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Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 1 INTRODUÇÃO • Parada cardiorrespiratória é a expressão de máxima gravidade em qualquer situação patológica. RECONHECENDO UMA PCR 1. Paciente não responsivo. ¨Senhor, senhor, o senhor está bem?¨. 2. Ausência de pulso central (carotídeo – melhor ou femoral) por 5-10 segundos. Paciente não responsivo + ausência de pulso central = PCR (Parada Cardiorrespiratória). CONDUTAS INICIAIS A primeira coisa a se fazer é a análise de ritmo. 1. Solicitar um carrinho de parada. 2. Compressões torácicas: devem ser iniciadas assim que o diagnóstico for feito. a. Posicione o corpo perpendicular a vítima e mantenha os braços em extensão: a ideia é que a vítima esteja na altura dos seus joelhos. Mão dominante na frente e a não dominante entrelaçando os dedos da mão dominante. Encaixar a região hipotênar na linha intermamilar, no esterno do paciente. Braço esticado e cotovelo reto, usando o peso do tronco pra comprimir. b. Profundidade 5-6cm, permitindo o retorno completo do tórax após cada compressão. Comprima rápido e forte. Ritmo de acordo com a música ¨Staying alive¨. c. Comprima a uma velocidade de 100-120 compressões por minuto. 3. Abrir vias aéreas e iniciar ventilação com dispositivo bolsa máscara. a. Paciente não intubado: 30 compressões:2 ventilações, durante 2 minutos. Certifique-se que o tórax do paciente está expandindo adequadamente. Ao final do 5º ciclo, verifique o pulso e pratique revezamento das compressões X ventilações. b. Paciente intubado: as compressões são feitas 100-120/min e a ventilação é feita a cada 6 segundos. É quase uma regra que o paciente em PCR seja intubado. ATENÇÃO • Tempo de procedimento <30 segundos. • Intervalo de tempo para cada ventilação – 6s. • Obrigatoriedade do procedimento. • Hiperventilação: malefícios do aumento da pressão intra-abdominal e intratorácica, aumento do retorno venoso, piora déficit de VD. Acesso para administração de drogas: intravenoso – preferível e intraósseo. CHEGADA DO CARRINHO DE PARADA 1. Posicione as pás do desfibrilador: 1 na região infraclavicular direita e outra no ictus. • Ritmo chocável: choca e volta a compressão. • Ritmo não chocável: continua a manobra de ressuscitação. A primeira avaliação do ritmo é imediata, assim que o carrinho de parada chega. A cada 2 minutos se analisa o ritmo novamente. No DEA não dá pra checar o ritmo, mas dá pra saber se é chocável ou não chocável. a. Tipos de desfibrilador: bifásico – 200 joules; monofásico – 320-360 joules. Na prática, bifásico pra todo mundo. b. Situações especiais: • Uso de marcapasso: não pode dar o choque em cima do marcapasso. Chocar do lado. • Corpo molhado: enxugar primeiro. • Excesso de pelos: fazer uma tricotomia pelo menos nos locais em que as pás serão colocadas. Observação: se a parada for por hipoxemia ou afogamento, é OBRIGATÓRIO intubar! PCR – PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 2 RITMOS CHOCÁVEIS FIBRILAÇÃO VENTRICULAR – FV CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: • Ausência de ondas que representam atividade cardíaca correta. • QRS sinusoidais. • Ausência de pulso no exame físico. FV é ritmo exclusivo de parada. É o famoso ¨treme treme¨ cardíaco. Tudo bagunçado = FV. TAQUICARDIA VENTRICULAR – TVSP CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: • FC >100bpm com atividade elétrica anárquica. • QRS alargado (QRS>120ms). • Ausência de pulso. Existem 2 tipos de TV: com pulso (monomórfica e polimórfica) e sem pulso. TV sem pulso é a mesma coisa de TV monomórfica com pulso, sendo a diferença que uma tem pulso e a outra não, uma vai cardioverter se precisar (se tiver instabilidade) e a outra vai desfibrilar. Observação: a diferença entre cardioverter e desfibrilar é que a cardioversão é dada no pico do QRS, enquando