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Arthur Adelino de Freitas Cruz

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UNIVERSIDADE DO ETADO DE SANTA CATARINA – UDESC 
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA –DEM 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E 
ENGENHARIA DE MATERIAIS - PGCEM 
 
 
 
 
 
Formação: Mestrado em Engenharia de Materiais e Processos Avançados 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO OBTIDA POR 
 
Arthur Adelino de Freitas Cruz 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DA QUEIMA DA BIOMASSA 
EM ARGAMASSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentada em 10 / 12 / 2002 Perante a Banca Examinadora: 
 
 Dr. Enori Gemelli – UDESC (Presidente) 
 Dra. Marilena V. Folgueras – UDESC (Membro) 
 Dr. Nelson H. A. Camargo – UDESC (Membro) 
 Dra. Therezinha M. Novais de Oliveira – UNIVILLE (Membro) 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC 
 
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT 
 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA - DEM 
 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA 
E ENGENHARIA DE MATERIAIS – PGCEM 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 
 
Mestrando: ARTHUR ADELINO DE FREITAS CRUZ – Engenheiro Mecânico 
 
Orientador: Prof. Dr. ENORI GEMELLI 
 
CCT/UDESC – JOINVILLE 
 
 
 
 
ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DA QUEIMA DA BIOMASSA 
EM ARGAMASSAS 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO APRESENTADA PARA 
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM 
ENGENHARIA DE MATERIAIS E PROCESSOS 
AVANÇADOS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO 
DE SANTA CATARINA, CENTRO DE CIÊNCIAS 
TECNOLÓGICAS – CCT, ORIENTADA PELO 
PROF. DR. ENORI GEMELLI 
 
 
 
 
Joinville 
2002 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC 
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT 
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO - CPG 
 
" Estudo Sobre a Utilização do Resíduo da Queima da Biomassa em Argamassas " 
 
 
por 
 
Arthur Adelino de Freitas Cruz 
 
 
 
Essa dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de 
 
MESTRE EM ENGENHARIA DE MATERIAIS E PROCESSOS AVANÇADOS 
 
na área de concentração "Reciclagem de Resíduos Sólidos", e aprovada em sua forma final 
 
pelo CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS E PROCESSOS 
 
AVANÇADOS DO CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA 
 
 
 
 Dr. Enori Gemelli – UDESC 
(Presidente) 
 
 
Banca Examinadora: 
 Dra. Marilena V. Folgueras – UDESC 
 
 
 
 Dr. Nelson H. A. Camargo – UDESC 
 
 
 
 Dra. Therezinha M. Novais de Oliveira – UNIVILLE 
 
 
 
 iv
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
NOME: CRUZ, Arthur Adelino de Freitas 
DATA DEFESA: 10/12/2002 
LOCAL: Joinville, CCT/UDESC 
NÍVEL: Mestrado Número de ordem: – CCT/UDESC 
FORMAÇÃO: Engenharia de Materiais e Processos Avançados 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Reciclagem de Resíduos Sólidos 
TÍTULO: Estudo Sobre a Utilização do Resíduo da Queima da Biomassa em Argamassas 
PALAVRAS - CHAVE: Resíduo, Argamassa, Cinza Preta, Biomassa. 
NÚMERO DE PÁGINAS: 99 p. 
CENTRO/UNIVERSIDADE: Centro de Ciências Tecnológicas da UDESC 
PROGRAMA: Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais - PGCEM 
CADASTRO CAPES: 4100201001P-9 
ORIENTADOR: Dr. Enori Gemelli 
PRESIDENTE DA BANCA: Dr. Enori Gemelli 
MEMBROS DA BANCA: Dra. Marilena V. Folgueras, Dr. Nelson H. A. Camargo, 
Dra. Therezinha M. Novais de Oliveira. 
 
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À minha esposa Daniela e aos meus 
pais Mario e Jonaina, que em todos os 
momentos sempre me apoiaram, ajudaram, 
investiram e me incentivaram 
 
 
 vi
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Ao Prof. Dr. Enori Gemelli, que como orientador e amigo soube cobrar e não mediu 
esforços em oferecer todas as condições necessárias à realização deste trabalho. 
 
 Ao Prof. Dr. Nelson Heriberto Almeida Camargo pela colaboração e auxílio no início 
deste trabalho. 
 
 À Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e ao Programa de Pós-
graduação em Ciência e Engenharia de Materiais – PGCEM pela realização do presente 
trabalho. 
 
 Ao Centro de Ciências Tecnológicas – CCT e ao Departamento de Engenharia 
Mecânica – DEM pela infra-estrutura oferecida. 
 
 À empresa KLABIN S.A. pelo fornecimento do resíduo industrial utilizado nesse 
trabalho. 
 
 À Brasil Beton S.A., Concrebrás S.A. e ao Sr. João Batista dos Santos pelo 
fornecimento de cimento para a preparação dos corpos de prova. 
 
 À CAPES pela bolsa de estudo concedida durante 6 meses. 
 
 À Enga. Civil Janaina Brescansin pela colaboração na metodologia experimental 
referente à preparação das argamassas. 
 
 À Franciele Karvat pelo apoio nos estudos de caracterização microestrutural em 
microscopia eletrônica de varredura. 
 
 vii
 A todos os professores e colegas mestrandos do Curso de Mestrado em Ciência e 
Engenharia de Materiais, que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a 
realização desse trabalho. 
 
 A Deus pela vida, família, trabalho, estudo, conhecimento e amigos verdadeiros que Ele 
colocou ao meu redor. 
 
 A minha esposa Daniela pela compreensão, companheirismo e apoio durante esses anos 
de estudo. 
 
 Aos meus pais Mario e Jonaina pelo apoio, investimento e incentivo transmitido 
durante todo o Curso de Mestrado. 
 
 Ao meu avô Adelino e minha avó Almerinda pelo incentivo e torcida pelo neto. 
 
 Aos demais familiares e amigos, pelo apoio técnico e moral recebido durante o 
desenvolvimento desse trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 viii
SUMÁRIO 
 
RESUMO..............................................................................................................................XI 
ABSTRACT........................................................................................................................XII 
INTRODUÇÃO GERAL......................................................................................................13 
 
Capítulo 1: Particularidades da Matéria-prima e das Argamassas........................................15 
1.1. Cimento Portland...........................................................................................................15 
1.1.1. Endurecimento do Cimento Portland........................................................................16 
1.1.2. Composição Química do Cimento Portland..............................................................17 
1.1.3. Mecanismo de Pega...................................................................................................20 
1.1.4. Resistência Mecânica do Gel do Cimento................................................................21 
1.2. Agregado........................................................................................................................24 
1.3. Água...............................................................................................................................27 
1.4. Argamassas....................................................................................................................28 
1.4.1. Fabricação da Argamassa..........................................................................................28 
1.4.2. Resistência Mecânica das Argamassas e dos Concretos...........................................32 
1.4.3. Reações que Podem Ocorrer Durante a Cura ou o Envelhecimento da 
Argamassa/Concreto.................................................................................................36 
1.4.3.1. Reação Álcali-Agregado..........................................................................................36 
1.4.3.2. Reação Álcali-Sílica.................................................................................................36 
1.4.3.3. Reação Álcali-Silicato..............................................................................................37 
1.4.3.4. Reação Álcali-Carbonato.........................................................................................38 
1.4.3.5. Carbonatação............................................................................................................38Capítulo 2: Resíduos Sólidos Industriais Utilizados em Argamassas/Concretos.................42 
Introdução.............................................................................................................................42 
2.1. Resíduos Provenientes da Indústria de Papel e Celulose...............................................44 
2.2. Resíduos Provenientes das Termelétricas......................................................................53 
2.3. Resíduos Provenientes da Indústria Alimentícia............................................................57 
2.4. Resíduos Provenientes da Indústria Metalúrgica...........................................................59 
 ix
2.5. Resíduos Provenientes da Indústria Têxtil.....................................................................63 
 
Capítulo 3: Materiais e Métodos Experimentais...................................................................65 
3.1. Materiais Utilizados.......................................................................................................65 
3.1.1. Cinza Preta..................................................................................................................65 
3.1.1.1. Composição Química e Classificação de Acordo com a NBR 10004.....................65 
3.1.1.2. Preparação do Resíduo Cinza Preta.........................................................................68 
3.1.2. Cimento Portland CPV ARI........................................................................................69 
3.1.3. Areia............................................................................................................................70 
3.1.4. Água............................................................................................................................70 
3.2. Ensaio de Granulometria da Cinza Preta.......................................................................71 
3.3. Preparação da Argamassa..............................................................................................71 
3.4. Ensaio de Compressão...................................................................................................72 
3.5. Microscopia Eletrônica de Varredura e Análise Qualitativa Por Espectroscopia por 
 Dispersão de Energia (EDS)..........................................................................................72 
3.6. Ensaio de Lixiviação......................................................................................................73 
 
Capítulo 4: Resultados Experimentais..................................................................................76 
4.1. Ensaio Granulométrico da Cinza Preta..........................................................................76 
4.2.Resistência à Compressão...............................................................................................77 
4.2.1. Ensaio de Compressão Sobre Corpos de Prova com 10% de Resíduo e Diferentes 
 Granulometrias.............................................................................................................77 
4.2.2. Ensaio de Compressão Sobre Corpos de Prova com Granulometria Inferior a 
 0.15 mm e Diferentes Concentrações..........................................................................78 
4.3. Morfologia dos Constituintes da Argamassa e Análise Qualitativa Por 
 Espectroscopia por Dispersão de Energia (EDS)...........................................................80 
4.3.1. Cinza Preta..................................................................................................................80 
4.3.2. Areia............................................................................................................................81 
4.3.3 Cimento CPV ARI.......................................................................................................81 
4.4. Análise Microestrutural dos Corpos de Prova...............................................................82 
4.4.1. Argamassa Sem Resíduo.............................................................................................82 
 x
4.4.2. Argamassa Com 10% de Resíduo e Diferentes Granulometrias.................................83 
4.4.3. Argamassas Com Diferentes Concentrações de Resíduo de Granulometria Inferior 
 a 0,15 mm....................................................................................................................87 
4.5. Ensaio de Lixiviação......................................................................................................89 
 
