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Apostila-História da África

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1
HISTÓRIA DA ÁFRICA
LETÍCIA CRISTINA FONSECA DESTRO
EDUCAÇÃO A 
DISTÂNCIAFACULDADE ÚNICA
1
HISTÓRIA DA ÁFRICA
LETÍCIA CRISTINA FONSECA DESTRO
1
2
HISTÓRIA DA ÁFRICA
1° edição
Ipatinga, MG
Faculdade Única
2021
3
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
 Diretor Geral: Valdir Henrique Valério
 Diretor Executivo: William José Ferreira
 Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
 Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
 Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
 Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite
 Carla Jordânia G. de Souza
 Guilherme Prado Salles
 Rubens Henrique L. de Oliveira
 Design: Aline de Paiva Alves
 Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 Taisser Gustavo Soares Duarte
© 2021, Faculdade Única.
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita 
do Editor
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300
www.faculdadeunica.com.br
4
LEGENDA DE
Ícones
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas 
quais você precisa ficar atento.
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do 
conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones 
ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado 
trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a 
seguir:
São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca 
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, 
associando-os a suas ações.
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos 
conteúdos abordados no livro.
Apresentação dos significados de um determinado termo ou 
palavras mostradas no decorrer do livro.
 
 
 
FIQUE ATENTO
BUSQUE POR MAIS
VAMOS PENSAR?
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
5
SUMÁRIO UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
1.1 Introdução.........................................................................................................................................................................................9
1.2 Em breve panorama geográfico e a diversidade de povos e culturas ..................................................9
1.3 Imagem da África e dos africanos na antiguidade e entre os árabes ..................................................11
1.4 A África e os africanos descritos pelos ocidentais .............................................................................................13
FIXANDO CONTEÚDO ...................................................................................................................................................................16
2.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................20
2.2 Continente A-Histórico?.......................................................................................................................................................20 
2.3 Reinventando a sua própria história ...........................................................................................................................23
2.4Novos estudos africanos ......................................................................................................................................................25
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................28
3.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................31
3.2 Estados antigos do Sudão: Egito, Kush , Axum ...................................................................................................31
 3.2.1 Egito antigo ......................................................................................................................................................................31
 3.2.2 Núbia ...................................................................................................................................................................................34
 3.2.3 Axum ...................................................................................................................................................................................35
3.3 Estados do Antigo Sudão: Gana, Mali e Songai ...................................................................................................35
 3.3.1 Gana ......................................................................................................................................................................................36
 3.3.2 Mali ........................................................................................................................................................................................37
 3.3.3 Songai .................................................................................................................................................................................38
3.4 Estados da África Austral: O monomotapa ...........................................................................................................38
FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................................................................................40
IMAGENS DA ÁFRICA
ÁFRICA, UM CONTINENTE COM HISTÓRIA 
UM CONTINENTE EM MOVIMENTO
UNIDADE 4
4.1 Introdução ....................................................................................................................................................................................43
4.2 As estruturas sociais africanas........................................................................................................................................43
 4.2.1 Senegal e Golfo da Guiné .........................................................................................................................................43
 4.2.2 Congo e Angola ..............................................................................................................................................................44
4.3 A escravidão na África e o contato com os europeus ...................................................................................46
4.4 O impacto do tráfico de ecravos e da escravidão atlântica........................................................................49
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................52
 AS SOCIEDADES AFRICANAS E A ESCRAVIDÃOUNIDADE 5
5.1 Introdução ......................................................................................................................................................................................55
5.2 Partilha da África ( 1880-1914): Interpretações .......................................................................................................55
5.3 O caso emblemático do Congo ......................................................................................................................................57
5.4 A conquista na pespectiva africana..............................................................................................................................58
5.5 Descolonização e guerras coloniais ..............................................................................................................................59
FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................63
ÁFRICA CONTEMPORÂNEA 
6
SUMÁRIO UNIDADE 6
6.1 Introdução ....................................................................................................................................................................................67
6.2 A importancia da África no Brasil ................................................................................................................................67
6.3 Caminhos até a implementação da Lei Nº 10.639/03 .....................................................................................70
6.4 Ensino de história da África: Desafios e possibilidades ...............................................................................72
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................76
A ÁFRICA NO BRASIL
7
UNIDADE 1
Ao longo da história, o continente africano foi diversamente representado. Estas 
representações, por sua vez, de uma forma ou de outra, contribuíram para construir 
as ideias sobre a África e o africano que circulam no imaginário contemporâneo. 
Nesta unidade conheceremos um pouco dessas imagens e sua história.
UNIDADE 2
É perceptível o quanto uma visão eurocêntrica esteve presente nos textos acerca 
da história africana. Muitos clássicos viam a África como um continente, inclusive, 
sem história. Contrários a tal visão, um grupo de intelectuais mobilizou esforços para 
reescrever a história da África, valorizando-a e reconhecendo a sua diversidade e 
importância. Estudaremos sobre esses movimentos intelectuais nesta unidade.
UNIDADE 3
A África, ao longo da sua história, abrigou diversos reinos, impérios e Estados. Nesta 
unidade conheceremos alguns deles compreendendo um pouco da sua organização 
política, cultural, econômica e social.
UNIDADE 4
Nesta unidade estudaremos as organizações das sociedades africanas no alvorecer 
dos contatos com os europeus e do comércio atlântico de escravos que deles 
resultou. Analisaremos, além disso, a escravidão na África e a participação de Estados 
africanos no comércio moderno de escravizados que levaram milhões de africanos 
para a América.
UNIDADE 5
No Brasil se verifica uma grande desigualdade social e racial. Além disso, apesar da 
efetiva influência cultural e histórica africana e afrodescendente na formação do 
país, estas foram, durante séculos, desvalorizadas e negligenciadas. Para reverter 
tal cenário, diversos movimentos têm se organizado de modo a exigir políticas 
antirraciais mais efetivas. A Lei 10.639/03 é um exemplo. Nesta unidade, portanto, 
conheceremos melhor a promulgação da Lei e o seu contexto.
UNIDADE 6
Nesta unidade estudaremos o processo de partilha da África no contexto do 
imperialismo das potências europeias industriais em finais do século XIX, bem como 
a consequente descolonização que acarretou na formação dos países atuais.
C
O
N
FI
R
A
 N
O
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IV
R
O
8
IMAGENS DA ÁFRICA UNIDADE
01
9
1.1 INTRODUÇÃO
 África: “berço da humanidade”? Uma das teorias científicas mais aceitas sobre 
o surgimento da espécie humana remonta a este vasto continente. Foi nele que se 
encontraram os primeiros vestígios dos ancestrais mais longínquos, os Australopithecus, 
e, provavelmente, foi nele que a espécie de desenvolveu até chegar ao homem moderno, 
o Homo Sapiens. Foi da África que ele partiu em direção à Europa e Ásia chegando, 
posteriormente, à América e Oceania. Também foi lá que grandes civilizações se 
desenvolveram e deram suas contribuições para as sociedades posteriores. Foi desse 
continente também que saíram diversos homens, mulheres e crianças que tiveram sua 
força de trabalho explorada em diversos lugares do mundo. Foram dessas histórias e 
culturas que se formaram tantas outras histórias e culturas no Brasil e no mundo. Contudo, 
o interesse por toda essa diversidade é algo recente na historiografia mundial. Nesta 
unidade, portanto, vamos começar a conhecer essa(s) África(s), seus contornos geográficos 
e étnicos, para então, adentrarmos suas histórias e historiografia
1.2 UM BREVE PANORAMA GEOGRAFICO E A DIVERSIDADE DE 
POVOS E CULTURAS
 Alguns autores frequentemente dividem o continente africano tomando por 
base o deserto do Saara (segundo maior deserto do mundo) localizado ao norte do 
continente: África do Norte, também chamada de “África Branca” (países da África ao 
norte do Saara como Egito, Marrocos, Líbia, Argélia e outros, cuja religião principal é o Islã), 
e África Subsaariana, também conhecida como a “África Negra” (os 44 países ao sul do 
Saara como Sudão, Senegal, Etiópia, Angola, Namíbia, Uganda, Moçambique, República 
Democrática do Congo, Serra Leoa, África do Sul, Botsuana, e diversos outros). Contudo, 
esta divisão geopolítica muitas vezes é resultado de uma postura racista e ideológica sobre 
o continente, que busca fazer uma distinção entre uma África “civilizada” (a África do Norte 
ligada ao Mediterrâneo) e a África “bárbara” (África ao sul do Saara). Além disso, ela acaba 
por unificar regiões que possuem histórias, culturas, religiosidades diversas. Apesar dessas 
denominações serem questionadas por vários estudiosos, ainda é possível encontrá-las 
em estudos que buscam classificar os povos africanos.
 Assim sendo, para se compreender o continente africano de maneira geral é 
importante questionar estas classificações e repensar o continente dentro da sua 
diversidade histórico-cultural. A África é o terceiro maior continente com cerca de 30 
milhões de quilômetros quadrados, mas em termos de população, é o segundo maior 
(perdendo somente para a Ásia). Ela é cercada pelos oceanos Atlântico (oeste), Índico 
(leste), além dos mares Mediterrâneo (norte) e vermelho (nordeste). Quanto à vegetação, 
na sua porção equatorial, predomina-se a floresta.
10
Conforme vai se aproximando das regiões mais secas, a floresta vai dando lugar às savanas 
(tipo de vegetação mais abundante no continente) até chegar ao deserto do Saara, que é 
um dos maiores do mundo. Há ainda o Sahel, uma faixa de 5400 km de extensão, entre 
o deserto do Saara ao norte e a savana do Sudão ao sul que é de transição entre as terras 
áridas do Saara e as terras férteis da savana sudanesa.
