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13 FACULDADES INTEGRADAS APARÍCIO CARVALHO - FIMCA CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ÁREA: CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS Aluno(a): Aline Bento de Souza Orientador: Prof. MSc. Thiago Vaz Lopes Supervisora: Drª. Solange Hartmann Relatório de Estágio Supervisionado apresentado às Faculdades Integradas Aparício Carvalho - FIMCA, como parte dos requisitos para conclusão do curso de Graduação em Medicina Veterinária. PORTO VELHO- RO Junho de 2017 ALINE BENTO DE SOUZA Hospital Veterinário Lorenzoni Relatório de Estágio Supervisionado apresentado às Faculdades Integradas Aparício Carvalho - FIMCA, como parte dos requisitos para conclusão do curso de Graduação em Medicina Veterinária. Orientador: Prof. MSc. Thiago Vaz Lopes PORTO VELHO- RO Junho de 2017 “Neste mundo cão, é dever de todos aqueles que gostam de cães dar a eles uma chance de superar os dias de cão para que possam ser felizes pra cachorro!’’ American Kennel Club Gazette Dedico este trabalho aos meus pais, Edemar e Maria de Fátima pela força, dedicação, incentivo e constante apoio para tornar esta vitória possível. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Fachada do Hospital Veterinário Lorenzoni. ......................................................12 FIGURA 2 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Recepção e sala de espera................................13 FIGURA 3 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Consultório VeterinárioI. .........14 FIGURA 4 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Consultório VeterinárioII. 14 FIGURA 5 - Hospital Veterinário Lorenzoni - Canil acústico: A) Visão geral do canil; B) Box de internamento. 15 FIGURA 6 - Hospital Veterinário Lorenzoni - Canil acústico: A) Prateleira contendo materiais de uso do Canil; B) Mesa e pia embutidas em inox; C) Armário onde é armazenada a ração 15 FIGURA 7 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Gatil. 16 FIGURA 8 - Hospital Veterinário Lorenzoni, visão geral da sala de isolamento. 16 FIGURA 9 - Hospital Veterinário Lorenzoni - Sala de isolamento: A) Armário vitrine contendo materiais de uso do isolamento; B) Freezer; C) Box de internação. 17 FIGURA 10 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Farmácia. 17 FIGURA 11 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Sala pré-cirúrgica. 18 FIGURA 12 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Visão geral da sala de Cirurgia. 19 FIGURA 13 - Hospital Veterinário Lorenzoni - Laboratório de Análises Clínicas: A) banho- maria, B) Hematologia veterinário automatizado; C) Analizadores bioquímico; D) Microscopio óptico. 19 FIGURA 14 - Hospital Veterinário Lorenzoni - Setor De diagnóstico por imagem: A) Sala com aparelho de radiologia e mesa para realização do exame; B) Aparelho de ultrassom e mesa para a realização do exame. 20 FIGURA 15 - Imagem ultrassonográfica: A) Baço e uma formação; B) Formação heterogênea cavitaria com conteúdo anecóico. 32 FIGURA 16 - Imagem ultrassonográfica: Massa com textura heterogênea apresentando área anecoicas. 33 FIGURA 17 - Imagem ultrassonográfica: Cavidade abdominal apresentando líquido livre. 34 FIGURA 18 - Realização da abdominocentese . 35 FIGURA 19 - Esplenectomia. 36 FIGURA 20 - Lobectomia Hepática. 37 FIGURA 21 - Canino Barney passando pela primeira sessão da quimioterapa com Doxorrubicina IV. 40 FIGURA 22 - Imagem ultrassonográfica: A) Formação neoplásica em linfonodo mesentérico; B) Linfonodo mesentérico aumentado. 41 FIGURA 23 - Imagem ultrassonográfica: Cavidade abdominal apresentando líquido livre. 42 FIGURA 24 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Felino, macho, siamês, 6 meses de idade., apresentando grave desidratação. 51 FIGURA 25 - A) Kit Snap® Combo para teste de FIV/FeLV; B) Leitura do teste Snap® Combo revelando resultado positivo para FeLV. 55 FIGURA 26 - Imagem ultrassonográfica: A) Baço apresentando-se diminuído; B) observa-se espessamento das camadas da parede do intestino. 56 FIGURA 27 - Felino foi enrolado nos cobertores na tentativa de aquecê-lo para normalizar a temperatura corporal. 57 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Atividades desenvolvidas e/ou acompanhadas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Clínica médica e Cirúrgica de pequenos animais, no Hospital Veterinário Lorenzoni, Porto Alegre - Rio Grande do Sul. No período de 14 de fevereiro a 09 de maio de 2017. 22 TABELA 2 - Casos clínicos realizados e/ou acompanhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Clínica Médica e Cirúrgica de pequenos animais, no Hospital Veterinário Lorenzoni, Porto Alegre - Rio Grande do Sul. No período de 14 de fevereiro a 09 de maio de 2017. Relação de casos atendidos de acordo com o sistema acometido e o número de animais atendidos. 25 TABELA 3 - Procedimentos Cirúrgicos realizados e/ou acompanhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Clínica Médica e Cirúrgica de pequenos animais, no Hospital Veterinário Lorenzoni, Porto Alegre - Rio Grande do Sul. No período de 14 de fevereiro a 09 de maio de 2017. 26 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Esquema de administração da doxorrubicina IV 28 QUADRO 2 - Resultados laboratoriais do hemograma do canino Barney, realizado 15 de fevereiro de 2017, no HVL. 31 QUADRO 3 - Resultados laboratoriais de bioquímica sanguínea e albumina do canino Barney realizada em 15 de fevereiro de 2017, no HVL. 32 QUADRO 4 - Resultados laboratoriais do hemograma do canino Barney, realizado 15 de mar-ço de 2017, no HVL. 39 QUADRO 5 - Resultados laboratoriais dos hemogramas do canino Barney, realizado nos dias 05, 10 e 15 de abril de 2017, no HVL. 43 QUADRO 6 - Exames dos bioquímicos realizados nos dias 05, 10 e 15 de abril. 43 QUADRO 7 - Resultados laboratoriais de hemograma do felino Remela, realizado 16 de abril de 2017, no HVL 53 QUADRO 8 - Resultados laboratoriais de bioquímica sanguínea do felino Remela, realizado em 16 de abril de 2017, no HVL 54 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS HVL - Hospital Veterinário Lorenzoni ARC - Avaliação de Risco Cirúrgico DDIV - Doença do Disco Intervertebral DRC - Doença Renal Crônica DRA - Doença Renal Aguda HSA - Hemangiossarcoma MPA - Medicação Pré-Anestésica CID - Coagulação Intravascular Disseminada ALT - Alanina Aminotransferase FA - Fosfatase Alcalina VO - Via Oral IV - Intravenosa IM - Intramuscular SC - Subcutânea VAC - Vincristina, Doxorrubicina e Ciclofosfamida L-MTP-PE - Muramil Tripeptídeo Fosfatidiletanolamina Encapsulado em Lipossomas TPC - Tempo de Preenchimento Capilar TR - Temperatura Retal SID - 1 Vez ao Dia BID - 2 Vezes ao Dia TID - 3 Vezes ao Dia AZT- Azidotimidina HIV- Vírus da Imunodeficiência Humana IFI - Teste de Imunofluorescência Indireta PCR - Reação em Cadeia da Polimerase FELV - Vírus da Leucemia Felina PIF - Peritonite Infecciosa Felina, EDTA - Ácido Etilenodiamino Tetra-acético RNA - Ácido Ribonucléico DNA - Ácido Desoxirribonucleico ELISA - Ensaio Imunológico com Absorção Enzimática SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...........11 2. DESCRIÇÃO DA ROTINA E DO CAMPO DE ESTÁGIO 12 2.1. HOPITAL VETERINÁRIO LORENZONI. 12 2.1.1. Recepção e Sala de Espera 13 2.1.2. Consultórios. 13 2.1.3. Internamento 14 2.1.4. Pavilhão de Isolamento 16 2.1.5. Farmácia 17 2.1.6. Bloco Cirúrgico 18 2.1.7. Laboratório de Análises Clínicas 19 2.1.8. Setor de Diagnóstico por Imagem. 20 3. RESUMO QUANTIFICADO DAS ATIVIDADES 21 4. DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES E DISCUSSÃO EMBASADA NA LITERATURA 25 4.1. HEMANGIOSSARCOMA ESPLÊNICO COM METÁSTASE EM FÍGADO. 25 4.1.1. Introdução 25 4.1.2. Revisão Bibliográfica 26 4.1.3. Relato de Caso 29 4.1.4. Resultados e Discussão 30 4.1.5. Conclusão 444.2. LEUCEMIA VIRAL FELINA (FeLV) 45 4.2.1. Introdução 45 4.2.2. Revisão Bibliográfica 45 4.2.3. Relato de Caso 50 4.2.4. Resultados e Discussão 52 4.2.5. Conclusão 58 5. REFERÊNCIAS 59 5.1. HEMANGIOSSARCOMA 59 5.2. LEUCEMIA VIRAL FELINA (FeLV) 61 2 1. INTRODUÇÃO O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária foi realizado na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário Lorenzoni (HVL) na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, no período de 14 de fevereiro a 9 de maio de 2017, totalizando 450 horas, sob a supervisão interna da Médica Veterinária Solange Hartmann e orientação do professor MSc. Thiago Vaz Lopes. O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária é de extrema importância ao estudante, pois se trata do momento de por em prática e aprimorar os conhecimentos obtidos durante a graduação, aproximando o acadêmico da realidade de sua área de atuação profissional, vivenciando a rotina de atendimentos clínicos e cirúrgicos, auxiliando nos exames de imagem (radiografia e ultrassonografia) e na coleta de matérias para exames complementares, e convivendo com animais e seus tutores. O Hospital Veterinário Lorenzoni oferece atendimento clínico com especialistas em clínica médica, clínica médica de felinos, neurologia, oftalmologia, dermatologia, nefrologia, cardiologia, oncologia, ortopedia, nutrição, fisioterapia e acupuntura. Além de serviços como cirurgia e anestesia, internação, diagnóstico por imagem e laboratório de análises clínicas. O HVL possui atendimento ao público 24 horas, por dia, de segunda a segunda. Os plantões noturnos e de final de semana são realizados por um médico veterinário, juntamente com um estagiário graduando do curso de medicina veterinária. A escolha do Hospital Veterinário Lorenzoni para o local de realização do estágio curricular supervisionado foi feita por se tratar de uma instituição capacitada que dispõe de uma excelente infra-instrutura, uma grande demanda de atendimento clínico, um variado quadro de exames complementares que são realizados no próprio hospital e vários tipos de cirurgias dentre elas, cirurgias de tecidos moles, cirurgias ortopédicas e cirurgias oftálmicas, possibilitando ao estagiário promover um raciocínio clínico referente aos casos acompanhados. Foi escolhida também por contar com um corpo clínico especializado que sempre estavam dispostos a passar seus conhecimentos aos estagiários, possibilitando um melhor aprendizado. A opção pelo estágio nas áreas de Clínica Médica e Cirúrgica de pequenos animais foi feita em decorrência da preferência pessoal pelos animais de pequeno porte (cães e gatos). O estágio curricular supervisionado teve como objetivo o complemento da formação acadêmica e por em prática o conhecimento teórico adquirido durante a graduação, permitindo assim uma melhor preparação para o mercado de trabalho. 