Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOCÊNCIA EM SAÚDE FARMÁCIA INDUSTRIAL 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842f Farmácia industrial / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 120p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-329-6 1. Indústria farmacêutica. I. Portal Educação. II. Título. CDD 615.409 2 SUMÁRIO 1 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA À INDÚSTRIA FARMACÊUTICA .................................... 6 1.1 CONCEITOS DE DEONTOLOGIA, ÉTICA, MORAL E LEI ........................................................ 6 2 LEGISLAÇÃO SANITÁRIA E PROFISSIONAL APLICADA À INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ................................................................................................................................. 8 2.1 O PAPEL DO RESPONSÁVEL TÉCNICO ................................................................................. 9 2.2 AUTORIZAÇÃO DE FUNCIONAMENTO .................................................................................. 11 2.3 REGISTRO DE MEDICAMENTOS ............................................................................................ 14 2.3.1 Registro de medicamento genérico ........................................................................................... 19 2.3.2 Registro de medicamento similar .............................................................................................. 21 2.3.3 Registro de medicamentos fitoterápicos .................................................................................... 22 2.4 LEI DE PATENTES – PROPRIEDADE INTELECTUAL ............................................................ 23 3 GARANTIA DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ........................................... 25 3.1 EVOLUÇÃO DA GESTÃO DA QUALIDADE ............................................................................. 25 3.2 QUALIDADE TOTAL ................................................................................................................. 27 3.2.1 Gestão da Qualidade total (GQT) .............................................................................................. 29 4 GARANTIA DA QUALIDADE ................................................................................................... 32 4.1 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO ........................................................................................ 35 4.2 QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES ................................................................................... 38 4.3 VALIDAÇÃO DE PROCESSOS................................................................................................. 42 4.4 DOCUMENTAÇÃO .................................................................................................................... 43 3 5 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ................................ 45 5.1 ESTUDOS CLÍNICOS ............................................................................................................... 45 5.2 ENSAIOS BIOLÓGICOS PRÉ-CLÍNICOS ................................................................................. 47 5.3 PESQUISA CLÍNICA ................................................................................................................. 48 6 DESENVOLVIMENTO FARMACOTÉCNICO ........................................................................... 51 6.1 ESTUDOS DE PRÉ-FORMULAÇÃO ......................................................................................... 51 6.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL .......................................................................................... 51 6.3 DESENVOLVIMENTO DA FORMULAÇÃO ............................................................................... 52 7 EQUIVALÊNCIA FARMACÊUTICA E BIOEQUIVALÊNCIA .................................................... 54 8 TECNOLOGIAS E PROCESSOS DE FABRICAÇÃO FARMACÊUTICA ................................. 61 8.1 EQUIPAMENTOS E PROCESSOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE FORMAS FARMACÊUTICAS SÓLIDAS .............................................................................................................. 61 8.2 EXCIPIENTES QUE INFLUENCIAM NA LIBERAÇÃO DOS FÁRMACOS VEICULADOS EM CÁPSULAS E COMPRIMIDOS ..................................................................................................... 64 8.3 GRANULAÇÃO ......................................................................................................................... 65 8.3.1 Granulação por via seca ............................................................................................................ 65 8.3.2 Granulação por via úmida .......................................................................................................... 66 8.4 COMPRESSÃO ......................................................................................................................... 68 8.4.1 Compressão direta .................................................................................................................... 70 8.4.2 Problemas durante compressão ................................................................................................ 72 8.5 EQUIPAMENTOS E PROCESSOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE FORMAS FARMACÊUTICAS SEMISSÓLIDAS ................................................................................................... 73 8.5.1 Pomadas ................................................................................................................................... 73 4 8.5.2 Emulsões e géis ........................................................................................................................ 75 8.6 ESCOLHA DOS EXCIPIENTES PARA AS FORMAS FARMACÊUTICA SEMISSÓLIDA ......... 76 8.6.1 Excipientes anidros.................................................................................................................... 76 8.6.2 Excipientes hidratados (hidrogéis) ............................................................................................. 78 8.6.3 Excipientes emulsionados ......................................................................................................... 78 8.7 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE FORMAS FARMACÊUTICAS LÍQUIDAS ............................................................................................................................................ 79 8.8 MATERIAL DE ACONDICIONAMENTO E EMBALAGEM ......................................................... 81 8.8.1 Conservação das formas farmacêuticas .................................................................................... 82 8.8.2 Rotulagem das formas farmacêuticas ....................................................................................... 83 9 CONTROLE DE QUALIDADE DE FÁRMACOS E MEDICAMENTOS ..................................... 88 9.1 TÉCNICAS ANALÍTICAS EMPREGADAS NO CONTROLE DE QUALIDADE .......................... 88 9.1.1 Métodos químicos ..................................................................................................................... 89 9.1.2 Métodos físicos.......................................................................................................................... 89 9.1.3 Métodos biológicos .................................................................................................................... 90 10 CONTROLE DE QUALIDADE DE FORMAS FARMACÊUTICAS ............................................ 92 10.1 CONTROLE DE QUALIDADE DE FORMAS FARMACÊUTICAS SÓLIDAS ............................. 92 10.1.1 Determinação da umidade de um granulado ............................................................................. 92 10.1.2 Determinação da porosidade do granulado ............................................................................... 93 10.1.3 Determinação do diâmetro médio do granulado ........................................................................ 93 10.1.4 Determinação da resistência dos granulados ............................................................................ 94 10.1.5 Determinação da homogeneidade de um granulado ................................................................. 94 5 10.1.6 Determinação do peso médio dos comprimidos ........................................................................ 94 10.1.7 Ensaio de desintegração dos comprimidos ............................................................................... 95 10.1.8 Ensaio de dissolução ................................................................................................................. 96 10.1.9 Friabilidade e dureza dos comprimidos ..................................................................................... 97 10.1.10Doseamento do ativo nos comprimidos ................................................................................... 97 10.1.11Uniformidade dos comprimidos ................................................................................................ 98 10.2 CONTROLE DE QUALIDADE PARA FORMAS FARMACÊUTICAS SEMISSÓLIDAS ............. 98 10.2.1 Identificação e dosagem ativos das formas farmacêuticas semissólidas .................................. 99 10.2.2 Emulsões .................................................................................................................................. 