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Carla Bertelli – 4° Período – Revisar a morfofisiologia do fígado – Compreender a etiologia, vias de transmissão, classificação, período de incubação, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e diagnóstico das hepatites virais – Entender os aspectos microbiológicos e sorológicos dos vírus causadores das hepatites virais O í é a glândula mais pesada do corpo. O fígado encontra-se inferiormente ao diafragma e ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e parte das regiões epigástricas da cavidade abdominopélvica. Ele é totalmente recoberto por peritônio visceral e é completamente coberto por uma camada de tecido conjuntivo denso irregular. Anatomicamente é dividido em lobo hepático direito grande e um lobo hepático esquerdo menor. O ligamento falciforme se estende da face inferior do diafragma entre os dois lobos principais do fígado até o seu aspecto superior, ajudando a suspender o fígado na cavidade abdominal. Na margem livre do ligamento falciforme está o um remanescente da veia umbilical do feto; este cordão fibroso se estende do fígado ao umbigo. Os á direito e esquerdo são extensões estreitas do peritônio parietal que suspendem o fígado do diafragma. Histologia – Composto por hepatócitos, canalículos de bile e sinusoides hepáticos, que juntos com o ducto biliar, um ramo da artéria hepática e um ramo da veia hepática são chamados de tríade protal. • ó – São as principais células funcionais do fígado, realizam funções metabólicas, secretoras e endócrinas. Formam arranjos tridimensionais complexos chamados de lâminas hepáticas. As lâminas hepáticas são placas de hepatócitos de uma célula de espessura limitada em ambos os lados por espaços vasculares revestidos por células endoteliais chamados sinusoides hepáticos. Os sulcos nas membranas celulares entre hepatócitos vizinhos fornecem espaços para os canalículos. • í - Os canalículos de bile são pequenos ductos entre os hepatócitos que coletam a bile produzida pelos hepatócitos. Dos canalículos de bile, a bile passa para os dúctulos biliares e, em seguida, para os ductos biliares. – aí vai para o ducto hepático comum e depois ducto colédoco • á - São capilares sanguíneos altamente permeáveis entre fileiras de hepatócitos que recebem sangue oxigenado de ramos da artéria hepática e sangue venoso rico em nutrientes de ramos da veia porta do fígado Os hepatócitos, o sistema de ductos biliares e os sinusoides hepáticos podem ser organizados em unidades anatômicas e funcionais de três maneiras diferentes: Carla Bertelli – 4° Período • ó á . De acordo com este modelo, cada lóbulo hepático tem o formato de um hexágono. No seu centro está a veia central, e irradiando para fora dele estão fileiras de hepatócitos e sinusoides hepáticos • ó Este modelo enfatiza a função exócrina do fígado, isto é, a secreção biliar. Por conseguinte, o ducto biliar de uma tríade portal é considerado o centro do lóbulo portal. O lóbulo portal tem uma forma triangular e é definido por três linhas retas imaginárias que ligam três veias centrais que estão mais próximas à tríade portal • Á á . Nos últimos anos, a unidade estrutural e funcional preferida do fígado é o ácino hepático. Cada ácino hepático é uma massa ligeiramente oval que inclui partes de dois lóbulos hepáticos vizinhos. O eixo curto do ácino hepático é definido por ramos da tríade portal – ramos da artéria hepática, veia e ductos biliares – que correm ao longo da margem dos lóbulos hepáticos. O eixo longo do ácino é definido por duas linhas curvas imaginárias, que ligam duas veias centrais mais próximas ao eixo curto. Os hepatócitos do ácino hepático estão dispostos em três zonas ao redor do eixo curto, sem fronteiras nítidas entre eles As células na zona 1 são as mais próximas aos ramos da tríade portal e as primeiras a receber oxigênio, nutrientes e toxinas As células da zona 3 são as mais distantes dos ramos da tríade portal e são as últimas a mostrar os efeitos da obstrução biliar ou exposição a toxinas As células da zona 2 têm características estruturais e funcionais intermediárias entre as células das zonas 1 e 3. Funções do Fígado Os hepatócitos secretam diariamente de 800 a 1.000 mℓ de um líquido amarelo, marrom ou verde-oliva. Ele tem um pH entre 7,6 e 8,6 e é constituído principalmente por água, sais biliares, colesterol, um fosfolipídio chamado lecitina, pigmentos biliares e vários íons. O principal pigmento biliar é a . A fagocitose dos eritrócitos envelhecidos libera ferro, globina e bilirrubina (derivada do heme). O ferro e a globina são reciclados; a bilirrubina é secretada na bile e, por fim, é decomposta no intestino. Um de seus produtos de degradação – a estercobilina– dá às fezes a sua coloração marrom normal. A bile é parcialmente um produto de excreção e parcialmente uma secreção digestória. Os sais biliares, que são sais de sódio e sais de potássio dos ácidos biliares (principalmente ácidos quenodesoxicólico e cólico), desempenham um papel na çã , a fragmentação de grandes glóbulos lipídicos em uma suspensão de pequenos glóbulos lipídicos. Os pequenos glóbulos lipídicos apresentam uma área de superfície muito grande que possibilita que a lipase pancreática realize mais rapidamente a digestão dos triglicerídios. Os sais biliares também ajudam na absorção de lipídios após a