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Pediatria - ALEITAMENTO MATERNO

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*Além de alimentar a criança, o aleitamento materno (AM) 
protege mãe e criança contra algumas doenças e promove o 
desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e o bem-
estar físico e psíquico da díade mãe-filho 
Recomendações quanto à duração do AM 
*A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da 
Saúde do Brasil (MS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) 
recomendam AM por 2 anos ou mais, sendo de forma exclusiva 
nos primeiros 6 meses 
*Além de aparentemente ser o comportamento esperado para 
a espécie humana, a amamentação por 2 anos ou mais pode ser 
vantajosa em razão do valor nutritivo do leite materno e da 
proteção contra doenças infecciosas, que se mantém enquanto 
a criança for amamentada, independentemente da idade 
*Duração do aleitamento materno exclusivo 
→ existem evidências de que não há vantagens em 
oferecer alimentos complementares a crianças 
menores de 6 meses – podem haver prejuízos à saúde 
da criança (ex: maior chance de adoecer por infecção 
intestinal e hospitalização por doença respiratória) 
→ a introdução precoce dos alimentos complementares 
diminui a duração do AM, interfere na absorção de 
nutrientes importantes nele existentes, como o ferro 
e o zinco, e reduz a eficácia da lactação na prevenção 
de novas gestações 
Evidências da superioridade da 
amamentação 
REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL 
*Estima-se que o AM pode reduzir em 13% a mortalidade em 
crianças menores de 5 anos por causas preveníveis 
*Nenhuma outra estratégia alcança o impacto da amamentação 
na redução das mortes de crianças dessa faixa etária 
*A amamentação na primeira hora de vida tem sido associada 
à redução da mortalidade neonatal 
REDUÇÃO DA INCIDÊNCIA E DA GRAVIDADE DA 
DIARREIA 
*Há fortes evidências epidemiológicas de que a amamentação 
confere proteção contra diarreia, sobretudo em crianças de 
baixo nível socioeconômico de países de baixa renda 
→ contudo, essa proteção diminui quando o AM deixa 
de ser exclusivo 
REDUÇÃO DA MORBIDADE POR INFECÇÃO 
RESPIRATÓRIA 
REDUÇÃO DE ALERGIAS 
 
*Há evidências de que o risco de dermatite atópica em crianças 
com história familiar de atopia, nascidas a termo e 
amamentadas exclusivamente por pelo menos 3 meses, é 
menor quando comparadas com crianças amamentadas por 
menos tempo 
→ de forma similar, é menor a chance de desenvolver 
asma em crianças sem história familiar de asma, 
quando comparadas com crianças não amamentadas 
*A exposição a pequenas doses de leite de vaca nos primeiros 
dias de vida parece aumentar o risco de alergia ao leite de vaca 
REDUÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS 
*Há relatos bem consistentes da associação entre AM e menor 
chance de desenvolver obesidade e diabete tipo 2, pressões 
sistólica e diastólica mais baixas e níveis menores de colesterol 
total 
MELHOR NUTRIÇÃO 
*Por ser próprio da espécie, o leite materno contém todos os 
nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento 
ótimos da criança pequena, além de ser mais bem digerido, 
quando comparado com leites de outras espécies 
MELHOR DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E 
INTELIGÊNCIA 
*Crianças amamentadas apresentam vantagem nesse aspecto, 
quando comparadas com as não amamentadas ou 
amamentadas por um período inferior 
→ essa vantagem foi observada em diferentes faixas 
etárias, até mesmo em adultos 
MELHOR DESENVOLVIMENTO DA CAVIDADE BUCAL 
*A interrupção precoce do exercício que a criança faz para 
retirar o leite do seio da mãe pode determinar ruptura do 
desenvolvimento motor-oral harmônica 
→ como resultado, há prejuízo ao alinhamento 
adequado dos dentes e às funções de mastigação, 
deglutição, respiração e fala 
PROTEÇÃO CONTRA DOENÇAS NA MULHER QUE 
AMAMENTA 
*Há evidências de proteção do AM contra câncer de mama e de 
ovário, e o desenvolvimento de diabete tipo 2, além do efeito 
anticoncepcional 
ECONOMIA 
*Não amamentar tem implicações financeiras, podendo onerar 
uma família de modo substancial 
→ ao gasto com leites industrializados, devem-se 
acrescentar custos com mamadeiras, bicos e gás de 
cozinha, além de eventuais gastos decorrentes de 
Aleitamento Materno 
 