100 10.2.2.1Estabilidade das emulsões .................................................................................................... 100 10.2.2.2Viscosidade das emulsões ..................................................................................................... 102 10.2.2.3Determinação do tipo de emulsão (O/A OU A/O) .................................................................. 102 10.3 CONTROLE DE QUALIDADE PARA FORMAS FARMACÊUTICAS LÍQUIDAS ...................... 103 10.3.1 Xaropes .................................................................................................................................... 103 11 NOÇÕES BÁSICAS SOBRE ESPECTROFOTOMETRIA ....................................................... 104 11.1 IDENTIFICAÇÃO DE MOLÉCULAS POR ESPECTROFOTOMETRIA NO INFRAVERMELHO ............................................................................................................................. 105 11.2 ESPECTROFOTOMETRIA DE FLUORESCÊNCIA ................................................................. 106 12 ESTUDOS DE ESTABILIDADE ............................................................................................... 108 12.1 INSTABILIDADES MAIS FREQUENTES EM COMPRIMIDOS ................................................ 109 13 REGRAS DE SEGURANÇA NO SETOR DE CONTROLE DA QUALIDADE ......................... 111 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 114 6 1 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA À INDÚSTRIA FARMACÊUTICA 1.1 CONCEITOS DE DEONTOLOGIA, ÉTICA, MORAL E LEI Neste primeiro módulo vamos falar sobre a Ética e a Legislação aplicada à Indústria Farmacêutica. Para isso, alguns conceitos devem ser relembrados. Iniciamos nossa reflexão fazendo uma pergunta: por que estudar Ética e Moral? Esta é uma indagação que povoa, por vezes, a mente de muita gente e que tentaremos conceituar nesta exposição. A filosofia define “ética” como o estudo da “conduta ideal”, sendo esta decorrente de um conceito mais amplo, o de “homem ideal”. Sua utilidade mais presente consiste em ditar as qualidades das ações humanas, definindo-as como boas ou ruins, tendo como norte a razão da felicidade – “o soberano bem”. Em resumo, a Ética é uma ciência que estuda os valores e virtudes do homem, estabelecendo um conjunto de regras de conduta e de postura a serem observadas para que o convívio em sociedade se dê de forma ordenada e justa. O Conselho Federal de Farmácia, por meio da Resolução n° 417, de 29 de setembro de 2004, aprovou o Código de Ética da Profissão Farmacêutica. As normas deste Código aplicam-se aos farmacêuticos, em qualquer cargo ou função, independentemente do estabelecimento ou instituição a que estejam prestando serviço. De acordo com segundo artigo dessa resolução, o farmacêutico atuará sempre com o maior respeito à vida humana, ao meio ambiente e à liberdade de consciência nas situações de conflito entre a ciência e os direitos fundamentais do homem. 7 A ética se confunde muitas vezes com a moral, no entanto, deve-se deixar claro que são duas coisas diferentes, considerando-se que ética significa a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade; enquanto que moral, quer dizer costume ou conjunto de normas ou regras adquiridas com o passar do tempo. A ética é o aspecto científico da moral, pois tanto a ética como a moral envolvem a Filosofia, a História, a Psicologia, a Religião, a Política, o Direito, e toda uma estrutura que cerca o ser humano. Isto faz com que o termo “ética” necessite ter, em verdade, uma maneira correta para ser empregado – quer dizer, ser imparcial, a tal ponto a ser um conjunto de princípios que norteia uma maneira de viver bem, consigo próprio e com os outros. Assim, podemos concluir que ética é um princípio ou comportamento moral das pessoas em sociedade. Sendo uma ciência de forma específica de comportamento humano, enquanto moral é o conjunto de hábitos e costumes, efetivamente vivenciados por um grupo humano. Nas culturas dos grupos humanos estão presentes hábitos e costumes considerados válidos, porque bons; bons, porque justos; justos, porque contribuem para a realização das pessoas. Já “Deontologia” consiste no conjunto de regras e princípios que regem a conduta de um profissional; uma ciência que estuda os deveres de uma determinada profissão. Deontologia deriva do grego, de modo que “deontos” significa dever, e “logos”, estudo, portanto é um conjunto de deveres. O profissional brasileiro está sujeito a uma deontologia própria a regular o exercício de sua profissão no qual estarão explícitas as regras por meio de leis. Leis são referências de bem, instrumento para fazer justiça, enquanto encarregada de garantir justiça mínima. Assim, leis são acordos explícitos, de caráter obrigatório, estabelecidos entre pessoas de um grupo, para garantir justiça ou direitos mínimos de ser. 8 2 LEGISLAÇÃO SANITÁRIA E PROFISSIONAL APLICADA À INDÚSTRIA FARMACÊUTICA No Brasil, como em muitos outros países, há uma legislação sanitária, que é o conjunto de leis de um país. Quem elabora essa legislação é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A ANVISA é o órgão responsável pela regulação de um grande universo de produtos e atividades. Está dividido em grandes áreas de atuação que perpassam a área de agrotóxicos e toxicologia, alimentos, cosméticos, derivados do tabaco, medicamentos, produtos específicos para a saúde, saneantes, sangue, tecidos, órgãos; e a regulaçãode portos, aeroportos, fronteiras e os serviços de saúde. No controle sanitário de medicamentos, a ANVISA estabelece como etapas importantes o registro sanitário, a fiscalização do parque industrial e dos estabelecimentos farmacêuticos, e o monitoramento laboratorial dos medicamentos presentes no mercado farmacêutico. Além do caráter fiscalizador, são realizadas as atividades de regulação da propaganda de medicamentos, a farmacovigilância –, a promoção do uso racional de medicamentos, comunicação e informação sobre os medicamentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária foi criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. É uma autarquia sob regime especial, ou seja, uma agência reguladora caracterizada pela independência administrativa, estabilidade de seus dirigentes durante o período de mandato e autonomia financeira. A finalidade institucional da Agência é promover a proteção da saúde da população por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados. Além disso, a Agência exerce o controle de portos, aeroportos e fronteiras, e a interlocução junto ao Ministério das Relações Exteriores e instituições estrangeiras para tratar de assuntos internacionais na área de vigilância sanitária. 9 2.1 O PAPEL DO RESPONSÁVEL TÉCNICO Com o intuito de garantir que o produto final chegue até o consumidor com segurança, eficácia e qualidade, a ANVISA lança mão de normas para a sua execução, e dessa forma o Conselho Federal de Farmácia exige um responsável técnico para se responsabilizar pela aplicação das Boas Práticas de Fabricação por meio do Regulamento Técnico que é a RDC nº. 210, de 4 de agosto de 2003, sobre o qual falaremos no módulo seguinte. O responsável técnico (RT) é o profissional que tem como função precípua garantir ao consumidor a qualidade do produto final ou do serviço prestado, e por isso responde civil e penalmente por eventuais danos que venha a causar ao consumidor decorrente da sua conduta profissional, uma vez caracterizada sua culpa, seja por negligência, imprudência, imperícia ou omissão. O profissional deve estar ciente que o estabelecimento do qual é responsável técnico encontra-se legalmente habilitado ao desempenho de suas atividades. Não deve ignorar que seja habilitado e esteja regularmente inscrito no Conselho Regional de Farmácia (CRF). Na figura 1 podemos observar que o responsável técnico está presente desde a produção da matéria-prima até o produto final que chega ao consumidor. FIGURA 1 - ATUAÇÃO DO RESPONSÁVEL TÉCNICO ATÉ CHEGAR O PRODUTO FINAL PARA OS CONSUMIDORES 10 Após a indústria ser planejada, estruturada e ter seus colaboradores de acordo com os níveis hierárquicos (figura 2), chega a hora de solicitar a autorização de funcionamento da indústria farmacêutica. A seguir, serão pontuados os documentos necessários para um pedido de autorização de funcionamento na ANVISA. FIGURA 2 - ESTRUTURA HIERÁRQUICA DE UMA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA 11 2.2 AUTORIZAÇÃO DE FUNCIONAMENTO Toda a indústria farmacêutica deve ter autorização de funcionamento e de acordo com a ANVISA, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, uma autorização de funcionamento é um ato privativo do órgão competente do Ministério da Saúde, incumbido da Vigilância Sanitária dos produtos de que trata o Decreto nº 79.094/77, contendo permissão para que as empresas exerçam as atividades sob regime de Vigilância Sanitária, instituído pela Lei n° 6.360/76. As empresas que necessitam de autorização para o funcionamento são aquelas que pretendem exercer atividades de extrair, produzir, fabricar, transformar, sintetizar, embalar, reembalar, importar, exportar, armazenar, expedir, distribuir, constantes da Lei nº 6.360/76, Decreto nº 79.094/77 e Lei nº 9.782/99, Decreto nº 3.029/99, correlacionadas a Medicamentos, Drogas e Insumos Farmacêuticos. Entrando especificamente na área industrial – empresas de medicamentos, drogas e insumos farmacêuticos, os requisitos necessários para a ANVISA conceder a autorização de funcionamento são os seguintes: