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SUZANA VASCONCELOS MEDXIII TUTORIAL 4 OBJETIVO: OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA ARTRITE INFECIOSA: inflamação articular por invasão direta das articulações pelo agente microbiano. ARTRITE INFECCIOSA BACTERIANA - ARTRITE SÉPTICA Há bactérias no espaço articular → inflamação sinovial → derrame purulento. 65%: > que 20 anos → sexo masculino. ➢ Homens e mulheres é de 3:2 → artrites gonocócicas + mulheres. ➢ 90% dos casos não gonocócicos → articulação do joelho, seguido do quadril, ombro, cotovelo, punho e articulação esternoclavicular. ➢ As articulações axiais são mais comumente afetadas em pacientes dependentes de drogas. FATORES DE RISCOS Alcoolismo, úlceras cutâneas, articulações protéticas, artrite reumatoide, status socioeconômico baixo, infecções de pele, terapias imunossupressoras, incluindo medicamentos biológicos usados no tratamento de doenças autoimunes, como artrite reumatoide e doenças inflamatórias intestinais. O uso de infliximab, etanercept e adalimumab – drogas inibidoras do TNF-alfa, utilizadas no tratamento da artrite reumatoide e doença de Crohn – também é considerado fator de risco . ETIOLOGIA O Streptococcus pyogenes (beta-hemolítico do grupo A): 10-20% de todas as artrites sépticas em qualquer faixa etária. Gram-negativos entéricos → idosos, imunodeprimidos e usuários de drogas intravenosas (neste último grupo→ infecção por Pseudomonas) O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) → nas crianças com anemia falciforme, nos alcoólatras, portadores de SIDA e deficiências da imunidade humoral, como na deficiência congênita de imunoglobulina. Em pacientes HIV+ → a etiologia + frequente → S. aureus! FISIOPATOLOGIA Existem três mecanismos básicos pelos quais os patógenos podem atingir uma articulação: ➢ Via hematogênica (mais comum); ➢ Inoculação direta (traumas, atrocentese, artroscopia (raro) etc.); ➢ Disseminação por contiguidade (osteomielite, celulite etc.). A penetração de bactérias no espaço articular gera uma resposta inflamatória mediada, principalmente, por neutrófilos. Horas depois, as bactérias já estão aderidas à cartilagem articular. Há liberação de proteases e citocinas pelos condrócitos e invasão da cartilagem pelas bactérias e células inflamatórias. Aumento pressão intra-articular devido derrame articular purulento → à isquemia local → processo destrutivo. Consequências → perda de ME da cartilagem; formação de abscessos na cartilagem, com possibilidade de extensão→ osteomielite; necrose da cartilagem sinovial e até mesmo do osso subjacente → 48h após o início do processo. Articulações são mais suscetíveis à necrose: as articulações escapuloumeral e coxofemoral → cápsula articular que estão as artérias que nutrem a epífise dessas articulações se prolonga até a região metafisária, → metáfise intra-articular → comum que a artrite séptica evolua com osteomielite. SUZANA VASCONCELOS MEDXIII Nessas duas articulações, a distensão produzida pelo aumento de líquido intra-articular pode levar a uma subluxação ou mesmo a uma luxação. No caso da articulação coxofemoral, isso provoca perda irreversível da função articular, com encurtamento e adução e flexão e mobilidade diminuídas. Não haverá mais crescimento epifisário nesse local. Quando a luxação for de ombro, a mobilidade é diminuída porém razoável, pois se forma uma neoarticulação fibrosa, na qual não há ação do peso corporal como no quadril, sendo a maior consequência o encurtamento do úmero. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Na artrite infecciosa → + 90% das vzs é monoarticular, → joelho, seguido do quadril, tornozelo, punho, ombro e articulação esternoclavicular. As pequenas articulações das mãos são raramente acometidas. Em 20% dos casos, o curso é o de uma oligoartrite (2-3 articulações), geralmente próximas umas das outras. Quadro: febre alta (39-40ºC), calafrios e flogose articular (dor, edema, rubor, calor e limitação funcional). A impotência funcional (perda do arco de movimento) é um dado fortemente sugestivo!!! Os pacientes imunocomprometidos e idosos podem não ter uma resposta febril acentuada. DIAGNÓSTICO Diferenciação à beira do leito é a análise do arco de movimento – SOMENTE NA ARTRITE SÉPTICA ele estará seriamente comprometido. Pacientes muito debilitados e imunodeprimidos (ex.: usuários de drogas citotóxicas, insuficiência renal ou hepática podem NÃO desenvolver um quadro de flogose tão exuberante → menor suspeita clínica → artrocentese. A identificação clínica + difícil em articulações não diretamente acessíveis ao exame físico, como o quadril e as sacroilíacas → suspeita→ TC, RNM, ou mesmo USG → para avaliar derrame articular. ARTRITE NÃO GONOCÓCICA Agentes: Staphylococcus aureus (maioria), Gram-positivos (como o S. pyogenes, S. pneumoniae e o grupo viridans) e bacilos Gram-negativos (como Escherichia coli, Salmonella, Pseudomonas etc.). O Haemophylus influenzae → um mês e cinco anos de idade não vacinadas. Infecção pós-operatória de próteses articulares (após artroplastia total) por estafilococos coagulase-negativos (como o S. epidermidis). Incidência → articulações nativas → 5 a 8 em 100.000 pts Pts uma articulação dolorida e agudamente edemaciada → prevalência < 10 até 27%, dependendo da população de origem. Bactérias → produzem uma reação inflamatória aguda na membrana sinovial. Hiperplasia sinovial e migração de células inflamatórias com a liberação de citocinas pró-inflamatórias e destruidoras de cartilagem e proteases resultam em dano à cartilagem e ao osso. Toxinas e DNA bacterianos e superantígenos → dano da cartilagem e do osso. O principal fator de risco → existência de lesão articular prévia (artrite reumatoide, osteoartrose etc.). Pacientes com artrite séptica afetando articulações não diatrordiais, como acromioclavicular ou articulações sacroilíacas, (Staphylococcus aureus)→ histórico de uso de drogas intravenosas ou tratamento de outras condições clínicas com cateteres intravenosos (ex: hemodiálise) A infecção da sínfise púbica está associada à cirurgia prévia do trato urinário, à malignidade pélvica, ao uso de drogas intravenosas ou à atividade física vigorosa de sustentação de peso, a corridas de longa distância em atletas do sexo feminino. Identificar fonte de infecção→ Estafilococos e estreptococos β- hemolíticos → feridas abertas, enquanto a infecção por Gram- negativos → doença intestinal ou da bexiga DIAGNÓSTICO Artrocentese (punção articular) → Contagem leucocitária sugestiva (geralmente MUITO alta) → só podemos confirmar o diagnóstico pelo estudo bacteriológico. Artrocentese: cultura e à coloração por Gram, o último é positivo em apenas cerca de 50% dos pacientes. Artrocentese, pode ser orientado por ultrassonografia → apenas pequenas quantidades de líquido articular estão presentes ou quando a articulação é difícil de aspirar. A artrocentese guiada por TC → aspiração de articulações profundas, tais como os quadris e as articulações não diartrodiais. A articulação do quadril (coxofemoral) deve ser puncionada por meio de artroscopia ou cirurgia. Liq. Sinovial: aspecto turvo ou purulento, contagem leucocitária bastante alta, com média de 100.000/mm3, mas podendo oscilar entre 25.000-250.000/mm3 (em geral se observa > 80% de neutrófilos). Glicose baixa, proteína total e LDH altos. O VHS e a PCR estão aumentados Novas metodologias para a análise microbiológica do líquido sinovial: o PCR e a pesquisa de antígenos bacterianos por ensaios imunológicos → indicados → pts que realizaram artrocentese após início da antibioticoterapia. As hemoculturas são positivas em até 50% dos casos e devem ser obtidas em todos os pacientes com diagnóstico suspeitado. RX→ ossos próximos e o espaço articular, e fornecer uma referência para comparação