Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 1 APG 13 – De pernas para o ar 1) COMPREENDER ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, COMPLICAÇÕES, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA ESTASE VENOSA ❖ REVISANDO → As veias são vasos de baixa pressão e com paredes finas, que dependem da ação auxiliar de bombas no músculo esquelético e de alterações nas pressões abdominal e intratorácica. ✓ A ação dos músculos da perna ajuda a mover o sangue venoso do MMII até o coração, dessa forma, quando uma pessoa caminha, a ação dos músculos da perna aumenta o fluxo nas veias profundas e retorna o sangue venoso para o coração. ✓ Durante o relaxamento da panturrilha, produz-se uma enorme queda de pressão nas veias profundas, podendo atingir pressões negativas; fecha-se, então, a válvula proximal do eixo profundo. → O sistema venoso dos MMII, como já visto, é composto por veias superficiais (safena magna e parva e suas veias tributárias) e as veias profundas, que são conectadas pelas veias perfurantes. → O sistema venoso é equipado com VÁLVULAS que evitam o fluxo sanguíneo retrógrado, quase sempre são encontradas nas junções onde as veias comunicantes se unem às veias profundas de maior calibre e no encontro de duas veias. → O termo insuficiência venosa se refere ao efeito fisiopatológico da hipertensão venosa persistente sobre a estrutura e a função do sistema venoso dos membros inferiores, ou seja, a incompetência valvular, associada ou não à obstrução do fluxo venoso. ❖ ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA → A causa da insuficiência venosa é multifatorial: ✓ Aumento da pressão venosa hidrostática: permanência em pé por longos períodos; ✓ Insuficiência das válvulas nas veias; ✓ Obstruções venosas profundas: TVP; ✓ Diminuição da função das bombas musculares esqueléticas; ✓ Processos inflamatórios; ✓ Disfunção endotelial. → Podendo ser dividida da seguinte forma: ✓ CONGÊNITA: é identificada ao nascimento ou no decorrer da infância. Está associada a um defeito congênito das válvulas venosas. ✓ PRIMÁRIA: nesses casos, a insuficiência venosa ocorre devido a uma incompetência das válvulas, determinada pela hipertensão venosa. ✓ SECUNDÁRIA: está associada a doenças que aumentam a pressão venosa, como é o caso da Trombose Venosa Profunda (TVP), traumas ou alguma outra condição anatômica que esteja comprometendo a função das veias. ✓ SUPERFICIAL: quando há defeitos nas válvulas venosas superficiais. ✓ PROFUNDA: associada a lesão das válvulas venosas do compartilhamento profundo. → Existem vários fatores de risco modificáveis, sendo assim, controlando-os é possível diminuir o risco do paciente de desenvolver insuficiência venosa. Os principais fatores de risco modificáveis e não modificáveis são: ✓ Idade avançada, sedentarismo, obesidade, sexo feminino, posição supina prolongada, tabagismo, gestação, hipertensão arterial, anticoncepcional oral e trauma em MMII. → Aproximadamente 2 a 5% da população mundial apresenta insuficiência venosa, e até 60% das veias se tornam varicosas, tendo relevância clínica. → Nas mulheres, o quadro clínico costuma surgir de forma mais precoce, a partir dos 40 anos, enquanto nos homens é mais comum a partir de 70 anos. ❖ FISIOPATOLOGIA → As doenças venosas crônicas variam desde telangiectasias e veias reticulares a veias varicosas, insuficiência venosa crônica com edema, alterações cutâneas e ulceração. → Como citado anteriormente, os dois principais determinantes do fluxo venoso são as válvulas (finalidade de superar os efeitos da gravidade) e a bomba venosa (contração dos músculos). Se forem ineficazes, o sangue pode seguir na direção retrógrada → A obstrução venosa, em pacientes que tiveram trombose venosa profunda, tende à recanalização em um período de três a seis meses. Após esse processo, ocorre a lesão das APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 2 cúspides das válvulas venosas pelo processo trombótico e o consequente refluxo venoso. → Dessa forma, quando há uma função inadequada da bomba muscular, válvulas venosas incompetentes ou obstrução do fluxo venoso, o paciente pode desenvolver hipertensão venosa, devido ao acúmulo de sangue. → Em situações normais, o fluxo venoso corre, do sistema venoso superficial para o profundo, através de veias comunicantes com válvulas competentes, que impedem o retorno de