Indicação da atividade industrial respectiva; Apresentação do ato constitutivo, contando expressamente as atividades a serem exercidas e o representante legal da mesma; Indicação dos endereços da sede, dos estabelecimentos destinados à industrialização, dos depósitos, dos distribuidores e dos representantes; Natureza e espécie dos produtos; Comprovação da capacidade técnica e operacional; Indicação do responsável ou responsáveis técnicos, de suas respectivas categorias profissionais e dos números das inscrições nas respectivas autarquias profissionais a que se filiem. A Autorização de Funcionamento habilitará a empresa a funcionar em todo o território nacional e necessitará ser renovada quando ocorrer Alteração ou Mudança de Atividade compreendida no âmbito do Decreto nº 79.094/77 ou mudança do Sócio, Diretor ou Gerente que tenha a seu cargo a representação legal da empresa. http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=9331 http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=9331 12 As empresas somente poderão iniciar suas atividades após a publicação da Autorização de Funcionamento em Diário Oficial da União. O Diário Oficial da União (DOU) é um dos veículos de comunicação pelo qual a Imprensa Nacional tem de tornar público todo e qualquer assunto acerca do âmbito federal. Hoje, o DOU pode ser acessado virtualmente pela internet, e fisicamente pela compra em bancas de jornal. O DOU consiste de três seções que publicam leis, decretos, resoluções, instruções normativas, portarias e outros atos normativos de interesse geral; atos de interesse dos servidores da Administração Pública Federal, contratos, editais, avisos ineditoriais. A ANVISA expedirá documento de autorização às empresas habilitadas na forma do Decreto nº 79.094/77, para o exercício de atividades enumeradas no artigo primeiro do referido regulamento. Ela também publicará no Diário Oficial da União (DOU) as Concessões de Autorização de Funcionamento, suas alterações e cancelamento. Para um melhor entendimento, iremos mostrar uma lista de documentos necessários para o registro de uma indústria e outras empresas de acordo com a Portaria nº 114/94 e a Instrução Normativa nº 01/94: 1) Formulário de Petição de Autorização adotado pela ANVISA/MS em duas vias (original e cópia). 2) Guia de Recolhimento da ANVISA – via original, excetuados os casos de isenção previstos em Regulamentos específicos. 3) Declaração à ANVISA, registrada em Cartório de Títulos e Documentos ou cópia autenticada, pleiteando usufruir descontos, no tocante ao recolhimento de Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária, se for o caso. 4) Procuração de representante legal se for o caso. 5) Cópia do Contrato Social registrado na Junta Comercial, devendo constar neste documento os objetivos claramente explicitados, das atividades que foram requeridas. 6) Cópia do documento de Inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes/CGC ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica/CNPJ. 7) Lista Sucinta da natureza e espécie dos produtos com que a empresa irá trabalhar. 8) Declaração contendo os seguintes dados gerais: Razão Social; Nome do Representante Legal; nome do Responsável Técnico e número de sua inscrição no Conselho Regional respectivo; Lista de endereços com CEP, telefones, fax da sede, locais de fabricação, http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=9331 http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=771 http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=1728 http://www.anvisa.gov.br/servicos/form/med/peticao_medica.htm http://www.anvisa.gov.br/servicos/atend_arrecada.htm13 filiais depósitos e distribuidoras; e nome do procurador legalmente habilitado, se houver (verificar se a procuração está devidamente autenticada). 9) Relatório técnico de capacitação contendo: lista completa da natureza e espécie dos produtos com que a empresa irá trabalhar; descrição dos prédios e outros dados que caracterizem as edificações onde funcionará a fábrica (projeto arquitetônico e cópia da planta baixa, devidamente aprovada pelo Serviço de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Secretaria Estadual de Saúde); layout e memorial descritivo da aparelhagem, maquinário e instalações disponíveis para atender as atividades pleiteadas, por área de fabricação (quando for o caso), bem como lista completa dos aparelhos e equipamentos a ser usados no controle de qualidade; relatório da organização da empresa (organograma); nome (s) e número(s) de inscrição no Conselho Regional correspondente, do responsável técnico da empresa e dos técnicos responsáveis pelos setores de produção e de controle de qualidade; Manual de Boas Práticas de Fabricação a ser utilizado na empresa; Certificado de Regularidade ou Termo de Responsabilidade, emitido pelo Conselho Regional respectivo, do Responsável Técnico da empresa e dos técnicos responsáveis pelos setores de Produção e de Controle de Qualidade; cópia do Contrato de Trabalho ou da Carteira Profissional do Responsável Técnico da empresa; cópia do Alvará Sanitário. Deve-se tomar cuidado com algumas observações, como: 1) Toda a documentação deve ser assinada pelo representante legal da empresa; 2) A documentação relativa à parte técnica deve ser assinada também pelo responsável técnico; 3) Os documentos que já são exigidos para Alvará Sanitário não precisam ser apresentados devendo, entretanto, ser anexada a Declaração do Serviço de Vigilância Sanitária, discriminando estes documentos. Para as demais atividades, além de indústria, previstas na Legislação vigente, observar também, normas específicas e para fins de Autorização de Funcionamento de Indústrias Farmacêuticas e Indústrias Produtoras de Soluções Parenterais de Grande Volume, deverá ser 14 observado dispositivos da Resolução nº 327, de 22/7/99, publicada em DOU de 26/7/99, que institui roteiro sucinto de inspeção. 2.3 REGISTRO DE MEDICAMENTOS O conceito de medicamento, dado pela ANVISA, é de um produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. É uma forma farmacêutica terminada que contém o fármaco, geralmente em associação com adjuvantes farmacotécnicos. Todo medicamento industrializado deve ter um registro na ANVISA. Esse registro depende do tipo de medicamento que se quer produzir. Nesse módulo iremos dar uma maior ênfase aos medicamentos genéricos, similares e fitoterápicos. De acordo com a definição legal, medicamento similar é aquele que contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos; apresenta mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, e que é equivalente ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículo, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou marca. É dito como medicamento inovador, que de acordo com a ANVISA, é um aquele que apresenta em sua composição ao menos um fármaco ativo que tenha sido objeto de patente, mesmo já extinta, por parte da empresa responsável pelo seu desenvolvimento e introdução no mercado no país de origem, e disponível no mercado nacional. Em geral, o medicamento inovador é considerado medicamento de referência, entretanto, na ausência do mesmo, a ANVISA indicará o medicamento de referência. http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=1247&word= 15 O medicamento de referência é produto inovador registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro, conforme a definição do inciso XXII, artigo 3º, da Lei n. 6.360, de 1976 (com redação dada pela Lei nº 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, revogada pela RDC nº 16, de 2 de março de 2007). A inclusão de um produto farmacêutico na Lista de Medicamentos de Referência qualifica-o como parâmetro de eficácia, segurança e qualidade para os registros de medicamentos genéricos e similares no Brasil, mediante a utilização deste produto como comparador nos testes de equivalência farmacêutica e/ou bioequivalência quando aplicáveis. Medicamento genérico nada mais é que um medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que pretende ser com este, intercambiável, geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade, e designado pela DCB (Denominação Comum Brasileira) ou, na sua ausência, pela DCI (Denominação Comum Internacional). Os medicamentos genéricos e similares podem ser considerados “cópias” do medicamento de referência. Para o registro de ambos os medicamentos, genérico e similar, há obrigatoriedade de apresentação dos estudos de biodisponibilidade relativa e equivalência farmacêutica. De uma forma sucinta, a figura 3 mostra quais são as etapas que uma indústria farmacêutica deve seguir para registrar um medicamento. 