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Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Apg 26- Complicações DM Objetivos: 1- Compreender a fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e manejo das complicações da diabetes (agudas e crônicas); 2- Entender os riscos e questões éticas da automedicação da insulina. Agudas Hipoglicemia A hipoglicemia em geral é definida como qualquer concentração sérica de glicose inferior a 70 mg/dℓ, com ou sem sintomas. Sua ocorrência é mais comum em pessoas tratadas com injeções de insulina, mas a hipoglicemia prolongada também pode resultar de alguns agentes antidiabéticos orais. Etiologia e patogênese Muitos fatores podem precipitar a hipoglicemia em alguém com DM tipo 1, incluindo erros na dose de insulina, impossibilidade de ingerir alimentos, aumento do exercício, diminuição da necessidade de insulina após o afastamento de uma situação de estresse, alterações nos medicamentos e alteração no sítio da injeção da insulina. O álcool diminui a gliconeogênese hepática; portanto, pessoas com diabetes devem ser advertidas a respeito do potencial de hipoglicemia causada pela ingestão de álcool, em particular no caso de consumo em grandes quantidades ou com o estômago vazio. Manifestações clínicas A hipoglicemia em geral apresenta início rápido e progressão dos sintomas acelerada. Os sinais e sintomas de hipoglicemia podem ser divididos em duas categorias: (a) aqueles causados pela alteração da função cerebral; e (b) aqueles relacionados à ativação do sistema nervoso autônomo. Como o cérebro depende da glicose sérica como sua principal fonte de energia, a hipoglicemia produz comportamentos relacionados à alteração da função cerebral. Podem ocorrer cefaleia, dificuldades na resolução de problemas, comportamento anormal ou alterado, coma e convulsões. No início do episódio hipoglicêmico, com frequência a ativação do sistema nervoso parassimpático causa fome. A resposta parassimpática inicial é seguida pela ativação do sistema nervoso simpático, causando ansiedade, taquicardia, sudorese e constrição dos vasos cutâneos (i. e., a pele fica fria e pegajosa). Os sinais e sintomas de hipoglicemia são extremamente variáveis e nem todas as pessoas manifestam todos os sintomas ou a maioria deles. Os sinais e sintomas são particularmente variáveis em crianças e idosos. Estes podem não apresentar as respostas autônomas típicas associadas à hipoglicemia, mas com frequência desenvolvem sinais de comprometimento da função do SNC, incluindo confusão mental. Algumas pessoas desenvolvem inconsciência hipoglicêmica, e a suspeita desse quadro deve ser levantada quando não há relato de sintomas diante de concentrações glicêmicas abaixo de 50 a 60 mg/dℓ (2,8 a 3,3 mmol/ℓ). Isso ocorre normalmente em pessoas com diabetes mais prolongada e níveis de A1c dentro da variação normal. Alguns medicamentos, como os bloqueadores beta-adrenérgicos, interferem na resposta simpática normalmente observada na hipoglicemia. Tratamento O tratamento recomendado para uma reação à insulina consiste na administração oral imediata de um tipo de glicose de rápida absorção, a qual poderá ser repetida conforme o necessário. Para as pessoas inconscientes ou que não conseguem engolir, pode ser administrado glucagon por via intramuscular ou subcutânea, com o intuito de elevar a glicemia por meio da glicogenólise hepática. Estado hiperglicêmico hiperosmolar O EHH é caracterizado por hiperglicemia, hiperosmolaridade com desidratação, ausência de cetoacidose e depressão do nível de consciência. O EHH costuma ser observado em pessoas com diabetes tipo 2. Etiologia e patogênese Uma deficiência parcial ou relativa de insulina pode dar início ao EHH, via utilização da glicose e, ao mesmo tempo, intensificação da secreção de glucagon e da produção de glicose hepática. A hiperglicemia leva à perda de um grande volume de água por diurese osmótica. A desidratação em Bruna Melnik Bellandi – 5º Período geral é mais grave no EHH do