sangue para as veias superficiais. → O aumento de pressão é transmitido de forma retrógrada do sistema venoso profundo para o sistema venoso superficial, levando a um enfraquecimento da parede venosa, resultando em uma dilatação anormal das veias na forma de telangiectasias (vasinhos) ou varizes. Com a insuficiência venosa, o fluxo sanguíneo unidirecional efetivo e o esvaziamento das veias profundas não ocorrem. → O refluxo aumenta a pressão hidrostática na veia, resultando no acúmulo excessivo de líquido e consequentemente leva a formação de edema. → Além disso, a hipertensão venosa estimula a liberação de células inflamatórias na parede da veia e nas válvulas, induzindo uma resposta inflamatória local. → RESUMINDO: o refluxo venoso em direção ao leito capilar vai causar lesão endotelial, aumentando a permeabilidade capilar, causando extravasamento do sangue, que vai causar edema e hipoperfusão tecidual, e consequentemente inflamação e perda tecidual (feridas). → A pressão venosa permanece elevada nos membros inferiores durante a deambulação, quando em condições normais, deveria diminuir, sendo assim, os tecidos adjacentes são expostos a uma pressão venosa elevada continuamente, enquanto o paciente permanece com as pernas para baixo. ❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → As manifestações clínicas podem ser bastante variáveis, desde pacientes assintomáticos até a presença de sinais e sintomas mais graves. → Os sintomas em pacientes com insuficiência venosa, quando ocorrem, incluem: ✓ Dor em queimação ou pulsátil, ou sensação de peso nas pernas (retenção de líquido), após ficar em pé por muito tempo (posição supina) piora, e costumam ser aliviados com a elevação das pernas. ✓ Nos casos mais graves, esse sintoma pode dificultar a deambulação ou até mesmo impedi-la. ✓ Sintomas adicionais podem inclui cãibras, queimação, prurido (a inflamação libera histamina), fadiga, edema das pernas e ulceração da pele. → O edema, que geralmente é depressível, é exacerbado pela permanência prolongada em pé. ✓ Nos estágios iniciais, costuma ser unilateral, limitado a região do tornozelo e aparece ao final do dia. Entretanto, com a evolução da doença, o edema pode ser tornar persistente, bilateral, progredindo para a região da panturrilha e permanecer ao longo de todo o dia. ✓ Ao longo do tempo, o edema pode se tornar menos depressível e mais endurecido. Assim como a dor, costuma melhorar com a elevação dos membros. → Um principal achado são as telangiectasias, que são um conjunto de vênulas dilatas com menos de 1 mm de diâmetro, sendo mais comum em mulheres. E quando estão dilatadas, ultrapassando 3 mm de diâmetro são chamadas de varizes, e costumam acometer as veias safenas. → É ainda comum a presença de uma pigmentação marrom na pele, causada pelos depósitos de hemossiderina que resultam na degradação das hemácias. São mais frequentemente encontradas no tornozelo, mas podem progredir para o pé e para a perna. → Nos casos mais graves, os pacientes podem desenvolver a lipodermatosclerose, que é uma inflamação crônica associada a fibrose do tecido subcutâneo. ✓ Geralmente se inicia no tornozelo, mas pode envolver a perna circunferencialmente. A gravidade da doença é de acordocom o grau de incompetência das válvulas e da obstrução venosa. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 3 ✓ A região acometida se apresenta endurecida e a pele é tipicamente pigmentada. ✓ Nos casos mais avançados, a fibrose pode ser tão extensa que impede o fluxo linfático e venoso, resultando em edema acima e abaixo da região fibrosada. ✓ A atrofia branca pode surgir espontaneamente e consiste em áreas maculares brancas, ou seja, indicando perda de fluxo sanguíneo, sinal de gravidade. → Pacientes com insuficiência venosa de longa duração também podem apresentar enrijecimento da articulação do tornozelo, além de perda de massa e de força muscular. ❖ COMPLICAÇÕES → A insuficiência venosa é uma doença comum na prática clínica, e suas complicações, principalmente a úlcera de estase venosa, causam morbidade significativa. → Na insuficiência venosa avançada, o comprometimento da nutrição tecidual causa DERMATITE POR ESTASE e desenvolvimento de ÚLCERAS POR ESTASE OU ULCERAÇÃO VENOSA. ✓ A dermatite por estase corresponde a um processo inflamatório que se manifesta como uma erupção cutânea. É caracterizada pela presença