16 FIGURA 3 - PROCESSO DE REGISTRO DE MEDICAMENTO Para o registro de um medicamento a empresa deve pagar uma taxa, de acordo com o porte dela, para a ANVISA. O processo para a obtenção de registro é realizado pelo setor de 17 registro de medicamentos que organiza todos os documentos enviados pelos demais departamentos. A partir destes documentos é elaborado o relatório técnico do produto que contém a descrição completa da fórmula mestre designando os componentes conforme a DCB, DCI ou a denominação descrita no Chemical Abstract Substance (CAS); respeitando esta ordem de prioridade e a descrição da quantidade de cada substância, expressa no sistema métrico decimal ou unidade padrão, indicando sua função na fórmula e a respectiva referência de especificação de qualidade descrita na Farmacopeia Brasileira ou, na ausência desta, em outros códigos oficiais autorizados pela legislação vigente. São feitos estudos de estabilidade que tem como finalidade avaliar o comportamento dos fármacos ou medicamentos que se alteram com o tempo, por influência de uma variedade de fatores ambientais, tais como: a temperatura, a umidade e a luz (RE 01/05). O processo produtivo é todo validado para assegurar a reprodutibilidade do método (RE 899/03). Assim, a validação garante por meio de estudos experimentais, que o método atenda às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilidade dos resultados. Para tanto, deve apresentar precisão, exatidão, linearidade, sensibilidade, especificidade, reprodutibilidade e estabilidade adequadas à análise. Desse modo, é importante ressaltar que todos os equipamentos e materiais devem apresentar-se devidamente calibrados e os analistas dever ser qualificados e adequadamente treinados. A empresa deverá comprovar a equivalência farmacêutica em relação ao medicamento de referência, utilizando, quando couber, monografia atualizada da Farmacopeia Brasileira ou, na ausência desta, de outros códigos autorizados pela legislação vigente. Os estudos são realizados em medicamentos teste e referência com, preferencialmente, até seis meses de fabricação. O medicamento referência deve cumprir com todos os requisitos farmacopeicos. Para obter o registro, o medicamento deve cumprirem sua totalidade com os requisitos farmacopeicos da monografia individual, inscrita na Farmacopeia Brasileira. No caso de utilização de algum outro código autorizado pela legislação vigente, os requisitos farmacopeicos da monografia são complementados com os ensaios descritos em métodos gerais descritos na Farmacopeia Brasileira vigente, para a forma farmacêutica em estudo. Na falta de monografia farmacopeica oficial, o estudo é realizado utilizando-se método fornecido pela empresa solicitante, validado pelo laboratório executor do estudo, complementando-se com os ensaios descritos em métodos gerais da Farmacopeia Brasileira vigente. O estudo é realizado utilizando- se substâncias químicas de referência e /ou padrões biológicos oficializados pela Farmacopeia 18 Brasileira ou por outros códigos autorizados pela legislação vigente. Os ensaios para a comprovação da equivalência farmacêutica são realizados, simultaneamente, nos medicamentos teste e referência. Após a comprovação da equivalência farmacêutica entre o medicamento teste e o de referência, o mesmo lote utilizado para tal estudo é também utilizado para fazer o estudo do teste de bioequivalência que contempla três etapas: clínica, analítica e estatística. Na etapa clínica, os medicamentos teste e referência a serem submetidos ao estudo de bioequivalência são, inicialmente, analisados segundo sua monografia inscrita na Farmacopeia Brasileira e, na falta desta, em outros códigos autorizados pela legislação vigente. A diferença de teor do fármaco entre os medicamentos teste e referência não deve ser superior a 5% (cinco por cento). Na etapa analítica, o estudo é realizado de acordo com as normas internacionais de Boas Práticas de Laboratório (BPL) e os métodos analíticos devem ser validados. E por último, a etapa estatística, no qual os parâmetros farmacocinéticos serão obtidos das curvas de concentração sanguínea do fármaco versus tempo, e analisados estatisticamente para determinação da bioequivalência. É nesta última etapa que há a comprovação ou não da bioequivalênica farmacêutica do medicamento teste. O setor de registro de produtos protocola o processo na Agência Nacional de Vigilância sanitária (ANVISA), no âmbito da Unidade de Atendimento Público (UNIAP). O departamento de registro acompanha o andamento do processo na ANVISA até seu deferimento pela Gerência Geral de Medicamentos e Publicação no DOU. Ao protocolizar o processo, este recebe um número que serve como referência para todos os documentos protocolizados posteriormente, referentes ao mesmo produto. No andamento do processo, se houver questão a ser esclarecida em relação ao processo, o técnico envia para a empresa uma exigência por meio de fax ou pelos Correios. A empresa tem o prazo de 30 dias a partir do recebimento para responder a exigência, devendo apresentar toda a documentação solicitada. Caso não seja possível atender a exigência no prazo de 30 dias, a empresa deverá requerer prorrogação de prazo para atendimento da exigência. Após análise do técnico da ANVISA e aprovação do conteúdo do processo, o registro do produto será deferido pelo gerente da área envolvida (ANVISA) e após assinatura do diretor- presidente da ANVISA, será publicado no Diário Oficial da União. A partir da publicação a empresa poderá comercializar o produto registrado. 19 O registro de medicamentos é concedido por cinco anos, devendo ser renovado após esse período, o que deve ser feito após reavaliação do processo pela ANVISA. Por fim, se o detentor de registro quiser suspender a fabricação do medicamento, retirar do mercado apresentações ou o produto como um todo, tudo isso também irá requerer avaliação da Vigilância Sanitária. 2.3.1 Registro de medicamento genérico De acordo com a ANVISA, as empresas interessadas em fabricar e importar medicamentos genéricos devem atender aos requisitos básicos para a realização dessas atividades, e apresentar a documentação necessária e seus Guias, para solicitação do registro junto à ANVISA/Ministério da Saúde. O Regulamento Técnico para medicamentos genéricos tem a finalidade de estabelecer preceitos e procedimentos técnicos para registro de medicamento genérico no Brasil, descritos em seis itens: Definições utilizadas para registro de medicamentos genéricos; Medidas antecedentes ao registro; Documentação para registro; Medicamentos que não serão aceitos como genéricos; Medidas pós-registro; Critérios para prescrição e dispensa de medicamentos genéricos. O medicamento genérico é a cópia fiel do medicamento de referência ou inovador, porém sem os custos de pesquisa, desenvolvimento e propaganda envolvidos na produção do medicamento de referência. Este é o motivo pelo qual o genérico tem preço em média 40% inferior ao do medicamento de referência. Mas a característica deste tipo de remédio é que ele passa por testes que comprovam a sua intercambialidade e a sua equivalência com o medicamento inovador. Para o Registro de Medicamentos Genéricos, os documentos são organizados conforme a Resolução RDC nº 16, de 02 de março de 2007. 20 Desse modo, a ANVISA exige alguns documentos, como: - Comprovante de pagamento de taxa ou de isenção, quando for o caso; - Alvará de funcionamento da empresa, concedido pelos órgãos de Vigilância Sanitária estaduais ou municipais; - Autorização de funcionamento da empresa; - Certificado de Boas Práticas de Fabricação e Controle (CBPFC); - Certificado de registro do medicamento, quando importado, emitido pelo órgão responsável do país no qual seja comercializado; - Notificação de produção de Lotes-Piloto, quando houver; - Certificado de Responsabilidade Técnica, emitido pelo Conselho Regional de Farmácia; - Comprovante de cumprimento das condições estabelecidas na legislação vigente sobre o controle da Encefalopatia Espongiforme Transmissível; - Formulários de petição; - Modelos de bula, rótulo e cartucho; - Relatório de produção; - Relatório de controle de qualidade das matérias-primas; - Relatório de controle de qualidade do medicamento; - Estudos de estabilidade; - Dados sobre a embalagem primária; - Relatório de equivalência farmacêutica; - Relatório de testes de bioequivalência. 21 Vale ressaltar que as provas de equivalência farmacêutica e de bioequivalência, necessárias para o registro de medicamentos genéricos, somente poderão ser realizadas por centros cadastrados e habilitados pela ANVISA. 2.3.2 Registro de medicamento similar Desde a sua criação, o medicamento genérico já tinha como obrigatoriedade a apresentação dos testes de bioequivalência, enquanto a obrigatoriedade de tais testes para medicamentos similares foi a partir de 2003. Além disso, os medicamentos similares possuem nome comercial ou marca, enquanto o medicamento genérico possui a denominação genérica do princípio ativo, não possuindo nome comercial. Desde 2003, com a publicação da Resolução RDC 134/2003 e Resolução RDC 133/2003, os medicamentos similares devem apresentar os testes de biodisponibilidade relativa e equivalência farmacêutica para obtenção do registro para comprovar que o medicamento similar possui o mesmo comportamento no organismo (in vivo), como possui as mesmas características de qualidade (in vitro) do medicamento de referência. A apresentação dos testes de biodisponibilidade relativa para os medicamentos similares já registrados segue uma ordem de prioridade, ou seja, medicamentos considerados de maior risco, como antibióticos, antineoplásicos, antirretrovirais e alguns medicamentos com princípios ativos já realizaram esta adequação na primeira renovação após a publicação desta Resolução. Os demais medicamentos deverão apresentar o teste de biodisponibilidade relativa na segunda renovação do registro, e até 2014 todos os medicamentos similares játerão a comprovação da biodisponibilidade relativa. Além disso, os medicamentos similares passam por testes de controle de qualidade que asseguram a manutenção da qualidade dos lotes industriais produzidos. Todos os medicamentos similares passam pelos mesmos testes que o medicamento genérico. 