Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 5 Avaliação e Controle da Exposição ao Calor eHO 104/2020 CAPÍTULO 5. AVALIAÇÃO E CONTROLE DA EXPOSIÇÃO AO CALOR Prof. SÉRGIO MÉDICI DE ESTON Prof. JOAQUIM GOMES PEREIRA OBJETIVOS DO ESTUDO Neste capítulo serão discutidos os efeitos de altas temperaturas no ser humano. Calor e umidade nos locais de trabalho podem gerar efeitos indesejáveis como eficiência mais baixa, aumento do descaso com consequente geração de acidentes e condução a doenças e fatalidades. Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a: • Listar os fatores componentes da carga térmica; • Diferenciar entre carga térmica e esforço termocorporal; • Explicar os principais efeitos do calor no trabalhador; • Utilizar os limites de tolerância relativos a cargas térmicas ; • Avaliar se uma dada operação oferece uma exposição dentro dos limites legais admitidos; e • Apresentar algumas medidas mitigadoras com relação ao conforto termocorporal. INTRODUÇÃO Grande parte dos ambientes de trabalho oferecem condições propícias para a sobrecarga térmica, que pode provocar reações fisiológicas como: sudorese intensa, aumento da frequência das pulsações e o aumento da temperatura interna do corpo, que por sua vez, acabam provocando no trabalhador fadiga, diminuição da percepção e do raciocínio e perturbações psicológicas que o levam ao esgotamento. Esta sobrecarga térmica com o tempo pode provocar danos à saúde do trabalhador, com reflexos no sistema circulatório e endócrino. Os processos de trabalho como siderurgia, metalurgia, fundições, vidraria e outros aliados ao arranjo físico deficiente, pé direito muito baixo e ausência de elementos para a ventilação natural ou artificial, tornam os ambientes de trabalho inadequados sob o ponto de vista de calor, tornando necessária a adoção de medidas de controle, algumas bastante simples outras mais complexas, que exigem o conhecimento das características do ambiente de trabalho para a sua execução. Com a finalidade de se determinar os limites aceitáveis dessas exposições, utilizam-se diversos índices de sobrecarga térmica e dentre eles, o mais utilizado é o IBUTG, que por sua simplicidade, foi adotado pela nossa legislação. MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS A sobrecarga térmica no organismo humano, é resultante de dois tipos de carga térmica: uma carga externa (ambiental) e outra interna (metabólica). A carga externa é resultante de trocas por Condução/Convecção e Radiação e a carga metabólica é resultante do metabolismo basal e da atividade física. • CONDUÇÃO: Troca térmica entre dois corpos em contato, geralmente sólidos. No organismo essas trocas são muito pequenas, geralmente por contato com o corpo com ferramentas e superfícies. • CONVECÇÃO: Troca térmica realizada geralmente entre dois fluidos por diferença de densidade provocada pelo aumento da temperatura. Geralmente utilizamos a expressão condução/ convecção para esse tipo de troca. • RADIAÇÃO: Através da emissão de radiação infravermelha, os corpos de maior temperatura tendem a perder calor para corpos de menor temperatura numa tentativa de equilíbrio. As trocas por radiação, correspondem a 60% das trocas totais. • EVAPORAÇÃO: É a troca de calor produzida pela evaporação do suor, através da pele. Quando um líquido passa para o estado gasoso, ganha energia interna (a entalpia de vaporização da água é de 590 Cal/grama), assim sendo, absorve o calor da pele resfriando-a. Essa troca térmica é ainda facilitada pois nesse momento, está acontecendo a vasodilatação periférica. O mecanismo da evaporação é o único meio de perda de calor para o ambiente, quando a temperatura está mais alta que a temperatura do corpo, pois nesse caso, o corpo ganharia calor por condução/convecção e por radiação. Pelo mecanismo de trocas térmicas, o organismo ganha ou perde calor para o meio ambiente segundo a equação do equilíbrio térmico: REAÇÕES DO ORGANISMO AO CALOR À medida que o calor ambiente aumenta, o organismo dispara certos mecanismos de troca térmica para manter a temperatura