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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA PATOLOGIA ESPECIAL DAS AVES Maria Carolina Landim Delgado ANEMIA INFECCIOSA DAS GALINHAS JUIZ DE FORA 2021 Maria Carolina Landim Delgado ANEMIA INFECCIOSA DAS GALINHAS Trabalho sobre Anemia Infecciosa das Galinhas, apresentado como parte dos critérios de avaliação da disciplina de Patologia Especial das Aves. Professor(a): Rafael Veríssimo Monteiro JUIZ DE FORA 2021 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………….…..4 2 ETIOLOGIA…………………………………………………………………………....5 3 EPIDEMIOLOGIA…………………………………………………………………….6 4 TRANSMISSÃO………………………………………………………………………..6 5 PATOGENIA…………………………………………………………………………....7 6 SINAIS CLÍNICOS………………………………………………………………….....8 7 DIAGNÓSTICO……………………………………………………………………..…9 8 TRATAMENTO………………………………………………………………………...9 9 PREVENÇÃO E CONTROLE……………………………………………………......9 10 CONCLUSÃO……………………………………………………………………..…10 REFERÊNCIAS……………………………………………………………………..…..11 2 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Produção brasileira de carne de frangos, bovina e suína, milhões de toneladas, 1999 a 2021………………………………………………………………………………………..4 Figura 2- Organização do genoma do CAV Organização do genoma do CAV que contém três janelas abertas de leitura com sobreposição parcial, que codificam para as três proteínas virais VP1, VP2 e VP3 e uma região não transcrita que compreende a região promotora…………………………………………………………………………………….6 Figura 3- Representação esquemática da patogênese do CAV, demonstrando, quais células do sistema imune são infectadas pelo vírus……………………………………………………..7 Figura 4- Hemorragias na asa de um pinto devido Anemia Infecciosa, por isso chamada de "doença da asa azul" ou “Blue Wings”...................................................................................8 3 1 INTRODUÇÃO O setor de avicultura no Brasil é muito importante no mercado, em especial, no que diz respeito à questão social e econômica. Essa atividade elevou o país como maior produtor e exportador de produtos da avicultura desde 2002 onde a produção de aves superou a produção de carne bovina, com desempenho excepcional entre os anos de 2000 e 2011, como observado na Figura 1. Entretanto, a partir de 2012 essa atividade tem apresentado estabilidade, seja na produção como terceiro maior produtor mundial e na exportação sendo maior exportador de carne de frango. Várias são as causas que levaram essa dificuldade em manter as taxas elevadas, por exemplo, forte concorrência, crescimento da produção em países que eram tradicionais importadores e o cenário da pandemia. Figura 1. Produção brasileira de carne de frangos, bovina e suína, milhões de toneladas, 1999 a 2021. Fonte: USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) A chegada da pandemia da Covid-19 em 2020 no Brasil gerou um ambiente de incertezas na saúde pública e na economia. O preço da carne de frango, que é menor em relação às demais carnes, apresentou estabilidade até a segunda metade do ano quando começaram a subir. As altas nos preços do milho e farelo de soja, principais ingredientes das rações dos animais e importantes itens dos custos de produção do setor justificam estes aumentos. ( TALAMINI e MARTINS, 2020). Por outro lado, muito especulou-se sobre que infecção teria começado com o consumo da carne de algum animal silvestre como cobras, civetas e pangolins, vendido nos 4 mercados úmidos da cidade de Wuhan, na China central. Apesar da origem da doença ainda não está esclarecida, essas hipóteses de transmissão de patógenos a partir do consumo de carne acendeu um alerta e as indústrias da carne, em especial, adotaram protocolos e medidas de segurança para continuar as operações, protegendo a saúde dos trabalhadores e mantendo a inocuidade dos alimentos. ( SEGATA et al., 2021). Nesse sentido, para que o setor de avicultura no país continue sendo destaque na produção, bem como na exportação a nutrição, genética, biosseguridade e o diagnóstico das principais doenças são pontos chaves para o sucesso. Dentre as doenças de importância para a avicultura de produção, a anemia infecciosa das galinhas é uma enfermidade imunodepressora a qual merece atenção, visto que ela está associada à queda no desempenho das aves, falhas de resposta vacinal, predisposição a agentes secundários, aumento dos custos de produção e geração de produto com baixo valor econômico (BARRIOS, 2009). 