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METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE INGLÊS: A AULA HÍBRIDA COMO INSTRUMENTO DA PRÁTICA DA ORALIDADE ACTIVE ENGLISH TEACHING METHODOLOGIES: THE HYBRID CLASS AS AN INSTRUMENT FOR THE PRACTICE OF ORALITY DALVI, Aline Pin1 FILGUEIRAS, Ana Paula Valani2 LAMONATO, Sandra Regina Ferreira Cancella3 RESUMO O presente estudo teve início com a elaboração de um projeto de pesquisa baseado em um relato de experiência que validasse o uso das metodologias alternativas como incentivo ao ensino de Inglês. O objetivo geral foi oportunizar a prática da oralidade no processo ensino-aprendizagem da Língua Inglesa através da aula híbrida, apresentando aos alunos estratégias metodológicas que os levassem a permanecerem motivados a aprender a Língua Inglesa através da prática desta habilidade. No que diz respeito aos objetivos específicos, este estudo pretendeu explorar as ferramentas tecnológicas e a conectividade necessárias à implementação do ensino híbrido e prática da oralidade no ensino da Língua Inglesa, como fator contribuinte à continuidade do aprendizado, bem como estimular a aprendizagem significativa dos alunos através da prática da habilidade speaking (produção oral) no contexto do ensino híbrido. Os resultados mostram a importância da reflexão sobre o uso da tecnologia e utilização da aula híbrida como metodologia ativa e instrumento da prática da oralidade o que possibilita a motivação pela melhoria da capacidade de comunicação e do protagonismo pessoal de cada aluno em sala de aula. Dessa forma o projeto buscou identificar estratégias que poderão ser utilizadas para auxiliar o professor de Língua Inglesa a desempenhar suas funções com plenitude e segurança, oportunizando a autonomia dos discentes frente ao processo de ensino e aprendizagem, assegurando a construção contínua do conhecimento pela prática da oralidade em meio ao contexto da aula híbrida. Palavras-chave: Língua Inglesa; Motivação; Aula Híbrida; Oralidade; Aprendizagem. ABSTRACT The present study began with the elaboration of a research project based on an experience report that validated the use of alternative methodologies as an incentive 1 Graduanda do Curso de Letras/Inglês do Centro Universitário São Camilo-ES – aline123pin@gmail.com. 2 Graduanda do Curso de Letras/Inglês do Centro Universitário São Camilo-ES – anapaulavalani2016@gmail.com. 3 Professora Orientadora. Especialista em Estudos Linguísticos: Língua Inglesa e Leitura e Produção Textual em Língua Portuguesa. Centro Universitário São Camilo-ES – teacher.lamonato@gmail.com. 2 to the teaching of English. The general objective was to provide the practice of orality in the teaching-learning process of the English language through the hybrid class, presenting methodological strategies to students that led them to remain motivated to learn the English language through this practice. About the specific objectives, we intend, with this study, to explore, the technological tools and connectivity necessary for the implementation of hybrid teaching and oral practice in the teaching of the English language, as a contributing factor to the continuity of learning, as well as to stimulate the significant learning of students through the practice of speaking skill (oral production) in the context of hybrid teaching. The results show the importance of reflection on the use of technology and use of the hybrid class as an active methodology and instrument of orality practice, which enables motivation to improve the communication capacity and personal protagonism of each student in the classroom. Thus, the project sought to identify strategies that can be used to help the English language teacher to perform their functions fully and safely, opportunistic to the autonomy of the students in the face of the teaching and learning process, ensuring the continuous construction of knowledge through the practice of orality in the context of the hybrid class. Keywords: English language; Motivation; Hybrid Class; Orality; Learning. INTRODUÇÃO O presente artigo pretende trazer estratégias que poderão ser utilizadas para auxiliar o professor de Língua Inglesa a desempenhar suas funções com plenitude e segurança, oportunizando a autonomia dos discentes frente ao processo de ensino e aprendizagem, assegurando a construção contínua do conhecimento pela prática da oralidade em meio ao contexto do distanciamento social e do ensino híbrido. Este