 
 
doenças, que são mais comuns em crianças não 
amamentadas 
*Onera também o sistema público de saúde e as 
empresas/serviços públicos e privados, pelas faltas ao trabalho 
de mães e pais por doença da criança 
PROMOÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO ENTRE MÃE E 
FILHO 
*Oportunidade ímpar de intimidade e afeto, que gera 
sentimentos de segurança e proteção na criança e de 
autoconfiança e realização como mãe na mulher 
Principais determinantes do insucesso da 
amamentação 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como o leite é produzido 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*Na gravidez, a mama é preparada para a lactação sob a ação de 
diferentes hormônios 
→ estrogênio: responsável pela ramificação dos ductos 
lactíferos 
→ progestogênio: responsável pela formação dos lóbulos 
→ lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina 
coriônica: envolvidos na aceleração do crescimento 
mamário 
OBS: 
• embora a secreção de prolactina esteja muito 
aumentada na gestação, a mama não secreta leite 
durante a gravidez, graças à inibição pelo 
lactogênio placentário 
*O início da secreção do leite, caracterizando o começo da fase 
II da lactogênese, ocorre graças à queda acentuada nos níveis 
sanguíneos maternos de progestogênio após o nascimento da 
criança e a expulsão da placenta, com consequente liberação de 
prolactina pela hipófise anterior 
→ assim, a síntese do leite após o nascimento da criança 
é controlada basicamente pela ação hormonal, e a 
“descida do leite”, que costuma ocorrer até o 3º ou 4º 
dia após o parto, ocorre mesmo sem a sucção da 
criança ao seio 
*Fase III da lactogênese / galactopoese 
→ persiste por toda a lactação 
→ controle autócrino 
→ depende primordialmente da sucção do bebê e 
do esvaziamento da mama 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*As mulheres adultas possuem de 15 a 25 
lobos mamários (glândulas 
tubuloalveolares), constituídos, cada 
um, por 20 a 40 lóbulos 
→ estes, por sua vez, são 
formados por 10 a 100 alvéolos 
*Envolvendo os alvéolos, encontram-se 
as células mioepiteliais e, entre os lobos 
mamários, os tecidos adiposo, 
conjuntivo, linfático, nervoso e vascular 
*O leite é secretado nos alvéolos por 
uma cadeia única de células epiteliais 
altamente diferenciadas e conduzido até 
o exterior por uma rede de ductos 
*Durante as mamadas, enquanto o 
reflexo de ejeção do leite está ativo, os 
ductos sob a aréola enchem-se de leite e 
dilatam-se (formando o que antes se 
chamava, equivocadamente, de seios 
lactíferos) 
 
 
 
→ grande parte do leite de uma mamada é produzido 
enquanto a criança mama, sob o estímulo da 
prolactina, que é liberada graças à inibição da 
liberação de dopamina (fator inibidor da prolactina) 
→ a liberação de prolactina e ocitocina é regulada pelos 
reflexos da produção e ejeção do leite, 
respectivamente, ativados pela estimulação dos 
mamilos, sobretudo pela sucção da criança 
→ a liberação da ocitocina também ocorre em resposta a 
estímulos condicionados, como visão, olfato e audição 
(ouvir o choro da criança), e a fatores de ordem 
emocional, como motivação, autoconfiança e 
tranquilidade 
por outro lado, a dor, o desconforto, o estresse, a 
ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de 
autoconfiança podem inibir o reflexo de ejeção do 
leite, prejudicando a lactação 
*Qualquer fator materno ou da criança que limite o 
esvaziamento das mamas pode causar diminuição na síntese do 
leite, por inibição mecânica e química 
→ a remoção contínua de peptídios supressores da 
lactação (feedback inibitor of lactation – FIL) do leite 
garante a reposição total do leite removido 
*Outro mecanismo local que regula a produção do leite envolve 
os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo 
→ à medida que o leitese acumula nos alvéolos, a forma 
das células alveolares fica distorcida e a prolactina não 
consegue se ligar aos seus receptores, criando assim 
um efeito inibidor da síntese de leite 
Composição e aspecto do leite materno 
 