depois de concluído o tratamento.SUZANA VASCONCELOS MEDXIII RNM, a TC e a RX simples→determinar osteomielite associada e em casos de incerteza diagnóstica. TRATAMENTO ➢ A remoção do material purulento e o desbridamento ➢ A escolha da terapia antimicrobiana empírica ➢ Coloração de Gram → cocos Gram-positivos: vancomicina, alternativos : Linezolida e daptomicina. ➢ Bacilos Gram-negativos → cobertura ampla, incluindo atividade contra Pseudomonas aeruginosa→ ceftazidima, cefepima, imipenem, meropenem, piperacilina-tazobactam e ciprofloxacina intravenosa. A duração da terapia: 2 a 6 semanas O papel da drenagem por agulha versus artroscópica versus drenagem aberta da articulação não está estabelecido. O tratamento cirúrgico → artrite séptica do quadril, para pacientes que não respondem a aspirações seriais com agulha e antibioticoterapia e para os pacientes que parecem estar desenvolvendo complicações com risco de vida, como a fasciite necrosante. Os pacientes devem ser mobilizados → evitar contraturas articulares. Crianças → uso de dexametasona oral concomitante por 4 dias pode levar à melhora sintomática mais rápido ARTRITE GONOCÓCICA Causada pela Neisseria gonorrhoeae, um diplococo Gram-negativo, sexualmente transmissível. O predomínio é na faixa etária dos adultos jovens (20-30 anos) sexualmente ativos. Se apresenta de duas formas diferentes, uma podendo se seguir à outra: Síndrome Artrite-Dermatite (Fase Poliarticular ou bacteriêmica): Manifestações sistêmicas de febre alta, calafrios e lesões de pele, acompanhadas de envolvimento poliarticular (artralgias/artrite). As lesões cutâneas ocorrem em 75% dos casos e têm preferência pelas extremidades, especialmente as mãos, apresentando-se como pústulas ou vesículas indolores, com base eritematosa, frequentemente com centros necróticos ou hemorrágicos. Tenossinovite → múltiplos tendões → punhos, tornozelos, mãos (dactilite), pés e tendão de Aquiles (“tendinite dos amantes”). Nesse estágio: hemoculturas positivas; as culturas do líquido sinovial → negativas; e a Neisseria pode ser encontrada em culturas de orofaringe, reto, cérvice e uretra. O gonococco raramente é isolado das lesões de pele. Artrite Supurativa (Fase Monoarticular) Monoartrite (ou oligoartrite com características semelhantes às da artrite séptica não gonocócica), início súbito Há um predomínio das grandes articulações periféricas (joelho, tornozelo e punho). Nesse estágio, as hemoculturas negativas, mas as culturas do líquido sinovial (punção articular) podem identificar o gonococo em 30% dos casos. DIAGNÓSTICO Presuntivo → Todos os exames bacteriológicos podem ser negativos. Devem ser sempre solicitadas hemoculturas, cultura do líquido sinovial e culturas de materiais colhidos da uretra, colo uterino, reto e orofaringe. Em 80% dos pacientes, pelo menos um desses três últimos sítios apresenta cultura positiva. Na “fase poliarticular”, a coleta da hemocultura é obrigatória. O líquido sinovial na “fase monoarticular”: purulento ou turvo, com uma contagem de leucócitos entre 10.000-100.000/mm3 (inferior à da artrite séptica não gonocócica), predomínio neutrofílico, algumas vezes com queda da glicose, aumento da proteína e elevação do LDH. O VHS e a PCR elevados. TRATAMENTO A ceftriaxona deve ser administrada por 2 a 4 dias, seguida pela terapia oral para completar um mínimo de sete dias de tratamento, embora até 14 dias de terapia sejam recomendados. SUZANA VASCONCELOS MEDXIII Os pacientes também devem ser tratados por clamídia concomitante (CD) IMAGEM RX: alterações precoces → espessamento de cápsula sinovial, infiltração e edema de partes moles e da região periarticular e, principalmente, um aumento do espaço articular (líquido). Após 48 horas → alargamento do espaço articular, luxação ou subluxação em algumas articulações, e os achados devem ser comparados entre os dois lados. Um dos primeiros sinais radiográficos