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DOCÊNCIA EM SAÚDE ATIVIDADE FÍSICA PARA HIPERTENSOS 1 Copyright © Portal Educação 2013 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de Setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842a Atividade física para hipertensos / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013. 88p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-835-2 1.Hipertensão – Atividade Motora. I. Portal Educação. II. Título. CDD 613.71 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 2 HIPERTENSÃO ARTERIAL: DIAGNÓSTICO, CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS .............. 8 2.1 HIPERTENSÃO PRIMÁRIA ....................................................................................................... 9 2.2 HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA ................................................................................................ 10 2.3 POR QUE A HIPERTENSÃO É UM RISCO PARA A SAÚDE CARDIOVASCULAR? .............. 10 2.4 DESORDENS ASSOCIADAS À HIPERTENSÃO AUMENTAM O RISCO CARDIOVASCULAR PARA O HIPERTENSO ..................................................................................... 15 2.5 HIPERTENSÃO ARTERIAL E OBESIDADE ............................................................................. 15 2.6 HIPERTENSÃO ARTERIAL E COLESTEROL .......................................................................... 16 2.7 HIPERTENSÃO ARTERIAL, DIETA E SÓDIO ........................................................................ 17 2.8 A HIPERTENSÃO NO IDOSO .................................................................................................. 18 2.9 HIPERTENSÃO ARTERIAL E APNEIA DO SONO .................................................................. 19 3 2.10 O ALUNO HIPERTENSO PODE APRESENTAR SÍNDROME METABÓLICA ......................... 20 2.11 O PAPEL DO EXERCÍCIO FÍSICO NA IDENTIFICAÇÃO DE RISCO E NA PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO ............................................................................................................................ 21 2.12 O TREINAMENTO FÍSICO PODE CONTRIBUIR PARA A PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL ................................................................................................................. 22 2.13 A AÇÃO DE MEDICAMENTOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS SOBRE PRESSÃO ARTERIAL .............................................................................................................................. 23 2.13.1 Substâncias que podem aumentar a pressão arterial ............................................................... 23 2.13.2 Efeitos potenciais dos medicamentos anti-hipertensivos para o exercício e a performance esportiva ............................................................................................................................. ..25 2.13.3 Uso de medicamentos anti-hipertensivos, prescrição e controle de exercícios: ....................... 27 3 RESPOSTA AGUDA DA PRESSÃO ARTERIAL AO EXERCÍCIO .......................................... 29 3.1 RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DURANTE O EXERCÍCIO ISOTÔNICO ..................... 29 3.2 RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DURANTE O EXERCÍCIO ISOMÉTRICO .................. 31 3.3 HIPOTENSÃO PÓS-EXERCÍCIO .............................................................................................. 33 3.4 RESPOSTA CRÔNICA DA PRESSÃO ARTERIAL AO EXERCÍCIO ....................................... 35 3.5 TREINAMENTO FÍSICO E A PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL .......................... 35 4 3.6 EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS .............................................................................................................................. 36 3.7 MECANISMOS ENVOLVIDOS NA REDUÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS COM O TREINAMENTO FÍSICO .............................................................................. 39 3.8 RECOMENDAÇÕES GERAIS AO HIPERTENSO .................................................................... 39 3.9 O HIPERTENSO PODE PARTICIPAR DE ATIVIDADES ESPORTIVAS? ............................... 40 3.10 CARACTERÍSTICAS DO TREINAMENTO AERÓBIO COMO FATOR DE INFLUÊNCIA NA RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS ....................................................... 41 3.11 TREINAMENTO COM PESOS E A RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS .............................................................................................................................. 44 3.12 EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO EM HIPERTENSOS COM SÍNDROME METABÓLICA .............................................................................................................................. 44 3.13 RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE PROGRAMA DE TREINAMENTO PARA HIPERTENSOS .............................................................................................................................. 46 4 MEDIDA DA FREQUÊNCIA CARDÍACA EM REPOUSO E DURANTE O EXERCÍCIO .......... 47 4.1 COMO MEDIR A FREQUÊNCIA CARDÍACA? ......................................................................... 47 4.2 TIPOS DE APARELHO ............................................................................................................ 49 4.3 COMO MEDIR A PRESSÃO ARTERIAL DURANTE AS AULAS? ............................................ 51 5 4.4 MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL DURANTE O EXERCÍCIO ............................................... 54 4.4.1 Medida da pressão arterial durante os exercícios aeróbios ........................................................ 54 4.4.2 Medida da pressão arterial durante os exercícios com pesos .................................................... 55 4.5 IDENTIFICAÇÃO DE RESPOSTAS INADEQUADAS E PROCEDIMENTOS RECOMENDADOS .............................................................................................................................. 55 4.5.1 Identificando alterações na pressão arterial ................................................................................ 55 4.5.2 É necessário medir a pressão arterial de hipertensos em todas as sessões de exercício? ........ 57 4.6 SITUAÇÕES ESPECÍFICAS NO TRABALHO COM HIPERTENSOS ...................................... 57 4.6.1 Hipotensão postural .................................................................................................................... 57 4.7 CUIDADOS PARA CONQUISTAR E RETER ALUNOS ........................................................... 58 4.7.1 Aderência ao treinamento ........................................................................................................... 58 4.7.2 Fatores psicossociais .................................................................................................................. 60 4.7.3 Estratégias para tornar o ambiente mais atraente ao aluno ....................................................... 60 4.7.4 Recomendações práticas para aumentar a aderência ao treinamento ...................................... 63 4.7.5 Barreiras relacionadas a públicos específicos ...........................................................................63 6 5 PRESCRIÇÃO DE TREINAMENTO AERÓBIO ........................................................................ 65 5.1 CUIDADOS PRELIMINARES .................................................................................................... 66 5.1.1 Exame médico ............................................................................................................................ 66 5.1.2 Teste ergoespirométrico e ergométrico máximo ......................................................................... 66 5.2 COMPONENTES DA PRESCRIÇÃO ....................................................................................... 69 5.2.1 Componentes da sessão de treinamento .................................................................................... 69 5.3 PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS PELA FREQUÊNCIA CARDÍACA ....................................... 76 6 PRESCRIÇÃO DE TREINAMENTO COM PESOS .................................................................. 78 6.1 EXERCÍCIOS ISOMÉTRICOS ................................................................................................. 79 6.2 EXERCÍCIOS DINÂMICOS COM PESOS: ............................................................................... 79 6.3 PROGRESSÃO DO TREINAMENTO ....................................................................................... 81 6.4 CONTROLE DA SOBRECARGA CARDIOVASCULAR DURANTE O EXERCÍCIO .................. 81 6.5 TIPO DE EQUIPAMENTO E EXECUÇÃO DOS MOVIMENTOS .............................................. 