Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Camila Carminate – 8 FASE Leucemia Mieloide Crônica INTRODUÇÃO A leucemia mielóide crônica (LMC) é uma doença mieloproliferativa clonal, caracterizada pela presença do cromossomo Philadelphia (Ph) em células primordiais e suas descendentes. Essa anormalidade genética característica da LMC, o cromossomo Ph, resulta de uma translocação recíproca e equilibrada entre os braços longos dos cromossomos 9q23 e 22q11. A consequência molecular dessa translocação é a geração de uma proteína híbrida BCR-ABL de 210-Kd, com atividade tirosina- quinase aumentada, presente nos casos de LMC. A atividade da proteína BCR-ABL é necessária e suficiente para a atividade oncogênica da fase inicial da LMC1. A doença pode evoluir em três fases. Durante a fase crônica ocorre uma expansão clonal maciça de células mielóides, a qual mantém a capacidade de diferenciação e é bem controlada com terapias citorredutoras, como a hidroxiuréia (HU). Entretanto, com o passar do tempo, esse clone leucêmico perde essa capacidade, e a doença progride inexoravelmente para uma leucemia aguda denominada de crise blástica, resistente a terapia quimioterápica mais agressiva. QUADRO CLÍNICO E LABORATORIAL A LMC é uma doença progressiva que evolui em fases, sendo o diagnóstico em geral feito na fase crônica, que é comumente caracterizada por um curso indolente e por um fácil controle terapêutico. O principal achado do exame clínico é a esplenomegalia, presente em cerca de 80% dos pacientes ao diagnóstico.. O sintoma típico apresentado ao diagnóstico é a fadiga, geralmente relacionado a anemia e desconforto abdominal, relacionado à esplenomegalia. Sudorese e perda de peso não são raras, enquanto febre é menos comum nessa fase, bem como sintomas relacionados à disfunção plaquetária, tais como sangramentos ou tromboses. Manifestações relacionadas à hiperviscosidade, como priapismo e distúrbios visuais, são raras. A característica fundamental dos exames laboratoriais no diagnóstico é a leucocitose com desvio escalonado encontrada no hemograma. A contagem de leucócitos geralmente está entre 100.000 e 300.000/mm3, podendo chegar a 500.000/mm3. Plaquetas acima de 700.000/mm3 são encontradas em cerca de 30% dos casos. A anemia, resultado de uma eritropoese ineficiente e sobrevida eritróide diminuída por seqüestro esplênico, pode ser discreta com padrão normocrômico e normocítico. O exame citológico do sangue periférico permite verificar a presença de células da linhagem mielóide em todos os estágios de diferenciação, com predomínio de mielócitos e neutrófilos segmentados. A fase acelerada é um estágio intermediário no qual os pacientes apresentam sinais de progressão da doença sem critérios de leucemia aguda. Essa fase é caracterizada por um agravamento de sintomas constitucionais, esplenomegalia progressiva, refratariedade ao tratamento com progressiva leucocitose e/ou trombocitose. Anemia e trombocitopenia também são frequentemente observadas. CONSIDERAÇÕES TERAPÊUTICAS O principal objetivo do tratamento da LMC é a supressão do clone Ph ainda na fase crônica, pois a redução desse clone está relacionado ao aumento da sobrevida. O recente desenvolvimento no tratamento de pacientes com LMC tem tornado as decisões mais individualizada e, portanto, mais complicadas. 