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RESUMO 4p - FUNDAMENTOS 2

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AULA 1 – O CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO DE 1956 A 1980
· O SURGIMENTO DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL – O Serviço Social surgiu no Brasil em 1934, durante a chamada Era Vargas, iniciada com a Revolução de 1930. Getúlio Vargas afastou do poder os fazendeiros do café, que dominavam desde o governo de Prudente de Morais (1894) e assim pavimentou o caminho para uma significativa reorientação da política econômica do país. Nesse período o capitalismo ingressava na sua fase monopólica com a industrialização de sua economia. É introduzido no país um novo modelo de produção para o aumento da taxa de lucro. Com o surto industrial muitos foram atraídos para as cidades e abandonam as lavouras (meio de sobreviver da população até o momento). Surge um novo segmento de trabalhadores e,  junto com ele, uma série de situações de conflitos causados pela sua exposição a condições sub-humanas.
Estes trabalhadores começaram a se mobilizando para que suas condições de miserabilidade fossem reconhecidas. Suas reivindicações giravam em torno de melhores condições de vida dentro e fora das fábricas. Foi por causa da pressão de suas manifestações que surgiu o SERVIÇO SOCIAL como uma estratégia da Igreja Católica e do Estado burguês para conter ou amenizar o conflito entre as classes. Os conflitos, além de atrapalhar a produção, despertavam na classe explorada o desejo de abraçar o comunismo. Sendo assim, o Estado e a Igreja fazem, através de vários mecanismos por eles institucionalizados, sindicatos, instituições assistenciais e etc.
O Serviço Social surge com cunho caridoso e assistencialista. As primeiras iniciativas das ações da caridade que aconteceram na Europa foram claramente influenciadas pelas Encíclicas Papais, principalmente a Rerum Novaram e a Quadragésimo Ano. No Brasil, era o ano de 1936, início do século XX, e o Serviço Social começa a dar os primeiros passos com ideais NEOTOMISTAS e fortemente influenciado pela Igreja Católica. Acreditava-se que a sociedade vive problemas sociais por causa dos seus excessos, por causa dos vícios morais, dos desvios morais.
· GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK (JK – 1956 - 1960)
· JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA  foi o presidente mais jovem a assumir o país. Em 31 de Janeiro de 1956, JK inicia seu mandato rompendo com o NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO implantado por Vargas. Durante a década de 1940, o governo de Getúlio Vargas foi caracterizado por uma política econômica e financeira que incentiva as indústrias promovendo a sua expansão no mercado interno. JK faz uma política DESENVOLVIMENTISTA, incentivando e ampliando o processo de industrialização autorizando as empresas estrangeiras a se estabelecerem no Brasil. O problema central a resolver, para JK, é o estágio transitório do subdesenvolvimento e do atraso. A meta é a prosperidade, a grandeza material, a soberania, a paz e a ordem social. 
· PLANO DE METAS – Foi a primeira iniciativa do Estado em proceder um planejamento para o Brasil. O Plano de Metas foi uma proposta de desenvolvimento econômico acelerado, continuo e auto sustentado proposto por JK. Nesse plano ele dizia que o Brasil teria um desenvolvimento de 50 anos em 5 anos, tempo do seu mandato. Era uma euforia DESENVOLVIMENTISTA. A meta era levar a nação atingir a grandeza material, soberania, paz e ordem social. Com isso houve uma mudança radical da sociedade rural para sociedade urbana com intensificação do êxodo rural.
· O Plano de Metas tinha 30 metas fundamentais, mas a meta número 1 era a CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA (Nova Capital). A idéia dele era promover a integração entre as regiões. Queria integrar o Sul e o Sudeste, ao Norte e o Nordeste, então ele decidiu construir no Centro Oeste. JK monta uma empresa chamada “Nova Cap” para realizar a construção, só que a empresa começa a ter problemas de corrupção.
· Acontece um grande DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. JK dizia que a expansão econômica iria solucionar todos os problemas sociais, que o Brasil ia crescer tanto que teria dinheiro para a saúde, para educação, para habitação e etc. Muitas regiões industriais são gestadas nessa época, como, por exemplo, a região do ABCD paulista (Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema). Destaca-se a produção de automóveis que passa de 0 à 80 mil veículos por ano. A Wolkswagen foi a primeira multinacional a se intalar no Brasil. 
· Há, nesse período, uma onda de euforia muito grande com a conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, a construção da nova capital e a chegada de novos produtos, que passaram a fazer parte da vida doméstica da classe média brasileira, como eletrodomésticos, automóveis e outros artefatos. Entretanto, em relação à política, o Brasil se mostrava cada vez mais alinhado com os países capitalistas, principalmente os Estados Unidos da América.
· Para seguir com as grandes obras nacionais o Brasil precisava de financiamento e foi buscar em organismos internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional). Resultado: Dívida externa e aumento inflacionário. Com isso tudo fica mais caro, o poder de compra da população diminui e a popularidade do presidente começa a cair.
· GOVERNO JÂNIO QUADROS (1961)
· Jânio Quadros (candidato de oposição), disputou a eleição com o General Lott que era apoiado por JK, mas a imagem de JK já estava tão desgastada pela corrupção na Nova Cap, a dívida externa e a inflação que não elegeu seu sucessor. Foi eleito como presidente Jânio Quadros e vice-presidente João Goulart. Dois pólos opostos trabalhando juntos. 
 
· Jânio prometia um processo de moralização da política. O lema da campanha de Jânio era: VOU VARRER A CORRUPÇÃO! Seu símbolo era uma vassoura.
· Tinha uma imagem extremamente populista, procurava mostrar uma imagem simplória. Andava de ônibus, andava com paletó amassado e cheio de caspa nos ombros, comida no boteco... queria mostrar que é gente como a gente.
· Pegou o governo do Brasil em meio a uma grave crise econômica com inflação em alta. Sendo assim, foi obrigado a adotar algumas medidas impopulares, principalmente o congelamento do salário mínimo e a desvalorização da moeda o que acaba comprometendo muito as exportações.
· Jânio tinha uma política externa confusa. Governou no auge da Guerra Fria (1961) e adotou uma suposta postura de independência, não queria se aliançar nem com EUA nem com a União Soviética. Contudo, reata as relações diplomáticas com a União Soviética, relações que o Brasil já tinha rompido e, além disso, condecora o líder da revolução cubana: Che Guevara. Suas atitudes na política externa eram bem confusas.
