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Lombalgia A coluna vertebral é constituída pela superposição de uma série de vértebras. Ao todo são 33 vértebras, sendo 7 cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e 4 coccígeas. As vértebras sacrais e as coccígeas são fundidas em peça única. A coluna é dividida em compartimentos: • Anterior: formado por corpo vertebral e discos intervertebrais. O disco é formado pelo núcleo pulposo (central) e pelo anel fibroso (periférico). • Médio: formado pelo canal medular. • Posterior: formado pelas articulações que ligam as vértebras. Unidade funcional vertebral (UFV): consiste em duas vértebras adjacentes com o disco interposto e toda as estruturas associadas (articulações, cápsulas, ligamentos, músculos, vasos e nervos). A UFV forma um complexo triarticular com uma articulação cartilaginosa anteriormente (disco intervertebral) e duas articulações sinoviais posteriormente (articulações facetarias). A coluna vertebral apresenta quatro curvaturas normais: lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral, que são vistas com o paciente de perfil. As curvaturas proporcionam flexibilidade adicional à coluna vertebral e absorção de choque. LOMBALGIA Definições Lombalgia: é o termo usado para descrever a dor referida na região inferior do dorso, geralmente causada por disfunções originadas na coluna vertebral lombossacra. Ciatalgia: é a dor no membro inferior, resultante de irritação do nervo isquiático, cuja causa mais frequente é a irritação de uma raiz nervosa (por exemplo por uma hérnia discal). Lombociatalgia: definida pela lombalgia acompanhada de ciatalgia. Epidemiologia A lombalgia acomete 80% da população mundial, mas frequentemente é transitória e autolimitada. A mais alta prevalência está no grupo etário de 45 a 64 anos Afeta mais mulheres. 2a causa de dor e 1a causa trabalhista Fatores de risco • Estresse • Tabagismo • Obesidade • Má postura • Ocupacionais: atividades laborais que envolvem movimentos repetitivos de levantamento de peso e ficar muito tempo sentado • Gestação Classificação A lombalgia pode ser classificada quanto à duração em: • Aguda: até 4 semanas • Subaguda: até 12 semanas • Crônica: mais que 12 semanas Fisiopatologia A dor lombar pode ter como origem: • Disco intervertebral: É o local mais comum. Está associado com a degeneração, denominado espondilose, que tem como principais fatores a genética e traumatismo repetitivo. • Articulações facetárias: É o segundo local mais comum de lombalgia. As alterações envolvem hipertrofia sinovial e capsular, formação de tecidos cicatriciais, desgaste articular facetário e esclerose do osso adjacente. • Músculos lombares: Apresentam terminações nervosas denominadas fusos musculares que são estimuladas pelo sistema nervoso simpático. Em situações de hiperatividade simpática como na ansiedade crônica, os fusos entram em espasmos, levando a tensão muscular, com formação de nódulos que desencadeiam dor. • Articulação sacroilíaca: Está associada a insuficiência dos ligamentos sacroiliacos, principalmente durante ou após a gravidez. Etiologia A identificação exata da causa do sintoma é conseguida em poucos pacientes. • Fatores mecânicos: espondilose, ósteo-artrose, hérnia de disco, discopatia, lesão discal interna, espondilólise, espondilolistese, hipotonia muscular, instabilidade vertebral, sobrecarga postural crônica, trauma (fraturas, luxações, contusões e distensões), afecções congênitas (escoliose grave, agenesia dos processos articulares). • Fatores não mecânicos: − Inflamatórios: artrite reumatóide, espondilite anquilosante. − Infecciosos: osteomielite, tuberculose, infecção por fungos. − Metabólicos: osteoporose, diabetes. − Neoplásicos: metástases, mieloma múltiplo, osteoma osteoide, osteoblastoma, neurinoma, hemangioma. − Viscerais: doenças gastrintestinais e urogenitais, infecções pélvicas, doenças da próstata. − Vasculares: aneurisma de aorta abdominal. − Psicossociais: ansiedade crônica, estados depressivos, histeria, simulação. Diagnóstico O diagnóstico geralmente é clínico pela associação de história clínica e exame físico. • História