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1 Afecções do Sistema Digestório em Ruminantes Anatomia Válvula retículo-omasal: passagem do alimento em partículas menores. “O rúmen é dividido em compartimentos denominados saco cranial, saco dorsal, saco ventral, saco cego caudal dorsal e ventral, sendo essas divisões criadas por pilares musculares móveis, assim como as pregas reticulares. Durante as contrações do segmento ruminorreticular, os pilares se elevam e relaxam alternadamente, acentuando e reduzindo as divisões dentro do lume do órgão. Dois padrões de motilidade ruminorreticular são descritos: contrações primárias ou de mistura e contrações secundárias ou de eructação. As contrações primárias se iniciam com uma contração dupla do retículo e são seguidas de uma contração peristáltica do saco dorsal em sentido caudal. Completando a contração do saco dorsal, o mesmo ocorre com o saco ventral em sentido caudal, seguido por uma contração do saco dorsal em sentido cranial. A contração primária é completada com a contração do saco ventral em sentido cranial. As contrações secundárias são realizadas imediatamente após as contrações primárias. Elas consistem numa onda de movimento cranial que se inicia na porção caudal cega do saco dorsal e continua por toda sua extensão. A função da contração secundária é forçar o gás em direção à porção cranial do rúmen, próximo do cárdia, para que ele entre no esôfago e seja eructado. As contrações do segmento ruminorreticular ocorrem, em geral, com frequência de 1 a 3 minutos. A taxa e as forças de contração dependem da característica da dieta, sendo que os alimentos grosseiros e fibrosos estimulam contrações mais frequentes e fortes. As contrações secundárias podem ser mais ou menos frequentes, dependendo da taxa de formação de gás. A motilidade ruminorreticular acaba estratificando e separando a ingesta ruminal, criando zonas no interior do rúmen. Na porção dorsal, há uma zona gasosa, composta pelos gases da fermentação. Abaixo dela, encontra- se uma zona sólida, composta por líquido e sobrenadantes (partículas maiores de forragem). Na porção inferior há uma zona líquida, com consistência parecida com a da água, onde se localizam as partículas menores e mais degradadas da forragem.” 2 Função ruminal Ácidos graxos voláteis Observações: Ácido butírico: manutenção da parede ruminal; Quando aumentamos a % de carboidratos na dieta, a proporção de propionato sobe para ~30–35% e a de ácido acético cai. 1. Acidose lática ruminal Sobrecarga ruminal, indigestão ácida ou acidose D-láctica. Etiologia Principais causas: Introdução à alimentação de forma não gradativa – a microbiota não consegue absorver todos os AGVs produzidos devido ao subdesenvolvimento das papilas ruminais (8 a 12 semanas), favorecendo a ocorrência de acidose; Excesso de CHOs – microbiota não consegue absorver o excesso de AGVs produzidos; Mudanças climáticas – países com inverno rigoroso (clima temperado) onde os animais precisam ser confinados; Diminuição da alimentação x fome; Alimentação irregular – animais que recebem concentrado durante a ordenha; Restos alimentares (feiras) – pequenos ruminantes; Hovenia dulcis (uva do Japão). Alimentos predisponentes possuem: Amido; Sacarose; Lactato; Glicose. Frutas Grãos Tubérculos Fatores determinantes: Tipo de alimento ingerido; Quantidade de alimento ingerido; Adaptação rumenal; Estado nutricional. Fisiopatogenia O excesso de CHO’s na dieta predispõe grande produção de AGVs Acúmulo de AGVs no lúmen ruminal Queda do pH ruminal (acidose ruminal) Morte de bactérias gram - e multiplicação das gram + (Streptococcus bovis e Lactobacillus acidophilus) Aumento da produção de ácido lático (acidose lática) Intensificação da acidose (acidose metabólica). Associado ao processo de acidose, ocorre ruminite química com lesão e destruição da parede ruminal Translocação de bactérias e endotoxinas (LPS) para a circulação Abcesso hepático, síndrome da veia cava caudal, sepse, laminite aguda ou crônica. Observação: manter os animais na faixa de pH 5,5 (limite mínimo; obtido de 2-3 pós- alimentação) pode ser interessante para aproveitar o acréscimo de propionato resultante da fermentação do lactato. O