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Med Brasil RESUMO ACROMEGALIA CONCEITO É uma doença sistêmica ocasionada pela produção excessiva de hormônio do crescimento (GH) e de fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1). EPIDEMIOLOGIA É uma doença rara com incidência de 5 casos por 1 milhão/ ano e prevalência de 60 casos/milhão. Acomete ambos os sexos e pode ocorrer em qualquer idade, apesar do diagnóstico ser mais comum entre os 40 e 50 anos. O prognóstico dessa população é de 5 a 10 anos a menos que a população geral. FISIOLOGIA DO EIXO SOMATOTRÓFICO O principal eixo do GH é o eixo GHRH-hipotalâmico: 1) GHRH age na adenohipófise, estimulando a produção de GH 2) GH que é produzido age no fígado estimulando a produção de IGF-1 Alguns outros hormônios podem regular esse eixo, a exemplo da grelina que estimula a produção de GH e a somatostatina inibe a produção de GH. Alguns outros fatores também são capazes de regular esse eixo, como mostrado na tabela a seguir. O IGF-1, por sua vez, age reduzindo adiposidade, aumentando a massa magra corporal e ainda é contra regulador da glicose. No osso, é responsável pelo crescimento longitudinal e estimula a remodelação óssea. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas são insidiosas e refletem doença iniciada há 10-15 anos. Pode existir: • Aumento das extremidades • Parestesia em mãos – pode existir síndrome do túnel do carpo associado • Hiperidrose • Modificações na face e crânio (fácies acromegálica) • Alteração da voz (mais voz) • Aumento de língua • Excesso de peso – apesar de ser lipolítico, induz a resistência insulínica Metabólicas: Diabetes Mellitus Cardiovasculares • Hipertrofia do ventrículo esquerdo • Insuficiência diastólica • Arritmias • HAS – não reverte com octreotide • Cardiomegalia Respiratórias ▪ Apneia do sono – macroglossia, espessamento VAS Pele ▪ Acrocórdons (papilomas cutâneos) – estão relacionados a maior prevalência de pólipos colônicos ▪ Oleosidade Gigantismo – apesar de ser o sinal mais conhecido, acomete apenas 5% dos pacientes com somatotropinomas, isso porque quando acomete adultos, com as cartilagens ósseas fechadas, não cresce em altura, o paciente vai crescer as extremidades. Diferentemente da criança que possui as cartilagens ósseas abertas. ▪ Sintomas compressivos – quando a etiologia é tumores na hipófise (mais comum): ▪ Hipopituitarismo – um tumor na hipófise pode acabar destruindo resto desse órgão ▪ Cefaleia – o tumor de hipófise pode acabar comprimindo as meninges e causar dor ▪ Estrabismo* ▪ Hemianopsia bitemporal* *Logo acima da hipófise, há o nervo óptico que pode acabar comprimido. ETIOLOGIA Podem ser hipofisárias, extra-hipofisárias ou por excesso de GHRH. Hipofisárias: ▪ 95% são somatotropinomas ▪ 70 a 80% - macroadenomas ▪ 25% co-secretores de prolactina ▪ 99% benignos ▪ Síndrome de McCune Albright ▪ Acromegalia familiar Extra-hipofisários: ▪ Adenomas hipofisários ectópicos ▪ Tumores periféricos secretores de GH: (ilhotas pancreáticas, linfoma não-Hodgkin) ▪ Iatrogenia Excesso de GHRH ▪ Hipotalâmico: hamartomas, gliomas, gangliocitomas ▪ Extra-hipotalâmicos: <5% dos casos ABORDAGEM DIAGNÓSTICA O diagnóstico de acromegalia não é assim tão fácil, isso porque o GH é um hormônio pulsátil, a cada 20 min, ele dá um pico e volta. Como representado no algoritmo acima, caso a dosagem sérica do GH e do IGF-1 estiverem elevadas (GH ≥ 0,4 ng/ml e/ou IGF-1 elevado), deve-se recorrer aos testes supressores. E o melhor estímulo supressor é a própria glicose – o hormônio contrarregulador, na hipoglicemia o GH aumenta, e na hiperglicemia, o GH diminui. Por isso, o principal teste supressor é o teste de tolerância à glicose via oral (TTGO) com a dosagem do GH a cada 30 minutos por 2 horas. Se nesse teste, a dosagem de GH estiver suprimida, exclui-se acromegalia; caso não haja a supressão, o diagnóstico de acromegalia está confirmado. Depois do diagnóstico laboratorial, deve-se investigar a presença de tumor que é a principal causa associada, através de uma ressonância magnética com contraste da hipófise, na qual é possível visualizar o tamanho do tumor e se há comprometimento do quiasma óptico. Se houver a presença de macroadenoma com comprometimento do quiasma óptico, também é importante avaliar o campo visual do paciente. TRATAMENTO Os objetivos do tratamento são: controle dos níveis de GH e IGF-1, redução ou controle do volume tumoral, melhora do quadro clínico, redução das comorbidades e normalização da expectativa de vida. O tratamento cirúrgico é o tratamento de escolha, exceto quando há pouca chance de remissão pós-operatória, alto risco cirúrgico ou recusa do paciente. Porém, como indicação absoluta, existe a condição de compressão do nervo óptico com déficit visual. A cirurgia é chamada de adenectomia transesfenoidal. As principais complicações cirúrgicas são: hipopituitarismo, recidiva tumoral, rinorreia por LCR, meningite, sinusite e hematoma e paralisia dos nervos cranianos. O tratamento medicamentoso é usado em pacientes não curados com cirurgia, e é o tratamento de escolha em adenomas irressecáveis sem comprometimento neurológico/visual ou quando há o risco cirúrgico aumentado. Os análogos da somatostatina são a primeira escolha e atuam nos receptores SSTR2 e SSTR5 da somatostatina e também se ligam aos receptores SSTR2 dos somatotrofos, ativando a proteína G inibitória, que inibe o crescimento tumoral. A 2ª linha recai sobre os agonistas dopaminérgicos, que são agonista dos receptores D2, e possuem uma melhor resposta nos adenomas co-secretores de GH e prolactina. Quando o tratamento medicamentoso não dá certo, podemos lançar mão da radioterapia, a qual pode ser normal ou estereotáxica (mais direcionada). Ela precisa de vários anos para atingir os resultados e reduz o GH, IGF-1 e o volume tumoral. Os efeitos adversos são: hipopituitarismo, transtornos visuais e isquemia cerebral. REFERÊNCIAS: 1. O essencial em endocrinologia / Patrícia Sales, Alfredo Halpern, Cíntia Cercato. 1ed Rio de Janeiro. Roca, 2016. 2. Greenspan’s Basic & Clinical Endocrinology. Ninth Edition. 3. Mendonça, Berenice Bilharinho de (eds). Endocrinologia: princípios e práticas [2ed]. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. 4. Tratado de Endocrinologia clínica / Bernardo Léo Wajchenberg, Antonio Carlos Lerario, Roberto Tadeu Barcellos Betti. – 2ed – São Paulo: AC Farmacêutica, 2014.
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