagia, dor 
abdominal, náuseas e vômitos, rash cutâneo (associação com escarlatina – Sinal de Filatow e Linhas de Pastia), 
petéquias no palato, exsudato purulento, adenomegalia cervical. Crianças tendem a apresentar maior 
acometimento do estado geral e, na maioria das vezes, não há coriza, tosse ou conjuntivite. O achado mais 
indicativo de origem estreptocócica é o achado de eritema difuso das tonsilas e de seus pilares ou a presença 
de pontilhado difuso petequial em palato mole. Mais comum na idade entre 5 a 15 anos; 
• Faringoamigdalite não estreptocócica – sintomas mais sugestivos incluem aqueles concomitantes de infecção 
viral respiratória e/ou gastrointestinal, com associação gradual de tosse, coriza, febre baixa, conjuntivite e 
diarreia. Vírus como o Epstein-Barr possuem suas particularidades como a presença de exsudato branco-
acizentado associado a leucocitose e predomínio de linfócitos, assim como o Coxsackievírus A (causador de 
herpangina – vesículas e úlceras dolorosas) pode demonstrar pequenas vesículas no palato mole, na úvula e 
nos pilares amigdalianos, acompanhadas de febre elevada e lesões papulovesiculares em mãos e pés (mão-
pé-boca). Comum em todas as idades. 
 
ATENÇÃO: PFAPA 
A sigla PFAPA representa Periodic fever, Aphthous sotmatitis, Pharyngitis, and Adenitis, que em português 
corresponde a síndrome e Marshall, na qual além do quadro de faringite, há associado a presença de aftas em boca. 
Esta síndrome ocorre esporadicamente entre 2 e 6 anos e é marcada por febre, cansaço, amigdalite purulenta com 
culturas negativas, linfadenopatia cervical, aftas e leucocitose ao hemograma. Uso de ATB não possuem influência 
sobre o quadro, e este pode ocorrer de 8 a 12 vezes ao ano, diminuindo conforme idade. Responde ao uso de 
corticoide (prednisolona ou betametasona), em até 24 horas. 
 
Ainda, as faringoamigdalites podem ser divididas de acordo com seu processo inflamatório: 
• Eritematosas – observa-se hiperemia e congestão da superfície da faringe e das amigdalas. Principais agentes 
envolvidos são virais; 
• Eritematopultáceas – observa-se hiperemia e edema associados ao exsudato não aderente nas criptas e na 
superfície das amigdalas, principais agentes envolvidos são o Streptococcus do grupo A e o Epstein-Barr vírus; 
• Pseudomembranosas – formação de placas esbranquiçadas aderentes ao tecido amigdaliano, que pode invadir 
faringe, palato e úvula. Principais agentes envolvidos incluem o Crynebacterium diphtheriae; 
• Ulcerosas – formação de úlceras, que podem ser superficiais, com muitas vesículas, como no caos do 
Coxsackievírus e do Herpes vírus, ou profundas, com ulcerações profundas, no caso da angina de Plaut-
Vincent, lesão por TB, sífilis e imunodeficiências. 
- Diagnóstico: essencialmente clínico, entretanto exames complementares podem auxiliar a elucidar a etiologia. 
Testes diagnóstico para o S. pygenes incluem a pesquisa rápida do antígeno, com alta especificidade, mas sensibilidade 
de 70%. O padrão ouro para identificação do agente é a cultura de orofaringe, e exames como hemograma, 
leucograma, VHS e PCR, podem contribuir para diferenciação. 
Na mononucleose, há leucocitose com mais linfocitose e com cerca de 20 a 40% de atipia linfocitária. Além disso, há 
um teste de detecção rápida de anticorpos heterofilos, para crianças maiores de 4 anos. Um diagnóstico diferencial 
importante de faringoamigdalite pseudomembranosa, caracterizada pela presença de membrana exsudativa de 
coloração acizentada, de difícil remoção e acompanhada de intensa toxemia, é a difteria. 
- Tratamento: em casos virais, o tratamento baseia-se em apoio com sintomáticos, repouso e medidas de suporte. Já 
no caso de agentes bacterianos, soma-se ao tratamento o uso de antimicrobianos, ao momento do diagnóstico, sendo 
os medicamentos de primeira escolha a Penicilina e a Amoxicilina, que previnem a febre reumática. 
 