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.....................................................................................91 
CONCLUSÃO GERAL........................................................................................................94 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................96 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xi
RESUMO 
 
Este trabalho teve por objetivo estudar a utilização do resíduo sólido proveniente da 
queima da biomassa da indústria de papel e celulose como fonte de matéria prima para a 
fabricação de argamassas utilizadas na construção civil. O resíduo usado neste trabalho é 
conhecido como cinza preta e foi fornecido pela Klabin S.A. de Correia Pinto – SC. As 
matérias-primas usadas na elaboração das argamassas foram caracterizadas através de 
ensaios granulométricos, ensaios de lixiviação, no caso do resíduo, e análise morfológica 
no microscópio eletrônico de varredura (MEV). O resíduo foi incorporado na argamassa em 
substituição parcial ao cimento, mas de duas maneiras diferentes. Na primeira delas foi 
adicionado uma concentração constante de 10% em volume de resíduo com relação ao 
cimento, em corpos de prova com diferentes granulometrias de resíduo a fim de estudar o 
efeito do tamanho dos grânulos do resíduo sobre as propriedades das argamassas. Foram 
usadas cinco granulometrias diferentes de resíduo: entre 2 e 1 mm, entre 1 e 0.57 mm, entre 
0.57 e 0.30 mm, entre 0.30 e 0.15 mm e inferior a 0.15 mm. Na segunda etapa foi estudado 
o efeito da concentração do resíduo de granulometria inferior a 0.15 mm. Para isso, foram 
elaborados corpos de prova com 5, 10, 15 e 20% em volume de resíduo com relação ao 
cimento. Para facilitar a confecção dos corpos de prova, os materiais foram secados em 
estufa e misturados na proporção de 3 partes de areia para 1 parte de aglomerante (cimento 
+ resíduo) em massa. Os corpos de prova obtidos foram caracterizados através de ensaios 
mecânicos, ensaios de lixiviação e por microscopia eletrônica de varredura. A investigação 
através dessas técnicas de caracterização permitiu observar que as propriedades da 
argamassa dependem da concentração, da granulometria e da dispersão do resíduo na 
estrutura da argamassa. Além disso, certos elementos químicos do resíduo podem ficar 
estabilizados e/ou encapsulados dentro da matriz cimentítica. Estes resultados serão 
apresentados, analisados e discutidos no presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 xii
ABSTRACT 
 
The goal of this work was to study the utilization of a biomass burning waste 
coming from a cellulose and paper industry as a raw material for mortars in building 
industry. The waste used in this work is known as bottom ash and was supplied by Klabin 
Celucat S.A. situated in Correia Pinto – SC. The raw materials used to fabricate the mortars 
were characterized by granulation test, leaching test, in the case of the waste, and by 
scanning electron microscopy. The waste was incorporated in the mortars in substitution to 
a Portland cement so that the hydraulic binder in the samples fabricated with the bottom ash 
is constituted by cement + bottom ash. The samples were fabricated in two steps. In the 
first one the samples were elaborated containing 90% of cement + 10%in volume of 
bottom ash as hydraulic binder. This mixture was used with different granulations of 
bottom ash in order to study the effect of the waste granulation in the mortar properties. It 
was used five different granulations: between 2 and 1 mm, between 1 and 0.57 mm, 
between 0.57 and 0.30 mm, between 0.30 and 0.15 mm and under 0.15 mm. In the second 
step, it was studied the effect of the waste concentration with granulation under 0.15 mm. 
Samples were prepared with cement + 5, 10, 15 and 20% in volume of waste. The raw 
materials used to fabricate the mortars were dried in a furnace and then mixed in a mass 
proportion of three amounts of sand for one of hydraulic binder (cement + bottom ash). 
The samples obtained were studied by uniaxial compression test, leaching test and scanning 
electron microscopy. The investigation by these techniques of characterization allowed us 
to observe that the properties of the mortars depend on the concentration, granulation and 
dispersion of the waste in the mortar structure. Furthermore, some chemical elements may 
be stabilized and/or encapsulated in the cement matrix. These results will be presented, 
analyzed and discussed in this work. 
 13
Introdução Geral 
 
 
O crescente desenvolvimento industrial tem acarretado um aumento considerável na 
produção de resíduos sólidos, principalmente de origem industrial. Por outro lado, a busca 
pela melhoria da qualidade ambiental está intimamente relacionada à redução de resíduos 
gerados pela atividade industrial. Muitas empresas já estão se conscientizando do problema 
ambiental e estão se reestruturando a fim de reduzir ou eliminar os resíduos através da 
reciclagem ou de seu reaproveitamento. Estas empresas encontraram soluções para a 
redução do impacto de suas atividades no meio ambiente e o uso adequado dos recursos 
naturais. Assim descobriram que não agredir o meio ambiente pode ser economicamente 
viável. Com isso, elas começaram a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento 
sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade de seus negócios. A preocupação 
com o descarte dos resíduos industriais no ar, água e solo tem preocupado os meios 
técnicos, pois o meio ambiente tem se tornado cada vez mais escasso, no sentido de ser 
incapaz de absorver quantidades crescentes de resíduos. Sendo assim, é necessário ressaltar 
a importância de se estudar o reaproveitamento de certos resíduos para dar um destino 
nobre à eles. Isto tem sido o objeto de pesquisa de diversas entidades em todo o mundo. 
O trato inadequado dos resíduos sólidos industriais contribui de forma marcante 
para o agravamento dos problemas ambientais, notadamente nos grandes centros urbanos, 
constituindo tarefa potencialmente poluidora do ar, solo e principalmente águas superficiais 
e do subsolo. A disposição de resíduos industriais, em aterros sanitários, a céu aberto ou 
jogado em lagos, rios e mares fazem com que ocorram não apenas prejuízos ao equilíbrio 
da natureza como também perdas econômicas pelo não aproveitamento de materiais 
perfeitamente passíveis de novas utilizações, pois o custo com a disposição é alto. O 
reaproveitamento de resíduos sólidos industriais pode ser uma estratégia benéfica, tanto 
para as indústrias geradoras de resíduos como para a construção civil. Diante desta visão e 
de uma busca pela redução do impacto ambiental, o grupo de resíduos sólidos do Programa 
de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais está trabalhando já a alguns anos 
em projetos de pesquisa em parceria com empresas de Santa Catarina com o objetivo de 
 14
encontrar destinações cada vez mais apropriadas para os resíduos sólidos industriais 
gerados pelas empresas. O assunto desta dissertação faz parte de um desses projetos de 
pesquisa que está sendo realizado em colaboração entre a Universidade do Estado de Santa 
Catarina e a indústria de papel e celulose Klabin de Correia Pinto – SC. 
Os primeiros trabalhos na UDESC envolvendo os resíduos da Klabin começaram 
em 1999 e foram realizados por alunos de iniciação científica. Foram selecionados vários 
resíduos com potencial para fabricação de argamassas. Foram testados vários processos de 
beneficiamento dos resíduos e alguns tipos de cimento para elaboração das argamassas. O 
resultado desses estudos preliminares mostrou que o resíduo proveniente da queima da 
biomassa apresentou melhores resultados de resistência mecânica em compressão axial. 
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi de estudar mais em detalhes a influência da 
adição desse resíduo nas propriedades de uma argamassa. 
O resíduo estudado é, de modo geral, conhecido por cinza preta, cinza pesada ou 
cinza não-volante (bottom ash). Neste trabalho o resíduo será chamado de cinza preta. O 
resíduo “in natura” apresenta-se sob a forma de grandes aglomerados. A empresa Klabin 
gera cerca de 131 toneladas/mês do resíduo e colaborou com a pesquisa com o 
fornecimento de toda a matéria-prima, com a doação de um agitador mecânico para 
peneiramento de pós e com o pagamento das análises químicas. 
Este trabalho está dividido em quatro capítulos sendo que os capítulos 1 e 2 
abordam uma revisão da literatura sobre as Particularidades da Matéria-prima e das 
Argamassas, e Resíduos Sólidos Industriais Utilizados em Argamassas/Concretos, 
respectivamente, o capítulo 3 especifica os Materiais e Métodos Experimentais e o capítulo 
4 apresenta os Resultados Experimentais. Por fim é feito uma discussão dos resultados e 
conclusão geral do trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 15
Capítulo 1 
Particularidades da Matéria-prima e das Argamassas 
 
1.1. Cimento Portland 
 
A procura por segurança e durabilidade para as edificações conduziu o homem à 
experimentação de diversos materiais aglomerantes. Os romanos chamavam esses materiais 
de “caementum”, termo que originou a palavra cimento [AOKI, 1996]. 
O engenheiro John Smeaton, por volta de 1756, procurava um aglomerante que 
endurecesse mesmo em presença de água, de modo a facilitar o trabalho de reconstrução do 
farol de Edystone, na Inglaterra. Em suas tentativas, verificou que uma mistura calcinada de 
calcário e argila tornava-se, depois de seca, tão resistente quanto as pedras utilizadas nas 
construções. Coube, entretanto, a um pedreiro, Joseph Aspdin, em 1824, patentear a 
descoberta, batizando-a de cimento Portland, numa referência à Portlandstone, tipo de 
pedra arenosa muito usada em construções na região de Portland, Inglaterra [AOKI, 1996]. 
Atualmente, o cimento Portland fabricado é constituído por um material 
pulverulento composto de silicatos e aluminatos complexos que, ao serem misturados com 
água, hidratam-se, resultando no endurecimento da massa, que pode então oferecer elevada 
resistência mecânica. 
 As matérias-primas utilizadas na fabricação do cimento Portland são: calcário, 
argila e gipso (gesso). Sua produção pode ser dividida nas seguintes fases: extração das 
matérias-primas, preparo e dosagem da mistura crua, mistura e homogeneização, 
aquecimento ao forno, esfriamento, adição final e moagem, e ensacamento ou estocagem 
em silos [TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990; BAUER, 1985]. 
Os materiais crus (argila e calcário), moídos finamente e intimamente misturados, 
são aquecidos até cerca de 14000C em grandes fornos rotativos que podem ter até 90 m de 
comprimento por 3,5 m de diâmetro. O material que sai destes fornos é chamado de 
“clínquer”. O “clínquer” é resfriado e misturado com uma pequena quantidade (2% a 3%) 
de gesso bruto ou moído. Essa mistura é, então, reduzida a um pó muito fino em grandes 
 16
moinhos de bolas, que é o cimento Portland de comércio [TARTUCE e GIOVANNETTI, 
1990]. 
 As principais características do cimento Portland e que são objeto de métodos de 
ensaio são: módulo de finura, pega, expansibilidade e resistência à compressão 
[CHIAVERINI, 1986]. 
 