estudo busca explorar, nesse sentido, as ferramentas tecnológicas e a conectividade necessárias à implementação do ensino híbrido e prática da oralidade no ensino da Língua Inglesa, como fator contribuinte à continuidade do aprendizado, bem como estimular a aprendizagem significativa dos alunos através da prática da habilidade speaking (produção oral) no contexto do ensino híbrido. Almeja-se, por conseguinte, exercitar as diferentes formas de comunicação e aprendizagem indutivas e dedutivas – onde o método indutivo parte de casos específicos para tentar chegar a uma regra geral e o método dedutivo parte da compreensão da regra geral para chegar a conclusão dos casos específicos – assegurando ao discente uma produção oral satisfatória por meio do diálogo, tal que o leve à construção de identidades no mundo globalizado, viabilizando, portanto, a utilização da Língua Inglesa em situações de comunicação oral, de forma que, através dos recursos tecnológicos da aula híbrida, o aluno vivencie formas de 3 interação que lhe possibilitem estabelecer vínculos individuais e coletivos com a sociedade atual. Tendo em vista que as Diretrizes Curriculares do Ensino de Língua Estrangeira Moderna (2011) pressupõem a língua como discurso enquanto prática social, trabalhar a oralidade reflete a necessidade atual de se estudar a língua estrangeira de forma que a prática social nela implícita seja a base que conduz o aluno a desenvolver a capacidade discursiva nas mais variadas situações de comunicação. Assim, cabe ao professor, nesse processo de aprendizagem, oportunizar ao aluno o contato com diversificadas práticas discursivas para que ele possa construir e adequar suas necessidades e anseios em relação à língua. Desse modo, é de extrema importância que se estabeleça um clima de confiança entre aprendizes e que haja oportunidade de compreensão e expressão de significados pessoais. Isso nos leva a perceber que ensinar língua estrangeira com foco na oralidade tem por objetivo trabalhar conteúdos voltados aos contextos vivenciados pelos próprios alunos, aumentando as expectativas e a motivação dos aprendizes em relação à língua inglesa. Outro aspecto a ser considerado é que a realização de um trabalho através das práticas discursivas precisa pautar-se em atividades planejadas que possibilitem ao nosso aluno a leitura e a produção oral, visto que essas habilidades comunicativas são complementares e não faria sentido incluir uma e excluir a outra. Na observação da importância da aula híbrida como instrumento da prática da oralidade da língua inglesa, tornou-se oportuno aplicar um projeto de intervenção pedagógica durante o terceiro trimestre do ano letivo de 2021 em uma escola Estadual da cidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES. A proposta desse projeto, surgiu a partir da atuação acadêmica no Programa Residência Pedagógica da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – alicerçado na problematização de como o professor poderá estimular o estudante a participar efetivamente das aulas de inglês através do ensino híbrido, em meio ao contexto do distanciamento social decorrente da pandemia causada pelo Corona Vírus (Covid-19). METODOLOGIA O presente estudo teve como procedimento técnico um relato de experiência de acordo com as regras estabelecidas pelo Manual de Orientação de Trabalhos 4 acadêmicos do Centro Universitário São Camilo - ES (USC, 2012), realizadodurante a atuação acadêmica no Programa Residência Pedagógica da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Governo Federal. A proposta teve início com a elaboração de um projeto de pesquisa baseado em um relato de experiência que validasse o uso das metodologias alternativas como incentivo ao ensino de Inglês. Nesse sentido, o trabalho teve como objetivo geral oportunizar a prática da oralidade no processo ensino-aprendizagem da Língua Inglesa através da aula híbrida, em meio ao distanciamento social decorrente da pandemia causada pelo Corona Vírus (Covid-19), apresentando aos alunos estratégias metodológicas que os levem a permanecerem motivados a aprender a Língua Inglesa através da prática da oralidade. Segundo Reeve (2009), o professor que utiliza a motivação, apresenta uma das principais aliadas na promoção da autonomia dos alunos, e que esta estratégia, agregada a outros recursos, promove interação em sala de aula, engajamento nas disciplinas e a melhoria em notas, atividades e resultados. [...] Nesse sentido, o professor