interna constante, sendo os principais mecanismos de defesa contra a sobrecarga térmica a Vasodilatação Periférica e a Sudorese. • VASODILATAÇÃO PERIFÉRICA: A vasodilatação periférica permite o aumento de circulação de sangue na superfície do corpo, aumentando a quantidade de calor, permitindo uma troca mais rápida para o meio ambiente. O fluxo sanguíneo transporta calor do núcleo do corpo para a periferia. Como o fluxo sanguíneo fica maior na periferia, em certas circunstancias pode haver dano em alguns órgãos internos por deficiência de irrigação sanguínea. • SUDORESE: A sudorese permite a perda de calor através da evaporação do suor. O número de glândulas ativadas pelo mecanismo termo-regulador, é proporcional ao desequilíbrio térmico existente. A quantidade de suor produzido pode em alguns instantes atingir o valor de dois litros por hora. A evaporação de um litro por hora permite uma perda de 590 kcal para o meio ambiente. Quadro 5.1 Quais as reações do organismo ao calor? GOLPE DE CALOR (HIPERTERMIA OU CHOQUE TÉRMICO) Quando o sistema termorregulador é afetado pela sobrecarga térmica, a temperatura interna aumenta continuamente, produzindo alteração da função cerebral, com perturbação do mecanismo de dissipação docalor, cessando a sudorese. Como os danos ás células nervosas são irreversíveis, é importante que os outros trabalhadores reconheçam imediatamente os sinais e sintomas do golpe de calor, para que o tratamento seja feito imediatamente. O golpe de calor produz sintomas como: colapsos, convulsões, delírios, alucinações e coma, sem aviso prévio, sendo parecido com convulsões epilépticas. Os sinais externos do golpe de calor são: pele quente, seca e arroxeada. A temperatura interna sobe a 40,5°C ou mais, podendo atingir 42 a 45°C no caso de convulsões ou coma. O golpe de calor é frequentemente fatal e no caso de sobrevivência ficam sempre algumas sequelas devido aos danos causados ao cérebro, rins e outros órgãos. Quando a fonte de calor for o sol, de sintomas e efeitos recebe o nome de insolação. O golpe de calor pode ocorrer durante a realização de tarefas físicas pesadas, em condições de calor extremo, quando não há aclimatização e quando existem certas enfermidades como o diabetes mellitus, enfermidades cardiovasculares e cutânea ou obesidade. O médico deve ser chamado imediatamente e enquanto não chega, o corpo do trabalhador deve ser resfriado em imersão em água com gelo e massagem da pele resfriada para ativar a circulação ou enrolando-o em uma toalha molhada com água ou com álcool e com sopro forte de um ventilador, seguido de massagem da pele resfriada. A etapa de resfriamento deve ser parada quando a temperatura corpórea atingir 39°C. SÍNCOPE PELO CALOR (EXAUSTÃO PELO CALOR) A síncope pelo calor resulta da tensão excessiva do sistema circulatório, com sintomas como: enjoo, palidez, pele coberta pelo suor e dores de cabeça. Quando a temperatura corpórea tende a subir, o organismo sofre uma vasodilatação periférica na tentativa de aumentar a quantidade de sangue nas áreas de troca, com isso há uma diminuição de fluxo sanguíneo nos órgãos vitais, podendo ocorrer uma deficiência de oxigênio nessas áreas, comprometendo particularmente o cérebro e o coração. Essa situação pode ser agravada quando há a necessidade de um fluxo maior de sangue nos músculos devido ao trabalho físico intenso. A recuperação é rápida e ocorre naturalmente se o trabalhador deitar-se durante a crise ou sentar-se com a cabeça baixa. A recuperação total é complementada por repouso em ambiente frio. PROSTRAÇÃO TÉRMICA POR DESIDRATAÇÃO A desidratação ocorre quando a quantidade de água ingerida é insuficiente para compensar a perda pela urina, sudação ou pelo ar exalado. Com a perda de 5 a 8% do peso corpóreo, ocorre a diminuição da eficiência do trabalho, sinais de desconforto, sede, irritabilidade e sonolência, além de pulso acelerado e temperatura elevada. Uma perda de 10% do peso corpóreo é incompatível com a atividade e com 15% pode ocorrer o choque térmico ou golpe pelo calor. O tratamento consiste em colocar