que na CAD. À medida que o volume plasmático diminui, há desenvolvimento de insuficiência renal. A resultante diminuição na eliminação renal de glicose eleva ainda mais os níveis glicêmicos, aumentando a gravidade do estado hiperosmolar. Nos estados hiperosmolares, o aumento da osmolaridade sérica tem o efeito de atrair a água para fora das células, inclusive das células cerebrais. O EHH também pode ser complicado por eventos tromboembólicos relacionados à contração do volume plasmático com aumento da coagulabilidade em decorrência da estase. Manifestações clínicas e tratamento As manifestações mais proeminentes do EHH são fraqueza, desidratação, poliúria, alterações neurológicas e sede excessiva. As alterações neurológicas incluem hemiparesia, convulsões e coma; esses sintomas podem ser confundidos com um acidente vascular encefálico. O tratamento bem-sucedido do EHH envolve monitoramento diligente do paciente e correção da desidratação, da hiperglicemia e do desequilíbrio eletrolítico. A observação e o tratamento cuidadosos são particularmente importantes, uma vez que a água retorna para as células cerebrais e isso impõe risco de edema cerebral. Cetoacidose diabética A CAD ocorre mais comumente em uma pessoa com diabetes tipo 1, na qual a ausência de insulina leva ao aumento da liberação de ácidos graxos do tecido adiposo, em consequência da ausência de supressão da atividade da lipase das células adiposas, a qual degrada os triglicerídios em ácidos graxos e glicerol. O aumento nos níveis de ácidos graxos ocasiona a síntese de cetonas pelo fígado. A CAD pode ocorrer no início da doença, com frequência antes do diagnóstico, e também como uma complicação durante a evolução da doença. O estresse aumenta a secreção de hormônios gliconeogênicos e predispõe a pessoa ao desenvolvimento de cetoacidose. A CAD com frequência é precedida pelo estresse físico ou emocional, como no caso de infecção ou inflamação, gravidez ou ansiedade extrema. Na prática clínica, a cetoacidose também ocorre com a não utilização ou com o uso inadequado da insulina. Etiologia e patogênese As três alterações metabólicas principais na CAD são a hiperglicemia, a cetose e a acidose metabólica. A hiperglicemia leva à diurese osmótica, à desidratação e à perda crítica de eletrólitos. A hiperosmolaridade do líquido extracelular resultante da hiperglicemia ocasiona um desvio da água do compartimento intra para o extracelular. Com frequência, a concentração de sódio extracelular está baixa ou normal, apesar do aumento das perdas urinárias de água causado pelo desvio do líquido intracelular para o meio extracelular. Esse efeito de diluição é denominado pseudo-hiponatremia. Os níveis séricos de potássio podem estar normais ou elevados, apesar da depleção total do potássio que resulta da poliúria prolongada e dos vômitos. A acidose metabólica é causada pelo excesso de cetoácidos, que requer tamponamento com íons bicarbonato e, assim, leva a uma diminuição acentuada nos níveis séricos desse íon. A gravidade da CAD é Bruna Melnik Bellandi – 5º Período classificada com base na gravidade da acidose metabólica. Manifestações clínicas Um ou mais dias de poliúria, polidipsia, náuseas, vômitos e fadiga acentuada, com estupor final que pode progredir até o coma, comumente antecedem a CAD. Pode haver queixa de dor e sensibilidade abdominal sem doença abdominal. O hálito tem um odor frutado característico produzido pelos cetoácidos voláteis presentes. Pode haver hipotensão e taquicardia resultantes de diminuição no volume sanguíneo. Diversos sinais e sintomas que ocorrem na CAD estão relacionadosa mecanismos compensatórios. A frequência cardíaca aumenta conforme o corpo compensa a diminuição no volume sanguíneo; do mesmo modo, a frequência respiratória e a profundidade respiratória aumentam (i. e., respiração de Kussmaul) como um mecanismo compensatório para prevenir a diminuição adicional do pH. Tratamento Os objetivos do tratamento da CAD são melhorar o volume circulatório