contribui para promover a autonomia do aluno em sala de aula, quando: a) nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais); b) oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo ou para a realização de determinada atividade; c) usa de linguagem informacional, não controladora; d) é paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos; e) reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos alunos (REEVE, 2009). As metodologias ativas representam um campo vasto de possiblidades de desenvolver habilidades de oralidade e ao mesmo tempo confirmam a autonomia e a liberdade da expressão, findando um processo coeso em que o aluno é aguçado a prática. Por conseguinte, a revisão bibliográfica foi feita em livros e periódicos indexados na base de dados do Google Acadêmico e Scielo, apresentando autores como: Finardi (2021), Moran (2017), Maquiné (2020), Rivas (2020), Dolz e Schneuwly (2004) entre outros renomados teóricos, a fim de trazer fundamentação científica às discussões realizadas sobre o tema central. Desta maneira, foi elaborado um estudo que acompanhou um plano de aula amparado nas propostas iniciais da prática da oralidade e do ensino híbrido. O plano de aula seguiu uma divisão estratégica de dois momentos: um introdutório e de exemplificação, seguido do qual os estudantes foram os responsáveis por trazer resultados que foram apresentados em uma discussão geral. 5 O estudo foi realizado em uma escola que atende ao Ensino Fundamental 2 no município de Cachoeiro de Itapemirim – ES. De maneira específica e coesa, a turma escolhida para a realização do projeto foi o nono ano. Esta turma corresponde a dezesseis alunos na faixa etária de treze a quatorze anos de idade. A primeira parte de atuação foi realizada no dia 03 de setembro de 2021 durante a aula de Inglês e teve como ato inicial expor o projeto aos estudantes, introduzindo os objetivos e as considerações necessárias. Depois disso, a música "Three Litlle Birds” do compositor jamaicano Bob Marley foi apresentada aos estudantes, seguida de uma pequena discussão a respeito do significado da música e uma atividade exploratória para a aquisição de vocabulário. O segundo momento correspondeu à introdução do estudante ao protagonismo, seguindo uma linha que incentiva a motivação. Neste momento, foi designada aos estudantes a tarefa de pesquisar e trazer na próxima aula a letra de uma música em inglês que representasse aos mesmos uma mensagem ou um significado importante. Destaca-se o fato de que todos os alunos da designada turma possuem acesso a internet em suas residências. O segundo momento foi concluído no dia 24 de setembro de 2021. Nesta aula, os estudantes trouxeram os resultados e foram motivados a praticar a oralidade em uma roda de conversa sobre o contexto explorado, de modo que, um após o outro, apresentaram as músicas escolhidas explicando o motivo da escolha e sua relação com a música Three Little Birds, de Boby Marley. METODOLOGIAS ATIVAS E ENSINO HÍBRIDO Dois conceitos são especialmente poderosos para a aprendizagem hoje: aprendizagem ativa e aprendizagem híbrida. As metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experimentando, desenhando, criando e com orientação do professor. A aprendizagem híbrida destaca a flexibilidade, a mistura e compartilhamento de espaços, tempos, atividades, materiais, técnicas e tecnologias que compõem esse processo ativo. Híbrido, hoje, tem uma mediação tecnológica forte: físico-digital, móvel, ubíquo, realidade física e aumentada, que trazem inúmeras possibilidades de combinações, arranjos, itinerários e atividades. 6 Metodologias são grandes diretrizes que orientam os processos de ensino e aprendizagem e que se concretizam em estratégias, abordagens e técnicas concretas, específicas e diferenciadas. Metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. As metodologias ativas, num mundo conectado e digital, expressam-se por meio de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações. A junção de metodologias ativas com modelos flexíveis e híbridos traz contribuições importantes para o desenho de soluções atuais para os aprendizes de hoje (MORAN, 2017, p.43). Moran (2017) pontua que aprendemos quando alguém mais experiente discorre e a partir de um envolvimento mais direto, por questionamento e experiências. Contudo, o autor afirma que as metodologias predominantes de ensino são as dedutivas em que o professor transmite primeiro a teoria e depois o aluno a aplica em