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 83 7 1 INTRODUÇÃO A hipertensão arterial está entre as desordens cardiovasculares de maior incidência no Brasil. Essa constatação associada ao aumento de informação sobre os benefícios do exercício para a saúde cardiovascular tem levado um número cada vez maior de hipertensos a procurar por orientação para a realização de atividade física regular. Digamos que você seja procurado por um aluno com o seguinte perfil: hipertenso (diagnóstico há cinco anos); toma dois medicamentos (betabloqueador e vasodilatador); IMC 31 kg/m2, circunferência da cintura 104 cm; colesterol total 250 mg/dL; triglicérides 180 mg/dL; sedentário. É possível perceber no perfil apresentado uma série de aspectos que precisam ser melhorados pelo treinamento a começar pela própria hipertensão, mas o que é preciso saber para de fato atender bem esse aluno? Trata-se de um desafio apresentado com frequência em nosso meio e que levanta inicialmente a necessidade de conhecimentos específicos sobre: como avaliar os riscos e particularidades associados não só à hipertensão, mas também à sua associação com outras desordens e quais as implicações desses aspectos para a prática de exercícios. Para começar a atender essa necessidade, um bom começo é conhecer um pouco melhor a hipertensão arterial e o que ela representa para a saúde cardiovascular desse aluno. 8 2 HIPERTENSÃO ARTERIAL: DIAGNÓSTICO, CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS Uma pessoa é identificada como hipertensa quando apresenta pressão arterial mantida em valores maiores ou iguais a 140/90 mm Hg (para pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente), ou ainda quando faz uso de medicamento anti-hipertensivo. Conforme os valores avançam nos estágios I, II e III (tabela I) a gravidade da hipertensão aumenta. Tabela I - Valores de referência para diagnóstico e classificação da hipertensão arterial Classificação Pressão arterial sistólica Pressão arterial diastólica (mm Hg) (mm Hg) Ótima < 120 < 80 Normal <130 <85 Limítrofe 130-139 85-89 Estágio I - hipertensão 140-159 u 90-99 Estágio II - hipertensão 160-179 u 100-109 Estágio III - hipertensão > 180 u > 110 Hipertensão sistólica isolada >140 <90 FONTE: V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. São Paulo, 2006. Quanto à causa a hipertensão pode ser classificada como primária ou secundária. 9 2.1 HIPERTENSÃO PRIMÁRIA A hipertensão primária corresponde aproximadamente 95% dos casos de hipertensão arterial e caracteriza-se por ser idiopática, ou seja, não ter causa conhecida. A hipertensão arterial é considerada uma patologia multifatorial, por isso diversos mecanismos relacionados à regulação da pressão arterial podem apresentar alterações e contribuir para o seu desenvolvimento. A pressão arterial é resultante das modificações de fluxo sanguíneo e resistência à passagem do sangue nos vasos. Para entender melhor essas modificações é importante observar o comportamento de determinantes hemodinâmicos da pressão arterial como: débito cardíaco (volume de sangue bombeado por minuto pelo coração) e resistência vascular periférica (resistência que o sangue recebe durante sua passagem pelos vasos). Assim, a pressão arterial resulta da relação entre o volume de sangue que está sendo bombeado pelo coração e o calibre dos vasos. Portanto, quando alguém passa a ser hipertenso é porque ou o débito cardíaco ou a resistência vascular periférica estão aumentados, ou ainda ambos (figura 1). O aumento da resistência vascular periférica, característico na maior parte dos casos de hipertensão arterial estabelecida, deve-se a uma combinação de fatores neuro-humorais (interação entre sistema nervoso e a liberação de hormônios) e metabólicos, dentre estes, o aumento da atividade nervosa simpática que gera vasoconstrição, reduzindo o calibre das artérias; a ativação de hormônios pressores como a angiotensina II; perda da capacidade do endotélio (revestimento interno do vaso) para gerar vasodilatação e regular localmente o fluxo nas artérias. 10 FIGURA 1. POSSÍVEIS MODIFICAÇÕES NOS DETERMINANTES DA PRESSÃO ARTERIAL NA HIPERTENSÃO. FONTE: Do autor. 2.2 HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA A hipertensão secundária ocorre em cerca 5% dos casos da doença e resulta de uma desordem preexistente. Entre as desordens geradoras de hipertensão estão: as doenças renais que afetam o controle do volume sanguíneo e aumentam a atividade de sistemas reguladores da pressão arterial, como, o sistema renina-angiotensina e os tumores na medula e córtex da glândula suprarrenal. Pessoas que apresentam hipertensão secundária podem mais comumente ter dificuldade no controle da pressão arterial por resistência à ação de medicamentos anti- hipertensivos. 2.3 POR QUE A HIPERTENSÃO É UM RISCO PARA A SAÚDE CARDIOVASCULAR? Se um aluno se apresenta a você como hipertenso, fundamentalmente é porque ele não consegue manter uma pressão arterial abaixo de 140/90 mm Hg (ver tabela I) sem medicamento e/ou outras medidas. Nesse caso, para manter sua pressão dentro de limites Débito Cardíaco X Resistência Vascular Periférica RResistência vascular periférica Resistência à passagem do sangue Débito cardíaco Débito cardíaco Vol. de sangue bombeado por minuto PAA Hipertensão Pressão Arterial (PA) = Débito cardíaco X Resistência vascular periférica 11 considerados aceitáveis, esse aluno geralmente fará uso de medicamentos que poderão ser associados ou, em alguns casos, substituídos por intervenções como dieta e exercícios como veremos. A redução da pressão arterial é necessária para evitar os danos estruturais e, funcionais em diversos órgãos e tecidos (lesões de órgãos-alvo) causados pela hipertensão que justificam a sua importância como fator de risco cardiovascular. FIGURA 2. HIPERTENSÃO ARTERIAL E LESÃO DE ÓRGÃOS-ALVO HIPERTENSÃO FONTE: Disponível em: <www.sbh.org.br>.Acesso em: 29 dez. 2014. Dentre essas consequências destacam-se: a) Infarto agudo do miocárdio e hipertrofia ventricular esquerda; b) Acidente Vascular Cerebral (AVC); c) Disfunção renal. a) Hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio e hipertrofia ventricular esquerda Insuficiência Renal Doença Renovascular Angina do peito Angina Instável Infarto do Miocárdio Hipertrofia do VE Morte Súbita Insuficiência Cardíaca AVC Isquêmico AVC Hemorrágico 12 FIGURA 3 FONTES: Disponível em: <www.besthealth.com; www.mypharmacy.co.uk>. Acesso em: 29 dez. 2014. O fato de apresentar hipertensão arterial faz do seu aluno alguém com uma chance maior de ter um infarto, principalmente pela influência direta da elevação da pressão arterial sobre a obstrução coronária. O aumento da pressão arterial pode potencializar diretamente o desenvolvimento de lesões na parede das artérias, facilitando a deposição de gordura e formação da placa de ateroma. Além disso, a hipertensão arterial pode contribuir indiretamente para o desenvolvimento da placa de ateroma, pelo estímulo às alterações no sistema renina- angiotensina, que também serão facilitadoras do estabelecimento da placa. FIGURA 4. DESENVOLVIMENTO DA PLACA DE ATEROMA NA CORONÁRIA: PROCESSO FACILITADO PELA HIPERTENSÃO ARTERIAL. FONTE: Fisiopatologia Cardiovascular, Atheneu, 2000. 13 Outra desordem decorrente do efeito da hipertensão arterial sobre a função cardíaca é a hipertrofia ventricular esquerda. Essa desordem se desenvolve a partir da sobrecarga imposta ao coração por níveis elevados de pressão arterial, gerando espessamento da parede do ventrículo e redução da câmara cardíaca, além de um processo degenerativo do miócito (célula muscular cardíaca) e do acúmulo anormal de colágeno fibrilar no espaço intersticial. Essas alterações podem ter como consequência a presença de arritmias, o desenvolvimento de insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio. FIGURA 5. HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA DESENCADEADA PELA HIPERTENSÃO ARTERIAL. FONTES: Disponível em: <www.aurorahealthcare.org; http://commons.wikmedia.org>. Acesso em: 13 jan. 2015. b) Acidente vascular cerebral (AVC) e hipertensão arterial FIGURA 6 FONTES: Disponível em: <www.besthealth.com; www.zmscience.com>. Acesso em: 13 jan. 2015. 14 A hipertensão arterial é o principal fator de risco para o acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. A elevação da pressão contribui para o aparecimento de alterações nos vasos cerebrais, tais como: ruptura de microaneurismas, arteriosclerose (enrijecimento da parede dos vasos), necrose dos vasos ou ruptura de veias. c) Hipertensão arterial e disfunção renal. FIGURA 7 FONTE: Disponível em: <www.besthealth.com; www.aic.cuhk.edu.hk>. Acesso em: 13 jan. 2015. O Aumento da pressão de perfusão no rim, presente na hipertensão, provoca uma série de alterações que comprometem as funções do néfron a (unidade funcional do rim), desencadeando espessamento da parede dos vasos renais, esclerose desses vasos, atrofia tubular, entre outros, em um processo conhecido como nefroesclerose. Essas modificações irão comprometer funções renais importantes como: filtração, absorção, reabsorção e excreção de água, eletrólitos e outras substâncias, tornando o rim insuficiente. Tomando por base o maior risco cardiovascular apresentado pelo hipertenso em razão das consequências conhecidas da hipertensão arterial, tornam-se necessárias medidas por parte do professor no que se refere à orientação do aluno para a importância de manter a pressão arterial em níveis aceitáveis e com baixo risco para a realização de exercício, recomendando procedimentos prévios ao início em um programa de treinamento, medindo periodicamente a 15 pressão arterial e também estimulando a adesão ao tratamento medicamentoso associado ao treinamento físico sempre que for necessário. 