problema é que normalmente os animais se mantêm dentro do intervalo 5,5 – 5,0, o que configura acidose ruminal subclínica e 3 acarreta síndromes secundárias devido a lesão da parede ruminal. Sinais clínicos Desidratação: diarreia + hipersecreção da parede ruminal. Diagnóstico Exames laboratoriais Neutropenia: consumo de neutrófilos pelas bactérias ruminais.; Bioquímica renal: análise de ureia e creatinina para identificar possível lesão renal provocada pela acidose metabólica e desidratação. Necropsia Mucosa ruminal eritematosa e edemaciada. Tratamento Retirar água; Dieta com fibras; Transfaunação – transferência/transplante de microbioma ruminal; Agentes alcalinizantes o Bicarbonato de sódio 250g – o uso em vacas não é tão contraindicado devido a alcalinização do lúmen intestinal, pois esses animais o recebem através da dieta; o Óxido de magnésio 200g – substituto do bicarbonato. Carvão ativado (400g/VO) – antitóxico; ATB – VO o Penicilina (20 a 50 milhões UI); o Neomicina (1 a 2 g); o Tetraciclina (5 a 10 g); o Virginiamicina. Ruminotomia – fixação do rúmen para posterior incisão (evita a contaminação da cavidade abdominal); Hidratação intravenosa – ringer lactato e NaHCO 3% (150 mg/kg) Hidratação enteral pode forçar o órgão; Alimentação verde por 15 dias; Lavar o rúmen com água fria? Não é muito indicado, mas caso seja feito deve-se colocar água morna no órgão após o procedimento. Observações: Magnésio: Óxido de magnésio: protetor de mucosa; Leite de magnésio: protetor de mucosa e laxante; Sulfato de magnésio: protetor de mucosa. Antibióticos seletores de microbiota: Monensina também poderia ser utilizada, porém, o ideal é que seja adicionada a dieta, já que é um ionóforo; Ideais: penicilina ou virginiamicina, pois são mais seletivos para gram + (neomicina e tetraciclina possuem amplo espectro). Prevenção Controle da alimentação – 60% de CHOs e 40% de volumoso; Ionóforos: o Monensina – Na e K; o Lasalocid (ionóforo) – K, Ca e Na. Virginiamicina; Monitoramento das fezes – diarreia e presença de bolhas. 2. Acidose Ruminal Subclínica 4 3. Obstrução esofágica Etiologia Neoplasias: a principal é o carcinoma de células escamosas provocado pela ingestão de samambaia. Sinais clínicos Aumento de volume ventral no pescoço (obstrução cervical), dificuldade respiratória e timpanismo gasoso (acúmulo de gás devido a impossibilidade de saída pelo esôfago). Diagnóstico Sinais clínicos e sondagem (impedimento na passagem). Tratamento Sondagem (diagnóstico e tratamento): Observações: Empurrar o corpo estranho para dentro do rúmen ou retirá-lo pela boca; Tratar esofagite: lesão na parede do esôfago causada pela presença do corpo estranho ou pela passagem da sonda. 4. Timpanismo ruminal Etiologia Alterações na movimentação ruminal Timpanismo gasoso causado por indigestão vagal. Tipos a) Primário ou espumoso; b) Secundário ou gasoso. a) Timpanismo primário ou espumoso Causas Fatores predisponentes 5 Sinais clínicos Som maciço: perda da estratificação ruminal com som mais uniforme em todo o órgão. Distensão ruminal no flanco ventral esquerdo – perda da estratificação ruminal (acúmulo difuso da espuma). Diagnóstico Análise do líquido ruminal; Achados de necropsia – difícil estabelecer se o timpanismo é pré ou pós mortem. Diagnósticos diferenciais Prenhez avançada; Hidropsia uterina; Deslocamento de abomaso à direita ou à esquerda; Indigestão vagal; Dilatação cecal; Ascite; Peritonite difusa. Tratamento Prevenção – Primário Óleos e gorduras diminuem a formação de bolhas. b) Timpanismo secundário ou gasoso Causas Observações: Postural: decúbito lateral prolongado em procedimentos cirúrgicos ou devido a doenças Cárdia fica submerso, impedindo a eructação e favorecendo o refluxo de conteúdo ruminal Mudar o animal de posição frequentemente; Lesões nervosas do nervo vago Animais condrodistróficas (miniboi). Sinais clínicos Morte súbita – o animal é encontrado morto e identifica-se a obstrução esofágica na necropsia; Distensão abdominal principalmente no flanco dorsal esquerdo; 6 Intranquilidade por dor abdominal: animal deita e levanta, escoiceia o abdômen e rola; Protrusão de língua; Dispneia – respiração bucal, torácica e rápida; Salivação; Extensão da