sua digestão. Além de secretar bile, que é necessária para a absorção das gorduras dietéticas, o fígado desempenha outras funções vitais: . O fígado é especialmente importante na manutenção de um nível normal de glicose no sangue. Quando a glicose no sangue está baixa, o fígado cliva o glicogênio em glicose e libera glicose para a corrente sanguínea. O fígado também pode converter determinados aminoácidos e o ácido láctico em glicose, e pode converter outros açúcares, como a frutose e a galactose, em glicose. Quando a glicemia está elevada, como ocorre logo depois de uma refeição, o fígado converte a glicose em glicogênio e triglicerídios para armazenamento í . Os hepatócitos armazenam alguns triglicerídios; clivam ácidos graxos para gerar ATP; sintetizam lipoproteínas, que transportam ácidos graxos, triglicerídios e colesterol de e para as células do corpo; sintetizam colesterol; e utilizam o colesterol para produzir sais biliares Carla Bertelli – 4° Período í . Os hepatócitos desaminam (removem o grupo amino, NH2) dos aminoácidos, de modo que eles possam ser utilizados para a produção de ATP ou ser convertidos em carboidratos ou gorduras. A amônia (NH3) resultante é então convertida em ureia, que é muito menos tóxica e é excretada na urina. Os hepatócitos também sintetizam a maior parte das proteínas plasmáticas, como a alfaglobulina e betaglobulina, a albumina, a protrombina e o fibrinogênio çã . Conforme observado anteriormente, a bilirrubina, derivada do grupo heme de eritrócitos envelhecidos, é absorvida pelo fígado a partir do sangue e secretada na bile. A maior parte da bilirrubina da bile é metabolizada no intestino delgado por bactérias e eliminada nas fezes çã A pele, o fígado e os rins participam na síntese da forma ativa da vitamina D. TORTORA, G. J., & DERRICKSON, Bryan. (2019). Princípios de Anatomia e Fisiologia (14°). Guanabara Koogan. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/97885277288 67/epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref%3Dcover]!/4/2/2%4051:14 Em primeiro lugar, “hepatite” é o nome de cada um dos vírus hepatotrópicos (hepatites A, B, C, D, e E) que possui uma afinidade específica para o fígado. Em segundo lugar, “hepatite” corresponde aos padrões histológicos de lesão hepática, tanto aguda como crônica (dependendo do vírus específico), que são observados nos fígados infectados por vírus hepatotrópicos. Hepatite é o conjunto de lesões necróticas e inflamatóriasque acometem o fígado de modo difuso, com distribuição heterogênea, e se expressam clinicamente por icterícia, colúria, acolia fecal, astenia e outras manifestações sistêmicas. São provocadas sobretudo por vírus, agressões químicas (álcool, transtornos metabólicos e drogas/medicamentos) e distúrbios autoimunes. As hepatites mais importantes são as causadas pelos chamados vírus hepatotrópicos, ou seja, aqueles que infectam somente as células hepáticas. Todas as formas de hepatite compartilham padrões semelhantes de lesão Ela pode ser classificada em (de pouco tempo) ou ô (com duração de pelo menos 6 meses). a hepatite aguda mostra congestão, edema e pequenas depressões na superfície externa e pode apresentar volume aumentado. Já na hepatite crônica o fígado pode apresentar nódulos de regeneração hepatocelular circunscritos por cicatrização a hepatite aguda apresenta menos inflamação e mais morte de hepatócitos do que a hepatite crônica. Na hepatite aguda, muitos hepatócitos apresentam balonização (degeneração hidrópica), alteração de membranas levando a fusão de hepatócitos, resultando em bi ou trinucleação. Também é possível visualizar hepatócitos apoptóticos, que se apresentam como células retraídas, eosinofílicas e com núcleos fragmentados. Outra consequência da hepatite aguda é o acúmulo de bilirrubina dentro dos hepatócitos (colestase intrahepatocítica), pois a célula se torna incapaz de excretar a bilirrubina que conjuga. A característica histológica da hepatite crônica é a infiltração mononuclear portal. Um indicador da progressão do dano hepático é a hepatite de interface, representada por apoptose de hepatócitos da placa limitante lobular mediada por linfócitos TCD8+, também conhecido como necrose em saca-bocado. O que caracteriza a hepatite crônica progressiva é a cicatriz fibrosa. No início, apenas os canais portais exibem fibrose, mas em casos mais graves faixas de densa cicatriz fibrótica estendem-se entre os canais portais levando ao desenvolvimento de cirrose. Uma vez infectado por um ou mais dos vírus hepatotrópicos (A, B, D, C, E) o indivíduo pode ter as seguintes formas de apresentação: (1) infecção assintomática; (2) hepatite aguda (ictérica ou anictérica); (3) hepatite fulminante; (4) hepatite crônica; (5) portador assintomático. Hepatite aguda pode ser esporádica ou epidêmica, transmitida por via fecal-oral (VHA, VHE) ou parenteral (VHB, VHC, VHD). O quadro clínico inclui manifestações gerais como anorexia, náuseas e colúria; icterícia distingue as formas ictéricas das anictéricas; os casos mais graves ou fulminantes estão sempre entre as primeiras. Na maioria dos pacientes, a infecção aguda pelos vírus das hepatites é clinicamente assintomática. ã r – Aceita-se que a magnitude da lesão celular, nas hepatites agudas, dependa da carga viral e da capacidade de multiplicação do agente viral. Por sua vez, tem importância