· Tudo isso desagradou os setores conservadores, principalmente a UDN (União Democrática Nacional) representada pelo Carlos Lacerda. Ele começa a sofrer uma forte pressão desses setores.
 
· Em agosto de 1961 ele renúncia através de um bilhetinho. Dizem eu Jânio tinha essa “Política dos bilhetinhos”. Ele achava um método mais rápido de comunicação e com bilhetinhos se comunicava com os ministros. Dessa forma também, por meio de um bilhetinho, ele renuncia ao seu mandato. Governou por apenas 8 meses.
· FASE DE TRANSIÇÃO – João Goulart, o então vice-presidente, não estava no Brasil quando Jânio Quadros renunciou, ele estava em uma viagem diplomática na China. Jango tinha fama de ser comunista, por isso, ele não toma posse da presidência imediatamente como regia a constituição. Ele é colocado como Primeiro Ministro e o presidente da câmara, RANIERI MAZZILLIA, assume interinamente a presidência da república. É criado nesse período um regime PARLAMENTARISTA no Brasil. Essa manobra política é alvo de oposição, LEONEL BRIZOLA começa uma Campanha pela Legalidade dizendo que a constituição precisava ser cumprida. É um clima de instabilidade política.
· Realização do Plebiscito para escolha da forma de governo. Uma consulta pública para resolver que forma de governo o povo queria: PRESIDENCIALISMO ou PARLAMENTARISMO. Ampla parcela da população escolhe a volta do Presidencialismo. Só assim João Goulart assume como presidente em 1963, ou seja, dois anos depois.· GOVERNO JOÃO GOULART / JANGO (1963-1964)
· PLANO TRIENAL – O governo Jango foi marcado por uma agenda mais progressista aliada aos interesses das minorias. Jango chamou o economista CELSO FURTADO e foi elaborado o PLANO TRIENAL, um plano que propõe algumas REFORMAS DE BASE (fiscal, urbana e política). Por exemplo:
a) REFORMA AGRÁRIA com organização das Ligas Camponesas no Nordeste, 1º grande movimento social do país.
b) REFORMA EDUCACIONAL combatendo o analfabetismo por meio do MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB), método de Paulo Freire criado a partir da campanha de Angicos no RN.
c) REFORMAS FISCAL fazendo mudanças na cobrança de impostos, quem ganha mais tem que pagar mais, quem ganha menos tem que pagar menos. Buscava uma equidade nos impostos.
d) REFORMA URBANA pois as cidades cresceram demais e sem nenhum planejamento. Mobilidade urbana deficitária, saneamento básico, política de habitação inexistente, 
e) REFORMA POLÍTICA ou seja mexer na constituição federal de 1946. Ele propôs uma reforma constitucional.
Podemos ver portando que João Goulart tinha uma pauta social por meio de políticas sociais, reformas e etc. Entendia que o Estado tem que se interessar em fazer essas reformas. Até então essas questões não eram política pública.
· COMÍCIO NA CENTRAL DO BRASIL – João Goulart fez esse comício para lançar essas reformas de base, propor a legalização do Partido Comunista e o direito de voto para analfabetos, cabos e soldados. Entre os oradores, estavam os governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes e os dirigentes do Comando Geral dos Trabalhadores e da União Nacional dos Estudantes (UNE). O comício alcançou cerca de 300.000 pessoas, entre trabalhadores, camponeses, representantes de partidos políticos, estudantes, servidores públicos, soldados e sargentos, e foi transmitido inclusive pelo rádio. Foi um período de muitas lutas dos movimentos populares em favor da classe trabalhadora e em apoio às reformas propostas pelo presidente.
· MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE – Esse discurso teve um impacto tremendo na sociedade conservadora brasileira, os grandes empresários, os latifundiários, os banqueiros não gostaram dessa proposta de distribuição de bens e terras e reagiram. O medo do comunismo se instalou no Brasil de vez e dias depois fizeram a Marcha Da Família Com Deus Pela Liberdade. A partir daí uma Direita conservadora pediu a intervenção militar o que vai acontecer no ano de 1964.
· O GOLPE MILITAR (1964 - )
· Os militares, sob o comando do GENERAL HUMBERTO ALENCAR CASTELO BRANCO tomam o poder em 01 de Abril de 1964 só que a data firmada para a tomada dos militares foi 31 de Março, porque primeiro de Abril diziam que era o dia da mentira e eles não queriam ficar associados a esse tipo de lembrança.
· O golpe militar foi apoiado pelos Estados Unidos, tanto que alguns navios estavam ancorados na costa brasileira para o caso de João Goularta resistir e não aceitar sua deposição. Só que ele aceitou, partiu para o Rio Grande do Sul e depois para o exílio no Uruguai. Os militares dizem que não foi golpe, foi uma REVOLUÇÃO, mas na verdade o que aconteceu foi um golpe de estado.
· Esse período é conhecido da ditadura militar e conhecido como OS ANOS DE CHUMBO. Foram 28 anos de poder com o governo de 5 generais: 1) HUMBERTO DE ALENCAR CASTELO BRANCO; 2) ARTHUR COSTA E SILVA; 3) EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI; 4) ERNESTO GEISEL e 5) JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO.
· Um período marcado por autoritarismo, perseguição, tortura, morte e pouca intervenção do Estado nas políticas sociais. Chamado de ANOS DE CHUMBO. Conta-se que morreram aproximadamente 400 pessoas em virtude da tortura praticada nos porões da ditadura.
· ATOS INSTITUCIONAIS (AI’s 1, 2, 3, 4 e 5). Foram proclamados vários ATOS INSTITUCIONAIS (AIs), no sentido de não se cumprir mais a Constituição Federal de 1946. A constituição de 1946 já não existia mais.
· Os militares tinham uma meta que era estabilizar a economia e para isso tiveram que fazer um arrocho salarial muito grande e uma restrição ao crédito. Isso dificultou a vida da população. No governo de MÉDICI, DELFIM NETO prometia um milagre econômico. Diziam: “PRIMEIRO VAMOS CRESCER O BOLO PRA DEPOIS DIVIDIR O BOLO”, mas, na verdade, o bolo nunca foi dividido.