cabeça; Frequência respiratória aumentada – indica dor; Vômito ou regurgitação; Redução dos movimentos devido a distensão; Percussão com som timpânico. Distensão ruminal no flanco dorsal esquerdo (acúmulo do gás na parte mais dorsal do rúmen). Tratamento clínico Sonda; Trocater (cateter; ruminocentese) – animais com grande dificuldade respiratória, onde a passagem da sonda pode piorar o quadro de dispneia. Reticulo Pericardite Traumática Fatores predisponentes a) Anatômicos: tipo de mucosa do reticulo: saco em U (“colmeia”), tipo de papila bucal Os corpos estranhos/metálicos (pesados) que caem no complexo rúmen-reticulo se depositam no reticulo, perfuram as papilas bucais e não conseguem sair; b) Fisiológicos: ruminantes não mastigam na 1ª deglutição (presas enchem o rúmen e fogem) e apresentam baixa sensibilidade gustativa e baixa seletividade na apreensão (arrancamento com a língua e preensão com incisivos inferiores); c) Idade: mais comum em adultos com + de 2 anos; d) Ambiental: pasto sujo, instalação recém-construída (presença de pregos, parafusos etc.). Sinais clínicos Fase aguda Febre; Anorexia total; Movimento ruminal reduzido ou ausente; Dores abdominais craniais – utilizar provas de sensibilidade positiva (beliscamento de cernelha, bastão, percussão dolorosa no tórax e prova da rampa); Queda súbita de produção; Timpanismo – devido a compressão do cárdia e a atonia ruminal provocada pela dor; Abdução dos membros anteriores (para facilitar respiração torácica); Taquicardia. Observação: em geral esses sinais cessam com 2 dias e, ou animal morre ou a deposição excessiva de fibrina no local isola a inflamação levando a redução dos sinais dolorosos (provas de sensibilidade negativas). Casos menos agudos Anorexia; Hipogalactia; Febre ausente; Perda de peso; Pelagem grosseira; Dores abdominais craniais sem localização; Pericardite Sinais de insuficiência cardíaca direita (na maioria dos casos): Edema ventral em região de mandíbula, barbela e abdômen; Pulso jugular positivo Retorno venoso devido a redução do débito cardíaco (átrio direito não consegue contrair adequadamente devido a compressão causada ao coração pelo acúmulo de líquido no 7 pericárdio levando a retenção de sangue no ventrículo direito). Abcessos em fígado e baço; Diagnóstico Patologia clínica Hemograma; Abdominocentese (pode não ser elucidativa, já que o acúmulo costuma ocorrer em região de tórax); Pericardiocentese; Raio X e ultrassom – necessidade de equipamentos potentes (alto kV e mAs). Necropsia Peritonite difusa e efusão pericárdica. Tratamento Conservador 1. Antibacterianos de amplo espectro Ceftiofur + Gentamicina (associação mais barata Penicilina é cara); Penicilina + Gentamicina; Tetraciclina (pouco indicada devido ao menor espectro de ação). 2. AINEs Flunixin meglumine; Meloxican. Observação: em casos crônicos o prognóstico é reservado. Prevenção e controle Uso de ímãs intra ruminais (retículo) e no vagão forrageiro (retirada de metais durante a mistura da ração). Indigestão Vagal Indigestão do vago ou Síndrome de Hoflund. Etiologia Acometimento do nervo vago, estrutura responsável pela motilidade do trato gastrointestinal Grupo de distúrbios motores que causam atonia e dificultam a passagem da ingesta pelo reticulo-rúmen e/ou abomaso. Tipos Tipo I: timpanismo gasoso sem justificativa, passa a sonda sem nenhuma dificuldade ou obstáculo, ou seja, não existe nenhuma obstrução, apenas uma falha do mecanismo de eructação Comum nos animais condrodistróficos (compressão do nervo vago); Tipo II (mais comum): aumento do tônus da válvula retículo-omasal com consequente estenose. o Animal come normalmente, porém, defeca pouco Conteúdo não progride para o omaso e passa por processamento excessivo no rúmen podendo gerar timpanismo espumoso e atonia ruminal (distensão da parede); o Actinobacilose (“língua de pau”): casos mais raros com formação de abscessos na língua, esôfago e cavidade torácica; o Diagnosticada na laparoruminotomia exploratória. Tipo III: rúmen mantém certa movimentação (não há atonia como no tipo II); Tipo IV: gestação avançada leva a deslocamento cranial dos órgãos, que acabam obstruindo o piloro e causando compressão nervosa. Relacionado a ocorrência de