a resposta despertada pelo hospedeiro, classificada como: 1 – Não Específica – Depende da participação de interferon, complemento e linfócito NK; 2 – De células Killer, como neutrófilos e macrófagos, os quais requerem anticorpos para sua atuação; 3 – Especificidade exercida pelos linfócitos T citotóxicos (CTC) Carla Bertelli – 4° Período Esses mecanismos atuam visando eliminar o agente viral, precipitando a lise celular. Quando essas respostas se revelam eficientes e precoces, propiciam a cura sorológica e restituição total do parênquima, não facilitando a instalação de estado de portador da doença hepática. Além desses efeitos, o vírus pode lesar a célula do hospedeiro ao interferir diretamente com o seu maquinismo, ou exercer toxicidade a partir de seus produtos. Na hepatite por vírus A, a lesão do hepatócito provavelmente decorre de uma citotoxicidade mediata por células imunocompetentes. Uma resposta imune exagerada pode gerar a hepatite fulminante. Na hepatite por vírus B, o dano maior é causado pela reação do hospedeiro. A resposta imunológica é mediada por células e dirigida contra o antígeno core, que se expressa na superfície do hepatócito. A reação elimina o antígeno e o hepatócito. No estado sadio, a resposta imunológica é inadequada e há tolerância ao vírus. Esse estado de tolerância pode ser ultrapassado a qualquer momento, com a emergência de clones de células T reativas levando à inflamação e à necrose celular. É possível que outros fatores intervenham, como lesão celular por citocinas. Na hepatite por vírus C, o mecanismo de lesão celular não é bem entendido, mas acredita-se que também seja imunológico. Não se sabe se o vírus é citopático. É possível, ademais, que uma exagerada variação de proteínas do envelope viral facilite uma evasão à resposta imunológica do hospedeiro, levando à persistência da infecção pelo vírus C. Aspectos Anatomopatológicos – A hepatite aguda viral é uma doença difusa necroinflamatória do fígado que, em geral, evolui com menos de 6 meses de duração. Pode ser histologicamente não distinguível da hepatite crônica, o que torna o tempo da doença um critério diferenciador muito importante, além de que as maiores modificações são lobulares e não de espaços portais. Caracteriza-se por comprometimento panlobular, acentuada celularidade e pleomorfismo de hepatócitos e necroses focais. Degeneração e eosinofilia ou corpos apoptóticos e balonizado nos hepatócitos levam à necrose lítica. A regeneração traduz-se pela presença de mitose e ou multinucleação dos hepatócitos, com variações de tamanho, forma e qualidade da coloração dos hepatócitos. O infiltrado inflamatório é constituído por células sinusoidais ativadas, sobretudo de Kupferr, enquanto nos espaços portais predominam linfócitos, plasmócitos e eosinófilos, com poucos neutrófilos. Casos mais graves traduzem-se por necrose multilobular, em ponte ou submaciça. Colestase citoplasmática ou intracanalicular faz parte do quadro. ó ó ó – Os marcadores virais constituem a chave mais importante para o diagnóstico das hepatites. O anti-VHA é um indicador de hepatite aguda por vírus A. Aparece precocemente e persiste de 3 a 6 meses. O anti-VHA IgG é marcador de infecção passada, prestando-se mais para inquéritos epidemiológicos. O antígeno de superfície do vírus B (AgHBs) corresponde à proteína do envelope do vírus B. Indica infecção aguda ou crônica. Quando desaparece do soro, significa clareamento viral. O anti-HBc, ou AcHBc (anticorpo anticore do vírus B), é uma proteína que circunda o DNA do vírus B. Por sua vez, é cercado pelo AgHBs na partícula viral completa, ou partícula de Dane. Há 3 formas: IgG, a IgM total. A positividade da total indica contato presente ou passado com o vírus B. A IgM indica infecção aguda ou reativação do vírus na dependência de imunossupressão. Pode positivar-se também no curso da hepatite crônica, significando uma reagudização. O anti-HBc IgC representa infecção passada, ou quando associada ao AgHBs, sinaliza estado de portador crônico. O antígeno ‘’c’’, AgHBc não é secretado no soro. • í ‘’ ’’ í – O antígeno ‘’e’’ faz parte do core viral e indica replicação. Pode ser detectado na hepatite aguda e na replicação viral no curso de hepatite crônica. Quando presente em doente crônico e associado ao AgHBs, ajuda a indicar tratamento antiviral. Seu anticorpo surge quando há resolução da hepatite aguda, ou quando cessa a fase replicativa em hepatite crônica. O AcHBs, ou anti-HBs, é o anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus B. É um anticorpo neutralizador e indica infecção jugulada, ou resulta da vacinação contra hepatite B bem sucedida. • í – Indica presença do vírus B. Pouco sensível. • çã – Utilizam técnicas e determinam partes específicas do DNA do genoma do vírus B. Excelentes para distinguir uma fase replicativa danão replicativa. Carla Bertelli – 4° Período • – São testes muito mais sensíveis do que os anteriores e indicam replicação viral. • – São extremamente sensíveis para detectar o DNA do vírus. Essa elevada sensibilidade acaba por tornar esses testes pouco confiáveis em separar estados replicativos e não replicativos. Utiliza-se teste ELISA (Hepatite C), teste recombinante RIBA, bDNA quantitativo para RNA do vírus C, PCR. Hepatite D é diagnosticado por teste ELISA – IgM (fase aguda) IgG (infecção crônica). Hepatite