 Em termos étnicos, o continente é extremamente heterogêneo, sendo muito difícil 
fazer uma contagem oficial da população desses grupos. No mapa a seguir, tem-se a divisão 
do território africano a partir das diferentes etnias, demonstrando suas complexidades e 
variedades. 
ETNIA: apesar de muitos utilizarem etnia como sinômino de raça, tal relação não é correta. 
Raça é um termo não científico que somente pode ter significado biológico quando o ser 
apresenta características homogêneas. Como o ser humano não se inclui nesse sentido, o 
termo etnia é melhor empregado e constrói uma identidade entre os indivíduos baseada em 
parentesco, línguas e outros. Vale ressaltar, contudo, que o termoé criticado por apresentar 
uma unidade social a realidades tão diversas quanto as africanas pré-coloniais.
GLOSSÁRIO
 Em termos linguísticos, a África também impressiona com 54 países e atualmente 
possui mais de mil línguas faladas. Algumas dessas línguas, como o hauçá, são faladas por 
milhões de pessoas, outras por poucos milhares. Além disso, mesmo que em uma área 
grande predomine um determinado idioma, pode haver pequenas regiões com outros 
idiomas. Assim, povos vizinhos podem se expressar por línguas inteiramente diferentes.
BUSQUE POR MAIS
 “As etnias procedem apenas da ação do colonizador que, em sua vontade de territorializar 
o continente africano, recortou entidades étnicas que acabaram sendo reapropriadas pelas 
populações” (AMSELLE; M’BOKOLO, 2017, p. 30). Para melhor entender tal crítica, leia o livro or-
ganizado por Elikia M’Bokolo e Jean-Loup Amselle, No Centro da Etnia, disponível em: https://
bit.ly/39ezhJg 
 https://bit.ly/39ezhJg 
 https://bit.ly/39ezhJg 
11
 Como se pode perceber, não é fácil, portanto, fazer um agrupamento dos países 
africanos em conjuntos que apresentem alguma homogeneidade, mas é comum, para 
facilitar os estudos, a divisão do continente em cinco regiões principais:
• Norte da África: é a maior em extensão territorial e compreende os países do Maghreb 
(região noroeste da África que inclui o Marrocos, a Argélia, a Tunísia e a Líbia), do Saara e 
do Vale do Rio Nilo.
• África Ocidental: está localizada entre o deserto do Saara e o golfo da Guiné e abrange 
17 países, entre eles: Nigéria, Costa do Marfim, Senegal, Serra Leoa, Guiné-Bissau, Guiné 
Equatorial, Gana, Guiné, Libéria, Mali, Gabão, Gâmbia, Cabo Verde, Camarões, Benim, Togo, 
entre outros.
• África Central: os países dessa região central são: República Centro-Africana, República 
do Congo, República Democrática do Congo e Chade.
• África Oriental: região que vai da bacia hidrográfica do Congo até o Mar Vermelho e 
Oceano Índico. Os países incluídos nessa região são: Eritreia, Etiópia, Djibuti, Somália, 
Quênia, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Burundi e Seicheles.
• África Meridional: região mais austral do continente que inclui: Angola, Bostwana, Lesoto, 
Madagascar, Malawi, Zâmbia, África do Sul, Moçambique, entre outros.
1.3 IMAGEM DA ÁFRICA E DOS AFRICANOS NA ANTIGUIDADE E 
ENTRE OS ÁRABES
 Depois de estudarmos a variedade étnico-cultural africana e um pouco da sua divisão 
geográfica, analisaremos as imagens que se construíram sobre a África ao sul do Saara ao 
longo da história e que, muitas vezes, ignoraram toda esta diversidade. Lembrando que 
as representações acerca da África e seus habitantes não foram homogêneas e também 
não foram compartilhadas por todos de maneira igual. Tais imagens espelham apenas as 
diversas visões acerca do continente que surgiram ao longo dos séculos, e que, de uma 
forma ou de outra, construíram a ideia de África.
 Para analisar tais imagens podemos retornar até a Antiguidade Clássica. Gregos e 
romanos já revelavam a existência de territórios africanos fora do mare nostrum, compondo 
juntamente com a Ásia e a Europa o chamado ecúmeno (mundo conhecido). Vindos e/ou 
trazidos Nilo abaixo, não seria impossível encontrar um habitante da África subsaariana 
a andar pelas ruas do Império Romano. Contudo, nada ou quase nada se saberia sobre 
suas terras e suas culturas. De acordo com o filólogo congolês Valentin Mudimbe, a parte 
conhecida da África estaria dividia em: Lybia, Egito e Aethiopia. A Lybia seria a região a 
oeste do Egito e a Aethiopia corresponderia à região ao sul do Egito (MUDIMBE, 1998. p. 26). 
12
 A falta de conhecimento, por sua vez, cedeu lugar ao fantástico. Nas obras de autores 
antigos não havia dúvidas, por exemplo, da veracidade da informação acerca de homens 
que se transformavam em leões e homens com rabo e cabeça de cachorro habitando as 
quentes terras ao sul do Saara. Plínio (23-79), o Velho, um naturalista romano, escreveu:
O imperador romano Nero (37-68) enviou uma expedição 
à Núbia, em busca das fontes do Nilo. No regresso, os ex-
ploradores contaram que a relva na vizinhança de Meroé 
se apresentava mais verde e mais fresca, que ali havia 
pequenas matas e sinais de rinocerontes e elefantes […]. 
Não é de estranhar que, na extremidade meridional da 
região, os homens e animais assumam formas monstru-
osas, dado o poder transformador do fogo, cujo calor é o 
que molda os corpos (PLÍNIO, 2012. p. 26-27).
 A ideia do calor intenso da região, enfatizada pelo romano, está expressa, inclusive, 
no próprio termo África, que de acordo com o historiador burquinene Joseph Ki-Zerbo teria 
o sentido de “ensolarada”, do latim Aprica, e “isento de frio”, do grego Apriké (KI-ZERBO, 
1982. p. 21). Obras de pensadores da Antiguidade e mesmo no medievo europeu vão, dessa 
forma, enfatizar o calor intenso e insuportável, cujas influências do clima poderiam ser 
observadas nas características físicas, como se observa na escrita de Plínio.
 Vale ressaltar ainda, que havia na Grécia e na Roma antigas quem tivesse uma visão 
positiva dos homens da zona tórrida, e que já afirmam que a humanidade teria lá surgido, 
vide a descrição do grego Deodoro da Sícila (Diodorus Siculus, 80-20 a.C.):
Os etíopes, como afirmam os historiadores, foram os pri-
meiros de todos os homens, e as provas disso são eviden-
tes. Praticamente todos concordam em que eles não che-
garam como imigrantes às terras que ocupam, mas delas 
eram nativos e, por essa razão, ostentam com justiça o 
título de “autóctones”. Além disso, é claro para todos que 
aqueles que vivem sob o sol do meio-dia foram, com toda 
a probabilidade, os primeiros a serem gerados pela terra, 
uma vez que se deve ao calor do sol, no surgimento do 
universo, o tê-la enxugado, quando ainda estava úmida, e 
a impregnado de vida (Cf. SILVA., 2012. p. 20).
 Contudo, somente com os árabes é que a África subsaariana passou a ser descrita 
por pessoas que a haviam visitado. Ibn Battuta (1304-1357) é um importante viajante árabe. 
Natural do Tânger, chegou a visitar o Oriente Médio, a África Índica e Ocidental, o Ceilão, a 
Índia e, possivelmente, a China. A respeito do Malineses, ele teria escrito:
13
 
 Na citação acima de Ibn Battuta é possível observar uma descrição que buscava 
dar conta do observado por eles próprios, sobressaindo, de alguma forma, juízos de valor 
ao comparar elementos da cultura do povo observado com a própria cultura – como se 
observa no caso da utilização da vestimenta. Como para a cultura de Battuta a utilização de 
vestimenta era importante e desejável, o fato do outro povo não a utilizar seria reprovável. 
Vale ressaltar, contudo, que apesar das descrições se basearem no observado, não cessaria 
a tentação do fantástico. Ibn Kaldhun (1332-1406), por exemplo, um historiador muçulmano 
teria escrito: “Mais para o sul não há civilização propriamente dita. Os homens que ali 
vivem assemelham-se mais aos animais do que aos seres pensantes. Vivem na mata e em 
cavernas e se alimentam de ervas e grãos crus.” (SILVA, 2012. p. 59).
1.4 A ÁFRICA E OS AFRICANOS DESCRITOS PELOS OCIDENTAIS
 No período medieval, a explicação cristã do mundo dominava as esferas do 
conhecimento. A Bíblia era, portanto, a principal fonte para o conhecimento do mundo real. 
Este, por sua vez, estava dividido em apenas três partes: África, Europa e Ásia. Lembrando 
que a América e Oceania só fariam parte do imaginário europeu posteriormente, no século 
XV, quando se inicia a expansão ultramarina.
 Tendo em vista a divisão bíblica do mundo pós-dilúvio aos três filhos de Noé, os 
medievais estabelecem a seguinte ordem: Sem teria povoado a Ásia, Jafet teria ido para 
a Europa e Cam ficaria com a África. Ora, de acordo com a Bíblia, Cam teria sido o filho 
amaldiçoado de Noé à eterna servidão. Vejamos melhor sobre isso.