de uma pele fina, brilhante, marrom-azulada, com pigmentação irregular, prurido e descamação, sem suporte de tecidos subcutâneos subjacentes. ✓ A ulceração da pele inicia-se de forma espontânea ou traumática. Geralmente ocorrem a nível do maléolo medial. Elas são caracterizadas por serem indolores (a não ser que haja infecção), exsudato serohemático ou seropurulento, bordas irregulares, rasas, com base vermelha, e podem ser múltiplas ou únicas. As ulcerações venosas, em geral, não cicatrizam espontaneamente, necessitando, portanto, de tratamento adequado e recidivas são frequentes. ❖ DIAGNÓSTICO → O diagnóstico da insuficiência venosa crônica é acima de tudo clínico, feito através da anamnese e do exame físico. → Sendo assim, os itens considerados na anamnese são a queixa e duração dos sintomas, caracterização de doenças anteriores (especialmente a trombose venosa), traumatismos prévios de membros e existência de doença varicosa. → Exames laboratoriais ou de imagem não são mandatórios, mas em alguns casos podem auxiliar no diagnóstico e reconhecer possíveis complicações da doença. ✓ O principal exame diagnóstico para avaliar pacientes com doença venosa crônica é a ultrassonografia venosa com Doppler: pode ser útil para detectar a presença de obstrução venosa e refluxo venoso nas veias superficiais e profundas. A ultrassonografia com Doppler em cores é útil para visualizar os padrões de fluxo venoso. ✓ Alguns laboratórios vasculares usam a pletismografia a ar ou de impedância para avaliar a gravidade do refluxo venoso e complementam os achados do exame de ultrassonografia venosa. ✓ A ressonância magnética (RM), a venografia convencional (injeção de contraste) e a tomografia computadorizada (TC) raramente são necessárias para determinar a causa e o plano de tratamento para a insuficiência venosa crônica, a não ser que haja suspeita de patologia que possa indicar intervenção. Essas modalidades são usadas para identificar obstrução ou estenose da veia cava inferior e das veias iliofemorais, como pode ocorrer em pacientes com trombose venosa profunda prévia; oclusão de filtros de veia cava inferior; compressão extrínseca por tumores; e síndrome de May-Thurner. ➢ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL → Existem outras doenças que podem causar lesões e sintomatologias nos membros inferiores semelhantes às da insuficiência venosa crônica. Os principais diagnósticos diferenciais incluem: ✓ Celulite; ✓ Erisipela; ✓ Neoplasia de pele (carcinoma basocelular ou espinocelular); ✓ Úlcera diabética; ✓ Úlcera traumática; ✓ Manifestações dermatológicas de doenças sistêmicas APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 4 ➢ CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA VENOSA CRÔNICA → Devido à necessidade de maior especificidade e uniformidade na avaliação da doença venosa, foi criada a classificação CEAP (clinical signs; etiology; anatomic distribution; pathophysiology), que é utilizada atualmente para caracterizar a sua gravidade: ❖ TRATAMENTO → O tratamento da insuficiência venosa, a princípio, é clinico para quase todos os pacientes e inclui medidas conservadoras, como a elevação dos membros, cuidados com a pele, exercícios e terapias de compressão. → Ademais, é importante ficar atento aos fatores de risco, controlando aqueles que são modificáveis, como a obesidade, tabagismo, hipertensão e diabetes mellitus. ➢ NÃO-MEDICAMENTOSO → Os sintomas frequentemente diminuem quando as pernas são elevadas periodicamente, quando se evita ficar de pé ou sentado por muito tempo e quando se usam meias elásticas de compressão. • Elevar os pés acima do nível do coração, por cerca de 30 minutos, 3 a 4x por dia pode diminuir os sintomas e ajudar na cicatrização das úlceras venosas. → A compressão externa com meias elásticas ou bandagens equilibram a pressão hidrostática nas veias. Embora as vestimentas de compressão possam melhorar os sintomas, elas não impedem a progressão das veias varicosas. → As meias de compressão graduada com pressões de 20 a 30 mmHg são adequadas para a maioria dos pacientes com veias varicosas simples, embora pressões de 30 a 40 mmHg possam ser necessárias para pacientes com manifestações de insuficiência venosa como edema e cicatrizações de úlceras venosas. → A terapia de compressão graduada é o padrão de cuidados para a insuficiência venosa crônica avançada