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1 Afecções Podais em Bovinos Leiteiros Introdução Principais causas de dor e desconforto para bovinos; Lesões podais são responsáveis por 90% dos casos de claudicação; Responsáveis por perdas econômicas expressivas na pecuária leiteira: queda na produção (5 a 20% por lactação), custo do tratamento, descarte do leite (medicamentos), perda de escore corporal (prejuízos a reprodução), redução da fertilidade e aumento da taxa de descarte dos animais; Produtividade X Intensificação da produção; 7 – 10% claudicação/rebanho/ano é aceitável. Principais causas de prejuízo na bovinocultura leiteira I. Metrites; II. Mastite; III. Problemas de casco. As lesões de casco levam a dor e produção de cortisol com consequente queda de imunidade do animal e aumento da ocorrência de outras doenças como metrite e mastite. Problemas reprodutivos relacionados a problemas de casco Ausência de cio; Maior n° de serviços por prenhez; Maior intervalo entre partos; Pior qualidade do sêmen; Descarte precoce do animal (perda total ou parcial da carcaça); Custo de reposição; Maior suscetibilidade a outras doenças (mastite). Fatores de risco para as afecções podais Ambientais e estacionais (umidade, temperatura, confinamento x pasto); Nutrição; Genética; Estresse. 1. Ambiente/estabulação Maior concentração de animais por área; Maior volume de dejetos; Maior umidade; Menor higiene; Resolução: impermeabilização dos pisos para diminuição da umidade e maior facilidade de limpeza. Rotina de uma vaca em confinamento 4,5 horas se alimentando; 0,5 horas bebendo; 2 horas em pé na baia; 2 horas em pé nos corredores (socializando); 3 horas para ordenha; 12 horas para descansar deitada. 2. Nutrição Aumento da produção = maior consumo de alimentos Utilização de rações com altos teores energéticos e baixa quantidade ou qualidade de fibras. o O rúmen possui capacidade máxima Necessidade de fornecer alimentos concentrados, que possuem mais nutrientes em pequena porção do alimento (atenção ao limite de processamento da microbiota ruminal), porém, deve-se buscar rações com equilíbrio entre CHO’s estruturais (fibra vegetal) e não estruturais (grãos) Menor tamanho das partículas = menor tempo de ruminação = menor produção de saliva e HCO3- acidose. Recomendação: 25% da silagem de milho com fibras maiores que 5 cm (na prática é impossível se adequar a isso). A laminite é responsável por 60 a 70% dos problemas de cascos em confinamento (quadros subclínicos ou crônicos) Peso + piso de concreto + acidose ruminal contribuem para aumentar a incidência de problemas de casco; Vacas em lactação: forragem deve corresponder a pelo menos 40% da matéria 2 seca e o concentrado não deve exceder 60% MS. o Adaptação a nova dieta: microbioma demora 2 semanas e papilas demoram de 6 a 8 semanas. 3. Genética Maior capacidade digestiva e respiratória; Melhor desenvolvimento da glândula mamária; Diminuição do tamanho de teto; Aumento da capacidade de produção de leite; Por muito tempo não houve seleção para melhoramento de pernas e pés na mesma proporção que o melhoramento para a produção Baixa herdabilidade das características. Conhecendo o casco Sistema de amortecimento Os cascos possuem um aparato de amortecimento responsável por amortecer o impacto quando o animal anda e auxiliar no bombeamento do sangue, contribuindo para o retorno venoso. Quando comparado com o humano, o pé das vacas exerce uma pressão muito maior por área (pressão aproximadamente 10x maior por cm2). Dimensões do casco Quando oferecemos concentrado, a microbiota vai produzir ácidos graxos voláteis, que são os “combustíveis” para a vaca. Porém, esses AGV precisam ser absorvidos pelo rúmen, e para que essa absorção aconteça, as papilas devem aumentar de tamanho e volume, para aumentar a superfície de absorção, por isso é importante que tenha esse período de adaptação. A oferta d muito concentrado sem o período de adaptação leva a uma produção excessiva de AGV, que vão ultrapassar os limites de utilização e absorção e se acumular, reduzindo o pH, causando acidose ruminal e morte de bactérias gram negativas com liberação de toxinas, lesão da parede ruminal decorrente do pH ácido, absorção de toxinas, que vão parar na microcirculação podal, desencadeado a liberação de fatores pró-inflamatórios causadores de isquemia (vasoconstrição), necrose e laminite. 