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Artrite reumatoide Artrite reumatoide é uma doença inflamatória autoimune, crônica e progressiva, resultante da interação entre fatores ambientais e genética, cuja manifestação principal é a sinovite persistente de grandes e pequenas articulações periféricas, de forma simétrica, nos MMSS e MMII, devido ao comprometimento inflamatório da membrana sinovial das articulações. A inflamação provoca danos à cartilagem e erosões ósseas, marca registrada da doença, comprometendo a integridade articular, gerando, consequentemente, possíveis complicações e deformidades. É uma artrite inflamatória, simétrica, poliarticular, deformante, agressiva, difusa. Costuma poupar a coluna (com exceção de C1 e C2). Epidemiologia Doença reumatológica mais comum, junto com o LES. Em geral, acomete as pequenas articulações (mãos e pés) Considerada uma doença de adultos jovens e mulheres, principalmente na pré-menopausa. Idade: 30-50 anos M 3 : 1 H A diferença entre sexos diminui na faixa etária mais elevada. Em mulheres: 4ª e 6ª décadas de vida; Em homens:6ª e 8ª décadas de vida Acomete todas as etnias - sendo considerada uma doença mundial! Predisposição genética: HLA-DR4 (afeta outros genes). O tabagismo é o único fator de risco ambiental confirmado no desenvolvimento da AR! • Lesa mucosa, expondo o sistema imune a mais bactérias e aumentando a chance de ocorrer autoimunidade; • Aumenta as EROs, que são fortes indutoras do SI; • Torna proteínas mais autoimunorreativas - ao facilitar a citrulinização das proteínas e a formação de anticorpos anticitrulina O que é citrulinização? conversão da arginina em citrulina (proteína citrulinada), processo que ocorre na inflamação. Ora, mas se a citrulinização ocorre em todo processo inflamatório por que o anti-CCP é tão específico da AR? Porque a apresentação dos peptídeos citrulinados é feita através dos alelos do HLADRB1 e epítopo compartilhado. Etiologia e fisiopatologia A AR ocorre como resultado da perda do mecanismo de tolerância imune. É uma doença autoimune mediada pela imunidade celular de linfócitos T, a partir de uma predisposição genética ligada a vários genes HLA, sendo o com maior relação o HLA-DR4 e HLA-DRB1. Geralmente a doença precisa de um gatilho, que pode ser viral (parvovírus, Epstein-barr, CKG) ou genético. Quebra da imunotolerância e desenvolvimento da autoimunidade: Polimorfismos do HLA (apresentadores de antígeno) > linfócito reconhece o antígeno do HLA como algo que não pertence a auto imunidade > aumenta a chance de uma resposta autoimune. Gatilho (fatores ambientais, infecções virais, tabagismo etc) > modificação de enzimas que ativam proteína da membrana celular (citrulinização) > Hiperreatividade de células T e B > formação de anticorpos contra seus próprios antígenos Hiperreatividade células T > Células Th1 e Th17 > produção de citocinas que causam agressão a membrana sinovial (IL-10; IL-6; IL-1) > inflamação e destruição da membrana sinovial. A membrana sinovial, em condições normais, não é palpável. No entanto, na AR, ativam-se várias citocinas inflamatórias que tem receptores na membrana sinovial com a presença de vários tipos celulares no local. Como consequência, há o espessamento da membrana por hiperplasia e hipertrofia, e um grande processo inflamatório no local, o que chamamos de pannus. As células inflamadas do pannus ativam várias enzimas que tem um potencial destrutivo para articulação e cartilagem. PANNUS: hiperplasia e hipertrofia da membrana sinovial. O líquido sinovial é composto principalmente de neutrófilos. O linfócito T ativa as citocinas TNF-alfa (principal) e IL-1 beta. O osteoclasto será ativado causando reabsorção óssea, o que leva à formação de erosões no osso. IL-1 e TNF-alfa estimulam fibroblastos e condrócitos locais a produzir enzimas proteolíticas (colagenase e metaloproteinases), inibem a síntese de novas moléculas da matriz e estimulam osteoclastos, promovendo desmineralização óssea por reabsorção. IL-1, TNF-alfa e IL-6 são responsáveis por muita das manifestações sistêmicas da AR, como mal- estar, febre, emagrecimento e fadiga. IL-6 é responsável pelo aumento das