1.1.1. Endurecimento do Cimento PortlandQuando o cimento Portland é misturado com água suficiente para formar uma pasta, 
os seus elementos reagem, formando produtos cristalinos e outros de aparência gelatinosa, 
provocando o endurecimento do cimento. Quando a pasta é conservada úmida, as reações 
podem persistir por anos; assim, o produto continua cada vez mais resistente, durante um 
longo período de tempo. O cimento endurece mesmo quando debaixo de água. Tal processo 
é o resultado de um fenômeno físico-químico com características bastante complexas. De 
forma esquemática pode-se afirmar que o contato direto entre a água e o cimento provoca a 
formação de uma massa gelatinosa, finamente cristalina, denominada “gel”. O processo é 
relativamente demorado e a reação se dá de fora para dentro do cimento. Evidentemente, 
quanto menor forem as partículas do cimento, mais rápida será a hidratação. É de 
fundamental importância, neste processo, a quantidade de água empregada em relação ao 
peso do cimento (fator água/cimento – fator a/c). O cimento que no caso é o ligante, ficará 
mais ou menos diluído, segundo a quantidade de água utilizada. Entretanto, quanto mais 
diluído pior será a qualidade (porosidade) da pasta e menor sua resistência. Por outro lado, 
é interessante que todas as partículas de cimento sofram os efeitos da hidratação. Para obter 
este resultado tem-se que utilizar uma quantidade mínima de água – fator a/c aproximado 
de 0,24 (24 litros de água para 100 kg de cimento), dependendo da composição química do 
cimento. De fato, a água em excesso cria na pasta de cimento uma porosidade capilar, tanto 
maior quanto for o fator a/c, aumentando assim sua permeabilidade e prejudicando a 
durabilidade da argamassa ou do concreto [TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990]. 
 
 
 
 17
1.1.2. Composição Química do Cimento Portland 
 
 O cimento Portland contém basicamente: 61% a 67% Cal (CaO); 20% a 23% Sílica 
(SiO2); 4,5% a 7% Alumina (Al2O3); 2% a 3,5% Óxido de Ferro (Fe2O3); 0,8% a 6% 
Magnésia (MgO); 0,3% a 1,5% Álcalis (Na2O e K2O) e 1% a 2,3% Sulfatos (SO3) 
[TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990]. A matéria prima para fabricação do cimento, moída 
e misturada em proporções adequadas, quando aquecida até a temperatura de fusão 
incipiente, resulta na formação do clínquer já mencionado anteriormente. Nesse processo 
ocorrem combinações químicas, principalmente no estado sólido, que conduzem à 
formação dos seguintes compostos [BAUER, 1985]: 
 
• silicato tricálcico 3CaO.SiO2; 
 
• silicato bicálcico 2CaO.SiO2; 
 
• aluminato tricálcico 3CaO.Al2O3; 
 
• ferro aluminato tetracálcico 4CaO.Al2O3.Fe2O3. 
 
 Para simplificar a nomenclatura, a literatura usa notações para a denominação dos 
compostos do cimento. Essas notações são as seguintes: 
 
• C = CaO Óxido de Cálcio; (1.1) 
 
• S = SiO2 Sílica; (1.2) 
 
• A = Al2O3 Alumina; (1.3) 
 
• F = Fe2O3 Óxido de Ferro; (1.4) 
 
• S = SO3 Sulfatos; (1.5) 
 18
 
• H = H2O Água; (1.6) 
 
• C3S = 3CaO.SiO2 Silicato Tricálcico; (1.7) 
 
• C2S = 2CaO.SiO2 Silicato Bicálcico; (1.8) 
 
• C3A = 3CaO.Al2O3 Aluminato Tricálcico; (1.9) 
 
• C4AF = 4CaO.Al2O3.Fe2O3 Ferro Aluminato Tetracálcico. (1.10) 
 
A composição dos cimentos brasileiros tem os seguintes teores médios: 42% a 60% 
C3S, 14% a 35% C2S, 6% a 13% C3A e 5% a 10% C4AF. 
O comportamento mecânico de cada composto do cimento Portland pode ser melhor 
visualizado através do gráfico da Figura 1.1. O C3S é o responsável pela resistência nas 
primeiras horas devido a hidratação rápida e apresenta um desprendimento de calor médio. 
O C2S é o responsável pelo aumento da resistência nas primeiras semanas devido à 
hidratação lenta e apresenta desprendimento de calor baixo. Ele apresenta comportamento 
mecânico interessante durante o envelhecimento, como pode ser observado na Figura 1.1. 
O C3A apresenta uma hidratação rápida que se dá em poucos minutos, é o responsável pelas 
primeiras reações e apresenta um desprendimento de calor alto. O C4AF também apresenta 
uma hidratação rápida e conseqüentemente também é o responsável pelas primeiras 
reações, mas apresenta um desprendimento de calor médio. No entanto, esses dois últimos 
compostos apresentam baixa resistência mecânica comparado com os dois primeiros. 
 
 19
 
Figura 1.1. Comportamento mecânico dos compostos do cimento [TARTUCE e 
GIOVANNETTI, 1990; SILVA, 1991]. 
 
 A Tabela 1.1 apresenta algumas das propriedades de cada um dos compostos de 
cimento Portland apresentados [TARTUCE & GIOVANNETTI, 1990]. 
 
Tabela 1.1. Propriedades dos compostos de cimento Portland. 
 
Propriedades C3S C2S C3A C4AF 
Resistência à compressão nas 
primeiras idades 
Boa Fraca Boa Fraca 
Idades posteriores Boa Boa Fraca Fraca 
Velocidade de reação com água 
(hidratação) 
Média Lenta Rápida Rápida 
Quantidade de calor gerado na 
hidratação 
Média Pequena Grande Média 
Resistências a águas agressivas Média Boa Fraca Fraca 
 
 20
1.1.3. Mecanismo de Pega 
 
 O fenômeno da pega do cimento está associado à evolução das propriedades 
mecânicas da pasta no início do processo de endurecimento, propriedades essencialmente 
dependentes do processo químico de hidratação. É um fenômeno, por convenção, definido 
como o momento em que a pasta adquire certa consistência que a torna imprópria ao 
trabalho. Tal conceituação se estende tanto à argamassa como ao concreto, nos quais a 
pasta de cimento está presente como aglutinadora dos agregados [SILVA, 1991; BAUER, 
1985]. 
 No processo de hidratação, os grãos de cimento, inicialmente em suspensão vão, 
paulatinamente, aglutinando-se uns aos outros, por efeito de floculação, conduzindo à 
construção de um esqueleto sólido, responsável pela estabilidade da estrutura geral. A 
continuidade da hidratação em subseqüentes idades conduz ao endurecimento, responsável 
pela aquisição permanente de qualidades mecânicas características do produto acabado 
[SILVA, 1991; BAUER 1985]. 
 A pega e o endurecimento são dois aspectos do mesmo processo de hidratação do 
cimento, vistos em períodos diferentes: a pega na primeira fase do processo e o 
endurecimento na segunda e última fase [SILVA, 1991; BAUER 1985]. 
A pega é a mudança da pasta de cimento do estado fluido para o estado rígido. É 
causada por uma reação seletiva de compostos do cimento. Os dois principais compostos 
que reagem são o C3A e o C3S [NEVILLE, 1982; PRIM, 1998]. 
 O tempo de início da pega transcreve desde a adição de água, até o início das 
reações de hidratação. Observa-se o aumento na viscosidade e temperatura, e diminuição da 
trabalhabilidade da pasta. O fim da pega acontece quando a massa do cimento para de se 
organizar, tornando-se um bloco rígido, porém, de baixa resistência. Com o fim da pega 
tem início o endurecimento [PRIM, 1998]. 
 Vários são os fatores que influenciam a duração da pega e endurecimento. Um deles 
são os compostos solúveis, como por exemplo: cloreto de cálcio (em porcentagens 
superiores a 0,5%), cloreto de sódio e alcalinos que aceleram a pega enquanto gesso, 
carbonato de cálcio, óxido de zinco, açúcar, bórax, tanino e ácido fosfórico retardam a 
pega. Estes compostos devem ser considerados quando se mistura resíduos com cimento, 
 21
pois dependendo da sua composição pode-se obter uma influência negativa ou positiva 
sobre a pega e endurecimento da mistura [PRIM, 1998]. 
 