timpanismo espumoso devido a manutenção de ingesta muito digerida no rúmen, que não consegue progredir em direção aboral. Sinais clínicos 8 Apetite reduzido – rúmen repleto; Timpanismo ruminal recidivante e crônico – tipo I; Emagrecimento progressivo – ingesta não chega ao intestino má absorção dos nutrientes (animal se mantém através da produção de ácidos graxos voláteis e corpos cetônicos); Distensão ruminal no flanco esquerdo dorsal e ventral direito; o Rúmen em forma de L – distensão ruminal na direção ventral direita; o Formato maça-pêra; Redução das partículas do material ingerido Ingesta muito digerida gera líquido espumoso e não produz estratificação ruminal, assemelhando o quadro ao timpanismo espumoso; Redução do volume fecal com fezes gordurosas e pastosas; Animais ingerem água, mas ela também se acumula no rúmen; Bradicardia por estimulação do nervo vago – a bradicardia não é muito intensa (~60-62 bpm) e ocorre principalmente nos tipos II e III; Hipomotilidade ruminal com movimentos incompletos; o Não produz estratificação ruminal e gera líquido espumoso – som maciço Diagnóstico diferencial: timpanismo espumoso. Hipotonia ou atonia. Tratamento Inespecífico e complicado, pois é necessário avaliar cada um dos tipos de indigestão e examinar o animal em busca de achar a causa Marcel utiliza a laparotomia exploratória, pois, além de ser um procedimento simples (realizado com o animal em estação), ainda é um método diagnóstico muito valioso em bovinos Tipo I e II (nenhuma alteração): Marcel realiza ruminotomia; Terapia com corticoide nos casos em que o rúmen não está repleto e não se acha nada na exploração da cavidade Objetivo: reduzir a compressão do nervo vago. Observação: não pode haver infecção associada. Controle Realizado junto a prevenção da reticulopericardite traumática, pois as patologias estão bastante relacionadas. Dilatação e vólvulo cecal O ceco possui a função de fermentação. Devido a possuírem o rúmen (câmara de fermentação principal, muito desenvolvida), o ceco de ruminantes não apresenta quadros de dilatação e vólvulos por disfunção gastrointestinal tão importante como nos equinos. Fisiopatogenia Alimentação – excesso de carboidratos altamente fermentáveis devido a maior produção de gás(mais comum no Nordeste devido a alimentação com palma forrageira); Hipocalcemia – redução da motilidade intestinal e acúmulo de gás; Doenças do TGI – atonia; Indigestão vagal – leva a atonia do intestino, raramente patológica. Sinais clínicos A distensão de vísceras gera dor abdominal: animal olha para o abdômen, escoiceia, deita e levanta várias vezes, pode rolar; Tenesmo – pode estar presente; 9 Som timpânico a percussão caudal no flanco direito; Aumento de FC e FR – relacionado principalmente a dor; Fezes graxentas, gordurosas e reduzidas. Diagnóstico Exames complementares Laparotomia exploratória; US – identificação de conteúdo gasoso e vísceras distendidas Necessidade de equipamentos potentes. Diagnósticos diferenciais Deslocamento de abomaso à direita (animal não apresenta distensão excessiva e não há tanta produção de som timpânico a percussão), torção estrangulativa, obstrução, úlceras abomasais, intussuscepção. Tratamento Em quadros de hipocalcemia pode se tentar um tratamento conservador utilizando analgésicos, tamponantes e catárticos/laxantes, que vão favorecer a passagem da ingesta (diarreia), associados a reidratação para reposição dos eletrólitos (auxiliam no retorno da motilidade intestinal). Porém, se houver vólvulo o tratamento deve ser cirúrgico. Casos clínicos 1) Para tirar o animal do quadro de cetose precisaria de um soro glicosado mais concentrado/potente (glicose 50% IV). Animal apresentando alterações indicativas de deslocamento de abomaso à direita: 40 dias pós-parto (rúmen já retornou a sua posição, impedindo o deslocamento à esquerda); “Ping metálico” do lado direito; Cetose (não está se alimentando – atonia ruminal). Além disso, apresenta hipotermia, mucosa hiperêmica, FR e FC elevadas (dor), indicando provável torção do órgão. 2) Quadro clássico de deslocamento de abomaso a direita sem torção, pois o “ping metálico” ainda se encontra em região ventral (à medida que o abomaso fica repleto ele torce e o ping se desloca dorsalmente). 