22 Em 2007, foi publicada a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº. 17, de 2 de março de 2007, com todos os prerrequisitos necessários para o registro do medicamento similar. Com a publicação desta norma, houve evolução da legislação relacionada a esta classe de medicamentos, uma vez que determina a apresentação das mesmas provas necessárias para registro de medicamento genérico. 2.3.3 Registro de medicamentos fitoterápicos Fitoterápicos são medicamentos obtidos a partir de plantas medicinais. Eles são obtidos empregando-se exclusivamente derivados de droga vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudato, suco, e outros). Não é objeto de registro como medicamento fitoterápico, planta medicinal ou suas partes, após processos de coleta, estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada. Os fitoterápicos, assim como todos os medicamentos, devem oferecer garantia de qualidade, ter efeitos terapêuticos comprovados, composição padronizada e segurança de uso para a população. A eficácia e a segurança devem ser validadas por meio de levantamentos etnofarmacológicos, documentações tecnocientíficas em bibliografia e/ou publicações indexadas e/ou estudos farmacológicos e toxicológicos pré-clínicos e clínicos. A qualidade deve ser alcançada mediante o controle das matérias-primas, do produto acabado, materiais de embalagem, formulação farmacêutica e estudos de estabilidade. A RDC que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos é a RDC nº 48, de 16 de março de 2004. A figura 4 mostra as documentações para o registro de um medicamento fitoterápico. 23 FIGURA 4 - DOCUMENTAÇÃO PARA O REGISTRO DE UM MEDICAMENTO FITOTERÁPICO 2.4 LEI DE PATENTES – PROPRIEDADE INTELECTUAL Patente é um documento expedido por um órgão governamental – Instituto de Propriedade Intelectual (INPI), que descreve a invenção e cria uma situação legal em que a invenção só pode vir a ser explorada com a autorização do seu proprietário. A patente também permite que aqueles que arcaram com o risco financeiro inicial estejam em vantagem competitiva em relação àqueles que nada investiram em pesquisa e desenvolvimento. Lei da Propriedade Industrial regula os direitos e as obrigações relativos à propriedade industrial. A proteção aos direitos relativos à propriedade industrial se efetua por meio da concessão de patentes de invenções e de modelo de utilidade mediante a concessão de registro de desenho industrial e de registro de marca. A lei brasileira que regula os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial é a Lei n° 9279, de 14 de maio de 1996. 24 Esta lei também se aplica ao pedido de patente ou de registro proveniente do exterior e depositado no país por quem tem proteção assegurada por tratado ou convenção em vigor no Brasil e, também, aos nacionais ou pessoas domiciliadas em país que assegure aos brasileiros ou pessoas aqui domiciliadas a reciprocidade de direitos iguais ou equivalentes. Para efeito de igualdade de condições, as disposições dos tratados em vigor no Brasil são aplicáveis às pessoas físicas e jurídicas nacionais ou aqui domiciliadas. Os direitos de propriedade industrial são considerados bens móveis, para efeitos legais. A proteção da propriedade industrial tem por objeto as patentes de invenção, os modelos industriais, as marcas de indústria, de comércio e de serviço, o nome comercial e as indicações de proveniência ou denominações de origem, bem como a repressão da concorrência desleal. De um modo geral, a patente sendo uma propriedade intelectual gera crescimento industrial como a melhoria dos produtos existentes, facilita alianças estratégicas com licenças cruzadas, valorizando a empresa como um todo e estimulando o empregado por meio de incentivos e reconhecimentos devido a remuneração por royalties, e acima de tudo, a patente evita ações jurídicas. Para as empresas farmacêuticas multinacionais, a exclusividade temporária para exploração de uma invenção, no caso produtos e processos farmacêuticos, é uma importante estratégia para a obtenção do retorno dos investimentos feitos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e para obtenção de lucros. Isso porque a obtenção de uma patente dificulta a entrada de outros competidores no mercado. 25 3 GARANTIA DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA 3.1 EVOLUÇÃO DA GESTÃO DA QUALIDADE Desde que o ser humano transforma uma matéria-prima em produto, a qualidade é uma preocupação constante e crescente, rumo à perfeição. Esta busca torna-se ainda mais acentuada dentro de uma Indústria Farmacêutica, onde o produto final é o medicamento e a saúde das pessoas. Os conceitos de qualidade evoluíram através dos tempos e são diversos. Todos eles referem-se à satisfação do cliente e aos produtos. De acordo com o dicionário Aurélio®, qualidade é uma propriedade do produto que, numa escala de valores, serve para avaliar, aprovar, aceitar ou recusar qualquer coisa. De acordo com Ishikawa, qualidade de um produto ou serviço é a medida de como este satisfaz continuamente às necessidades e expectativas de seu usuário ou consumidor, em nosso caso, o paciente. Já segundo Crosby, qualidade é o cumprimento das especificações estabelecidas para satisfazer aos clientes. E como último exemplo temos Deming, que definiu qualidade como a perseguição das necessidades dos clientes e homogeneidade dos resultados dos processos, previsibilidade e baixa variabilidade. A preocupação com a qualidade de bens e serviços não é recente. Os consumidores sempre tiveram o cuidado de inspecionar os bens e serviços que recebiam em uma relação de troca. Essa preocupação caracterizou a chamada “era da inspeção”, que se voltava para o produto acabado, não produzindo qualidade, apenas encontrando produtos defeituosos na razão direta da intensidade da inspeção. A “era do controle estatístico” surgiu com o aparecimento da produção em massa, traduzindo-se na introdução de técnicas de amostragem e de outros procedimentos de base estatística, bem como, em termos organizacionais, no aparecimento do setor de controle da qualidade. Sistemas da qualidade foram pensados, esquematizados, melhorados e implantados 26 desde a década de 30 nos Estados Unidos e, um pouco mais tarde no Japão e em vários outros países do mundo. A partir da década de 50, surgiu a preocupação com a gestão da qualidade, que trouxe uma nova filosofia gerencial com base no desenvolvimento e na aplicação de conceitos, métodos e técnicas adequados a uma nova realidade. A gestão da qualidade total, como ficou conhecida essa nova filosofia gerencial, marcou o deslocamento da análise do produto ou serviço para a concepção de um sistema da qualidade. A qualidade deixou de ser um aspecto do produto e responsabilidade apenas de departamento específico, e passou a ser um problema da empresa, abrangendo, como tal, todos os aspectos de sua operação. Neste contexto é que surge nas indústrias farmacêuticas o departamento de Garantia da Qualidade. Dentro de uma Indústria Farmacêutica, este departamento representa a legislação vigente em determinado país, no caso do Brasil, estabelecida pela ANVISA. Uma equipe farmacêutica treinada tem a responsabilidade de representar a legislação vigente dentro da empresa, mantendo-se atualizada com as novas legislações, repassando essas informações por meio de treinamentos, validação de equipamentos e processos, entre outros. A preocupação com a qualidade, no sentido maisamplo da palavra, começou com W. A. Shewhart, estatístico norte-americano que, já na década de 20, tinha um grande questionamento com a qualidade e com a variabilidade encontrada na produção de bens e serviços. Shewhart desenvolveu um sistema de mensuração dessas variabilidades que ficou conhecido como Controle Estatístico de Processo (CEP). Este tipo de controle é amplamente utilizado na rotina de produção de toda indústria farmacêutica. Logo após a Segunda Guerra Mundial, o Japão se apresenta ao mundo destruído e precisando iniciar seu processo de reconstrução. W. E. Deming foi convidado pela Japanese Union of Scientists and Engineers (JUSE) para proferir palestras e treinar empresários e industriais sobre controle estatístico de processo e sobre gestão da qualidade. O Japão inicia, então, sua revolução gerencial silenciosa, que se contrapõe, em estilo, mas ocorre paralelamente à revolução tecnológica “barulhenta” do Ocidente e chega a se confundir com uma revolução cultural. Essa mudança silenciosa de postura gerencial proporcionou ao Japão o sucesso de que desfruta até hoje como potência mundial. 27 O período pós-guerra trouxe ainda dimensões novas ao planejamento das empresas. Em virtude da incompatibilidade entre seus produtos e as necessidades do mercado, passaram a adotar um planejamento estratégico, porque caracterizava uma preocupação com o ambiente externo às empresas. A crise dos anos 70 trouxe à tona a importância da disseminação de informações. Variáveis informacionais, socioculturais e políticas passaram a ser fundamentais e começaram a determinar uma mudança no estilo gerencial. Na década de 80, o planejamento estratégico se consolida como condição necessária, mas não suficiente se não estiver atrelado às novas técnicas de gestão estratégica. A gestão estratégica considera como fundamentais as variáveis técnicas, econômicas, informacionais, sociais, psicológicas e políticas que formam um sistema de caracterização técnica, política e cultural das empresas. Tem também, como seu interesse básico, o impacto estratégico da qualidade nos consumidores e no mercado, com vistas à sobrevivência das empresas, levando-se em consideração a sociedade competitiva atual. A competitividade e o desempenho das organizações são afetados negativamente em termos de qualidade e produtividade por uma série de motivos, as quais podemos citar: as deficiências na capacitação dos recursos humanos; os modelos gerenciais ultrapassados, que não geram motivação; a tomada de decisões que não são sustentadas adequadamente por fatos e dados, e as posturas e atitudes que não induzem à melhoria contínua. 