junto ao aumento do espaço articular é o afastamento lateral da epífise e uma linha de Shenton “quebrada”. USG: identificação de líquido articular → na fase inicial da infecção. Nos estágios mais avançados da doença, quando há muito pus intra- articular, as alterações são evidenciadas com facilidade na ecografia e também em raio-X simples. RNM: diagnóstico precoce → detalha o envolvimento ósseo e das partes moles, além do edema e aumento do líquido sinovial. Cintilografia: maior captação de forma bastante precoce, destacando áreas “quentes”, que significam regiões com reação inflamatória, hiperemias e reação infecciosa. Nas infecções da pelve - quadril, nas articulações sacroilíacas e na sínfis pubiana, esse exame é fundamental para localizar o foco infeccioso. TRATAMENTO GERAL Analgesia para controle da dor, repouso da articulação acometida e antibioticoterapia, que deve ser guiada por cultura, mas que deve ser iniciada mesmo antes do resultado. Para recém-natos: estafilococos, S. agalactiae e Gram- negativos entéricos → com oxacilina + gentamicina. Para crianças entre um mês e cinco anos (não vacinadas): cefalosporina de 3ª geração → Haemophylus → oxacilina + ceftriaxone. Para crianças > 5 anos ou adultos: principal. foco cutâneo de infecção estafilocócica → empírico → oxacilina. Artrite séptica por pneumococo → oxacilina + ceftriaxone. Artrite gonocócica → iniciado com ceftriaxone. Após melhora inicial (2-4 dias) → oral, com cefpodoxima ou fluoroquinolonas, como a ciprofloxacina, por mais sete a dez dias. Se houver artrite purulenta, o tratamento deve ser mantido por 14 dias, associado ao esvaziamento articular diário por punção. Coinfecção genital por Chlamydia → associa doxiciclina (100 mg 12/12h por sete dias) ou azitromicina (1 g dose única). Staphylococcus aureus Resistente à Meticilina→ vancomicina. Dúvida entre origem estafilocócica ou gonocócica → empírico: oxacilina + ceftriaxone. Pseudomonas (ex.: usuários de drogas IV) → empírico: o ceftazidime, associada a um aminoglicosídeo, como a gentamicina → intolerância ao aminoglicosídeo (ex.: disfunção renal) → ciprofloxacina em associação à cefalosporina. ASPIRAÇÃO DOS DERRAMES ARTICULARES E DRENAGEM CIRÚRGICA O principal ponto do tratamento da artrite séptica é a drenagem cirúrgica com anestesia geral e em condições de assepsia, realizando uma artrotomia que permite lavar o espaço articular e aliviar a pressão em todos os casos. Não é recomendado as punções de esvaziamento repetidas→ A artrotomia permite lavar de forma cuidadosa e exaustiva a articulação, retirando todo o material purulento e necrótico. Instala-se um sistema de irrigação contínua por um cateter e um sistema de sucção contínua mecânico em outro cateter, o qual deve ser constantemente checado para identificar possíveis obstruções por coágulos ou restos de material necrótico. A drenagem deve ser mantida por 24 a 48 horas. SUZANA VASCONCELOS MEDXIII Quando se retira o tubo de irrigação, deixa-se o de sucção por mais 24 horas. O esquema de antibióticos deve ser continuado por pelo menos uma semana após uma drenagem aberta É importante imobilizar a articulação afetada com tala gessada, ou tração em alguns casos de artrite do quadril, permitindo, com o repouso articular, uma rápida diminuição da dor e do espasmo articular. Essa imobilização pode durar de 10 a 30 dias, a depender da resposta ao tratamento, porém nos casos que há luxação ou subluxação, o tempo de imobilização deve ser maior. Por conta do longo tempo de imobilização, após a retirada são necessários exercícios de reabilitação. OSTEOMIELITE Processo infeccioso do osso→ destruição tecidual progressiva e formação de sequestros ósseos. O “sequestro” → fragmento de tecido ósseo que se separa da matriz circundante e fica isolado em meio ao material necrótico/purulento → “corpo estranho” → dificultandoa erradicação dos germes infectantes. Bactérias: comprometem a porção cortical e esponjosa do osso, bem como o canal medular. 