3) Quadro clássico de deslocamento de abomaso à esquerda: 10 Pós-parto imediato (grande espaço deixado na cavidade abdominal após a redução do tamanho do útero); Rúmen vazio (redução da ingestão); “Ping metálico” na fossa paralombar esquerda. Além disso, a distensão na fossa paralombar esquerda indica a ocorrência de timpanismo, explicado devido a redução da contratilidade ruminal. 4) Alterações laboratoriais: Hipoglicemia; Cetonemia; Leucocitose com neutrofilia, linfocitose, eosinofilia, desvio a esquerda e inversão da relação neutrófilo:linfócito; Fibrinogênio aumentado, indicando a ocorrência de processo inflamatório/infeccioso; Hipercloremia – acidose metabólica; Hipocalcemia – tratada, porém não foi resolvida e induziu ao quadro de deslocamento de abomaso. Observação: o tratamento escolhido pelo médico veterinário não está correto, pois utilizou Penicilina por apenas 2 dias (ideal: a cada 12h). Alterações laboratoriais: Leucocitose com neutrofilia, desvio a esquerda e inversão da relação neutrófilo:linfócito; Queda do fibrinogênio: processo inflamatório mais crônico; Trombocitopenia – consumo pelo processo inflamatório/infeccioso; Alcalinemia (pH do sangue > 7,45), alcalose metabólica hipoclorêmica (redução do Cl- e aumento do HCO3- e cBase), hiponatremia, hipocalemia e hipocalcemia. Alterações clínicas: “Ping metálico” indica deslocamento de abomaso a direita. A rápida piora do animal, com redução do hematócrito e da proteína plasmática indica comprometimento vascular e certo grau de torção abomasal. Tratamento adequado Estabilizar o animal para a cirurgia. Reidratação Solução salina 0,9% ou ringer simples (soluções acidificantes: maior [Cl-]). Como as concentrações de potássio e cálcio presentes no RS não são suficientes para repor o déficit do animal, deve-se adicionar esses eletrólitos separadamente: Cálcio (soluções comerciais): 20 mL (1 frasco/L de soro); Potássio (calcular!): 5 mL de ampola de K+ 10%. Antibacterianos (infecção) Ceftiofur ou Penicilina + Gentamicina. Importante: a Oxitetraciclina é contraindicada devido ao quadro de hipocalcemia Quelante de cálcio. Cirurgia Canulação do abomaso (sutura em bolsa de fumo) para permitir a saída do conteúdo acumulado e facilitar o reposicionamento do órgão. O líquido possui grandes quantidades de Na+, Cl- e toxinas. 11 Observações: A presença de fezes esteatorreicas/graxentas é comum nos quadros de deslocamento de abomaso e úlcera de abomaso; O ping metálico ocorre nas regiões de transição gás-líquido do rúmen. Deslocamento de abomaso À direita ou à esquerda Antigamente o deslocamento à esquerda apresenta maior incidência devido a ocorrer no pós-parto imediato em decorrência do esvaziamento ruminal associado ao aumento de espaço intra-abdominal (redução do útero) e a hipocalcemia. Atualmente, devido ao uso de dietas aniônicas para prevenção da hipocalcemia e ao crescente uso de dietas de alta produção, com alta % de concentrado, houve um aumento da [CHOs] que passam pelo rúmen e são fermentados no abomaso, acarretando aumento expressivo do deslocamento de abomaso à direita. No deslocamento à esquerda a passagem de alimento se mantém e há maior acúmulo de gás; No deslocamento à direita ocorre maior acúmulo de gás e líquido e a alcalose metabólica é mais exacerbada devido à baixa absorção e maior liberação de Cl- (líquido). Fatores predisponentes Bovinos adultos no pós-parto; Bezerros podem ser acometidos – deslocamento à direita: alto consumo de ração; Predisposição genética; Alimentação rica em CHOs; Hipocalcemia, endotoxemia, retenção de placenta. Fisiopatogenia Mecanismo 1 Quadro de endotoxemia/hipocalcemia + aumento da concentração de AGVs e CHO Atonia abomasal Maior fermentação, produção e acúmulo de gás dentro do órgão, facilitando seu deslocamento dentro da cavidade. Mecanismo 2 Sinais clínicos Anorexia; Movimentos ruminais reduzidos; Fezes esteatorreicas; Desidratação; Ruminação diminuída; FC, FR e temperatura inicialmente normais – quando há torção há piora rápida desses parâmetros; Cetonúria; Percussão e auscultação com som metálico; Queda na produção de leite. 