 De acordo com o Gênesis, Cam, o filho mais novo de Noé, teria flagrado e profanado a 
nudez e embriaguez de seu pai. Como punição, seus irmãos, Sem e Jafet, teriam amaldiçoado 
osdescendentes de Cam à servidão eterna. Apesar de nenhuma relação estabelecida à cor 
da pele dos descendentes camitas no texto bíblico, no imaginário medieval, os responsáveis 
para o povoamento da África teriam sido, no período pós-dilúvio, os descendentes de 
Cam. Os efeitos interpretativos da sentença foram elementos importantes na percepção 
europeia acerca do africano associando-o a imagens nocivas e negativas.
• Entre as boas qualidades destaca-se que, entre eles, 
é rara a injustiça. Trata-se da gente que menos a pra-
tica; e o sultão não perdoa o menor deslize nessa di-
reção. É total a segurança no território do Mali, de tal 
modo que nem os locais nem os viajantes têm o que 
temer de ladrões e salteadores. [...] 
• Entre os atos reprováveis, destaco o andarem nuas 
em público, com as vergonhas descobertas, as servas, 
as escravas e as mocinhas (SILVA, 2012. p.55-56).
14
 No século XV, os portugueses ultrapassaram o Cabo Bojador em direção às terras 
africanas ao sul do deserto do Saara, chegando à região denominada pelos europeus 
Guiné.
Você já parou para refletir acerca desses preconceitos relativos ao continente africano e como 
eles circulam também no imaginário da sociedade brasileira? O que você conhece acerca da 
África e dos seus habitantes?
VAMOS PENSAR?
Guiné era um termo genérico utilizado para denominar toda a região ao sul do deserto do 
Saara que se ia conhecendo. Guinéus (homens de cor negra) era a forma que os europeus se 
referiam aos diversos grupos étnicos existentes na costa ocidental africana. A mesma região 
era chamada pelos árabes de Bilad es-Sudam (País dos Negros).
FIQUE ATENTO
 No processo de expansão, muitos relataram e descreveram o que viram com o intuito, 
muitas vezes, de informar acerca das marés, dos ventos, do abastecimento e diversos 
outras informações técnicas. Entretanto, os europeus não descuidavam de descrever os 
habitantes locais: como eram suas vestimentas, suas comidas, bebidas, casas, aldeias. Na 
maior parte das narrativas, conforme ressalta o historiador e diplomata africanista Alberto 
da Costa e Silva, não se observa qualquer esforço para compreender os habitantes locais. 
Muitas vezes, eles eram descritos como preguiçosos, volúveis, estúpidos, supersticiosos, 
mentirosos, luxuriosos ladrões e violentos. Além disso, observa-se também tentativas de 
tradução do desconhecido utilizando-se de elementos que dizem mais sobre a cultura 
europeia do que da cultura observada de maneira a inferiorizar a outra cultura. Os africanos 
foram considerados preguiçosos baseado em qual noção de trabalho e ócio, por exemplo? 
 Nesse sentido, a África vai aparecendo cada vez mais como um continente imperfeito 
e perverso, que a Europa tinha o dever de levar a civilização. Veja-se na seguinte citação do 
cronista real português Gomes Eanes Zurara: “ca eles não sabiam o que era pão e vinho, 
nem cobertura de pano, nem alojamento de casa e o que pior era, a grande ignorância 
que em eles havia, pela qual não havia algum conhecimento de bem, somente viver em 
uma ociosidade bestial” (ZURARA, 1989 p. 99). Ou ainda nas palavras do viajante português 
Duarte Pacheco Pereira:
15
• Jean-Batist Debret (1768-1848) foi um importante artista francês que integrou a Missão 
Artística Francesa em 1818, que fundou no Rio de Janeiro uma academia de Artes e Ofícios 
(mais tarde se tornaria Academia Imperial de Belas Artes) onde lecionou. Acerca do cotidiano 
da sociedade escravocrata carioca, deixou-nos diversas pinturas. Para conhecer mais, leia o 
artigo: https://bit.ly/2Bm5CBu 
• Para conhecer mais sobre a diversidade linguística africana (que, inclusive, influenciou 
o português falado no Brasil) acesse: https://bit.ly/2OFlz8W
• No artigo “A África Antiga sob a ótica dos clássicos gregos e o viés africanistas”, Maria 
Regina Cândia faz uma análise comparativa entre a cultura helênica e a dos negros africa-
nos cotejando informações acerca do continente no período: https://bit.ly/30DNko2
• Análise sobre a representação das colônias portuguesas na África a partir do cinema 
português: https://bit.ly/32LXyoG
BUSQUE POR MAIS
Esta gente é viciosa, de pouca paz uns com os outros, e são 
muito grandes ladrões e mentirosos, que nunca falam a verda-
de, e são muito grandes ladrões e mentirosos, e grandes bêba-
dos e muito ingratos, que bem que lhe façam não agradem, e 
muito desavergonhados que não deixam de pedir. (PEREIRA, 
1954. p. 74).
 Com a expansão do tráfico de escravos, por sua vez, aumentou-se o número 
de europeus que visitavam as cortes africanas deixando relatos. Tais obras acabavam 
reforçando os que defendiam a manutenção do tráfico ou mesmo justificando-o a partir 
dos estereótipos que sobre a África e os africanos se acumularam ao longo dos séculos. 
Novamente retornamos ao mito camítico, lembra-se qual era a maldição rogada aos 
descendentes de Cam? 
 Com a escravidão moderna que se verificou a partir do século XV, os grupos africanos 
passaram a ser transformados em mercadorias. As representações iconográficas acerca 
da escravidão evidenciam o tratamento desumano sofrido pelos africanos ao serem 
transportados até o litoral e nos navios negreiros, onde eram amontoados para irem até a 
América serem explorados, o que ficou conhecido como diáspora africana.
 Nas Américas, as imagens que circulavam (seja no cotidiano entre as pessoas ou 
mesmo na iconografia da época como nos trabalhos de Jean Baptista Debret) buscaram 
reforçar a ideia de que os escravizados se reduziam, conforme ressalta Anderson Oliva, 
ao binômio trabalho braçal/castigo corporal. Também, relacionado ao tráfico de escravos, 
ocorria um processo de redefinição das identidades africanas pensadas a partir da América. 
Consequência disso: passava-se a ideia de que escravizados faziam parte de um grupo 
relativamente homogêneo (Cf. Oliva, Anderson, 2019. p.19).
 Enfim, a África e os africanos, ao longo da história receberam diversas representações 
em contextos distintos. O esforço de síntese aqui estabelecido é apenas uma parte de toda 
uma variedade muito mais espelhada e imprecisa. Contudo, nos ajuda a compreender um 
pouco das relações estabelecidas entre as sociedades e como essas relações contribuíram 
de alguma forma para as ideias de África.
 https://bit.ly/2Bm5CBu 
https://bit.ly/2OFlz8W
https://bit.ly/30DNko2
https://bit.ly/32LXyoG
16
1. (IFB 2017- professor - adaptada) 
Os conceitos de grupo étnico e de etnicidade têm sido utilizados, conforme Antônio Lima e 
Sérgio Castilho (2010), como chaves conceituais para ultrapassar a visão simplista do senso 
comum que considera manipulação, e fruto de interesses espúrios, tudo o que não caia 
nos lugares comuns sobre índios, negros e ciganos, por exemplo.
Sobre estes conceitos, julgue os itens abaixo.
I) A noção de etnicidade é a chave explicativa que nos sinaliza para os complexos processos 
de diferenciação biológ`icos, pelos quais uma coletividade se diferencia de outras 
coletividades.
II) Etnicidade designa o sentimento de ser portador de atributos distintivos face aos 
integrantes de outros grupos, sendo estes atributos considerados os mais importantes 
pelos indivíduos que pertencem a um dado grupo.
III) A etnicidade, como marcador de diferença, é um fenômeno de ordem essencialmente 
biológica 
IV) A etnicidade é especialmente atrelada a componentes de ordem cultural. 
a) I e II.
b) II e IV.
c) I, III, IV.
d) III e IV.
e) I, II, III e IV.
2. “Em função do pressuposto de que os grupos étnicos chegados às Américas em 
condição de cativeiro têm à sua frente uma infinidade de possibilidades de reorganização, 
e não aquelas previamente definidas em suas sociedades tribais […]. Nos grupos de 
procedência são valorizados critérios como portos de embarque, ao lado de alguns 
componentes culturais como, por exemplo, a língua. Mas mesmo os componentes culturais 
adotados não são, necessariamente, étnicos”. (Soares,s/d p. 116).
A respeito da identidade étnica dos escravizados, a historiadora Mariza Soares ressalta que,ao desembarcarem na América:
a) as etnias africanas eram redefinidas, ignorando as identidades de origem.
b) garantia-se a fidelidade da região de origem dos africanos.
c) as etnias africanas se readaptavam facilmente na América.
d) não era negado às etnias africanas sua própria identidade.
e) era respeitado as religiões e culturas de origem africana.
FIXANDO O CONTEÚDO
17
3. Também há aqui homens selvagens, a que os Antigos chamaram Sátiros, e são todos 
cobertos de um cabelo ou seda quase tão ásperas como de porco; e estes parecem criatura 
humana e usam o coito com suas mulheres como nós usamos com as nossas; e em vez de 
falarem, gritam quando lhe fazem mal [...] Tôdolos negros desta terra andam nus [...] Nesta 
serra não já edifícios, e moram em casas palhaças”. (Pereira, D. P., Esmeraldo de Situ Orbis, 
p. 118.).
A respeito da descrição do português Duarte Pacheco Pereira de uma região da África 
Ocidental, no século XVI, pode-se afirmar que:
a) o português reproduziu informações observadas pela sua própria experiência.
b) não se tem como questionar a veracidade da informação.
c) o português era um grande conhecedor da cultura da antiguidade clássica.
d) provavelmente, o português contou o que ouviu e não o que observou.
e) a descrição constrói uma imagem que diz muito sobre a própria cultura e crença do 
observador.