 
 
 
 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
Fármaco Dose Duração 
Penicilina VO 
Crianças – 250mg de 2 a 3 vezes ao dia 
Adolescentes e adultos – 250mg de 6 em 6 horas ou 
500mg de 12 em 12 horas 
10 dias 
Amoxicilina VO 50mg/kg/dia de 2 a 3 vezes ao dia (máx de 1g/dia) 10 dias 
Penicilina G benzatina IM 
<27kg – 600.000 UI 
>27kg – 1.200.000 UI 
1 dose 
Cefalexina VO 20mg/kg/dose de 12 em 12 horas (máx 500mg/dose) 10 dias 
Cefadroxila VO 30mg/kg 1 vez ao dia (máx 1g) 10 dias 
Clindamicina VO 7mg/kg/dose de 8 em 8 horas (máx 300mg/dose) 10 dias 
Azitromicina VO 12mg/kg 1 vez ao dia (máx 500mg) 5 dias 
Claritromicina VO 7,5mg/kg/dose de 12 em 12 horas (máx 250mg/dose) 10 dias 
 
Com o uso correto do ATB espera-se que: haja redução da duração dos sintomas em 12 a 24 horas, redução na 
transmissão da doença após 24 a 48 horas do uso, prevenção de complicações supurativas e não supurativas. A febre 
pode persistir por até cerca de 72 horas após o início do ATB. A amidalectomia é uma opção em casos de 7 ou mais 
faringites de repetição em 1 ano ou cinco vezes nos último 2 anos, ou ainda, 3 episódios nos últimos 3 anos. 
- Complicações: a faringoamigdalite bacteriana causada pelo Streptococcus do grupo A está relacionado a 
complicações supurativas, como abscessos peritonsilares e retrofaríngeos e sequelas não supurativas como a febre 
reumática e a glomerulonefrite difusa aguda. 
• Abscesso retrofaríngeo – complicação rara, predominante em crianças entre 3 e 4 anos, acometendo 
principalmente meninos. Acompanha febre, irritabilidade, dificuldade de deglutição, rigidez cervical ou até 
torcicolo por contratura da musculatura paravertebral, voz abafada, estridor, dificuldade respiratória. 
Abaulamento local perceptível ao exame físico. Geralmente está associada a agentes polimicrobianos e o 
diagnóstico pode ser sugerido por meio de RX lateral de pescoço demonstrando aumento do espaço 
retrofaríngeo. A conduta inclui internação imediata, ATB venosa com Amoxicilina + Clavulanato/Clindamicina 
e drenagem; 
• Abscesso periamigdaliano – pouco comum, ocorrendo mais frequentemente em crianças maiores e 
adolescentes, se manifestando com intensificação da dor faríngea, disfagia e trismo de intensidade variável. 
Há abaulamento unilateral inflamatório ao exame físico, rechaçando a amígdala e a úvula para o lado oposto. 
A conduta inclui internação imediata, ATB venosa e drenagem. 
Otite Média Aguda (OMA) 
Trata-se de uma inflamação do ouvido médio e de seus anexos, associada à presença de líquido na orelha média, com 
sinais e sintomas de início agudo, como dor e febre. Em sua maioria, é secundária a processos infeccioso bacteriano. 
Fatores de risco para OMA incluem imaturidade do sistema imunológico, alterações anatômicas relacionadas a tuba 
auditiva, sexo masculino, tabagismo passivo, DRGE e baixa condição socioeconômica, superpopulação em mesmo 
ambiente, condições de higiene e assistência média precária. Uso de mamadeira na horizontal e rinite alérgica também 
são fatores de risco, enquanto que como fatores de proteção, têm-se o aleitamento materno. 
- Etiologia: os agentes mais comuns incluem o Streptococcus pneumoniae (30 a 50%), Haemophilusinfluenza não 
tipável 20 a 30%) e Moraxella catarrhalis (10 a 15%). Outros com S. aureus, Streptococcus do grupo A e gram-negativos, 
também podem ser os responsáveis. Ainda não se sabe se vírus pode gerar OMA sem associação bacteriana. 
- Epidemiologia: é a enfermidade mais prevalente na infância após as IVAS, sendo a causa principal de prescrição de 
ATB. Estima-se que pelo menos 60 a 80% dos lactentes têm pelo menos 1 episódio de OMA até o primeiro ano de vida 
completo e até 90% o terão até os 5 anos. O pico de incidência ocorre entre 6 e 24 meses de vida, com declínio após 
essa idade e novo aumento entre 5 a 6 anos de vida. Os episódios são comuns em épocas de inverno, uma vez que são 
associados a IVAS. 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
- Fisiopatologia: as tubas auditivas se abrem no espaço anterior do ouvido médio e o conectam à nasofaringe, assim, 
os episódios de OMA estão intimamente ligados à obstrução anatômica ou funcional da(s) tuba(s) auditivas. 