2 Camila Carminate – 8 FASE A hidroxiuréia foi introduzida para o tratamento da LMC, tornando-se o agente de escolha para o controle da doença com taxas de RHC de até 80%. composto é um inibidor específico da síntese de DNA, bem menos tóxico do que o busulfan, primeio agente efetivo no controle da LMC.. O LMC era uma doença invariavelmente fatal. O interferon-alfa (IFN-alfa), uma glicoproteína de origem biológica e atividades antiviral e antiproliferativa, foi introduzido no tratamento de LMC, promovendo vários graus de resposta citogenética O termo “cura” da LMC começou a aparecer após a introdução, com sucesso, do transplante de medula óssea alogênico (TMOalo), em 1986. Apesar de os pacientes serem mais velhos do que a idade ideal para transplante, essa modalidade terapêutica ainda é considerada o único tratamento curativo para a LMC. O gene híbrido BCR-ABL funciona como um oncogene leucêmico. Esse oncogene age como um ativador natural de tirosina-quinase, sendo essa atividade absolutamente essencial para todas as funções de transformação da proteína. A tirosina-quinase liga- se ao ATP e transfere fosfato do ATP para resíduos de tirosina em proteínas específicas. Essas proteínas, agora fosforiladas, tornam-se responsáveis por toda uma série de etapas que levam aos defeitos fisiopatológicos observados na LMC. Por essa razão, se a ligação do ATP com essa tirosina- quinase for bloqueada, toda a série de etapas envolvida também será bloqueada. O imatinibe funciona como um inibidor competitivo do ATP, pois ele se liga nos sítios de fosforilação do BCR-ABL, bloqueando a atividade tirosina leucêmicas que expressam ambas as proteínas p210 e p190, mas tem mínima atividade na proliferação de células BCR-ABL negativas. RESISTÊNCIA AO MESILATO DE IMATINIBE Inibidores de tirosina-quinase de segunda geração foram desenvolvidos com mais potência do que o imatinibe, com a finalidade de diminuir a chance de desenvolvimento de resistência. O nilotinibe e o dasatinibe são dois exemplos de inibidores de segunda geração de tirosina-quinase recentemente aprovados. COMO TRATAR O PACIENTE PORTADOR DE LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA O primeiro passo do tratamento de um paciente com diagnóstico de LMC é o controle hematológico. Esse controle pode ser feito com hidroxiuréia enquanto os exames de confirmação diagnóstica como citogenética e PCR são aguardados Resposta hematológica inclui redução no número de plaquetas para menos do que 450.000/mm3, número de leucócitos para menos do que 10.000/mm3, e de células jovens circulantes, além de ausência de esplenomegalia e de sintomas constitucionais. Com a presença de cromossomo Ph e/ou do transcrito BCR-ABL em mãos, dá-se início ao tratamento com mesilato de imatinibe na dose de 400 mg/dia na fase crônica e 600 mg/dia na fase acelerada e crise blástica. A RHC deverá ser atingida em torno de três meses. Durante esse tempo, o paciente deverá ser monitorado com hemograma e bioquímica semanalmente nas primeiras seis semanas e depois a cada quatro semanas. A monitorização da porcentagem do número de células Ph positivas em medula óssea é o melhor parâmetro para avaliação de resposta ao tratamento, pois a resposta citogenética está associada a aumento de sobrevida livre de progressão e sobrevida global. Resposta citogenética completa (RCC) é a ausência de células Ph positivas, a resposta parcial significa presença de 1 a 35% de células Ph positivas, enquanto uma resposta mínima significa que 36 a 95% de células são Ph positivas. É recomendada uma primeira avaliação citogenética antes do tratamento e depois aos seis meses, até a obtenção da RCC, e depois a cada 12 meses. Técnicas moleculares também devem ser utilizadas como ferramenta na monitorização do tratamento. 3 Camila Carminate – 8 FASE ESTRATÉGIAS NO MANEJO DA LMC COM MESILATO DE IMATINIBE PARA EVITAR A RESISTÊNCIA Iniciar o mesilato de imatinibe na dose mínima aprovada, ou seja, 400 mg/dia para fase crônica e 600 mg/dia para fase acelerada e crise blástica. Manter a dose. Evitar doses subterapêuticas. Aumentar a dose de 400 mg para 600 mg ou 600 mg para 800 mg se houver perda da resposta inicial ou resposta subótima. Sempre checar a adesão do paciente ao tratamento. Manejar rapidamente os efeitos colaterais que possam aparecer durante o tratamento. Em geral, esses eventos aparecem no começo. Diminuir a dose se necessário mas voltar a dose ideal assim que possível.
Compartilhar