situações específicas. A partir disso, o autor constata que a aprendizagem por meio da transmissão é importante, mas aquela por questionamento e experimentação é mais relevante para uma compreensão mais ampla e profunda. Em decorrência disso, Moran (2017) acrescenta que há uma ênfase em combinar metodologias ativas em contextos híbridos e que pesquisas atuais em neurociência comprovam que o processo de aprendizagem é único e diferente para cada ser humano, sendo que cada pessoa aprende o que é mais relevante e o que faz sentido para si, o que encontra ressonância íntima com o que está próximo do estágio de seu desenvolvimento. Moran (2017) destaca ainda que a combinação equilibrada da flexibilidade da aprendizagem híbrida com metodologias ativas facilita a ampliação de nossa percepção e competência em todos os níveis e reforça que as sociedades mais dinâmicas são as que incentivam a colaboração, o empreendedorismo e a criatividade. Além disso, o uso de abordagens híbridas se apresenta como proeminente para combater o problema da falta de integração crítica de tecnologias na educação (FINARDI, 2013). Apesar de o uso de tecnologias ser previsto em documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1997) e mais recentemente a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2016), a sua utilização não só está aquém do esperado como também sendo feita de forma muito instrumental, tornando a prática pedagógica sem ressonância para o educando e contribuindo 7 para um cenário de insatisfação coletiva. Os estudantes reclamam das aulas rotineiras, enfadonhas e pouco dinâmicas, enquanto os professores queixam-se da frustração pela pouca participação, desinteresse e desvalorização dos estudantes em relação às aulas e às estratégias criadas para chamar sua atenção. Percebe-se que a simples utilização de tecnologia nas aulas não altera esse panorama, atestando que, estas por si só não transpõem velhos paradigmas. Por isso, a ação proposta para ensinar não pode ser desconectada daquelesque dela participarão, enfatizando a necessidade de os docentes buscarem novas metodologias de ensino que foquem no protagonismo dos alunos. É nesta perspectiva que se situa a metodologia ativa, deslocando a perspectiva do ensino (professor), para a aprendizagem (aluno) (DIESEL et al., 2017). Enquanto as metodologias mais tradicionais eram baseadas na transmissão de informações e no papel central do docente, as metodologias ativas buscam a construção e colaboração dos estudantes, estimulam a reflexão, a autonomia e a pesquisa. Sendo assim, os autores Diesel et al. (2017) apontam os princípios das metodologias ativas de ensino como: (a) aluno como centro do processo de aprendizagem, (b) autonomia a partir da postura mais ativa do estudante, (c) problematização da realidade e reflexão a partir da busca pela integração dos conteúdos com o contexto social, (d) trabalho em equipe a partir das atividades propostas que visam favorecer a interação constante entre os alunos, (e) inovação a partir da crença de que tais metodologias exigem ousadia e coragem dos professores e (f) professor mediador a partir da constatação de que este assume uma postura investigativa da própria prática e da concepção de que a prática pedagógica é essencialmente formadora. Nesse sentido, entendemos que as características das metodologias ativas vêm ao encontro de uma pedagogia relacional, conforme apresentado em etapas anteriores deste trabalho. De acordo com Horn e Staker (2015) o Ensino Híbrido é uma possibilidade interessante de intervenção, de inovação sustentada na realidade das práticas pedagógicas e a definição adotada é a de que o Ensino Híbrido é um programa de educação formal no qual o aluno aprende pelo menos em parte, online, com algum elemento de controle do aluno sobre o tempo, lugar e/ou ritmo e, pelo menos em parte, em um local físico, supervisionado; é, sobretudo, uma experiência de aprendizagem integrada que propõe unir o antigo com o novo: presencial e on-line. 8 As modificações possibilitadas pelas tecnologias digitais requerem novas metodologias de ensino, as quais necessitam de novos suportes pedagógicos, transformando e deslocando o papel do professor e dos estudantes e ressignificando o conceito de ensino e aprendizagem. O que se observa é que o ambiente físico das salas de aula não se modificou significativamente, uma vez que, embora tenhamos uma lousa digital, alguns computadores e celulares, os alunos continuam sentados em suas