e a perfusão tecidual, diminuir a glicemia, corrigir a acidose metabólica, e corrigir os desequilíbrios eletrolíticos. Esses objetivos normalmente são alcançados por meio da administração de insulina em soluções intravenosas destinadas à reposição hidroeletrolítica. Como a resistência à insulina acompanha a acidose grave, pode ser utilizada uma terapia com dose baixa de insulina. Crônicas Complicações Oftalmológicas Do Diabetes Melito O DM é a principal causa de cegueira entre os 20 e 74 anos nos Estados Unidos. A gravidade desse problema é realçada pelo achado de que os indivíduos com DM têm uma probabilidade 25 vezes maior de se tornarem legalmente cegos do que os indivíduos sem DM. A perda da visão resulta principalmente da retinopatia diabética progressiva, que leva ao edema macular significativo e à neoformação de vasos sanguíneos. A retinopatia diabética é classificada em dois estágios: não proliferativa e proliferativa. A retinopatia diabética não proliferativa, em geral, aparece no final da primeira década ou no início da segunda década da doença e se caracteriza por microaneurismas vasculares retinianos, exsudatos hemorrágicos e exsudatos algodonosos. Uma retinopatia não proliferativa leve pode progredir para uma doença mais extensa, caracterizada por mudanças no calibre dos vasos venosos, anormalidades microvasculares intrarretinianas e um maior número de microaneurismas e de hemorragias. Os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na retinopatia não proliferativa incluem desaparecimento dos pericitos retinianos, aumento da permeabilidade vascular retiniana, alterações no fluxo sanguíneo retiniano e microvasculatura retiniana anormal, que resultam em isquemia retiniana. O aparecimento da neovascularização em resposta à hipoxemia retiniana constitui o elemento mais característico da retinopatia diabética proliferativa. Esses vasos recém-formados aparecem nas proximidades do nervo óptico e/ou da mácula e sofrem ruptura facilmente, dando origem a hemorragia do vítreo, fibrose e, finalmente, descolamento da retina. Nem todos os indivíduos com retinopatia não proliferativa desenvolvem uma retinopatia proliferativa, porém, quanto mais grave for a doença não proliferativa, maior será a probabilidade de evolução para uma retinopatia proliferativa em 5 anos. Isso cria uma importante oportunidade para a identificação e o tratamento precoces da retinopatia diabética. Pode ocorrer edema macular clinicamente significativo na presença de retinopatia não proliferativa ou proliferativa. A angiografia com fluoresceína e a tomografia de coerência óptica são úteis para detectar o edema macular, o qual está associado a uma probabilidade de 25% de perda visual moderada no decorrer dos próximos 3 anos. A duração do DM e o grau de controle glicêmico são os melhores preditores do desenvolvimento da retinopatia; a hipertensão, a nefropatia e a dislipidemia também são fatores de risco. A retinopatia não proliferativa é observada em muitos indivíduos que sofrem de DM por > 20 anos. Apesar de existir uma suscetibilidade genética para a retinopatia, ela confere menos influência que a duração do DM ou o grau de controle glicêmico. Tratamento A terapia mais efetiva para a retinopatia diabética é a prevenção. O controle glicêmico e da pressão arterial intensivo retardará o surgimento ou Bruna Melnik Bellandi – 5º Período tornará mais lenta a progressão da retinopatia nos indivíduos com DM tanto tipo 1 quanto tipo 2. Paradoxalmente, durante os primeiros 6 a 12 meses de controle glicêmico melhorado, a retinopatia diabética já estabelecida pode evidenciar uma piora transitória. Felizmente, essa progressão é temporária e, em longo prazo, o controle glicêmico melhorado está associado a menos retinopatia diabética. Os pacientes com retinopatia conhecida podem ser candidatos à fotocoagulação a laser profilática quando for iniciada a terapia intensiva. Quando já está presente uma retinopatia avançada, o controle glicêmico aprimorado confere