caracterizada por edema, alterações cutâneas ou úlceras venosas definidas como classe clínica CEAP C3 a C6. → O comprimento das meias depende da distribuição do edema. → O treinamento com exercícios, incluindo fortalecimento dos músculos das pernas, pode melhorar a função de bomba muscular da panturrilha e fluxo venoso anterógrado, além de reduzir a gravidade da doença. Caminhadas diárias, flexão de tornozelo quando sentado, são medidas acessíveis que podem melhorar os parâmetros hemodinâmicos dos pacientes e favorecer a cicatrização das úlceras. → A perda de peso por meio de restrição calórica e exercício também deve ser considerada. → A cicatrização da úlcera é feita em três fases histológicas, descritas como: inflamatória, proliferativa e de remodelação cicatricial. → Os pacientes com úlcera venosa também podem ser tratados com curativos absorventes de baixa aderência que captam os exsudatos enquanto mantêm um ambiente úmido, o que evita a formação de crosta e aumenta a velocidade da migração das células epiteliais, da síntese de colágeno, da formação do tecido de granulação e da angiogênese. Além disso, esses curativos mantêm um exsudato da ferida rico em fatores de crescimento, que aceleram os processos cicatriciais e controlam o odor. → A escolha de curativos específicos depende da quantidade de secreção, da presença de infecção e da integridade da pele em torno da úlcera. Os curativos mantêm o ambiente da lesão apropriado, controlam sua hidratação, absorvem o excesso de secreção e evitam a maceração das bordas das feridas. → As úlceras devem ser desbridadas do seu tecido necrótico, a remoção do tecido desvitalizado visa minimizar os riscos de infecção e auxiliar no processo de cicatrização da ferida e os antibióticos são indicados somente para úlcera infectada. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 5 ➢ MEDICAMENTOSO → Os diversos tipos de medicamentos vasoativos possuem diversos efeitos nos variados sintomas. → A diosmina, o dobesilato decálcio, a rutina, os rutosídeos e o extrato de castanha-da-índia proporcionam reduções objetivas nos índices de edema, podendo ser utilizados como terapêutica complementar, são recomendados por ter propriedades venoconstritoras e anti-inflamatórias. → Essas drogas não devem substituir o tratamento de compressão elástica, nem os hábitos de vida que melhorem a estase venosa, nem a terapêutica cirúrgica, quando corretamente indicada. → Os diuréticos são raramente indicados, eles causam uma rápida mobilização do líquido intersticial diminuindo o edema, no entanto, esse efeito somente acontece nos casos em que a drenagem não tenha influência sobre a causa do edema. Além disso, causam hemoconcetração e consequente hipercoagulabilidade, sendo contra indicado nos casos de síndrome pós trombótica ou linfedema. → Os esteroides tópicos podem ser usados por um curto período de tempo para tratar a inflamação associada com dermatite de estase. → O tratamento cirúrgico adicional deve ser indicado para aqueles pacientes refratários ao manejo clínico padrão ou que evoluam com complicações, como úlceras, infecções e trombose venosa. ✓ Ligadura da veia safena magna e safenectomia: pacientes que apresentam incompetência isolada da veia safena podem ser candidatos a ligadura do vaso na junção safenofemoral ou a ablação venosa superficial. Esse tratamento é benéfico porque reduz o volume venoso no membro e, portanto, os efeitos da hipertensão venosa. ✓ Escleroterapia e flebectomia: pacientes com veias superficiais dilatadas podem ser candidatos a escleroterapia do local ou a flebectomia (ressecção da veia), a depender da localização e do tamanho do vaso. As telangiectasias e veias reticulares podem ser tratadas com escleroterapia, diminuindo o risco de sangramento. Já as varizes maiores são tratadas melhor com a ressecção. ✓ Laser endovenoso/radioablação: o laser endovenoso consiste em uma técnica percutânea, minimamente invasiva, que utiliza a energia do laser para eliminar veias superficiais incompetentes. REFERÊNCIAS • FRANÇA, Luís Henrique Gil; TAVARES, Viviane. Insuficiência venosa crônica. Uma atualização. Jornal Vascular Brasileiro, v. 2, n. 4, p. 318-328, 2020. • JAMESON, JL.; FAUCI, António S.; KASPER, Dennis L.; et al.. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. 20 ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.
Compartilhar