2.4 DESORDENS ASSOCIADAS À HIPERTENSÃO AUMENTAM O RISCO CARDIOVASCULAR PARA O HIPERTENSO Voltando ao caso do aluno que lhe procurou, o seu perfil reflete bem a média dos hipertensos encontrados na prática, ou seja, apresenta outras desordens associadas à hipertensão arterial. A maior parte desses fatores está relacionada a hábitos de vida inadequados que se somam aos chamados fatores de risco não modificáveis como: idade, sexo e história familiar. Portanto, é importante que você conheça bem as implicações dessas associações. 2.5 HIPERTENSÃO ARTERIAL E OBESIDADE FIGURA 8 FONTE: Disponível em: <www.acponline.org>. Acesso em: 13 jan. 2015. 16 Embora não tenha sido estabelecida uma relação de causa e efeito com a hipertensão arterial, a obesidade tem se mostrado fortemente relacionada ao seu desenvolvimento. Aspectos comuns às duas desordens como a resistência à insulina e o aumento na absorção e retenção renal de sódio podem explicar, pelo menos em parte, esta relação. Contudo, existem algumas particularidades que devem ser consideradas. No estudo de Framingham, observou-se que quanto maior a dobra cutânea subescapular maior era o risco para o desenvolvimento da hipertensão em homens e mulheres até os 40 anos. De fato, raramente a hipertensão acomete pessoas magras até os 40 ou 50 anos. Além disso, a obesidade em geral coexiste com outras disfunções metabólicas como a alteração nos níveis de colesterol, aumentando ainda mais o risco cardiovascular. 2.6 HIPERTENSÃO ARTERIAL E COLESTEROL FIGURA 9 FONTE: Disponível em: <http://acponline.com; http://prohealthresourses.com>. Acesso em: 13 jan. 2015. As lipoproteínas são fundamentais para o desenvolvimento da placa de ateroma nas coronárias que pode desencadear o infarto. Sendo assim, a presença de níveis de colesterol alterados em associação à hipertensão arterial, aumenta o risco cardiovascular. O HDL LDL Triglicérides Col. total 17 desenvolvimento da placa de ateroma sofre, reconhecidamente, influência direta das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), um dos componentes do colesterol. Por outro lado, outro componente do colesterol, a lipoproteína de alta densidade (HDL), exerce uma função benigna, removendo o excesso do colesterol dos tecidos, diminuindo assim o risco cardiovascular. De maneira geral o risco aumenta quando há presença de níveis elevados de colesterol e/ou alta concentração de LDL com baixa concentração de HDL no sangue. Altos níveis de colesterol estão relacionados à maior incidência de doença coronariana e de suas complicaçõesErro! Fonte de referência não encontrada.1. Medidas como redução de peso e o exercício podem aumentar o HDL colesterol, reduzindo, portanto, o risco cardiovascular. FIGURA 10 FONTE: Disponível em: <http://medicineworld.org>. Acesso em: 13 jan. 2015. 2.7 HIPERTENSÃO ARTERIAL, DIETA E SÓDIO A natureza do hábito alimentar tem sido apontada como agravante, tanto para hipertensão como para aterogênese (formação de placa de ateroma nos vasos). Assim, dietas ricas em colesterol, gorduras, saturadas, calorias e, possivelmente, proteína animal aumentam a concentração de lipídios no sangue e o risco cardiovascular, enquanto que dietas ricas em fibras e, possivelmente, proteína vegetal diminuem esses parâmetros. Recomendações de especialistas internacionais também incluem a restrição na ingestão de sódio para menos de 100 18 mmol/dia (equivalente a < 2,3 g de sódio ou < 6 g de cloreto de sódio) em função de sua sobrecarga prejudicar a função renal e o controle da pressão arterial. Pode-se perceber que a dieta inapropriada para o hipertenso pode ter ação direta sobre o agravamento da hipertensão arterial como acrescentar fatores que aumentam o seu risco potencial². 2.8 A HIPERTENSÃO NO IDOSO Como vimos anteriormente,o risco associado à hipertensão não difere entre jovens e idosos. Entretanto, a presença dessa patologia associada às alterações, decorrentes do processo de envelhecimento assumem características distintas quanto à evolução e cuidados. Como existe uma boa chance de haver entre seus alunos hipertensos aqueles com mais de 60 anos, vale considerar alguns aspectos. FIGURA 11 FONTE: Disponível em: <www.montefiori.org>. Acesso em: 13 jan. 2015. É mais comum em idosos hipertensos um maior aumento da pressão arterial sistólica de repouso, sendo mais frequentes os casos de hipertensão sistólica isolada (quando há elevação somente da pressão arterial sistólica). Essa manifestação da doença ocorre em função de um aumento da rigidez arterial, em parte explicado pelo envelhecimento, que se soma a 19 outros fatores para aumentar a pressão arterial. A variabilidade da pressão arterial também aumenta com a idade, tornando mais comum os casos de hipertensão lábil (grande variação nos valores de um momento para o outro). Após os 65 anos, embora ainda haja um risco alto de Acidente Vascular Cerebral (AVC), é mais comum à presença de obstrução coronária em hipertensos idosos. 2.9 HIPERTENSÃO ARTERIAL E APNEIA DO SONO A apneia caracteriza-se por momentos em que a pessoa para de respirar durante o sono e ocorre em 2 a 4% da população e 50% das pessoas que manifestam este problema são hipertensas, sendo ainda maior nos hipertensos com IMC > 27 kg/m2, ou seja, quanto mais acima do peso maior a chance de apresentar apneia do sono. Essas pessoas relatam ronco, percepção de apneia, respiração irregular, agitação durante o sono e cansaço crônico pela manhã. O impacto da apneia do sono sobre as doenças cardiovasculares está relacionado em boa parte ao aumento da pressão arterial e associado à resistência à insulina, disfunção endotelial, arritmias, insuficiência cardíaca, infarto e AVC. A apneia do sono figura entre os fatores que contribuem para o estabelecimento da hipertensão arterial como fator associado à obesidade e também contribui isoladamente para a elevação crônica da pressão arterial. Como a falta de sono pode, por si, elevar a pressão arterial, os episódios de sono de curta duração e uma baixa qualidade do sono têm uma relação direta com o desenvolvimento da hipertensão. O tratamento mais utilizado para este problema é o uso de um aparelho chamado CEPAP (continuos positive airway pressure), que provoca uma pressão positiva, facilitando a expiração, eliminando a presença da apneia e reduzindo a pressão arterial de sono e de vigília. Além disso, a simples redução do peso melhora a qualidade do sono de quem apresenta apneia. Portanto, é recomendável ficar atento, principalmente aos alunos obesos ou com sobrepeso que relatem os sintomas mencionados e orientá-los a buscar tratamento quando necessário. 20 2.10 O ALUNO HIPERTENSO PODE APRESENTAR SÍNDROME METABÓLICA O termo síndrome metabólica significa a presença associada de pelo menos três dos cinco fatores de risco cardiovascular apresentados na tabela II. No caso específico de hipertensos, trata-se da presença de dois ou mais desses fatores associados à hipertensão. Tabela II. Critérios clínicos para identificação da síndrome metabólica Circunferência da cintura > 102 cm para homens > 88 cm para mulheres Pressão arterial > 130 mm Hg para pressão arterial sistólica e/ou > 85 mm Hg para pressão arterial diastólica Glicemia de jejum > 110 mg/dL ou 6,1 mmol/L Triglicérides > 150 mg/dL ou 1,69 mmol/L HDL colesterol < 40 mg/dL (1,04 mmol/L) para homens < 50 mg/dL (1,29 mmol/L) para mulheres Adaptado de Expert panel on detection, avaluation, and treatment of high blood cholesterol in adult (adult treatment panel II), 2000. 21 Não por acaso estamos trabalhando com esse perfil como exemplo de aluno. A tendência que observamos no Brasil está presente nas grandes cidades do mundo. Nos Estados Unidos a síndrome metabólica incide sobre 23,7% da população adulta, aumentando quatro vezes o risco de doença cardíaca fatal e cinco a nove vezes o risco de desenvolver diabetes, entre outros. Mas, é importante lembrar que o exercício pode modificar, além da pressão arterial, todos os demais fatores envolvidos na síndrome metabólica, cabendo a você a orientação do aluno sobre esses aspectos e o direcionamento do programa de treinamento para atender às suas necessidades específicasErro! Fonte de referência não encontrada.1. 2.11 O PAPEL DO EXERCÍCIO FÍSICO NA IDENTIFICAÇÃO DE RISCO E NA PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO Apesar de o hipertenso apresentar maior risco de uma resposta exacerbada da pressão arterial durante o exercício, a chamada resposta hiper-reativa da pressão arterial pode também ser apresentada por normotensos (indivíduos com pressão arterial em níveis normais). A tabela III mostra os limites para elevação da pressão arterial durante um teste de esforço. Por esse critério considera-se elevação acentuada quando a pressão arterial sistólica for > 220 mm Hg e/ou quando a pressão arterial diastólica apresentar elevação > 15 mm Hg. Tabela III. Parâmetros para identificação de elevação acentuada da pressão arterial durante teste de esforço Resposta hiper-reativa da pressão arterial durante teste de esforço Pressão arterial sistólica Pressão arterial diastólica > 220 mm Hg elevação > 15 mm Hg FONTE: II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste Ergométrico, 2001Erro! Fonte de referência não encontrada.3. 