E é pesquisada por testes ELISA. – Os vírus A, B, C, D, E costumam apresentar o mesmo curso clínico, que se traduz pelo aparecimento de mal-estar geral, náuseas, vômitos, anorexia, artralgia e febrícula. Icterícia colestática faz parte do quadro, acompanhando-se de colúria, acolia fecal e prurido, mais comum entre os idosos. Essa forma de apresentação mostra-se mais leve na C e mais florida na A e na B, sendo as manifestações extra-hepáticas mais comuns nesses dois tipos. Predomina, no entanto, a evolução assintomática, expressa algumas vezes apenas por manifestações gastrintestinais sutis, em geral não valorizadas. A recuperação se processa entre 2 e 8 semanas. A evolução para a cronicidade traduz-se pela ausência de sinais e sintomas típicos, caracterizados apenas pela persistente elevação dos níveis séricos de aminotransferases e expressão sorológica típica. Nas fases iniciais, além da icterícia, notam-se outros sinais, hepatomegalia dolorosa e eventualmente esplenomegalia. Necrose maciça ou submaciça revela-se por colestase acentuada, distúrbios da coagulação e da consciência, insuficiência renal, pré-coma e coma hepático, sinais de exaustão funcional do parênquima hepático, definido como hepatite aguda fulminante. A hepatite A costuma evoluir rapidamente na criança, mas pode demorar a resolver no adulto (hepatite aguda prolongada). As hepatites B, C e D podem cronificar, mas a por vírus A nunca faz. O vírus E manifesta-se, sobretudo, em epidemias, mais comumente em países em desenvolvimento. O curso clínico assemelha-se ao da hepatite A. É responsável por elevada mortalidade entre as gravidas, sobretudo aquelas que estão no terceiro trimestre da gestação. O diagnóstico é comprovado pela presença de anti-VHE IgM (e IgG para fins epidemiológicos) e teste de hibridização para o VHE RNA. A persistência de inflamação (hepatite) associada a níveis séricos elevados de aminotransferases por mais de 6 meses constitui uma hepatite crônica (HC). Nas HC virais, persistem também por mais de 6 meses os marcadores séricos indicativos de replicação viral. Hepatites crônicas podem ser causadas por vírus das hepatites B, C e delta, havendo evidências recentes de que a hepatite E possa cronificar em pacientes imunossuprimidos. Autoimunidade, uso de fármacos e doenças metabólicas (p. ex., doença de Wilson) mostram lesões que também preenchem os critérios de HC, restando ainda alguns casos em que a causa não é identificada. Como nem sempre é possível informação precisa sobre o início da doença, que muitas vezes é oligo ou mesmo assintomática, o parâmetro básico para o diagnóstico de uma hepatite crônica é o anatomopatológico. O emprego de técnicas não invasivas para estimar a “rigidez” do fígado, mediante elastografia isolada ou acoplada à ultrassonografia, contribui para estabelecer o estadiamento, complementa o estudo anatomopatológico e auxilia no monitoramento da resposta terapêutica. O também auspicioso avanço no conhecimento dos mecanismos moleculares das hepatites permite hoje classificação centrada na etiologia do processo, enquanto a integração morfológico-molecular traz informações valiosas sobre a história natural e eficácia do tratamento. Clinicamente, hepatite crônica pode ser sintomática ou não. Na forma sintomática, os pacientes apresentam cansaço, redução do apetite e, às vezes, icterícia. Cerca de um terço dos pacientes com hepatite crônica pelo VHC desenvolvem crioglubulinemia. Laboratorialmente, há redução na atividade de protrombina e elevação de aminotransferases. çã í O vírus da hepatite B (VHB) é um hepadnavírus, circular, envelopado, que replica via RNA, usando transcriptase reversa. A infecção crônica induzida por esse agente atinge 400 mi- lhões de pessoas em todo o mundo, predominando, sobretu- do, entre habitantes da Ásia e África, onde a transmissão se processa mais frequentemente por via vertical (materno-fetal), mas, também, horizontal, comportamento observado entre crianças, adolescentes e adultos. As vias clássicas de infecção pelo VHB relacionam-se ao contato com sangue infectado ou secreções corpóreas. Nessas condições, o Carla Bertelli – 4° Período agente penetra o corpo via mucosas ou soluções de continuidade cuta ̂neas, vias abertas, como consequência do uso de agulhas, ou de seringas contaminadas, ou via oral. A detecção do antígeno de superfície (AgHBs) no sangue pode ocorrer em 4-10 semanas pós-contato. A transmissão sexual se mostra prevalente, predominando entre homossexuais masculinos, mas, também, identificada entre heterossexuais. Por sua vez, a via perinatal mostra-se responsável por 90% dos casos de mães que são AgHBe positivos, mas essa via de contaminação pode se dar durante o parto, ou no período pós-natal, pelo contato estreito materno-recém nato. Essa evolução também se identifica entre crianças e adolescentes, via escovas de dentes ou barbeadores e mesmo brinquedos contaminados í – 60 a 70% dos infectados pelo VHB não manifestam quadro clínico bem definido, evoluindo de forma subclínica. Cerca de 5-10% destes envolvem infecção crônica, traduzida pela persistência sérica do AgHBs, bem como de outros marcadores virais, tais como AgHBc e AgHBe, ou DNA VHB identificados no sangue e também no fígado. Nesses pacientes, persistem soro, pelo menos por 6 meses, esses produtos virais. Não raro, alguns são anti-AgHBe