3.2 QUALIDADE TOTAL Qualidade, enquanto conceito, um valor conhecido por todos e, no entanto, definido de forma diferenciada por diferentes grupos ou camadas da sociedade — a percepção dos indivíduos é diferente em relação aos mesmos produtos ou serviços, em função de suas necessidades, experiências e expectativas. 28 O termo qualidade total tem inserido em seu conceito seis atributos ou dimensões básicas que lhe conferem características de totalidade. Essas seis dimensões são: qualidade intrínseca, custo, atendimento, moral, segurança e ética; como pode ser observado na figura 5. FIGURA 5 - QUALIDADE TOTAL E SEUS ATRIBUTOS BÁSICOS Por qualidade intrínseca entende-se a capacidade do produto ou serviço de cumprir o objetivo ao qual se destina. A dimensão custo tem, em si, dois focos: custo para a organização do serviço prestado e o seu preço para o cliente. Portanto, não é suficiente ter o produto mais barato, mas sim ter o maior valor pelo preço justo. Atendimento é uma dimensão que contém três parâmetros: local, prazo e quantidade, que por si só demonstram a sua importância na produção de bens e na prestação de serviços de excelência. Moral e segurança dos clientes internos de uma organização 29 (funcionários) são fatores decisivos na prestação de serviços de excelência: funcionários desmotivados, mal-treinados, inconscientes da importância de seus papéis na organização não conseguem produzir adequadamente. A segurança dos clientes externos de qualquer organização, em um sentido restrito, tem a ver com a segurança física desses clientes e, em um sentido mais amplo, com o impacto do serviço prestado ou da sua provisão no meio ambiente. Hoje em dia, pode-se dizer que o foco no cliente tem primazia absoluta em todas as organizações, principalmente no ramo farmacêutico, onde o produto gerado tem influência direta sobre a saúde de pessoas. Finalmente, a sexta dimensão do conceito de qualidade total, a ética, é representada pelos códigos ou regras de conduta e valores que têm que permear todas as pessoas e todos os processos de todas as organizações que pretendem sobreviver no mundo competitivo de hoje. 3.2.1 Gestão da Qualidade total (GQT) A GQT é uma opção para a reorientação gerencial das organizações. Tem como pontos básicos: foco no cliente; trabalho em equipe permeando toda a organização; decisões baseadas em fatos e dados; e a busca constante da solução de problemas e da diminuição de erros. A Gestão da Qualidade Total valoriza o ser humano no âmbito das organizações, reconhecendo sua capacidade de resolver problemas no local e no momento em que ocorrem, e busca permanentemente a perfeição. Precisa ser entendida como uma nova maneira de pensar, antes de agir e produzir. Implica uma mudança de postura gerencial e uma forma moderna de entender o sucesso de uma organização. É uma nova filosofia gerencial que exige mudanças de atitudes e de comportamento. 30 Essas mudanças visam ao comprometimento com o desempenho, à procura do autocontrole e ao aprimoramento dos processos. Implica também uma mudança da cultura da organização. As relações internas tornam-se mais participativas, a estrutura mais descentralizada, e muda o sistema de controle. Sistemas de controle são necessários em qualquer organização; porém, na indústria farmacêutica estes sistemas são essenciais e indispensáveis, já que a qualidade do produto final deve ser inquestionável, pois estamos lidando com vidas. O autocontrole significa que a responsabilidade pela qualidade final dos produtos é a consequência do esforço conjugado de todas as áreas da empresa, onde todos precisam saber, a todo momento, o que fazer e como fazer; com informações objetivas e imediatas sobre o seu desempenho, permite que as pessoas respondam com participação, criatividade e responsabilidade. Como se trata de uma mudança profunda, a implantação desse modelo enfrenta várias barreiras, pois mexe com o status quo, com o imobilismo, com o conformismo e com os privilégios. Portanto, deve-se ver a Gestão da Qualidade não mais como um programa de modernização. Trata-se de uma nova maneira de ver as relações entre as pessoas, na qual o benefício comum é superior ao de uma das partes. Da Gestão da Qualidade Total depende a sobrevivência das organizações que precisam garantir aos seus clientes a total satisfação com os bens e serviços produzidos, contendo características intrínsecas de qualidade, a preços que os clientes possam pagar, e entregues dentro do prazo esperado. É fundamental atender e, preferencialmente, exceder às expectativas dos clientes. A obtenção da Qualidade Total parte de ouvir e entender o que o cliente realmente deseja e necessita, para que o bem ou serviço possa ser concebido, realizado e prestado com excelência. A GQT ocorre em um ambiente participativo. A descentralização da autoridade, as decisões tomadas o mais próximo possível da ação, a participação na fixação das metas e objetivos do trabalho normal e as metas e objetivos de melhoria da produtividade são considerações essenciais. 31 Desde os tempos de Frederick W. Taylor até os dias de hoje, vários modelosgerenciais foram descritos e utilizados pela maioria das organizações. Cada novo modelo gerou consideráveis melhorias nas formas de gerenciamento das organizações. Em virtude dessa situação, torna-se necessário adotar uma postura gerencial moderna e eficaz. Para uma efetiva implantação da Gestão da Qualidade Total, exemplo de excelência gerencial nas empresas, torna-se imprescindível a presença dos processos de educação e treinamento interno. Não existe Qualidade Total ou Gestão da Qualidade sem esses dois componentes vitais, porque permitem a aquisição de habilidades específicas necessárias ao novo paradigma gerencial. Uma indústria farmacêutica que pretende atingir à excelência em seus serviços ou produtos por meio de um sistema de gestão da qualidade deve ter foco centrado em seu cliente; forte liderança dos dirigentes; visão estratégica (valores, missão e objetivos) claramente definida e disseminada; clima positivo de expectativas quanto ao sucesso; forte espírito de equipe; equipe de trabalho consciente do papel que desempenha na organização e de suas atribuições; equipe de trabalho capacitada e treinada para melhor desempenhar suas atividades; planejamento, acompanhamento e avaliação sistemáticos dos processos e preocupação constante com inovações e mudanças. 32 4 GARANTIA DA QUALIDADE As ações sistemáticas e precisas para assegurar que determinado produto ou serviço satisfaça às exigências relacionadas à sua qualidade é chamada de "Garantia da Qualidade". Desta forma, toda indústria farmacêutica possui um departamento de Garantia da Qualidade. Este departamento é responsável pela implantação e manutenção da Política da Qualidade. Esta política consiste nas intenções e direções globais relativas à qualidade dentro da empresa, formalmente expressas e autorizadas pelo conselho administrativo, juntamente com o Responsável Técnico. Na fabricação ou no fornecimento de medicamentos, a Garantia da Qualidade é instrumento fiscalizador e normatizador que garante a infraestrutura para produção com qualidade por meio da utilização de um Sistema da Qualidade. O Sistema da Qualidade, por sua vez, engloba a estrutura organizacional, os procedimentos operacionais padrão, a validação dos processos de fabricação e análise e, finalmente, os recursos – humanos e materiais – necessários para a produção de um medicamento de qualidade. Os conceitos de Garantia da Qualidade, de Boas Práticas de Fabricação e de Controle de Qualidade são aspectos interrelacionados do gerenciamento da qualidade são elementos fundamentais para a fabricação de medicamentos com qualidade. Podemos afirmar que a "Garantia da Qualidade" é a totalidade das providências tomadas com objetivo de garantir que os medicamentos estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos pelo órgão regulamentador, para que possam ser utilizados para o consumo seguro da população. Portanto, a Garantia da Qualidade incorpora as Boas Práticas de Fabricação e outros fatores, como projetos arquitetônicos e plantas industriais, para que os fluxos de produção não sofram contaminação cruzadas. Um sistema apropriado de Garantia da Qualidade aplicado à fabricação de medicamentos deve assegurar que: 33 Os medicamentos sejam projetados e desenvolvidos considerando a necessidade do cumprimento das Boas Práticas de Fabricação. As operações de produção e controle de qualidade estejam especificadas por escrito, cumprindo às exigências de Boas Práticas de Fabricação. As responsabilidades gerenciais estejam claramente especificadas na descrição de cargos e funções. Sejam tomadas todas as providências relacionadas à fabricação, suprimento e utilização correta das matérias-primas. Sejam realizados todos os controles de qualidade de matérias-primas, produtos intermediários e produtos a granel, bem como outros controles em processo, calibrações e validações de equipamentos, processos e métodos analíticos. O produto acabado seja corretamente processado e conferido antes de deixar a empresa e chegar até o consumidor final, segundo procedimentos bem definidos. Os medicamentos não sejam expedidos antes que as pessoas