· Houve uma intensa perseguição política a indivíduos e movimentos/instituições contrárias ao regime. O slogan criado por MÉDICI era: “BRASIL, AME-O OU DEIXE-O”. De fato muitos políticos, intelectuais, estudantes, artistas, enfim, muitos formadores de opinião contrários ao regime, tiveram que ir embora do Brasil.
· Tempo de BIPARTIDARISMO, somente dois partidos políticos restaram: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) que era o partido governista e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que fazia uma oposição limitada.
· RESULTADO DA DA POLÍTICA ECONÔMICA NA DITADURA MILITAR:
a) Aumento da pobreza e perda de poder aquisitivo da população;
b) Mascaramento da inflação. DELFIM NETO ia na televisão e dizia que a culpa era do preço da carne, ou do xuxu...
c) Repressão a estudantes e setores progressistas contrários ao governo.
d) Políticas Sociais centralizadoras, burocráticas e com a falta de participação social.
e) O “Controle Social” era a vigilância e perseguição do Estado.
f) Forte descontentamento da população durante o governo GEISEL E FIGUEIREDO. Isso favoreceu o enfraquecimento do regime e acontece a volta das pessoas num processo de abertura política lenta, gradual e segura.
g) No Brasil, o período de 1979 a 1985 é de grande mobilização nacional pedindo o fim do regime militar. Várias são as greves e mobilizações, principalmente no ABC paulista, em torno dessa pauta. Em 1985 ocorre o movimento das “DIRETAS JÁ”, emenda do deputado federal DANTE DE OLIVEIRA, que preconizava a eleição direta para presidente da República. Na verdade, a tão esperada eleição direta para presidente da República não aconteceu. O que ocorreu foi uma eleição indireta no qual disputaram dois candidatos: PAULO MALUF pela ARENA e TANCREDO NEVES pelo MDB. Ganha TANCREDO, tendo como vice JOSÉ SARNEY. Com a morte de Tancredo, Sarney assume a presidência.
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AULA 2 – A EROSÃO DO S. SOCIAL TRADICIONAL E O PROCESSO DE RENOVAÇÃO DA PROFISSÃO
· INFLUÊNCIAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS DO S. SOCIAL BRASILEIRO EM SEU SURGIMENTO:
a) NEOTOMISMO – Primeira corrente filosófica que influenciou o serviço social, também chamada de DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA CATÓLICA. O serviço social teve seus primeiros passos orientados pela Igreja Católica e pelo pensamento de TOMÁS DE AQUINO que falava da dignidade humana e de sua perfectibilidade. Por ter sido criado por Deus o homem é perfeito e a sociedade é a união dos homens para o bem comum. 
Com a influência neo-tomista, o serviço social das décadas de 30 e 40 buscava: 1) Sociabilizar o ser humano (“o homem é um ser político” – Aristóteles); 2) Resgatar a pessoa humana (resgate da alma); 3) Resgatar a inteligibilidade da pessoa humana num processo educacional de formação moral e social. Observe que aquilo que o neo-tomismo busca são preceitos do catolicismo e buscavam ajustar o homem a sociedade. Não se questiona a sociedade com suas exclusões e distorções, se ajusta o ser humano a viver nessa sociedade numa perspectiva moralizadora, combatendo os ditos desvios de conduta: alcoolismo, prostituição, a homossexualidade... porque se busca a perfectibilidade humana. Tomás de Aquino dizia que o homem é naturalmente bom e é preciso resgatar essa perfeição humana.
Dentro do neo-tomismo temos dois importantes documentos que são fundamentais para o Serviço Social europeu, são as encíclicas papais: “RERUN NOVARUN” (“Das Coisas Novas”) escrita pelo papa Leão XIII em 15/05/1891; e “QUADRAGÉSIMO ANNO” Feita pelo papa Pio XI em homenagem aos 40 anos da “Rerun Novarun” em 15/05/1931.
b) FUNCIONALISMO – O pai dessa filosofia é o PERSON, um filósofo americano que falava: No funcionalismo a sociedade tem que funcionarbem (daí o nome). Ele compara essa sociedade ao organismo humano que é composto por vários órgãos que tem uma função, uma atribuição dentro do organismo (coração, olhos, boca)a. Assim é na sociedade, os homens desempenham papéis e funções e mediante essas funções você se ajusta a sociedade pra que ela permaneça linear e inerte. Cada pessoa tem que descobrir a sua função dentro da sociedade, acatar e desenvolver o seu trabalho sem questionar a sociedade. É o princípio do AJUSTAMENTO SOCIAL que vai nortear a prática do S. Social.
 
c) POSITIVISMO – Seu precursor foi AUGUST COMTE. O Positivismo é uma ciência em substituição a moral religiosa, essa ciência busca a racionalidade, busca uma nova ordem moral que seja científica e que garanta a ordem social e o progresso da sociedade. Consiste na observação e descrição das regularidades do conceito.
Para o positivismo os fatos sociais devem ser analisados como coisas, desligada de ideologias ou juízos de valor. A prostituição, o desemprego, a violência, todos esses fatos tem uma regularidade de acontecimento e são explicados pelo positivismo na forma de estatísticas, esses dados precisam ser quantificados através de gráfico, medidos, comparados, colocados dentro de indicadores para saber qual a regularidade e assim propor uma intervenção. Considera que todos os fatos sociais acontecem da mesma maneira e natureza, não considera a subjetividade de cada sujeito. O homem pelo positivismo é o indivíduo menor, o elemento irredutível, ou seja, é como se fosse um átomo. Então o homem não é importante, o que é importante é a sociedade, ele tem que se adaptar, se ajustar a sociedade.
No positivismo, diante de um fato social, você precisa: 1º) Observar a situação; 2º) Descrever a situação; 3º) Comparar a regularidade com que está acontecendo; 4º) Estabelecer as leis gerais da situação; 5º) Propor algumas ações. Era a forma de trabalhar do Assistente Social no princípio, um olhar racional e científico.
d) DESENVOLVIMENTISMO – Consiste na idéia de que é preciso garantir o desenvolvimento econômico em primeiro lugar, e a reboque, na seqüência, atingiríamos o desenvolvimento social. Segundo a ideologia desenvolvimentista, é preciso crescer, modernizar-se, desenvolver-se economicamente, tirar as regiões atrasadas de sua situação, fazendo-as alcançar o estágio do desenvolvimento. Esse pensamento pode ser visto na política de JK na década de 50. No Brasil foi um tempo de euforia com a vinda do capital estrangeiroa e das grandes indústrias multinacionais para o Brasil.
· SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO
· INFLUÊNCIA EUROPEIA. O Serviço Social no Brasil teve como referencial o Serviço Social Europeu, veio de um modelo FRANCO-BELGA. Em 1932, em visita ao Brasil, a assistente social belga ADÈLE DE LONEUX faz palestras e participa de conferências, em São Paulo e no Rio, lançando, pela primeira vez, a noção de Serviço Social. Ao regressar à Bélgica, foi acompanhada pelas brasileiras MARIA KIEHL e ALBERTINA RAMOS, as primeiras a receber formação na escola de Serviço Social de Bruxelas.
· INFLUÊNCIA NEO-TOMISTA. O serviço social no Brasil nasce a partir desta visão de mundo, a visão de que a sociedade vivia problemas sociais por causa dos seus excessos, por causa dos vícios morais, dos desvios morais. O homem havia abandonado a sua fé, o comunismo se apresentava como um perigo real, e sem o credo religioso o resultado eram todos os problemas vividos. São Tomas de Aquino começa a aliar a Filosofia Aristotélica (razão) e o Neo-platonismo aos textos bíblicos , ele mostrar que é possível viver a fé com racionalidade. 
· Em 1936 surge a primeira escola de serviço social do Brasil ligada a igreja católica. A ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DE SÃO PAULO (PUC). Foi criada por iniciativa de MARIA KIEHL e ALBERTINA RAMOS. O curso tinha caráter de formação técnica e recebia, ainda, enfoque moralizador e psicologizante centrado no indivíduo e na família, que terá como referenciais o pensamento social da Igreja.
· O pensamento Neo-Tomista condenava o capitalismo e o comunismo. O comunismo nem pensar, pois dizia que a religião é o ópio do povo, mas o capitalismo, da forma como está, também não dá. Eles propunham, então, uma HUMANIZAÇÃO DO CAPITALISMO através da formação moral das pessoas, da caridade aos mais pobres, do combate aos males sociais e individuais e da luta contra o desajustamento social.
· Nesse momento, o objetivo do S. Social era de promover o ajustamento, à ordem social. Buscava garantir condições mínimas de existência para a dignidade da pessoa humana. Não questionava o capitalismo, não questionava a sociedade, procurava apenas dar condições mínimas de existência por meio da caridade aos mais pobres.
· O Brasil começa a mudar com NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO na era de GETÚLIO VARGAS (1930-1945). Há uma intensificação do processo de industrialização e urbanização e conseqüentemente o acirramento das contradições capitalistas nas relações de trabalho. A classe trabalhadora é explorada e começa a reivindicar melhores condições de vida. O Estado, então, assume uma posição corporativista, ele se torna o grande mediador da contradição. Ele começa a favorecer uma legislação trabalhista, surge a CLT, salário mínimo, férias, desconto semanal remunerado, políticas públicas para o trabalho. Todos os direitos sociais do trabalho que até então não existiam.
· O Brasil muda mais em 1945, APÓS A II GUERRA MUNDIAL. O Brasil se uniu aos EUA na guerra, manda os pracinhas para a Itália, sai vencedor junto com os EUA na guerra. Posteriormente o Governo norte-americano inicia extenso programa de assistência técnica aos países pobres, principalmente aqueles situados na América Latina e novos acordos são firmados com o Brasil tendo em vista as necessidades norte-americanas de matérias-primas em virtude da Segunda Guerra. Depois começa o período da GUERRA FRIA (Capitalismo X Socialismo / EUA X USS). O Brasil se aproxima dos EUA. Assim o Brasil se colocou debaixo da forte influência norte-americana trazendo o DESENVOLVIMENTISMO para o Brasil.
· Para o Serviço Social, essa aproximação com outras fontes de conhecimento ocasiona mudanças em sua prática, a PARTIR DE 1945 acontece a importação de aspectos das Ciências Sociais norte-americanas no Brasil. Muitas moças vão fazer pós graduação nos EUA e lá entram em contado com os escritos de MARY RICHMOND e acabam tendo contato com a teoria POSITIVISTA e FUNCIONALISTA. Importam o Serviço Social de casos e, posteriormente, do Serviço Social de grupo e comunidade. Esses fatos trouxeram à profissão transformações em seus conteúdos teórico-metodológicos, ao se afastar do aparato instrumental franco-belga para ser influenciado pelo S. Social norte-americano
· A PARTIR DE 1950 INICIA-SE O PROCESSO DE EROSÃO, DE DESGASTE DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL. O avanço da industrialização e da urbanização desencadeia um crescente aumento da pobreza relativa, devido ao agravamento das “questões sociais”, percebe-se que o S. Social tradicional não fornecia respostas concretas à demanda que o Brasil vivia. A metodologia importada de Caso, Grupo e Comunidade, não servia mais, havia uma inadequação metodológica. Faltavam elementos teóricos, não tinha produção teórica, era tudo importado. A posição acrítica frente a realidade social já não cabia.
· A partir de 1940, no centro de uma política de favorecimento da industrialização, o Estado cria instituições de assistência estatais, paraestatais e autárquicas com o intuito de direcionar e integrar as reivindicações operárias através de políticas sociais desenvolvidas nessas instituições, as quais necessitavam de profissionais do Serviço Social para executá-las. A LEGIÃO BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA (LBA), em 1942, o SENAC (SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COMÉRCIO), o SESC (SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO) e o SESI (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA), conhecidos como Sistema S, são algumas das instituições gestadas nessa época.
· O CONGRESSO INTERNACIONAL DE SERVIÇO SOCIAL, realizado em Atlantic City, em 1941, marca uma nova época na históriado então recente Serviço Social brasileiro, visto que foi nesse evento que se iniciou o “INTERCÂMBIO CULTURAL” entre os Estados Unidos e demais países “subdesenvolvidos”. A partir desse ano, foram concedidas bolsas de estudos e programas de qualificação de mão de obra em universidades dos EUA.