a desfibrilação é dada em qualquer período. Os ritmos chocáveis tem 35% a mais de chance de saírem de uma parada do que os não chocáveis. Importante: Torsades de Pointes: subtipo de taquicardia ventricular polimórfica que ocorre em pacientes com prolongamento de QT (adquirido ou congênito). Tratamento: desfibrilação 200j + 2g de MgSO4 (20 mL se a 10% ou 4 mL se a 50%) em 10 mL de SG 5% em bolus. RITMOS NÃO CHOCÁVEIS ASSISTOLIA • Linha de base eletrocardiográfica isoelétrica em todos os planos eletrocardiográficos. ATIVIDADE ELÉTRICA SEM PULSO – AESP • Presença de atividade eletrocardiográfica organizada (presença de onda P, QRS e onda T) na ausência de pulso. • PSEUDOAESP: é um dos casos em que o soco precordial está indicado! Dica: dificilmente se tem AESP com QRS fino e/ou mais de 40 batimentos por minuto. AVALIAR CAUSAS DE RITMOS NÃO CHOCÁVEIS 5Hs / INTERVENÇÃO HIPOVOLEMIA: • Dados sugestivos: veias planas no pescoço, turgor diminuído com mucosas desidratadas, taquicardia sinusal com QRS estreito. • Intervenção: infusão de fluído cristaloide. HIPOXEMIA: • Dados sugestivos: cianose e dados gasométricos, geralmente bradicardia. • Intervenção:O2 a 100% + ventilação com ambu OU via aérea avançada. HIDROGÊNIO (ACIDOSE SANGUÍNEA): • Dados sugestivos: histórico de DM ou insuficiência renal, acidose preexistente responsiva a bicarbonato, QRS de baixa amplitude. Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 3 • Intervenção: 1mEq/Kg de bicarbonato de sódio 8,4% (1 mL de NaHCO3 a 8,4% = 1mEq). HIPERCALEMIA E HIPOCALEMIA: • Dados sugestivos - Hipercalemia: histórico de DM, insuficiência renal, acidose preexistente responsiva a bicarbonato, diálise recente ou fístula para diálise, QRS largo com onda T apiculada, P pequena e padrão sinusoidal. • Intervenção: ❖ 20 mL de Gluconato de Cálcio 10% EV (1 ampola = 10 ml = 1g); 1mEq/Kg de bicarbonato de sódio 8,4%; solução polarizante (50g de glicose + 10UI de insulina regular). • Dados sugestivos - Hipocalemia: perda anormal de potássio ou uso de diuréticos, QRS largo com onda T plana, onda U proeminente e QT longo. • Intervenção: ❖ Sulfato de magnésio 2g EV (20 ml de MgSO4 10% ou 4mL de MgSO4 50%); Em veia periférica: 490 ml de SF 0,9% + 10 mL de KCL 10% pra correr em 1 hora; Em veia central: 480 mL de SF 0,9% + 20 mL de KCL 10% pra correr em 1 hora. HIPOTERMIA: • Dados sugestivos: histórico de exposição ao frio, temperatura corporal reduzida. • Intervenção: reaquecimento (cristaloides a 42ºC e mantas térmicas). 5TS / INTERVENÇÃO TOXINAS: • DS: bradicardia, exame neurológico (pupilar). • Intervenção: antídotos específicos e avaliar possíveis causas. TROMBOSE CARDÍACA – IAM: Nas primeiras 2 horas o paciente para por FV e TV e, nas próximas 2 horas, para por AESP e assistolia. • Dados sugestivos: dor torácica prévia à PCR, alterações isquêmicas de ST e T. • Intervenção: Fibrinolíticos; tPA 15mg EV em 1-2 minutos seguido por 50mg EV em BIC por 30 minutos e por fim 35mg EV em BIC por 1 hora OU Estreptoquinase 1,5 milhão UI EV em BIC por 1 hora. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR: • Dados sugestivos: história de tromboses prévias, presença de turgência de jugular, taquicardia com QRS estreito (sinusal) e S1Q3T3. • Intervenção: Fibrinolíticos: tPA 100mg EV em BIC em 2 horas OU Estreptoquinase 250.000 UI em BIC para 30 minutos seguido de 100.000 UI/h por 24 horas. TAMPONAMENTO CARDÍACO: Tríade de Beck: hipofonese de bulhas, hipotensão arterial e turgência de jugular. Pericardiocentese: • Dados sugestivos: turgência de jugular e abafamento de bulhas, relato de derrame pericárdio, taquicardia com QRS estreito (sinusal) e alternância elétrica. • Intervenção: pericardiocentese - punção entre o apêndice xifoide e a margem costal esquerda em um ângulo de 15 a 30º direcionada para ombro esquerdo. TENSÃO PULMONAR (PNEUMOTÓRAX): • Dados sugestivos: turgência de jugular,histórico recente de passagem de cateter venoso profundo, ausculta pulmonar desigual, dificuldade pra ventilar. • Intervenção: toracocentese de alívio por punção com jelco nº 14 no 5º espaço intercostal na linha hemiaxilar anterior (em crianças 2º EIC na linha hemiclavicular), seguida posteriormente por drenagem de tórax com dreno em selo d`água. Infelizmente, na prática, os fibrinolíticos nem sempre estão disponíveis, dificultando o tratamento do TEP e da trombose cardíaca. Também, poucos são os profissionais médicos que se sentem aptos a realizar uma pericardiocentese. Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 4 DROGAS UTILIZADAS DURANTE A PCR ADRENALINA • 1 mg a cada 3 a 5 minutos (1 ampola = 1mg = 1mL). Se cada ciclo dura 2 minutos, então a adrenalina é feita ciclo sim e ciclo não. • Ritmo chocável (ACLS – 1º dose de adrenalina após a 2º checagem de ritmo) e não chocável (adrenalina assim que se percebe a PCR). Na prática, entrou em PCR, já faz adrenalina. AMIODARONA • 1º dose: 300 mg/2º dose: 150mg. 1 ampola = 150 mg = 3 mL. • 300 mg 2 minutos após a primeira dose de adrenalina. • Feita apenas em ritmo chocável (FV e TV). Então ... adrenalina – checagem do ritmo em 2 minutos - ritmo chocável – choque + amiodarona 300mg – checagem do ritmo em 2 minutos – ritmo chocável – choque + adrenalina → checagem do ritmo em 2 minutos – ritmo chocável – choque + amiodarona 150mg. Depois disso, apenas com adrenalina. Observação: Lidocaína 1-1,5mg/Kg (opção à amiodarona na FV ou TV refratária). PASSO A PASSO – RESUMO Paciente desacordado → checar responsividade e pulso. Sem pulso e sem resposta → solicitar carrinho de parada e iniciar RCP 30:2. Chegada do carrinho de parada → Parar RCP e analisar o ritmo. • Se ritmo chocável (FV, TV) → adrenalina a cada 3-5 min, chocar e RCP; reavaliar o ritmo em dois minutos; se chocável → amiodarona; se não chocável → reiniciar RCP. • Se ritmo não chocável (assistolia, AESP) → adrenalina a cada 3-5 minutos, reiniciar RCP; reavaliar o ritmo em 2 minutos. CUIDADOS PÓS-PCR • Manter saturação >94% (guiar-se inicialmente pela capnografia PetCO2 entre 35-40mmHg). • Manter PA sistólica >= 90mmHg (use cristaloide EV ou noradrenalina EV). • Considerar hipotermia induzida caso paciente não siga comandos após o retorno da circulação espontânea (usa-se 30ml/kg de fluído isotônico gelado para alcançar alvo de 32-34ºC por mínimo de 12-24h. Exige termômetro esofágico ou vesical ou de artéria pulmonar para ser realizada. Importante: as primeiras 24 horas pós PCR, temperatura >= 36º é considerada febre. • Manter paciente sem sedação para observar resposta neurológica inicial. • Se usou amiodarona, manter 1mg/min por 6 horas e depois, 0,5mg/min por 18 horas (750mg em 235 mL de SG5% EV em BIC a 20mL/h nas primeiras 6 horas, seguido de 10mL/h por 18 horas). • Sempre solicite um ECG 12 derivações pós-PCR. • Solicitar vaga em UTI, manter paciente sob cuidados intensivos. Importante: o pulso só é checado durante a PCR quando o ritmo estiver organizado! ENCERRAMENTO DOS ESFORÇOS • Decisão em comum acordo de toda a equipe. • RCP >30min, sem ritmo de perfusão sustentado. • ETCO2 <= 10mmHg por >= 20 minutos. • Ritmo inicial de assistolia. • Intervalo prolongado entre o tempo de PCR e início de RCP. • Idade e comorbidades do paciente. • Reflexos de tronco cerebral ausentes. INFORMAÇÕES EXTRAS MEDICAÇÕES – TUBO OROTRAQUEAL ❖ A → Atropina, N → Naloxona, E → Epinefrina, L → Lidocaína. Use a via de administração endotraqueal somente se você não puder obter um acesso EV/IO. Além disso, deve-se usar uma dose 2-,2,5X maior que a dose de administração EV/IO. Misture a dose do medicamento com 5 a 10mL de SF 0,9% ou com água destilada e injete diretamente na traqueia.
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