Anatomicamente, processos inflamatórios que interferem na mucosa nasal, por edema, pressão negativa ou tumor, 
facilitam diretamente a extensão do processo para o ouvido. Com a resposta inflamatória, há comprometimento do 
transporte mucociliar, levando à efusão líquida na cavidade timpânica, propiciando a infecção bacteriana. Lactentes 
possuem uma tuba auditiva menor e mais horizontal, contribuindo para o refluxo de secreções da nasofaringe. 
- Quadro clínico: pode ser muito variável, principalmente nos lactentes e nos pré-escolares. Tipicamente há um início 
abrupto de otalgia, irritabilidade, otorreia e febre. A presença de abaulamento da membrana timpânica tem alto valor 
preditivo de líquido na orelha média, seguida por ausência de mobilidade da membrana manobras e níveis hidroaéreos 
vistos a otoscopia. A membrana timpânica está eritematosa ou opacificada, e sintomas inespecíficos como vômitos e 
inapetência pode estar presentes. Ainda, outro sinal de OMA é a meringite bolhosa, ou seja, tímpano com bolhas. Em 
caso de perfuração timpânica, há otorreia e melhora imediata da dor, por alívio da pressão. 
• OMA viral – membrana timpânica levemente opaca, hiperemia difusa leve ou moderada e ausência de 
abaulamento. A hiperemia isolada não configura quadro de OMA; 
• OMA bacteriana – membrana timpânica opaca, hiperemia intensa e presença de abaulamento com diminuição 
da mobilidade; otalgia súbita; febre alta; vômitos ou diarreia em <2 anos; e otorreia com história de otalgia 
intensa nas últimas 48 horas. 
A otite média secretora caracteriza-se pela presença de efusão no ouvido médio, sem sintomas e sinais de infecção 
aguda. É marcada por perda auditiva, zumbidos e diminuição do equilíbrio, estando relacionada em sua maioria a um 
caso de OMA tratada e assim, tende a se resolver em 3 meses (até 90% dos casos). A efusão pode ser fluida (serosa), 
espessa (mucoide), purulenta ou mista. Em caos de persistência após 3 meses (OMA crônica), utiliza-se ATB. 
- Tratamento: uso de sintomáticos como analgésicos e anti-inflamatórios tende a resolver a grande maioria dos casos. 
A uso de ATB visa tratar os 3 agentes bacterianos principais, sendo a droga de escolha para OMA não complicada a 
Amoxicilina com dose de 50 a 80mg/kg/dia por 10 a 14 dias. Dobra-se a dose em casos de uso recente (<3 meses) de 
ATB e associar à amoxicilina, o clavulanato. Outra indicação de associação do clavulanato é falha terapêutica apenas 
com amoxicilina. Alérgicos a penicilina podem fazer uso de Macrolídeos no lugar, com Azitromicina ou Claritromicina, 
ou ainda de cefalosporinas. São indicações de início imediato de ATB: <2 anos (<6m mesmo se diagnóstico não 
confirmado); >2 anos confirmado e com gravidade; OMA bilateral; febre >39°C; e/ou piora do estado geral. 
A permanência de sintomas de OMA por mais de 48 a 72 horas após início do tratamento é considerado falha 
terapêutica. O principal motivo da falha é a resistência bacteriana. Não há indicação de profilaxia com ATB para casos 
e OMA recorrente (3 episódios em 6 meses ou 4 em 1 ano, com um dos episódios nos últimos 6 meses), mas os tubos 
de timpanostomia podem estar indicados, assim como adenoidectomia. Evolutivamente, a otoscopia pode estar 
alterada até 3 meses após o episódio agudo, assim, a permanência da febre é um fator importante de ser observado. 
- Complicações: são fatores de risco para o desenvolvimento de OMA recorrente o sexo masculino, a falta de 
aleitamento materno, pais tabagistas, creches, baixo nível socioeconômico, uso de chupetas, primeiro episódio de 
OMA antes dos 6 meses, anomalias congênitas, imunodeficiências. A OMA recorrente é investigada por meio de 
estudo imunológico, com procura de deficiência de anticorpos da classe imunoglobulina G ou A, bem como avaliação 
dos fatores de risco. As OMAs recorrentes têm maior risco de complicações supurativas e sequelas, além de ser uma 
causa predominante e prevenível de surdez. 
Uma complicação importante das OMAs é a mastoidite, por contiguidade entre a mucosa da orelha média e a mucosa 
das células da mastoide. Caracteriza-se por dor retroauricular com calor, edema e hiperemia local, desviando o 
pavilhão retroauricular para fora. Esta complicação tende a melhor após uso de ATB. 
 