 
 
 
 
 
 
 
*A água contribui com quase 90% da composição do leite 
materno, o que garante o suprimento das necessidades hídricas 
de uma criança em aleitamento materno exclusivo, mesmo em 
climas quentes e áridos 
*O principal carboidrato do leite materno é a lactose, e a 
principal proteína é a lactoalbumina 
*O leite materno contém baixas concentrações de vitamina K, 
vitamina D e ferro - assim, o Departamento de Nutrologia da 
SBP faz recomendações de suplementação das crianças 
amamentadas 
→ vitamina K ao nascimento 
→ vitamina D diária até os 18 meses para as crianças sem 
exposição regular ao sol 
→ ferro até os 2 anos de idade a partir da introdução da 
alimentação complementar em crianças nascidas a 
termo (ou antes em lactentes pré-termo) 
*O leite humano possui vários fatores imunológicos específicos 
e não específicos que conferem proteção ativa e passiva contra 
infecções nas crianças amamentadas 
→ a IgA secretória é a principal imunoglobulina, que 
atua contra microrganismos que colonizam ou 
invadem superfícies mucosas 
*Outros fatores de proteção que se encontram no leite materno 
→ leucócitos: matam microrganismos 
→ lisozima e lactoferrina: atuam sobre bactérias, vírus e 
fungos 
→ oligossacarídios (mais de 130 compostos): previnem 
ligação da bactéria na superfície mucosa e protegem 
contra enterotoxinas no intestino, ligando-se à 
bactéria 
→ fator bífido: favorece o crescimento do Lactobacilus 
bifidus na criança, uma bactéria saprófita que acidifica 
as fezes, dificultando a instalação de bactérias que 
causam diarreia, como Shigella, Salmonella e 
Escherichia coli 
Dinâmica da transferência do leite da 
mama para a criança 
 
 
 
 
 
 
 
 
*Mais recentemente, tem-se valorizado o laid-back 
breastfeeding 
→ “jeito de amamentar” mais natural e descontraído, 
que consiste em adotar posições que facilitam a 
liberação de comportamentos instintivos na mãe e na 
criança que favorecem a amamentação 
→ a mãe assume posição semideitada, relaxada, com 
ombros, cabeça e pescoço bem apoiados; o bebê fica 
 
 
 
 
em cima da mãe, em posição longitudinal ou oblíqua, 
não havendo necessidade de apoiá-lo, pois ele se 
mantém fixado à mãe pela força da gravidade, livre da 
pressão das costas; as mãos da mãe podem ficar livres 
→ nessa posição, o bebê usa mais os seus reflexos 
neonatais primitivos (rastejamento, acomodação, 
preensão palmar e plantar, flexão das mãos, dos pés e 
dos dedos, mãos na boca, abertura da boca, lambida, 
sucção e deglutição) 
 
 
 
 
 
 
 