2. DESCRIÇÃO DA ROTINA E DO CAMPO DE ESTÁGIO 2.1. HOPITAL VETERINÁRIO LORENZONI. Situado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul o Hospital Veterinário Lorenzoni (Figura 1) é uma empresa focada em serviços e produtos para a saúde e o bem-estar de cães e gatos. Foi inaugurado em 1953 pelo Médico Veterinário Rheno J. F. Lorenzoni, um dos primeiros Médicos Veterinários formados no Rio Grande do Sul. Inicialmente as dependências do hospital veterinário dividiam espaço com a residência do proprietário, sendo o consultório no porão. O HVL teve um crescimento contínuo que acompanhou a expansão do bairro Menino Deus e o crescimento do número de animais de estimação. Em 1975, o prédio onde se localiza o hospital veterinário passou por uma reforma, sendo totalmente arquitetado para abrigar um hospital veterinário. No início da década de 1990, foi promovido outra reforma física da empresa, modernizando e ampliando suas instalações para melhor atender os pacientes. FIGURA 1 – Fachada do Hospital Veterinário Lorenzoni. O Hospital Veterinário Lorenzoni é subdividido em uma recepção, sala de espera, quatro consultórios, pavilhão de internação acústico para cães, pavilhão de isolamento, gatil, bloco cirúrgico, laboratório de análises clínicas, setor de diagnóstico por imagem e farmácia, além de uma cozinha e um quarto com banheiro para plantonistas. 2.1.1. Recepção e Sala de Espera Os proprietários, ao chegarem à recepção do hospital (Figura 2), preenchem uma ficha de cadastro e aguardam juntamente com o animal na sala de espera até o momento do atendimento, que é feito por ordem de chegada. Nos casos de emergência, a prioridade é dada pelo grau de severidade da patologia. Para atendimentos com os Médicos Veterinários especialistas em neurologia, oftalmologia, dermatologia, nefrologia, cardiologia, oncologia, ortopedia, nutrição, fisioterapia e acupuntura, é preciso agendamento, pois os mesmo só atendem com hora marcada. Ao atendimento com o Médico Veterinário é realizado a anamnese e o exame físico completo, caso haja necessidades o Médico Veterinário fará exames complementares, a fim de auxiliar no diagnóstico definitivo. Pacientes em estado graves, desidratados e que precisem de terapias imediatas são internados e são avaliados diariamente. Caso verificada a necessidade de internamento, o proprietário será informado e conduzido novamente à recepção para assinar o termo de internação. FIGURA 2 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Recepção e sala de espera. 2.1.2. Consultórios. Os consultórios (Figura 3 e 4) são modernos, bem equipados e climatizados. Todos consultórios contam com uma mesa de atendimento veterinário, mesa executiva, pia, e armarinho contendo luvas, seringas, tubos de vácuo, algodão, gaze, álcool, água oxigenada e solução fisiológica. FIGURA 3 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Consultório Veterinário I. FIGURA 4 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Consultório Veterinário II. 2.1.3. Internamento O HVL possui uma excelente estrutura de internação para cães e gatos, oferecendo terapia intensiva aos animais debilitados. Ambos os setores dispõe de uma Médica Veterinária responsável pela internação e estagiários que se revezam em escalas para auxiliar no monitoramento constante dos animais. Canil O pavilhão de internamento de cães é climatizado e tem isolamento acústico (Figura 5). O local dispunha de um frigobar utilizado para conservar alimentos hospitalar dos animais internados como Salute, Nutralife, A/D™, I/D™, W/D™. Conta também com bombas de infusão, uma prateleira que possuí álcool, solução fisiológica, pomadas, água oxigenada, gaze, algodão, luvas. Uma mesa e uma pia embutidas em inox, e um armário para armazenamento de ração (Figura 6) FIGURA 5 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Canil: A) Visão geral do canil; B) Box de internamento. FIGURA 6 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Canil: A) Prateleira contendo materiais de uso do Canil; B) Mesa e pia embutidas em inox; C) Armário onde é armazenada a ração. Gatil O hospital conta com uma ampla estrutura para internação de felinos (Figura 7), podendo internar simultaneamente 14 pacientes. O gatil foi projetado especialmente para as necessidades da espécie felina. Os box de internação são de tamanhos variados, para serem usados de acordo com o tamanho e estágio clínico do paciente. O gatil possui vista externa, são bem ventilados e recebem a luz solar. Conta com bombas de infusão, uma prateleira que possuí álcool, soro fisiológico, pomadas, água oxigenada, gaze, algodão, luvas, cobertores e uma mesa com uma pia embutida, em inox. FIGURA 7 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Gatil. 2.1.4. Pavilhão de Isolamento Para os animais com doenças infectocontagiosas HVL possui na parte externa de suas instalações, o pavilhão de isolamento (Figura 8 e 9), onde ficam internados os animais que são suspeitos de ter doenças infectocontagiosas (Ex: cinomose e parvovirose), evitando assim a disseminação de doenças. O isolamento é composto por duas mesas de inox, uma pia, box de internamento com tamanhos variados,um armarinho vitrine contendo luvas, seringas, tubos de vácuo, algodão, gaze, álcool, água oxigenada, solução fisiológica, bolsas térmicas e termômetro. No isolamento também se encontra o freezer, onde são congelados os corpos dos animais falecidos, que serão encaminhados para a cremação. FIGURA 8 - Hospital Veterinário Lorenzoni, visão geral da sala de isolamento. FIGURA 9 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Sala de isolamento: A) Armário vitrine contendo materiais de uso do isolamento; B) Freezer; C) Box de internação. 2.1.5. Farmácia O Hospital Veterinário também conta com uma farmácia (Figura 10) onde ficam os medicamentos de uso veterinário, como analgésicos, antiinflamatórios, corticoides, antibióticos, antieméticos, antitérmicos. É também onde se encontram materiais de uso hospitalar, como esparadrapo, seringas, soro (ringuer com lactato, solução fisiológica, soro glicosado), sonda uretral, sonda nasogástrica, equipo macro e microgotas, atadura e cateter intravenoso. Estes medicamentos e produtos hospitalares são de uso exclusivo para animais internados e emergências FIGURA 10 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Farmácia. 2.1.6. Bloco Cirúrgico Quando o animal precisava ser submetido a uma cirurgia o proprietário deveria assinar o termo de cirurgia e o termo de anestesia. Pacientes acima de 10 anos deveriam passar por uma consulta com o cardiologista para avaliação de riscos cirúrgicos (ARC). O bloco cirúrgico é dividido em uma sala pré-cirúrgica e a sala de cirurgia. A sala pré-cirúrgica (Figura 11) é composta por uma pia para higienização dos profissionais e uma autoclave para esterilização dos Instrumentais Cirúrgicos A sala de cirurgia (Figura 12) é completa e conta com modernos aparelhos, como aparelho de anestesia inalatória, foco cirúrgico portátil, mesa cirúrgica, bomba de infusão, monitor multiparamétrico e cilindro de oxigênio. No centro cirúrgico foram realizadas diversas intervenções cirúrgicas, variando de cirurgias de tecido mole, cirurgias ortopédicas a cirurgias oftálmicas. Das cirurgias ortopédicas a osteossíntese de fêmur e osteossíntese de radio e ulna foram as mais comuns. Nas cirurgias oftálmicas o flap de 3º pálpebra foi à técnica mais realizada como auxilio no tratamento de úlcera de córnea. Em todos os procedimentos cirúrgicos se fez uso do aparelho de anestesia inalatória e do monitor multiparamétrico, os quais permitiram a equipe de Médicos Veterinários executarem cirurgias desde pacientes neonatos até animais idosos com segurança. FIGURA 11- Hospital Veterinário Lorenzoni, Sala pré-cirúrgica. . FIGURA 12 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Visão geral da sala de Cirurgia. 2.1.7. Laboratório de Análises Clínicas Hospital Veterinário conta com o apoio de um laboratório de análises clínicas, amplo e bem estruturado, com equipamentos modernos (Figura 13) como o de hematologia veterinário automatizado Roche, uma centrífuga, um microscópio, dois banho-maria, dois analizadores bioquímico e um refrigerador que conferem fidedignidade aos resultados. As análises realizadas auxiliam no estabelecimento do diagnóstico e estado geral dos animais encaminhados para procedimentos cirúrgicos e permitem o monitoramento dos animais internados. Rotineiramente são realizados exames de hematologia, pesquisa de hemoparasitas, bioquímica sérica, raspado de pele, exame de fezes entre outros. FIGURA 13 – Hospital Veterinário Lorenzoni - Laboratório de Análises Clínicas: A) banho-maria, B) Hematologia veterinário automatizado; C) Analizadores bioquímico; D) Microscopio óptico. 