4. De acordo com o estudado na unidade acerca das divisões geográficas do continente 
africano, marque (V)erdadeiro ou (F) para as seguintes afirmações:
( ) A África subsaariana é comporta por países como Marrocos, Líbia, Tunísia e Egito.
( ) A África do Norte possui boa parte de seus países banhados pelo Mediterrâneo e são 
muçulmanos na grande maioria.
( ) O Saara, o mais extenso deserto do planeta extende-se do Oceano Atlântico ao Índico e 
compõe a maior região da África Central.
( ) A distinção estabelecida entre África Branca e África Negra é resultado de uma postura 
racista que divide o continente em uma África “civilizada” (a África do Norte ligada ao 
Mediterrâneo) e a África “bárbara” (África ao sul do Saara).
a) F V F F
b) V V F V
c) F V F V
d) F F V V
e) V F V F
5. (FURB/professor-adaptada) 
O continente africano é composto por uma grande quantidade de países, no entanto, a 
divisão da África não ocorre somente entre nações. A África está dividida ou regionalizada 
conforme a cultura, ou melhor, com a religião praticada em diferentes pontos do continente. 
Dividiu-se regionalmente o continente em duas áfricas. Essas regiões foram chamadas de 
“África Branca” e “África Negra”.
 
Acerca dessa divisão é possível afirmar que:
a) Busca aproximar países com uma mesma geo-política.
b) Leva em consideração apenas a diversidade linguística dos países africanos.
c) Unifica regiões que possuem uma grande diversidade étnica em torno de uma visão 
racista da África.
18
d) É sensível à realidade cultural e regional africana.
e) Seleciona diversos critérios para sua elaboração, tais como etnia, política e economia.
19
ÁFRICA, UM CONTINENTE COM 
HISTÓRIA 
UNIDADE
02
20
 2.1 INTRODUÇÃO
 Nesta unidade vamos concentrar os estudos na historiografia acerca da África e na 
africana propriamente dita. Nesse sentido, estudaremos a trajetória dos estudos acerca 
da história desse continente iniciando pelas visões eurocêntricas, que divulgavam a África 
como um continente cuja história se resumia à presença europeia. Passaremos pelas 
primeiras iniciativas africanas que se esforçaram para construir uma história para África 
feita pelos próprios africanos, ressaltando a importância da coletânea História Geral da 
África organizada por importantes nomes como Joseph Ki-Zerbo e Cheikh Anta Diop. Por 
fim, conheceremos os esforços mais contemporâneos de análise da história da África pela 
ótica africana e estrangeira.
EUROCENTRISMO: é uma visão de mundo que tende a colocar a Europa (cultura, política, 
língua e outras características) como o centro do mundo. Ou seja, os elementos culturais eu-
ropeus são tidos como referência no contexto de composição de toda a sociedade moderna.
ETNOCENTRISMO: conceito muito utilizado nos estudos antropológicos, é a tendência de ob-
servar o mundo pela ótica particular de um povo, uma cultura considerando-a superior às 
demais.
GLOSSÁRIO
 2.2 CONTINENTE A-HISTÓRICO?
 A costa da Guiné, como visto na unidade 1, foi a primeira região da África tropical 
acessada pelos portugueses. Ela foi tema de toda uma série de obras a partir do século XV, 
como de Luís de Cadamosto, Duarte Pacheco Pereira, Gomes Eanes Zurara, entre diversos 
outros autores de narrativas de viagens. Esse material é de grande importância uma vez 
que nos fornece testemunhos dessas diversas realidades. Contudo, há de se ressaltar que 
o objetivo principal de grande parte desse material era descrever a experiência de um 
ponto de vista. Muitos não se preocupavam, por exemplo, em entender a realidade que 
observavam como já estudamos no capítulo anterior.
 As outras regiões despertaram o interesse dos europeus na sequência. Obras 
históricas sobre a Etiópia foram elaboradas por missionários como Manoel Almeida (1569-
1646). Angola, por sua vez, foi tema do grande Guerras Angolanas de Antônio de Oliveira 
Cadornega (1623-1690).
21
 No século XVIII, por sua vez, começam a aparecer ensaios monográficos sobre a 
África e não mais apenas descrições de viagens e de experiências. Contudo, foi também 
nessa época que as histórias não-europeias foram cada vez mais discriminadas nos meios 
acadêmicos. Baseando-se, tal como analisa o africanista John Fage, no que era considerado 
uma herança greco-romana única, os acadêmicos da Europa consideraram que os europeus 
formavam a civilização que deveria prevalecer sobre as demais. Consequentemente, a 
história europeia seria a chave de todo conhecimento enquanto as outras civilizações eram 
consideradas a-históricas (ou seja, sem história). 
 O filósofo Friedrich Hegel (1770-1831), como porta-voz do pensamento hegemônico 
de sua época, na Filosofia da História Universal escrevera:
A África propriamente dita é a parte característica deste continente. 
Começamos pela consideração deste continente, porque em seguida 
podemos deixá-lo de lado, por assim dizer. Não tem interesse históri-
co próprio, senão o de que os homens vivem ali na barbárie e na sel-
vageria, sem fornecer nenhum elemento à civilização. Por mais que 
retrocedamos na história, acharemos que a África está sempre fecha-
da no contato com o resto do mundo, é um Eldorado recolhido em 
si mesmo, é o país criança, envolvido na escuridão da noite, aquém 
da luz da história consciente […]. Nesta parte principal da África, não 
pode haver história (HEGEL, 1928, p. 187).
 No seu livro, Hegel faz uma distinção entre três Áfricas, a setentrional ligada ao 
Mediterrâneo que mais pertenceria à Espanha do que à própria África; a Meridional, que 
contém o Egito e a África propriamente dita que fica ao sul do Saara e sobre a qual faz 
as considerações acima. À luz dessa exposição geral de Hegel é possível perceber que o 
filósofo confere à África um estado de selvageria, no qual não se produz cultura e nem 
história. Aos africanos, ele confere um estado bestial , ou seja, não possuiria os critérios 
“racionais” de civilização e, portanto, não teriam história e nem cultura.
 Posição semelhante podemos ver também no seguinte trecho do professor da 
Universidade de Oxford Hugh Trevor-Hoper: 
Pode ser que, no futuro, haja uma história da África para ser ensinada. 
No presente, porém, ela não existe; o que existe é a história dos euro-
peus na África. O resto são trevas [...], e as trevas não constituem tema 
de história [...] divertirmo-nos com o movimento sem interesse de tri-
bos bárbaras nos confins pitorescos do mundo, mas que não exer-
cem nenhuma influência em outras regiões (TREVO-HOPER apud 
FAGE,1980. p. 49).
22
 Trevor-Hoper, assim como Hegel, enfatiza a aistoricidade do continente africano 
ressaltando que a única parte histórica da África existiria a partirda chegada dos europeus. 
Tudo envolvendo os povos nativos seria, dessa forma, trevas e não constituiria tema de 
história. Muitos explicavam, dessa forma, que as origens de importantes arquiteturas e 
técnicas estatutárias africanas seriam frutos de interferências de outras civilizações e não 
criação africana (OLIVA, 2004).
 O “racismo científico” do século XIX tornou-se também uma ideologia estratégica 
para dominação do continente africano. A pigmentação da pele passou a ser utilizada 
como algo determinante nas relações de dominação, nos quais caberia aos arianos (os 
considerados “verdadeiros brancos”), o papel de senhores dos demais continentes. 
 A pigmentação da pele, nesse sentido, passou a ser utilizada como algo determinante 
nas relações de dominação. Assim, interesses políticos e econômicos nas terras africanas 
justificavam-se por teorias racistas pretensamente científicas. Sobre o assunto, escreveu 
Antônio Olimpio Sant’Ana:
RACISMO CIENTÍFICO: No século XIX, as teorias raciais ganharam status científico e, por meio 
do conceito de raça, os europeus passaram a classificar a humanidade, fazendo uso de ta-
xionomias. O racismo científico propagava a ideia de que a humanidade estava dividida em 
raças com hierarquias biológicas, na qual os brancos ocupariam a posição superior. Nesse 
sentido, passou-se a estudar as ditas raças humanas medindo o formato da caixa craniana, 
por exemplo, e depois baseou-se no estudo dos genes e da hereditariedade
GLOSSÁRIO
Em 1835, Arthur de Gobineau produziu um conhecido tratado 
denominado Ensaios sobre a Desigualdade das Raças Huma-
nas: Raças Branca, Amarela e Negra. O que caracterizava o 
seu ensaio era a divisão que fazia da raça branca. Esta, se-
gundo Gobineau, tinha três subgrupos: os arianos, que são 
os verdadeiros brancos criadores da civilização, os albinos, 
de origem mongólica, e os mediterrâneos, de origem africa-
na. Sustentava que se o poder permanecesse nas mãos dos 
albinos e mediterrâneos, a humanidade voltaria à barbárie. 
Gobineau desejava provar com o seu ensaio que a nobreza 
europeia era ariana, descendente dos nórdicos (SANT’ANA, 
2005. p. 47).
23
2.3 REINVENTANDO A SUA PRÓPRIA HITÓRIA
 Além disso, no período em questão, a fragmentação política resultado dos processos 
de independência dos países africanos, forçou a construção de histórias e identidades 
nacionais. Nesse contexto, entre os primeiros pensares da África pós- independência, 
estariam ideologias que defendiam e estabeleciam uma nova identidade africana: o pan-
africanismo e a negritude.
 Dessa forma, Gobineau, grande representante do racismo científico, defenderia que 
aos arianos caberia o papel de civilizar aqueles que estavam em estado de inferioridade, 
justificando assim, as ações imperialistas europeias em solo africano, por exemplo.