Clínica: Permite identificar na maioria das vezes a categoria de causa do paciente: − Dor mecânica: é característica dos processos mecânicos e caracteriza-se principalmente pelo alívio com o repouso e agravamento com a movimentação. − Dor não mecânica: não é aliviada pelo repouso, podendo ter várias causas (inflamatória, infecciosa, visceral, neoplásica, etc). **Os sinais de alerta para a possibilidade de doença neoplásica ou infecciosa são: − Dor que acorda o paciente à noite − Febre inexplicável − Emagrecimento sem causa − História de doença neoplásica em outros locais (pulmão, mama, próstata) − Idade inferior a 20 anos e superior a 70 anos − Sinais de síndrome da cauda equina (incontinência urinária, incontinência intestinal, anestesia em sela, paresia ou parestesia de membros inferiores) − Déficit neurológico progressivo ***RED · Febre, calafrios, perda de peso, alteração neurológica, dor não responsiva a tratamento, extremos de idade, imunocomprometido, traumas ***YELLOW · Alteração psicossocial, diminuição do estado geral • Exame Físico − Inspeção da coluna: avalia-se assimetria, deformidades, cicatrizes, curvaturas. − Inspeção da marcha: avalia-se capacidade de deambular com ou sem apoio, marcha antálgica, marcha claudicante, incapacidade de deambular na ponta do pé (lesão em S1) ou incapacidade de deambular com o calcanhar (lesão em L5). − Déficit neurológico: permite a identificação da lesão neurológica e é realizado por meio da avaliação da sensibilidade, da motricidade e dos reflexos. As principais raízes nervosas que se associam com lombociatalgia são L4, L5 e S1 e, portanto, devem ser investigadas. ✓ Compressão de L4: menor força muscular para inversão do pé, altera sensibilidade em região medial do pé e altera reflexo patelar. ✓ Compressão de L5: menor força muscular para elevação do hálux, altera sensibilidade de região dorsal do pé. ✓ Compressão de S1: menor força para eversão do pé, altera sensibilidade de região dorsal do pé e altera reflexo aquileu. − Teste de Lasegue: com o paciente em decúbito dorsal, o examinador flexiona o quadril com o joelho em flexão. Mantendo o quadril flexionado, então estende o joelho. Se houver dor irradiada no trajeto do nervo ciático entre 30 e 70° o teste é positivo, indicando irritação radicular lombar. • Exames complementares: As radiografias estão indicadas se houver persistência dos sintomas por mais de quatro semanas e existência dos sinais de alerta. Entretanto, se o exame radiológico for negativo e ainda estiverem presentes os sinais de alerta, são recomendados outros exames (tomografia, ressonância, cintilografia). − Radiografia: pode revelar fraturas e tumores. · >60% vem normal − Tomografia: útil para avaliar lesões envolvendo as estruturas ósseas, como tumores ósseos, estenose do canal lombar e alterações ósseas degenerativas. − Ressonância: útil para avaliar lesões envolvendo as partes moles da coluna, como hérnia de disco. Tratamento · Tratamento Clínico: • Fase aguda: − Repouso − Medidas físicas: aplicação de calor para relaxamento muscular ou frio para reduzir processo inflamatório. − Tratamento medicamentoso: analgésico, AINE. Em casos de sintomas muito intensos, podem ser administrados corticoides (deve-se evitar uso prolongado), opioides e relaxantes musculares. • Fase crônica: − Tratamento medicamentoso: analgésico, AINE, antidepressivo tricíclico (amtriptilina), relaxante muscular (ciclobenzaprina). − Fisioterapia para fortalecimento muscular. Tratamento Cirúrgico: Indicado se houver falha no tratamento clínico e quando o fator causal identificado é passível de solução cirúrgica. · HÉRNIA DE DISCO LOMBAR Definição: Definida como a passagem anormal do núcleo pulposo para fora de seu sítio normal. Classificação A herniação discal pode ser: • Protusa: o tecido discal estende-se focalmente além do espaço discal, mantendo a base maior que o comprimento do tecido deslocado. • Extrusa: o comprimentodo tecido discal deslocado é maior que sua base e, em geral, atravessa todas as camadas do ânulo fibroso. • Sequestrada: há perda da continuidade do tecido deslocado do seu disco de origem. Epidemiologia Acomete