autorizadas tenham certificado que cada lote de produção foi produzido e controlado, de acordo com os registros e outros fatores relevantes da relacionados à produção, controle e liberação de produtos farmacêuticos. Sejam fornecidas instruções aos colaboradores, e que as devidas providências sejam tomadas, necessárias para garantir que os medicamentos sejam armazenados, transportados, distribuídos e manuseados, de forma que a qualidade seja mantida durante todo prazo de validade. Haja procedimento de autoinspeção e/ou auditoria interna de qualidade, responsável por avaliar regularmente a efetividade e a aplicação do Sistema de Garantia da Qualidade, bem como seu rigoroso cumprimento. Haja um sistema de treinamento e capacitação contínua dos funcionários da empresa. Os fornecedores de materiais e matérias-primas sejam classificados, segundo os critérios listados no sistema de qualidade da companhia. Haja um sistema de rastreamento dos produtos desviados, danificados ou até mesmo falsificados. Haja um controle dos pontos de coleta e tratamento de água e ar. 34 Haja uma revisão dos Procedimentos Operacionais Padrão toda vez que houver modificação em projetos, processos, métodos analíticos, bem como na legislação vigente. Haja um canal de comunicação entre os registros de produtos aprovados e em processo de aprovação na ANVISA. Para facilitar o bom desempenho desta ampla gama de funções, usa-se dividir o departamento de Garantia da Qualidade em Boas Práticas de Fabricação, Inspeções, Treinamento, Qualificação de Fornecedores, Validação de Processos e Documentação. Para cada uma destas áreas, define-se um coordenador responsável pelas atribuições e por uma equipe composta por farmacêuticos e técnicos, cujo tamanho depende do porte da empresa e do volume de trabalho a ser realizado. Dependendo do porte da empresa, os coordenadores ficam subordinados ao gerente de Garantia de Qualidade, e este último, por sua vez, responde diretamente ao Responsável Técnico. 35 A seguir, veremos de forma didática cada uma das subáreas que compõem a garantia da qualidade dentro de uma indústria farmacêutica. 4.1 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO O setor de BPF – Boas Práticas de Fabricação é a parte da garantia da qualidade que assegura que os produtos sejam fabricados em conformidade e controlados em relação aos padrões de qualidade solicitados pelo registro sanitário do produto. As Boas Práticas de Fabricação de medicamentos estão relacionadas com os procedimentos de fabricação e de controle da qualidade. As Boas Práticas de Fabricação abrangem um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelas indústrias farmacêuticas a fim de garantir a qualidade sanitária e a conformidade dos medicamentos produzidos, em acordo com os regulamentos técnicos. A legislação sanitária federal regulamenta essas medidas em caráter geral, aplicável a todo o tipo de indústria farmacêutica. As normas que estabelecem as chamadas Boas Práticas de Fabricação envolvem requisitos fundamentais que vão desde as instalações da indústria, passando por rigorosas regras de higiene pessoal e limpeza do local de trabalho (tais como lavagem correta e frequente das mãos, utilização adequada dos uniformes, disposição correta de todo o material utilizado nos banheiros e o uso de sanitizantes) até a descrição, por escrito, dos procedimentos envolvidos no processamento do produto. Gerências, chefias e supervisão devem estar totalmente engajadas para o êxito do programa, pois o planejamento, organização, controle e direção de todo o sistema depende destes profissionais. Sendo necessáriosinvestimentos para a adequação das não conformidades detectadas nas instalações e nas ações de motivação dos funcionários, o comprometimento da alta administração torna-se fundamental. 36 As Boas Práticas de Fabricação são obrigatórias pela legislação brasileira, sendo que a primeira resolução que tornou obrigatório seu cumprimento para a produção de medicamentos foi a RDC n° 210, aplicada a todas as indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais, que pretendiam exportar produtos farmacêuticos para o Brasil. Esta resolução estabelecida pela ANVISA teve como objetivo principal diminuir os riscos inerentes à produção farmacêutica em nosso país, principalmente àqueles que não podem ser prevenidos completamente mediante o simples controle do produto acabado, de forma a garantir uma maior segurança do medicamento consumido em nosso sistema de saúde. Esses riscos são, por exemplo, contaminação cruzada entre salas e princípios ativos de diferentes produtos da mesma empresa, contaminação por partículas presentes no ar, troca ou mistura de produtos, tanto no momento da embalagem ou rotulagem incorreta; entre outros contratempos que podem ocorrer em uma rotina de produção industrial, mas que podem ser satisfatoriamente minimizados por meio do cumprimento das Boas Práticas de Fabricação. As Boas Práticas de Fabricação (BPF) podem ser divididas em seis elementos como mostra a figura 6. As Boas Práticas de Fabricação têm uma atuação ampla e efetiva quando todos os elementos são incorporados. O elemento Fábrica compreende essencialmente o meio ambiente, tanto interior quanto exterior. O meio ambiente exterior e interior precisam ser administrados para prevenir a contaminação dos insumos farmacêuticos durante o processamento depois do produto acabado. Já o elemento Pessoal é o mais importante dentre os seis elementos. As pessoas são a chave para planejar, implementar e manter sistemas efetivos de Boas Práticas de Fabricação. As verificações do Programa de Boas Práticas de Fabricação devem ser feitas pelos funcionários que trabalham diretamente com os vários processos. O elemento Limpeza e Sanitização compreende programas e utensílios empregados para manter a fábrica e os equipamentos em limpeza e em condições apropriadas. Remoção e destruição de micro-organismos são palavras-chave. 37 FIGURA 6 - BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO E SEUS ELEMENTOS BÁSICOS O elemento Equipamentos e Utensílios compreende a parte física da planta, equipamentos grandes ou pequenos, simples e complexos, que são utilizados para transformar a mistura de excipientes e princípios ativos em produto final embalado e pronto para consumo. As considerações das Boas Práticas de Fabricação incluem o material no qual equipamentos e utensílios são construídos, bem como seu desenho e fabricação. Este elemento também inclui a manutenção preventiva dos equipamentos, de forma a garantir a expedição de medicamentos seguros e eficazes, de qualidade consistente. Os elementos Processos e Controles incluem uma ampla gama de dispositivos e procedimentos por meio dos quais o controle de qualidade é exercido de forma consistente e durante todo o processo de fabricação. Os controles podem incluir dispositivos manuais ou automáticos que regulam cada atributo, como temperatura, tempo, fluxo, pH, acidez, peso, dureza, friabilidade, entre outros. 38 Destruição de lotes em não conformidade com os parâmetros requeridos são práticas adotadas. Este elemento também inclui sistemas de registro que contém informações para documentar o desempenho do sistema de processamento turno por turno, dia após dia, durante todo o ano. Os elementos Armazenamento e Distribuição compreendem a manutenção de produtos e matérias-primas em um ambiente que proteja sua integridade e qualidade. Uma forma usual de controle é a temperatura baixa, mas o ambiente de armazenagem e distribuição também deve ser defendido da ameaça de pragas e da poluição ambiental. Para garantir o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação, uma equipe definida pelo Gerente de Garantia da Qualidade realiza inspeções periódicas, auditorias internas e treinamentos de todos colaboradores da fábrica. Os funcionários precisam ser treinados nas práticas de processamento e controle de processos que estão diretamente relacionados com suas responsabilidades de trabalho. Um programa de treinamento efetivo é um processo contínuo e, como tecnologia ou mercado, em constante evolução. Os funcionários devem seguir hábitos de higiene pessoal, incluindo roupas apropriadas. É também de responsabilidade deste setor monitorar e arquivar os relatórios de não conformidade, por meio dos quais se podem investigar e solucionar desvios de produção. Fica sob responsabilidade também do setor de BPF administrar e implementar controles de mudança de formulações, procedimentos operacionais padrão, instalações, funcionários, e qualquer outra alteração dentro da empresa, seja esta de layout ou recursos humanos. 