3 Distribuição do peso Animais confinados: Maior tendência ao desgaste excessivo dos talões, que vão perdendo altura e levando a um alongamento da pinça Redução da angulação do casco (ideal: ângulo em torno de 50º); Desgaste excessivo da muralha e afinamento da sola Apoio errôneo do animal atrapalha a drenagem dos dejetos entre as unhas. Acometimento dos membros e localização das lesões Maior incidência nos membros pélvicos devido ao afastamento dos membros causado pelo alto desenvolvimento da glândula mamária, que favorece o apoio errôneo; associado ao maior contato com fezes e urina (animais estabulados), que leva ao amolecimento do casco e a ocorrência de lesões. 4. Estresse (fatores relacionados ao indivíduo) Maior idade e mais lactações = Maior risco de lesões podais. Exemplo: uma vaca com 10 anos possui 4x maior risco de desenvolver problema locomotor do que uma vaca de 3 anos; Estresse do parto; Confronto de novilhas recém-paridas com vacas dominantes no confinamento; Mudança brusca na alimentação; 2 a 3 meses pós-parto; Novilhas parindo muito cedo; Concentração de animais/ área física; Experiência do proprietário, administrador e funcionário do manejo. Diagnóstico das causas de claudicação A escolha das categorias é necessária para saber se o problema está relacionado a alimentação ou ao conforto. Escore de claudicação Escore 1 Linha de dorso reta, passada longa (animal coloca o casco do membro pélvico na marca do casco do membro torácico). 4 Escore 2 Em estação: linha de dorso reta / Andando: linha de dorso arqueada (claudicação); passada mais curta; animal se movimenta com a cabeça mais baixa Relacionado a ocorrência de laminite subclínica (lesões secundárias). Laminite – Patofisiologia Acidose ruminal crônica (pH ruminal entre 5- 5,5 Lesão na parede e morte de bactérias gram – com liberação de LPS LPS chegam ao casco causando isquemia Lesões secundárias (lesões de talão, descolamento de linha branca, rachadura no casco, deformação do estojo córneo, presença de sola dupla) ocorrem 1-2 meses após o evento isquêmico. Escore 3 Animal apresenta claudicação em estação e andando; animal apresenta sinais de desconforto constante (em estação e andando): passada mais curta no membro afetado e mais longa no membro contralateral. Escore 4 Animal apresenta sinais de desconforto em estação e andando (passada mais longa no membro contralateral), balança bastante a cabeça. Escore 5 Não apoia o membro em estação. Anatomia dos cascos Visão dorsal A muralha cresce cerca de 5 mm/mês de acordo com o ambiente e nutrição Algumas condições atrapalham esse crescimento, causando desbalanço dos cascos. 5 Visão ventral Linha branca liga a muralha à sola e é um local muito propenso a lesões. Importante: Locais úmidos (acúmulo de fezes e urina) amolecem as lâminas do casco, aumentando a facilidade de entrada de contaminantes e a susceptibilidade a lesões. Quando associados a solos duros (concentro), que atrapalham a distribuição de cargas/peso e causam crescimento desordenado do casco, levam a maior incidência de problemas; Apesar dos membros torácicos suportarem maior peso (cabeça),atualmente os membros pélvicos são mais afetados devido a maior produção de leite, que reflete em maior tamanho do úbere e levam o animal a pisar mais aberto (membros mais afastados, prejuízo a deangulação), associada a utilização de pisos de concreto. O uso do Ceftiofur é recomendado? Sim, mas na dose de 5 mg/kg. Nessa dose há resíduos no leite e o descarte precisa ser realizado. Avaliação do rebanho I. Verificar o grau de claudicação dos animais; II. Examinar individualmente os animais que apresentam alterações e verificar a característica das lesões mais frequentes; III. Identificar qual a principal causa de claudicação no rebanho; IV. Aplicar os métodos para corrigir falhas. Condições predisponentes 1) Confinamento e intensificação da produção Observações: Apesar de aparentar ser um sistema mais confortável para o casco e para os animais, o compost mal manejado, com muitos resíduos na cama (exemplo: pedra) e/ou cama muito úmida ou seca, aumenta a incidência de problemas de casco e doenças como pneumonia; Pisos de concreto/calçamento com buracos facilitam a ocorrência de lesões; A escolha de eleição para as camas de Free Stall hoje é a areia, por ser macia, fria e drenar com facilidade. Porém, devido a sua origem (rios), possui muitos pedriscos, que causam problemas como abscessos de linha branca, subsoleares e pododermatite necrosante, quando em contato frequente com o casco; Pastagens muito úmidas (principalmente ao redor de cochos e bebedouros) amolecem os cascos e aumentam o tempo de contato com contaminantes A resolução com o uso de pedras para evitar a umidade excessiva é mais danoso do que benéfica. 