· Assim, É BASICAMENTE NO CONTEXTO DE 1950 QUE SE INICIA O PROCESSO DE RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. Começa-se a fazer alguns questionamentos sobre a funcionalidade da profissão. Questões como o que é caridade? O que é profissão? Buscava-se a) A LAICIZAÇÃO do S. Social, ou seja, queriam tornar essa profissão independente da religião, uma profissão laica, que não está atrelada a religião. b) A FUNCIONALIDADE do S. Social, determinar quais eram as suas funções. c) A PROFISSIONALIZAÇÃO do S. Social, deixar essa característica do voluntariado e da caridade. d) A RACIONALIZAÇÃO do S. Social, já é uma influência do positivismo, buscavam a cientificidade, a tecnificação.
· Esses questionamentos surgem porque o S. Social começa a entrar em novos campos profissionais, principalmente na Indústria por meio do SERVIÇO SOCIAL DO TRABALHO. O contato direto com os trabalhadores e suas famílias pode mostrar que não se faz caridade no contexto do capitalismo. Surgem novas exigências a profissão. O Assistente Social desse período precisava ter mais que o domínio de técnicas como entrevistas; observação; questionário...
· A categoria profissional reconhece as inquietações e insatisfações desse momento histórico e direciona seus questionamentos ao Serviço Social tradicional. Por meio de um movimento amplo de revisão global, propõem-se mudanças em diferentes níveis: TEÓRICO (uma produção teórica que desse conta da compreensão da sociedade e do homem), METODOLÓGICO (com uma metodologia adequada à realidade latino-americana e principalmente brasileira), OPERATIVO (com ações profissionais efetivas à questão social) e POLÍTICO. Esse movimento surge na América Latina e impõe ao profissional de S. Social a necessidade de um novo projeto comprometido com a demanda das classes trabalhadoras e subalternas. É no seio desse movimento que ocorre a interlocução com MARXISMO.
· Assim, o movimento de Reconceituação teve como ponto de partida, por volta de 1965, o I SEMINÁRIO REGIONAL LATINO-AMERICANO DE SERVIÇO SOCIAL, em Porto Alegre, Brasil, e posteriormente os seminários no Uruguai (1966), Argentina (1967), Chile (1969), Bolívia (1970) e novamente em Porto Alegre (1972).
· LINHA DO TEMPO DO S. SOCIAL BRASILEIRO / RESUMO
a) DÉCADA DE 1930
§ Surgimento do SS no Brasil; Era Vargas; Nacional Desenvolvimentismo; Reação Católica;
§ Primeira Escola: 1936 em São Paulo;
§ Influência Franco-Belga:
§ Neotomismo / doutrina Social da Igreja Católica.
b) DÉCADA DE 1940
§ Final da Segunda Guerra Mundial; Guerra Fria;
§ Alinhamento do Brasil aos interesses norte americanos;
§ Se busca um S. Social mais técnico;
§ Acontece um transplante das teorias norte-americanas para o contexto brasileiro.
§ Positivismo / Funcionalismo. Metodologia de Caso, Grupo e Comunidade
c) DÉCADA DE 1950
§ Contexto desenvolvimentista, crescimento da urbanização e industrialização;
§ A Metodologia de Caso; Grupo e Comunidade não dá mais conta de atender o contexto brasileiro;
§ INÍCIO DO PROCESSO DE EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL;
§ Razão? Novas demandas são colocadas à profissão. O Assistente Social vai para as indústrias e ali ele começa a perceber como era a realidade dos trabalhadores dentro das fábricas.
d) DÉCADA DE 1960
§ Percebe-se uma inadequação do Serviço Social brasileiro em responder as demandas profissionais;
§ Busca de uma cientificidade da profissão;
§ Começo do MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Latino Americano.
· PROCESSO DE RENOVAÇÃO E RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
· A partir da década de 1960 acontece uma crítica ao Serviço Social Tradicional por conta do adensamento urbano e o acirramento das contradições entre Capital e Trabalho entre os empresários e os trabalhadores.
· Em 1961 a CBCISS (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS) realiza o II CONGRESSO NACIONAL DE SERVIÇO SOCIAL e incorpora o discurso DESENVOLVIMENTISTA na pauta. O congresso contou com a presença do presidente Jânio Quadros com um discurso permeado por palavras como crescimento e mudança. O Serviço Social vivia uma efervescência. Primeiro, pelo agravamento das expressões da “Questão Social”, fator que legitimava a intervenção profissional com a população que sofria essas conseqüências. Segundo pelo reconhecimento conferido à profissão, tanto pelo Estado brasileiro, quanto pelos meios empresariais, o que aumentou a sua participação nas Universidades. Durante este período surgem outras escolas de Serviço Social, sem origem católica. Também notas-e a crescente presença dos homens nesta profissão que, em seus primórdios, era uma profissão “quase” que exclusivamente feminina. Apesar da euforia...
- ...a “Questão Social” ainda era entendida como um “Problema Social”. Uma idéia tradicional do assunto, ainda não se enxerga a questão social como uma contradição entre capital e trabalho.
- ...o Serviço Social ainda atuava na lógica do “Ajustamento dos Indivíduos à Ordem Social Vigente”. O objetivo era o ajustamento dos desajustados à ordem social. Problema social a gente resolve com ajustamento.
- ...a metodologia, ou as formas de atuação, ainda giravam em torno do tripé: caso, grupo e comunidade.
Ou seja, mesmo com aquele discurso todo de mudança e transformação, ainda era só o começo, tinha muito pra mudar.
· CBCISS (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS) – É uma entidade que se preocupa com a produção teórica e metodológica do Serviço Social. Teve forte atuação na Reconceituação brasileira entre as décadas de 1960-1970. Pautou o debate, de ordem metodológica e teórica, no interior da profissão. Realizou os conhecidos seminários de Araxá, Teresópolis e de Sumaré, compilados na obra Teorização do Serviço Social, que é referência para conhecer a história da profissão.
· CONTEXTO HISTÓRICO
· Acontece a Revolução Socialista em Cuba (1959) e com isso, começa um questionamento, ainda tímido, sobre a subalternidade imposta a América Latina diante do imperialismo americano. Mesmo assim, segue a forte influência norte-americana no continente, com campanhas de apoio financeiro, de cooperação.
· As Ciências Sociais assumem uma postura mais crítica com a TEORIA SOCIAL CRÍTICA DE MARX.