menos benefício, apesar de a assistência oftalmológica adequada poder prevenir a maioria dos casos de cegueira. O fenofibrato, embora não reduza os eventos cardiovasculares em indivíduos portadores de diabetes e dislipidemia, diminui a progressão da retinopatia. Os exames oculares de rotina sem dilatação, realizados pelo profissional de assistência primária ou especialista em diabetes, não são adequados para detectar a presença de doença ocular diabética, que exige um exame com dilatação realizado por um optometrista ou oftalmologista, com manejo subsequente por um especialista em retina para tratamento ideal desses distúrbios. O tratamento da retinopatia proliferativa ou do edema macular com fotocoagulação a laser e/ou terapia com anti- VEGF (injeção ocular) é habitualmente bem- sucedido na preservação da visão. Nefropatia Nefropatia diabética é uma causa importante de doença renal crônica e, nos EUA, é a causa mais comum de insuficiência renal tratada com terapia renal substitutiva. Essa complicação ocorre com o diabetes melito dos tipos 1 e 2, mas é mais prevalente entre afro-americanos, asiáticos e índios americanos do que nos indivíduos caucasoides. Fisiopatologia Na maioria dos casos, as lesões da nefropatia diabética afetam os glomérulos. Quase todos os pacientes diabéticos têm espessamento generalizado da membrana basal dos capilares glomerulares, e isso pode ocorrer sem indícios de proteinúria. Tal alteração é seguida de aumento difuso da matriz mesangial com proliferação discreta das células mesangiais. À medida que a doença progride, essas células invadem os lumens dos capilares, reduzindo a superfície disponível para filtração glomerular. Com a glomerulosclerose nodular, também conhecida como síndrome de Kimmelstiel- Wilson, há deposição nodular de hialina na parte mesangial do glomérulo. À medida que o processo esclerótico avança nas formas difusa e nodular, há obstrução total do glomérulo e redução da função renal. Embora os mecanismos da lesão glomerular diabética não estejam definidos, parecem ser provocados por uma acentuação ou anormalidade da síntese da MBG e da matriz mesangial com incorporação anormal de glicose aos componentes não celulares dessas estruturas glomerulares. Outra possibilidade é que as alterações hemodinâmicas secundárias à elevação dos níveis sanguíneos de glicose possam contribuir para a iniciação e a progressão da glomerulosclerose diabética. Certos autores sugeriram a hipótese de que as elevações da glicemia aumentem a TFG e a pressão glomerular, resultando na dilatação dos poros dos capilares glomerulares por um mecanismo que, ao menos em parte, é mediado pela angiotensina II. Essa dilatação aumenta a concentração de proteínas no filtrado glomerular que, por sua vez, requer endocitose mais acentuada das proteínas filtradas pelas células endoteliais dos túbulos renais – um processo que finalmente causa destruição dos néfrons e deterioração progressiva da função renal. Manifestações clínicas e tratamento As manifestações clínicas da glomerulosclerose diabética estão diretamente relacionadas com as do diabetes. O aumento da TFG nos pacientes com distúrbios iniciais da função renal está associado à microalbuminúria, definida por excreção urinária de albumina na faixa de30 a 300 mg/24 h. A microalbuminúria constitui um fator preditivo importante de nefropatia diabética. Em muitos casos, tais alterações iniciais da função glomerular podem ser revertidas pelo controle rigoroso dos níveis de glicemia. Estudos demonstraram que o bloqueio da angiotensina pelos inibidores da ECA ou bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA) produziu efeito benéfico, possivelmente por reverter a pressão glomerular elevada. Hipertensão arterial e Bruna Melnik Bellandi – 5º Período tabagismo foram implicados na progressão da nefropatia diabética. Neuropatia Diabética A neuropatia diabética, que ocorre em cerca de 50% dos indivíduos com DM tipo 1 e tipo 2 de longa duração, manifesta-se como neuropatia (polineuropatia simétrica distal e/ou neuropatia autonômica), mononeuropatia e/ou radiculopatia/polirradiculopatia. Como acontece com outras complicações do DM, o surgimento de neuropatia correlaciona-se com a duração do diabetes e o controle glicêmico. Outros fatores de risco incluem índice de massa corporal (IMC) (quanto maior o IMC, maior o risco de neuropatia) e tabagismo. A presença de DCV, de níveis elevados de triglicerídeos e de hipertensão também está associada à neuropatia periférica diabética. As fibras nervosas tanto mielinizadas quanto não mielinizadas são perdidas. Como as manifestações clínicas da neuropatia diabética se assemelham àquelas de outras neuropatias, o diagnóstico de neuropatia diabética só deve ser estabelecido após se descartar a possibilidade de outras etiologias. Polineuropatia simétrica distal (PNSD) A PNSD, a forma mais comum de neuropatia diabética, manifesta-se com mais frequência com perda sensitiva distal e dor, porém até 50% dos pacientes não têm sintomas de neuropatia. Os sintomas podem incluir uma sensação de dormência, formigamento, dureza ou queimação que começa nos pés e se propaga proximalmente. Hiperestesia, parestesia e disestesia também podem ocorrer. A dor costuma acometer as extremidades inferiores, em geral manifesta-se em repouso e piora de noite. Pode ocorrer uma forma tanto aguda (com duração de < 12 meses) quanto crônica de neuropatia diabética com dor. A forma aguda está algumas vezes relacionada com o tratamento, ocorrendo no contexto da melhora do controle glicêmico. À medida que a neuropatia diabética progride, a dor diminui e, por fim, desaparece, porém o déficit sensitivo persiste, e pode haver desenvolvimento de defeitos motores. Com frequência, o exame físico revela perda sensitiva (a monofilamento de 10 g e/ou vibração), perda dos reflexos tendíneos profundos do tornozelo, sentido de posição anormal e atrofia muscular ou queda do pé. O rastreamento anual para PNSD deve começar 5 anos após o diagnóstico de DM tipo 1 e por ocasião do diagnóstico do DM tipo 2 e tem por objetivo detectar a ocorrência de perda da sensibilidade protetora (PSP). A PSP e a PNSD constituem importantes fatores de risco para ulceração do pé e quedas, devido à disfunção das fibras nervosas pequenas e grandes. Neuropatia autonômica Os indivíduos com DM tipo 1 ou 2 de longa duração podem desenvolver sinais de disfunção autonômica com acometimento dos sistemas colinérgico, noradrenérgico e peptidérgico (peptídeos como polipeptídeo pancreático, substância P, etc.). A neuropatia autonômica relacionada com o DM pode acometer múltiplos sistemas, incluindo os sistemas cardiovascular, gastrintestinal, geniturinário, sudomotor e metabólico. A neuropatia autonômica cardiovascular, manifestada por diminuição da variabilidade da frequência cardíaca, taquicardia em repouso e hipotensão ortostática, está associada a um aumento de DCV. Os relatos de morte súbita no DM também foram atribuídos à neuropatia autonômica cardiovascular. A gastroparesia e as anormalidades do esvaziamento vesical são frequentemente causadas pela neuropatia autonômica observada no DM (abordada adiante). A hiperidrose das extremidades superiores e a anidrose das extremidades inferiores resultam da disfunção do sistema nervoso simpático. A anidrose dos pés pode promover pele seca com rachaduras, com maior risco de úlceras do pé. A neuropatia autonômica pode reduzir a liberação dos hormônios contrarreguladores (em particular, as catecolaminas), resultando em incapacidade de perceber adequadamente a hipoglicemia (ausência de percepção da hipoglicemia), submetendo, assim, o paciente ao risco de hipoglicemia grave e complicando os esforços para melhorar o controle glicêmico. Mononeuropatia e/ou radiculopatia/polirradiculopatia A mononeuropatia (disfunção de nervos cranianos ou periféricos isolados) é menos comum que a polineuropatia no DM e se manifesta com dor e fraqueza motora na distribuição de um único nervo. Podem ocorrer