o trabalhador em local frio, fazer a reposição hídrica e salina. Infelizmente temos dificuldades em perceber uma situação de desidratação, principalmente se estivermos em um clima seco e com alta velocidade do ar onde a evaporação do suor é mais rápida não sendo facilmente percebida. Nestas condições a desidratação poderá atingir níveis que comprometam o estado físico, a tolerância ao calor e a capacidade mental, produzindo perda da habilidade e um tempo de reação maior que o normal. PROSTRAÇÃO TÉRMICA PELO DECRÉSCIMO DO TEOR SALINO Se o sal ingerido for insuficiente para compensar as perdas por sudorese, podemos sofrer uma prostração térmica. As pessoas mais susceptíveis são as não aclimatizadas. A prostração térmica é caracterizada pelos sintomas: fadiga, tonturas, falta de apetite, náuseas, vômitos e cãibras musculares. As dores de cabeça, a constipação e a diarreia são bastante comuns, podendo ocorrer até a síncope pelo calor. CÃIBRAS DE CALOR Apresenta-se na forma de dores agudas nos músculos, em particular os abdominais, coxas e aqueles sobre os quais a demanda física foi intensa. Elas ocorrem por falta de cloreto de sódio perdido pela sudorese intensa, sem a devida reposição e/ou aclimatização. O tratamento consiste no descanso em local fresco, com a reposição salina através de soro fisiológico (solução a 1%). A reposição hídrica e salina deve ser feita porém com orientação e acompanhamento médico, a fim de evitar uma possível hipertensão por administração inadequada de cloreto de sódio. A administração de uma solução a 0,1% tem sido adotada em muitos ambientes fabris com bons resultados, não se excluindo o acompanhamento médico. ENFERMIDADES DAS GLÂNDULAS SUDORÍPARAS A exposição ao calor por um período prolongado e particularmente em clima muito úmido pode produzir alterações das glândulas sudoríparas que deixam de produzir o suor agravando o sistema de trocas térmicas, podendo levar os trabalhadores a intolerância ao calor. Esses trabalhadores deverão receber tratamento dermatológico e em alguns casos devem ser transferidos para tarefas onde não haja a necessidade de sudorese para a manutenção do equilíbrio térmico. EDEMA PELO CALOR Consiste no inchaço das extremidades, em particular os pés e tornozelos. Ocorre comumente em pessoas não aclimatizadas, sendo muito importante a manutenção do equilíbrio hídrico- salino. OUTROS EFEITOS À SAÚDE • Aumento da susceptibilidade a outras doenças (maior susceptibilidade às dermatoses e potencialização dos efeitos pela presença de outros agentes); • Diminuição do rendimento (pela sobrecarga do sistema cardiovascular, redução na atividade cerebral e do tempo de reação); • Catarata (exposição à radiação infravermelha provoca a degeneração do cristalino do olho, muito comum em pessoas idosas);• Efeitos nos órgãos solicitados pela sobrecarga térmica (Cardiovascular, Respiratório e Glândulas internas). ACLIMATIZAÇÃO A aclimatização é a adaptação do organismo a um ambiente quente. Quando um trabalhador se expõe ao calor intenso pela primeira vez, tem sua temperatura interna significativamente elevada, com um aumento do ritmo cardíaco e baixa sudorese, gerando um desconforto muito grande, com tonturas, náuseas, desmaios etc. A aclimatização ocorre através de três fenômenos: • Aumento da sudorese. • Diminuição da concentração de sódio no suor (4 g/l para 1,0 g/l) e a quantidade de sódio perdido por dia passa de 15 a 25 gramas para 3 a 5 gramas. • Diminuição da frequência cardíaca, através do aumento do volume cistólito devido ao aumento da eficiência do coração no bombeamento. A aclimatização é realizada através de diversas etapas: • O tempo de exposição a altas temperaturas deve ser limitado nas primeiras semanas, ficando no entanto exposto no mínimo duas horas por dia. • A climatização é iniciada após 4 a 6 dias e satisfatória após 2 a 3 semanas. • Os fenômenos circulatórios associados à aclimatização são mais lentos que o aumento da sudorese e a diminuição do sódio no suor. • O diagnóstico da aclimatização é feito com base na temperatura retal, no grau