· Começa uma série de ações de cunho social na América Latina, inclusive no Brasil, a partir de 1960: Se busca o desenvolvimento de comunidade e a participação popular; se instaura o “MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE” (MEB); surge o método Paulo Freire; Centros Populares de Cultura (CPC’s); Movimento de Cultura Popular; Ligas Camponesas; ação católica com posição política de esquerda durante a ditadura militar. Com tudo isso, houve a descoberta da dimensão política da profissão.
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AULA 3 - O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO S. SOCIAL NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL
· MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO. RECONCEITUAR é dar novo conceito, trazer novos elementos. O Movimento de Reconceituação procura uma cientificidade da profissão de Serviço Social. Precisavam deixar claro o que é a caridade da igreja e o que é a profissão de Serviço Social. Era preciso romper com essa realidade Latino Americana, atrelada a dependência do imperialismo norte americano. Era preciso romper com o neo-tomismo, positivismo, funcionalismo e tudo mais. O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO, nas palavras de José Paulo Netto, é a tentativa de superar o Serviço Social Tradicional, típico transplante ideológico de origem norte americana. Não foi simples, foi um processo dinâmico iniciado em 1965 e que teve avanços e retrocessos. No Brasil há duas vertentes:
· TENDÊNCIA CONSERVADORA – Pretendia modernizar apenas os aspectos teóricos e instrumentais, ou seja, o fazer do Assistente Social. Romper com a estrutura antiga, comideais neo-tomistas e trazer aspectos mais científicos.
· TENDÊNCIA MUDANCISTA – Romper totalmente com o tradicionalismo pensando em um S. Social em contato com as suas bases, ou seja, pensando nos trabalhadores, nos movimentos sociais, aqueles que precisam do S. Social.
· MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA
· Tivemos perspectivas distintas em cada país do cone sul: Argentina; Chile; Uruguai e Brasil. Acontece que Argentina, Chile e Uruguai ainda não estavam em processo de ditadura, mas o Brasil estava em plena ditadura militar. Então os outros países do cone sul já tinham uma perspectiva mais crítica, já se falava dos textos de Marx, já havia crítica ao imperialismo americano e a sua forma de agir vinculando-se mais à população. Se buscava nesses países fazer um Serviço Social genuinamente Latino, capaz de responder as demandas territoriais da nossa realidade social. As metodologias importadas não davam conta de atender as demandas do povo Latino.
· O Brasil vivia a DITADURA MILITAR (1964), José Paulo Netto chama de REGIME AUTOCRATA BURGUÊS. Autocrata é aquele conceito autoritário, uma autoridade imposta pela força. Burguês porque é comandado por uma Elite. Então nós viviamos num estado autoritário, centralizador, comandado por uma Elite. Era uma nova realidade para o S. Social no Brasil. Houve políticas sociais neste período, mas eram extremamente centralizadoras, eram elaboradas por técnicos mediante seus critérios e parâmetros. Não havia envolvimento da população nessas políticas sociais, as pessoas que criavam as políticas sociais não se identificavam com as massas.
· Nesse período houve também um extremo controle e tecnificação do ensino brasileiro. O ensino ficou técnico para abastecer o mercado de trabalho, mas não incentivava as pessoas a pensar, a exercer o senso crítico. Esta medida fazia parte do cerco as manifestações populares e ideologias contrárias a autocracia. 
· No S. Social Brasileiro se discutia somente a metodologia, operacionalização e técnicas numa perspectiva totalmente acrítica. A saúde era privatizada, não tinha saúde pública. A política educacional também não era pública, era restrito, tinha que fazer exame de admissão. Mas o Assistente Social não podia criticar nem fazer oposição.
· TRÊS MOMENTOS DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NO BRASIL:
1º) PERSPECTIVA MODERNIZADORA (1965 – 1975) – O Movimento de Reconceituação da profissão buscava romper com os postulados positivistas/funcionalistas. Esse movimento pretendia um Serviço Social brasileiro pensado a partir da nossa realidade social e criticava fortemente as metodologias importadas dos EUA. Assim, os Assistentes Sociais começam a repensar a profissão buscando atender as demandas do continente latino-americano. Esse movimento não foi coeso, pois havia diferentes concepções no interior do debate, e diferentes conjunturas políticas e econômicas nos países que vivenciaram a Reconceituação. A predominância desse movimento ocorreu nos países do Cone Sul: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile.
No contexto brasileiro da Ditadura Militar, o debate político no interior da profissão foi cerceado, a dimensão política só entrou em questão a partir do final dos anos 1970, quando os militares já estavam bastante desgastados pela oposição e começaram o processo de abertura política. Assim, os Assistentes Sociais brasileiros focaram suas discussões em fatores metodológicos e teóricos, evitando polêmicas e embates de ordem política; conjuntural e social do país. Também ficaram quietos porque esses profissionais estavam fortemente inseridos na estrutura estatal e muitos eram chamados a participar da elaboração e gestão das políticas sociais da Ditadura. Porém, muitos profissionais mais críticos ao regime tiveram que se exilar. Portanto, o movimento de Reconceituação no país, entre as décadas de 1960 e 1970, ficou sob o comando hegemônico da ala tradicional e conservadora da profissão.
O S. Social agia, nesse período, como um instrumento: INTERVENTIVO (intervenção no sujeito); DINAMIZADOR (dinamizador do desenvolvimento); INTEGRADOR (integra o homem ao meio social). Isso quer dizer que havia uma aceitação da ordem instituída (Ditadura). O S. Social vivia um emolduramento teórico e profissional que o Estado vigente solicitava. Estava engessado, não podia sair dos limites que o Estado impunha. Então nessa primeira faze a renovação era adequada ao regime autocrático burguês. O principal expoente na perspectiva modernizadora foi JOSÉ LUCENA DANTAS que sempre focou nos aspectos Metodológicos do S. Social. Nesse tempo havia o “Fetiche da metodologia”, ou seja, desejo de discutir e mudar metodologia, ma não se muda uma metodologia tão facilmente. Só que essa ênfase no planejamento, na planificação dá um status ao serviço social.