mononeuropatias em sítios de encarceramento, como o túnel do carpo, ou podem ser não compressivas. O acometimento do Bruna Melnik Bellandi – 5º Período terceiro nervo craniano é mais comum e se manifesta com diplopia. O exame físico revela ptose e oftalmoplegia com constrição pupilar normal à luz. Algumas vezes, são afetados outros nervos cranianos, como IV, VI ou VII (paralisia de Bell). As mononeuropatias periféricas ou o acometimento simultâneo de mais de um único nervo (mononeuropatia múltipla) também podem ocorrer. A polirradiculopatia diabética é uma síndrome caracterizada por dor intensa e incapacitante na distribuição de uma ou mais raízes nervosas. Pode ser acompanhada por fraqueza motora. A radiculopatia intercostal ou troncular causa dor sobre o tórax ou o abdome. O acometimento do plexo lombar ou do nervo femoral pode acarretar dor intensa na coxa ou no quadril e pode estar associado a uma fraqueza muscular nos flexores ou nos extensores do quadril (amiotrofia diabética). Felizmente, em geral as polirradiculopatias diabéticas são autolimitadas e regridem no decorrer de 6 a 12 meses. Tratamento A prevenção da neuropatia diabética é fundamental por meio de melhora do controle glicêmico. O tratamento da neuropatia diabética é pouco satisfatório. As modificações no estilo de vida (exercício, dieta) têm alguma eficácia na PNSD no DM tipo 2, e tanto a hipertensão quanto a hipertrigliceridemia devem ser tratadas. Os esforços para melhorar o controle glicêmico no diabetes de longa duração podem ser complicados pela ausência de percepção da hipoglicemia. A conduta, que consiste em evitar as neurotoxinas (álcool) e o tabagismo, a suplementação com vitaminas para possíveis deficiências (vitamina B12, folato) e o tratamento sintomático constituem a base da terapia. Os pacientes devem ser orientados sobre o fato de que a perda da sensibilidade nos pés aumenta o risco de ulceração e suas sequelas, e que a prevenção desses problemas é de suma importância. Os pacientes com sinais ou sintomas de neuropatia devem examinar os pés diariamente e tomar precauções (calçados) destinadas a prevenir a formação de calosidades ou ulcerações. Se houver deformidades nos pés, deve haver a participação de um podiatra. A neuropatia diabética crônica dolorosa é difícil de tratar, tendo em vista a disponibilidade de tratamento sintomático apenas; não há evidências da eficácia de um melhor controle da glicemia na neuropatia diabética dolorosa. Dois agentes, a duloxetina e a pregabalina, foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para a dor associada à neuropatia diabética. O tapentadol1, um opioide de ação central, também foi aprovado pela FDA, porém tem apenas eficácia modesta e está associado a um risco de adição, de modo que tanto esse fármaco quanto outros opioides são menos desejáveis e não constituem uma terapia de primeiralinha. A neuropatia diabética pode responder aos antidepressivos tricíclicos, gabapentina, venlafaxina, carbamazepina, tramadol e capsaicina tópica, embora nenhum desses agentes tenham sido aprovados pela FDA para essa indicação. Não se dispõe de nenhuma comparação direta dos fármacos, e é razoável mudar para outros agentes quando não há qualquer resposta ou quando surgem efeitos colaterais. O encaminhamento para um centro especializado no controle da dor poderá ser necessário. Sabendo-se que a dor da neuropatia diabética aguda pode regredir com o passar do tempo, as medicações poderão ser suspensas quando ocorrer um dano neuronal progressivo devido ao DM. A terapia da hipotensão ortostática secundária à neuropatia autonômica também é difícil. As manobras não farmacológicas (ingestão adequada de sal, evitar a desidratação e os diuréticos, uso de meias compressivas para os membros inferiores e atividade física) podem proporcionar algum benefício. Uma variedade de agentes tem sucesso limitado (a midodrina e a droxidopa têm aprovação da FDA para a hipotensão ortostática de qualquer etiologia). Nos pacientes com taquicardia