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– 1 Insuficiência Venosa Crônica • Introdução A insuficiência venosa crônica (IVC) dos MMII é uma condição representada pelas VARIZES DOS MMII, que são TORTUOSIDADES ou DILATAÇÕES das veias do sistema venoso SUPERFICIAL e/ou do sistema PERFURANTE. Os principais mecanismos envolvidos na IVC são: o Incompetência valvular o Alterações definitivas da parede das veias o Aumento patológico da pressão venosa nos MMII → se há dificuldade no retorno venoso, ou seja, ele não tem força suficiente para ascender, haverá REFLUXO do sangue (no sentido oposto) que provocará DILATAÇÃO VENOSA!! As varizes podem acontecer em VASOS TRONCULARES, como safenas, vasos COLATERAIS MAIORES e MENORES e ramos MINÚSCULOS. Esse acometimento pode ser ISOLADO de uma veia ou pode acometer GRUPOS de veias. Epidemiologia A prevalência de IVC na população aumenta com a IDADE. Na Europa, em adultos entre 30 e 70 anos de idade, 5 a 15% apresentam essa doença, sendo que 1% apresenta úlcera varicosa. Nos EUA, em torno de 7 MILHÕES DE PESSOAS têm IVC, a qual é a causa de 70 a 90% de todas as úlceras de membro inferior. • Fatores de Risco Os principais fatores de risco são: o Idade > 50 anos o Sexo feminino o Hormônios sexuais femininos o Hereditariedade (sem mecanismo genético definido) o Postura durante a atividade profissional o TVP o Tumores pélvicos Os hormônios sexuais femininos envolvidos são PROGESTERONA e ESTRÓGENO. O primeiro deles causa a DILATAÇÃO VENOSA PASSIVA que compromete o funcionamento adequado das válvulas venosas, sendo um dos principais mecanismos envolvidos no surgimento de varizes em GESTANTES – o corpo lúteo gravídico produz progesterona. O estrógeno contribui para o aparecimento de varizes pois provoca RELAXAMENTO DA MUSCULATURA LISA venular e o AMOLECIMENTO das fibras colágenas. Já em mulheres não grávidas com varizes, o mecanismo envolve também ESTRÓGENO e PROGESTERONA – por exemplo, no primeiro dia do ciclo menstrual, quando há mudança do padrão de secreção de progesterona para estrógeno, a clínica da IVC costuma ser AGRAVADA!!! (por relaxamento da musculatura lisa + amolecimento das fibras colágenas). Nos casos em que há TVP prévia, essa condição, por si só, compromete o RETORNO VENOSO pela obstrução e represa o sangue nos sistemas perfurante e superficial, causando o surgimento de VARIZES. Além disso, o TVP pode lesar as VÁLVULAS, o que também ocasiona IVC. – 2 • Fisiopatologia As varizes são classificadas em PRIMÁRIAS quando são ocasionadas pela insuficiência das válvulas superficiais (que pode ser decorrente de um aumento fisiológico da pressão venosa), ou em SECUNDÁRIAS quando há uma doença subjacente causadora do AUMENTO DA PRESSÃO, como TVP, massas pélvicas e fístulas arteriovenosas traumáticas. Os músculos dos MMII funcionam como “bombas” que impulsionam o retorno venoso, pois a cada contração há o direcionamento do sangue no sentido PERIFÉRICO → PROFUNDO e INFERIOR → SUPERIOR. No repouso muscular, as válvulas íntegras se FECHAM e impedem o refluxo – quando há INSUFICIÊNCIA, o refluxo acontece tanto na CONTRAÇÃO quanto no RELAXAMENTO muscular, ou seja, quando os músculos contraem, há fluxo de sangue para cima e para baixo = HIPERTENSÃO VENOSA CRÔNICA. Esse é o primeiro mecanismo para a hipertensão venosa, ou seja, é pressão da coluna hidrostática + veias incompetentes. O segundo mecanismo para hipertensão venosa crônica é por OBSTRUÇÃO VENOSA, em pacientes que tiveram trombose venosa profunda, que tende à recanalização em um período de três a seis meses. Após a recanalização, há lesão das CÚSPIDES das válvulas venosas pela trombose e