2 ETIOLOGIA O vírus da anemia infecciosa (CAV) foi isolado e descrito pela primeira vez no Japão por Yuasa e colaboradores em 1979, e desde então o vírus tem sido isolado em outros países como Alemanha (1983), Reino Unido (1987), Estados Unidos (1988) e Brasil (1991). O CAV é um vírus com genoma de DNA fita simples positiva, não envelopado, com simetria icosaédrica e 25 nm de diâmetro pertencente à família Circoviridae, gênero Gyrovirus. Seu DNA contém 2.300 nucleotídeos que codificam três proteínas: VP1, VP2 e VP3 como mostra a Figura 2. A VP1 é a proteína estrutural do capsídeo viral (NOTEBORN e KOCH, 1995). A VP2 é uma fosfatase (PETERS et al., 2002). A VP3, também chamada de apoptina, é uma forte indutora de apoptose em timócitos e células linfoblastóides de galinhas (NOTEBORN et al., 1994). Figura 2 . Organização do genoma do CAV que contém três janelas abertas de leitura com sobreposição parcial, que codificam para as três proteínas virais VP1, VP2 e VP3 e uma região não transcrita que compreende a região promotora. 5 Fonte: (Adaptado de TODD, 2000). Embora o genoma do CAV seja altamente conservado, comparações entre sequências do gene que codificam cada uma dessas proteínas em diferentes países diferem quanto a patogenicidade do vírus no hospedeiro devido às mutações que podem ocorrer. 3 EPIDEMIOLOGIA A galinha (Gallus gallus domesticus) é considerada o hospedeiro natural do vírus da Anemia Infecciosa das Galinhas, porém há evidências sorológicas que demonstraram a ocorrência em outras aves domésticas como a codorna Japonesa (Coturnix coturnix japonica) (FARKAS et al., 1998). Apesar de todas as idades serem passíveis à infecção, a susceptibilidade é maior nas primeiras três semanas de vida em aves sem a presença de anticorpos passivos. No Brasil, um levantamento sorológico demonstrou que 92% das matrizes pesadas adultas apresentaram anticorpos anti-CAV, evidenciando a alta prevalência desse vírus na avicultura industrial brasileira (BRENTANO et al., 2000). 4 TRANSMISSÃO A disseminação do vírus pode ocorrer de forma horizontal e vertical. Na horizontal ela acontece principalmente por via fecal-oral, visto que são nas fezes que o vírus está em maior concentração, além disso a transmissão pode ser forma direta ou indireta, através de instalações contaminadas, fômites e camas (MCNULTY, 1991). 6 Já na forma vertical é considerada a mais importante, uma vez que leva a infecção de progênies, ou seja, da progenitora ao embrião por via transovariana. Nesse caso, a transmissão do vírus pode ocorrer em aves infectadas tanto soronegativas , ou seja, que ainda não sofreram soroconversão, bem como na presença de altos níveis de anticorpos neutralizantes (BRENTANO et al., 2005). É válido ressaltar que a transmissão do vírus para a progênie acontece de 3 a 6 semanas após a infecção inicial e que no decorrer desse período a maioria das matrizes permanecem infectadas e disseminando o agente horizontalmente (MCNULTY, 1991). A doença na forma aguda, ocorre principalmente em aves jovens com 10 a 14 dias de idade infectadas verticalmente (YUASA et al., 1987). 5 PATOGENIA Os sítios de replicação do vírus são a medula óssea, timo e baço. Na medula óssea o CAV infecta eritrócitos (hemocitoblastos), trombócitos e leucócitos, por outro lado linfócitos T imaturos CD4+ e CD8+ e células T maduras no timo e baço (TODD, 2004). Demonstrado pela Figura 3. Figura 3 . Representação esquemática da patogênese do CAV, demonstrando, quais células do sistema imune são infectadas pelo vírus. Fonte: Adaptadode Adair (2000) 7 Essa destruição das linhagens mielóides e linfóides são responsáveis por desencadear a anemia, a qual é a característica principal da doença. Além disso, o quadro de imunodepressão apresentado pelas aves devido a depleção de linfócitos TCD4+ e TCD8+ pode prejudicar a eliminação dos patógenos intracelulares e proporcionar a ocorrência de infecções crônicas (BRENTANO, 2009). 