1.1.4. Resistência Mecânica do Gel de Cimento 
 
 Há duas teorias clássicas a cerca do endurecimento ou aumento de resistência do 
cimento. A de Le Chatelier (1882) afirma que produtos de hidratação do cimento tem uma 
solubilidade menor que os compostos originais, de forma que os hidratos precipitam de 
uma solução supersaturada. O precipitado tem forma de cristais alongados e entrelaçados, 
com propriedades coesivas e adesivas elevadas [NEVILLE, 1982]. 
 A teoria coloidal proposta por W. Michaelis, em 1893, afirma queo aluminato 
cristalino, sulfo-aluminato e hidróxido de cálcio produzem a resistência inicial. A água 
saturada de hidróxido de cálcio (CaOH)2 ataca os silicatos e forma um silicato de cálcio 
hidratado que, sendo quase insolúvel, forma uma massa gelatinosa. Esta massa endurece 
gradualmente devido à perda de água provocada pela secagem ou pela hidratação do núcleo 
interior não-hidratado das partículas de cimento; desta forma é obtida a coesão [NEVILLE, 
1982]. 
 À luz do conhecimento atual parece que ambas as teorias contém elementos 
verdadeiros e não são, de modo algum, inconciliáveis. Em particular, químicos que estudam 
colóides descobriram que uma certa parte deles consistem de partículas cristalinas 
extremamente pequenas e, portanto, com uma grande área superficial, conferindo-lhes 
propriedades diferentes daquelas dos sólidos usuais. Dessa forma, o comportamento 
coloidal é, essencialmente, uma função de extensão da área superficial e não da falta de 
regularidade da estrutura interna das partículas envolvidas [NEVILLE, 1982]. 
 No caso do cimento Portland descobriu-se que, quando misturado a uma grande 
quantidade de água, produz em poucas horas uma solução supersaturada de Ca(OH)2 e de 
silicato de cálcio hidratado em uma condição meta-estável. Estes hidróxidos precipitam 
rapidamente de conformidade com a teoria de Le Chatelier; o endurecimento subseqüente 
pode ser devido à retirada de água do material hidratado, conforme o postulado de 
Michaelis [NEVILLE, 1982]. 
. 
 22
 Outras experiências mostraram que os silicatos de cálcio hidratados estão, na 
realidade, sob a forma de cristais extremamente pequenos, submicroscopicamente 
encadeados, os quais, devido ao seu tamanho, poderiam muito bem ser denominados de gel. 
Quando o cimento é misturado com uma pequena quantidade de água, o grau de 
cristalização é, provavelmente inferior. Assim a controvérsia Le Chatelier Michaelis se 
reduz, em grande parte, a uma questão de terminologia ao lidarmos com um gel constituído 
de cristais [NEVILLE, 1982]. 
 O termo gel de cimento inclui, por razões de conveniência, o hidróxido de cálcio 
cristalino. O gel significa, assim, a massa coesiva de cimento hidratado na sua pasta mais 
densa, isto é, incluindo os poros do gel, sendo a porosidade característica de, 
aproximadamente, 28% [NEVILLE, 1982]. 
 A verdadeira origem da resistência do gel não está completamente esclarecida, mas 
provavelmente, deriva de dois tipos de coesão. O primeiro tipo é a atração física entre 
superfícies sólidas, separadas somente pelos diminutos poros de gel (1,5 a 2,0 nm), esta 
atração é conhecida usualmente como “forças de Van der Waals” [NEVILLE, 1982]. 
 A origem do segundo tipo de coesão são as ligações químicas. Uma vez que o gel de 
cimento é do tipo expansão limitado, onde as partículas não podem ser dispersadas pela 
adição de água, parece que as partículas de gel são interligadas por forças químicas. Estas 
são muito mais fortes do que as forças de Van der Waals, mas as ligações químicas 
somente abrangem uma pequena fração da porção das regiões-limites das partículas de gel. 
Por outro lado, uma área superficial tão grande como a do gel de cimento não é uma 
condição necessária para desenvolvimento de resistência elevada, pois a pasta de cimento 
curada em vapor de água a alta pressão, embora possuindo área superficial pequena, 
apresenta propriedades hidráulicas extremamente boas. Portanto, não se pode estimar a 
importância relativa das forças de coesão físicas e químicas, mas não há dúvidas de que 
ambas são as principais responsáveis pela resistência mecânica da pasta endurecida 
[NEVILLE, 1982]. 
 Pode-se relacionar o grau de deterioração do gel devido à reação álcali-agregado 
com a natureza das reações químicas que provocam a formação do gel sílico-potássico, 
contendo o elemento cálcio em determinadas condições. Este gel é produto de uma reação 
instável e intermediária e suas características tais como viscosidade, grau de inchamento a 
 23
absorção d’água dependem sobretudo de sua composição química e da presença de água. 
As características do gel e seus efeitos estão diretamente relacionados com as condições 
que se encontram a argamassa e/ou concreto, bem como as características de suas estruturas 
(peso e geometria) e condições ambientais. Os principais fatores que exercem influência na 
formação do gel são [NEVILLE, 1982]: 
 
• o conteúdo de álcalis do cimento; 
 
• o conteúdo de cimento no concreto e/ou argamassa; 
 
• as variações mineralógicas, de porosidade e de resistência inerentes aos 
agregados reativos; 
 
• variações de dimensões e distribuição dos agregados reativos; 
 
• as condições de umidade e de temperatura; 
 
• a migração dos álcalis da solução dos poros do concreto; 
 
• variações de compacidade e resistência da microestrutura da pasta de cimento; 
 
• exposição à água salina. 
 
Na presença de umidade, o gel formado expande devido à absorção, por osmose, de uma 
grande quantidade de água, provocando uma pressão hidráulica na estrutura. Como 
conseqüência dessa pressão, ocorrem expansões e fissurações dos grãos de agregado, da 
pasta de cimento e conseqüentemente do concreto. Uma vez que a disponibilidade da água 
é contínua, essas fissuras tendem a aumentar e progredir até atingirem a superfície externa 
da estrutura [NEVILLE, 1982]. 
A composição química do gel pode variar dependendo do local de sua formação (entre 
os grãos do agregado, poros, pasta ou regiões microfissuradas), que por sua vez varia 
 24
devido a mobilidade do gel dentro da estrutura da argamassa. O teor de silício (Si) diminui 
e o de cálcio (Ca) aumenta a medida que o gel se afasta do agregado, pois há uma absorção 
dos íons cálcio presentes na pasta de cimento. O gel rico em cálcio possui maior 
viscosidade e menor capacidade de inchamento. Cabe ressaltar que quando o gel atinge o 
estado sólido, há uma precipitação e retração provocando algumas fissuras na sua estrutura 
[VAN AARDT e VISSER, 1977]. 
 
1.2. Agregado 
 
 Agregado é um conjunto de grãos naturais, processados ou manufaturados, que se 
apresentam em uma seqüência de diferentes tamanhos, os quais, interligados por um 
material aglomerante, formam argamassas ou concretos [SILVA, 1991]. 
 Os agregados utilizados em argamassas são, normalmente, areias retiradas de leitos 
fluviais e de outras jazidas naturais, ou artificiais, resultantes de processos especiais de 
fabricação, como britamento de rochas estáveis, pelotização de argilas expandidas, etc 
[HANAI, 1992]. 
 
 Pode-se classificar os agregados quanto [BAUER, 1985]: 
 
• a origem: 
 
a) naturais – são aqueles que já são encontrados na natureza sob a forma de 
agregado: areia de mina, areia de rios, seixos rolados e pedregulhos. 
 
b) artificiais – são aquelas que necessitam de um trabalho para poder chegar 
a condição necessária e apropriada para seu uso: areia artificial e brita. 
 
 
 
 
 
 25
• as dimensões: 
 
a) agregado miúdo – é a areia natural quartzoza ou artificial, resultante do 
britamento de rochas estáveis, de diâmetro máximo igual ou inferior a 
4,8 mm – NBR 7211; 
 
b) agregado graúdo – é o pedregulho natural, ou a pedra britada proveniente 
do britamento de rochas estáveis, de diâmetro superior a 4,8 mm – NBR 
7211. A argamassa fabricada com este tipo de agregado é chamada de 
concreto. O concreto também pode conter uma mistura de agregado 
miúdo e graúdo. 
 
• ao peso unitário: 
 
a) leves – menor que 1 ton/m3; 
 
b) normais – entre 1 a 2 ton/m3; 
 
c) pesados – acima de 2 ton/m3. 
 
É indispensável conhecer a composição mineralógica dos agregados que servem 
para a confecção das argamassas ou concretos. Eles são freqüentemente considerados como 
inertes; entretanto, possuem características físicas (modificações de volume por variação de 
umidade) e químicas (reação com os álcalis do cimento), que intervem no comportamentoda argamassa ou do concreto. A porosidade, permeabilidade e absorção influem nas reações 
químicas, na resistência mecânica, na elasticidade, na massa específica e na aderência entre 
o aglomerante e os grãos do agregado [SILVA, 1991]. 
Na fase inicial de prospecção dos agregados, um grande cuidado deve ser tomado 
quanto as características mineralógicas de suas rochas matrizes. A identificação 
petrográfica dos agregados torna-se de grande importância na previsão do comportamento 
 26
dos mesmos. Pequenas quantidades de rochas ou minerais que possam ocorrer como 
elementos de contaminação no agregado poderão ter influência decisiva em sua qualidade. 
A areia utilizada como agregado deve satisfazer aos requisitos estabelecidos pelas 
normas técnicas, como a resistência aos esforços mecânicos, o conteúdo máximo de 
substâncias nocivas, tais como torrões de argila, matérias carbonosas, material pulverulento 
e impurezas orgânicas. Outras características de qualidade devem ser investigadas em caso 
de areias de jazidas pouco conhecidas, tais como a resistência aos sulfatos de sódio e 
magnésio e a reatividade potencial, que se refere as reações de interação entre os álcalis do 
cimento e o agregado. Aspectos importantes a serem considerados são o módulo de finura, 
a área específica, a forma dos grãos e a composição granulométrica [HANAI, 1992]. 
 A areia, conforme sua distribuição granulométrica e seu módulo de finura (MF), de 
acordo com a NBR 7211, pode ser classificada como [BAUER, 1985]: 
 
• muito finas – 1,35 < MF < 2,25; 
 
• finas – 1,71 < MF < 2,78; 
 
• médias – 2,11 < MF < 3,28; 
 
• grossas – 2,71 < MF < 4,02. 
 
 Quanto à forma dos grãos, os arredondados e com superfície lisa proporcionam 
argamassas mais plásticas e permitem redução da relação água/cimento. Contudo, os grãos 
de forma irregular e superfície áspera levam, devido à melhor aderência com a pasta de 
cimento, a argamassas mais resistentes ao desgaste e à tração [HANAI, 1992]. 
 A granulometria da areia ou agregado tem grande influência nas propriedades das 
argamassas. A Tabela 1.2 apresenta um comparativo entre as características da areia e as 
principais propriedades das argamassas [GUIMARÃES, 1997]. 
 