Já parou para refletir nas consequências de pensar numa única história da África? Qual foi 
o papel do discurso preconceituoso e simplista para a construção do imaginário acerca da 
África e dos africanos? Assista o vídeo da escritora nigeriana Chimamanda Adichie para o 
TEDtalks e reflita sobre: https://bit.ly/2BjmNn7
VAMOS PENSAR?
 Na contra-mão do eurocentrismo ocorreram mudanças significativas nos estudos 
acerca da África. Entre os anos de 1940 e 1980, influenciada pela criação de centros de 
estudos e universidades em países africanos, a historiografia africana inverte o papel 
concedido à África na história da humanidade. As investigações deveriam, assim, enfatizar 
a África em sua própria trajetória:
As histórias dos reinos e civilizações africanas foram utilizadas 
como exemplo da capacidade de organização, transformação e 
produção africanas, que em nada ficavam a dever para os padrões 
europeus. Além disso, os vestígios materiais deixados do passado 
– técnicas de cultivo, padrões de estética da arte estatuária, ruínas 
dos mais diversos matizes – foram usados para evidenciar as qua-
lidades do continente (OLIVA, 2004. p. 24).
PAN-AFRICANISMO
O pan-africanismo originou-se em oposição aos tráficos escravistas nas Américas, Ásia e Eu-
ropa. No seu início, o pan-africanismo (ainda não tinha esta denominação) era apenas uma 
reduzida manifestação de solidariedade, restrita às populações de ascendência africana. 
FIQUE ATENTO
https://bit.ly/2BjmNn7
24
Para saber mais, busque no link e leia : https://bit.ly/3jqtPYr
NEGRITUDE
A palavra négritude, em francês, deriva nègre, termo que, no início do século XX, tinha um 
caráter pejorativo, utilizado para desqualificar o negro. A intenção do movimento, nesse sen-
tido, foi inverter o sentido da palavra dando-lhe uma conotação positiva. O termo apareceu 
com esse nome em 1939, no poema do antilhano Aimé Césaire. Assim, na sua forma inicial, o 
movimento tinha um caráter cultural e negava a política de assimilação à cultural (que tinha 
como padrão a cultura branca). Passou-se a enaltecer e resgatar valores e símbolos culturais 
de matriz africana. Negritude é, enfim, um termo com vários significados, podendo significar: 
. o fato de pertencer à raça negra; 
. à própria raça como coletividade; 
. à consciência e à reivindicação do homem negro civilizado; 
. à característica de um estilo literário;
. ao conjunto de valores da civilização africana. 
BUSQUE POR MAIS
 Para compreender melhor esse conceito e sua história, leia o livro de Kabengele Munanga 
disponível em: https://bit.ly/30BcJPb
 Dois grandes expoentes desta geração foram Jospeh Ki-Zerbo, de Burkina Faso, e o 
literato senegalês Cheikh Anta Diop. Para o movimento iniciado por eles, a África deveria 
focar-se em sua própria trajetória. Ki-Zerbo, no contexto, escreveu um dos primeiros 
trabalhos individuais contemporâneos sobre a África subsaariana – História da África Negra 
– e ambos foram responsáveis por organizar e publicar a grande coleção História Geral da 
África, editada pela Unesco a partir de trabalhos discutidos em seminários, na década de 
1960. A coletânea possui oito volumes escritos por mais de trezentos estudiosos. 
 Cheik Anta Diop, por sua vez, ficou conhecido por ter sido o criador do afrocentrismo, 
movimento que se concentrava no objetivo de defender a africanidade do Egito Faraônico, 
contrariando a argumentação comum de que a civilização egípcia afigurava-se componente 
da cultura branca. Ele apoiava essa tese para demonstrar que a grande civilização sobre a 
qual os gregos e outros se apoiaram era uma civilização negra, portanto, a origem de indo-
europeus era africana.
 Vale ressaltar, entretanto, que apesar desses esforços, muitos autores afirmaram 
que esta vertente acabou revelando erros anteriormente cometidos, o principal: enaltecer 
desproporcionalmente as características histórico-culturais da África utilizando-se, agora, 
do afrocentrismo como contraposição do eurocentrismo. Dessa forma, os trabalhos 
pioneiros dos nacionalistas foram importantes na medida em que iniciaram esforços para 
a construção de uma história para a África que se expandiu, inclusive, para outras partes do 
mundo, mas contavam com muitas críticas.
https://bit.ly/3jqtPYr
 https://bit.ly/30BcJPb
25
 Levando em consideração os esforços em se conhecer a África pela África, os anos 
de 1960 e 1970 viu surgir também uma busca pelo entendimento dos complexos quadros 
socioculturais, econômicos, e políticos que se desenvolveram nos países africanos no pós-
independência:
Percebe-se, portanto, que foi preciso chegar às décadas de 1960 e 
1970 para que ocorresse significativa expansão dos estudos e pes-
quisas realizadas no continente africano e fora dele. Na África, tal 
fato esteve relacionado à expansão das universidades, à maciça 
presença de professores africanos e europeus lecionando em suas 
salas de aula, à busca de identidades e à tentativa de encontrar so-
luções para os problemas que assolavam suas regiões. No mundo, 
possíveis causas explicativas para esse interesse seriam as aten-
ções que o continente despertava, fruto de suas especificidades, 
ou ainda de sua problemática históriarecente. Mais do que isso, os 
pressupostos e metodologias utilizadas nas investigações históri-
cas passaram a ser mais bem elaborados, chegando a um nível de 
sofisticação que, em alguns sentidos, superava ao resto da histo-
riografia mundial (OLIVA, 2004. p. 26).
 É nesse momento que surge também o primeiro jornal internacional especializado 
nos estudos da história africana, o Jounal of African History (Jornal da História Africana), o 
livro History of East African (História do Leste Africano), e os primeiros congressos sobre o 
estudo da história africana. De maneira geral, um tema recorrente do debate desse período 
foi a falta de fontes escritas para se realizar uma pesquisa histórica acerca do continente, 
que ficava restrita à utilização das fontes de tradição oral dos povos africanos e mesmo 
arqueológicas. Lembrando que boa parte das fontes escritas acerca da África foi feita 
por estrangeiros (conforme analisado na unidade I), já que a maioria dos grupos étnicos 
africanos eram ágrafos. Para contornar, a história da África passou a ser cada vez mais 
associada a outras disciplinas e ciências: arqueologia, cartografia, antropologia, linguística. 
 Nos anos de 1980, por sua vez, passada a euforia das histórias nacionalistas da 
África pós-independência, uma nova “escola” de historiadores africanos e africanistas se 
forma. Apesar de também envolvidos com as preocupações de seus colegas anteriores, 
procuraram integrar os estudos sobre o continente à historiografia mundial. Vejamos mais 
sobre isso.
2.4 NOVOS ESTUDOS AFRICANOS
 Já no despontar da década de 1970, novas fontes escritas ressurgiram nos estudos 
acerca da África. Arquivos da presença europeia na África e fontes árabes facilitavam a 
pesquisa sobre determinados sistemas vigentes na história africana. Houve, vale ressaltar, 
a sofisticação das metodologias aplicadas ao uso da história oral como fonte para a 
pesquisa em história, bem como uma maior aproximação com outras áreas de pesquisa 
como antropologia, arqueologia e linguística. Em decorrência disso, verificou-se uma 
diversificação das temáticas de pesquisa: epidemias, imaginário, cotidiano e outros:
O fato é que as pesquisas realizadas por africanos e africanistas têm 
procurado desvendar e explicar o continente pelas óticas sempre 
diversificadas das reflexões históricas. Estudos sobre o passado re-
moto ou recente das regiões e do processo de formação da África 
atual, o entendimento da diversidade de suas culturas e povos, as 
26
 Outra novidade dessa geração de investigadores foi a iniciativa de inserir a África em 
um contexto maior do que a própria África, o chamado: “mundo atlântico”. A partir dessa 
ótica, os povos e culturas africanas são analisados em uma perspectiva que os vincula a 
diversos outros mundos. Ou seja, os povos africanos saíram do isolamento cultural ao qual 
estiveram renegados até então. Além disso, tal como aconteceu nos estudos acerca da 
América, os países que certa vez foram colônias deixaram de ser analisados a partir de um 
ponto de vista periférico em relação à sua metrópole. Assim, África e América começaram 
a ser analisadas por elas mesmas e com histórias que antecedem, inclusive, a chegada dos 
europeus. A partir dessa perspectiva, os africanos são inseridos na história como agentes 
ativos e possuindo poder de negociação e imposição.
 Tratando-se, assim, desses avanços da historiografia acerca da África muitos 
especialistas se destacaram dentro do próprio continente como o congolês Valentin 
Mudimbe, o nigeriano Toyin Falola, entre diversos outros. Fora da África muitos estudos 
também avançaram, destacando nomes como Jan Vansina, John Thornton, Catherine 
Coquery-Vidrovitch, Paul Lovejoy entre outros.
 No Brasil, por sua vez, apesar das influências africanas na história e cultura brasileira, 
os estudos acerca da África, com algumas exceções, tornaram-se mais frequentes a partir 
da década de 1980. Antes, estudos pioneiros acerca da África enfocavam a experiência 
africana no Brasil como o caso do livro Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues, por uma 
ótica negativa da miscigenação racial verificada no país. Na contramão, Gilberto Freyre foi 
crucial para uma valorização da herança africana na cultura brasileira dando início a um 
debate acalorado acerca da polêmica ideia de “democracia racial”. 