proteínas de fase aguda – VHS e PCR. Critérios classificatórios 1. No mínimo 6 semanas 2. Rigidez matinal > 1h 3. Artrite em 3 ou + articulações 4. Artrite em mãos 5. Artrite simétrica 6. Nódulo reumatoide 7. Fator reumatoide 8. Achados radiográficos (erosões) OBS: esses critérios não são utilizados em um paciente isoladamente, para não negligenciar/retardar o diagnóstico desses pacientes. Além disso, a ausência desses critérios, principalmente no início da doença, não exclui o diagnóstico Manifestações clínicas Tem características de colagenose, mas na maioria dos casos, a clínica é de artropatia autoimune; Manifestações articulares: artrite crônica (> 6 semanas), flogística, simétrica, periférica (acometendo apenas articulações sinoviais - por isso pode acometer C1-C2, pois a articulação é sinovial) Manifestações precoces Artrite/sinovite: palpa-se o espessamento da membrana sinovial Tendinite Desabamento do arco medial: o arco medial é sustentado pelo músculo tibial anterior, assim, em caso de processo inflamatório, ele pode se estender para o tendão e causar inflamação e rotura. Manifestações tardias Deformidades articulares: desvio ulnar do punho, subluxações, dedo em pescoço de cisne (distensão da interfalangiana proximal e flexão da falange distal), botoeira (flexão da interfalangiana proximal) Manifestações extra-articulares: acontece em 5- 10% dos pacientes com AR e geralmente estão associadas ao fator reumatoide positivo, anti-CCP positivo, HLA classe II DRB1 e nódulos reumatoides. Manifestações extra-articulares Nódulos reumatoides: nódulos subcutâneos fibroelasticos e indolores, encontrados em estruturas periarticulares, superfícies extensoras ou outras áreas expostas à pressão mecânica → granuloma de subcutâneo com resposta Th1; indica doença agressiva; ocorrem quase exclusivamente em pacientes com FR positivo. Pode ocorrer obstrução da VAS cricoaritenoide ou da laringe pelo surgimento de nódulos reumatoides, ou pela própria artrite dessa articulação, podendo manifestar-se como dor para deglutir, disfonia e, raramente, obstrução. Olhos: ceratoconjuntivite seca (Sd. Sjogren secundária), esclerite e episclerite Sistema hematopoiético: neutropenia; anemia da doença crônica associada à atividade da doença Síndrome de Felty: AR + neutropenia + esplenomegalia; mais comum em indivíduos com doença de longa evolução e que apresentam títulos elevados de FR, nódulos subcutâneos e outras manifestações cutâneas da AR Vasos: vasculite cutânea (úlceras, necrose dérmica, gangrena digital); vasculite do sistema nervoso A vasculite reumatoide pode acometer qualquer órgão. Normalmente está associada a doença grave e títulos elevados de FR. As formas mais frequentes de apresentação são pequenas manchas acastanhadas ungueais e periungueais e nas polpas digitais das mãos, além de grandes úlceras isquêmicas, principalmente nos MMII. A forma mais comum de manifestação neurológica é a síndrome do túnel do carpo - neuropatia compressiva! AR tende a poupar o SNC! Pulmão: nódulos, doença pleural, doença intersticial Manifestações pleuropulmonares são mais frequentes em homens Manifestações cardíacas são geralmente assintomáticas; pericardite, derrame pericárdico etc. Nódulos reumatoides podem acometer o miocárdio, o sistema de condução (com bloqueios) e valvas cardíacas. Doença coronariana é responsável por grande morbimortalidade nesse grupo, devendo ser diagnosticada e tratada precoce e adequadamente Manifestações renais e doença glomerular são raras na AR DiagnósticoExames laboratoriais Fator reumatoide e anti CCP → são os anticorpos que devem ser pedidos no início da doença para dar o diagnóstico. Aumento do valor não tem relação com a evolução da doença. Anti CCP se eleva antes do fator reumatoide – por isso, é útil para esclarecer quadros sugestivos de AR inicial, quando FR ainda não aumentou. Existe AR soronegativa? Sim! 20% dos pacientes com doença reumatoide tem fator reumatoide negativo; a presença de FR e anti CCP pode ter significado prognóstico, pois pacientes com títulos elevados tendem a der doença articular mais grave e progressiva, associada a manifestações extra-articulares, principalmente nódulos