e DNA VHB positivos, traduc ̧ão da presença de um vírus que sofre mutações, que ocorrem nos genes precoce, assim como na região promotora do core, além do gene tirosina – metionina – aspartato – aspartato (muta- ção YMDD). Nessa fase crônica, são comuns níveis séricos elevados de alanina- aminotransferase (ALT) e gamaglutamil- transferase (GGT), bem como são normais as concentrações das globulinas, de bilirrubina total e sua fração direta, da al- bumina e a atividade de protrombina. Na maioria das vezes, os pacientes referem sintomas inespecíficos, tais como dor abdominal, digestão lenta, flatulência, anorexia, náuseas e fa- diga fácil. Não se identificam sinais físicos, tais como aranhas vasculares, palma hepática, icterícia ou ginecomastia, e, ex- cepcionalmente, exibem hepato e/ou esplenomegalia. Pode, no entanto, haver manifestações extra-hepáticas da doença, como artralgia, púrpura de Henoch-Schönlein, glomerulo- nefrite, derrame pleural, pericardite, edema angioneurótico e anemia aplástica. Cerca de 10% apresentam cura sorológica esponta ̂nea, permanecendo alguns com o AgHBs, tornando- se anti-AgHBe e anti-AgHBc IgG positivos. é - Essencialmente, aceita-se que, diante da presença do VHB, disparem-se duas respostas a partir do sistema imunológico dos portadores. A mais importante delas é a destruição das cé- lulas albergadoras do vírus, via apoptose. A outra vertente se baseia no reconhecimento dessas células, promovendo- se seu clareamento a partir de linfócitos T citotóxicos competentes. Uma terceira perspectiva se relaciona com o efeito citoprotetor exercido a partir de hiperexpressões de fatores de crescimento epidérmico (EGF) e dos hepatócitos (HGF), na busca de ativar fatores de regeneração. No entanto, pode ocorrer escape dos hepatócitos infectados, mediado pela molécula de adesão CD95, contribuindo para instalação deum fenótipo de resistência. A ineficácia nessa atuação exercida pelos mecanismos corpó- reos de defesa gera quatro fases cronológicas, típicas da infecção crônica pelo VHB, baseadas no comportamento do AgHBe/ anti-AgHBe, nível de replicação viral e valores séricos de alani- na- aminotransferase. Essas fases incluem imunetolera ̂ncia, imuneclareamento, baixa ou ausência de replicação (fase inativa do portador) e, finalmente, de reativação. A duração dessas fases é extraordinariamente variável e grandemente influenciada pela inter-relação vírus- hospedeiro, correlacionando-se morbidade e mortalidade com esses aspectos. Esse comportamento tam- bém se correlaciona com o poder de ataque exercido por células T dependentes, ou independentes, voltado contra o AgHBc. Na dependência desse processo, emergem mutações, comporta- mento que se traduz por positividade do AgHBe, DNA VHB e hipertransaminasemia, gerando lesões histológicas típicas. Assim é que a maioria dos pacientes com hepatite crônica pelo VHB entra em uma fase inativa, gerando o AgHBe que é clarea- do, ocorrendo seroconversão para anti-AgHBe, com nível baixo ou indetectável do DNA VHB. Nesses, mostra-se baixo o risco de progressão para doença hepática grave e de evolução para o carcinoma hepatocelular, com risco de que aqueles imunode- primidos possam cursar com reativação da doença. Os pacientes são mais propensos ao desenvolvimento de formas mais gra- ves quando infectados na infa ̂ncia ou adolescência, sobretudo aqueles do sexo masculino que cursam com AgHBe positivo, com títulos elevados do DNA VHB, ou que se encontram coin- fectados pelos vírus das hepatites D e C, ou pelo HIV Ultimamente, aceita-se que a infecção persistente pelo vírus da hepatite B relaciona-se ao comportamento de fatores gené- ticos do hospedeiro. O alicerce clínico dessa hipótese se baseia na comprovação de que são pacientes do sexo masculino, e pa- rentes em primeiro grau das mulheres infectadas, que exibem maior chance de desenvolver sequelas crônicas, tais como cirrose e Carla Bertelli – 4° Período carcinoma hepatocelular. A relação com esse comportamen- to foi inicialmente atribuída a variantes genéticas em genes do complexo maior de histocompatibilidade (MHC), aos genes não MHC, codificadores do fator α de necrose tumoral, e ao receptor 1 estrogênico çã í Este agente se comporta como um vírus defeituoso que re- quer a função auxiliadora do VHB, ou de outro hepadnavírus, atuando como auxiliador, uma exigência para que se processe sua secreção e disponibilidade. Apresenta-se como um vírus de genoma RNA, de fita única, tendo seu envelope envolvido por outro proveniente do VHB e de algumas de suas proteínas. É endêmico na bacia Mediterra ̂nea, afetando principalmente crianças e adultos jovens. Mostra-se prevalente também em algumas regiões da América do Sul, como no Brasil, sobretu- do no delta do Rio Purus e na Colômbia, restrito, portanto, à Amazônia Ocidental. Nessas regiões subtropicais, permanece e se comporta como um reservatório importante, comporta- mento relacionado com ausência de programas de vacinação anti-VHB, com a principal rota de transmissão ocorrendo por via inaparente, ou percuta ̂nea. Esse comportamento leva a que 5% daqueles portadores do VHB o sejam também do VHD, chegando a cerca de 15 milhões de pessoas no mundo porta- dores desses dois agentes. Também se mostra prevalente no leste europeu e norte da África. é - A patogênese do processo de lesão hepatocelular induzida