1 /5000 crianças menores que 13 anos apresenta um quadro de osteomielite na vida → + comum em meninos. Afeta + ossos longos, especialmente nos membros inferiores, sendo o fêmur mais afetado, seguido pela tíbia e úmero. FISIOPATOLOGIA As osteomielites podem ter origem por mecanismo: Hematogênico: o germe atinge o tecido ósseo após circular na corrente sanguínea. Contiguidade, a fonte microbiana é uma infecção em tecidos moles adjacentes. Inoculação direta, os germes são diretamente inoculados no osso por meio de trauma acidental ou iatrogênico (ex.: cirurgia, biópsia percutânea). Os ossos possuem duas camadas principais: (1) cortical – lâminas rígidas e inextensíveis; (2) medular – osso esponjoso preenchido por gordura, sangue e/ou tecido hematopoiético. A inflamação medular aumenta a pressão hidrostática intraóssea, devido à inextensibilidade da cortical. Isso bloqueia a perfusão sanguínea regional promovendo isquemia e necrose → formação de cavidades e sequestros → favorecem a persistência da infecção! A bactéria + frenquentes → é a S. aureus, seguida pelos estreptococos do grupo A, e nos pts com anemia falciforme → Salmonella. Pacientes imunodeprimidos, grande queimado e nos casos de trauma do osso calcâneo→ Pseudomonas. A Pseudomonas, E. coli e Klebsiella → infecção do trato geniturinário. No período neonatal → H. influenzae e estrepcocos do grupo B. No caso do S. aureus → ocorre expressão de adesinas de alta afinidade para as moléculas de fibronectina, laminina, colágeno e sialoglicoproteínas → ricamente distribuídas no tecido ósseo. No neonato, os vasos metafisários penetram na placa de crescimento, gerando infecção frequente. Após o fechamento da placa de crescimento, os vasos metafisário se unem com vasos epifisários (área vascularizada) → disseminação de bactérias até a epífise e regiões subcondrais adultas (osso abaixo da cartilagem), pela presença de uma circulação capilar término-terminal onde pequenos êmbolos bacterianos não prosseguem na circulação, gerando o foco infeccioso inicial. Acúmulo de exsudatos e produtos bacterianos → formação do abscesso dentro do osso, e nesse estágio não é possível identificar nenhuma lesão através de exames de imagem. O quadro evolui com a necrose óssea maciça sem reabsorção óssea nas primeiras 48 horas do processo infeccioso. O momento exato da transição da fase aguda para a fase crônica da osteomielite é determinado pela formação de osso necrosado por isquemia, → 48 horas após a infecção inicial. CLASSIFICAÇÃO Cierny e Mader elaboraram uma classificação prática da osteomielite que divide a doença em estágios, levando em consideração fatores que facilitam sua instalação e progressão. SUZANA VASCONCELOS MEDXIII Esta classificação possui implicações terapêuticas (ex.: no estágio 1 a doença geralmente pode ser curada com antibioticoterapia isolada, ao passo que no estágio 3 é necessário associar tratamento cirúrgico) QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO O diagnóstico de osteomielite é feito por uma conjunção de dados clínicos, radiográficos laboratoriais e microbiológicos. Pts adulto: curso subagudo/crônico, não raro com poucas manifestações sistêmicas (ex.: leucocitose discreta ou mesmo ausente; pouca ou nenhuma febre). A maioria dos casos não reconhecidos evolui com a formação de fístulas osteocutâneas ao longo dos anos, o que acaba tornando o diagnóstico (tardio) evidente! Em crianças pequenas a osteomielite costuma ser dramática, com frequência evoluindo com franca síndrome séptica (resposta inflamatória sistêmica = febre alta, calafrios, leucocitose). Em recém-natos: extensão do processo infeccioso para o interior da cavidade articular, num quadro de artrite séptica associada. A dor, provocada pela hiperemia tecidual e aumento da pressão intraóssea → primeira queixa, que apresenta