6 SINAIS CLÍNICOS Em aves com 7 a 14 dias já podem ser observados os primeiros sinais clínicos, como a depressão. Apesar da taxa de mortalidade comum ser de 5 a 15%, ela pode chegar a 60% segundo (TODD, 2004). Outros sinais citados são o retardo do crescimento plumagem eriçada, palidez, apatia, dermatite gangrenosa, bem como hemorragia subcutânea e muscular, hepatite e as asas apresentam-se azuladas (Blue Wings) com exsudato sanguinolento devido a infecções bacterianas secundárias (Figura 4) (SANTOS, 2012). Figura 4. Hemorragias na asa de um pinto devido Anemia Infecciosa, por isso chamada de "doença da asa azul" ou “Blue Wings”. Fonte: Site http://www.anemia-infecciosa-aviaria.com/ Na necropsia as principais alterações observadas são a coloração amarelada da medula óssea, atrofia severa do timo e da bursa de Fabricius, hemorragia na mucosa do proventrículo e descoloração e inchaço no fígado, baço e rim. 8 http://www.anemia-infecciosa-aviaria.com/ 7 DIAGNÓSTICO Os sinais clínicos e o histórico de desempenho anormal dos lotes podem ser sugestivos para a doença, porém não são definitivos já que as manifestações são similares às outras doenças tais como Gumboro, Marek, Adenovirus, Reovirus e situações como intoxicações por sulfa e ingestão de micotoxinas. Nesse sentido, exames complementares como hemograma, histopatologia, isolamento viral, testes sorológicos e PCR são importantes para fechar o diagnóstico. O isolamento viral é uma opção, porém além de ser um técnica cara e trabalhosa pode dar falso negativo, visto que algumas cepas da CAV perderam capacidade de replicar em cultivo celular devido às suas alterações genéticas (ISLAM et al., 2002). Já os testes sorológicos para detecção de anticorpos anti-CAV são descritos nas técnicas de soroneutralização e ELISA, sendo a primeira um processo caro e demorado inviabilizando seu uso em estudos mais extensos e no diagnóstico de rotina. Já a segunda é uma metodologia que vem sendo utilizada devido suas praticidade e rapidez, porém é válido ressaltar que testes sorológicos indicam uma exposição prévia ao vírus e não uma infecção presente. Por fim, outra técnica diagnóstica que permite a detecção do DNA do CAV de forma rápida e econômica é a PCR, uma forma molecular que permite estabelecer relações filogenéticas entre diferentes isolados e estirpes, auxiliando assim, o entendimento da biologia molecular e epidemiologia do agente (SCHAT, 2003). 8 TRATAMENTO Não há tratamento específico para Anemia Infecciosa da Galinhas. Contudo, o uso de antibióticos de amplo espectro para prevenção de infecções bacterianas secundárias é indicado. 9 CONTROLE E PREVENÇÃO O CAV é altamente resistente às condições ambientais, à inativação química e ao calor, consequentemente a erradicação da infecção não é algo prático. Desse modo, é importante diminuir os efeitos negativos da infecção através da adoção de medidas de 9 biosseguridade e controle de outros agentes imunossupressores associados à doença (ROSENBERGER e CLOUD, 1998). A não reutilização da cama de aviário com a eliminação da matéria orgânica das instalações e equipamentos, seguida da utilização de desinfetante em altas concentrações, como hipoclorito de sódio a 10% e o uso de vassoura de fogo, podem reduzir a carga infectante do vírus (BRENTANO, 2009). Além disso, para a prevenção da CAV no país tem sido realizada a vacinação das matrizes entre a 16ª e a 18ª semana de vida, utilizando uma vacina viva atenuada com a finalidade de controlar a doença clínica no campo através da transferência de altos títulos de anticorpos maternos para a progênie. Porém, estudos elaborados por CARDONA et al. (2000), sugerem que o vírus pode persistir em tecidos reprodutivos por longos períodos, mesmo depois de ter ocorrido a soroconversão. 10 CONCLUSÃO O crescimento populacional das últimas décadas, com consequente aumento de consumo, tornou necessário uma maior produção avícola mesmo com alguns entraves que a pandemia trouxe. Por outro lado, esse aumento de produção colocou em jogo algumas questões importantes, uma delas a biosseguridade, ou seja, quais ações são estabelecidas para prevenir, evitar e controlar a entrada de patógenos que afetam a saúde, o bem-estar e o desempenho das aves. O Brasil é considerado livre de Influenza Aviária e tem focos esporádicos e controlados da doença de Newcastle o que garante a expansão do mercado e os ganhos econômicos do setor, reflexo de uma atenção cada vez maior com à biossegurança. Apesar da Anemia Infecciosa da Galinhas ainda ser de difícil erradicação a preocupação com a prevenção e controle da doença está aumentando no país um passo importante, visto que não há tratamento específico para tal e , apesar de não estimadas há perdas econômicas em jogo. 10 REFERÊNCIAS ADAIR, B. M. Immunopathogenesis of chicken anemia virus infection. Dev. Comp. Immunol., v. 24, n. 2-3, p. 247– 255, 2000. BARRIOS, P. R.; MARÍN, S. Y.; RESENDE, M. et al. 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