 Depois de uma geração de historiadores engajados em desmontar a ideia de 
democracia racial, a escravidão se abre com pesquisas intensivas utilizando-se de fontes 
e perspectivas diversificadas inserindo, inclusive, os africanos como agentes ativos no 
comércio de escravizados. Entretanto, como se pode observar, o foco das abordagens 
centravam-se na presença africana no Brasil e nas pesquisas acerca do sistema escravista.
 Na década de 1960, criou-se o Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), da Universidade 
Federal da Bahia, com a Revista Afro-Ásia. Nesse centro de estudos, as reflexões sobre 
o afrodescendente intensificaram a ideia de sua importância para o entendimento do 
processo de construção da cultura brasileira. Em 1973, surgiu o Centro de Estudos Afro-
Asiáticos da Universidade Cândido Mendes e, em 1978, o centro de Estudos Africanos da 
Universidade de São Paulo, que foram responsáveis pelas revistas Estudos Afro-Asiáticos 
e África, respectivamente. Todos estes centros foram e são de grande importância para a 
divulgação dos trabalhos acerca da África e da presença africana no Brasil. 
 releituras sobre a colonização e os anseios sobre o desvendar das 
origens de tantos e complexos problemas a que submerge hoje o 
continente foram alvo de uma quantidade avassaladora de investi-
gações. Soma-se a isso a utilização das novas metodologias de pes-
quisa que tornaram a África, conjunta- mente aos outros elementos 
apontados, um fruto cobiçado por muitos (OLIVA, 2004. p. 28).
27
 Com a promulgação, em 2002, da Lei Federal 10.639, que tornou obrigatório o ensino 
de História da África e da cultura afro-brasileira na Educação Básica, a demanda foi ainda 
maior. Nas universidades, disciplinas, cursos de capacitação e pós-graduações passaram 
a ser ofertados diversificando e multiplicando os estudos acerca desse continente que 
histórica e culturalmente é tão importante para o Brasil. Na mesma demanda, diversos 
livros acerca do tema têm sido produzidos e traduzidos para o português, aumentando 
a abrangência de público. Além disso, os encontros anuais da Associação Nacional de 
História (ANPUH) já contam com um Grupo de Trabalho em História da África, que tem a 
participação de vários acadêmicos e pesquisadores africanistas como José Rivair Macedo, 
Thiago Mota, Regiane Augusto de Mattos, Vanicléia Santos, Cristina Wissenbach, Waldemir 
Zamparoni e diversos outros nomes importantes dos estudos de História da África no Brasil.
BUSQUE POR MAIS
• Para entender um pouco acerca da questão da democracia racial, assista ao vídeo da 
socióloga Lilia Schwarcz, A Ladainha da Democracia Racial: https://bit.ly/32EWeEf
• Para saber mais acerca da importante coleção História Geral da África leia o artigo da 
historiadora brasileira Mônica Lima, em que ela analisa os volumes da obra e o seu conteúdo: 
https://bit.ly/2CoMmUA
• Vídeo de encontro promovido pela Irmandade Azhari Bantú, que reuniu africanos que 
moram no Espírito Santo, discutindo o Pan-Africanismo: https://bit.ly/3g0XAND
• Vídeo sobre a importante liderança política e militante do movimento negro no Brasil: 
Abdias do Nascimento https://bit.ly/32BuQah
https://bit.ly/32EWeEf
https://bit.ly/2CoMmUA
https://bit.ly/3g0XAND
https://bit.ly/32BuQah
28
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Pode ser que, no futuro, haja uma história da África para ser ensinada. No presente, 
porém, ela não existe; o que existe é a história dos europeus na África. O resto são trevas 
[...]”. (Hugh Trevor-Hoper – renomado professor da Universidade de Oxford do século XX ).
No trecho acima, fica evidente a/o:
a) Americanização da África.
b) Africanidade do autor.
c) Etnicidade dos países africanos.d) Eurocentrismo do autor.
e) Identidade dos grupos étnicos africanos.
2. (ENADE) 
Gilberto Freire, no livro Casa-grande & Senzala, analisa aspectos das relações inter-raciais 
no Brasil. Considerando a maneira como esse autor desenvolve em sua análise o mito da 
harmonia entre as três raças que constituíram a nação brasileira, assinale a opção correta. 
a) Segundo esse autor, a miscigenação produziu uma sociedade singular nos trópicos, 
caracterizada principalmente pela convivência pacífica entre as raças.
b) A análise de Gilberto Freire está focada na ideia de dissidência entre as três raças, o 
que constitui o principal ponto de conflito da nação brasileira.
c) No mito da harmonia racial, Gilberto Freire sugere a preponderância absoluta do 
elemento branco sobre os negros e índios.
d) O preconceito racial é, segundo esse autor, um elemento fundador do mito da nação 
brasileira.
e) Para o autor, o fenômeno da miscigenização indica um desequilíbrio entre as três 
raças constitutivas da nação brasileira.
3. [...] surgiu de um sentimento de solidariedade e consciência de uma origem comum 
entre os negros do Caribe e dos Estados Unidos. Ambos estavam envolvidos numa luta 
semelhante contra a violenta segregação racial. Essa solidariedade que marcou a segunda 
metade do séc. 19 propôs a união de todos os povos da África como forma de potencializar 
a voz do continente no contexto internacional
O texto acima discorre sobre:
a) Eurocentrismo.
b) Afrocentrismo.
c) Negritude.
d) Pan-africanismo.
e) Etnocentrismo
29
4. Cheik Anta Diop foi um importante intelectual africanista que, assim como Joseph 
Ki-Zerbo, organizou a importante coletânea História Geral da África. Ele foi um dos pioneiros 
nos estudos acerca desse continente valorizando-o e ressaltando as suas particularidades. 
Nesse sentido, Diop defendeu que as bases nas quais a cultura ocidental estava alicerçada 
era negra e africana. 
Essa corrente filosófica defendida por Diop e outros intelectuais africanistas é conhecida 
como:
a) Afrocentrismo.
b) Etnocentrismo.
c) Eurocentrismo.
d) Racismo.
e) Democracia Racial.
5. No trecho abaixo o historiador Cheik Anta Diop ressalta que:
 […] a despeito das discrepâncias que apresentam o seu grau de con-
vergência prova que a base da população egípcia no período pré-di-
nástico era negra. Assim, todas elas são incompatíveis com a teoria de 
que o elemento se infiltrou no Egito em período tardio. Pelo contrário, 
os fatos provam que o elemento negro era preponderante do princípio 
ao fim da história egípcia. […] Nos manuais de maior divulgação, entre-
tanto, a questão é suprimida: na maioria dos casos, afirma-se simples e 
claramente que os egípcios eram brancos [...]. (DIOP, C. A. 1983, p.41-42).
a) A civilização egípcia era negra africana desde o princípio, apesar de muitos manuais 
afirmarem o contrário.
b) A base da civilização egípcia era negra no período tardio, o que contribuiu para as 
visões de um Egito branco.
c) A civilização egípcia era branca e, por isso, foi a base de formação da cultura indo-
europeia.
d) Não há demonstração científica que determine a africanidade do Egito Antigo.
e) Muitas são as discrepâncias que provam que a base da civilização egípcia é realmente 
negra.
30
UM CONTINENTE EM MOVIMENTO UNIDADE
03
31
3.1 INTRODUÇÃO
 Conforme visto anteriormente, a África possui uma rica e diversificada história prévia 
à intensificação dos contatos com os europeus. Esta história, por sua vez, diferente da 
“História” tradicional que recorre a documentos escritos, utiliza-se muito da tradição oral 
das sociedade africanas – lembrando que a maior parte delas eram ágrafas. Os guardiões 
da memória, os chamados Griôts, eram e ainda são os indivíduos responsáveis por repassar 
o conhecimento adquirido de geração para geração, por meio da contação de história. 
Para os griôts, manter a integridade da história é sagrado. 
 Além das tradições orais, para os estudos acerca das sociedades africanas ainda é 
utilizado documentos escritos produzidos por diversos povos que entraram em contato 
com os africanos, como os vistos na unidade 1, e os achados arqueológicos. Dessa forma, 
nesta unidade, vamos nos voltar para a história de alguns Estados africanos. Lembrando 
que a África é um continente grande e diverso, portanto, fizemos uma seleção dessa 
diversidade a ser apresentada aqui, tendo em vista as demandas das propostas curriculares 
da Educação Básica. Ao longo da unidade, entretanto, serão oferecidos diversos livros para 
que se possa aprofundar o conteúdo. 
3.2 ESTADOS DO ANTIGO SUDÃO: 
EGITO, KUSH, AXUM
 No período da Pré-história, quando verifica-se grandes modificações climáticas 
no mundo, a África se transformava. Foi nesse período que o deserto do Saara, um dos 
maiores desertos atualmente, expandiu-se e forçou diversos povos a emigrarem para 
outras regiões, apesar de alguns grupos que permaneceram e aprenderam a conviver 
com o clima desértico e a pouca oferta de água (seus descendentes são hoje conhecidos 
como Tuaregues e berberes). Estes foram responsáveis por trocas comerciais internas e 
externas por entre o deserto do Saara. Nesse processo, o rio Nilo era um oásis em meio 
ao árido deserto. Nas suas férteis margens em função dos períodos de cheias floresceram 
grandiosas civilizações.
 3.2.1 Egito Antigo
 
 Conforme mencionado anteriormente, o Egito Antigo foi tema de debates 
acalorados na historiografia pan-africana. Situada no noroeste africano, essa antiga 
civilização é reconhecida e valorizada mundialmente. Apresentaremos aqui brevemente 
suas características, uma vez que será novamente tema de estudos na disciplina História 
Antiga.