22 A proposta de considerar o aumento exagerado da pressão arterial durante o exercício como um risco para que normotensos passem a ser hipertensos no futuro, baseia-se na possibilidade de desajustes em mecanismos envolvidos no controle da pressão arterial que se manifestariam durante uma situação de estresse como a do exercício, produzindo valores de pressão arterial, muito elevados, mesmo que em repouso esses valores sejam normais. Os mecanismos propostos como desencadeadores da resposta hiper-reativa da pressão arterial durante o exercício são aqueles relacionados a uma menor vasodilatação que sugere uma maior resistência vascular periférica, característica em hipertensos e que já poderia estar presente nesses normotensos. Nessas condições a elevação do débito cardíaco durante o exercício contribuiria não só para elevar a pressão arterial sistólica, mas também a diastólica como ocorre na hipertensão. Entretanto, existem ainda algumas divergências quanto à metodologia utilizada para a medida e a interpretação do comportamento da pressão arterial durante um teste de esforço. Por outro lado, apesar das controvérsias há boas evidências de que a resposta hiper-reativa observada em esforço aumenta de três a quatro vezes o risco de normotensos se tornarem hipertensos12. Sendo assim, sempre que você encontrar esse tipo de resposta em um teste de um aluno interprete como um alerta sobre uma maior possibilidade desse aluno apresentar elevação acentuada da pressão arterial durante as sessões, mas principalmente sobre a necessidade de acompanhamento médico e de possíveis mudanças nos hábitos de vida, incluindo a aderência a um programa de treinamento para tentar, na medida do possível, melhorar a resposta da pressão arterial ao exercício e evitar a confirmação da tendência ao desenvolvimento da hipertensão. 2.12 O TREINAMENTO FÍSICO PODE CONTRIBUIR PARA A PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Além de servir à avaliação de risco para o aparecimento da hipertensão como vimos anteriormente, o exercícioguarda também uma relação com a prevenção da doença. A primeira 23 pista desta influência está na presença de altos índices de sedentarismo em populações de hipertensos. Com base nesta verificação a relação entre o nível de exercício realizado ao longo da vida e a incidência de hipertensão foi testada por Paffenbarger e colaboradores. Os autores observaram que quanto maior o nível de exercício físico realizado durante a vida, menor era a incidência de hipertensão, ou seja, se alguém tivesse relatado ter gasto em média 500 kcal/semana somente com exercício ao longo de algumas décadas tinha muito mais chance de ser hipertenso do que os que relataram ter gasto de 500 a 2000 kcal/semana ou mais. E o mais interessante é que os que se exercitaram menos tiveram maior incidência de hipertensão mesmo que não apresentassem história familiar da doença (pai, mãe ou irmãos hipertensos), ao passo que entre os que se exercitaram mais houve menos casos de hipertensão, incluindo os que apresentavam hipertensão na família. 2.13 A AÇÃO DE MEDICAMENTOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS SOBRE PRESSÃO ARTERIAL FIGURA 12 FONTE: Disponível em: <www.farmacorner.com>. Acesso em: 13 jan. 2015. 2.13.1 Substâncias que podem aumentar a pressão arterial O uso de certas substâncias presentes na alimentação ou em medicamentos e a exposição a agentes químicos podem elevar a pressão arterial. Por isso, para uma abordagem e orientação adequadas, torna-se importante o conhecimento sobre essas substâncias e suas ações quando se trabalha com alunos hipertensosErro! Fonte de referência não encontrada.1. 24 Abaixo, estão listadas algumas substâncias que podem ter ação hipertensora, desencadeando ou potencializando a elevação da pressão arterial. Substâncias associadas à elevação da pressão arterial Drogas prescritas Cortisona e outros esteroides - córtico e mineralo; ACTH Estrógenos – contraceptivos orais Anti-inflamatórios não esteroidais Fenilpropanolaminas e análogos Ciclosporina e tacrolimos Eritropoetina Sibutramina Ketamina Desfluorana Carbamazepina Bromocriptina Metocloropramida Antidepressivos (principalmente venlafaxina) Buspirona Combinação Clonidina e Betabloqueador Clozapina Entorpecentes e outros “produtos naturais” Cocaína “Ecstasy herbal” e outras fenilpropanolaminas análogas Nicotina Esteroides anabólicos Narcóticos Metilfenidata Fenciclidina Ketamina Ergotaminas e outras preparações análogas Substâncias ingeridas na alimentação 25 Cloreto de sódio Álcool Alimentos contendo Tiamina (com MAO-I) Elementos químicos e outras substâncias industriais Lead Mercúrio Tálio e outros metais pesados Sais de lítio e outros cloretos O uso ou a exposição do aluno a substâncias como essas requerem muitas vezes que você auxilie no estímulo à modificação ou eliminação de alguns hábitos de vida. 2.13.2 Efeitos potenciais dos medicamentos anti-hipertensivos para o exercício e a performance esportiva Os medicamentos anti-hipertensivos controlam a pressão arterial por ação farmacológica, alterando mecanismos e produzindo outras respostas cardiovasculares e metabólicas que podem trazer implicações para a prática de exercícios³. O quadro I apresenta a relação entre o tipo de medicamento em uso e seus potenciais efeitos para o exercício. Quadro I Medicamentos anti-hipertensivos: ações e potenciais efeitos no exercício Classes de anti-hipertensivos Efeitos hemodinâmicos Efeitos metabólicos e no sist. nervoso central Potenciais efeitos sobre o exercício Diurético Hydroclorothiazida # Perda urinária de potássio (K+) e magnésio (Mg2+) Durante exercício: hipovolemia (redução no volume plasmático) Hipotensão postural (redução acentuada da pressão na posição 26 ortostática) Diurético Lasix Redução no volume plasmático Aumento em colesterol, glicose e ácido úrico plasmáticos Câimbras e fraqueza muscular Betabloqueadores Beta 1 e 2 Não seletivos (propranolol) 20 a 30% de redução na frequência cardíaca (FC) Redução na contratilidade cardíaca Aumento da resistência vascular periférica (RVP) no músculo e pele Inibição de lipólise e glicogenólise Aumento de colesterol total e redução de HDL colesterol Redução no VO2 max. devido à diminuição do débito cardíaco e fluxo sanguíneo muscular Redução da mobilização de substrato Fadiga precoce Possibilidade de bronquioespasmo Betabloqueadores Beta 1 seletivo (etanolol, bisoprolol) Menor efeito na resistência vascular periférica Menor inibição da lipólise e glicogenólise Menor efeito sobre o músculo liso dos brônquios Ação combinada (beta/alfa1) (labetalol) Redução da resistência vascular periférica e menor efeito sobre fluxo sanguíneo muscular # # Agentes bloqueadores alfa- adrenérgicos Ação Periférica (alfa 1) (prazosina, terazosina) Redução da RVP Hipotensão postural Importante após dose oral. Pequena limitação da elevação da PA durante o exercício Pequenas modificações no metabolismo VO2 max. preservado Pouco efeito sobre o treinamento ou performance esportiva 27 Ação central (alfa 2) (clonidina, guanabens) Redução da RVP Menor redução na frequência cardíaca # VO2 max preservado Pouco efeito sobre o treinamento ou performance esportiva Vasodilatadores Diretos (hydralazina, minoxidil) Redução da RVP Aumento da FC Aumento reflexo do débito cardíaco (DC) Dor de cabeça Retenção de líquido por ativação do sistema renina- angiotensina Pode dificultar a chegada de sangue para o músculo devido à vasodilatação generalizada Vasodilatadores continuados Bloqueadores de canal de cálcio (nifedipina, diltiazem e verapamil) Redução RVP Aumento na FC (nifedipina) Redução na FC (verapamil) Dores de cabeça Retenção de líquido (nifedipina) Constipação (verapamil) VO2 max geralmente preservado Pode dificultar a chegada de sangue no músculo devido à vasodilatação generalizada Inibidores de enzima conversora de angiotensina Captopril, enalapril, fosinopril, etc. Redução RVP Aumento FC Pouco efeito sobre o metabolismo Potencial para aumento do potássio # 2.13.3 Uso de medicamentos anti-hipertensivos, prescrição e controle de exercícios Problemas mais frequentes na prática e cuidados específicos Betabloqueadores Conforme descrito no quadro I os agentes betabloqueadores reduzem a pressão arterial pela redução da frequência cardíaca (FC) e do débito cardíaco (DC), o que irá levar os usuários desses medicamentos a apresentar FC de repouso muito baixa e aumento mais modesto durante o exercício. 28 O problema está naqueles casos em que o aluno realiza um teste ergométrico antes de iniciar um programa de treinamento sem o uso do medicamento (por recomendação médica) e vai realizar o treinamento sob uso desse medicamento. Nesse caso, a prescrição realizada com base na FC máxima atingida no teste superestima a FC de treino ou zona-alvo, tornando difícil o controle. A medida mais apropriada para resolver esse problema é que você recomende ao aluno a realização do teste sob efeito do medicamento para que o comportamento da FC no exercício esteja de acordo com a situação em que ele irá treinar com você (usando o medicamento). Se isso não for possível, você pode ainda fazer uso de uma correção descrita na tabela V, em que você ajusta os valores de frequência cardíaca considerados para prescrição de acordo com a dosagem diária do medicamento. Tabela V. Tabela de correção pela dosagem de betabloqueador para frequência cardíaca de treino a partir de teste ergométrico realizado sem o uso do medicamento. Betabloqueador em dosagem equivalente ao propranololRedução percentual sobre a frequência máxima do teste 10 mg 25 mg 40 mg 50 mg 80 mg 100 mg 125 mg 150 mg 160 mg 200 mg 11% 12% 14% 15% 18% 20% 22% 25% 26% 30% Adaptado de I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular, 19973. Vasodilatadores 29 O uso desses anti-hipertensivos requer cuidados maiores principalmente com paradas repentinas para evitar desconfortos como desmaios e tonturas pela somação do efeito vasodilatador do medicamento com o do exercício após a sua realização³. Finalizando, os tópicos