A Perspectiva modernizadora sofre uma forte crítica e resistência dos setores mais conservadores e dos mais críticos, então ela recebe o nome de MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA. MODERNO porque é novo, recente, do tempo presente e CONSERVADOR porque é avesso ao novo, apegado ao tradicional. Decide modernizar apenas o fazer profissional, somente os aspectos metodológicos e instrumentais. Então de forma moderna imprimia características mais cientificas a profissão negando o S. Social Tradicional (Neotomismo), mas era conservador porque aceitava a ordem instituída, ou seja, o contexto militar. Mantinha aspectos do S. Social Tradicional como a adequação do sujeito ao meio, visão acrítica, não se questiona a realidade e culpa o sujeito pelo seu problema social. O Foco da profissão estava na capacidade de integração do indivíduo ao meio social sem fazer contestação ideológica e política a Ditadura Militar. A atuação do Assistente Social se fazia MICRO e MACRO socialmente. Atuação Micro é nas empresas, nas comunidades e Macro na questão do planejamento das políticas sociais. Então essa atuação Macro seria uma atuação mais burocrática. Assim o S. Social torna-se instrumento de modernização para o desenvolvimento segundo a ditadura.
2º) REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO (1975 – 1979) – Procura-se reatualizar o que se chamava de conservador. trata-se de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto) representação e da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxiana. Esse seminário foi promovido pela arquidiocese do Rio de Janeiro e, por isso mesmo, se buscou a retomada de aspectos tradicionais. Sobre a reatualização do conservadorismo.
Há uma negação do Positivismo enquanto perspectiva teórica para o S. Social Brasileiro. Usa o recurso da FENOMENOLOGIA enquanto referencial teórico para a profissão. A fenomenologia é uma ciência que se ocupa em estudar os fenômenos, a origem dos fenômenos, não interessa a historia, não interessa o tempo. A fenomenologia também não introduz a idéia de transformação da realidade, o homem tem que se adaptado, então mantém o conservadorismo. Ela descreve a realidade como ela é sem mudança e não aborda conflitos de classe, muito menos mudanças conjunturais e estruturais. O S. Social se realiza na fenomenologia com enfoque em aspectos psicologizantes e subjetivos. É o tratamento social a partir do ramo da psicologia.
3º) INTENÇÃO DE RUPTURA (final de 1979) – Finalmente o S. Social chega a uma PERSPECTIVA CRÍTICA com a adoção da Teoria Social Crítica de Marx. É o período em que o regime militar começa a se enfraquecer, começa a acontecer a anistia Política, volta de diversos militantes da esquerda do exílio; greves do ABC Paulista e o ressurgimento dos Movimentos Sociais numa postura mais crítica. O S. Social começa a se aproximar de suas bases: Classe Trabalhadora, Excluídos e Subalternizados. Início também da politização do S. Social. Aqui vale destacar a experiência dos docentes da Escola de ServiçoSocial da Universidade Católica de Belo Horizonte, durante o período de 1972 a 1975, conhecido como “MÉTODO DE BH”. 
O MÉTODO DE BH consistiu no primeiro projeto para a profissão que pretendia romper com o Serviço Social tradicional do ponto de vista teórico-metodológico, formativo e interventivo. Assim, esse método configura-se num dos mais importantes marcos para se entender a trajetória do Serviço Social no Brasil e, sobretudo, a aproximação com o pensamento marxista. Ainda que um marxismo vulgar, tomado a partir de uma leitura “manualesca”, com base em comentadores de Marx, de maneira bastante eclética. Para exemplificar, há uma tendência no Método BH de misturar alguns pressupostos do marxismo à perspectiva pedagógica e filosófica de Paulo Freire. 
No III CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS (CBAS), realizado em São Paulo em 1979, conhecido como “CONGRESSO DA VIRADA”, ocorre o marco fundamental do diálogo do Serviço Social com a teoria social de Karl Marx. A “virada” possibilitou o descortinamento de novas possibilidades de análise da vida social, da profissão e dos sujeitos com os quais o Serviço Social trabalha. (CFESS, 2009), ou seja, a aproximação da profissão com as suas bases: a classe trabalhadora, excluídos e os subalternizados.
 
É na década de 1980 que o Serviço Social brasileiro realiza uma profunda autocrítica, descobre a dimensão política da profissão e adensa seus estudos, com base na perspectiva da Teoria Social Crítica de Karl Marx. Destacam-se as produções do CELATS (Centro Latinoamericano de Trabajo Social), que passa a ter hegemonia no debate profissional em todo o continente, e patrocina projetos de pesquisa visando o rompimento com o tradicionalismo e o conservadorismo. No contexto brasileiro, exemplificamos a publicação do livro: RELAÇÕES SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL, esboço de uma interpretação teórico-metodológica, de autoria dos professores Raul de Carvalho e Marilda Vilella Iamamoto. Esse texto é referência para conhecer nossa história e demonstra o adensamento da leitura marxiana em nossa profissão. Tem início, na década de 1980, a construção de um novo projeto ético-político profissional, atrelado com as lutas pela implementação do Estado de Direito, após o devastador período da ditadura.
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AULA 4 - OS SEMINÁRIOS DE TEORIZAÇÃO DA PROFISSÃO: ARAXÁ, TERESÓPOLIS E SUMARÉ
· SEMINÁRIOS DE TEORIZAÇÃO – Foram encontros promovidos pela CBCISS (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS) para discutir os rumos da profissão. Esses seminários ocorreram no contexto da Ditadura Militar e deles saíram importantes produções para o S. Social brasileiro. Os 3 seminários mais importantes são os de ARAXÁ, TERESÓPOLIS e SUMARÉ, onde são discutidas novas bases teóricas para o Serviço Social brasileiro.
· DOCUMENTO DE ARAXÁ (19 a 26 de março de 1967)
· O SEMINÁRIO DE ARAXÁ - MG, foi o primeiro seminário teórico organizado pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais) em 26 de março de 1967. Contou com a participação de 38 assistentes sociais dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e profissionais provenientes de escolas católicas. A presidente foi a pioneira do Serviço Social: PROFESSORA HELENA IRACY JUNQUEIRA. O tema desse seminário foi: TEORIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. Queriam buscar uma teoria própria para o S. Social, uma teoria para a realidade brasileira. Como resultado, foi elaborado o DOCUMENTO DE ARAXÁ, no qual se faz uma reflexão sobre a crise do Serviço Social e sobre a sua função: “Onde e como se faz o Serviço Social?”. Também há uma abordagem acerca da origem da profissão e sua vinculação com as disfunções do indivíduo na sociedade.