2.1.8. Setor de Diagnóstico por Imagem. O Hospital Veterinário também conta com o setor de diagnóstico por Imagem (Figura 14). O setor é dividido em duas salas, uma contendo o parelho de raio-X, e outra um aparelho de ultrassom. Assim os aparelhos são capazes de proporcionar o melhor auxilio nos diagnósticos dos animais atendidos durante a rotina clínica do HVL, bem como de outras clínicas e profissionais de Porto Alegre e região. Os exames são realizados por uma Médica Veterinária especializada em diagnósticos por imagem, e um estagiário, que auxilia na contenção do animal. FIGURA 14 - Hospital Veterinário Lorenzoni - Setor De diagnóstico por imagem: A) Sala com aparelho de radiologia e mesa para realização do exame; B) Aparelho de ultrassom e mesa para a realização do exame. 3. RESUMO QUANTIFICADO DAS ATIVIDADES As atividades desenvolvidas durante a realização do estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária no Hospital Veterinário Lorenzoni, tiveram além de auxílio a procedimentos ambulatoriais, acompanhamento nas consultas de clínica médica geral e nas consultas com especialistas veterinários oferecidas pelo hospital, acompanhamento de procedimentos cirúrgicos e anestesia, auxiliar na realização exames de imagem, administração de medicamentos aos animais internados e monitoração de pacientes críticos. Todas estas atividades eram orientadas e supervisionadas por um Medico Veterinário responsável. A Tabela 1 contém uma relação das atividades desenvolvidas e/ou acompanhadas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado. Procedimentos Caninos Felinos Total % Atendimento Clínico 150 59 209 59,6 Curativos 06 04 10 2,8 Exame Radiográfico 11 06 17 4,8 Exame Ultrassonográfico 22 11 33 9,4 Eutanásia 05 02 07 2,0 Transfusão de Sangue 06 01 07 2,0 Procedimentos Cirúrgicos 57 11 68 19,4 TOTAL 257 94 351 100 TABELA 1 -Atividades desenvolvidas e/ou acompanhadas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Clínica médica e Cirúrgica de pequenos animais, no Hospital Veterinário Lorenzoni, Porto Alegre - Rio Grande do Sul. No período de 14 de fevereiro a 09 de maio de 2017. A maior parte do estágio foi realizado na clínica médica de pequenos animais, sendo realizados rodízios na área de clínica médica, cirúrgia e tratamento dos animais internados. Durante o período de estágio foram acompanhados 209 casos clínicos na área de clínica médica (Tabela 2 ). Dos quais 150 (71,8%) eram cães e 59 (28,2%) eram felinos. Sistema Patologia Canino Felino Total % Escabiose 01 -- 01 0,48 Otite Aguda/Crônica 06 03 09 4,3 Demodicose 03 -- 03 1,4 Dermatofitose 02 -- 02 0,9 Sistema Dermatite Alérgica a Picada de Pulga 01 -- 01 0,48 Tegumentar Piodermite 04 -- 04 1,9 Seborréia 02 01 03 1,4 Miíase 04 01 05 2,4 Doença do Disco Intervertebral 01 -- 01 0,48 Fratura de Maxila -- 02 02 09 Fratura de Rádio 04 02 06 2,9 Músculo- Necrose asséptica da cabeça do Fêmur 03 -- 03 1,4 esquelético Fratura de Ulna 03 02 05 2,4 Fratura de Tíbia 02 -- 02 0,9 Fratura de Metatarso -- 01 01 0,48 Fratura de Falange -- 01 01 0,48 Luxação Patela 01 -- 01 0,48 Corpo Estranho Intestinal 02 01 03 1,4 Neoplasia na Cavidade Oral 02 -- 02 0,9 Gastroenterite 09 06 13 7,2 Gastroenterite Hemorrágica 05 -- 05 2,4 Sistema Gastrite 03 -- 03 1,4 Digestório e Doença Inflamatória Intestinal 01 04 05 2,4 Glândulas Giardíase 06 01 07 3,3 Anexas Isosporose 01 -- 01 0,48 Neoplasia de Fígado 06 -- 06 2,9 Pancreatite 05 -- -- 2,4 Piometra 05 01 06 2,9 Cistite 03 02 05 2,4 Hiperplasia Próstatica 01 -- 01 0,48 Sistema Insuficiência Renal Crônica 06 05 11 5,3 Genito- Insuficiência Renal Aguda 05 04 09 4,3 urinário Neoplasia Renal 01 -- 01 0,48 Neoplasia Mamária 06 -- 06 2,9 Obstrução Uretral 01 02 03 1,4 Cálculo renal 03 01 04 1,9 Distocia 02 -- 02 0,9 Seqüestro de Córnea -- 01 01 0,48 Lesão Química Ocular 01 -- 01 0,48 Catarata 02 -- 02 0,9Sistema Uveíte 04 -- 04 1,9 Oftálmico Ulcera de Córnea 05 01 06 2,9 Evisceração de Conteúdo Ocular 01 -- 01 0,48 Ceratoconjuntivite seca 02 -- 02 0,9 Distiquíase 02 -- 02 0,9 Glaucoma -- 01 01 0,48 Entrópio 04 -- 04 1,9 Epilepsia 02 -- 02 0,9 Sistema Traumatismo Craniano 01 -- 01 0,48 Nervoso Síndrome Vestibular 01 -- 01 0,48 Cardiomiopatia Hipertrófica -- 01 01 0,48 Sistema Hemangiossarcoma Esplênico 02 -- 02 0,9 Circulatório Insuficiência da Válvula Mitral 02 -- 02 0,9 Linfático e Linfoma 01 -- 01 0,48 Endócrino Hiperadrenocorticismo 01 -- 01 0,48 Metástase Pulmonar 02 -- 02 0,9 Sistema Pneumotórax traumático -- 02 02 0,9 Respiratório Linfoma Pulmonar -- 03 03 1,4 Gripe -- 02 02 0,9 Leptospirose 02 -- 02 0,9 Doenças Cinomose 03 -- 03 1,4 Infecto- Parvovirose 03 -- 03 1,4 contagiosas Vírus da Leucemia Felina -- 05 05 2,4 Peritonite Infecciosa Felina -- 04 04 1,9 TOTAL 150 59 209 100 TABELA 2 – Casos clínicos realizados e/ou acompanhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Clínica Médica e Cirúrgica de pequenos animais, no Hospital Veterinário Lorenzoni, Porto Alegre - Rio Grande do Sul. No período de 14 de fevereiro a 09 de maio de 2017.Relação de casos atendidos de acordo com o sistema acometido e o número de animais atendidos. Durante o estágio também foi possível acompanhar as cirurgias realizadas no HVL. Foram feitas 68 cirurgias no qual a ovariosalpingohisterectomia (OSH), orquiectomia e a nodulectomia foram as mais realizadas como é possível observar na tabela 3. Todos os procedimentos cirúrgicos eram realizados por um cirurgião e um anestesista. Em todos os procedimentos foi utilizado anestesia inalatório com isofluorano e a indução era feita com propofol. Nos procedimentos cirúrgicos foram utilizados aparelhos de monitoração multiparamétricos que monitoravam batimentos cardíacos, oxigenação sanguínea e movimentos respiratórios. Procedimentos Caninos Felinos Total % Ovariohisterectomia eletiva 07 02 09 13,2 Ovariohisterectomia terapêutica 05 -- 05 7,4 Orquiectomia 06 02 08 11,8 Correção de entrópio 02 -- 02 2,9 Flap de 3° pálpebra 04 -- 04 5,9 Redução de protusão ocular 01 -- 01 1,5 Mastectomia parcial/total 06 -- 06 8,9 Cistotomia 02 -- 02 2,9 Esplenectomia total 02 -- 02 2,9 Hepatectomia parcial 01 -- 01 1.5 Cesariana 02 -- 02 2,9 Osteossíntese de tíbia 01 01 02 2,9 Osteossíntese de fêmur 03 02 05 7,4 Osteossíntese radio/ radio e ulna 02 02 04 5,9 Colocefalectomia 03 -- 03 4,4 Nodulectomia cutânea/subcutânea 08 -- 08 11,8 Remoção de cálculo dentário 02 02 04 5,9 TOTAL 57 11 68 100 TABELA 3 - Procedimentos Cirúrgicos realizados e/ou acompanhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Clínica Médica e Cirúrgica de pequenos animais, no Hospital Veterinário Lorenzoni, Porto Alegre - Rio Grande do Sul. No período de 14 de fevereiro a 09 de maio de 2017. 4. DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES E DISCUSSÃO EMBASADA NA LITERAT URA 4.1. HEMANGIOSSARCOMA ESPLÊNICO COM METÁSTASE EM FÍGADO. 4.1.1. Introdução Ao longo do tempo ocorreram avanços no campo da Medicina Veterinária, contribuindo para o estabelecimento e consolidação de melhorias nas condições de imunização, nutrição, prevenção e tratamento de patologias de cães e gatos. Aumentando assim a expectativa de vida desses animais. Entretanto a longevidade torna estes animais mais vulneráveis a uma série de patologias, incluindo às neoplasias. O hemangiossarcoma (HSA) se enquadra nesse contexto, estima-se que este tipo de neoplasia é responsável por cerca de 5 a 7% de todos os tumores malignos observados em cães (NELSON & COUTO, 2001). As informações a respeito do comportamento biológico dos hemangiossarcomas ainda são limitadas. Sua causa ainda é desconhecida, porém relata-se pré-disposição genética e sabe-se que a exposição solar está associada ao surgimento do HSA em indivíduos com pele menos pigmentada ou pelos mais rarefeitos. O hemangiossarcoma pode acometer qualquer raça em qualquer idade, entretanto cães de meia idade de raças gigantes e grandes, a incidência de HSA é maior (SCHULTHEISS, 2004). O HSA é um tumor maligno com alto potencial metastático, de origem endotelial vascular que acomete preferencialmente o baço, seguido por fígado e coração. Por se originar do endotélio de vasos sanguíneos, o HSA pode ocorrer em qualquer região vascularizada do corpo. Esse tumor ocorre com maior freqüência nos cães se comparando com todas as demais espécies. Os sinais clínicos são inespecíficos e variando de acordo com a localização do tumor. O diagnóstico definitivo é obtido a partir de exame histopatológico. Portanto faz-se necessária a biópsia ou excisão da massa. O tratamento de eleição para o HSA é a remoção cirúrgica, associada ao uso da quimioterapia, possuindo, na grande maioria dos casos, prognóstico reservado a ruim (FERRAZ et al., 2008). O objetivo deste, é relatar um caso de um canino diagnosticado com hemangiossarcoma, bem como explorar, discutir e esclarecer características, diagnóstico e opções de tratamento desta neoplasia. 