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 Para começar, o Egito Antigo representa o primeiro reino unificado conhecido da 
história e também a mais longa experiência humana documentada de continuidade 
política e cultural. Foram cerca de 3000 anos de dinastias faraônicas – não descartando, 
vale ressaltar, os períodos de descentralização e domínio estrangeiro.
 A história do vale do Nilo começa ainda no período pré-histórico, quando grupos 
sedentários encontraram às margens do rio terreno fértil para a agricultura. Ali se 
estabeleceram formando comunidades (nomos) que só seriam unificadas entre 3300 e 
3100 a.C. Como se deu tal unificação? Algumas teorias foram elaboradas por egiptólogos 
para explicar os fatores que teriam levado à unificação. Uma delas é a teoria que vê nos 
trabalhos hidráulicos (construção de diques, represas e canais) a principal causa. Assim, a 
unificação seria uma resposta à necessidade de uma administração centralizada dessas 
obras. Contudo, tal explicação, apesar de amplamente aceita durante tempos, acabou 
sendo questionada e diversos historiadores, como o maior especialista brasileiro em 
estudos sobre Antiguidade Oriental, Ciro Flamarion Cardoso:
A que atribuir, então, a unificação do Egito? Existem muitas te-
orias a respeito, difíceis de avaliar em virtude da escassez de da-
dos e fontes. Muitas das tentativas contemporâneas de explica-
ção (L. Kraeder, B.Trigger, R. Carneiro) enfatizam fatores ligados 
à guerra, à conquista, ao militarismo. Seja como for, tudo indica 
que o processo de formação do Egito como reino centralizado 
dependeu de numerosos fatores – demográficos, ecológicos, 
políticos, etc. – entre os quais a irrigação, pelo menos indireta-
mente, foi elemento de peso (CARDOSO, 1982, p. 25).
 Apesar das divergências e das diversas teorias que se apresentam para tentar explicar 
o processo, é importante salientar que foi por meio da unificação que se marcou o início 
da época histórica dos faraós. A história do Egito, a partir da unificação, é comumente 
dividida em em sete grandes períodos, para facilitar os estudos. O quadro a seguir resume 
esta divisão baseado no texto do professor Arnoldo Walter Doberstein. Vale ressaltar que 
para simplificação, muitos dividem somente em Reino Antigo, Reino Médio e Reino Novo.
33
ANOS (a.C) DENOMINAÇÃO PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS
3100-2695 Dinástico PrimitivoUnificação com o faraó Menés.
Utilização de barro e pedra nas construções e nos 
artefatos.
2695-2160 Reino Antigo Construção das pirâmides, cuja principal função 
era abrigar as múmias, as estátuas e os pertences 
dos mortos, mas também pesquisadores que res-
saltem sua função militar e astronômica.
2160-1991 1° Período Intermediário Nesse período, o Estado se encontrava mais frag-
mentado que poderia ser explicado pelo exces-
so de autonomia dado aos sacerdotes, pelo des-
preparo dos governantes e mesmo por crises na 
agricultura decorrente de períodos de seca mais 
prolongado.
1991-1785 Reino Médio No Reino Médio, o Egito voltou a ser um Estado 
unificado.
1785-1540 2° Período Intermediário Invasão dos hicsos – povos de diversas e contro-
versas origens étnicas.
1540-1070 Reino Novo Expansão militar. Expulsão dos hicsos. Considera-
do por muitos como o momento mais glorioso da 
civilização egípcia. É nesse período também que 
as mulheres governantes são mais lembradas: 
Hatseptsut, Nefertite e Nefertari.
1070-712 3° Período Intermediário Dinastia dos faraós negros – período do domínio 
núbio.
 Fonte : (DOBERSTEIN, 2010)
 Ao longo de todos esses séculos, o Egito teve cerca de 30 dinastias. A sociedade, 
de maneira geral, era hierarquicamente organizada, com um rei, considerado um deus, a 
família real, os sacerdotes e funcionários de alta hierarquia. Na parte intermediária tinha-se 
diversos escribas, outros funcionários e sacerdotes de menor hierarquia, além dos artesãos 
e artistas especializados. Por fim, na larga base da pirâmide social, formando a maior parte 
da população, estavam os trabalhadores braçais.
 Em termos econômicos, a base da sociedade era a agricultura que dependia 
inteiramente das cheias do rio Nilo. As tumbas mostram um pequeno comércio local e o 
pagamento de serviços. No período faraônico, conforme ressalta Ciro Flamarion Cardoso, a 
quase totalidade da vida econômica passava pelo rei e seus funcionários (CARDOSO, 1982, 
p. 38).
 O pensamento egípcio, por sua vez, aparece marcado por um esforço de preservar a 
estrutura vigente e ordem cósmica. O mito explicava o mundo descrevendo o fato como 
se deu pela primeira vez. Para eles, o tempo tinha uma conotação cíclica, ou seja, o tempo 
e o universo faziam com que uma dada ocorrência continuasse a ter vigência e atualidade. 
O universo era visto como o domínio de forças que podiam se manifestar de maneiras 
diversas (CARDOSO, Ciro, 1982, p. 85). Vale ressaltar, contudo, que as informações do 
pensamento egípcio foram obtidas a partir dos escritos de uma minoria de letrados, uma 
vez que grande parte da população era analfabeta. Dessa forma, qualquer generalização 
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para todos os âmbitos da sociedade pode incorrer em erros.
 O pensamento egípcio, por sua vez, aparece marcado por um esforço de preservar a 
estrutura vigente e ordem cósmica. O mito explicava o mundo descrevendo o fato como 
se deu pela primeira vez. Para eles, o tempo tinha uma conotação cíclica, ou seja, o tempo 
e o universo faziam com que uma dada ocorrência continuasse a ter vigência e atualidade. 
O universo era visto como o domínio de forças que podiam se manifestar de maneiras 
diversas (CARDOSO, Ciro, 1982, p. 85). Vale ressaltar, contudo, que as informações do 
pensamento egípcio foram obtidas a partir dos escritos de uma minoria de letrados, uma 
vez que grande parte da população era analfabeta. Dessa forma, qualquer generalização 
para todos os âmbitos da sociedade pode incorrer em erros.
 3.2.2 Núbia
 
 Na região Núbia (ao sul do antigo Egito que fazia fronteira com o Mar Vermelho 
e o deserto, ao sul se estendiam até o atual Cartum, no Sudão) também floresceram 
importantes civilizações que guardavam muitas similaridades geográficas e culturais 
com os egípcios especialmente em função dos contatos arqueologicamente comprovados 
entre ambos. Diferentemente dos antigos egípcios, pouco se sabe acerca dessas civilizações 
em função das dificuldades em decifrar as escritas e por muito de seus monumentos, 
esculturas e inscrições terem sido destruídos pelos invasores.
 Os egípcios sempre demonstraram seu interesse pela região e suas riquezas 
minerais e buscaram dominá-la em algumas ocasiões, mas perderam esse domínio com 
a invasão do Egito pelos hicsos (povos semitas asiáticos). Neste período, o reino Querma 
na Núbia viveu o seu auge. A autoridade do rei de Querma foi sentida na Núbia Superior 
e Inferior, e parte, inclusive, do Antigo Egito.
 Quando os egípcios restabeleceram o poder sob este território, novamente iniciaram 
um processo de expansão territorial sob os núbios. No século XV a.C., o faraó Tutmés I 
dividiu a Núbia em duas partes. A parte do norte tornou-se Wawat, e a parte sul, Kush 
(ou Cuxe) – com mais influência egípcia que o antigo Querma, porém dele provavelmente 
derivado. Muitas riquezas do reino de Kush foram levadas ao Egito como ébano, marfim, 
incenso, gado, ouro e escravizados (MOKHTAR, 1980. p.247)
 O reino Kush era governado por chefes políticos e militares, que em dada época 
acreditavam ser herdeiros legítimos dos faraós de tempos antigos e como eles vestiam-se 
e atuavam. Hábeis guerreiros, os kushitas controlaram as principais rotas comerciais às 
margens meridionais do rio Nilo e impuseram seus domínios sobre povos da vizinhança, 
chegando, inclusive, a dominar os próprios egípcios. Este domínio durou cerca de 50 
anos, e os “faraós negros” governaram de maneira unificada a Núbia e o Egito, e foi 
interrompido em função da invasão assíria (civilização da Mesopotâmia) no Egito, que 
fez com os kushitas retornassem para a Núbia. 
 As duas principais cidades, Napata e Meroé, revesaram-se como capital. A principal 
Napata, escolhida talvez por fatores climáticos e econômicos, foi transferida mais ao sul 
para Meroé. Após a mudança, não foramm abandonados os valores egípcios, mas as 
formas culturais núbias voltaram a se impor. O soberano ainda se chamava faraó, mas 
novos deuses apareciam e as tradições matrilineares (com o prestígio das rainhas-mães, 
as candaces) voltaram ser mais fortes. Os meroítas conseguiram fazer frente aos avanços 
romanos, mas acabaram sendo dominados pelo Reino Axum.
35
 3.2.3 Axum
 O Reino de Axum foi um antigo e importante reino localizado na atual Etiópia e Eritreia. De 
acordo com a mitologia etíope contida no livro Kebra Negast, acredita-se que nesta região teria 
vivido a Rainha de Sabá (Makeda) e que a família imperial do país Etiópia seria descendente de seu 
filho com o rei Salomão. Esta dinastia governou o país durante aproximadamente 3000 anos, tendo 
seu fim no século XX, com o imperador Haile Selassie.