em repouso, pode-se considerar a terapia com betabloqueadores com cautela na ausência de percepção de hipoglicemia. Complicações Nos Membros Inferiores O DM é a principal causa de amputação não traumática dos membros inferiores nos Estados Unidos. Úlceras e infecções no pé também constituem uma importante fonte de morbidade nos indivíduos com DM. As razões para a maior incidência desses distúrbios no DM envolvem a interação de vários fatores patogênicos: neuropatia, biomecânica anormal do pé, DAP e cicatrização deficiente de feridas. A neuropatia sensitiva periférica interfere com os mecanismos Bruna Melnik Bellandi – 5º Período protetores normais e permite ao paciente suportar traumatismos significativos ou menores, porém repetidos, que acometem o pé, na maioria das vezes sem tomarem conhecimento da lesão. A propriocepção desordenada acarreta um apoio anormal do peso ao caminhar e a subsequente formação de uma calosidade ou ulceração. A neuropatia motora e sensitiva leva a uma mecânica muscular anormal do pé e a alterações estruturais do pé (dedo em martelo, deformidade em garra, cabeças dos metatarsos proeminentes, articulação de Charcot). A neuropatia autonômica resulta em anidrose e fluxo sanguíneo superficial alterado no pé, o que promove o ressecamento da pele e a formação de fissuras. A DAP e a cicatrização deficiente de feridas dificultam a resolução de pequenas rupturas na pele, permitindo-lhes que aumentem de tamanho e que se tornem infectadas. Muitos indivíduos com DM tipo 2 desenvolvem úlcera do pé (o hálux ou as áreas metatarsofalângicas são mais comuns), e um subgrupo significativo que apresenta uma ulceração será submetido a amputação (risco de 14 a 24% com essa úlcera ou com ulceração subsequente). Os fatores de risco para úlceras ou amputação do pé incluem sexo masculino, diabetes de > 10 anos de duração, neuropatia periférica, estrutura anormal do pé (anormalidades ósseas, calosidades, unhas espessadas), DAP, tabagismo, história pregressa de úlcera ou de amputação, comprometimento visual, controle glicêmico precário e nefropatia diabética, particularmente diálise. Com frequência, as grandes calosidades são precursoras de ulcerações ou se sobrepõem a elas. Tratamento A terapia ideal para úlceras e amputações do pé é a prevenção pela identificação dos pacientes de alto risco, a orientação do paciente e a adoção de medidas destinadas a prevenir a ulceração. Os pacientes de alto risco devem ser identificados durante o exame anual de rotina dos pés realizado em todos os pacientes com DM. Se o teste do monofilamento ou um dos testes forem anormais, o paciente é diagnosticado com perda da sensibilidade protetora (PSP). O médico deve considerar o rastreamento para DAP assintomática em indivíduos com > 50 anos de idade que apresentam diabetes e outros fatores de risco, utilizando o índice tornozelo-branquial nos indivíduos de alto risco. A orientação do paciente deve enfatizar: (1) a escolha cuidadosa de calçados, (2) a inspeção diária dos pés para identificar os sinais precoces de uma adaptação inadequada do calçado ou de pequenos traumatismos, (3) a higiene diária dos pés a fim de manter a pele limpa e úmida, (4) o evitamento do autotratamento das anormalidades do pé, assim como de qualquer comportamento de alto risco (p. ex., andar descalço) e (5) a consulta imediata com um profissional de assistência de saúde quando surge alguma anormalidade. Os pacientes com um alto risco de ulceração ou amputação podem ser beneficiados pela avaliação feita por um especialista em cuidados dos pés. As calosidades e as deformidades das unhas devem ser tratadas com podiatra. As intervenções orientadas para a modificação dos fatores de risco incluem calçados e dispositivos ortóticos, tratamento das calosidades, cuidados com as unhas e medidas profiláticas para reduzir o aumento da pressão sobre a pele produzido por uma estrutura óssea anormal. A atenção a outros fatores de risco para doença vascular (tabagismo, dislipidemia, hipertensão) e