de sudorese e na frequência cardíaca. • À medida que a frequência cardíaca vai baixando próximo aos níveis que seriam obtidos se o esforço fosse feito em um ambiente neutro, conclui-se que o processo de aclimatização está sendo realizado. A especificidade da aclimatização ao calor é um conceito muito importante, pois o trabalhador estará aclimatizado para aquela carga de trabalho naquele ambiente. Se mudarmos o ambiente ou a carga de trabalho, podem ocorrer danos físicos. O afastamento do trabalho por uma semana pode fazer com que o trabalhador perca de 1/4 a 2/3 da aclimatização e após três semanas a perda será total. Quadro 5.2 O que é aclimatização e quais os fenômenos que a caracterizam? CONFORTO TÉRMICO O conforto térmico nos ambientes de trabalho dependem da Temperatura, Velocidade e Umidade Relativa do ar, além do metabolismo das tarefas a serem executadas. VELOCIDADE DO AR A movimentação do ar é muito importante para o conforto térmico, pois aumenta as trocas de calor bem como possibilita a retirada de ar quente e umidade e a insuflação de ar frio nos ambientes. Ela é medida através dos anemômetros que podem ser de dois tipos: a) Mecânicos: Formados por palhetas rotatórias e devido à sua baixa sensibilidade são utilizados somente para velocidades mais que 0,75 m/s. b) Termoanemômetros: São bem mais sensíveis e se prestam para medir velocidades muito baixas ou altas. São constituídos por duas espirais de níquel, que formam os ramos de uma ponte de Wheatstone, sendo uma delas aquecida. A velocidade do ar tem um efeito refrigerante sobre o fio aquecido, o que faz variar sua resistência, que é medida em uma escala proporcional à velocidade do ar. Existe ainda um outro equipamento que serve para medir a velocidade do ar, que é o catatermômetro, usado em sistemas de refrigeração. É um termômetro de álcool com um bulbo maior que o normal e possui um depósito na parte superior e duas marcas de referência em sua haste. Devido à sua alta sensibilidade, se presta para medir velocidades de 0,25 m/s ou menores. Muitas vezes torna-se necessário estimar a velocidade do ar, que pode ser feita da seguinte forma: UMIDADE RELATIVA DO AR A umidade relativa do ar é a relação em porcentagem da quantidade real de vapor de água que o ar contém e a quantidade que o ar poderia conter se estivesse saturado à mesma temperatura. A umidade relativa do ar é medida através de um psicrômetro, que é constituído por dois termômetros, um de bulbo seco e outro de bulbo úmido. Existem dois tipos de psicrômetro: a) Giratório: Através de movimentos giratórios, o ar entra em contato com os termômetros e evapora a água do bulbo úmido, numa relação inversamente proporcional à sua umidade relativa, resfriando o bulbo úmido. Com as duas temperaturas, entramos na carta psicrométrica e obtemos a umidade relativa. Quanto menor for a diferença entre as duas temperaturas, maior será a umidade relativa do ar. O psicrômetro é girado manualmente, numa velocidade constante de uma rotação por segundo, durante aproximadamente 1 minuto para atingir o ponto de equilíbrio. Existem tabelas, nas quais entramos com a temperatura de bulbo seco e com a diferença entre ela e a de bulbo úmido, obtendo a umidade relativa do ar. b) De aspiração: O ar é forçado a passar pelos dois bulbos, através de uma ventoinha mecânica ou elétrica. A Tabela 5.4 é utilizada para o cálculo da umidade relativa do ar a partir da temperatura do bulbo seco e de bulbo úmido. Tabela 5.4. Cálculo da umidade relativa do ar a partir da temperatura do bulbo seco e bulbo úmido Quadro 5.3 Quais os principais fatores que influenciam o conforto térmico nos ambientes de trabalho?