classes com um professor à frente. Porém, é a interação gerada por essas tecnologias que pode (re)criar e ampliar o espaço da sala de aula para além da formatação tradicional e dos próprios limites escolares (BACICH et al., 2015). O Ensino Híbrido é uma excelente oportunidade de ressignificação desse ambiente, pois ao inserir a tecnologia, “preservam-se as paredes” e pode ser uma inovação sustentada da sala de aula, visto que concilia o melhor dos dois mundos: presencial e on-line (HORN; STAKER, 2015). Os espaços da escola e da sala de aula, apesar de suas divisórias, não precisam ser limitadores do trabalho do professor. Para que isso se altere, é necessário que este tome a responsabilidade da mudança para si e busque parcerias tanto com outros educadores, quanto junto à coordenação da escola. DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE As comunidades humanas, desde suas mais remotas origens sempre souberam se comunicar oralmente. Schutz (2010) afirma que a fala é talvez a mais importante das características que distinguem o ser humano do reino animal e que o domínio sobre a língua falada começa com o entendimento oral e, este começa com o reconhecimento das palavras contidas no fluxo de produção oral. Segundo Bakthin (2000), ao invés de mediar nossas relações com o mundo, num mundo supostamente transparente e neutro, a língua constitui o mundo, e não apenas o nomeia. Ela constrói discursos, produz efeitos de sentido indissociáveis dos contextos em que se constituem. Nesse sentido, ressalta-se que língua e cultura são indissociáveis e ensinar língua estrangeira nesse contexto é ensinar procedimentos interpretativos definidos por outras culturas e perceber características diferentes daquelas que a língua materna nos apresenta. 9 Jordão (2006) complementa, ainda, que: Conceber a língua como discurso é perceber a língua como ideológica, perpassada por relações de poder que ela mesma constrói; é perceber as marcas de determinações culturais nos textos que produzimos; é perceber os gêneros discursivos como mecanismos de estabelecimento de sentidos possíveis (JORDÃO, 2006, p. 7). Nesse sentido, o Jordão (2006) salienta que a compreensão de uma fala viva, de um enunciado vivo é sempre acompanhada de uma atitude responsiva ativa (conquanto o grau dessa atividade seja muito variável); toda compreensão é prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte torna-se o locutor. Desse modo, a língua é a base sobre a qual se constrói o discurso e, portanto, entendemos que através dela o que produzimos ou desejamos produzir requer a compreensão de que a língua é um meio histórico de inserção social e cultural. Diversas razões têm sido levantadas para o não desenvolvimento da habilidade oral nas aulas de língua inglesa nas escolas. Argumenta-se, genericamente, que o uso de línguas estrangeiras volta-se para a leitura, para alguns profissionais ou fins acadêmicos. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares do Ensino de Língua Estrangeira Moderna (2011) propõem superar os fins utilitaristas, pragmáticos ou instrumentais que historicamente têm marcado o ensino dessa disciplina. Nesse sentido, para elaborar uma atividade didática do gênero desejado em função das situações de comunicação e dos objetivos almejados em sala de aula, de acordo com Dolz e Schneuwly (2004): Para uma didática em que se coloca a questão do desenvolvimento da expressão oral, o essencial não é caracterizar o oral em geral e trabalhar exclusivamente os aspectos de superfície da fala, mas, antes, conhecer diversas práticas orais de linguagem e as relações muito variáveis que estas mantêm com a escrita (DOLZ E SCHNEUWLY, 2004, p. 168). Considerando-se, por conseguinte, que a língua é uma construção histórica e cultural e que não se limita a um conhecimento sistematizado, sua forma permite aos sujeitos considerar a língua como discurso, por meio da qual se desenvolve a competência discursiva para interagir com os outros, e no mundo. 