6 2) Higiene e cuidados sanitários Casqueamento O manejo ideal é instituir o casqueamento preventivo dos animais, na secagem ou no pré-parto (1-2x por ano). Se a propriedade possui tronco adequado, pode-se realizar o casqueamento na secagem sem prejuízos ao animal gestante. Quando é necessário deitar o animal para mexer nos cascos, o ideal é realizar o manejo nos animais vazios. Exame do casco I. Higiene Limpeza com água e escova. Observação: nos membros pélvicos, o apoio do dígito lateral é maior devido a distribuição das cargas. Esse dígito é mais afetado por lesões, como a que podemos observar na imagem Para resolver o problema é necessário debridar a lesão, retirando a área de necrose, refazer a concavidade interdigital e colocar taco no dígito contralateral para reduzir o apoio do dígito lateral, facilitando a cicatrização. Exemplo: Animal apresenta dígitos de tamanho similar devido a ser mantido em pastagem e não apresentar alta produção de leite (vaca Jersey). Animal apresentava úlcera de sola devido a ocorrência de acidose. II. Limpeza da muralha e nivelamento da sola 7 Lesões Lesões indicativas de defeitos nas instalações Observações: Crescimento excessivo das pinças está relacionado a instalações que desgastam muito os talões; Pinça em tesoura indica falta de casqueamento. Lesões relacionados à higiene e cuidados sanitários Dermatite digital; Dermatite interdigital; Erosão de talão; Flegmão interdigital. Prevenção Prevenção das lesões relacionadas às instalações 1. Correção do piso Concreto x Borracha: Free Stall: superfícies não abrasivas, não escorregadias (frisos) e com baia umidade. Áreas de circulação: Piso macio (terra, palha, grama); Reduzir distâncias em pisos duros; Caminhos opcionais para as vacas; Limpar áreas de circulação; Conduzir as vacas de maneira adequada. Salas de ordenha e espera: Piso de borracha. 2. Correção da cama Free Stall: Manejo: trocar, repor, ensinar novilhas; Ventiladores sobre as camas; Compost: Serragem, maravalha; Revolver e repor; Controlar umidade e temperatura. Prevenção das lesões associadas à higiene e cuidados sanitários Casqueamento preventivo Preservar talões e tirar mais pinça, principalmente de vacas confinadas; nivelar a sola (grosa). 8 Avaliação dos cascos Pedilúvio Observação: a solução precisa atingir só o casco e não deve tocar a pele para evitar lesões abrasivas. Qual é a melhor localização para os pedilúvios? Apesar do corriqueiro ser observar pedilúvios instalados na saída da ordenha, deve-se avaliar se o local não está ficando muito sujo devido à alta frequência de micção e defecação, induzidas pelo contato dos cascos com água gelada. Nesses casos, a colocação de pedilúvio na entrada da ordenha pode favorecer a manutenção da limpeza da solução, pois os animais irão urinar e defecar após a passagem pelo pedilúvio, na sala de ordenha. Soluções Formalina Uso proibido! Tetraciclina Casos de surto de dermatite digital. Problema: cara e inativada na presença de matéria orgânica. Exemplos: Flegmão interdigital Afastamento das pinças, vermelhidão na região de coroa de casco/talão. Necrose pododérmica Evolução de um flegmão interdigital Resolução: amputação dos dígitos. 9 Dermatite digital Casos graves: lesão não se mantinha apenas no bulbo do talão, se estendia para a sola Resolução: limpeza, colocação de pasta com Oxitetraciclina e unguento e curativo. Abscesso de linha branca Após a limpeza do casco formou-se uma úlcera, que foi tratada com pasta com açúcar e Oxitetraciclina, curativo e casco de madeira no dígito contralateral. Doenças infeciosas dos cascos 1. Dermatite digital papilomatosa Exemplo: Alterações: Presença de ulceração com bordas esbranquiçadas e papilas córneas (semente de morango) no centro Processo sangra com facilidade e é extremamente dolorido; Erosão de talão – indica ambiente contaminado/sujo; Sola dupla – problemas de alimentação: excesso de carboidratos e acidose. Formas de apresentação Ulcerada 10 Proliferativa Causas e fatores de risco Diagnóstico Tratamento Tratamento tópico Tratamento sistêmico/parenteral Casos refratários ou com claudicação intensa Oxitetraciclina por via IV 24-24h para aumentar a resposta, já que não existe tempo de absorção e o tempo de ação/CIM é reduzido. Tratamento cirúrgico Dermatites proliferativas Anestesia de Bier Limpeza Remoção do tecido de granulação Curativo. Observação: aproveitar o garrote para fazer uma perfusão regional com lidocaína sem vasoconstritor e antibiótico IV (geralmente gentamicina) e deixar agir por 30-40 minutos. 