pelo VHD se relaciona com o efeito lesivo despertado por linfócitos T citotóxicos, os quais atuam ao reconhecer antí- genos de histocompatibilidade classe I, o que acontece mais frequentemente sobre hepatócitos albergadores do AgHBe, cujo clareamento depende dos níveis elevados de interleucina 12. Esses acontecimentos cursam com níveis séricos elevados de alanina-aminotransferase, cujo comportamento evolutivo depende também da participação lesiva exercida a partir das atuações do fator α de necrose tumoral e do interferon γ. Essa evolução, no entanto, apenas ocorre quando a carga do VHB se mostra elevada, o que se expressa sorologicamente por ele- vados níveis séricos de DNA VHB. Isso também sucede ao nível intra-hepático. Com a associação VHB/VHD, o espectro da doença estende- se desde portadores assintomáticos até doentes que apresen- tam forma grave de hepatite, cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC). Na maioria das vezes, cursa de forma aguda benigna e autolimitada. Por sua vez, naqueles com mutações do gene S, bem como acontece em ratos transgênicos, a agressão hepato- celular gera hepatócitos com aspecto em vidro fosco, encerran- do gotículas de gordura que envolvem o núcleo, sendo essas formações denominadas células em mórula. í – Varia desde o estágio de portador crônico assintomático até aquele em que cursa para doença progressiva. Em outros, pode se manifestar sob forma aguda benigna ou assumir um aspecto avassalador de hepatite fulminante. Essa última evo- lução se observa na coinfecção, quando ambos os agentes são inoculados no mesmo momento, ou na superinfecção (quando o VHD é inoculado naqueles já com doença hepática crônica causada pelo VHB). Importante ressaltar que, nos indivíduos que fazem uso de drogas injetáveis, a infecção pode ter curso bifásico, dependen- te do estado de coinfecção, estes com risco maior de evolução para doença crônica, ocorrendo inexorável e progressiva insu- ficiência hepatocitária ó - Baseiam-se no emprego de método de radioimunoensaio, tendo um comportamento típico expresso pela presença de: 1. anti-VHD IgM transitório e de apresentação retardada ocor- rendo no curso de hepatite aguda autolimitada, com a persis- tência se correlacionando com nível de replicação e gravidade da doença hepática; 2. altos títulos de anti-VHD IgG estão pre- sentes na forma crônica; 3. aqueles coinfectados com VHB na doença aguda cursam com anti-AgHBc IgM e, quando existe superinfecção, são elevados os valores de RNA VHD, com su- pressão de marcadores de replicação do VHB, inclusive sendo anti-AgHBc IgM negativos. çã í Estima-se que no mundo existam cerca de 180 milhões de indivíduos cronicamente infectados pelo VHC, constituindo problema significativo de saúde pública, sobretudo para habi- tantes dos países ocidentais. O agente responsável é um RNA vírus, cujo genoma é composto por 10.000 nucleotídeos em ex- tensão, com uma única abertura de leitura codificada por uma proteína Carla Bertelli – 4° Período maior, clivada em outras menores, por proteases virais e do próprio hospedeiro, as quais constituem a própria estru- tura do vírus (proteínas estruturais do core E1 e E2), comple- tada pelo maquinário replicativo desse agente, as proteínas não estruturais NS2, NS3, NS4, NS5. A última dessas é responsável pela sua migração transmembrana, penetração hepatocitária e ligação aos ribossomos, replicando através de uma enzima de- pendente de RNA polimerase. A presença desse agente nos hepatócitos dispara uma série de eventos intracelulares, modulados via receptores específicos, resultando em produção aumentada de interferon α e β, me- diadores da resposta antiviral despertada no hospedeiro. São essas duas moléculas que ativam transdutores de sinais pela via Janus-cinase, ativando também a transcrição em células infectadas e não infectadas, essas limitadoras da disseminação célula a célula, com uma poliproteína ácida composta de 3.000 aminoácidos, passando a ser processada por proteases virais e do próprio hospedeiro. Produzem-se assim dez diferentes po- lipeptídios, tendo a serina NS3 papel essencial na replicação, ao mesmo tempo em que se envolve na evasãoda resposta exercida pelo hospedeiro, levando à persistência da infecção viral. Também desse processo de replicação participa uma en- zima, RNA polimerase, codificada pelo gene NS5B, pronto a evoluir sob forma mutante. Variabilidade nessa sequência gera, pelo menos, 6 diferentes genótipos predominando no Brasil, no Japão e na Austrália, os 1, 2 e 3 na África, o 4 no Egito e o 6 no Oriente Médio. São todos hepatotróficos, replicando em primatas não humanos e entre os humanos, não sendo citopá- ticos diretos, porém com a lesão hepatocelular, como vimos anteriormente, sendo imunemediada via linfócitos T- helper (CD4) e T citotóxicos que se envolvem no reconhecimento de antígenos virais dispostos em superfícies celulares, atuando em conjunto com proteínas do complexo MHC classe 1. í – A infecção aguda pelo VHC, na maioria das vezes, cursa as- sintomática e sem precipitar o aparecimento da icterícia. Cerca de 50-80% desses pacientes, no entanto, evoluem para hepatite crônica, metade dos quais não manifesta sintomas, enquanto os outros apresentam sintomas inespecíficos, tais como aste- nia, mal-estar geral ou náuseas. Esses terão um curso clínico e história natural