10 CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO O contexto atual demonstra que a evolução da pandemia de COVID-19 no mundo, e particularmente no cenário brasileiro, obrigou a suspensão das atividades escolares presenciais e, por conseguinte, uma adaptação ao modelo de ensino híbrido, cujo início se deu entre os meses de março e junho de 2020, sendo prorrogado até o segundo semestre de 2021, momento em que o presente trabalho foi elaborado. De acordo com os estudos de Maquiné (2020), essa necessidade de readequações nas mais diferentes áreas educacionais, busca evitar a descontinuidade do processo de ensino e aprendizagem nas instituições, com o objetivo de garantir a continuidade pedagógica e o direito social à educação ainda que o quadro situacional não seja de inclusão genuína. Em um de seus estudos, Finardi (2014) ressalta que até os anos 1960 as metodologias de ensino de línguas eram ancoradas na ideia engessada de que a língua era constituída apenas de um conjunto de estruturas sintáticas e vocabulário e que seu aprendizado era resultado da aplicação de métodos, entendidos como verdadeiros receituários, e que deveriam ser seguidos estritamente por professores e alunos. Para que ocorram avanços nesta área, é preciso que o professor de língua estrangeira planeje sua prática, oportunizando espaços de comunicação e interação oral, poisquando este não se comunica com os seus alunos por meio da língua, que é o foco de seu ensino, ele está desistindo da principal característica que o diferencia dos demais professores de outras disciplinas, o fato de ser bilíngue (FINARDI, 2014, p.14). Para a construção de tarefas para o ensino de inglês como língua estrangeira e internacional Finardi e Porcino (2013) sugerem o uso de ferramentas da Internet com base no pressuposto de que é necessário desenvolver tanto a habilidade linguística em inglês quanto o letramento digital por meio de recursos da Internet para melhorar o exercício de uma cidadania plena e global. Diante do exposto e analisando o contexto educacional do Brasil, sabemos que o atual cenário reflete as consequências do distanciamento social decorrente de uma pandemia causada pelo Corona vírus (Covid-19), exigindo uma adaptação obrigatória do modelo tradicional de ensino em sala de aula para a inserção de recursos tecnológicos, plataformas educacionais e a tentativa contínua de 11 consolidação do ensino híbrido. Assim, os docentes são demandados a exercer uma função para a qual não receberam preparo, além do papel fundamental de apoiar e manter o engajamento dos alunos. Nesse sentido, conforme acrescenta Rivas (2020), buscar novas estratégias para mitigar os obstáculos de aprendizagem, por conseguinte, é primordial nesse período em que a pandemia se caracteriza como um laboratório para aprender todos os dias. Devido às constantes transformações que exigem uma pedagogia da exceção, é preciso fazer um novo exercício de transposição didática pandêmica, “algo nunca visto, nem teorizado, nem imaginado. Alguma coisa para depositar o trabalho dos professores que estão reinstalando a escola nas casas e aprendizagem na vida dos alunos” (RIVAS, 2020, p. 3). Nesse contexto, a utilização de ferramentas digitais será primordial na nova realidade escolar, pois esses recursos proporcionam “maior motivação, são mais interativos, auxiliam no aprendizado e melhoram o desempenho dos aprendizes no idioma, tornando possíveis os meios de inclusão digital e social” (FINARDI; PREBIANCA; MOMM, 2013, p. 199). RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a aplicação das duas partes da atividade, foi realizada uma análise para a discussão dos dados obtidos com base nos objetivos traçados no início do projeto. Com os resultados das produções escritas referentes à aplicação da primeira parte da atividade e com os dados obtidos através do que foi entregue pelos estudantes na segunda parte, foi possível traçar uma análise criteriosa entre os objetivos do projeto e o que realmente obteve-se como resultado. No que se refere ao interesse dos discentes frente à proposta da atividade, pode-se afirmar que os estudantes, em sua totalidade, mostraram-se empenhados em desenvolver a oralidade através do ensino híbrido, cooperando na execução das tarefas propostas tanto em sala de aula quanto no que tange ao proposto para o ambiente extracurricular. Com base nas informações obtidas, quanto à apresentação da música “Three Litlle Birds”, percebeu-se a imersão total dos alunos em relação à letra da música e a participação assídua na realização da atividade escrita e na discussão oral a respeito do significado da música e aquisição de vocabulário, de forma que os próprios alunos protagonizaram o momento de reflexão. 