pelo refluxo. Com a presença do refluxo, no início do quadro, a musculatura da panturrilha tenta compensar a sobrecarga de volume das veias insuficientes, ejetando um volume de sangue maior. Com o agravamento do refluxo, a bomba torna-se insuficiente para promover uma redução cíclica da pressão de 100 mmHg para níveis de 0 a 30 mmHg. Instala-se, dessa forma, um quadro de hipertensão venosa crônica permanente, levando aos sinais e sintomas de IVC Assim, após o desenvolvimento da hipertensão venosa, haverá transmissão desse gradiente pressórico desde os sistemas de MAIOR CALIBRE, até os de MENOR CALIBRE (veias periféricas) e para as VÊNULAS, CAPILARES e ARTERÍOLAS, o que determina as alterações encontradas no exame físico dos pacientes. Esse aumento da pressão no CAPILAR leva ao extravasamento de líquido para o INTERSTÍCIO, causando EDEMA e dilatação venosa progressiva, que será manifestada por TELANGIECTASIAS e VARIZES. Esse extravasamento de líquidos é acompanhado pela saída de MACROMOLÉCULAS (citocinas, fibrinogênio, bradicinina) e CÉLULAS (hemácias, neutrófilos e macrófagos) que causaram RESPOSTA INFLAMATÓRIA LOCAL com modificação das ESTRUTURA DA PELE e das VEIAS. A manutenção da hipertensão CAPILAR estimula a síntese de COLÁGENO por recrutamento de fibroblastos para o local, levando à DERMATOFIBROSE. Isso seria a causa da produção EXACERBADA DE BRADICININA, o que facilita ainda mais o extravasamento capilar. A hemoglobina extravasada por meio das hemácias é degradada em HEMOSSIDERINA, que impregna na pele e causa uma COLORAÇÃO CASTANHA IRREVERSÍVEL. Associado a essa impregnação, também ocorre aumento da produção de melanina, o que torna o membro mais escurecido. Na região onde há alterações tróficas, pode ocorrer a ÚLCERA DE ESTASE VENOSA, que apresenta DIMENSÕES VARIÁVEIS, geralmente localizada próximo ao MALÉOLO MEDIAL, podendo cicatrizar ou não. – 3 • Manifestações Clínicas A maioria dos pcts com IVC em MMII NÃO APRESENTA SINTOMAS ou é OLIGOASSINTOMÁTICA, sendo que, quando presentes, as principais queixas são ALTERAÇÕES ESTÉTICAS, DOR e SENSAÇÃO DE PESO ou desconforto – a intensidade não necessariamente se relaciona ao número/tamanho das varizes. Essas queixas são comuns no FIM DO DIA após longo período em posiçã ortostática, sendo aliviadas ao DEITAR-SE, ao ELEVAR AS PERNAS ou quando faz o uso de MEIAS COMPRESSIVAS. Associado a isso, pode haver PRURIDO TAMBÉM – como já citado, os sintomas podem piorar nos primeiros dias do ciclo. Além do aparecimento de varizes, pode haver também: o Telangiectasias – varicosidades intradérmicas o Veias reticulares – veias dilatadas no subcutâneo o Eczema varicoso o Dermatite ocre o Lipodermatofibrose o Úlceras – complicações GRAVES da IVC, representando a estase no grau mais avançado. Aparece em regiões dos MMII com alterações tróficas, como a porção inferior da perna um pouco acima do maléolo medial. Costuma ser ÚNICA, CIRCUNSCRITA, BORDAS ELEVADAS, FUNDO PLANO E CIANÓTICO e é do tipo SECRETANTE (úmida). É uma lesão que frequentemente é acometida por infecção secundária. Outra manifestação é a TROMBOFLEBITE superficial e a ERISIPELA de repetição – na tromboflebite superficial, o paciente irá referir CALOR na região, DOR, ERITEMA no caminho de uma veia superficial que irão se tornar PALPÁVEL por conta da fibrose. A tromboflebite de SAFENA MAGNA pode se estender da perna para a porção MEDIAL DA COXA até a região INGUINOCRURAL – já a tromboflebite de SAFENA PARVA atinge a região poplítea. Clinicamente, existe uma classificação determinada CEAP que quantifica a gravidade da doença por meio da APRESENTAÇÃO CLÍNICA (C), ETIOLOGIA (E), ANATOMIA (A) e FISIOTATOLOGIA (P): • Diagnóstico Atualmente, o diagnóstico CLÍNICO é muito valioso, porém a avaliação se torna IMPRECISA sem o auxílio de métodos complementares para definir, por exemplo, se a IVC é decorrente de OBSTRUÇÃO ou de REFLUXO. – 4 Na anamnese deve-se perguntar sobre a DURAÇÃO DA DOENÇA, INTENSIDADE DOS SINTOMAS, TTOS PRÉVIOS, ANTECEDENTES DE TVP, HISTÓRIA FAMILIAR, GESTAÇÕES ANTERIORES e, caso haja dor, fatores que melhoram ou pioras esse sintoma. No exame físico, deve-se procurar por evidências de insuficiência venosa, como presença de VEIAS VARICOSAS, HIPERPIGMENTAÇÃO CUTÂNEA, EDEMADEPRESSÍVEL e ÚLCERAS. A realização do exame deve ser feita em um ambiente BEM ILUMINADO com o paciente em ortostatismo por alguns minutos. O uso de manobras propedêuticas, como teste de Perthes, não são mais recomendadas. O principal exame complementar é a USG COM DOPPLER que determina o grau de ACOMETIMENTO VENOSO e o LOCAL AFETADO (superficial, profundo, comunicantes). Além disso, determina a existência ou não de PATÊNCIA no sistema venoso profundo. A FLEBOGRAFIA é o exame que fornece o maior grau de informações – flebografia ascendente avalia a PAREDE, ASPECTO DAS VÁLVULAS e o LÚMEN VENOSO, enquanto a flebografia descendente caracteriza os aspectos FUNCIONAIS, como o refluxo venoso! Por ser um MÉTODO INVASIVO que utiliza contraste, tem sido recomendado quando as técnicas não invasivas forem incapazes de orientar o tratamento. Todavia, o Sabiston aconselha o emprego deste exame, após mapeamento dúplex, no planejamento cirúrgico da reconstrução do sistema venoso profundo em pacientes com IVC GRAVE. • IVC e DM Some studies suggest a possibly higher incidence of diabetes mellitus in CVI due to STRUCTURAL OR FUNCTIONAL CHANGES of the venous system in diabetic patients represented by, e.g. valvular incompetence, reduced filling time and decreased venous output. An altered microcirculation from known PROCOAGULANT as well as PROINFLAMMATORY status could also predispose diabetic patients to higher incidence of CVI. It is expected that this risk population has MORE PREVALENT AND MORE SEVERE FORMS of CVI, such as CVI of CEAP 5 and 6. There exist predispositions to leg ulcers due to the alteration of IMMUNE FUNCTIONS, STRUCTURAL CHANGES OF COLLAGEN AND BINDERS, possible coincidence with peripheral ARTERIAL DISEASE (PAD) and autonomic neuropathy affecting the functions of the sweat and sebaceous glands of the skin. Diabetes mellitus was present in 17.8% of patients with CVI (35/197) — significantly more frequently than in the general population. No presente trabalho, dos 40 doentes portadores de UVC, detectou-se, pelo uso do I T/B, em 10 (25%), a presença concomitante de DAP. Portanto, pode-se considerar que a detecção da concomitância entre úlcera venosa crônica (UVC) e doença arterial periférica (DAP) foi freqüente na casuística estudada • Tratamento Tem como meta o ALÍVIO DOS SINTOMAS e a MELHORA ESTÉTICA DOS MMII, podendo ser exclusivamente CLÍNICO ou CIRÚRGICO. O tratamento CONSERVADOR inclui o uso de meias elásticas de compressão graduada, que oferecem compressão entre 20 a 30 mmHg. Compressões superiores a 35 mmHg são recomendadas para prevenir a RECORRÊNCIA DE ÚLCERAS. As meias devem ser calçadas assim – 5 que o paciente ACORDE E UTILIZADAS DURANTE TODO O DIA. Os doentes também devem ser recomendados a elevar as pernas por um breve período, por pelo menos duas vezes ao dia, e a deambular. Em pacientes com ÚLCERA ATIVA é recomendado o uso da bota de Unna, que consiste em curativo compressivo utilizando ÓXIDO DE ZINCO, GELATINA E GLICERINA. Embora a infecção secundária da úlcera seja uma