típicos, ó - A doença revela-se bioquimicamente por elevação persistente e flutuante dos níveis séricos de ALT e AST. Diante da suspeita clínica, se pesquisa no sangue a presença do anti-VHC. Positiva implica a busca de identificação do RNA VHC (técnica PCR), seguida da determinação da carga viral e do genótipo, sobretudo quando se busca iniciar o tratamento específico para tais pacientes. Complementa- se esse início se valendo da biópsia hepática com finalidade de: 1. avaliar o grau das lesões necroin- flamatórias (AO-3); 2. estadiar a fibrose (FO-4); 3. identificar cofatores que contribuem para evolução crônica, tais como, sinais de doença hepática alcoólica ou de esteato-hepatite não alcoólica e sobrecarga de ferro, definidos se valendo do escore METAVIR. Mais recentemente, tem sido proposto avaliá-los usando o método de elastrografia por impulsos (FicroScan), com a elasticidade hepática sendo mensurada por ondas ul- trassonográficas. Ressalte-se que o estudo histológico possibi- lita identificar ainda agressão de ductos biliares e existência de agregados linfocitários e folículos linfoides, além de esteatose macro e microvesicular, além de ser possível, em futuro pró- ximo, definir a expressão de certos genes ou do micro-RNA, abrindo-se perspectiva para definir, valendo-se desses marca- dores, a previsão sobre resposta ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina. çã í Neste território, parece interessante fazer um relato histó- rico. Este vírus foi identificado em 1955, a partir da injeção do sangue de um cirurgião em um sagui. As iniciais do cirurgião, GB, foram usadas para a denominação do agente. Em 1995, cientistas dos Laboratórios Abbott, retomando estudos inicia- dos na década de 1960 por Deinhardt, valendo-se de um soro daquele cirurgião GB, clonaram e sequenciaram dois vírus, de- nominados, então, GBV-A e GBV-B. O primeiro, quando in- jetado, infectava pequenos saguis, mas não causava hepatite. Por sua vez, o segundo provocava hepatite aguda autolimitada naqueles primatas. Nenhum deles, no entanto, foi encontra- do ulteriormente em outros seres humanos, permanecendo ainda inexplicável de que forma o cirurgião se infectou com eles. Logo em seguida, outro vírus foi descoberto e isolado em indivíduos com comportamento de alto risco para hepatite, valendo-se da técnica de PCR por transcrição reversa, logo de- signado de GBV-C. Concomitantemente, em outro laboratório, foi descrito um quarto agente, isolado de pacientes portado- res de hepatite não A-E, nomeado HGV. Subsequentemente, Carla Bertelli – 4° Período comprovou-se que tanto este quanto o GBV-C eram variantes de um mesmo vírus, rarissimamente encontrando-se associados a hepatite. Apesar dessa comprovação, cerca de 10 a 20% dos pacientes com hepatite não A-E estão infectados pelo GBV-C/ HGV, responsável por pequena, porém distinta, proporção de casos de hepatites pós-transfusionais, causando doença hepá- tica aguda leve, gerando discreta elevação dos níveis séricos de aminotransferases. Forma mais agressiva verifica-se entre he- modialisados, e a sua presença tendo sido descrita em 6% dos pacientes com hepatite crônica anteriormente definida como criptogênica e, em alguns japoneses, evoluindo como forma fulminante da doença. O vírus da hepatite A (VHA) é um vírus de RNA da família de enterovírus que provoca hepatite que, após curto período de incubação (2 a 6 semanas), apresenta-se como doença benigna que não se cronifica e que raramente tem curso fulminante. A transmissão do vírus se faz pela ingestão de água e alimentos contaminados. O VHA pode causar surtos epidêmicos em certas comunidades (creches, escolas) ou em populações servidas por água contaminada. Em adultos, a sintomatologia é mais exuberante do que em crianças; apenas 10% dos pacientes infectados apresentam manifestações clínicas. O diagnóstico etiológico de hepatite A é feito por identificação de anticorpos ou detecção do RNA viral. RNA viral pode ser detectado no soro, no fígado e nas fezes; nestas, é utilizado ocasionalmente na prática como marcador de persistência de infecção ativa nas formas prolongadas da doença. Anticorpos da classe IgM aparecem no início da sintomatologia e desaparecem no primeiro ano de doença. Anticorpos protetores anti-VHA da classe IgG surgem algumas semanas após a infecção e permanecem indefinidamente. Reação positiva para IgG e negativa para IgM corresponde a estado imune ao VHA. O vírus da hepatite B (VHB) é o único vírus de DNA causador de hepatite na espécie humana. Sua transmissão se dá pelas vias parenteral, sexual e vertical (mãe-filho). O vírus é transmitido sobretudo através de soluções de continuidade da pele ou de mucosas em pessoas em contato próximo, pelo compartilhamento de agulhas, seringas ou outros instrumentos e por relações sexuais desprotegidas Hepatite B surge após longo período de incubação (4 a 26 semanas). Além de hepatite aguda e formas fulminantes, o VHB causa hepatite crônica, cirrose e, através desta, ou diretamente, contribui para surgimento do carcinoma hepatocelular. A infecção pelo VHB pode ser assintomática, com produção de anti-HBs (anticorpo protetor); sua expressão morfológica é variável, desde fígados histologicamente normais (portador são) até cirrose. A prevalência da infecção pelo VHB varia bastante em diferentes regiões, sendo mais elevada