ÍNDICES DE AVALIAÇÃO TÉRMICA Na avaliação das situações térmicas nos ambientes de trabalho existe um grande número de índices, no entanto os mais utilizados são: Os dois primeiros (TE e TEC) são chamados de Índice de Conforto Térmico, pois levam em consideração apenas as variáveis ambientais. Os outros índices: IST, TGU e IBUTG são chamados de Índices de Sobrecarga Térmica pois levam em consideração todos os fatores que interferem na situação de exposição ao calor (variáveis ambientais e características da atividade). TEMPERATURA EFETIVA (TE) A Temperatura Efetiva leva em consideração apenas as condições climáticas do ambiente como: Temperatura, Umidade e Velocidade do ar. Esse índice não é adequado para avaliações térmicas dos ambientes de trabalho, pois não leva em consideração o calor radiante e nem o metabolismo desenvolvido pelo trabalhador. Para a sua determinação, medimos: temperatura de bulbo seco, temperatura de bulbo úmido e velocidade do ar e entramos com esses valores em um nomograma que nos fornece a Temperatura Efetiva. Esse nomograma é constituído de uma escala vertical à esquerda, onde encontramos a temperatura de bulbo seco, na direita do nomograma, temos uma escala vertical com as temperaturas de bulbo úmido. Unindo esses dois valores, obtemos uma reta e na interseção desta reta com a curva de velocidade do ar, obtemos a Temperatura Efetiva. Exemplo: Em um ambiente de trabalho obtivemos os seguintes valores: Temp. de bulbo seco = 30ºC Temp. de bulbo úmido = 22ºC Velocidade do ar = 1,5 m/s Unindo o valor 30 da escala da esquerda (tbs) com o 22 da escala vertical da esquerda (tbu), obtemos uma reta que passa sobre uma figura central que fornece a temperatura efetiva em função da velocidade do ar, portanto onde a reta encontrar a curva de veloc. 1,5 m/s, obtemos a TE = 24ºC. Figura 5.2. Gráfico para o cálculo da temperatura efetiva ([T]= °C). ÍNDICE DE SOBRECARGA TÉRMICA (IST) DE BELDING E HATCH O Índice de Sobrecarga Térmica indica a porcentagem da Evaporação necessária em relação à Máxima Evaporação possível. Se o IST for maior que 100%, o ambiente é insalubre sofrendo o trabalhador uma sobrecarga térmica, pois o calor trocado por evaporação será maior que a máxima evaporação possível. No entanto se o IST é menor que 100% não significa que tudo esteja bem, pois para cada porcentagem da evaporação necessária sobre a máxima evaporação possível, indica uma situação de decréscimo no rendimento do trabalhador conforme a Tabela 8.5. A Evaporação Requerida é a quantidade de calor que o corpo deve dissipar através da evaporação do suor, a fim de manter o equilíbrio térmico, isto é a ausência de aumento significativo da temperatura corporal. Quando Ereq = Emax, significa que o IST = 100% isto é, a quantidade de calor que o corpo pode perder é igual à quantidade de calor que deve perder, para manter o equilíbrio térmico. É uma situação crítica, tolerada por 8 horas de trabalho somente por trabalhadores jovens, aclimatados e em excelente estado de saúde. O IST é difícil de ser calculado, no entanto, é muito útil para estudos sobre a exposição ao calor, em particular quando se projeta e avalia a eficiência das medidas de controle ambiental. ÍNDICE DE BULBO ÚMIDO - TERMÔMETRO DE GLOBO (IBUTG) O conforto térmico é avaliado também através de um índice chamado IBUTG (Índice de Bulbo Úmido - Termômetro de Globo). Esse índice deve ser medido através do conjunto chamado árvore dos termômetros, que é composto de três termômetros: Tbs - Termômetro de bulbo seco Tbn - Termômetro de bulbo úmido natural Tg - Termômetro de Globo. O IBUTG para ambientes internos sem carga solar é calculado a partir da medição de duas temperaturas: Tbn e Tg O Termômetro de Bulbo Úmido Natural possui uma manga de algodão imersa em água destilada, envolvendo o seu bulbo, tornando-o constantemente úmido e serve para avaliar a Umidade Relativa do ar, em conjunto com o termômetro de bulbo seco. O Termômetro de Globo é formado por uma esfera de cobre de 6", pintada de preto fosco, ficando o bulbo do termômetro no centro dessa esfera e serve para avaliar o Calor Radiante. O IBUTG leva ainda em consideração o tipo de atividade desenvolvida (LEVE, MODERADA e PESADA) A legislação prevê um regime de trabalho (Trabalho/Descanso) em função do valor do IBUTG e do tipo de atividade para duas situações: regime de trabalho intermitente com períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço e regime de trabalho intermitente com descanso