4.1.2. Revisão Bibliográfica O hemangiossarcoma (HSA) é uma neoplasia maligna de células endoteliais que formam massas sólidas com presença de células inflamatórias e espaços vasculares com conteúdo sanguíneo (PULLEY & STANNARD, 1990). Com exceção ao hemangiossarcoma dérmico primário, que possui poder metastático mais baixo, o comportamento do HSA visceral é altamente agressivo, tanto com relação à metástases como com relação à infiltração (NELSON & COUTO, 2001). Essa neoplasia pode se iniciar em qualquer tecido vascularizado, porém as maiores incidências primárias são no baço (50-60%), tecido subcutâneo (13-17%) átrio direito (3-25%), e fígado sendo mais comum em vísceras (SCHULTHEISS, 2004). Além destes locais há relatos de tumores primários em pele, aorta, pulmão, cavidade oral, rins, músculos, bexiga, intestinos, ossos, língua, vulva, conjuntiva, peritônio e próstata (FERRAZ et al., 2008). Quando o HSA é encontrado em múltiplas localizações como fígado, baço, pele, coração e tecido ósseo, é difícil determinar o local de origem do tumor e a possibilidade de origem multicêntrica pode ser considerada (PULLEY & STANNARD, 1990). Os nódulos da neoplasia podem apresentar-se em coloração cinza pálida a vermelho escuro, de tamanhos variados e forma mole e nodular. Também é comum serem observados áreas hemorrágicas e de necrose. Caracterizam-se por serem pouco circunscritos e não encapsulados, podendo estar aderidos à órgãos adjacentes (MACEWEN, 2001). O cão é a espécie mais afetada pelo hemangiossarcoma, observa-se cerca de 0,3 a 2,0% de todas as necropsias nesta espécie (PASTOR, 2002). A incidência é maior em cães de meia idade a idosos (8 a 13 anos), sendo que o hemangiossarcoma não visceral ocorre em cães com média de 9,7 anos (3 a 17anos), e o visceral a média é de 10,7 anos (de 5 a 17anos) atingindo com maior freqüência cães de raças grandes (SCHULTHEISS, 2004). A predisposição por sexo e causa ainda não está bem esclarecida, aparentemente tendo maior freqüência em machos. Algumas pesquisas relatam maior incidência em fêmeas castradas quando comparadas com fêmeas intactas (FERRAZ et al., 2008). Animais com HSA exibem uma variedade de sinais clínicos dependendo da localização da neoplasia primária, presença de metástases, se ocorreu ruptura da neoplasia e ou anormalidades de coagulação (MORRISON, 2002). Freqüentemente os sinais são inespecíficos e inclui letargia, anorexia, perda de peso, dispnéia, aumenta de volume abdominal (por crescimento da neoplasia ou por efusão), dor abdominal, convulsões, cardiopatias congestivas, alucinação, choque hipovolêmico causado por rupturada massa cancerosa, sopros, arritmias, massa palpável em abdome, pressão arterial baixa, abafamento de sons cardíacos e pulmonares, aumento de preenchimento capilar e congestão venosa são alguns dos achados possíveis (WARMAN, 2006). O diagnóstico do HSA é feito através dos achados clínicos, laboratoriais, radiográficos, abdominocentese abdominal e exame histológico (BROWN; PATNAIK; MACEWEN, 1985). Os exames laboratoriais de pacientes com HSA revelam uma variedade de anormalidades hematológicas, tais como anemia, leucocitose por neutrofília, trombocitopenia e coagulação intravascular disseminada, ocasionada pelo aumento da degradação de fibrinogênio e prolongação do tempo de coagulação (ativação parcial da tromboplastina ou pró-trombina) (NG & MILLS, 1985). A anemia pode ser o resultado da hemólise microangiopática e a hemorragia devido à coagulação intravascular disseminada - CID (onde os fatores de coagulação sanguínea são consumidos rapidamente) (MACEWEN, 2001). As alterações da bioquímica sérica poderão estar relacionadas com possíveis metástases ou locais do tumor primário, podendo incluir aumento de ALT, fosfatase alcalina, uréia e creatinina (MACEWEN, 2001). Em relação a exames de imagem a radiografia do tórax pode revelar metástase pulmonar, efusão pleural e ou efusão no pericárdio. Raio-x do abdômen pode revelar hepatomegalia e esplenomegalia. Na ultrassonografia abdominal pode-se observar textura do baço, do fígado e de outros órgãos para determinar se as lesões na cavidade são características do HSA. As imagens da ultrassonografia das lesões podem variar, podendo ser com áreas hiperecoicas espalhadas por toda lesão ou completamente anecoicas (MORRISON, 2002). O HSA possui macroscopicamente semelhança com hematomas e hiperplasia nodular. Devido a isso, é importante confirmar o diagnóstico para a correta tomada de decisões em relação a tratamento e eutanásia. A avaliação histopatológica é essencial para um diagnóstico completo e preciso (CULLEN & POPP, 2002). O diagnóstico diferencial de massas esplênicas inclui tumores malignos não vasculares como linfoma, osteossarcoma, leiomiossarcoma, fibrossarcoma, lipossarcoma, mesenquimoma, sarcomas indiferenciados e histiocitoma fibroso maligno, além de hiperplasia nodular, hematoma esplênico não-neoplásico e hemangioma. É particularmente importante não confundir hematoma com hemangiossarcoma, sendo o exame histopatológico que poderá determinar o diagnóstico final (MACEWEN, 2001). O tratamento do HSA é a remoção cirúrgica da neoplasia. No procedimento cirúrgico deve ser respeitada uma margem de segurança (2 a 3 cm) em todos os sentidos ao redor do tumor, para que haja remoção total da neoplasia nos tecidos envolvidos (COUTO, 2010). Devido ao alto poder metastático do hemangiossarcoma a quimioterapia se faz extremamente importante após a remoção cirúrgica da neoplasia, aumentando ainda mais a sobrevida do paciente que foi somente submetido à cirurgia. Protocolos quimioterápicos baseados no uso da doxorrubicina sozinha (Quadro 1) é o medicamento de eleição para tratar o hemangiossarcoma, usa-se 30 mg/m², por IV, para cães com mais de 10 kg e 25 mg/m², por IV, para cães com menos de 10 kg, entretanto é preciso tomar alguns cuidados com essas medições, como administração de anti-histamínico na dose de 1 mg/kg, IM, antes da administração de doxorrubicina, porque a quando administrado muito rápido a doxorrubicina poder provocar reação alérgica intensa podendo levar o animal a óbito (FERRAZ et al., 2008). Dia Doxorrubicina 1º X 22º Repetir a aplicação de doxorrubicina, prosseguindo com administrações a cada 3 semana, num total de 3 a 6 vezes. QUADRO 1- Esquema de administração da doxorrubicina. Fonte: FERRAZ et al., 2008 Existem outros dois protocolos quimioterápicos que também são usados com freqüência no tratamento do hemangiossarcoma são eles VAC e o VAC II. O protocolo VAC se baseia na administração da doxorrubicina com vincristina e ciclofosfamida. O protocolo VAC II se diferencia de VAC por alterações em dosagem e esquema de administração (PAGE E THRALL, 2004). Outro adjuvante no aumento da expectativa de vida dos caninos com HSA é a terapia biológica, associada à cirurgia e a quimioterapia. O imunomodulador muramil tripeptídeo fosfatidiletanolamina (MTP-PE) é capaz de estimular monócitos e macrófagos em reconhecer e destruir células tumorais e seu encapsulamento 23 em lipossomo (L-MTP-PE) prolonga sua meia vida da corrente sanguínea estimulando a ação antitumoral dos monócitos. Cães com L-MTP-PE adicionado ao tratamento apresentam menor ocorrência de metástases (NELSON & COUTO, 2001). A radioterapia não é muito utilizada na terapia do hemangiossarcoma devido à localização das neoplasias e a alta taxa de metástases. Podendo ser usada em nódulos envolvendo pele ou tecidos adjacentes (FERRAZ et al., 2008). Para neoplasias viscerais o prognóstico é de reservado a ruim, isso se deve ao fato de que á grande a incidência de metástases e muitas vezes o diagnóstico é tardio, e o animal já esta apresentando metástase para um ou mais órgãos (NELSON & COUTO, 2001). 4.1.3. Relato de Caso Um cão macho, Golden Retriever, de 8 anos, pesando 36 kg, foi atendido no Hospital Veterinário Lorenzoni, no dia 15 de fevereiro de 2017. Na anamnese o tutor relata que há uma semana o canino vem apresentando comportamento apático, mas continuava a se alimentar, entretanto no último dia não quis comer. Ao exame clínico, observou-se animal prostrado, ausculta cardíaca apresentando taquicardia, mucosas ocular e oral rosa pálida, temperatura corporal 38,8°C e distensão abdominal, não sendo palpável qualquer órgão ou estrutura. Os demais parâmetros estavam dentro da normalidade para a espécie Foram realizados exames complementares para auxílio do diagnóstico tais como: hemograma, contagem de plaquetas e bioquímica sérica. O hemograma revelou anemia normocítica normocrômica e o leucograma revelou leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda, linfopenia e plaquetas apresentando trombocitopenia. Nos bioquímicos a única alteração observada foi da uréia. O paciente foi encaminhado ao setor de diagnóstico por imagem para realização de uma ultrassonografia abdominal, onde foi possível observar formações semelhantes a neoplasias, a princípio acreditou-se que as neoplasias teriam origem esplênica e hepática, também observou líquido livre de alta celularidade na cavidade. Para proporcionar alívio ao paciente foi realizada a abdominocentese. Após a avaliação dos exames complementares procedeu-se a internação e posterior cirurgia, onde se realizou a esplenectomia e lobectomia hepática, foi realizada transfusão sanguínea trans e pós operatória. As amostras foram encaminhadas ao laboratório de análises histopatológicas, onde se obteve o diagnóstico de hemangiossarcoma esplênico com metástase para o fígado. Iniciou-se a quimioterapia com doxorrubicina, entretanto, não se evitou uma nova recidiva de metástase, dessa vez localizada no linfonodo mesentérico. Devido ao prognóstico ruim do paciente optou-se pela eutanásia. 