12 Diagnóstico Patologia clínica Hipoglicemia; Cetonúria; Hemogasometria: alcalose metabólica, hipocalcemia, hipocalemia; Urinálise: pH ácido (reflexo do organismo tentando equilibrar tudo e acaba perdendo um pouco de ácido pela urina). Diagnósticos diferenciais Reticulo pericardite traumática, timpanismo ruminal, pneumoperitônio, fisometra, dilatação e deslocamento cecal, indigestão vagal, pneumorreto/vólvulo. Diagnósticos diferenciais – “Ping metálico” Pode estar presente não só no deslocamento de abomaso, mas em outras afecções que criam estratificação ruminal com região de transição gás-líquido (acúmulo excessivo), como RPT e indigestão vagal. Além disso, também pode se apresentar nos quadros de úlcera de abomaso. Deslocamento de abomaso à esquerda Área do ping metálico em azul, abaixo do gradil costal, entre a 8ª e a 13ª costela, se projetando um pouquinho para trás no flanco. Deslocamento de abomaso à direito com ou sem torção O verde seria o espaço ocupado pelo abomaso quando se tem um deslocamento a direta. O espaço azul indica onde seria possível percutir o ping metálico nos casos de torção (o som atinge extensões maiores. Pneumoperitônio. Atonia ruminal, timpanismo. 13 Fisometra com acúmulo de gás dentro do útero. Tratamento Conservativo: uso de laxantes e reposição hidroeletrolítica – normalmenteapresenta poucos resultados; Abomasopexia por laparotomia exploratória; Omentopexia – técnica mais fácil. Prevenção Alimentação: evitar excesso de CHOs; Evitar estresse dos animais no pré e pós- parto; Pós-parto: utilização de drenchs comerciais ou soluções de hidratação enteral Enchimento ruminal. Vólvulo O deslocamento de abomaso a direita na maior parte das vezes vem acompanhado de vólvulo abomasal; É considerado vólvulo o giro a partir de 180º (ângulos menores: torções parciais), com comprometimento da vascularização do órgão. Sinais clínicos (mais graves) Depressão; Aumento de FC e FR – dor intensa; Desidratação – animal pode em choque devido ao sequestro de líquido para o órgão e consequente aumento de volume com comprometimento vascular e dor Animal escoiceia o abdômen, o som metálico fica mais amplo. Tratamento Emergência Recuperar a vascularização do órgão rapidamente com procedimento para esvaziamento do órgão durante a intervenção. O deslocamento de abomaso impede a passagem do conteúdo e leva ao comprometimento vascular da víscera. Com a progressão do quadro o abomaso continua secretando ácido clorídrico, que em condições normais seria reabsorvido no intestino, porém, como a dieta não está progredindo, acaba se acumulando dentro do abomaso. Como o ácido clorídrico está sendo retirado do sangue e substituído por bicarbonato, o animal apresenta alcalose metabólica hipoclorêmica. Observação: a retirada do líquido leva a grande perda de cloreto (alcalose metabólica hipoclorêmica), potássio e sódio, por isso, a reidratação nesses casos possui grande importância. O fluido de escolha seria soluções que tenham a tendência a acidificar o sangue, como a solução fisiológica 0,9%, pois o animal apresenta alcalose (não realizar para causar acidose, apenas para neutralizar). Além disso, seria essencial adicionar potássio e cálcio para repor os eletrólitos necessários para reverter a alcalose. O ringer simples também seria interessante, porém, possui concentração maior de cloreto e menor de sódio. Úlcera de abomaso Etiologia Geralmente associada ao uso de dietas ácidas, ricas em CHOs Os carboidratos não são totalmente degradados no rúmen e passam para o abomaso, onde começam a fermentar. Como a digesta chega já acidificada ao abomaso, quando associada ao HCl secretado no lúmen do órgão predispões a ocorrência de feridas na parede. 14 Sinais clínicos Diagnóstico e exames auxiliares O diagnóstico clínico é o mais realizado, porém, alguns parâmetros laboratoriais como a identificação de sangue oculto nas fezes é um importante indicador. Tratamento Adequar dieta; Antibacterianos; Antiácidos o Ranitidina injetável (pararam de produzir); o Omeprazol injetável ou oral; o Cimetidina (8/8h). Transfusão – quadros de anemia (Ht abaixo de 15%). Observação: nos casos de peritonite (associada a RPT) o quadro se torna complicado e acaba não apresentando um bom prognóstico.
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