em outro local. NORMA REGULAMENTADORA Nº.15 - ANEXO Nº. 3 Para utilização da norma, o procedimento realizado deverá ser o seguinte: Primeiro medimos e calculamos o IBUTG do ambiente de trabalho (se houver mais de uma situação térmica, o IBUTB deve ser medido e calculado em cada local) e o IBUTG do ambiente de descanso (sempre que houver pausa para descanso). Com esses valores, calculamos o IBUTG médio da atividade analisada, bem como o metabolismo médio (Tabela 5.7) e entramos na tabela 8.6 para verificar se os limites foram atendidos ou não. Tabela 5.6. Limite de exposição ocupacional ao calor (NR-15 – ANEXO Nº 3 QUADRO Nº 1) Tabela 5.7 Taxa metabólica por tipo de atividade (NR-15 – ANEXO Nº 3 QUADRO Nº 2 – reproduzida parcialmente) A medição deve seguir como base a metodologia apresentada na Norma de Higiene Ocupacional NHO-06 da FUNDACENTRO. Esta norma determina que o intervalo de medição deve ser de 1 hora, sempre identificando o momento (de 1 hora) em que a situação de exposição é a pior, seja devido ao gasto metabólico (atividade muito pesada) ou devido a situação térmica excessiva, ou uma combinação dos dois fatores. TEMPERATURA DE GLOBO ÚMIDO (TGU)A temperatura de globo úmido é obtida através do termômetro de globo úmido ou de Botsball, que é um termômetro de globo revestido com um tecido preto, constantemente umedecido, levando em consideração a velocidade do ar, sua umidade relativa e o calor radiante ambiente. Possui uma haste formada por dois tubos concêntricos de alumínio, passando pelo tubo central, o termômetro; e o externo serve de reservatório de alimentação de água para embeber o tecido do globo. Na extremidade superior da haste, está colocado o mostrador do termômetro. É recomendado para avaliação de calor em câmaras hiperbáricas e em tubulões, onde a temperatura de globo úmido não deve ser superior a 27ºC. Os fabricantes fornecem tabelas de limites de tolerância para a temperatura de globo úmido, bem como correlações entre o IBUTG e o TGU. Uma das correlações sugeridas é a seguinte: LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA O TRABALHO EM AMBIENTES QUENTES Na tabela a seguir veremos os limites de tolerância para o trabalho em ambientes quentes, em função da carga metabólica e da relação entre o tempo de trabalho e descanso, utilizando os índices: IBUTG e TGU (Botsball), em (ºC) Quadro 5.4 Quais os índices de avaliação térmica mais utilizados na avaliação das situações térmicas nos ambientes de trabalho? MEDIDAS DE CONTROLE (SOBRECARGA TÉRMICA) MEDIDAS RELATIVAS AO AMBIENTE Ventilação • Introdução de ar fresco e eliminação do ar quente e umidade. • Aumento da velocidade de troca de calor pela evaporação. • Aumento da perda de calor por condução/convecção (Tar<35). Barreiras Refletoras • Quando o calor radiante for significativo. Mecanização dos Processos • A mecanização dos processos além de permitir que o trabalhador fique longe das fontes, diminuem o ganho de calor metabólico. Áreas de Descanso • Os locais de descanso devem ser adequados para a recuperação térmica, conforme o IBUTG e o Grau de Atividade. MEDIDAS RELATIVAS AO TRABALHADOR Exames Médicos • Admissionais com atenção aos sistemas cardio-vascular, endócrino, renal e respiratório. • Periódicos para avaliação da resposta do trabalhador aos ambientes quentes. Aclimatização • O tempo depende do tipo de atividade. Equipamento de Proteção Individual • Quando o tempo de exposição for curto, ou quando a Medida de Proteção Coletiva estiver sendo implantada ou for insuficiente. Reposição Hídrica e Salina • Sob orientação médica. Quadro 5.5 Um operador de forno demora 2 minutos para carregar o forno, a seguir aguarda o aquecimento por 4 minutos, fazendo anotações em um local distante do forno, para depois descarregá-lo durante 4 minutos. Verificar qual o regime de trabalho/descanso. Nesse caso temos duas situações térmicas diferentes, uma na boca do forno e outra na sala de descanso (as duas sem carga solar). Temos, portanto que fazer as medições nos dois lugares. TESTES 1. Qual desses mecanismos de trocas térmicas corresponde à maior parte das trocas totais? a) Radiação. b) Convecção. c) Condução. d) Evaporação. e) N.d.a. 2. Qual dessas doenças pode causar convulsões ou coma em seu estágio crítico, devido ao aumento de temperatura do corpo? a) Síncope do calor. b) Cãibras de calor. c) Golpe de calor. d) Prostração hídrica devido ao calor. e) Edema do calor. 