4.1.4. Resultados e Discussão No presente caso clínico, acompanhou-se um canino macho, com 8 anos de idade, da raça Golden Retriever. Segundo dados da literatura o HSA acomete com maior freqüência cães idosos, das raças Golden Retriever, Labrador, Pastor Alemão e Boxer (SCHULTHEISS, 2004). Quanto relacionada ao sexo, MacEwen (2001) e Schultheiss (2004) citaram haver incidência maior em machos. As citações encontradas na literatura coincidem com as características (raça, idade e sexo) do paciente do presente caso clínico. Macewen (2001) relata que freqüentemente os sinais clínicos do HSA são inespecíficos e incluem fraqueza, abdômen distendido, mucosas pálidas e perda de peso. No caso relatado o canino apresentava abdômen distendido, após a realização da ultrassonografia abdominal foi confirmada a presença de liquido livre, justificando tal alteração. Durante o exame físico, também seobservou mucosas pálidas e taquicardia. Ambas sintomatologia estão relacionadas porque um dos mecanismos compensatórios na anemia envolvem o aumento do débito cardíaco, isso ocorre para tentar compensar a reduzida capacidade de transporte de oxigênio e, dessa forma, corrigir a hipóxia tissular (ZAGO, 2014). Após exame físico realizou-se a coleta de sangue para realização do hemograma completo e bioquímico de alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), uréia, creatinina, glicose e albumina. O eritrograma do paciente apresentou anemia normocítica normocrômica, segundo Macewen (2001) esse tipo de anemia é um achado comum em caninos com HSA, sua ocorrência se deve à ruptura da neoplasia, levando a hemorragia intra-abdominal. Estando de acordo com o presente caso clínico onde ouve ruptura da neoplasia, justificando a anemia presente. O leucograma apresentou leucocitose por neutrofilia com desvio a esquerda, linfopenia e plaquetas apresentando trombocitopenia. Estando de acordo com o que relatam Ng e Mills (1985) que citam que os exames laboratoriais de cães com hemangiossarcoma podem revelar leucocitose neutrofílica e trombocitopenia. A trombocitopenia pode estar relacionada ao fato de o baço canino armazenar um grande número de plaquetas e o mesmo encontrar-se neoplásico. A neutrofilia com desvio à esquerda ocorreu porque o canino estava com um quadro de estresse crônico, decorrente da dor, inflamação e neoplasia maligna. No estresse há a liberação de corticosteróides, ocorrendo aumento na liberação de neutrófilos pela medula óssea. A linfopenia pode ser justificada pela também liberação de corticosteróides. Esses hormônios reduzem a recirculação de linfócitos causando a linfopenia. A linfopenia também é comumente vista em certas neoplasias em estado avançado (LOPES et al 2007). Os resultados completos do hemograma podem ser observados logo a seguir (Quadro 2). PARÂMETROS RESULTADOS REFERÊNCIAS Eritrócitos 2,96 milhões/mm 5,5 a 8 milhões/mm Hemoglobina 6,9g/dL 12-18g/Dl Hematócrito 21% 37-55% V.C.M 73,99 60 a 77fL C.H.C.M 31,51% 30-36% Valor Absoluto uL Valor Absoluto uL Leucócitos Totais (μL) 23.200/mm 6-17mil/mm Neutrófilos Bastonetes 928 0 a 300 Neutrófilos segmentados 20.648 3.000 a 11.500 Eosinófilos 232 100 a 1250 Basófilos - Raros Monócitos 464 150 a 1.350 Linfócitos 928 1.000 a 4.800 Plaquetas (x103/μL) 93.000 300.000 a 800.000 QUADRO 2 – Resultados laboratoriais do hemograma do canino Barney, realizado 15 de fevereiro de 2017, no HVL. Conforme Tilley e Smith (2003) as alterações bioquímicas estarão relacionadas com as possíveis metástases ou locais do tumor primário, podendo incluir aumento de fosfatase alcalina, ALT, uréia e creatinina. O presente caso clínico não está de acordo com o que relata a literatura. Devido ao fato dos resultados dos bioquímicos hepáticos (ALT e Fosfatase alcalina) do paciente apresentar-se dentro dos valores normais, mesmo com o paciente apresentando neoplasia hepática. Nas análises da bioquímica sanguínea além da fostatase alcalina e ALT, a glicose e albumina também se encontravam normais. Na avaliação renal observou-se alteração na uréia, que se encontrava acima do valor de referência, como pode ser observada a seguir (Quadro 3). Tal alteração pode ser justificada devido ao canino ter apresentando um quadro hemorrágico, onde há necessidade de retenção de líquido, conseqüentemente diminui a taxa de filtração, aumentando assim, os níveis de uréia. Parâmetros Resultados Referências ALT 19,1U/L 10-88U/L Creatinina 0,9mg/dL 0,5 a 1,5 mg/dL Uréia 62,4mg/dL 15 a 40 mg/dL Fostatase Alcalina 37,0U/L 10-92U/L Glicose 103,3mg/dL 60 a 120mg/dL Albumina 2,7g/dL 2,6 a 3,3 g/dL QUADRO 3 – Resultados laboratoriais de bioquímica sanguínea e albumina do canino Barney, realizada em 15 de fevereiro de 2017, no HVL. O paciente foi encaminhado ao setor de diagnóstico por imagem do Hospital Veterinário Lorenzoni, para a realização de uma ultrassonografia abdominal. Couto (2010) indica a ultrassonografia da cavidade abdominal como método de diagnóstico de neoplasias, pois permite a visualização esplênica, para confirmar ou descartar a formação neoplásica. As neoplasias esplênicas, podem aparecer como nódulos com ecogenicidade variável, de anecoicos a hipercoicos. Foi realizada ampla tricotomia na região abdominal, e logo após aplicado gel sobre a pele. Durante a realização do exame observou-se em topografia mesogástrica esquerda uma formação heterogênea com cavitações e vascularização ao doplper colorido medindo 7,56cm X 9,77cm (Figura 15-A e 15-B) possivelmente associada ao baço. Segundo MacEwen (2001) o baço é o órgão mais atingido pelo HSA. Dentre os tumores manifestados no baço, dois terços são hemangiossarcoma, constituindo a principal neoplasia esplênica em cães. FIGURA 15 - Imagem ultrassonográfica: A) Baço e uma formação; B) Formação heterogênea cavitaria com conteúdo anecóico. Na figura 16 observa-se formação heterogênea, cavitária e expansiva em topografia de lobo lateral esquerdo, medindo 5,65cm X 7,15cm (imagem compatível com neoplasia). Goldschmidt & Hendrick (2002) relatam que o HSA geralmente forma canais vasculares em um ou diversos pontos da massa tumoral. A ultrassonografia observada no presente estudo tem essas características relatadas na literatura. FIGURA 16 - Imagem ultrassonográfica: Massa com textura heterogênea apresentando área anecoicas. Foi observado na ultrassonografia abdominal, que o paciente já estava apresentando metástase. Bonagura & Fuentes (2004) cita que 80% dos pacientes apresentam metástase no momento do diagnóstico de HSA. Page e Thall (2004) relatam que quando o local primário acometido for o baço geralmente ocorre metástase no fígado. Porém devido à origem do hemangiossarcoma (células de vasos sanguíneos), metástase pode ocorrer em qualquer órgão. Observou-se acentuada quantidade de líquido livre de alta celularidade, decorrente da ruptura do baço e conseqüente hemorragia (Figura- 17). FIGURA 17 - Imagem ultrassonográfica: Cavidade abdominal apresentando líquido livre. Silva Jr, Maia; Brito (2008) relatam que a hemorragia é citada como fator prognóstico importante, quando associado à hemorragia cavitária. Para proporcionar alívio clínico ao paciente foi realizada a abdominocentese, que consiste na drenagem do líquido abdominal. Para realização do procedimento foi feito assepsia com álcool iodado, não foi preciso realizar a tricotomia, pois a mesma já havia sido realizada na ultrassonografia abdominal. O procedimento foi feito com agulha 40x12 acoplada a um dreno e uma seringa de 20 mL, a punção foi feita através da parede abdominal, na linha alba, caudalmente ao umbigo uns 2 a 3 cm. Após a introdução da agulha, com uma seringa de 20 mL foi feito a retirada do liquido que resultou em cerca de 1,5L. O líquido era de coloração vermelho “vivo” semelhante ao sangue. Segundo Macewen (2001) efusões encontradas no abdômen normalmente são sero-sanguinolentas, podendo até mesmo ser hemorrágicas, além de geralmente não coagularem. Como observado na figura 18 o líquido drenado do paciente se mostrou característico de hemorragia e não coagulou. FIGURA 18 - Realização da abdominocentese. Após os resultados dos exames de sangue e da ultrassonografia abdominal o animal foi internado e recebeu fluidoterapia intravenosa de Ringuer com Lactato® (1.5L/12hs). E medicado com Metronidazol (15mg/kg) 12 h/IV; Ranitidina (2mg/kg) 12h/SC, administrado para proteger e prevenir o estômago de formação de úlceras, que pode surgir como efeito colateral de alguns medicamentos como por exemplo o Tramadol; Cerenia® (1 mg/kg), 24/SC administradapara controle de enjôos e vômitos que também podem surgir como efeito colateral de certas medicações como o Metronidazol; Cloridrato de tramadol (4mg/kg) 8h/SC, administrado por possuir boa ação analgésica, controlando a dor pré e pós-cirurgica. E a Dipirona (25mg/kg) 8h/IV, que possui ação analgésica e antitérmica. Segundo Withrow (2001) o tratamento de eleição para o hemangiossarcoma é a cirurgia, conforme foi realizado com o paciente do presente caso clínico. No pré-cirúrgico o animal foi avaliado como sendo de risco cirúrgico moderado (ASA 2). Procedeu-se a medicação pré-anestésica (MPA) com o uso de Metadona na dose de 0,5 mg/kg/IM. Decorridos 20 minutos, realizou-se indução anestésica com Propofol na dose de 5 mg/Kg/IV, possibilitando a intubação orotraqueal. O animal foi posicionado em decúbito dorsal, procedeu-se a anti-sepsia com iodopovidona e álcool na região abdominal. A manutenção anestésica foi realizada com Isofluorano em circuito circular. A técnica cirúrgica consistiu numa ampla incisão na linha média abdominal, de modo a permitir uma exploração abdominal completa. Primeiro foi realizado a esplenectomia total, onde realizou-se ligadura dupla dos vasos próximos ao hilo esplênico, com fio absorvível (poliglactina 910, 3-0). Depois realizou-se a retirada do lobo hepático esquerdo, realizando as ligadura dos vasos com fio absorvível (poliglactina 910, 3-0). Após o lobo hepático esquerdo e o baço serem totalmente exteriorizados, toda a cavidade abdominal foi inspecionado para a pesquisa de metástases. Seguiu-se a síntese dos planos musculares com sutura em pontos simples separados, com fio absorvível (poliglactina 910, 3-0). Para a sutura do tecido adiposo, usou padrão contínuo com o mesmo material anterior e por fim a pele, com sutura de padrão simples separado com fio não-absorvível (nylon, 3-0). FIGURA 19 - Esplenectomia A peça apresentou consistência macia e aspecto hemorrágico, com ruptura em um dos nódulos. Kim et al. (2007) em seu estudo, citou o hemangiossarcoma esplênicos em estágio I para o HSA confinado ao baço, estágio II com ruptura do tumor e hemoperitônio sem evidência de metástase e estágio III HSA esplênico metastático, este ultimo tendo pior prognóstico e