indivíduos em qualquer idade, mas tem pico de incidência entre os 35 e 45 anos, sendo os discos dos níveis L5-S1 e L4-L5 os mais afetados. Fatores de risco • Tabagismo • Sedentarismo • Profissão de motorista Fisiopatologia O deslocamento do núcleo pulposo é geralmente precedido por alterações degenerativas no interior do disco. A degeneração do disco inicia-se após a 2o década de vida, levando a diminuição do espaço discal com consequente sobrecarga nas articulações facetárias, o que resulta em desgaste da cartilagem articular, formação de osteófitos, hipertrofia capsulo-ligamentar e instabilidade. Esses fatores levam a inflamação e compressão de estruturas nervosas, ocasionando a dor. A dor pode ser causada pela compressão mecânica direta sobre a raiz nervosa, inflamação induzida por produtos liberados do núcleo pulposo degenerado, reação autoimune e, possivelmente, por outros fatores bioquímicos e vasculares. Diagnóstico Quadro clínico: O sintoma mais frequente é a ciatalgia, ou seja, a dor de padrão radicular irradiada para o membro inferior, que geralmente apresenta curso de curta duração. A lombalgia pode preceder a ciatalgia por até 10 anos. • A escoliose antálgica pode ser observada nos episódios agudos e é decorrente do espasmo muscular de defesa e o desvio geralmente é para o lado da ciatalgia. • Síndrome da Cauda Equina: É uma manifestação rara, porém séria. Causada por hérnia volumosa que comprime várias raízes da cauda equina. Caracteriza-se por dor lombar ou perianal aguda acompanhada de distúrbios esfincterianos, anestesia em sela e paresia ou plegia dos membros inferiores. O exame físico revela contratura da musculatura paravertebral e limitação da amplitude de movimento da coluna lombo- sacra, particularmente da flexão. Exame Físico: • O teste de Lasegue é positivo em 98% dos pacientes com hérnia discal. • Exame neurológico: pesquisa de sensibilidade, reflexos e força muscular auxilia na determinação da raiz acometida, sendo que as principais são L4, L5 e S1. Exames complementares: São úteis para confirmação diagnóstica, avaliação da localização e do grau de compressão de tecido neural. • Radiografia simples da coluna lombo-sacra: Indicada para excluir outras doenças que podem causar lombociatalgia, como tumores, infecções, alterações degenerativas, e também na documentação de alterações anatômicas. • Ressonância: É o exame padrão-ouro para diagnosticar a hérnia de disco. Permite a visualização em detalhes da alteração na anatômica da coluna vertebral e da compressão sobre as estruturas neurais. Os achados somente têm valor na presença de dados clínicos compatíveis. • Tomografia: Inferior à ressonância quanto a demonstração de partes moles. Mostra a anatomia óssea com mais clareza. • Eletroneuromiografia de membros inferiores: Útil na determinação da lesão de uma raiz nervosa do nível afetado e do tempo de lesão (se aguda ou crônica), mas não é específica para neuropatia compressiva por hérnia de disco. Tratamento Tratamento Clínico: Objetiva o alívio da dor, preservação da função e o retorno precoce às atividades normais. Consiste em repouso, medicações e medidas físicas. Tratamento cirúrgico: Indicado no caso de falha do tratamento conservador por mais de 6 meses, síndrome da cauda equina (urgência) e listese traumática. · ESTENOSE DO CANAL VERTEBRAL LOMBAR Definição É um estreitamento do canal vertebral lombar que causa lombociatalgia. Etiologia Pode ser adquirida (doenças degenerativas, traumatismo, cirurgia na coluna vertebral, distúrbios metabólicos ou endócrinos) ou congênita. Quadro clínico Geralmente é assintomático. Claudicação neurogênica é o sintoma usual, que consiste em dor nas costas e nádegas ou nas pernas, induzida pela marcha ou pela posição ereta e aliviada na posição sentada. Fraqueza focal, perda sensorial ou alterações dos reflexos podem ocorrer quando associada a radiculopatia. Tratamento O conservador consiste em AINE, programas de exercícios e tratamento sintomático dos episódios de dor aguda. A cirurgia deve ser considerada quando o tratamento clínico não alivia os sintomas.
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