4.2 QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES 39 Toda empresa que decide produzir produtos farmacêuticos deve ter como preocupação primordial a qualidade da matéria-prima utilizada, tanto dos excipientes, que devem ser todos de grau farmacêutico, como principalmente os princípios ativos, maiores responsáveis pelo efeito farmacológico e, consequentemente, pela saúde, bem-estar ou até sobrevida de pacientes. Definir os critérios para qualificação de fornecedores exige a elaboração de um criterioso roteiro de qualificação, apresentado pela ANVISA na Resolução RDC 214, de 12 de dezembro de 2006. Destacamos aqui alguns itens que dispõem sobre a qualificação de fornecedores: - Deve haver procedimento operacional descrito, detalhando todas as etapas do processo de qualificação de fornecedores, mantidos os registros e os documentos apresentados por cada fornecedor /fabricante. - A qualificação do fabricante/fornecedor deve ser feita abrangendo no mínimo, os seguintes critérios: a. Comprovação de regularidade perante às autoridades sanitárias competentes; b. Avaliação do fabricante/fornecedor, por meio de análises de controle de qualidade e da avaliação dos laudos analíticos apresentados, verificando o atendimento às especificações estabelecidas pelo farmacêutico e acertadas entre as partes; c. Auditorias para verificação do cumprimento das normas de Boas Práticas de Fabricação ou de Fracionamento e Distribuição de insumos; d. Avaliação do histórico dos fornecimentos anteriores. - A avaliação do cumprimento das Boas Práticas de Fabricação ou de Fracionamento e Distribuição de insumos pelo fabricante/fornecedor, prevista no item “c”, poderá ser realizada utilizando legislação específica em vigor. - A empresa deve manter cópia do relatório da auditoria. No relatório de auditoria devem ser avaliados os seguintes documentos: 40 Comprovação da regularidade perante autoridades sanitárias; Comprovação da regularidade do fornecedor perante às autoridades sanitárias competentes; Solicitar ao fornecedor os seguintes documentos: Alvará de Funcionamento, Alvará Sanitário e Autorização Especial (no caso de fornecedores de substâncias sujeitas ao controle especial); Integrar estes documentos junto à pasta de histórico de fornecedores qualificados; A ausência de documentação sanitária pertinente é quesito básico para o fornecedor integrar a relação de fornecedores; Avaliação periódica do Fabricante/Fornecedor Qualificado. Para qualificar um fornecedor, devemos monitorar o desempenho de fornecedores, registrando sistematicamente a qualidade das matérias-primas, produtos entregues ou dos serviços prestados, bem como qualquer defeito no serviço de entrega e nas comunicações. Devemos também avaliar estas informações periodicamente, realizar auditorias anuaisnos fornecedores, visando avaliar o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação ou de Fracionamento e Distribuição de Insumos. Por fim, manter a cópia do relatório da auditoria realizada arquivada no setor de Documentação da empresa. O departamento de Compras, juntamente com o Responsável Técnico, deverão: - Realizar uma avaliação contínua dos fornecedores baseada no histórico de fornecimento, registrando tais avaliações em uma Ficha de Avaliação de Fornecedor. - Classificar os fornecedores em função de critérios bem estabelecidos. - Manter na relação de Fornecedores Qualificados aquele fornecedor que obtiver a classificação igual ou superior à “Regular“ e excluir da relação o fornecedor que obtiver avaliação inferior à “Regular“. 41 O fornecedor deverá atender às especificações estabelecidas e solicitadas pela empresa no momento da aquisição. Cada lote de matéria-prima adquirido deverá ser acompanhado do respectivo certificado de análise e ficha de segurança. O certificado de análise deve ser detalhadamente avaliado, observando os seguintes quesitos no momento do recebimento: - Atendimento às especificações estabelecidas; - Informações sobre a embalagem e o transporte; - Condições de armazenagem; - Informações relevantes sobre segurança; - Quaisquer informações necessárias para processamento posterior. Caso nenhuma especificação tenha sido acordada com o fornecedor, espera-se que as entregas sejam feitas de acordo com as suas especificações-padrão aceitáveis. Verificar se o fornecedor possui um sistema de gestão da qualidade que possa ser verificado e, que esteja em conformidade com as normas ISO (e posteriores) e com as normas sanitárias, ou estabelecidas pela Agência Nacional (ANVISA). É interessante pontuar o fornecedor de acordo os itens descritos no quadro abaixo: Empresa com sistema de gestão da qualidade certificado pela ISO 9001 10 pontos Empresa com Certificado de Boas Práticas emitido pela ANVISA 5 pontos Nota: a pontuação pode ser aditiva caso a empresa seja certificada por em mais de um item observado. Contudo, o máximo de pontos contemplados não deverá ser superior a 15. 42 Para calcular o resultado final, somar os pontos obtidos nas avaliações e classificar o fornecedor como “Ótimo”, “Bom” ou “Regular” em função dos pontos obtidos, e excluir da relação de fornecedores qualificados o fornecedor que obtiver uma pontuação baixa. 4.3 VALIDAÇÃO DE PROCESSOS Validação é o ato de demonstrar e documentar que um processo realmente funciona, de forma efetiva. A validação de um processo consiste em garantir e fornecer evidências documentais de que o processo é capaz de produzir de forma consistente um produto final de acordo com a qualidade exigida. A validação de ensaios de controle de qualidade é essencial na fabricação de produtos farmacêuticos, registro de novos medicamentos, bem como em laboratórios de controle de qualidade, pois é uma ferramenta que demonstra que o método é apropriado para a finalidade estabelecida. Assim, o objetivo da validação é assegurar a reprodutibilidade dos resultados e o estabelecimento de limites de aceitação do erro analítico, por meio da aplicação sistemática de testes de precisão e exatidão. Dentro da Garantia da Qualidade existe um comitê de validação formado por pessoas da Garantia da Qualidade, Produção, Manutenção e Segurança. Este comitê determina um plano máster de validação, onde são definidos os critérios de aceitação ou reprovação de processos e dos métodos analíticos, por meio da profunda análise e conhecimento dos processos, das análises de risco, avaliação de pontos críticos em processo, etc. A validação dos métodos analíticos e bioanalíticos é regulamentada por intermédio da Resolução – RE nº 899, de 29 de maio de 2003. Determina que a validação deva garantir, por meio de estudos experimentais, que o método atenda às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilidade dos resultados. Um estudo de validação deve apresentar precisão, exatidão, linearidade, sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade adequada à análise. 43 Os estudos de validação devem satisfazer às Boas Práticas de Fabricação, e devem ser elaborados conforme procedimentos definidos. Os resultados e as conclusões devem ser registrados adequadamente, enviadas por meio de um relatório de validação e permanecer arquivadas no setor de Documentação. A adoção de uma nova fórmula ou de um novo método de preparação deve satisfazer à produção de rotina e ao processo escolhido, como os produtos e os materiais previstos, dando sistematicamente um produto de qualidade requerida. É conveniente validar todas as modificações importantes do processo de fabricação, em extensão aos materiais e produtos. As modificações podem alterar a qualidade do produto e/ou a reprodutibilidade do processo. Os procedimentos devem ser submetidos periodicamente a uma nova validação crítica a fim de confirmar as atitudes conduzidas aos resultados. É conveniente ainda validar todas as modificações importantes do processo de fabricação, em extensão aos materiais e produtos, considerando que as modificações podem alterar a qualidade do produto final, bem como a reprodutibilidade do processo. Os procedimentos devem ser submetidos periodicamente a uma nova validação crítica, com o objetivo de confirmar os procedimentos conduzidos até se chegar ao produto final e aos resultados. Vale a pena salientar que as revalidações devem ocorrer com periodicidade predefinida no plano máster de validação. A cada ano é feita uma verificação dos dados obtidos para avaliação das tendências, a partir dos históricos de fabricação. 4.4 DOCUMENTAÇÃO 44 São inúmeros os documentos que devem ser arquivados em uma indústria farmacêutica, e esta parte do sistema da qualidade é essencial, já que envolve o histórico e a imagem da companhia farmacêutica. Dentro do imenso volume de documentos arquivados, podemos citar o Manual de Qualidade, os POP’s – Procedimentos Operacionais Padrão, os registros de produtos, dossiês de fabricação de cada lote produzido, certificados de análise, de calibração de equipamentos, validação, formulários, registros de rastreabilidade de lotes; enfim, este departamento ficará responsável por uma parte primordial dos registros de tudo que acontece dentro da empresa. Tudo isto deve ser muito bem organizado e arquivado por períodos estabelecidos pela ANVISA, de acordo com o tipo de documentação, que pode variar de dois anos a tempo indeterminado. É importante manter uma organização impecável neste setor, de modo a permitir uma consulta rápida e ágil no caso de reclamações de SAC, recolhimento de lotes, exigência ou inspeção das autoridades sanitárias, entre outras situações em que a consulta a estes arquivos se faz indispensável. 45 5 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Neste módulo iremos falar sobre a pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica. Como todos sabem, para que um medicamento seja lançado no mercado, inúmeras etapas devem ser cumpridas e pesquisadas. Neste capítulo, dividiremos a pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica em duas partes: estudos clínicos e desenvolvimento farmacotécnico. 5.1 ESTUDOS CLÍNICOS Os estudos clínicos são também denominados de fase da descoberta. Isso porque nesses estudos são realizadas análises e/ou síntese de novas moléculas que poderão ser promissores no combate a alguma doença. Essa fase inicial é geralmente realizada em universidades e/ou instituições de pesquisa, distribuídas pelo país ou no exterior, e normalmente leva ao depósito de uma patente. As moléculas que apresentarem resultados promissores durante a primeira fase – denominada
Compartilhar