· Em 1967 o S. Social estava NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA o que certamente influenciou os debates e o conteúdo do documento de Araxá. O Brasil estava na ditadura militar e os Assistentes Sociais buscavam uma revisão teórica e metodológica dos aspectos do desenvolvimento. Foi gerado um documento único que menciona a crise, mas que não reflete sobre a crise, não responde as demandas colocadas. O Documento de Araxá reflete o pensamento de assistentes sociais que haviam deixado de trabalhar nas obras assistenciais, nos morros, nas favelas, nas fábricas, nos circuitos operários e passaram a ocupar postos e cargos na administração estatal.
· O DOCUMENTO DE ARAXÁ traz uma concepção de indivíduo baseada na idéia do desajustamento social, assim, os assistentes sociais que participaram do seminário propõem como estratégia de intervenção a promoção de ações de caráter corretivo, preventivo e promocionais, articuladas a cada contexto social. O caráter CORRETIVO era carregado dos valores morais adotados pelos profissionais que participaram do Seminário, para exemplificar, eram considerados desajustes, o alcoolismo, a homossexualidade, etc. Desse modo, a ação dos assistentes sociais em Araxá é no sentido de corrigir essas posturas consideradas “desviantes”, ou “distorções” do caráter do indivíduo. O PREVENTIVO chama o profissional a evitar que esses “males sociais” ocorram. Da mesma forma, os PROMOCIONAIS direcionavam para a integração das comunidades ao bem-estar social. Já o caráter de INTEGRAÇÃO enfatiza a necessidade do sujeito acatar a realidade social. Predomina em todo o documento os valores de uma sociedade conservadora e moralizadora, num contexto do capitalismo predatório. A categoria profissional não tinha a dimensão da “questão social”, as políticas sociais se traduziam em investimento do Estado na tentativa de integração.
· DOCUMENTO DE TERESÓPOLIS (10 a 17 de janeiro de 1970).
· Três anos mais tarde, se realizou outro encontro, de 10 a 17 de janeiro de 1970 em Teresópolis, RJ. Desse encontro foi elaborado o DOCUMENTO DE TERESÓPOLIS. O Serviço Social continuava na perspectiva da MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA, durante a ditadura militar, no auge do AI5. O tema do encontro foi: A METODOLOGIA DO S. SOCIAL FRENTE A REALIDADE BRASILEIRA. O presidente foi JOSÉ LUCENA DANTAS que dividiu os Assistentes Sociais em 2 grupos de trabalhos. Um pra falar da TENDÊNCIA MODERNIZADORA, outro pra falar da TENDÊNCIA TRADICIONAL. LUCENA foi o mais representativo dos intelectuais dessa perspectiva modernizadora, ele exerceu papel significativo na teorização profissional até o fim da década de 1970. Dantas considera que a questão da metodologia da ação constitui a parte central do Serviço Social, sendo assim, a definição de um modelo de prática do Serviço Social adequado à problemática social brasileira depende da solução do seu problema metodológico. Conferiu, também, à perspectiva modernizadora uma organicidade teórica de fundo estrutural-funcional e ideológica através do viés da modernização conservadora. Ele dizia que o profissional de S. Social tem que entender e conhecer os aspectos metodológicos do Serviço Social minuciosamente. LUCENA apresenta o S. Social como um método científico aplicado, esse método se divide em diagnóstico e intervenção planificada e planejada. A instrumentalidade, o fazer é cristalizado, detalhado. Assim, verifica-se a manutenção da mesma perspectiva de homem e mundo que já fazia parte da metodologia tradicional “não há rompimento: há a captura do ‘tradicional’ sobre novas bases”.
· DOCUMENTO DE SUMARÉ (20 a 24 de novembro de 1978)
· Esse seminário teórico organizado pelo CBCISS aconteceu na cidade de Sumaré. O Serviço Social está em outro momento no processo de reconceituação, está na REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO, acontece uma retomada de aspectos tradicionais. Lembra que dissemos que o processo de reconceituação teve avanços e retrocessos? Pois nesse momento há uma retomada dos valores antigos, valores tradicionais. O foco vai ser voltado para os aspectos psicossociais e compreensivos da Sociologia Weberiana. Influencia muito grande da FENOMENOLOGIA. Se buscava a auto-resolução dos problemas, emponderar os sujeitos para que eles consigam resolver seus problemas.· Retomada dos aspectos micro-sociais, ou seja, questionam o porquê dos desvios sociais. Porque acontece o alcoolismo? Nega-se o positivismo e critica-se veementemente a dialética marxista. O recurso usado é o da fenomenologia. A ênfase metodológica está em mostrar, compreender e descrever a subjetividade do sujeito. Tinha um atrelamento muito grande com os fenômenos emocionais e psicológicos.
· Buscava-se essa consciência, essa ajuda psicossocial através do diálogo. Entendimento do ser enquanto pessoa humana, buscava o “Existencialismo Cristão” de Emmanuel Mounier ou a “Situação Existencial Problema” (SEP): alcoolismo; drogadição; problemas familiares e etc. Hoje as práticas terapêuticas são vedadas ao Assistente Social pela Resolução n.º 569/2.010. O Assistente Social atua nas expressões da Questão Social, ajuda terapêutica é prática do psicólogo. A principal vertente do documento de Sumaré é essa ajuda psico-social, essa ajuda terapêutica.
· A tarefa do Serviço Social, nessa vertente, era auxiliar o sujeito existente, singular para a auto-resolução dos “problemas”, ou seja, empoderar o sujeito. O foco de atuação era o atendimento e a ajuda psicossocial por meio do diálogo, com forte apelo às terapias grupais. Coloca para o Serviço Social a tarefa de “auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular, em relação aos outros, ao mundo de pessoas”. Configurou-se num retorno aos aspectos moralistas de dicas e regras de convívio social. Assim, é fundamental que se compreenda o extremo conservadorismo dessa perspectiva.
· Embora a tendência de rompimento com o histórico tradicional do Serviço Social já fosse presente desde o final dos anos de 1950, os seminários ocorridos em Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista não empreenderam efetivamente uma ruptura com a herança conservadora. É somente a partir dos anos 1970, com a forte oposição ao contexto ditatorial, e o já citado processo de abertura política, no Governo Geisel, que foi possível a alguns profissionais, mais precisamente aqueles que estavam na docência, se encaminharem para pesquisas que se vinculavam com um projeto de ruptura com o Serviço Social tradicional.

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