preocupação, antibióticos profiláticos não são recomendados. A antibioticoterapia é utilizada em casos de infecção com manifestações SISTÊMICAS. Em casos onde o acometimento é UNICAMENTE do sistema venoso SUPERFICIAL (telangiectasias e veias reticulares), pode-se utilizar a INJEÇÃO DE SUBSTÂNCIAS ESCLEROSANTES. As principais indicações de cirurgia incluem: o questões estéticas; o sintomas refratários ao tratamento clínico; o sangramento proveniente de uma variz; o lipodermatofibrose; o tromboflebite superficial; o úlcera de estase venosa com sinais de infecção (desbridamento). As principais técnicas cirúrgicas utilizadas são: o Safenectomia - recomendada na presença de acometimento extenso ou de sintomas intensos. Consiste na ligadura dos vasos colaterais e passagem de guia intraluminal com posterior avulsão da veia safena magna ou parva. Está contraindicada em casos de TVP. o Valvuloplastia - correção das válvulas venosas com objetivo de recuperar sua função, ou seja, torná-las competentes. É raramente indicada, sendo recomendada após insucesso de safenectomia. o Retirada de microvarizes Segundo o Projeto Diretrizes da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular: Telangiectasias e veias reticulares (C1): o tratamento de escolha é a ESCLEROTERAPIA ESTÉTICA. A técnica consiste na injeção de substância ESCLEROSANTE no interior do vaso, promovendo lesão endotelial e subsequente trombose, impedindo o reenchimento da veia doente. O emprego de laser tem sido proposto em veias reticulares, porém necessita de maiores estudos para avaliar sua real efetividade. Para maior eficácia, o tratamento conservador deve SER ASSOCIADO COM USO DE MEIAS ELÁSTICAS. Veias varicosas (C2): na presença de REFLUXO em junção safeno-femoral ou safeno-poplítea ou ainda na presença de TRIBUTÁRIAS OU PERFURANTES INSUFICIENTES está indicado o tratamento cirúrgico. História de TVP implica em propedêutica ampliada. Nesses casos, o tratamento cirúrgico pode ser benéfico, caso exista refluxo em junção safeno-femoral ou safeno-poplítea e que seja demonstrado claramente que estes troncos NÃO representem via de maior importância no esvaziamento venoso. MEIAS COM COMPRESSÃO ACIMA DE 40 MMHG e uso de bandagens são medidas efetivas no pós-operatório. Edema (C3): meias elásticas de COMPRESSÃO GRADUADA ACIMA DE 35 MMHG são efetivas. Medicamentos VENOATIVOS (diosmina, dobesilato de cálcio, rutina e extrato de castanha da Índia) devem ser utilizados como terapêutica complementar e parecem melhorar o edema. A CORREÇÃO CIRÚRGICA DO REFLUXO em junção safeno-femoral e safeno-poplítea pode ser benéfica; Alterações Tróficas (C4): são recomendadas MEIAS ELÁSTICAS DE COMPRESSÃO graduada acima de 35 mmHg. Não existem evidências de melhora com tratamento cirúrgico, todavia, a correção da – 6 insuficiência venosa superficial, através da ligadura de veia perfurante, pode promover melhora das alterações tróficas; Úlcera Cicatrizada (C5): a presença de úlcera cicatrizada em pacientes portadores de insuficiência venosa superficial é INDICAÇÃO DE CIRURGIA. O uso de meias elásticas de compressão graduada acima de 35 mmHg são eficazes na prevenção da recorrência das úlceras; Úlcera Ativa (C6): meias e bandagens elásticas podem ser usadas, bem como medidas comportamentais. O uso de antibiótico tópico NÃO está indicado - só está recomendada na presença de infecção com manifestações sistêmicas. Na presença de refluxo em junção safeno- femoral ou safeno-poplítea deve ser indicado o tratamento cirúrgico. Na ausência de refluxo ou após TVP, não existem evidências de benefícios da cirurgia.
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