a otimização do controle glicêmico também são importantes. A infecção de uma úlcera é um diagnóstico clínico, visto que a cultura superficial de qualquer ulceração provavelmente irá identificar múltiplas espécies bacterianas de significado indeterminado. A infecção da úlcera do pé frequentemente resulta de múltiplos microrganismos, sendo os cocos Gram-positivos aeróbios (estafilococos, incluindo S. aureus resistente à meticilina [MRSA], estreptococos do grupo A e B) os mais comuns, enquanto os bacilos Gram-negativos aeróbios e/ou anaeróbios obrigatórios aparecem como copatógenos. A gangrena gasosa pode se desenvolver na ausência de infecção por clostrídeos. Devem-se obter culturas da base da úlcera desbridada ou da drenagem purulenta ou aspiração da ferida. A profundidade da ferida deve ser determinada pela inspeção e realizando-se uma sondagem com um instrumento esterilizado de ponta romba. Uma ferida que se estende até o osso representa uma evidência clínica de osteomielite. Radiografias simples do pé devem ser obtidas para determinar a possibilidade de osteomielite nas úlceras crônicas que não responderam à terapia. A ressonância magnética (RM) constitui a modalidade mais específica, enquanto a cintilografia e os estudos Bruna Melnik Bellandi – 5º Período com leucócitos marcados constituem alternativas. O desbridamento cirúrgico é frequentemente necessário. A osteomielite é mais bem tratada por meio de combinação de antibioticoterapia prolongada e desbridamento do osso infectado, quando possível. A possível contribuição da insuficiência vascular deve ser aventada em todos os pacientes. Os procedimentos de bypass arterial periférico geralmente são efetivos para promover a cicatrização das feridas e diminuir a necessidade de amputação do membro isquêmico . As intervenções com eficácia demonstrada nas úlceras ou feridas do pé diabético são as seguintes: (1) eliminação das sobrecargas, (2) desbridamento, (3) curativos das feridas, (4) uso apropriado de antibióticos, (5) revascularização e (6) amputação limitada. As infecções leves ou que não ameaçam o membro podem ser tratadas com antibióticos orais direcionados predominantemente contra estafilococos sensíveis à meticilina e estreptococos (p. ex., dicloxacilina, cefalosporina, amoxicilina/clavulanato). Todavia, em pacientes com história pregressa de MRSA e em locais de alta prevalência de MRSA, prefere-se o tratamento com clindamicina, doxiciclina ou sulfametoxazol-trimetoprima.O sulfametoxazol- trimetoprima proporciona uma cobertura menos confiável para estreptococos do que os β- lactâmicos, e os pacientes diabéticos podem desenvolver efeitos adversos, incluindo lesão renal aguda e hiperpotassemia. O desbridamento cirúrgico do tecido necrótico, os cuidados locais da ferida (evitando a sustentação de peso sobre a úlcera) e a vigilância rigorosa quanto à possível progressão da infecção são cruciais. As infecções mais graves exigem antibióticos IV, bem como repouso no leito e cuidados locais da ferida. O desbridamento cirúrgico urgente pode ser necessário. O controle ideal da glicemia deve constituir a meta. Os antibióticos IV devem proporcionar uma cobertura de amplo espectro dirigida contra Staphylococcus aureus, incluindo MRSA, estreptococos, aeróbios Gram-negativos e bactérias anaeróbias. Os esquemas antimicrobianos iniciais incluem vancomicina mais β-lactâmico/inibidor da β-lactamase ou carbapenem ou vancomicina, mais uma combinação de quinolona e metronidazol. A vancomicina pode ser substituída por daptomicina, ceftarolina ou linezolida. Se a infecção ao redor da úlcera não estiver melhorando com os antibióticos IV, estarão indicados a reavaliação da cobertura antibiótica e um novo exame da necessidade de desbridamento cirúrgico ou revascularização. Se houver melhora clínica, os antibióticos orais e os cuidados locais da ferida poderão ser continuados em bases ambulatoriais com um acompanhamento atento.
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