ATENÇÃO: TIMPANOCENTESE 
Sua realização tem diminuído consideravelmente nos últimos anos, entretanto, pode ser indicada nas seguintes 
condições: OMA refratária ao tratamento clínico adequado, provocando quadro de toxemia, especialmente em <12 
meses e em imunocomprometidos; OMA acompanhada de complicações; Alívio da dor (indicação rara). 
@flashmedcards Juliana Reichmann 
Rinossinusite aguda 
É uma doença resultante da infecção de um ou mais seios paranasais (frontais, etimoidais, esfenoides e maxilares), 
causada por agentes virais ou bacterianos. As cavidades etimoidais estão presentes desde o nascimento, entretanto, 
em dimensões reduzidas, enquanto as cavidades frontais e esfenoidais passam a se desenvolver após os 3 anos de 
idade e se tornam visíveis ao RX após 6 a 7 anos, quando já estão completamente formados, e o seio maxilar completa 
seu desenvolvimento aos 4 anos. Essas cavidades possuem comunicação com o nariz e apresentam imunoglobulinas 
locais (2/4 são anticorpos da imunoglobulina A), tendo como função a drenagem das secreções por meio dos orifícios 
localizados junto aos cornetos. 
- Etiologia: maioria de etiologia viral, os principais vírus envolvidos incluem o Rinovírus, Adenovírus, VSR, 
Parainfluenza, ocorrendo como consequência direta das rinofaringites virais. Cerca de 6% das rinossinusites são 
complicações bacterianas, tendo como principais agentes as bactérias aeróbicas como Streptococcus pneumoniae 
(30%), Haemophilus influenzae não tipável (20%) e Moraxella catarhalis (10 a 20%). Em caso de obstruções 
prolongadas que resultam em sinusite crônica, Sthaphylococcus aureus e outros anaeróbicos podem estar envolvidos. 
A infecção fúngica por Apergillus sp. e Nocardia sp. podem ocorrer em imunodeficientes e diabéticos. 
- Classificação: a sinusite é considerada aguda se duração de até 12 semanas; crônica se duração acima de 12 semanas; 
e recorrente se houverem amis de 6 episódios agudos em um ano. 
-Fisiopatologia: a partir de edema e inflamação local, causados por uma rinossinusite viral, há bloqueio da drenagem 
dos seios da face, com acúmulo de líquido e secreções, favorecendo assim a proliferação de bactérias e levando a uma 
possível sinusite bacteriana. 
Fatores de risco envolvidos na patogênese da rinossinusite incluem: IVASs de repetição; Obstrução anatômica 
(hipertrofia de adenoides, defeitos do septo nasal); Rinite alérgica não tratada; Deficiências de anticorpos; DM; 
Exposição a agentes irritantes (Tabaco, poluição, ar seco, água clorada); Discinesia ciliar primária. Enquanto que a 
vacinação para Pneumococo é colocada como fator de proteção. 
- Quadro clínico: marcado por sintomas nasais persistentes como coriza, obstruçãoe congestão nasal, acompanhados 
de tosse, com piora a noite. Diferencia-se do resfriado comum na anamnese, devido a persistência sintomática e 
história de IVAS acima de 14 dias ou com quadro de febre alta e descarga purulenta por 3 a 4 dias. Em crianças maiores, 
pode haver queixa de cefaleia, dor fácil em peso e dor à palpação e/ou percussão dos seios. Em pré-escolares e crianças 
menores, os sintomas são mais difíceis de serem identificados. A mucosa nasal pode estar eritematosa e/ou 
edemaciada, e pode haver o sinal da Vela ao exame físico (sinal de gotejamento pós-nasal). 
- Diagnóstico: essencialmente clínico e sem indicação da realização de RX de seios nasais. A cultura dos seios 
paranasais pode estar indicada em caso de pacientes imunodeprimidos ou em sinusites refratárias. A imagem de RX 
dos seios pode demostrar velamento assimétrico ou edema de mucosa, entretanto, por serem sinais inespecíficos e 
possivelmente presentes em rinofaringites, não possui valor diagnóstico. Já a TC de seios nasais é um método mais fiel 
de meio diagnóstico, mas seu custo-benefício não justifica sua aplicação rotineira ao diagnóstico de rinossinusite. 
- Tratamento: são feitas medidas de suporte e medicamentos sintomáticos, assim como na rinofaringite aguda. 
Associa-se ATB no caso de origem bacteriana, sendo a droga de escolha a Amoxicilina 50-80mg/kg/dia a cada 8 horas 
por 14 dias (duração considera: melhora importante + 7 dias de ATB), em caso de crianças que não fizeram uso de 
antibióticos nos últimos 3 meses. O clavulanato é associado em suspeita de H. influenza ou M. catarhalis, ou ainda, se 
houve uso recente de ATB. Outras opções nesse caso são os macrolídeos (azitromicina e claritromicina) ou as 
cefalsoporinas de segunda geração (cefuroxima) ou terceira geração. 
- Complicações: há risco de complicações secundárias como celulite periorbital, abscessos, trombose do seio 
cavernoso, meningite e osteomielite, que são sempre graves.

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