instalação aguda e aumento progressivo da intensidade com o passar das horas. Dor: Resistência a analgésicos comuns → paciente se torna irritadiço, perde o apetite e diminui as atividades habituais. O edema surge nos primeiros dias e se torna mais volumoso com o tempo. O edema e a inflamação de partes moles também provocam impotência funcional. Quando há o envolvimento do membro inferior, a claudicação é o sinal mais frequente. PTS com suspeita de osteomielite: internar em ambiente hospitalar com urgência → rápida evolução e potenciais sequelas. Padrões clínicos OSTEOMIELITE COMPLICANDO UMA FRATURA EXPOSTA Dependendo do tipo de lesão, do grau de contaminação e da extensão dos tecidos desvitalizados (bem como da administração ou não de antibiótico profilático) a chance de osteomielite após uma fratura exposta varia entre 3% a 25%. O paciente típico é um homem jovem com lesão nos membros inferiores (geralmente tíbia ou fíbula). + envolvidos: estafilococos (S. aureus e estafilo coagulase-negativo) e os bacilos Gram-negativos aeróbios. Quando inicia semanas a meses após o trauma → rara a ocorrência de eritema local, febre ou calafrios. Suspeita: todo paciente, onde a fratura NÃO CONSOLIDA após alguns meses!!! OSTEOMIELITE AGUDA HEMATOGÊNICA Público: idosos, usuários de drogas IV e portadores de cateter venoso profundo, mas o paciente típico é a criança pré-púbere. Qualquer osso do corpo pode ser afetado → localização preferencial: metáfises de ossos longos como o fêmur e a tíbia (às vezes a doença é multifocal). As bactérias mais envolvidas são o S. aureus e o Pneumococo. OSTEOMIELITE CRÔNICA Resulta: Terapêutica inadequada, que complicam fraturas expostas. Como a doença é pouco sintomática (ausência de febre ou calafrios), arrastando-se ao longo de anos, é clássica a evolução para um quadro de amiloidose AA. Principal manifestação clínica: fístulas osteocutâneas → pode complicar – após décadas – com o surgimento de carcinoma escamoso no trajeto da fístula. RX: sequestros ósseos, e alteração denominada involucrum (camadas sobrepostas de osso neoformado que revestem o osso subjacente). OSTEOMIELITE VERTEBRAL (ESPONDILODISCITE) A infecção do disco intervertebral → é a forma + comum por disseminação hematogênica em adultos. Infecções da corrente circulatória (ex.: usuários de drogas IV, portadores de cateter venoso profundo), endocardite infecciosa, infecção do trato urinário, de pele/partes moles e do trato respiratório. Mais raramente, a espondilodiscite pode ser iatrogênica (pós- operatório de cirurgia de coluna). Quadro: dor nas costas e hipersensibilidade vertebral à palpação do processo espinhoso correspondente. Manifestações neurológicas compressivas: parestesias ou paresias/plegias, são observadas nos casos que complicam com fratura da camada cortical da vértebra e extravasamento de pus, formando um abscesso epidural. Outras complicações: abscessos paravertebrais e abscessos do músculo psoas. + envolvidos: Os estafilococos (S. aureus e estafilo coagulase-negativo) Nos usuários de drogas IV: Candida spp. E a Pseudomonas aeruginosa. OSTEOMIELITE NO PÉ DIABÉTICO SUZANA VASCONCELOS MEDXIII A osteomielite que se instala no pé diabético infectado é do tipo “por contiguidade”. Por ser uma complicação comum, o diagnóstico: todo paciente cuja úlcera tiver > 2 cm2 de área, ou quando o osso subjacente puder ser facilmente tocado por um instrumento pontiagudo (vale lembrar que, por conta da neuropatia periférica, o paciente raramente sente dor no pé diabético infectado). Aumentos da VHS e da PCR O método de imagem de escolha é a RNM OSTEOMIELITE TUBERCULOSA É uma forma incomum de tuberculose, ou seja, é uma infecção óssea gerada pelo bacilo de Koch (Mycobaterium tuberculosis). Pode ocorrer por extensão direta, como a partir de um foco pulmonaruma costela ou esterno, ou disseminação por drenagem linfática. É importante ressaltar