tempo de sobrevida. Assim sendo o prognóstico do paciente do presente caso clínico é ruim, em vista que o mesmo se enquadra no estágio III, o que tem o pior prognóstico segundo relatados na literatura. FIGURA 20 - Lobectomia Hepática. Foi realizado transfusão sanguínea trans e pós-cirúrgica de 500 ml de sangue total. Ao fim da cirurgia foram administrados por via intravenosa, Cefalexina, 20 mg/kg e Meloxican, 0,2 mg/Kg. A Cefalexina ainda foi prescrita por mais 07 dias BID e o Meloxicam por mais 5 dias. Recomendou-se ainda, 2mg/Kg/VO/BID de Tramadol e 25mg/kg/VO/BID de Dipirona, como analgésicos. Além do uso tópico de povidona. O animal permaneceu internado se recuperando por mais 3 dias e ao final deste período, obteve-se alta médica. Posterior a cirurgia, as amostras (baço e fígado) foram colocadas em francos contendo formol 10%, e enviadas para a análise histopatológica. Segundo Nambiar et al (2005) o exame histopatológico visa a identificação, classificação e prognóstico das neoplasias, correlacionando-o com o comportamento biológico da patologia, baseando principalmente nas características morfológicas da neoplasia, incluindo o tamanho tumoral, histologia, status linfonodal, e expressão de marcadores específicos associados ao curso clínico, fornecendo informações para a terapia apropriada. O laudo histopatológico revelou no aspecto macroscópico: A) Baço: esplenectomia (662g), medindo 22,0 x 11,0 x 7,6 cm, com 2 nódulos elevados, o maior recoberto por epiplon de 11,0 cm do maior eixo e o menor de 8,0 cm no maior eixo. Ao corte de ambos, superfície castanha avermelhada, com focos amarelados, firme e irregular. B) Lobo hepático: lobectomia hepática apresentando padrão lobular evidente, medindo 13,0 x 8,0 x 3,5 cm. Ao corte do maior, superfície castanha avermelhada, macia e irregular. Ao corte dos menores, superfície acastanhada, macia e lisa. Ao corte do parênquima hepático, nota-se múltiplos nódulos acastanhado, macios e lisos, medindo em média 0,6 de cm no maior eixo; No aspecto microscópico: A) Fragmento apresentando área de necrose hemorrágica e infarto esplênico, associada à neoplasia maligna caracterizada por formações vasculares de tamanhos variados, delimitados por células fusiformes com moderado pleomorfismo nuclear, núcleo pequeno, vesiculoso e mitoses esparsas; B) Metástase de hemangiossarcoma em fígado. Diagnostico definitivo: A)Hemangiossarcoma Esplênico; B) Metástase de Hemangiossarcoma em Fígado. Segundo Cullen & Popp (2002) macroscopicamente o hemangiossarcoma pode variar de uma única massa que varia de poucos milímetros até 15 cm a múltiplas massas distribuídas por todo órgão atingido, que podem variar de 0,1 a 10 centímetro de diâmetro. São massas de coloração preta, vermelha ou escura em algumas áreas ou podem ser amarela clara ou branca em outras, dependendo da quantidade de sangue. Microscopicamente, as características descritas por Cullen & Popp (2002) são proliferação de células neoplásicas poligonais com núcleos ovais, formando várias estruturas vasculares contendo sangue. Após 21 dias da alta médica o canino retornou para revisão e coleta de sangue. Tutor relatou que o animal estava comendo bem, urinando e defecando normal. No exame clínico observou mucosas (oral e ocular) rósea, TPC<2, sem algia abdominal, linfonodos, ausculta cardíaca e pulmonar sem alteração. A coleta de sangue foi realizada para observação dos parâmetros sanguíneos (Quadro 4), para posterior inicio da quimioterapia. PARÂMETROS RESULTADOS REFERÊNCIAS Eritrócitos 5,06 milhões/mm 5,5 a 8 milhões/mm Hemoglobina 12,4g/dL 12-18g/dL Hematócrito 36,2% 37-55% V.G.M - 60 a 77fL C.H.C.M 34,25% 30-36% Valor Absoluto uL Valor Absoluto uL Leucócitos totais (μL) 11.300/mm 6-17mil/mm Neutrófilos Bastonetes 226 0 a 300 Neutrófilos Segmentados 8.023 3.000 a 11.500 Eosinófilos 678 100 a 1250 Basófilos - Raros Monócitos 339 150 a 1.350 Linfócitos 2.034 1.000 a 4.800 QUADRO 4 – Resultados laboratoriais do hemograma do canino Barney, realizado 15 de março de 2017, no HVL. Após vinte e sete dias da cirurgia os valores do hemograma melhoraram consideravelmente, revelando que o paciente ainda se recuperava da anemia, estando apenas o eritrócito um pouco a baixo do normal, os demais parâmetros todos dentro dos valores normais. Com a melhora do quadro clínico e dos exames laboratoriais, realizou-se a primeira sessão de quimioterapia (Figura 21). Foi prescrito ao canino quimioterapia com Doxorrubicina na dose de 30 mg/m2, a cada 21 dias, Ração N&D e Omega 3. Segundo Ferraz et al (2008) a doxorrubicina sozinha é a droga de eleição para tratar o hemangiossarcoma. A dose indicada é de 30 mg/m², IV, para cães com peso superior de 10 kg e 25 mg/m², IV, para cães com peso a baixo de 10 kg. Para calcular a dose necessária pro canino, usa-se a tabela de conversão de peso em m², o canino perdeu um kg pós cirurgia, ficando pesando 35kg, na tabela de conversão 35kg=1.081, essa dose foi multiplicada pela dose indicada que foi de 30mg/m², sendo assim a dose prescrita para o paciente foi de 32,43mg. Segundo Pibot, Biorge & Elliott (2006) o carboidrato é um dos principais substrato energético das neoplasias em crescimento, devido a isto a ração N&D foi prescrita por ser uma ração com elevado nível de proteína animal e baixo em carboidratos, forçando o tumor a utilizar outros substratos e com isso contribuir para a diminuição da proliferação celular. Uma dieta pobre em carboidrato e rica em proteínas e lipídios pode promover uma fonte de energia prontamentedisponível para o paciente neoplásico e limitar o fornecimento de carboidratos para as células neoplásicas (CASE; DARISTOTLE; HAYEK, 2011). Conforme Corsetto et al (2011) o ômega-3 tem demonstrado um possível efeito benéfico na prevenção de doenças crônicas como as neoplasias, reduzindo o índice de crescimento tumoral e metastático. Existem evidências sugerindo melhor tolerância e eficácia à quimioterapia quando há administração concomitante de ômega-3 FIGURA 21 – Canino Barney passando pela primeira sessão da quimioterapa com Doxorrubicina IV. Devido ao alto poder metastático do hemangiossarcoma, a quimioterapia se faz necessária após a remoção cirúrgica da neoplasia, aumentando mais ainda a expectativa de vida do paciente quando comparado a pacientes que foram somente submetidos ao procedimento cirúrgico (NELSON & COUTO, 2001). Passados dezenove dias da primeira sessão de quimioterapia o paciente retornou ao hospital, tutor relatou que o animal não quis comer, e se mostrou apático no ultimo dia. Ao exame físico observaram-se mucosas pálidas, TPC>2, temperatura corporal 39°C, abdômen distendido e abaulado, apresentando algia abdominal. Realizou-se coleta de sangue para analise do hemograma, contagem de plaquetas e bioquímica sérica. O animal foi encaminhado ao setor de diagnóstico por imagem para uma nova ultrassonografia abdominal onde foi constatada nova metástase (Figura 22). O hemograma do paciente revelou anemia normocítica normocrômica, neutrofilia, linfopenia e trombocitopenia. O paciente foi internado e foi realizado uma nova transfusão sanguínea, com 500ml de sangue. Fluidoterapia intravenosa com Ringuer com lactato® (1.500/12hs). E medicado com Enrofloxacina (4mg/kg) BID, IV; Cloridrato de tramadol (4mg/kg) TID, IV; Dipirona (25mg/kg) TID, IV e Omeprazol (1,5mg/kg) SID, IV; Cerenia® (1 mg/kg), 24/SC. Após 2 dias o animal ganhou alta médica, foi prescrito para casa Enrofloxacino 150mg na dose de 5mg/kg, uma vez ao dia, durante 7 dias, VO e Cloridrato de tramadol 100mg na dose de 4mg/kg, duas vezes ao dia, durante 3 dias, VO. O laudo ultrassonografico revelou que em região mesogátrica a uma grande formação heterogênea medindo aproximadamente 6,77 cm x 8,62 cm (Figura 22-A). Os linfonodos mesentéricos estão aumentados, arredondados e hipoecogênicos. O mesentério esta difusamente hiperecogênico (Figura 22-B). Imagens sugestivas de neoplasia em linfonodo mesentérico. FIGURA 22 - Imagem ultrassonográfica: A) Formação neoplásica em linfonodo mesentérico; B) Linfonodo mesentérico aumentado. Conforme Page e Thrall (2004) o elevado índice de metástase encontrado no HSA, deve-se à origem desta neoplasia ocorrer em células de vasos sanguíneos, ocorrendo rápida disseminação de células tumorais por via hematógena e por implantação transabdominal. O laudo ultrassonográfico ainda relata moderada quantidade de líquido livre no abdômen (Figura 23). Isso justifica o abdômen distendido e abaulado observados ao exame físico. FIGURA 23 - Imagem ultrassonográfica: Cavidade abdominal apresentando líquido livre. Passados cinco dias da ultima consulta o paciente retornou ao HVL, segundo o tutor o animal não estava se alimentando e apresentava estar sentindo dor e dificuldade para andar, ao exame físico observou-se animal prostato, temperatura corporal 38,9°C, mucosas oral e ocular pálidas e abdômen distendido. Colheu-se nova amostra sanguínea que novamente revelou anemia, entretanto as alterações se apresentavam mais próximas aos valores normais, se comparado ao hemograma anterior. Isso se justifica devido a transfusão sanguínea realizada há cinco dias. Foi indicado aos tutores permanecer administrando as medicações prescritas na última consulta. Após cinco dias, novamente o paciente retornou ao hospital, tutor relatou que animal vinha apresentava dificuldade para respirar e havia parado de andar, ao exame físico observou-se canino prostado, taquicardia, dispnéia e abdômen distendido. Foi feito nova coleta de sangue para analise do hemograma, contagem de plaquetas e bioquímica sérica. Onde revelou piora do quadro clínico, observou-se diminuição dos glóbulos vermelhos, neutrofilia severa, monocitose e trombocitopenia. Os resultados dos hemogramas dos dias 05, 10 e 15 de abril