na Ásia e na África. O genoma do VHB codifica várias proteínas, como o AgHBs, que é um antígeno de superfície e o marcador mais comum de infecção viral. O anti-HBs é um anticorpo protetor contra nova infecção e se forma também após vacinação, quando é o único marcador detectável do VHB O antígeno do core do VHB (AgHBc) é de detecção difícil no soro e, portanto, pouco usado como marcador laboratorial. O anticorpo anti-HBc é um bom marcador no rastreamento da infecção pelo VHB, já que expressa tão somente a memória imunitária de contato prévio com o vírus, sendo encontrado em indivíduos positivos tanto para o AgHBs como para o anti-HBs O AgHBe, outro antígeno do vírus, é marcador de replicação viral, sendo que o anti-HBe sinaliza a parada de tal replicação. No entanto, é possível encontrar níveis elevados de DNA viral na presença de anti-HBe, o que traduz o surgimento de mutantes do vírus Os marcadores do VHB podem ser detectados também por imuno-histoquímica. O AgHBs localiza-se no citoplasma de hepatócitos, podendo tomá-lo inteiramente, parcialmente ou ter distribuição predominantemente submembranosa ou perinuclear. O AgHBc é identificado sobretudo no núcleo de hepatócitos; nocitoplasma, é visto em casos de máxima replicação viral, como em fígados transplantados ou em pacientes imunodeficientes. Na hepatite aguda, como as células infectadas são eliminadas por mecanismos imunitários, tais marcadores são negativos; aparecem na fase crônica, quando indicam cronificação de hepatite com vários meses de duração. Carla Bertelli – 4° Período O vírus da hepatite delta (VHD), mutante de viroides vegetais, depende do envoltório do vírus B para sua replicação e expressão. VHD e VHB podem ser transmitidos concomitantemente a indivíduos suscetíveis (coinfecção) ou o VHD pode superinfectar um portador doente ou assintomático do VHB. Exceto em transplantados, a associação com o VHD agrava a hepatite B, tanto na fase aguda como na crônica. O marcador sorológico mais utilizado na infecção pelo VHD é o anticorpo antidelta (anti-HD). Tal como o anti- HBc, o anti-HD representa expressão de memória imunitária, estando presente em indivíduos com infecção atual pelo complexo VHB/VHD ou naqueles imunizados naturalmente e portadores do anticorpo protetor para ambos os vírus (anti-HBs). A quantificação do anti-HD tem valor para se distinguirem formas agudas e crônicas; na fase crônica, encontram-se títulos mais elevados do anticorpo. Anti-HD do tipo IgM aparece na fase aguda da infecção. O vírus pode ser monitorado também por detecção do seu RNA no soro. O melhor marcador de infecção pelo VHD é a identificação imuno-histoquímica do antígeno delta (AgHD) no núcleo de hepatócitos, nas formas agudas e crônicas. Infecção pelo VHD é mais comum em certas regiões do mundo, como Amazônia, Itália, África e Oriente Médio. O vírus da hepatite C (VHC) é hoje a principal causa de hepatite crônica no mundo todo. No Brasil, a prevalência de hepatite crônica pelo VHC é de 1,5 a 2,0%. A transmissão do vírus se faz essencialmente pela via parenteral, variando o período de incubação de 15 a 150 dias O VHC, um vírus de RNA da família dos flavivírus, é muito instável, por causa da baixa fidelidade de sua RNA polimerase. Por isso mesmo, com frequência surgem tipos e subtipos virais diferentes, o que traz implicações importantes: (a) infecção por um tipo viral não confere proteção contra outro tipo; (b) a variedade genômica do vírus dificulta o desenvolvimento de vacinas. No soro de indivíduos infectados pelo VHC, encontram- se anticorpos anti-VHC dirigidos contra proteínas virais. Sua presença não discrimina fases agudas ou crônicas. Assim, a caracterização de infecção ativa pelo VHC é feita pela detecção e, eventualmente, pela quantificação do RNA viral no soro por PCR. Não existe método imuno- histoquímico para identificar o VHC no parênquima hepático. Assim como ocorre na hepatite A, o vírus da hepatite E (VHE) causa, após curto período de incubação (em média 6 semanas), doença geralmente benigna que habitualmente não se cronifica. Difere da hepatite A, porém, porque o grupo etário mais acometido é de adolescentes. O vírus é transmitido por alimentos (sobretudo carne de porco) ou por transfusão sanguínea. A doença é particularmente grave em mulheres grávidas. O VHE é vírus de RNA do grupo do calicevírus, sendo seu marcador de maior importância o anticorpo anti-HE. O AgHE pode ser identificado nas fases iniciais da doença no soro, no parênquima hepático, na bile e nas fezes. Diante das condições sanitárias de muitas cidades brasileiras, é surpreendente a escassez de relatos de surtos de tal infecção no Brasil. Os achados histológicos de hepatite E aguda compreendem, em geral, formas leves a moderadas de hepatite lobular, com acúmulo de pigmento biliar em hepatócitos e em canalículos biliares. A presença de polimorfonucleares no infiltrado lobular ou portal também difere do habitual predomínio de linfócitos nas demais hepatites virais. Estudos franceses e alemães relatam casos mais graves com necrose hepatocelular confluente e formas colangíticas. Dani, Renato e Maria do Carmo Friche Passos. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2011. Filho, Geraldo B. Bogliolo - Patologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021.
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