que indivíduos com AIDS frequentemente tem envolvimento ósseo multifocal. A coluna, seguida dos joelhos e quadril são os sítios mais afetados. Quadro: dor na mobilização, sensibilidade localizada, febres de baixo grau, calafrios e perda de peso. Na coluna, a infecção se alastra pelos discos vertebrais, vértebras e até tecidos moles, formando abscessos, gerando achados histológicos típicos de tuberculose. OSTEOMIELITE EM OSSOS NÃO USUAIS OSTEOMIELITE EM SITUAÇÕES ESPECIAIS Hemodiálise Presença prolongada de um cateter venoso profundo (cateter de diálise), ou pela frequente manipulação da fístula arteriovenosa. A infecção é geralmente hematogênica, e por isso, em adultos acomete, preferencialmente, as vértebras e espaços discais (espondilodiscite). O germe mais comum é o S. aureus, que neste grupo com frequência é MRSA (resistente à meticilina/oxacilina). Anemia Falciforme Fenômeno de afoiçamento de hemácias ocorre vaso-oculsão da micovasculatura e múltiplos infartos isquêmicos na medula óssea. Há “quebra de barreira” na mucosa gastrointestinal, por lesão isquêmica vaso-oclusiva das células do epitélio de revestimento interno do tubo digestivo. Desse modo, o falcêmico está duplamente predisposto ao desenvolvimento de osteomielite: • Translocação bacteriana a partir do trato gastrointestinal; • Formação de “nichos” no interior dos ossos → substrato para as bactérias circulantes se assestarem! Patógeno: a Salmonella spp., um bacilo Gram-negativo entérico, depois S. aureus OSTEOMIELITE FÚNGICA A osteomielite fúngica é incomum. O principal agente causador é a Candida, com relatos também de Cryptococcus, Aspergillus e Histoplasma, além dos fungos da blastomicose, coccidioidomicose e esporotricose. As vias mais comuns de aquisição são a hematogênica e a inoculação direta (ex.: contaminação de fraturas expostas). O aspecto típico de uma osteomielite fúngica é o de “abscesso frio”, isto é, uma lesão óssea lítica bem delimitada, acompanhada de lesões satélites semelhantes nos tecidos moles adjacentes – o paciente não costuma ter manifestações inflamatórias locais ou sistêmicas exuberantes. FORMAS MAIS RARAS DE OSTEOMIELITE Abscesso de Brodie: pode ser subagudo ou crônico. No primeiro caso o paciente apresenta dor, febre e reação periosteal. No segundo caso o paciente apresenta apenas dor crônica, sem outros sinais ou sintomas inflamatórios. Trata-se de uma lesão típica de pacientes jovens (idade < 25 anos), acometendo, preferencialmente, a porção distal da tíbia. 1. EXAMES LABORATORIAIS: Alterações da leucometria → inconstantes, podem até estar ausentes (ex.: na osteomielite crônica o leucograma geralmente é normal). SUZANA VASCONCELOS MEDXIII Aumentos da VHS e da PCR. A VHS, diga-se de passagem, costuma ser > 100 mm na primeira hora. A VHS é útil no acompanhamento da resposta terapêutica. MÉTODOS DE IMAGEM As principais vantagens e desvantagens de cada um dos métodos de imagem utilizados no diagnóstico de osteomielite. DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO Obtém-se material para cultura e análise histopatológica através do desbridamento cirúrgico (padrão-ouro) ou por punção percutânea guiada por imagem. A cultura da secreção coletada na superfície de uma fístula osteocutânea → PODE ter valor diagnóstico! O S. aureus presente nesta secreção costuma ser o mesmo encontrado nas culturas obtidas por desbridamento cirúrgico! Para outros germes, a taxa de correlação entre as culturas superficiais e profundas não se mostra fidedigna. TRATAMENTO Os objetivos terapêuticos na osteomielite são: (1) esterilização óssea; e (2) restauração da função esquelética. Maioria dos casos → abordagem multidisciplinar, combinando antibioticoterapia sistêmica prolongada com uma ou mais ressecções cirúrgicas, estas últimas visando remover elementos que favoreçam a persistência da infecção. A intervenção cirúrgica-ortopédica é indicada quando