discutidos, os quais permitem ao profissional que atua na orientação de atividade física para a saúde uma visão inicial da excelente oportunidade que a sua prática diária lhe oferece para auxiliar no tratamento e também na prevenção da hipertensão arterial, tanto pelos programas propriamente ditos como pelas orientações e recomendações específicas baseadas em boa parte no que vimos até aqui. 3 RESPOSTA AGUDA DA PRESSÃO ARTERIAL AO EXERCÍCIO O comportamento da pressão arterial durante o exercício é um importante referencial da sobrecarga imposta ao sistema cardiovascular e de especial interesse para quem trabalha com hipertensos, para os quais aumentos exagerados da pressão arterial são representativos de risco 2. Mas para que você tome medidas preventivas ou mesmo para restabelecer valores alterados é necessário inicialmente saber o que é considerado uma resposta normal da pressão arterial durante o exercício. Quando você coloca um aluno para realizar uma determinada atividade ou quando esse aluno realiza um teste ergométrico, uma série de alterações cardiovasculares serão desencadeadas para levar mais oxigênio e nutrientes para os músculos em atividade, os quais terão sua taxa metabólica aumentada de acordo com o nível de intensidade ao qual estiverem sendo solicitados. O comportamento da pressão arterial nessa situação será resultante dessas alterações. Conceitualmente, resposta aguda refere-se às alterações ocorridas durante ou após uma única sessão de exercício e pode ser influenciada por uma série de fatores relacionados às características do exercício como veremos. 3.1 RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DURANTE O EXERCÍCIO ISOTÔNICO 30 Para facilitar a compreensão podemos partir da análise do comportamento da pressão arterial durante um teste ergométrico máximo com incremento progressivo de carga até a exaustão. Nessas condições, as variáveis determinantes da pressão arterial (débito cardíaco e resistência vascular periférica) modificam-se sensivelmente. Com o aumento da taxa metabólica muscular o débito cardíaco necessitará não só ser aumentado como redistribuído entre os diferentes tecidos e órgãos. O aumento do débito cardíaco (DC) ocorre pelo aumento da frequência cardíaca (FC) e também pelo aumento do volume sistólico ou de ejeção (quantidade de sangue bombeada por batimento), dando conta de que o coração está batendo mais vezes e com mais força. Os valores máximos do DC podem ser 4 a 5 vezes maiores do que os de repouso em não atletas e chegar a 8 vezes em atletas de elite. A redistribuição do DC é caracterizada pelo direcionamento de uma maior quantidade de sangue para o tecido muscular que tem sua demanda metabólica aumentada. Essa alteração é obtida a partir de ajustes distintos no fluxo sanguíneo para o músculo e para outros tecidos com menor demanda metabólica. Dessa forma, nos vasos musculares predomina a vasodilatação que resulta de uma série de alterações no controle local (no próprio vaso) do fluxo sanguíneo mediadas principalmente pela ação de metabólitos da contração muscular como adenosina, ácido lático, potássio, etc., e do óxido nítrico, um potente vasodilatador liberado pelo endotélio, entre outros. Enquanto nos tecidos menos ativos há o predomínio de vasoconstrição que tem como principal desencadeador o aumento da atividade do sistema nervoso simpático e contribui de forma significativa para que mais sangue chegue até o músculo em atividade. Portanto, durante o exercício isotônico o ajuste adequado do fluxo sanguíneo inclui aumento do débito cardíaco e redução da resistência vascular periférica, que influenciarão de forma bastante característica o comportamento da pressão arterial2. A pressão arterial sistólica (PAS) por ser medida no pico de cada sístole é mais influenciada pelo débito cardíaco. Sendo assim, do repouso para o exercício máximo, essa variável irá aumentar até certo nível de forma quase linear e se manterá em valores menores do que 220 mm Hg, por influência da vasodilatação aumentada no músculo que irá reduzir a resistência contra a qual o coração irá trabalhar 1,2. 31 Já a pressão arterial diastólica (PAD), por representar o valor mínimo obtido no sistema durante a diástole será mais influenciada pela resistência vascular periférica, apresentando um comportamento de manutenção (+ 10 mm Hg) ou de redução de seus valores. Esse é o comportamento normal esperado da pressão arterial durante o exercício e indica que o ajuste do fluxo sanguíneo periférico está adequado e o coração não está excessivamente sobrecarregado. FIGURA 13. COMPORTAMENTO DA PRESSÃO ARTERIAL EM EXERCÍCIO PROGRESSIVO FONTE: Adaptado de Mcardle et. al., 2003. Agora imagine que você está treinando um aluno em uma atividade aeróbia prolongada, realizando um exercício em uma mesma carga por um período relativamente longo. Nessa situação, do repouso até que o exercício se estabilize em uma carga as respostas de pressão arterial e frequência cardíaca seguem na mesma linha do exercício progressivo. No entanto, a partir do momento em que o exercício é mantido em uma mesma carga, essas variáveis também não irão apresentar grandes alterações. Essa estabilização segue o princípio do estado-estável que nesse momento ocorre em todos os sistemas envolvidos, tendo como principal justificativa o equilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio no músculo2. 3.2 RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DURANTE O EXERCÍCIO ISOMÉTRICO 0 20 40 60 80 100 120 140 160 1 2 3 4 5 % VO2 max 0 50 100 P A m m H g PAS PAM PAD 32 A contração mantida com ausência de movimento que caracteriza o exercício isométrico gera um aumento da pressão intramuscular e compressão dos vasos que irrigam a musculatura ativa, produzindo importantes alterações bioquímicas locais, entre elas: redução da concentração de O2 (PO2), aumento da concentração de CO2 (PCO2) e redução do pH. A tensão muscular sobre os vasos e as alterações bioquímicas no sangue estimula de forma distinta o sistema cardiovascular para o desencadeamento das alterações que se seguem. A compressão exercida pelos músculos sobre os vasos diminui o seu calibre, dificultando a chegada de sangue ao músculo e sensibiliza mecanorreceptores musculares, que sinalizarão para o sistema nervoso central. A situação da musculatura ativa nesse momento é caracterizada essencialmente por uma grande dificuldade de chegada de sangue que prejudicará também o retorno venoso. Essa redução, por sua vez mobilizará o controle barorreflexo da pressão arterial. As respostas, tanto mediadas pela ação dos mecanorreceptores quanto pelo controle barorreflexo serão o aumento da frequência cardíaca e a vasoconstrição. Outro fator importante são as alterações na composição do sangue (redução de PO2, aumento de PCO2 e redução de pH), que acionam um mecanismo conhecido como metaborreflexo que ocorre a partir da sensibilização de quimiorreceptores situados nos músculos e vasos, cujo resultado final é vasoconstrição. A vasoconstrição gerada em resposta aos estímulos químicos e mecânicos terão como agente comum o aumento da atividade do sistema nervoso simpático que se manterá aumentada enquanto esses estímulos estiverem presentes. Note que, apesar dos estímulosseguirem vias diferentes, o resultado final é o mesmo: vasoconstrição e aumento da resistência vascular periférica, que irá consequentemente produzir aumentos mais pronunciados tanto da pressão arterial sistólica quanto da pressão arterial diastólica, diferentemente, do que é observado durante o exercício isotônico. Nesse caso, o marcado aumento na resistência vascular periférica irá dificultar a manutenção do débito cardíaco e a oferta de sangue para o músculo, além de aumentar o trabalho cardíaco. Pode-se dizer, portanto, que nessas condições o sistema cardiovascular está sob uma sobrecarga excessiva, aumentando o risco de acometimentos, sobretudo para hipertensos. 33 FIGURA 14. COMPORTAMENTO DE VARIÁVEIS HEMODINÂMICAS DURANTE O EXERCÍCIO ISOTÔNICO E ISOMÉTRICO. Adaptado de Hanson and Huckert, 19954. Legenda: PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; RVP: resistência vascular periférica; DC débito cardíaco; FC: frequência cardíaca. 3.3 HIPOTENSÃO PÓS-EXERCÍCIO A hipotensão pós-exercício (HPE) é caracterizada pela observação de valores de pressão arterial mais baixos após a realização de uma sessão de exercício do que aqueles observados antes de sua realização e que se mantêm dessa forma por um período prolongado. A HPE, caracteristicamente dura de vários minutos até horas após o exercício e tem uma magnitude média esperada de 8/9 mm Hg em normotensos, 14/9 em hipertensos limítrofes e 10/7 em hipertensos, para as pressões: sistólica e diastólica respectivamente. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 1 2 3 4 5 0 20 40 60 80 100 120 140 160 1 2 3 4 5 0 2 4 6 8 10 12 1 2 3 4 5 0 2 4 6 8 1 0 1 2 1 2 3 4 5 0 5 10 15 20 25 30 1 2 3 4 5 0 5 10 15 20 25 1 2 3 4 5 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 1 2 3 4 5 0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 1 2 3 4 5 Exercício Isotônico Exercício Isométrico PA RVP DC FC PAS PAD 34 Alguns fatores relacionados às características de quem realizou o exercício e ao tipo, intensidade e duração do exercício podem influenciar essa redução da pressão arterial, como segue: a) população: a hipotensão pós-exercício é maior quanto maiores forem os valores de pressão arterial iniciais, por isso, hipertensos em geral apresentam resposta hipotensora pós-exercício mais pronunciada do que normotensos. b) tipo de exercício: o fenômeno da hipotensão pós-exercício vem sendo observado na maior parte dos estudos frente aos exercícios aeróbios. Embora alguns autores tenham estudado esse fenômeno mais recentemente, utilizando exercícios com pesos, não existem grandes evidências de redução prolongada da pressão arterial após esses exercícios. É importante lembrar que existe e é bastante conhecida à redução da pressão arterial que ocorre nos primeiros segundos ou minutos após os exercícios com pesos, decorrente de uma oclusão total ou parcial dos vasos durante o exercício que ocasionará uma resposta vasodilatadora logo após sua execução. Entretanto, essa situação não se caracteriza como hipotensão pós-exercício pela sua curta duração. c) Duração e intensidade do exercício: a redução da pressão arterial após o exercício tende a ser maior quanto maior for a sua duração, no entanto, sua relação com a intensidade não está muito bem estabelecida 6 Apesar de alguns aspectos relativos à HPE como a sua relação com intensidade, tipo e duração do exercício e também os mecanismos predominantemente envolvidos não estarem muito bem esclarecidos, a redução da pressão arterial e a manutenção em níveis mais baixos após o exercício por um tempo prolongado é, até certo ponto, benéfica, principalmente para o hipertenso, havendo, inclusive indícios de sua contribuição para o restabelecimento da hipovolemia observada durante o exercício sem reidratação. Na prática o conhecimento sobre as características da HPE será também útil para a adoção de medidas preventivas em relação à somação do efeito hipotensor do exercício com o dos medicamentos que pode desencadear desconfortos nas sessões de treinamento ou mesmo algumas horas após, como tontura e mal-estar conforme descrito anteriormente. 35 3.4 RESPOSTA CRÔNICA DA PRESSÃO ARTERIAL AO EXERCÍCIO A resposta crônica ao exercício está relacionada ao efeito da prática regular de exercícios ao longo do tempo, que, assim como a resposta aguda, poderá ser influenciada pelas características do exercício e também pelas diferenças nos perfis apresentados por hipertensos. 3.5 TREINAMENTO FÍSICO E A PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL O exercício guarda uma relação inversa com o aparecimento da hipertensão arterial, ou seja, quanto mais as pessoas se exercitam menor a chance de apresentarem a doença. Essa relação foi demonstrada em um estudo de Paffenbarger e colaboradores, no qual foram cruzadas informações sobre o nível de atividade física, mantido por 14.000 indivíduos ao longo de algumas décadas de vida e a incidência de hipertensão entre esses indivíduos. Assim, entre os que relataram um gasto estimado de 2000 quilocalorias por semana ou mais somente com exercícios, houve menor incidência de hipertensão arterial do que entre aqueles que se exercitaram menos, mesmo quando apresentavam história familiar de hipertensão, sugerindo também a contribuição do treinamento físico para minimizar a predisposição genética ao seu desenvolvimento. As orientações relativas ao diagnóstico e classificação da hipertensão arterial consideram valores entre 120 e 139 mm Hg para pressão arterial sistólica e/ou entre 80 e 89 mm Hg para a pressão arterial diastólica como pré-hipertensão, recomendando-se a partir desses valores medidas não farmacológicas relacionadas ao estilo de vida, incluindo dieta e exercício para prevenir o aparecimento da hipertensão arterial. Nesse caso, o efeito hipotensor e preventivo do treinamento físico irá se somar a aspectos como a redução do peso corporal e a melhora no perfil lipídico para reduzir o risco cardiovascular. 36 3.6 EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS Ao tomar contato com o seu aluno hipertenso é comum você se deparar com uma grande expectativa de redução da pressão arterial por parte desse aluno. O que se justifica pelo fato de o exercício, principalmente o aeróbio, ter sua eficácia comprovada em diminuir a pressão arterial de hipertensos, de tal forma que é recomendado entre as medidas não farmacológicas de tratamento da hipertensão arterial por diversas instituições de saúde nacionais e internacionais9 e também pela ampla divulgação nos meios de comunicação sobre as benesses do exercício para o hipertenso. Mas, é importante lembrar que esse efeito será variável e dependerá de diversos aspectos como veremos. A redução da pressão arterial clínica (medida em consultório) de hipertensos, com o treinamento aeróbio é bastante conhecida e significativa para a melhora na saúde cardiovascular. Isso significa que a diminuição que você obtiver com um programa de treinamento para o seu aluno hipertenso irá reduzir substancialmente a possibilidade da presença de consequências da hipertensão arterial. Figura ao lado. Redução da pressão arterial de hipertensos após treinamento aeróbio. Legenda. PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica FONTE: adaptado de Jennings et. al. 198611. A figura 14 apresenta os dados de um estudo que realizamos com hipertensos no qual foi demonstrada a redução gradativa da pressão arterial medida no início de cada sessão como efeito do treinamento aeróbio. Além dos valores de pressão arterial média e diastólica apresentarem uma tendência a redução durante o período de treinamento, esses valores tornaram-se significativamentemenores do que os iniciais na trigésima quarta sessão de treinamento (após aproximadamente três meses), mantendo-se mais baixos até os quatro meses, quando o estudo foi finalizado. 80 90 100 110 130 140 150 160 B 4 6 12 PAS PAD Tempo em meses PA mm Hg Efeito sobre a medida clínica 8 120 37 FIGURA 14. EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO NA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS AO LONGO DE UM PERÍODO DE TREINAMENTO. FONTE: Teixeira L. et. al. Anais do XIX Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2001. Legenda. PAD: pressão arterial diastólica; PAM: pressão arterial média; * estatisticamente significativo (p<0,05). O aspecto mais relevante desse estudo é que no momento em que foi medida a pressão arterial (ao início de cada sessão de exercício) os alunos encontravam-se expostos aos estímulos do ambiente de treinamento (ruídos, temperatura não controlada e situações cotidianas diversas), mais próximo, portanto, do que se encontra no dia a dia, sugerindo que esse benefício possa se estender para a maior parte das situações vivenciadas nas suas rotinas diárias e diminuir assim os riscos associados à elevação da pressão arterial. Ao se engajar em um programa de treinamento estima-se que o hipertenso a princípio possa reduzir sua pressão arterial como efeito isolado do exercício aeróbio em torno de 7,4/5,8 mm Hg para pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente. Considerando que em sua maioria os alunos hipertensos fazem uso de algum medicamento anti-hipertensivo, nesse caso as reduções médias adicionais previstas são de 2,6/1,8 mm Hg. Para os exercícios com pesos, os valores médios gerais esperados são mais modestos (3,5/3,4 mm Hg) e não estão bem estabelecidos. Apesar desses valores de referência, não é possível precisar, pelo menos inicialmente, como será o efeito do treinamento ao longo de 75 80 85 90 95 100 m m H g 90 95 100 105 110 115 m m H g PAM * * 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 42 sessões PAD 38 um programa. Mas, é importante você saber de alguns detalhes sobre as características da evolução do seu aluno. Considerando que seus alunos com frequência irão apresentar obesidade ou sobrepeso associado à obesidade, vale lembrar que redução da pressão arterial poderá ocorrer como resposta ao treinamento físico mesmo quando não houver alteração na composição corporal, essa verificação abre a possibilidade de, mesmo aqueles alunos que não conseguirem reduzir o peso e a gordura corporais satisfatoriamente, poderem se beneficiar com o efeito hipotensor do treinamento, embora para esses alunos esta não seja a melhor das situações quanto ao risco cardiovascular. Essas considerações têm especial importância quando você for lidar com uma situação “clássica”, aquela em que o aluno dirige-se a você e pergunta: será que eu depois de começar a treinar vou poder deixar de tomar o meu medicamento? Mesmo sendo nosso desejo (e o dele) que isso aconteça, por todos os aspectos mencionados, não será possível garantir, pelo menos a princípio, esse resultado. O que dizer então para esse aluno? Talvez a melhor forma de resposta seja deixar claro que existe essa possibilidade, mas que dependerá além dele aderir efetivamente ao programa de treinamento, de sua resposta individual, que inicialmente não é possível prever. Por experiência devo adiantar que nos casos em que o aluno já tem algum tempo de diagnóstico de hipertensão arterial (mais de 5 anos) ou quando faz uso de dois ou mais medicamentos para controlar a pressão é mais difícil que o efeito do treinamento possibilite a eliminação do uso do medicamento. Mas independente disso, o mais importante nessa situação é deixar claro ao aluno que mesmo quando não for possível eliminar totalmente o uso do medicamento, existem outros benefícios não menos importantes para a sua saúde cardiovascular. Em primeiro lugar, é possível, e com uma chance bem maior, que ele reduza a quantidade e/ou o tipo de medicamento utilizado. Este pode ser considerado um ganho significativo, porque irá minimizar os efeitos colaterais relativos ao uso prolongado dos medicamentos e que o treinamento físico não apresenta. Outros benefícios importantes são as modificações nos fatores de risco, que como já mencionado, frequentemente acompanham a hipertensão arterial (obesidade, sobrepeso, dislipidemias, aumento da glicemia, etc.). É também importante lembrar que qualquer que seja o efeito do treinamento físico para o aluno, cabe ao seu médico à decisão sobre possíveis modificações na dosagem e na classe de 39 medicamento anti-hipertensivo prescrito. Nesse sentido, você pode dar sua contribuição para a decisão do médico do aluno oferecendo informações sobre possíveis melhoras nos valores de pressão arterial, observadas a partir de medidas realizadas durante suas sessões de treinamento. 