ou vasculite. Exames de controle VHS e PCR para avaliar atividade da doença; TGO e TGP + hemograma (para controle devido ao uso de metotrexato) Fundo de olho: a cada 6m devido à alteração na retina por causa do uso da hidroxicloroquina ➢ Doenças que cursam com FR positivo: LES, sd. de Sjogren, hepatopatia crônica, sarcoidose, mononucleose infecciosa, hepatite B, tuberculose, hanseníase, sífilis, leishmaniose visceral, esquistossomose, malária e crioglobulinemia. Nenhum exame laboratorial ou radiológico é patognomônico de AR! Pacientes com AR podem ter FR e anti CCP negativos. Diagnóstico radiológico: Raio-X articular → as alterações normalmente aparecem após 4 anos de doença: osteopenia periartricular, erosões ósseas, anquilose articular (tardio); os sinais mais precoces são: edema de partes moles, cistos subcondrais. USG: observação mais precoce das erosões e presença de líquido no espaço articular. RNM: observação mais precoce das erosões ➢ OBS: USG e RNM apresentam maior sensibilidade na detecção do dano estrutural articular mais precocemente, mas é um exame mais caro DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS o Osteoartrite, artrite reativa, artrite psoriásica, gota tofácea, LES, síndrome de Sjogren, pseudogota etc. o Síndromes virais podem causar artrite com 2- 4 semanas de duração, como hepatite C, B, HIV, EBV, CMV, parvorírus e rubéola Tratamento Anti-inflamatórios: funcionam momentaneamente; corticosteroides (baixas doses até o efeito das DMARDS) e AINES Imunobiológicos: Anti-TNF alfa: infiximabe, etarnecepte, adalimumabe, golimumabe, certolizumabe O TNF acaba estimulando a produção dos receptores celulares das células sinoviais. Portanto, como há um excesso de TNF, isso está exacerbado causando destruição. O anti-TNF se liga ao antígeno que está em amarelo; alguns se ligam no receptor rosa em vez do TNF, evitando a ligação. IL-1: anakira, tocilizumabe Coestimulação: abatacepte LinfB: rituximabe (age contra o linfócito B, evitando sua apresentação – muito utilizado no tto de linfoma) DMARDS: drogas modificadoras da artrite reumatoide Antimaláricos: Difosfato/hidroxicloroquina Metotrexato , sulfassalazina ➢ Droga de primeira linha e melhor controle. Obrigatoriamente associada ao uso de ácido fólico para minimizar os efeitos colaterais. Caso o paciente não resposta a ele, pode-se combinar com os outros remédios. Sais de ouro, ciclosporina (mais utilizada em casos de lesões cutâneas ou sistêmicas associadas) Azatioprina, leflunomida É comum a terapia tripla: antimaláricos, sulfassalazina e metotrexato ➢ O paciente deve iniciar o tratamento com DMARDS e, em seguida, tentar o imunobiológico (segunda escolha). Alguns guias indicam que antes de iniciar o imunobiológico, deve-se associar os DMARDS entre si, pois o tto com imunobiológicos é caro. CUIDADOS: o Infecções o Antimaláricos: depósito na retina o Metotrexato: hepatotoxicidade, mielotoxicidade o Ciclosporina: insuficiência renal, hipertensão o Azatioprina: mielotoxicidade OUTROS TRATAMENTOS Cirurgia * Sinovectomia: indicada para articulação resistente que não responde ao medicamento - cirurgia retira o pannus * Artrodese: paciente com grande destruição da articulação e muita dor - cirurgia cola a articulação do paciente para melhorar a dor * Realinhamento: realinhar tendões e articulações - feito quando há sequelas muito grandes Reabilitação: educação, proteção articular, cinesioterapia, órtese, adaptação PARÂMETROS DE MAU PROGNÓSTICO o Início da doença em idade mais precoce o Altos títulos de fator reumatoide o Anti-CCP reagente o VHS e/ou PTN C REATIVA persistentemente elevadas o Artrite em mais de 20 articulações o Comprometimento extra-articular: presença de nódulo reumatoide, síndrome de Sjogren, episclerite e/ou esclerite, doença pulmonar intersticial, pericardite, vasculite sistêmica e síndrome de Felty. o Presença de erosões nos dois primeiros anos da doença (raio X de mãos e pés) CRITÉRIOS DE REMISSÃO DA AR o Rigidez matinal ≤ 15 minutos o Sem fadiga o Sem dor articular (por história médica) o Sem dor articular ao movimento o VHS ➢ Homens < 30mm/h ➢ Mulheres < 20mm/h
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