podem ser visto no Quadro 5. RESULTADOS PARÂMETROS 05 de Abril 10 de Abril 15 de Abril REFERÊNCIAS Eritrócitos 2,29 milhões/mm 4,26 milhões/mm 2,83 milhões/mm 5,5-8 milhões/mm Hemoglobina 7g/dL 9,7 g/dL 6,5 g/dL 12-18 g/Dl Hematócrito 20% 29% 19% 37-55% V.G.M - - - 60-77fL C.H.C.M 35% 45% 34,21% 30-36% Valor Absoluto uL Valor Absoluto uL Valor Absoluto uL Neutrófilos Bast. 0 1.096 300 0 a 300 Neutrófilos Segm. 19.536 9.316 25.800 3.000 a 11.500 Eosinófilos 666 411 600 100 a 1.250 Basófilos - - - Raros Monócitos 444 548 1.800 150 a 1.350 Linfócitos 600 2.329 1.500 1.000 a 4.800 Plaquetas 129.000 - 140.000 300.000 a 800.000 QUADRO 5 - Resultados laboratoriais dos hemogramas do canino Barney, realizado nos dias 05, 10 e 15 de abril de 2017, no HVL. RESULTADOS PARÂMETRO 05 de Abril 10 de Abril 15 de Abril REFERÊNCIAS ALT 31,0UI/L 48,3UI/L 31,9UI/L 10-88UI/L Creatinina 25,3/dL - 30,7/Dl 15-40mg/Dl Fostatase Alcalina 69,9/L - 86,0UI/L 10-92UI/L Proteinas Totais - - 5,6 5,4-7,1g/dL QUADRO 6 - Resultados dos bioquímicos realizados nos dias 05, 10 e 15 de abril. Segundo Macewen (2001) o prognóstico para o HSC, vai depender da sua localização, se o tumor está rompido ou não, da presença de nódulos linfáticos envolvidos, e da presença de metástases, variando entre reservado e ruim. Conforme foi visto no presente caso clínico o animal apresentou o nódulo do baço rompido, metástase em fígado e por ultimo metástase em linfonodo, tornando o prognóstico do paciente ruim. Os tutores foram informados sobre a severidade do caso clínico em que o paciente se encontrava, e junto com a veterinária responsável pelo paciente entraram em acordo que o melhor a se fazer era a eutanásia do animal. Uma vez que o mesmo não tinha mais qualidade de vida, e demonstrava evidente sofrimento. Segundo Page e Thrall (2004) o tempo de vida varia conforme o estágio do tumor, mas geralmente o tempo de vida desses animais é curto. Para Couto (2010) a expectativa de vida para esses animais é de aproximadamente 20 a 60 dias, e menos de 10 % chega a ter um ano de sobrevida. O caso clínico esta de acordo com o que relata a literatura, após o diagnostico de HSA o paciente viveu por mais 61 dias. 4.1.5. Conclusão Através do presente relato clínico, pode-se concluir que o hemangiossarcoma é uma neoplasia extremamente agressiva, com alta capacidade de metástase e de rápida evolução. A realização do correto diagnóstico é de extrema importância para se determinação o melhor protocolo terapêutico a ser seguido. Só o exame clínico não é suficiente para o diagnóstico, sendo necessário a solicitação de outros exames complementares tais como exames de sangue e ultrassonografia, este último foi importante para revelar as neoplasias do baço, fígado e linfonodo mesentérico. Entretanto, só o exame histopatológico e imunohistoquímico dão o diagnóstico definitivo. Os protocolos que apresentam melhores resultados envolvem a associação de cirurgia com quimioterapia. O prognóstico logo de inicio foi de reservado a ruim, devido ao animal já estar apresentando metástase e ruptura do tumor. 4.2. LEUCEMIA VIRAL FELINA (FeLV) 4.2.1. Introdução Nos últimos anos houve aumento no crescimento da população mundial de felinos, com isso sua concentração em pequenos grupos estimulou o aumento e a persistência de doenças virais, como o vírus da leucemia felina (FeLV) sendo atualmente o principal patógeno felino, responsável pelas patologias mais importantes que podem causara morte em felinos (ALMEIDA et al., 2012). Descoberto em 1964, por Willian Jarrett, a FeLV foi considerado responsável pela maioria das mortes por patologias e síndromes clínicas que qualquer outros agentes isolado infectando felinos (HARTMANN, 2011). A FeLV se trata de um retrovirus comum em felinos domésticos, transmitido por contagio direto, causa urna variedade de desordens neoplásicas e degenerativas incluindo linfomas, imunodeficiência, sarcomas e doenças hematopoiéticas. A severidade da patologia vai depender das características genéticas da variante infectante do vírus (SOUZA, 2003). O modo de vida dos felinos é um fator associado à infecção, felinos não confinados ou que compartilham o mesmo ambiente com outros felinos, como os abrigos para animais, tem maior risco de contrair e desenvolver a FeLV, pois a lotação aumenta o contato direto entre felinos, favorecendo a disseminação do vírus (BANDE et al., 2012). Não há tratamento comprovadamente efetivo, portanto não existe cura para infecção por FeLV. Porém, a identificação de um felino FeLV positivo não é uma razão para eutanásia. Apesar da infecção por FeLV estar associada a uma redução na expectativa de vida, muitos tutores decidem fornecer terapia a seus gatos (SPARKES & PAPASOULIOTIS, 2012). Este relatório tem por objetivo a descrição completa da FeLV, e o relato de um caso clínico de um felino acometido por leucemia viral felina. 4.2.2. Revisão Bibliográfica A leucemia viral felina (FeLV) é uma patologia sistêmica, imunomediada e progressivamente fatal, que atinge não somente felinos domésticos (Felis catus) como felinos selvagens (TARANTI; HORA; RECHE Jr., 2007). O retrovírus que causa a FeLV infecta as células do sistema imune, conduzindo à imunossupressão e à predisposição a patologias oportunistas de natureza infecto-parasitária ou a comorbidades, tais como o linfoma, alterações sanguíneas, patologias do globo ocular e da cavidade oral (LITTLE, 2011). Os gatos machos adultos com livre acesso à rua, que freqüentemente apresentam comportamento agressivo, são mais predispostos pelas características da transmissão viral (LUTZ, 1990). O vírus pertence à família Retroviridae, subfamília Oncoviridae, e gênero Gamma retrovirus. O material genético é constituído de RNA de fita simples, o qual é transcrito em provírus (DNA viral) pela enzima transcriptase reversa na célula do hospedeiro o qual é integrado no genoma da célula infectada (FIGUEIREDO & ARAÚJO JR, 2011). As principais proteínas da FeLV são a p15e, que esta presente no envelope, e a proteína p27 que está presente no núcleo, são encontrada no citoplasma das células dos animais infectados, no sangue periférico, lágrimas e saliva. Sua detecção ocorre na maioria dos testes para diagnóstico da doença. Também está presente no envelope viral a glicoproteína 70, está possui os antígenos dos subgrupos A (FeLV-A), B (FeLV-B) e C (FeLV-C), estes são os responsáveis pela infectividade e virulência causada pelo vírus da FeLV. Ainda há o subgrupo T, que é citolítico ao linfócito T, este é responsável por grave imunossupressão (HARTMANN, 2006). O subgrupo predominante é o FeLV-A, este é encontrado em todos os felinos infectados por FeLV (QUINN et al., 2005). Este subgrupo é o menos patogênico se comparado aos subgrupos B, C e T, entretanto é o único contagioso, transmitido naturalmente de felino para felino. O subgrupo A é o único encontrado sozinho em felinos infectados e está relacionado com a imunossupressão nos felinos infectados (HARTMANN, 2006). Através de mutações ou recombinações do DNA viral do FeLV-A, surgem os subgrupos B e C. Apesar de serem mais patogênicos, suas glicoproteínas gp70 possuem estruturas alteradas, fazendo com que suas replicações sejam defeituosas, o que faz com que diminua os níveis de replicação devido a redução das ligações às células do hospedeiro. O subgrupo B está relacionado a neoplasias hematopoiéticas, sendo associado à maioria dos gatos com linfoma tímico. O subgrupo C está associado a anemias arregenerativas no hospedeiro. Os FeLV-B e C só são encontrados em gatos infectados em associação com o A (HARTMANN, 2006). A transmissão por FeLV pode ocorrer de forma direta e vertical. A direta ocorre através de arranhaduras, saliva por meio de brigas, e comportamento social, incluindo compartilhamento de vasilhas de alimento e água, uso de caixas de areia e higiene mútua. A transmissão vertical pode ocorrer tanto por via transplacentária como pelo leite (HARTMANN, 2012). O que vai determinar a manutenção da doença, após a exposição ao vírus, é a idade do felino exposto, a resposta imune do hospedeiro, a quantidade do vírus, a cepa viral e a duração da exposição, além da presença de doenças concomitantes no momento da exposição (SPARKES, 1997). Existem vários resultados possíveis após a exposição ao vírus. Felinos com resposta imune eficaz desenvolvem infecção regressiva, devido à neutralização do vírus na fase inicial da infecção. Esses felinos possuem altos níveis de anticorpos anti-FeLV, o que os torna resistentes a infecções por um período indeterminado. Na infecção regressiva, antes mesmo que a infecção atinja a medula óssea o sistema imune do hospedeiro detém a replicação viral (LEVY et al., 2008). Nesses casos não são detectados antígenos no sangue e os felinos não apresentam viremia. Isso explica o fato de só uma pequena parte dos felinos se tornarem virêmicos, apesar de existir uma proporção maior de felinos que apresentam evidências de que foram expostos ao FeLV, por terem anticorpos contra o agente (HARTMANN, 2006). Caso o felino não tenha uma resposta imune adequada, e o vírus acaba por infectar linfócitos e monócitos. Nessa fase inicial pode ocorrer alguns sinais clínicos como febre, apatia e , linfoadenomegalia. Após certo tempo o felino pode conseguir eliminar a viremia antes que a infecção atinja a medula óssea, quando isso acontece, é chamada de viremia transitória. Na viremia transitória inicialmente antígenos são detectados nos testes, mas depois, de no máximo 16 semanas, tais testes passam a ter resultados negativos (HARTMANN, 2006). Quando a resposta imune do hospedeiro falha desenvolve-se uma viremia persistente, e o vírus do FeLV progride em todos os estágios da doença, atingindo a medula óssea e se disseminando para todo