3.7 MECANISMOS ENVOLVIDOS NA REDUÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS COM O TREINAMENTO FÍSICO O efeito hipotensor do treinamento físico tem sido relacionado principalmente aos mecanismos envolvidos na manutenção do tônus vascular e, consequentemente da resistência vascular periférica. Assim, modificações como: redução da atividade simpática periférica, que reduz o estímulo neural para vasoconstrição, frequentemente aumentado em hipertensos; modificação de mecanismos locais de ajuste do fluxo como o aumento da liberação de óxido nítrico pelo endotélio vascular, além de uma maior capilarização no musculoesquelético, têm como resultado final uma maior vasodilatação com consequente redução da pressão arterial que será preservada enquanto o estímulo do treinamento for mantido. 3.8 RECOMENDAÇÕES GERAIS AO HIPERTENSO As estratégias para reduzir a pressão arterial a valores menores do que 140/90 encontram na mudança de estilo de vida uma das principais recomendações ao hipertenso para reduzir seu risco cardiovascular, incluindo, obviamente, a prática regular de exercícios associada a outras importantes medidas necessárias à adoção de uma vida mais saudável. Nesse contexto, o quadro I mostra as principais medidas a serem tomadas pelo hipertenso para alcançar melhoras expressivas no seu prognóstico quanto à saúde cardiovascular. Destacam-se as medidas relacionadas à dieta, ao controle do peso e ao fumo, que são fatores que podem exercer influência direta sobre os níveis de pressão arterial, mas também prejudicar o efeito proposto do exercício. 40 Quadro I. Recomendações quanto a possíveis mudanças no estilo de vida para o hipertenso. Recomendações essenciais ao hipertenso Perder peso se estiver em excesso Limitar o consumo diário de álcool (no máximo: 720 ml – cerveja; 300 ml de vinho ou 60 ml de uísque) Aumentar o nível de atividade física Reduzir o consumo diário de sal (máximo 6g de sal de cozinha) Reduzir o consumo de gorduras saturadas e colesterol. FONTE: Adaptado do Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Avaluation, and Treatment of High Blood Pressure4. 3.9 O HIPERTENSO PODE PARTICIPAR DE ATIVIDADES ESPORTIVAS? Outra situação que tem se apresentado com frequência é o aluno hipertenso que quer participar de atividades esportivas, seja porque já fazia antes de ter o diagnóstico de hipertensão ou porque tem afinidade com alguma modalidade que gostaria de passar a praticar regularmente. A recomendação quanto à modalidade e ao nível de intensidade de exercício em que o hipertenso irá atuar dependerá do risco apresentado. O primeiro passo é entender como é classificado o risco de acordo com os valores de pressão arterial apresentados e a presença de comorbidades. No quadro II podemos observar que o risco aumenta na medida em que se identifica o aumento da pressão arterial, a presença de outros fatores de riscoassociados à hipertensão e quando há associação desses aspectos. A partir dessa classificação cruzam-se os diferentes níveis de risco apresentados com a situação de controle da pressão arterial e das condições clínicas de maneira geral para recomendar-se o nível de intensidade apropriado de acordo com o risco presente em cada caso (quadro III). Em geral, para hipertensos bem controlados e sem desordens importantes associadas não existem restrições muito severas para a prática de esportes. Entretanto, mesmo sendo o hipertenso bem condicionado por conta da modalidade esportiva praticada, os cuidados e 41 medidas adotadas devem seguir os mesmos critérios daqueles recomendados a todos os hipertensos. Quadro II. Estratificação de risco e prognóstico em pacientes com hipertensão Pressão arterial clínica (mm Hg) e categorias de risco Outros fatores de risco associados à hipertensão Nível I PAS 140-159 ou PAD 90-99 Nível II PAS 160-179 ou PAD 100-109 Nível III PAS >180 ou PAD >110 Sem outros fatores Risco leve Risco moderado Risco alto 1 ou 2 fatoresa Risco moderado Risco moderado Risco muito alto 3 ou mais fatoresa Risco alto Risco alto Risco muito alto Lesão de órgão-alvob ou diabetes associados a manifestações clínicas.c Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto FONTE: Adaptado de Fagard et. al., 2005. Legenda. PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; a: idade, sexo, fumo, colesterol alterado, gordura abdominal, história familiar de desordem cardiovascular; b: hipertrofia ventricular esquerda, doença aterosclerótica e espessamento de artéria, aumento em creatinina total, microalbuminúria; c: doença cérebro vascular, doença isquêmica do coração, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, disfunção renal, proteinúria, retinopatia avançada. 3.10 CARACTERÍSTICAS DO TREINAMENTO AERÓBIO COMO FATOR DE INFLUÊNCIA NA RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS A análise da influência das características do treinamento para o trabalho com hipertensos servirá de base para toda a elaboração de programas de treinamento sob vários 42 aspectos. O primeiro aspecto importante a ser considerado na relação entre o treinamento físico e a resposta da pressão arterial é o fato de o efeito hipotensor ser mais pronunciado em hipertensos, sustentando assim a busca pela prática mais adequada para atingir o máximo potencial desse efeito. A intensidade de treinamento tem sua importância destacada por apresentar implicações quanto à faixa mais apropriada para garantir o maior efeito crônico associado à menor possibilidade de desconfortos e lesões que podem comprometer a eficácia do treinamento. A redução da pressão arterial e a melhora no seu controle em hipertensos tem sido demonstrada mesmo em intensidades leves como 40% do VO2max e o alcance desse efeito se mantém até a intensidade de 70% do VO2max. Não existem evidências de maior efeito em intensidades acima de 80% VO2max e, da mesma forma, não tem sido observado prejuízo no efeito hipotensor nesse trabalho mais intenso. Essas observações serão úteis, principalmente como argumento para melhorar a aderência nos diversos interesses dos alunos. Se o seu aluno, por exemplo, não tiver interesse ou possibilidade de realizar um treinamento muito intenso, é possível garantir a ele que poderá se beneficiar com a melhora no controle da pressão arterial mesmo treinando em intensidade mais leve. O mesmo vale para o aluno hipertenso que se enquadre entre aqueles com baixo risco (Quadro III) e que queira realizar atividades mais intensas como participar de corridas de rua. Nessas condições, desde que esteja devidamente condicionado não haverá, em princípio, impedimentos para essa prática. Quadro III. Recomendações para atividade física intensa e esporte competitivo para atletas com hipertensão e outros fatores de risco. Categoria de risco Critérios para identificação Recomendações Acompanhamento Baixo PA controlada; s/fatores de risco Todos os esportes Anual Moderado PA controlada; c/fatores de risco Evitar esportes com componentes estáticos e dinâmicos muito Anual 43 intensos Alto PA controlada; c/fatores de risco Evitar esportes com componentes estáticos e dinâmicos muito intensos Anual Muito alto PA controlada; c/fatores de risco Não associados às manifestações clínicas importantes. Apenas esportes com componentes dinâmicos moderados ou estáticos leves Semestral FONTE: Adaptado de Fagard et. al., 2005. A duração da sessão de exercício é outro fator que pode influenciar o efeito do treinamento nos parâmetros que vimos anteriormente. Dessa forma, recomenda-se que a duração da sessão de exercício deve ter como objetivo mínimo inicial a realização de 30 minutos de forma contínua ou intermitente, podendo evoluir para 60 minutos. Os dois aspectos mais importantes dessa relação é que não existem diferenças significativas no efeito do treinamento dentro dessa faixa de tempo (30 a 60 minutos) e também não há evidência de melhora no efeito a partir de 60 minutos por sessão, o que será interessante para a maior parte dos alunos economicamente ativos, os quais dispõem de pouco tempo livre. A disponibilidade reduzida de tempo também leva muitas vezes a limitações no número de vezes que será possível treinarmos. Qual será então o número mínimo de sessões semanais para se garantir bons resultados na pressão arterial? A verificação do efeito hipotensor agudo do exercício leva crer que seria desejável a maior frequência semanal possível, supondo uma somação desse efeito em sessões repetidas. Mas levando em conta mais uma vez o pouco tempo disponível do aluno, é possível alcançar bons resultados com uma frequência de três vezes por semana, o que traz também uma perspectiva mais “realista” para a evolução de um programa de treinamento. Parte da variação na resposta da pressão arterial observada entre hipertensos com o treinamento físico vem sendo atribuída à herança genética. Com base no estudo de famílias de hipertensos tem sido possível estabelecer essa influência. Embora, ainda sejam necessários 44 estudos adicionais no nível molecular para a determinação mais precisa dessa predisposição, o Heritage Study, demonstrou que as modificações na pressão arterial sistólica com o treinamento físico foram explicadas em 15% pela idade e pelos valores iniciais. Dos 85% restantes, 20% foram atribuídos à influência genética. Na frequência cardíaca, outros 20% foram associados à idade e valores iniciais, enquanto 35% dos 80% restantes foram relacionados à predisposição genética. Portanto, assim como a adaptação de outras variáveis, a resposta da pressão arterial de hipertensos ao treinamento físico aeróbio também pode ser influenciada pela genética. 