11 Importante: Medidas de controle 2. Dermatite interdigital Menor magnitude/maior sutileza “Frieira” nos interdígitos (entre os bulbos dos talões). Etiologia Observação: funciona como porta de entrada para bactéria e pode evoluir para flegmão e dermatite digital. Relacionada a dieta, falta de casqueamento e higiene. Tratamento 3. Erosão dos talões Importante: pode estar relacionada a laminite. 12 Quando associada a má higiene o animal apresenta doença de linha branca evidente, crescimento de sola desordenado, talão baixo e pinça alongada. Etiologia A dermatite digital está muitas vezes associada a erosão de talão. Fatores predisponentes Características das lesões Tratamento e controle 4. Flegmão interdigital Animais com cascos mais afastados são mais suscetíveis a entrada da bactéria. 13 Definição Causas e fatores de risco Sinais clínicos e diagnóstico Primeiras 12 horas: Após 24-36 horas: Após 48-72 horas: Complicações – Casos crônicos: O que mais acontece é a destruição do estojo córneo com exposição e necrose da pododerme e até mesmoda terceira falange. Tratamento Ideal: iniciar nas primeiras 12 horas. Observação: Animais reduzem muito a produção, sendo indicado secá-los e utilizar medicamento de longa ação (exemplo: Zuprevo). 14 Controle e prevenção Pedilúvio 5. Artrite interfalangeana distal séptica Também conhecida como Artrite Podal Séptica ou Supurativa. Vias de infecção Geralmente é uma sequela do flegmão. Sinais clínicos Inicialmente: Progressão: Exostose: crescimento ósseo benigno; Anquilose: fusão de superfícies articulares por tecido ósseo proliferado. Confirmação diagnóstica 15 Raio X Seta esquerda: osteólise articular; Seta direita: osteoperiostite periarticular estendendo-se ao longo das falanges média e proximal. Tratamento clínico Indicado para as fases iniciais! Antibioticoterapia: AINEs: Tratamento cirúrgico Uma vez que o tratamento médico apresente resultados muitas vezes insatisfatório e a depender do valor zootécnico do animal. Amputação do dígito Fresamento da sola 16 Observações: Cicatrização da ferida por segunda intenção; Preserva o dígito. Laminite Bovina Também conhecida como Pododermatite asséptica difusa, Degeneração laminar aguda e Coriose. Introdução Etiopatogenia Condições normais de alimentação: Condições de fornecimento excessivo de carboidratos: Acidose lática ruminal (Lactobacillus acidophilus e Streptococcus bovis) x Laminite Formas de apresentação Aguda Subclínica Evolução lenta e insidiosa; Vacas leiteiras em sistema intensivo; Sinais não são evidentes; Lesões podais secundárias associadas à degeneração laminar. Lesões podais associadas à laminite subclínica e crônica (degeneração laminar) Hemorragia de sola; Úlcera de sola; Sola dupla; Erosão dos talões Doença da linha branca; Fissuras ou rachaduras verticais ou horizontais; Deformação do estojo córneo. a) Sola dupla Alteração brusca na dieta; 17 Interrupção do fluxo sanguíneo para as lâminas sensitivas e o acúmulo de fluido serosanguinolento sob a falange distal; Separação da junção derme-epiderme; Múltiplas camadas. b) Deformação do estojo córneo Deformação nos dígitos; Crescimento anormal do casco; Amolecimento da sola; Cruzamento das pinças; Desenvolvimento de anéis irregulares na parede do casco. Pinça em tesoura. c) Rachaduras do casco Origem traumática (esporádico); Desidratação do casco (clima seco e solo arenoso); Deficiência de proteína e vitaminas (biotina, A, D e E); Desquilíbrio entre macro e microminerais (cálcio, fósforo, zinco, cobre, enxofre, selênio e molibidênio). Epidemiologia Tratamento Forma aguda Formas subclínica e crônica Tratar e corrigir as alterações de casco. d) Pododermatite circunscrita Formas de apresentação d.1) Pododermatite circunscrita hemorrágica ou hemorragia de sola 18 d.2) Pododermatite circunscrita perfurada ou úlcera de sola d.3) Pododermatite circunscrita complicada Lesão ulcerada associada a complicações secundárias, como a Artrite Interfalangeana Distal. Tratamento Casqueamento da unha comprometida; Expor e debridar os tecidos desvitalizados; Colocar taco de madeira no dígito saudável (2 a 4 semanas) para reduzir o apoio da unha e permitir a cicatrização adequada da ferida. 1. Hiperplasia da pele interdigital Sinônimos: tiloma, fibroma interdigital, dermatite vegetativa interdigital, calo interdigital, limax, gabarro. Causas Irritação crônica; Crescimento excessivo da parede axial; Conformação anormal (aberta); Acúmulo de gordura subcutânea no espaço interdigital; Genética: animais com menos de 2 anos – bi ou quadrupedal); DDP, DI ou FI. Sinais clínicos Observação: claudicação presente se houver ferida. Tratamento Cirúrgico – retirada da massa.
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