 
 
 27
Tabela 1.2. Influência da granulometria da areia nas propriedades da argamassa. 
 
Características da Areia 
Propriedades 
da Argamassa 
Quanto Menor o 
Módulo de Finura 
Quanto Mais 
Descontínua For a 
Granulometria 
Quanto Maior o 
Teor de Grãos 
Angulosos 
Trabalhabilidade Melhor Pior Pior 
Retenção de Água Melhor Variável Melhor 
Elasticidade Pior Pior Pior 
Retração na Secagem Aumenta Aumenta Variável 
Porosidade Variável Aumenta Variável 
Aderência Pior Pior Melhor 
Resistência Mecânica Variável Pior Variável 
Impermeabilidade Pior Pior Variável 
 
1.3. Água 
 
A água utilizada na argamassa não pode conter matéria orgânica e colóides em 
suspensão, nem tampouco salinidade acima dos tolerados pelos índices de potabilidade 
[GUIMARÃES, 1997]. A quantidade e a qualidade dos elementos dissolvidos na água 
dependem das características químicas e físicas do solo e do sub-solo, do tempo de 
permanência nos condutos naturais e da distância que o líquido percorre em seus drenos. 
Permanecendo na superfície, a água pode ser concentrada por evaporação e interceptar 
outras águas, com mudanças complexas de composição e volume. Provém das chuvas, em 
geral, a maioria das variedades de águas que ocupam os reservatórios naturais. Elas 
carregam o dióxido de carbono do ar, elemento que em combinação com a água desses 
reservatórios produz o ácido carbônico. No solo, adquirem ácidos húmicos e os sais 
solúveis. Nas camadas mais profundas, aumentam a variedade dos elementos dissolvidos – 
pelo percurso e tempo de permanência – ainda que possam ter diminuída a quantidade total 
de solutos. Assim, geralmente se apresentam com sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro, 
cloretos, sulfatos e bicarbonatos, em várias combinações. Sílica e silicatos também são 
 28
comuns. Fluoretos, nitratos, nitritos e boro, quando presentes, ocorrem em concentrações 
baixas, mas assim mesmo podem ser importantes. O dióxido de carbono nem sempre forma 
bicarbonatos, podendo permanecer como gás dissolvido. Metais, como o cobre, o zinco, o 
estrôncio, o bromo e o iodo podem ocorrer particularmente nas águas salinas originárias de 
lagos e mares [TARTUCE & GIOVANNETTI, 1990]. 
 
1.4. Argamassas 
 
1.4.1. Fabricação da Argamassa 
 
As primeiras misturas de sucesso na junção de blocos de alvenaria foram batizadas 
com o nome de argamassa: misturas de cal, água e areia para construções [GUIMARÃES, 
1997]. 
Dá-se o nome de pasta à mistura de um aglomerante mais água. Quando se coloca 
água em excesso na pasta, tem-se um produto denominado nata. Misturando-se agregado 
miúdo à pasta obtém-se uma argamassa, podendo eventualmente conter adições que 
melhorem suas propriedades. 
A argamassa é um material artificial, obtido após o endurecimento de uma mistura 
em proporções adequadas de agregado miúdo, aglomerante e água. A adição de areia se faz 
por vários motivos, e dentre eles destacam-se a diminuição da retração e o barateamento do 
produto [SILVA, 1991]. 
 As argamassas podem ser utilizadas como revestimento de pisos, tetos e paredes 
(emboço e reboco), ou no assentamento de tijolos, blocos, azulejos e ladrilhos, reparos de 
obras de concreto e injeções [SILVA, 1991]. 
 Chama-se traço da argamassa a proporção dos componentes relativamente ao 
aglomerante. Normalmente se calcula o traço em massa, o qual dá origem ao traço em 
volume, que é o mais usado em obras correntes. O traço de argamassa, 1 : a, significa uma 
parte em massa do aglomerante (cimento) para “a” partes de agregado miúdo (areia). 
As propriedades da argamassa estão diretamente ligadas a diversos fatores, tais 
como: qualidade e quantidade do aglomerante; qualidade e quantidade de água. Variando 
estas condições, tem-se a qualificação do produto final, de acordo com as condições de 
 29
envolvimento dos grãos pela pasta, quantidade de vazios e aderência dos grãos com a pasta 
[SILVA, 1991]. 
A Tabela 1.3 fornece alguns exemplos de argamassas utilizadas e suas respectivas 
aplicações. 
As argamassas podem ser classificadas de diversos modos [SILVA, 1991]: 
 
a) Quanto ao emprego: 
• comuns (para rejuntamentos, revestimentos, pisos, injeções); 
• refratárias (para fornos, revestimentos térmicos). 
 
b) Quanto ao tipo de aglomerante: 
• aéreas (cal aérea, gesso); 
• hidráulicas (cal hidráulica, cimento); 
• mistas (cimento e cal aérea). 
 
c) Quanto ao número de elementos ativos: 
• simples (um aglomerante); 
• composta (mais de um aglomerante). 
 
d) Quanto a dosagem: 
• pobres ou magras (volume de pasta insuficiente para preencher vazios); 
• ricas ou gordas (excesso de pasta); 
• cheias (quantidade suficiente de pasta) 
 
e) Quanto a consistência 
• secas; 
• plásticas; 
• fluidas. 
 
 
 
 
 
 30
Tabela 1.3. Aplicações de argamassas, traços e relações A/C – água/cimento [SILVA, 1991]. 
 
Finalidade Traço 
(massa) 
Materiais Relação A/C Consistência
Assentamento de 
Tijolos 
1:0,5:2,5 Cimento, Saibro e Areia 
Fina 
0,60 Muito 
Plástica 
Revestimento 1:1:5,5 Cimento, Saibro e Areia 
Fina 
0,90 Plástica 
Chapisco 1:5,0 Cimento e Areia Grossa 1,00 Fluida 
Contrapiso 1:4,0 Cimento e Areia Média 0,50 Seca 
Produção de Blocos 
de Concreto (**) 
Entre 1:6 
e 1:11 
Cimento e Areia Muito 
Grossa 
0,60 Muito Seca 
 
Argamassa não é apenas um material que se molda, que dá forma a um corpo 
estrutural, que participa da determinação de sua resistência, ou que caracteriza uma cor, 
uma textura nas superfícies aparentes. Um elemento estrutural de uma argamassa pode 
sofrer tanto as ações mecânicas decorrentes das leis de equilíbrio quanto as que resultam de 
uma chuva ácida em uma atmosfera poluída, por exemplo. A qualidade da argamassaé tão 
importante para a durabilidade das construções como é a epiderme para a proteção do corpo 
humano, tanto que as vezes é possível assemelhar algumas funções de ambas, 
principalmente do ponto de vista de proteção da armadura [HANAI, 1992]. 
Como se sabe, os agentes agressivos do meio ambiente não são apenas os 
mecânicos – que deformam, rompem e desgastam – mas também os físico-químicos – que 
provocam sobretudo a corrosão das armaduras, contra os quais a argamassa desempenha 
um papel importante. A argamassa é sempre, por menos que o seja, um material permeável 
a líquidos e gases, sujeito a diferenças de potencial elétrico e outros fatores, em permanente 
equilíbrio com o meio ambiente, e além disso sujeito a limitações de execução. 
As adições das argamassas são componentes ativos ou não, como as pozolanas e os 
aditivos para concreto em geral, que são empregadas com finalidades diversas na 
modificação das propriedades da argamassa fresca ou endurecida. Há propriedades físicas, 
químicas e mecânicas, de deformação ou de durabilidade da argamassa endurecida a serem 
consideradas, mas existem também importantes propriedades da mistura seca e da 
 31
argamassa fresca que devem ser observadas com todo o cuidado, uma vez que elas refletem 
o potencial de qualidade final do material [HANAI, 1992]. 
A qualidade dos materiais constituintes é fundamental, mas as relações quantitativas 
entre eles fornecem indicadores globais de tendências, os quais são imprescindíveis na 
execução de argamassas adequadas às exigências de cada caso. Se a argamassa resulta 
essencialmente de uma mistura de cimento (aglomerante), água e agregados, há de se 
considerar duas importantes relações: 
 
• água/cimento; 
 
• pasta/agregado; 
 
A relação água/cimento é um parâmetro de mais alta importância, que influi de 
maneira decisiva nas diversas propriedades da argamassa. Esta relação não apenas 
determina a plasticidade ou a fluidez da pasta de cimento no estado fresco, e portanto as 
características de consistência e trabalhabilidade da argamassa, mas afeta também, 
incisivamente, as propriedades da argamassa endurecida. As propriedades de resistência 
mecânica e de deformação da argamassa dependem de forma direta dessa relação (Figura 
1.2); entretanto, são as propriedades físicas e químicas da argamassa – intervenientes na 
durabilidade das construções – que merecem destaque especial na tecnologia da argamassa 
[HANAI, 1992]. 
Quanto a relação entre quantidades de cimento e de agregados, os parâmetros de 
diluição ou de concentração da pasta e da distribuição granulométrica do agregado diluente 
alteram as propriedades físicas, mecânicas e químicas das argamassas [BUCHER, 1983]. 
A análise das relações entre quantidades de água e cimento, e pasta e agregado 
permite estabelecer algumas considerações sobre as propriedades das argamassas. 
O agregado graúdo deve ser sempre de uma rocha muito mais resistente do que a 
pasta de água e cimento. O concreto deve sempre romper na pasta caso haja uma solicitação 
maior do que a projetada [TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990]. 
A Tabela 1.4 apresenta a evolução da trabalhabilidade e da resistência mecânica em 
função de certos fatores de composição do concreto. 
 32
 
Tabela 1.4. Evolução da trabalhabilidade e da resistência mecânica em função dos 
fatores de composição do concreto [TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990]. 
 