3. Quais desses fatores não dificultam a aclimatização? a) Desnutrição. b) Obesidade. c) Força aeróbica baixa. d) Sexo feminino. e) Todas alternativas acima dificultam. 4. Qual desses índices é chamado de Índice de Conforto Térmico? a) IST.b) TGU. c) TEC. d) IBUTG. e) TST. 5. Qual das alternativas abaixo representa uma medida de controle relativa ao trabalhador? a) Barreiras refletoras. b) Áreas de descanso. c) Aquecimento do ar. d) Aclimatização. e) Ventilação. 6. Assinale a alternativa incorreta. a) A temperatura de bulbo úmido leva em consideração a U.R. do ar. b) O termômetro de globo faz parte do equipamento de medição do IBUTG citado na legislação brasileira. c) Quando existe uma fonte importante de calor radiante, podemos controlar essa situação aumentando a circulação de ar sobre o trabalhador. d) O anemômetro de ventoinha depende da direção do vento. e) N.d.a. 7. Qual das alternativas abaixo é a correta? a) O termômetro de Botsball fornece a TGU. b) Com 0% de umidade relativa fica mais difícil evaporar o suor da pele. c) Na equação do balanço calórico quando S=0, a temperatura do núcleo do corpo aumenta devagar. d) Na equação do balanço calórico, quando S < 0, temos uma hipertermia. e) N.d.a. 8. Assinale a alternativa incorreta. a) Quando a Tg é igual a Tbs, o calor radiante não é significativo. b) Uma hipotermia produz dentre outros efeitos uma vasodilatação. c) Na montagem da árvore dos termômetros, os três termômetros deverão estar alinhados a fim de que a distância à fonte seja igual para todos. d) A Tbn leva em consideração a umidade relativa do ar. e) N.d.a. 9. Qual das alternativas abaixo é a correta? a) O TGU é geralmente maior que o IBUTG em um mesmo ambiente. b) Quando a Tbs é igual a Tbn, a umidade relativa é 0%. c) Na equação do equilíbrio térmico, quando S = 0, a temperatura do núcleo do corpo aumenta devagar. d) Quando a temperatura do ar está acima de 38C perdemos calor somente através da evaporação do suor. e) N.d.a. 10. Assinale a alternativa correta. a) Quando existe uma fonte importante de calor radiante, podemos controlar a sobrecarga térmica aumentando a circulação de ar sobre o trabalhador. b) O IBUTG é o índice adotado pela nossa legislação para a avaliação da sobrecarga térmica. c) Quando a umidade relativa do ar está em torno de 0% a evaporação do suor torna-se mais difícil. d) O psicrômetro giratório serve para medir a velocidade do ar. e) N.d.a. 11. Qual é a definição de convecção: a) É a troca térmica entre dois corpos em contato, geralmente sólidos. No organismo essas trocas são muito pequenas, geralmente por contato com o corpo com ferramentas e superfícies. b) É a troca térmica realizada geralmente entre dois fluidos por diferença de densidade provocada pelo aumento da temperatura. c) É Através da emissão de radiação infravermelha, os corpos de maior temperatura tendem a perder calor para corpos de menor temperatura numa tentativa de equilíbrio. d) Todas as anteriores estão corretas. e) N.d.a. 12. Os fatores importantes para se obter um conforto térmico adequado no ambiente de trabalho são: a) Temperatura, Velocidade. b) Umidade Relativa do ar. c) Metabolismo das tarefas. d) Todas as anteriores então corretas. e) N.d.a. EXERCÍCIOS 1. Em dois ambientes internos de trabalho diferentes, foram feitas avaliações de calor, obtendo-se os seguintes valores: 2. Em um ambiente onde a temperatura de bulbo seco é de 26C e a de bulbo úmido é de 24C, qual é a umidade relativa? 3. Calcule o IST em um ambiente de trabalho com as seguintes características: 4. Um trabalhador carrega uma estufa com peças levesdurante 20 min e durante 10 min executa tarefas leves (em pé) em um ambiente de recuperação térmica coberta.
Compartilhar