12 A segunda parte da atividade contou com as contribuições de todos os estudantes, que, em sua maioria, atenderam ao que foi proposto – pesquisar e trazer a letra de uma música em inglês que representasse uma mensagem ou um significado importante – o que possibilitou a exploração da oralidade, de forma que cada estudante pôde apresentar sua música e explicar o motivo de sua escolha. Considerando a motivação como elemento chave na produção oral, obteve-se uma participação ampla de toda a turma nos dois momentos da atividade. A utilização da aula híbrida como metodologia ativa e instrumento da prática da oralidade possibilitou a utilização da tecnologia mediante a proposta dos próprios alunos pesquisarem e trazerem o conteúdo de interação, que resultou na participação positiva da turma como também na melhoria da capacidade de comunicação e no protagonismo pessoal de cada aluno em sala de aula. O projeto permitiu também o amadurecimento de novas ideias acerca do tema, bem como o interesse e a aprendizagem dos alunos aumentaram significativamente durante sua implementação e, consequentemente, as aulas se tornaram mais interessantes, permitindo repensar que novas propostas e alternativas de ensino da oralidade devem ser constantes, pois há muitas dificuldades a serem superadas e enfrentadas pelos professores em sala de aula. Considerando, ainda, o contexto da Aula Híbrida, foi possível perceber que a inserção da tecnologia de diferentes maneiras e em diferentes momentos da atividade realizada proporcionou uma vivência dos alunos no mundo globalizado, ampliando suas perspectivas sobre o ensino-aprendizagem da Língua Inglesa pela introdução de uma metodologia inovadora que abrange as novas tecnologias e as novas possibilidades de ensino. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este relato de experiência apresentou a atuação de discentes de um curso de Letras Língua Inglesa na resolução de dúvidas e incertezas frente à utilização da aula híbrida como metodologia ativa na prática da oralidade como fator motivacional de aprendizagem da língua inglesa. Seu diferencial foi a parceria firmada com o Programa Residência Pedagógica da CAPES, criado para incentivar os graduandos à atuação na área da docência. A natureza deste estudo, por conseguinte, não pretende apresentar resultados definitivos, uma vez que se trata de uma metodologia de ensino considerada transitória se adotada em meio a contextos 13 emergenciais como o é o caso de uma pandemia, conforme especificado durante a elaboração da pesquisa. O presente projeto buscou identificar estratégias que poderão ser utilizadas para auxiliar o professor de Língua Inglesa a desempenhar suas funções com plenitude e segurança, oportunizando a autonomia dos discentes frente ao processo de ensino e aprendizagem, assegurando a construção contínua do conhecimento pela prática da oralidade em meio ao contexto da aula híbrida. Dessa forma, pode-se considerar que toda aprendizagem é ativa em alguma medida, porque demanda do estudante e do docente formas diferentes de movimentação interna e externa, de motivação, seleção, interpretação etc. Sendo assim, o professor como orientador ou mentor ganha relevância, pois seu papel é ajudar os alunos a irem além de onde conseguiriam ir sozinhos. A implementação do projeto possibilitou o enriquecimento e amadurecimento quanto a atuação no programa Residência Pedagógica, contribuindo também para reflexões sobre as mudanças que podem ser implementadas nas atividades para a prática da oralidade e o quanto estas precisam ser exploradas e melhoradas em sala de aula. Embora seja difícil mensurar todos os resultados por meio da observação do comportamento dos alunos e pela avaliação de suas interações, foi possível observar que houve uma melhora significativa na participação dos alunos em sala de aula. Observa-se, desse modo, que a tecnologia na sala de aula por si só não resolve o problema, mostrando ser necessário repensar a dinâmica de ensino, tanto em sala de aula quanto fora dela, a fim de trabalhar relacionalmente a mediação tecnológica, aspecto que o Ensino Híbrido conseguiu cumprir com sucesso. Dessa forma, os objetivos iniciais do projeto foram cumpridos, pois a proposta da imersão das metodologias ativas resultou em uma interação positiva e uma imersão motivacional de todos os alunos através da prática da oralidade no contexto da aula híbrida. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi;TREVISANI, Fernando de Mello (Orgs.). Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. DIESEL, Aline; BALDEZ, Alda Leila Santos; MARTINS, Silvana Neumann. “Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica”. 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