Fatores de Composição do 
Concreto 
Para Uma Boa 
Trabalhabilidade 
Para Uma Boa 
Resistência 
Finura da areia de preferência fina de preferência grossa 
Relação graúdo/areia a diminuir a aumentar 
Dosagem de água a aumentar até um certo ponto a diminuir 
Granulometria preferível contínua preferível levemente descontínua
Dimensão máxima dos grãos de preferência pequena de preferência grande 
 
1.4.2. Resistência Mecânica das Argamassas e dos Concretos 
 
Pode-se dizer que a resistência mecânica da argamassa, acaba sendo satisfatória na 
maioria dos casos, em conseqüência de cuidados que são tomados na garantia de outras 
qualidades importantes, como baixa permeabilidade e trabalhabilidade adequada. A 
resistência mecânica das argamassas usuais, isto é, aquelas com consumo de cimento entre 
520 e 800 kg/m3 e relação água/cimento entre 0.38 e 0.48, medida por meio de ensaio de 
compressão axial sobre corpos de prova cilíndricos de 50 mm de diâmetro e 100 mm de 
altura, varia entre 25 MPa e 50 MPa, considerada suficiente em grande parte dos casos 
práticos. Sabe-se que a resistência mecânica da argamassa depende fundamentalmente da 
relação água/cimento, das proporções entre cimento e agregados, das impurezas contidas no 
cimento e agregados, e das propriedades dos agregados: granulometria, forma, textura, 
resistência e dimensão máxima característica [HANAI, 1992]. 
A grande influência da relação água/cimento deve-se ao fato de que ela determina a 
porosidade da pasta de cimento endurecida; quanto menor a porosidade, maior a resistência 
da pasta e conseqüentemente da argamassa. 
 
 
 
 33
Quando o concreto é bem adensado, admite-se que a sua resistência é inversamente 
proporcional à relação água/cimento, de acordo com a “lei” estabelecida por Duff Abrams, 
em 1919, 
 
fc = K1__ (1.11) 
 K2
a/c 
 
onde fc representa a resistência do concreto, a/c, a relação água/cimento (originalmente em 
volume) e K1 e K2, constantes empíricas. O gráfico de Abrams está representado na Figura 
1.2 [NEVILLE, 1982]. 
A influência da relação água/cimento na resistência não se constitui, 
verdadeiramente, em uma “lei”, pois a regra da relação água/cimento não contém várias 
qualificações necessárias para a validade. Em particular, a resistência com qualquer relação 
água/cimento depende do grau de hidratação do cimento e das suas propriedades químicas e 
físicas, da temperatura à qual se processa a hidratação, do teor de ar do concreto e também 
da variação da relação água/cimento efetiva e da formação de fissuras devidas a exsudação. 
Portanto, é mais correto relacionar a resistência com a concentração de produtos sólidos da 
hidratação do cimento no espaço disponível para os mesmos. 
 
Figura 1.2. Gráfico de Abrams – resistência mecânica à compressão do concreto em 
função da relação água/cimento [ NEVILLE, 1982]. 
 
 34
Outra observação interessante é que os concretos e/ou argamassas com relação 
água/cimento mais baixa apresentam maior velocidade de endurecimento do que aqueles 
com relação água/cimento mais alta, já que as partículas de cimento ficam mais próximas e 
se estabelece mais rapidamente um sistema contínuo de formação do gel. Com relação ao 
grau de diluição da pasta de cimento, pode ocorrer que uma argamassa de relação 
água/cimento muito baixa e alto teor de cimento apresente um retrocesso de resistência. 
Possivelmente isso seria conseqüência de tensões induzidas pela retração, uma vez que a 
restrição oferecida pelos grãos do agregado causaria fissuração da pasta de cimento ou 
perda de aderência entre pasta e agregado [HANAI, 1992]. 
A relação de agregado/cimento tem influência sobre a resistência de todos os 
concretos/argamassa de resistência média e alta. Não há dúvida de que a relação 
agregado/cimento é apenas um fator secundário da resistência do concreto/argamassa, mas 
foi constatado que para uma mesma relação água/cimento os concretos/argamassas mais 
pobres tem resistência maior. No entanto, é provável que outros fatores também participem; 
por exemplo, o teor total de água por metro cúbico de concreto é menor em uma mistura 
pobre do que em uma rica. Como resultado, em uma mistura pobre os vazios ocupam uma 
fração menor de volume do concreto e são esses vazios que tem um efeito prejudicial sobre 
a resistência [NEVILLE, 1982]. 
 A permeabilidade das argamassas e dos concretos é uma propriedade extremamente 
importante, uma vez que reflete a capacidade do material facilitar a penetração de líquidose gases nocivos no seu interior. A permeabilidade desses materiais depende da porosidade 
dos agregados e da pasta de cimento endurecida. De modo geral, a porosidade dos grãos 
dos agregados naturais sãos e compactados é extremamente baixa, dependendo a 
permeabilidade, portanto, das características da pasta endurecida de cimento [BUCHER, 
1983]. 
A existência de uma maior quantidade de pasta nas argamassas empregadas em 
argamassa armada poderia induzir à conclusão de que elas seriam mais permeáveis. 
Contudo, deve-se salientar que, com emprego de baixo fator água/cimento, a porosidade 
capilar da pasta de cimento endurecida é bastante reduzida, conferindo assim à argamassa a 
qualidade de material “impermeável”, uma virtude sempre citada em relatos diversos 
[HANAI, 1992]. 
 35
A Figura 1.3 apresenta a relação entre a permeabilidade e relação água/cimento de 
pastas endurecidas (93% de cimento hidratado). Com relação água/cimento da ordem de 
0.40, a permeabilidade na pasta de cimento é praticamente nula. A partir de 0.45, já começa 
a crescer até atingir valores muito altos, com relação água/cimento de cerca de 0.70 
[NEVILLE, 1982]. 
A permeabilidade da pasta de cimento diminui à medida que se processa a 
hidratação, pois a redução do coeficiente de permeabilidade é tanto maior quanto menor for 
a relação água/cimento da pasta [NEVILLE, 1982]. 
A baixa permeabilidade a líquidos e gases é uma das mais importantes propriedades 
da argamassa, a se conseguir geralmente com baixa relação água/cimento, consumo mais 
elevado de cimento, granulometria adequada de agregado, bom adensamento e cura 
adequada. 
 
 
Figura 1.3. Relação entre permeabilidade e relação água/cimento de pastas 
endurecidas [NEVILLE, 1982]. 
 
 
 
 
 
 
 36
1.4.3. Reações que Podem Ocorrer Durante a Cura ou o Envelhecimento da 
Argamassa/Concreto 
 
1.4.3.1. Reação Álcali-Agregado 
 
 A reação álcali-agregado (RAA) afeta a durabilidade de uma argamassa/concreto. A 
deterioração causada pela RAA consiste na expansão provocada por um gel formado 
através da reação química entre os álcalis de sódio (Na) e de potássio (K), existentes no 
cimento Portland, e os minerais reativos presentes no agregado. Este gel, ao absorver água 
exerce pressões hidráulicas produzindo expansões elevadas, causando fissurações que com 
o tempo interferem negativamente na durabilidade das argamassas e das estruturas de 
concreto, com conseqüente redução da resistência à tração e compressão [VIVIAN, 1951]. 
 
1.4.3.2. Reação Álcali-Sílica 
 
 É definida como a reação que envolve a presença de sílica amorfa, assim como 
certos tipos de vidros naturais (vulcânicos) e artificiais. Foi inicialmente observada na 
Califórnia em 1940 por Stanton, sendo depois reconhecida em diversos países. 
 A deterioração do concreto ou argamassa pela reação álcali-sílica é devida a alta 
concentração de álcalis na solução dos poros da argamassa/concreto, que resulta em uma 
elevação do pH a níveis que tornam a solução altamente agressiva, susceptíveis a reagir 
com a sílica amorfa das rochas usadas como agregado. É importante ressaltar que não são 
os álcalis que reagem, e sim os íons hidroxilas provenientes da dissociação dos hidróxidos 
alcalinos [VIVIAN, 1951]. 
 O mecanismo da reação álcali-sílica pode ser dividido em dois passos: 
 
 sílica + álcalis → gel (1.12a) 
 
 gel + H2O → expansão (1.12b) 
 
 37
 Trata-se de uma reação onde o grupo silanol (Si – OH) é neutralizado pela solução 
alcalina de Na formando um gel de silicato alcalino conforme as seguinte equações: 
 
 Si – OH + OH- → Si – O- + H2O (1.13a) 
 
 Si – O- + Na+ → Si – Ona (1.13b) 
 
1.4.3.3. Reação Álcali-Silicato 
 
 O princípio da reação álcali-silicato é similar ao da álcali-sílica, porém o processo 
ocorre mais lentamente devido a quantidade de minerais reativos disseminados na matriz 
(silicatos eventualmente presentes nos feldspatos, folhelhos argilosos e rochas sedimentares 
como as grauvacas metamórficas, quartzitos, magmáticas e os granitos) e principalmente a 
presença de quartzo deformado e minerais expansivos da classe dos filossilicatos como as 
esmectitas [VAN AARDT e VISSER, 1977]. 
 VAN AARDT e VISSER [VAN AARDT e VISSER, 1977] observaram que 
feldspatos, folhelhos argilosos e determinadas rochas ígneas a temperatura de 95oC, reagem 
com hidróxido de cálcio produzindo silicatos hidratados de cálcio e álcalis. A temperatura 
de 39oC, os feldspatos alcalinos produzem aluminatos tetracálcicos hidratados e álcalis. A 
quantidade de álcalis liberada depende da composição dos feldspatos em relação ao cálcio, 
sódio e potássio. 
 A teoria que explica como os feldspatos podem ser um material reativo, tem como 
sustentação o fato de que nas primeiras idades do concreto ou argamassa desenvolve-se 
uma camada de aderência em torno do agregado formada de silicatos de cálcio hidratados e 
hidróxido de cálcio. Com o tempo, em condições de umidade o hidróxido de cálcio reage 
com o feldspato liberando álcalis sob a forma de KOH e NaOH e/ou silicatos de sódio e 
potássio, sendo este último sob a forma de gel e parcialmente solúvel em água. Quando os 
álcalis atingirem uma certa concentração, os silicatos de cálcio (camada de aderência) 
tenderão a se dissolver em silicatos de sódio e potássio formando um gel contendo cálcio, 
potássio, sódio e sílica em sua vizinhança. Este gel constitui um mau elemento de ligação, 
 38
especialmente se considerarmos que está sujeito a contrações e dilatações conforme perda 
ou ganho de água [VAN AARDT e VISSER, 1977]. 
 