não há melhora após 48 horas de antibioticoterapia. O tratamento → inicialmente com punção local → pts sedado e anestesiado. Caso seja aspirado pus → drenagem cirúrgica de partes moles. Se houver pus subperiosteal, é preciso fazer perfurações ósseas → local é lavado e o material bacteriano e tecido necrosado é expulso. Deve ser feita irrigação contínua com entrada e saída de sucção contínua. A irrigação deve ser mantida por no máximo 24 a 48 horas. ANTIBIOTICOTERAPIA A antibioticoterapia deve ser instituída logo após cultura de material e antibiograma. Em recém-nascidos → oxacilina a um aminoglicosídeo. Em crianças após períodos neonatal até a idade adulta → oxacilina à cefalosporina de terceira geração. Como alternativa à oxacilina, pode-se utilizar vancomicina ou clindamicina, principalmente nos casos em que o antibiograma apresentar S. aureus meticilino-resistente, casos em que também se pode usar a linezolida. Outra escolha possível é a dupla ciprofloxacino e rifampicina para pacientes maiores de 18 anos. Em pacientes com anemia falciforme → cefalosporina de 3ª geração, como ceftriaxona, por via venosa associada à oxacilina. Osteomielite traumática ou agentes como o S. aureus, bacilos coliformes e P. aeruginosa → oxacilina associada à cefalosporina de 3ª geração com atividade antipseudomonas, como ceftazidima. Vancomicina e teicoplanina → infecção adquirido no ambiente hospitalar ou nos casos resistentes aos antibióticos usuais. O tempo de tratamento é de 4 a 6 semanas, sendo que se o paciente se mantiver estável nos 10 primeiros dias, a medicação pode ser passada para via oral a nível ambulatorial. SUZANA VASCONCELOS MEDXIII CIRURGIA OSTEOMIELITES PÓS-FRATURA EXPOSTA São condutas essenciais para a prevenção de infecção óssea após uma fratura exposta: (1) desbridamento cirúrgico agressivo de tecidos desvitalizados; (2) irrigação abundante; (3) antibioticoprofilaxia parenteral; (4) fixação precoce da fratura; (5) cobertura e fechamento dos tecidos moles. Atrasos superiores a cinco horas na instituição dessas medidas se associam a risco progressivamente maior de infecção! Implantação, ao redor da fratura, de um “colar de contas” de polimetilmetacrilato impregnado com antibiótico em altas concentrações. osteomielite no pós-operatório → reabordagem cirúrgica para a realização de desbridamento e coleta de osso para cultura. Pacientes que possuem material exógeno implantado (ex.: haste intramedular, fixadores internos) devem ter o material, a princípio, MANTIDO, uma vez que sua retirada precoce irá desestabilizar a fratura!!! Nesta situação, após coleta de culturas, inicia-se antibioticoterapia empírica (ex.: vanco + cobertura contra Gram-negativos e Pseudomonas) associando-se rifampicina. Após o resultado das culturas o esquema antimicrobiano deve ser reajustado (“descalonado”), mantendo-se a associação com rifampicina. A rifampicina é o único antimicrobiano com poder de penetração no biofilme. OSTEOMIELITE CRÔNICA O tratamento cirúrgico: ressecção dos sequestros ósseos, do involucrum, das fístulas osteocutâneas e de materiais exógenos porventura presentes (ex.: infecção tardia pós-fratura exposta, com consolidação óssea já presente). ESPONDILODISCITE Na maioria dos casos uma abordagem cirúrgica não se faz necessária, sendo a infecção geralmente curada com antibioticoterapia apenas. Abscessos paravertebrais extensos – ou abscessos epidurais com compressão de estruturas neurológicas (ex.: medula, raízes nervosas) → drenagem cirúrgica do pus. Falência do tratamento clínico → desbridamento percutâneo transpedicular guiado por fluoroscopia. Na vigência de instabilidade da coluna, é necessário utilizar um colete externo deestabilização Infecções vertebrais no pós-operatório imediato de uma artrodese de coluna → antibioticoterapia supressiva → duração do tratamento → dois anos.
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