3.11 TREINAMENTO COM PESOS E A RESPOSTA DA PRESSÃO ARTERIAL DE HIPERTENSOS Os resultados relativos ao efeito do treinamento com pesos sobre a pressão arterial ainda são bastante conflitantes. Em uma recente meta-análise, envolvendo nove estudos Cornelissen e Fagard16 verificaram uma redução média de 3,4 e 3,2 mm Hg para pressão arterial sistólica e diastólica respectivamente, após o treinamento com pesos. Mas, mesmo sendo esses valores representativos para a redução do risco cardiovascular, observou-se nos estudos que apenas 20% dos indivíduos tinham pressão arterial sistólica maior do que 140 mm Hg e 13% tinham pressão arterial diastólica maior do que 90 mm Hg, ou seja, a maior parte dos indivíduos não era hipertensa. Por isso, ainda não é possível identificar o efeito isolado do treinamento com pesos sobre a pressão arterial de hipertensos, envolvendo o nível de modificação e também a relação com as características do exercício (intensidade, duração e frequência semanal).3.12 EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO EM HIPERTENSOS COM SÍNDROME METABÓLICA A associação da hipertensão com pelo menos outros dois fatores de risco como: circunferência aumentada da cintura, dislipidemias, aumento da glicemia, caracteriza a síndrome 45 metabólica. Além dessa combinação, aumentar o risco cardiovascular, por ser bastante comum entre nossos alunos é importante considerar que nessa situação a intervenção com o treinamento físico irá demandar atenção especial sobre o estado geral de saúde do aluno e também sobre possíveis influências dessa associação de fatores sobre a proposta de melhorar o controle da pressão e também sobre a necessidade de controlar esses fatores para quebrar o círculo vicioso que envolve sua associação com o sedentarismo. A resistência à insulina por ser um fator comum a essas desordens e também por poder ser modificada pelo treinamento físico, passa a ser um alvo importante para a produção de resultados consistentes na redução do risco cardiovascular, entre eles a melhora no controle da pressão arterial. Em indivíduos que apresentam resistência à insulina e hiperinsulinemia, por exemplo, os efeitos da insulina aumentada no sangue contribuirão para alterações metabólicas como as dislipidemias e o maior acúmulo de gordura corporal, além de influenciar o aumento da pressão arterial. Portanto, toda vez que o treinamento físico aumenta à sensibilidade a ação da insulina, reduzindo a resistência do organismo à ação desse hormônio e seus níveis no sangue, estará afetando positivamente não só a pressão arterial, mas também os demais fatores associados. Em relação à pressão arterial, ainda, observa-se em alguns casos redução mais expressiva da pressão arterial em hipertensos que apresentam resistência à insulina e hiperinsulinemia do que os que não estão nessa condição. Essa resposta também vem sendo associada à redução do peso corporal. Nesse sentido, há também evidências de que o treinamento parece apresentar maior efeito hipotensor em indivíduos obesos e com sobrepeso do que nos magros. Como você pôde ver o efeito do treinamento físico, principalmente aeróbio, sobre a pressão arterial de hipertensos está bem demonstrado. Entretanto, mesmo sabendo o que esperar do efeito isolado do exercício, o estilo de vida e o estado geral de saúde do hipertenso são importantes fatores de influência não só para o efeito sobre a pressão arterial, mas também para as outras modificações que se farão necessárias de acordo com o perfil apresentado. Somando-se a isso, resta ainda estabelecer a chamada dose-resposta para a obtenção dos benefícios do exercício, ou seja, a quantidade mínima necessária para melhorar, modificar suficientemente esses fatores e aperfeiçoar o prognóstico quanto à saúde cardiovascular. Essas considerações se apoiam também na abordagem multidisciplinar que vem sendo proposta para trabalho com esses públicos, envolvendo além do professor, nutricionistas, 46 psicólogos, etc., para alavancar mudanças consistentes nos hábitos de vida desses alunos, em intervenções que incluam não só a prática formal de exercícios, mas orientações para aumentar o nível de exercícios em todas as suas atividades cotidianas. 3.13 RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE PROGRAMA DE TREINAMENTO PARA HIPERTENSOS Com base no alcance do treinamento físico para redução da pressão arterial, melhora na capacidade funcional e redução do risco cardiovascular de hipertensos, um programa de treinamento físico deve ter as seguintes características 4,12,15 . Exercícios aeróbios Intensidades entre 50 e 70% do VO2max Duração da sessão: 20 a 60 minutos Frequência semanal: 3 a 5 vezes Exercícios com pesos ● Em complemento ao aeróbio ● Realizado em intensidades menores do que 80% da contração voluntária máxima ● Utilização de circuitos ● Nos mesmos dias ou em dias alternados ao aeróbio Em conclusão, a filosofia de trabalho desenvolvida com base na verificação do efeito do treinamento sobre a pressão arterial de hipertensos e suas particularidades, pode e deve ser aplicada em qualquer que seja o contexto que você trabalhe (academia, personal, grupos de terceira idade, atletas, etc.), inclusive o aspecto multidisciplinar que pode ser viabilizado por parcerias com outros profissionais e instituições, cabendo a você as adaptações necessárias que poderão ser realizadas com a ajuda dos aspectos técnicos que serão discutidos neste material. 47 4 MEDIDA DA FREQUÊNCIA CARDÍACA EM REPOUSO E DURANTE O EXERCÍCIO Os valores de pressão arterial medidos durante as aulas servem de parâmetro para avaliar como está o controle de cada aluno e também quando eventualmente não poderão iniciar ou terão que interromper o exercício. Aspectos relacionados à técnica de medida e cuidados específicos devem ser levados em consideração para evitar erros. Vamos abordar aqui apenas aspectos essenciais à medida durante as sessões. Para uma abordagem mais detalhada sobre a medida da pressão arterial e os procedimentos padronizados, recomendo uma leitura adicional. 4.1 COMO MEDIR A FREQUÊNCIA CARDÍACA? A medida da frequência cardíaca pode ser obtida de forma relativamente simples e possibilita a verificação do nível de intensidade de forma individualizada, além da presença de alterações sugestivas de complicações, sendo, por isso, altamente recomendável no trabalho com hipertensos. Na prática, tem sido cada vez mais comum o uso do monitor de frequência cardíaca (FC), particularmente importante para a observação do comportamento da FC durante o exercício. Quando não há possibilidade de uso do monitor, ou em situações específicas, a medida deve ser realizada por palpação. Apesar de simples, a medida da frequência cardíaca por palpação requer alguns cuidados, a começar pela percepção do batimento. Para detectar adequadamente o batimento cardíaco é necessário treinar a sensibilidade dos dedos e aprender qual a localização anatômica das artérias. O ponto mais recomendável para a realização dessa medida é pela palpação da artéria radial. Outro aspecto que reforça a recomendação da medida por palpação é o fato de certas arritmias serem detectadas durante as aulas somente com esse tipo de medida. 48 FIGURA 15. Medida da frequência cardíaca utilizando o monitor e pela palpação da artéria radial. FONTE: Disponível em: <www.gizoo.co.uk/ ayurveda2yoga4healing.blogspot.com>. Acesso em: 13 jan. 2015. Em outras formas como a medida na carótida, há o risco de sensibilizar receptores de pressão (barorreceptores) presentes nas carótidas e gerar como resposta uma redução “artificial” da frequência cardíaca e da pressão arterial, e também a presença de desconfortos como tonturas e desmaios decorrentes da diminuição da pressão arterial. Por isso, esse tipo de medida deve ser evitado. FIGURA 16. Medida da frequência cardíaca pela palpação da carótida: não recomendável. FONTE: Disponível em: <www.netfit.co.uk>. Acesso em: 13 jan. 2015. 49 4.2 TIPOS DE APARELHO Esfigmomanômetro de coluna de mercúrio Esse aparelho inclui uma coluna de mercúrio com escala em milímetros de mercúrio (mm Hg), conectada a um manguito que será insuflado durante a medida, elevando a coluna na escala para permitir que com a ajuda de um estetoscópio o observador obtenha os valores de pressão arterial durante a desinsuflação. Apesar deste não ser o tipo de medida mais utilizado, está entre as possibilidades de uso em ambientes de prática de exercício. Sua vantagem é o fato de ser padrão para todos os outros aparelhos e, não necessita ser calibrado periodicamente como os demais. Além disso, será também mais aplicável em situações específicas durante o exercício. Por exemplo, se por alguma razão você puder fazer a medida somente