1.4.3.4. Reação Álcali-Carbonato 
 
 A reação álcali-carbonato ocorre entre alguns calcários dolomíticos e soluções 
alcalinas presentes nos poros do concreto ou argamassa, causando expansões e intensas 
fissurações. Não há formação de gel alcalino como produto desta reação. Um mecanismo 
bastante aceito é que este tipo de reação está fundamentado na reação de deslomitização 
com formação de hidróxido de magnésio (brucita) e regeneração do hidróxido alcalino, 
conforme as seguintes equações [VAN AARDT e VISSER, 1977]: 
 
Formação da brucita: CaMg(CO3)2 + 2NaOH → Mg(OH)2 + CaCO3 + Na2CO3 (1.14) 
 
Regeneração dos álcalis: Na2CO3 + Ca(OH)2 → 2NaOH + CaCO3 (1.15) 
 
 Como conseqüência tem-se o enfraquecimento da ligação entre a pasta de cimento e 
o agregado e a presença de microfissurações. 
 
1.4.3.5. Carbonatação 
 
A palavra carbonatação em seu sentido mais amplo significa converter em 
carbonato, ou seja, transformar qualquer sal proveniente da reação de neutralização em que 
participe o ácido carbônico (H2CO3). 
O ácido carbônico nada mais é do que a dissolução em água do dióxido de carbono 
(CO2) presente na atmosfera e, de modo geral, proveniente da queima de combustíveis 
fósseis, de queimadas, da respiração animal ou de algumas reações químicas envolvidas no 
processo de putrefação de matéria orgânica. 
Em engenharia civil a carbonatação significa a neutralização do hidróxido de cálcio 
[Ca(OH)2] liberado como subproduto ao longo do processo de hidratação do C3S (silicato 
tricálcico) e do C2S (silicato bicálcico) do cimento Portland [REVISTA TÉCHNE, 1994]: 
 39
 
Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O (1.16) 
 
A equação (1.17) caracteriza a formação do ácido carbônico. Como essa reação só 
ocorre em presença de água, em um ambiente de baixa umidade relativa, a carbonatação 
apenas se verificará em níveis muito baixos. Paralelamente, considerando um concreto 
saturado, a dificuldade de difusão do CO2 reduz a reação a níveis desprezíveis. 
A equação (1.18) tem como produto uma fase instável representada pelo 
bicarbonato de cálcio. A equação (1.19) apresenta a forma estável do carbonato de cálcio 
com liberação de água [REVISTA TÉCHNE, 1994]: 
 
CO2 + H2O → H2CO3 (1.17) 
 
2H2CO3 + Ca(OH)2 → Ca(HCO3)2 + 2H2O (1.18)Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 → 2CaCO3 + 2H2O (1.19) 
 
 Esta reação apresentada na equação (1.18) depende, entre outros fatores, tanto da 
argamassa/concreto como do meio ambiente. Quanto ao ambiente, são condições básicas 
para a reação a presença de dióxido de carbono no ar e de umidade, a fim de que possa 
formar-se ácido carbônico dissolvente da cal. O processo ocorre em duas etapas. Uma 
eminentemente química caracterizada pelo ataque do ácido carbônico aos cristais instáveis 
de hidróxido de cálcio, considerada a etapa “molhada”, já que é fundamental a penetração 
da umidade no concreto ou argamassa. A outra, a etapa seca, envolve o transporte da água 
saturada com o hidróxido de cálcio dissolvido até zonas de menor pressão, podendo ser 
estas poros ou capilares de maiores dimensões ou até a superfície da peça, onde a 
evaporação da água permite a precipitação do carbonato de cálcio. 
Quanto à argamassa, é fundamental vincular a porosidade e conseqüente 
permeabilidade com a intensidade da carbonatação. Assim, tem-se que a variável mais 
importante do processo é o fator água/cimento (a/c), desde que se comparem traços 
semelhantes. A alteração do traço, para um mesmo fator a/c, pode alterar as condições de 
 40
retenção de água da mistura, estabelecendo processos diferenciados com a possibilidade de 
formação de uma rede capilar mais efetiva no estabelecimento da permeabilidade do 
material. Outros fatores podem ser citados como intervenientes indiretos no processo, tais 
como grau de adensamento, nível de hidratação do cimento e eficiência da cura, já que sua 
ação direta se verifica na permeabilidade da argamassa/concreto [REVISTA TÉCHNE, 
1994]. 
A exsudação, sendo um tipo especial de segregação, é a separação da água de 
amassamento que aflora à superfície da argamassa/concreto. É um fenômeno que pode 
diminuir a durabilidade e a aderência entre camadas da argamassa/concreto. A exsudação 
não é prejudicial quando não causa mudança na estrutura do concreto ou argamassa, sendo 
nesse caso, benéfica [SILVA, 1991]. 
 A carbonatação provoca uma redução do pH da argamassa/concreto pela 
neutralização de uma base forte de pH entre 12 e 13, o hidróxido de cálcio. O efeito 
químico direto da carbonatação é a redução do pH da mistura, com conseqüências que 
podem determinar a diminuição da vida útil do concreto/argamassa. 
Os cristais formados na hidratação do cimento Portland apresentam estabilidade 
química em ambiente alcalino; a alteração do ambiente em níveis intensos pode determinar 
a destruição destas ligações. O fenômeno é identificável quando um concreto é submetido à 
ação de ácidos em geral. 
O ácido carbônico é um ácido fraco, atuando sobre o hidróxido de cálcio de forma 
sensível mas sendo quase inofensivo ao carbonato de cálcio, o que explica quimicamente a 
tendência decrescente da intensidade da carbonatação ao longo do tempo. 
Fisicamente, o efeito do fenômeno consiste na obturação de poros e canais pelo 
revestimento da sua superfície interna, ou pela sua obturação completa a partir da deposição 
do carbonato de cálcio neoformado. Dessa maneira, a própria carbonatação consiste em 
uma barreira eficaz contra si mesma, a menos que esta barreira venha a ser rompida por um 
ácido de ação mais intensa, já que tende a colmatar os poros do concreto/argamassa, desde 
que não tenha sido produzido com fator a/c demasiadamente alto [REVISTA TÉCHNE, 
1994]. 
Admite-se que o concreto/argamassa protege adequadamente as armaduras de 
reforço, através de uma ação física representada pelo cobrimento propriamente dito, e de 
 41
um efeito químico obtido da reação do hidróxido de cálcio com a camada superficial de 
óxido sempre presente nas barras de aço, sendo este o efeito mais importante da 
carbonatação. 
A reação típica do fenômeno pode ser apresentada como: 
 
 2Fe(OH)3 + Ca + (OH)2 → CaO.Fe2O3 + 4H2O (1.20) 
 
 O produto dessa reação pode ser entendido como um óxido de ferro e cálcio. A 
camada desse óxido de ferro e cálcio em uma armadura revestida também é chamada de 
capa passivadora ou passivada, subentendendo-se como imune à corrosão. A estabilidade 
química dessa capa passivadora depende de um ambiente alcalino caracterizado por um pH 
entre 10,5 e 13. A neutralização apresentada pela carbonatação pode reduzir o pH do meio 
a valores inferiores a 9, instabilizando a capa passivadora e vulnerabilizando a armadura à 
instalação de um processo degenerativo de corrosão. Tendo em mente o violento e 
relativamente rápido processo de corrosão das armaduras, é possível relacionar diretamente 
esse fenômeno com a carbonatação, e esta com a durabilidade das estruturas de concreto 
armado [REVISTA TÉCHNE, 1994]. 
 Já que a carbonatação é um processo inerente aos concretos e argamassas, sua 
ocorrência pode sugerir o envelhecimento do material, sendo necessário saber conviver 
com esse fato inevitável. O ataque por ácidos fortes determina não só a lixiviação do 
hidróxido de cálcio como também do carbonato de cálcio, reduzindo drasticamente o pH da 
argamassa/concreto, despassivando a armadura e instabilizando os produtos da hidratação 
do cimento Portland. 
A argamassa/concreto não resiste à ação de ácidos fortes; ácidos fracos tendem a 
deteriorar o concreto/argamassa a longo prazo; o ácido carbônico é uma exceção em função 
do produto salino formado. É de responsabilidade também da carbonatação o aumento da 
dureza superficial do concreto/argamassa, fato benéfico a concretos/argamassas sujeitos à 
abrasão, além de sua maior proteção contra a ação de sulfatos [REVISTA TÉCHNE, 1994]. 
 
 
 
 42
Capítulo 2 
Resíduos Sólidos Industriais Utilizados em 
Argamassas/Concretos 
 
Introdução 
 
 A legislação ambiental brasileira apresenta vários métodos de destinação final para 
resíduos, cabendo ao gerador escolher o mais adequado ambientalmente e economicamente 
ao seu processo. Os principais métodos de destinação final são: aterro industrial, 
landfarming, compostagem, incineração (grade fixa, grade móvel ou vibratória, tambor 
rotativo, injeção líquida e leito fluidizado), pirólise, coprocessamento, desidratação e 
técnicas de estabilização de resíduos (encapsulamento) [Núcleo de Meio Ambiente ACIJ, 
2002]. A destinação mais adequada depende do tipo de resíduo. A norma brasileira 
NBR10004 da ABNT classifica os resíduos em: 
 
• resíduos classe I - perigosos: são aqueles que apresentam periculosidade 
(risco à saúde pública e/ou riscos ao meio ambiente), ou uma das seguintes 
características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade ou 
patogenicidade. 
 
• resíduos classe II – não inertes: são aqueles que não se enquadram nas 
classificações de resíduos classe I – perigosos ou de resíduos classe III – 
inertes. Os resíduos classe II – não-inertes podem ter propriedades, tais 
como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. 
 
• resíduos classe III – inertes: quaisquer resíduos que, quando amostrados de 
forma representativa, segundo a NBR 10007, e submetidos a um contato 
estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, à temperatura 
ambiente, conforme teste de solubilização, segundo a NBR 10006, não 
 43
tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações 
superiores aos padrões de potabilidade de água, conforme listagem no 8 da 
NBR10004, excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor. 
 