organismo. Ocorrendo produção ineficiente de anticorpos e o animal pode acabar desenvolvendo as doenças relacionadas. (LEVY et al., 2008). Duas a três semanas após a exposição ao agente, a maioria dos felinos infectados podem ser encontrados antígenos e duas a oito semanas mais tarde não são mais encontrados (LEVY et al., 2008). Caso o felino não consiga adquirir imunidade contra o agente, o vírus pode permanecer em estado de latência, também não se torna persistentemente virêmico. Nesses casos, mesmo DNA viral estando presente no genoma do animal, não vai ocorrer replicação (NORSWORTHY et al., 2004). Felinos que se enquadram nesse tipo de infecção não secretam o vírus, portanto não são fontes de contaminação para outros felinos. Testes de ELISA e IFI possuem resultado negativo, bem como cultura viral de amostras de sangue. Apenas o PCR ou cultura viral de amostras da medula óssea são positivos (HARTMANN, 2006). O felino pode ficar em estado de latência, de semanas a meses, mas também pode ficar a vida toda nesse estado, variando de indivíduo para indivíduo. Caso o gato, por algum motivo, fique imunossuprimido, o vírus pode tornar a se replicar e o animal pode apresentar sinais clínicos. Com o passar do tempo, se torna mais difícil de ocorrer à reativação da replicação viral, e após dois anos é considerado quase impossível que isso ocorra (SPARKES, 1997). Também pode ocorrer infecções localizadas, onde ocorre replicação viral localizada em alguns tecidos como bexiga, olhos, glândula mamária, baço e linfonodos (NORSWORTHY et al., 2004). O primeiro estagio da FeLV ocorre na orofaringe, levando a replicação viral local em tecidos linfóides (tonsilas e linfonodos faríngeos). No segundo estágio ocorre infecçãode linfócitos e macrófagos circulantes. No terceiro estágio ocorre a replicação do vírus no baço, tecido linfóide associado ao intestino e linfonodos. No quarto estágio ocorre replicação nas células epiteliais das criptas intestinais, e nas células da medula óssea. No quinto estágio ocorre disseminação do vírus, através de plaquetas e neutrófilos infectados oriundos da medula óssea, ocorrendo viremia periférica. No sexto e ultimo estagio ocorre infecção de estruturas epiteliais, como lacrimais e glândulas salivares, ocorrendo à eliminação de vírus por meio destas secreções (MEHL, 2004). Tecidos com atividade mitótica alta, como medula óssea e epitélio, são alvos do vírus porque para a produção de provírus é necessário síntese de DNA celular. Tal multiplicação viral nos tecidos hemolinfáticos pode levar à imunossupressão e anemia, devido à depleção de células linfóides e mielóides (QUINN et al., 2005). Os órgãos atingidos e o tipo de doença que o vírus vai desencadear é que vão determinar os sinais clínicos. Eles podem ser inespecíficos como depressão, anorexia, perda de peso. Ou específicos, causados pelo próprio vírus ou resultantes de infecções secundárias. (RAMSEY & TENNANT, 2001). O felino infectado por FeLV pode estar com o DNA viral inserido em vários locais do genoma, influenciando significativamente na regulação das células. Esse provírus pode inativar, interromper e até alterar expressão de genes da célula infectada, podendo ocorrer tumores e desordens mielossupressoras. Entretando ainda não se sabe o exato mecanismo pelo qual o FeLV consegue provocar tantas desordens no organismo de felinos infectados (HARTMANN, 2006). A neutropenia, linfopenia, formação de imunocomplexos e depleção de complemento incluem a complexa patogênese da imunodepressão. Felinos afetados por FeLV podem desenvolver atrofia tímica e depleção das zonas paracorticais dos linfonodos. Os neutrófilos desses felinos ainda têm funções quimiotáticas e fagocíticas diminuídas em comparação a felinos normais. As respostas dos anticorpos contra agentes específicos estão atrasadas e reduzidas em gatos infectados por FeLV (SPARKES & PAPASOULIOTIS, 2012). A imunodepressão vista em pacientes humanos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é semelhante a imunodepressão vista em felinos com infecção por FeLV, estes são predispostos a infecções secundárias. Correspondendo a uma grande proporção da morbidade e mortalidade de gatos infectados por FeLV (PARDI et al., 1991). A detecção sérica do antígeno viral p27 é o método usado rotineiramente para diagnóstico laboratorial (BARR, 1996), e o isolamento viral o método usado para diagnóstico confirmatório (QUINN et al., 2005). A principal técnica utilizada para detectar o antígeno p27 é o teste de ELISA, o teste pode ser realizado sangue total, saliva, lágrimas, soro ou plasma. Estando presente em maior quantidade no plasma de animais infectados (LEVY et al., 2008). O IFI, também tem como base a detecção do antígeno p27, porém, sua detecção é em plaquetas infectados e neutrófilos (MEINERZ et al., 2010) obtidos de esfregaços sanguíneos ou de medula óssea. A partir do momento em que a infecção atinge a medula óssea, é que o teste se torna positivo, indicando que o animal está infectado e virêmico (LEVY et al., 2008). Outro método de diagnóstico é o PCR, um teste sensível que quando realizado de forma correta pode ser um bom aliado para confirmação do diagnóstico da FeLV, principalmente quando há suspeita da doença, mas não foram detectados antígenos, ou quando há resultados discordantes entre o ELISA e o IFI. Dependendo de como é feito, pode detectar RNA viral ou pró-vírus. Os materiais para realização do PCR podem ser o sangue, aspirados de medula óssea ou tecidos (BANDE et al., 2012) O isolamento viral é outra técnica usada para o diagnóstico do FeLV. Este identifica replicações virais capazes de serem infecciosas e normalmente seus resultados condizem com os obtidos em testes de triagem, os quais detectam antígeno circulante, dessa Forma o isolamento viral pode ser escolhido para confirmação (RAMSEY, 2001) O tratamento dos felinos infectados pelo vírus da FeLV é basicamente paliativo e sintomático, visto não haver métodos prontamente disponíveis e confiáveis para revisão da viremia persistente. O tratamento de suporte visa combater as infecções secundarias como também a desidratação, a anemia e a desnutrição, encontradas com freqüência em felinos infectados por FeLV (ETTINGER, 1992). Os protocolos terapêuticos para gatos infectados pelo FeLV envolvem drogas imunomoduladoras e drogas antivirais que possuem efeito direta sobre a vírus promovendo resposta imunoprotetora através da estimulação dos linfócitos T e da ativação dos macrófagos. O AZT (retrovir®AZT) é o antiviral mais utilizado em felinos infectados por FeLV, trata-se de um inibidor da enzima viral transcriptase reversa, prevenindo a conversão do RNA viral em DNA. A administração do AZT melhora o estado imunológico e clínico, com o aumento da razão de linfócitos e da qualidade de vida (SOUZA, 2003). As imunomoduladoras são drogas largamente usadas em felinos infectados pelo FeLV. Acredita-se que a função imunológica comprometida é restaurada por essas drogas, permitindo aos felinos controlar a carga viral e se recuperar das síndromes clínicas associadas. Os agentes imunomoduladores incluem a interferon alfa, Staphylococcus proteina A, Propionibacterium acnes, acemannan e dietilcarbamazina. O interferon alfa recombinante humano apresenta efeito imunomodulador em baixas doses e efeito antiviral em altas doses. Na imunomodulação ele atua aumentando a atividade dos linfócitos T, macrófagos e células "natural killer" e liberação de citocinas (MEINERZ et al., 2010) Para diminuir a probabilidade de adquirir infecções secundarias felinos infectados pelo FeLV devem ser mantidos no interior de suas residências, num ambiente limpo e tranqüilo. É essencial uma dieta rica em nutrientes e balanceada. O uso de vacinas inativadas de panleucopenia, calicivirose, rinotraqueite e raiva devem ser aplicadas nos felinos assintomáticos positivos para FeLV (SOUZA, 2003). Felinos infectados por FeVL, que não demonstram sinais clínicos, podem permanecer assintomáticos por vários anos, transmitindo a doença. O prognostico de felinos com qualquer doença relacionada a FeLV é reservado (NORWORTHY et al, 2004). 4.2.3. Relato de Caso Felino, seis meses de idade, macho, raça Siamês, pesando 2,600kg, foi encaminhado ao Hospital Veterinário Lorenzoni, no dia 15 de abril de 2017. Na anamnese tutor relatou que há dois meses o paciente foi adotado já doente, e tratado para Rinotraqueite. Em março apresentou quadro diarréico, foi tratado para giárdia e melhorou. Vinte e cinco dias depois apresentou novamente o quadro diarréico, com fezes verdes e tratou com Pentabiótico e o quadro novamente se normalizou. O paciente novamente vem apresentando quadro de diarréia (há cinco dias), tutor administrou Giardicid 50mg, por via oral, mais os sintomas evoluíram para apatia, anorexia e emagrecimento. Percebendo o agravamento dos sinais procurou atendimento no Hospital Veterinário. Ao exame clínico, observou-se paciente prostado, desidratação grave, estado corporal ruim, mucosas pálidas e discretamente ictéricas, discreto aumento do volume abdominal (Figura 15), TR: 38,5ºC, região anal suja de fezes diarréica de coloração clara (cinza). FIGURA 24 - Hospital Veterinário Lorenzoni, Felino, macho, siamês, 6 meses de idade., apresentando grave desidratação. Para auxilio na obtenção do diagnóstico foram realizados hemogramas, bioquímica sérica (ALT, fosfatase alcalina, uréia, creatinina, glicose e proteínas plasmáticas), teste para detecção de antígenos de FeLV por ELISA, exame coproparasitológico e ultrassonografia abdominal. O hemograma revelou neutrofilia com desvio a esquerda, linfopenia e trombocitopenia. Entre os bioquímicos apenas a creatinina se mostrou alterada. O teste de ELISA foi positivo para FeLV, e o exame coproparasitológico