 A ocupação da região é muito antiga, mas pouco se sabe a esse respeito, as informações que 
se têm datam do reino Axum em diante, quando se unificaram os povos da região em torno do 
Cristianismo, no século I d.C. A expansão Axum teve início já no início da Era Cristã e eles passaram 
a controlar importantes rotas comerciais marítimas especialmente pela sua proximidade com o 
Mar Vermelho. O seu prestígio e poderio foram atestados pela cunhagem de moedas, seguindo os 
modelos romanos.
 A introdução do Cristianismo foi obra de Frumêncio, mercador cristão que foi tutor de um 
rei e o influenciou a adotar oficialmente o Cristianismo e o Antigo Testamento foi traduzido para o 
ge’ez, (língua semita utilizada até hoje). A Etiópia é, portanto, um dos primeiros países cristãos do 
mundo e sua Igreja é a Igreja Ortodoxa Etíope (BRANCO, 2015, p. 66).
 Axum teve muitas dificuldades frente ao avanço árabe nos séculos VII e VIII d.C., mas 
continuou até o século XI isolado frente ao avanço muçulmano pela Etiópia. Axum entrou em 
decadência, mas sua importância manteve-se pelas dinastias imperiais etíopes que se seguiram.
 
3.3 ESTADOS DO ANTIGO SUDÃO: 
GANA, MALI E SONGAI
 Outra região que recebeu diversos povos foi a região do antigoSudão (não confundir 
com o país Sudão). Nele estabeleceram-se diversos grupos que formaram importantes 
Estados. Apresentaremos aqui os casos de Gana, Mali e Songai, que, embora sejam os mais 
conhecidos, não foram os únicos, vale ressaltar.
É muito comum conceituar e definir as bases da organização política dos africanos da Áfri-
ca Ocidental como “reinos” ou “impérios”. Esses termos são frequentemente utilizados como 
forma de aproximar essas organizações ao que é familiar. Assim o fizeram os primeiros euro-
peus que despontaram na África. Como não compreendiam muito bem o sistema de organi-
zação, mas como viam que tinham uma autoridade disseram que era um império. Mas eles 
ainda são termos tomados de empréstimos que não dão conta da realidade dessas regiões. 
Por isso, optamos aqui por utilizar um termo mais neutro que é “Estado” - no sentido que ha-
via grupos que exerciam domínio sobre outros.
FIQUE ATENTO
36
 3.3.1 Gana
 
 Gana foi um importante Estado que floresceu por volta do século IV d.C., localizado no 
Sudão Ocidental, entre os atuais países Mali e Mauritânia. Região onde o deserto do Saara 
começa a se encontrar com as savanas do Sahel. Como surgiu esse importante império? 
A sua origem esteve ligada a uma rede comercial que unia o norte do deserto ao sul. Sua 
posição geográfica, entre o Saara e os rios Níger e o Senegal, provavelmente foi decisivo para 
que os ganenses dominassem as principais rotas desse comércio, controlando o fluxo de 
ouro que vinha do sul e as fontes de sal. Por essa característica comercial, rapidamente o islã 
expandiu-se por essas terras a partir dos comerciantes árabes que trocavam mercadorias. 
SUDANESES: termo que generaliza uma diversidade de povos que habitam a região entre o 
deserto do Saara e o Atlântico compreendendo o Chade, o Níger, o Sudão, as regiões da Costa 
do Golfo (Nigéria e Benin), Togo, Gana, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa, Guiné, Senegal. 
Ou seja, principalmente a região da África Ocidental, porém não só.
GLOSSÁRIO
Para se ter uma ideia das rotas comerciais que ligavam os Estados sudaneses, acesse: http://
brasilafrica.fflch.usp.br/node/282. Observe como o deserto do Saara era cruzado por diferen-
tes rotas.
FIQUE ATENTO
 A sua riqueza e importância possibilitou aos seus governantes a anexação de territórios 
vizinhos, transformando o reino em um grande Estado que dominou o oeste da África por séculos, 
alcançando seu auge por volta do século XI d.C. Importantes cidades que estavam no cruzamento 
de rotas tinham certa autonomia e privilégios. No entanto, possuíam um governante, o Gana, que 
dependia do comércio para sustentar as estruturas de poder. Gana, portanto, era o título atribuído 
ao governante cujo poder provinha do fato de ser o representante maior dos costumes ancestrais e 
o protetor dos ritos (MACEDO, 2008, p. 52). A base econômica de seu poder era a tributação imposta 
aos povos e aos tributos que circulavam em seus domínios.
 Apesar de todo esse poder, contudo, Gana não conseguiu conter as invasões muçulmanas 
na segunda metade do século XI d.C. Os muçulmanos sob os Almorávidas, que já dominavam 
muitas rotas comerciais do Saara, atacam Gana e este opulente Estado é absorvido e, em seu lugar, 
surge o Mali, que vai também se tornar um importante Estado. Vejamos mais sobre ele.
 http://brasilafrica.fflch.usp.br/node/282
 http://brasilafrica.fflch.usp.br/node/282
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 3.3.2 Mali
 O enfraquecimento de Gana abriu caminho para Estados menores buscarem 
hegemonia e independência. Os povos mandingas, sob a chefia de Sundjata Keita, se 
impuseram na região e formaram o Estado unificado do Mali. Ele durou por quase dois 
séculos (meados do século XIII d.C. ao século XV d.C.) anexando territórios e se tornando 
um “império” conhecido internacionalmente, abrangendo não somente os mandingas, 
mas também os dogons, soninkês, fulas, sossos e bozos. Seus territórios possuíam maior 
dimensão que o antigo Gana. Sua hegemonia se estendia por toda a África Ocidental e se 
devia, conforme ressalta José Rivair Macedo, ao poderoso exército formado, ao controle de 
áreas de extração de ouro e uma estrutura administrativa eficiente (MACEDO, 2013, p. 56).
 Semelhantemente a Gana, a organização política do Mali se baseava na imposição de 
autoridade sobre outros estados menores formando um Estado heterogêneo com poderes 
locais subordinados a um representante direto, o Mansa. Este era tido como líder supremo, 
executor das decisões coletivas e aplicador da justiça. Era também o representante dos 
costumes ancestrais da comunidade.
 O Islã já estava presente nessas terras muito antes, desde o século XI, e muitos 
governantes e comerciantes se converteram. Notícias da importância do Islã nesse império 
podem ser analisadas a partir da peregrinação do Mansa Mussa à Meca, em 1325. Buscando 
dar maior visibilidade a seu império e integrá-lo ao mundo islâmico, Mussa trouxe sábios, 
poetas, conhecedores da lei muçulmana para ensinar nas madrassas (escolas canônicas). 
Mandou construir edifícios religiosos e palácios feitos de argila com portas e decorações em 
estilo árabe. Um dos mais belos templos construídos, a Mesquita de Djenné, foi classificada 
pela Unesco como patrimônio da humanidade (MACEDO, 2013, p. 57). 
 O declínio do Mali começou a ocorrer no século XIV, em função de conflitos internos 
que enfraqueceram os poderes locais e o aparecimento de novos poderes no cenário 
político da África Ocidental. Nos séculos XVI e XVII, o Mali possuía alguma autonomia e 
ascendência simbólica sobre outros Estados de origem mandinga, mas sua supremacia já 
havia passado.
AlLMORÁVIDAS: dinastia muçulmana proveniente de grupos nômades do Saara que unificou 
sob seu domínio grandes extensões de terras compreendendo os territórios da atual Mauritâ-
nia, Saara Ocidental, Marrocos e Península Ibérica (atuais Portugal e Espanha).
GLOSSÁRIO
38
3.4 ESTADOS DA ÁFRICA AUSTRAL: O MONOMOTAPA
 3.3.3 Songai
 
 Nas proximidades do rio Níger, uma cidade destacou-se pela sua importância 
comercial, política e econômica: Gao. Esta cidade, desde o século XIV, estava sob o controle 
dos songais que a partir desse centro iniciaram incursões militares. A expansão militar 
dos songai aconteceu durante o reinado de Sonni Ali (1464-1493), que chegou a dominar, 
inclusive, Tombuctu e Djenné (cidades do Mali). O império, que contava com uma estrutura 
administrativa mais centralizada, passou, então, a dominar importantes centros comerciais. 
Vale ressaltar que, assim como o Mali, o Songai também se baseava em princípios islâmicos.
 Com um comércio bem organizado e um sistema de governo mais coeso do que 
os impérios que o antecederam, o império Songai alcançou uma extensão territorial que 
abrangia o sul do Saara, o Sahel, as savanas do litoral atlântico em direção ao leste. No 
século XVI, os sultões marroquinos disputaram o controle das fontes de sal e assumiram o 
controle das fontes de ouro – principais mercadores que sustentavam o império Songai. Os 
marroquinos acabaram invadindo e destruindo o império no final do século XVI (MARQUES, 
2008. p. 53).
 Assim como os três grandes Estados acima mencionados, existiram vários outros, 
como o de Kanem-Bornu, as várias cidades dos povos Haussás e os Mossi. No geral, assim 
como os demais, também eram dependentes das rotas comerciais, apesar de apresentar 
atividades econômicas e políticas diversificadas.
 Importantes rotas de comércio ligavam a África Oriental ao Oceano Índico, ganhando 
ainda mais importância com a chegada do Islã, no século VII d.C. Os africanos da região 
falavam banto e eram chamados pelos árabes de Swahali (“moradores da costa”). Hoje, o 
swahili é uma das línguas mais faladas na África Oriental e é uma mistura de árabe com 
línguas de origem banta.
GLOSSÁRIO
BANTO: os bantos são centenas de povos bem diferentes, ligados por questões etnolinguísti-
ca. Os povos bantos teriam se dispersado por todo o continente africano há 2000 a.C.
 Os Swahalis adotaram o Islã e

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