Na prática a legislação ambiental fez com que muitas empresas investissem em 
tecnologias mais limpas, ou seja, em processos produtivos que geram menos resíduos. 
Contudo, grandes volumes de resíduos sólidos são gerados e atualmente preocupam os 
empresários devido principalmente a dois fatores: 
 
• custo relativamente elevado para a gestão e a destinação atual dos resíduos; 
 
• responsabilidade ambiental. 
 
Com isso, várias indústrias, principalmente as mais importantes e as mais bem 
administradas,de diversos setores industriais, passaram procurar soluções alternativas. 
Hoje, várias empresas estão percebendo que certos resíduos sólidos industriais 
podem ser utilizados como matéria-prima para a fabricação de materiais usados na 
construção civil. Alguns desses materiais já estão sendo usados na prática, outros estão 
sendo estudados através de projetos de pesquisa, principalmente com indústrias de grandes 
setores industriais. A Tabela 2.1 mostra alguns desses setores e seus principais resíduos que 
estão sendo usados para a fabricação de argamassa ou concreto e que serão apresentados a 
seguir de acordo com o estudo bibliográfico realizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 44
Tabela 2.1. Tipos de resíduos resultantes de processos industriais. 
 
Indústria Tipos de Resíduos 
Papel e Celulose Cinza Preta, Grits, Dregs e Fibras 
Termelétricas Cinzas Volantes e Cinzas Pesadas 
Alimentícia Casca de Arroz 
Metalúrgica Areia de Fundição, Escória de Cobre, Escória 
de Aciaria Elétrica e Escória de Alto-forno 
Têxtil Lodo Têxtil 
 
2.1. Resíduos Provenientes da Indústria de Papel e Celulose 
 
Uma indústria de papel e celulose de grande porte pode gerar cerca de 5000 m3 de 
resíduos sólidos por mês. Estes resíduos são, de um modo geral, de classe II e III conforme 
classificação da NBR 10004. Eles podem ser considerados como resíduos valorizáveis, ou 
seja, resíduos que podem ser utilizados como fonte de energia ou como matéria prima para 
a elaboração de outros materiais [BRESCANSIN, 2000]. 
No que concerne a utilização dos resíduos da indústria de papel e celulose como 
fonte de matéria prima, trabalhos recentes [MASUERO e col., 1998; MOURA e col., 1998; 
TELES e CAMARGO, 1999; WATANABE e col., 1998; BRESCANSIN, 2000; 
GEMELLI e col., 2001; CRUZ e col., 2001] mostraram que eles podem ser utilizados para 
a produção de argamassa para aplicação na construção civil. 
No que se refere aos resíduos sólidos gerados pela indústria de papel e celulose 
Klabin S.A. de Santa Catarina, pesquisadores da UDESC [TELES e CAMARGO, 1999] 
selecionaram quatro resíduos sólidos para estudo, denominados fibras, dregs, cinza preta e 
grits. Estes resíduos foram utilizados na elaboração de argamassas em substituição ao 
cimento (caso da cinza preta e dregs) ou em substituição ao agregado fino (caso das fibras e 
grits) [TELES e CAMARGO, 1999; BRESCANSIN, 2000; GEMELLI e col., 2001]. A 
Tabela 2.2 apresenta um resumo das misturas usadas na preparação das argamassas. 
 
 45
Tabela 2.2. Quantidade de materiais utilizados na produção das argamassas [TELES 
e CAMARGO, 1999]. 
 
Argamassa Cimento 
CPI-S-32 (g) 
Agregado 
Fino (g) 
Cinza Preta 
(g) 
Grits 
(g) 
Dregs 
(g) 
Fibras 
 (g) 
Água 
(ml) 
Fator 
A/C 
Ref. (Rs) 624 1872 0 0 300 0,48 
(A) 592,8 1872 27 0 300 0,49 
(B) 561,6 1872 54 0 300 0,48 
(C) 624 1779 0 49 300 0,49 
(D) 624 1686 0 98 300 0,49 
(E) 624 1593 0 147 300 0,49 
(F) 624 1500 0 196 300 0,49 
(G) 592,8 1872 0 16,34 0 300 0,49 
(H) 624 1779 0 0 28,25 300 0,48 
(I) 592,8 1779 0 16,34 28,25 300 0,49 
(J) 592,8 1872 27 0 0 300 0,49 
 Cimento 
CPII-Z-32 (g)
 
Ref. (Rz) 624 1872 0 0 300 0,48 
(K) 561,6 1872 54 0 300 0,48 
(L) 624 1686 0 98 300 0,49 
 
Os corpos de prova obtidos com os traços da Tabela 2.2 foram submetidos ao ensaio 
mecânico de compressão logo após a cura em tanque com água alcalina. Os resultados 
obtidos dos ensaios mecânicos estão representados nas Tabelas 2.3 a 2.5, para cada traço 
utilizado. O tempo de cura dos corpos de prova produzidos com cimento CPI-S 32 foi de 7 
e 28 dias e dos corpos de prova produzidos com cimento CPII-Z 32 foi de 28 dias. A 
Tabela 2.4 mostra os ensaios comparativos de resistência mecânica dos diferentes resíduos. 
O melhor resultado foi obtido com o resíduo cinza preta. Os outros resíduos tiveram um 
desempenho inferior mas conservaram um valor de resistência mecânica que permite a sua 
utilização na construção civil. Pode-se observar que o tempo de cura influencia na 
resistência dos materiais elaborados. Os resultados obtidos com tempo de cura de 7 dias 
(Tabela. 2.3) correspondem a cerca de 50 a 60 % dos valores obtidos com tempo de cura de 
28 dias (Tabela 2.4). 
Outro fato importante observado é a diferença de resistência entre um cimento e 
outro. A argamassa sem resíduo obtida com cimento CPII-Z-32 apresenta baixa resistência 
(~ 5 MPa) quando comparada com a argamassa obtida com cimento CPI-S-32 (~ 21 MPa). 
Em resumo, o resíduo cinza preta e o grits se destacam dentre os demais, no que 
concerne a resistência mecânica axial da argamassa, como materiais de substituição parcial 
do cimento e do agregado fino, respectivamente. A incorporação destes resíduos na 
argamassa com cimento CPII-Z-32 praticamente não altera a resistência à compressão 
(Tabela 2.5). 
 46
 
Tabela 2.3. Resistência média dos corpos de prova produzidos com Cimento Portland 
Comum (CPI-S-32) após cura de 7 dias [BRESCANSIN, 2000]. 
 
Corpos de prova Tensão média de ruptura à 
compressão axial (MPa) 
Desvio Padrão (MPa) 
Matriz (Rs) 12,38 2,55 
Cimento + 5% cinza (A) 8,68 4,23 
Cimento + 10% cinza (B) 6,50 3,22 
Cimento + 5% grits (C) 7,50 5,12 
Cimento + 10% grits (D) 10,00 3,78 
Cimento + 15% grits (E) 9,53 2,89 
Cimento + 20% grits (F) 8,94 3,21 
 
Atualmente, os resíduos fibras e dregs, compostos majoritariamente de matéria 
orgânica, são queimados juntamente com a biomassa primária. Eles são então parcialmente 
eliminados sendo que o resíduo não volante da queima é o que está sendo chamado de cinza 
preta. Portanto, as amostras obtidas com os resíduos cinza preta e grits foram analisadas 
mais em detalhes pelos autores [BRESCANSIN, 2000; GEMELLI e col., 2001]. 
 
Tabela 2.4. Resistência média dos corpos de prova produzidos com Cimento 
Portland comum (CPI-S-32) após cura de 28 dias [BRESCANSIN, 2000]. 
 
Corpos de Prova Tensão Média de Ruptura 
à Compressão Axial (MPa)
Desvio Padrão 
(MPa) 
Cimento 21,28 2,36 
Cimento + 5% Fibras 14,45 1,76 
Cimento + 5% Dregs 16,94 2,05 
Cimento + 5% Fibras + 5% Dregs 15,90 1,72 
Cimento + 5% Cinza Preta 20,36 2,39 
 
 
 
 
 47
Tabela 2.5. Resistência média dos corpos de prova produzidos com Cimento Portland 
Comum (CPII-Z-32) após cura de 28 dias [BRESCANSIN, 2000]. 
 
Corpos de Prova Tensão Média de Ruptura 
à Compressão Axial (MPa)
Desvio Padrão 
(MPa) 
Matriz (Rz) 4,86 1,38 
Cimento + 10% cinza (K) 5,23 1,87 
Cimento + 10% grits (L) 5,32 1,67 
 
As observações metalográficas realizadas põem em evidência a diferença entre os 
dois cimentos. Através das Figuras 2.1 e 2.2 fica evidente que o cimento CPII-Z-32 
apresenta na sua composição uma grande quantidade de impurezas, quando comparado com 
o cimento CPI-S-32. Estas impurezas são constituídas principalmente de cinzas inertes no 
cimento, representadas pelas partículas mais finas da Figura 2.1. Esta grande quantidade de 
cinza é a principal responsável pela baixa resistência mecânica da argamassa. 
Constatou-se na morfologia do pó cerâmico cinza preta a presença de uma dispersão 
do tamanho e forma das partículas, conforme mostrado na Fig. 2.3. Observando a 
morfologia do cimento Portland e do pó cerâmico cinza preta, notou-se que as partículas do 
pó cerâmico cinza preta são inferiores, em tamanho, às partículas do cimento. Isto indica 
que o tempo de moagem da cinza preta foi muito longo, ou seja, que não existe a 
necessidade da moagem da cinza preta por 24 horas. Pode-se então reduzir o tempo de 
moagem para obter uma morfologia mais próxima do cimento. 
O resíduo grits, utilizado como agregado fino em substituição à areia convencional, 
apresentou uma morfologia bem distinta. Em forma de grânulos (d < 500 µm), eles são 
constituídos de grânulos aglomerados de carbonato de cálcio e sílica conforme mostra a 
Figura 2.4. 
O estudo de caracterização da morfologia da areia permitiu identificar que esta é 
formada

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