Aconselhamento em amamentação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientações básicas que devem ser 
repassadas às mães / famílias 
INÍCIO DA AMAMENTAÇÃO 
*A OMS e o MS recomendam contato pele a pele na primeira 
hora de vida, sempre que as condições de saúde da mãe e do 
bebê permitirem 
*A maioria dos bebês suga na primeira hora de vida, se lhe for 
dada oportunidade 
*A sucção precoce da mama reduz o risco de hemorragia pós-
parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no recém-nascido, por 
aumentar a motilidade gastrointestinal 
FREQUÊNCIA DAS MAMADAS 
*Habitualmente, o recém-nascido mama com frequência, sem 
regularidade quanto a horários 
*É comum um bebê em aleitamento materno exclusivo sob 
livre demanda mamar de 8 a 12 vezes ao dia 
→ muitas mães, em especial as inseguras e com baixa 
autoestima, costumam interpretar esse 
comportamento como sinal de fome do bebê, leite 
fraco ou insuficiente, culminando, quando não 
assistidas adequadamente, com a introdução de 
suplementos 
*O tamanho das mamas da mãe pode exercer alguma influência 
na frequência das mamadas (capacidade de armazenamento) 
→ contudo, não tem relação com a produção de leite 
*Toda criança experimenta períodos de aceleração do 
crescimento, o que se manifesta por um aumento da demanda 
por leite 
→ esse período, que dura de 2 a 3 dias, pode ser 
equivocadamente interpretado como incapacidade da 
mãe em produzir leite suficiente para o seu bebê, 
induzindo à suplementação com outros leites 
→ esses períodos podem ser antecipados, diminuindo a 
ansiedade das mães e preparando-as para uma maior 
demanda 
→ em geral, ocorrem três episódios de aceleração do 
crescimento antes dos 4 meses: 
o primeiro entre 10 e 14 dias de vida, outro entre 4 
e 6 semanas e um terceiro em torno dos 3 meses 
→ bebês prematuros podem experimentar vários 
períodos de aceleração do crescimento nos primeiros 
meses 
DURAÇÃO DAS MAMADAS 
*O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve 
ser preestabelecido 
→ o tempo necessário para esvaziar uma mama varia 
entre os bebês e, em uma mesma criança, pode variar 
dependendo da fome, do intervalo transcorrido desde 
a última mamada e do volume de leite armazenado na 
mama, entre outros fatores 
*Independentemente do tempo necessário, é importante que a 
criança esvazie a mama, pois o leite do final da mamada – leite 
posterior – contém mais calorias e sacia a criança 
 
 
 
 
 
USO DE SUPLEMENTOS 
*Água, chás e, sobretudo, outros leites devem ser evitados, pois 
há evidências de que o seu uso está associado com desmame 
precoce e aumento da morbimortalidade infantil 
*A mamadeira, além de ser importante fonte de contaminação, 
pode ter efeito negativo sobre o aleitamento materno 
→ algumas crianças desenvolvem preferência por bicos 
de mamadeira, apresentando dificuldade para 
amamentar ao seio (“confusão de bicos”) 
USO DE CHUPETA 
*Desaconselhado por, dentre outras razões, interferir 
diretamente no aleitamento materno 
*Crianças que usam chupetas, em geral, são amamentadas 
menos frequentemente, o que pode prejudicar a produção de 
leite 
*Além disso, o uso de chupeta afeta negativamente a formação 
do palato 
→ a comparação entre crânios de pessoas que viveram 
antes do advento dos bicos de borracha com crânios 
mais modernos sugere o impacto negativo dos bicos 
na formação da cavidade oral 
Desmame 
*Considerando o desmame uma fase do desenvolvimento da 
criança, o ideal seria que ele ocorresse naturalmente (desmame 
natural), na medida em que a criança, sob a liderança da mãe, 
vai adquirindo competência para isso 
→ esse cenário proporciona transição 
amamentação/desmame mais tranquila, menos 
estressante para a mãe e a criança, preenche as 
necessidades da criança (fisiológicas, imunológicas e 
psicológicas) até elas estarem maduras e, 
teoricamente, fortalece a relação mãe-filho 
→ pode ocorrer em diferentes idades, em média entre 2 
e 4 anos, e, raramente, antes de 1 ano 
→ indicativos de que a criança está pronta para o 
desmame: 
idade maior que 1 ano, menos interesse nas 
mamadas, aceita bem outros alimentos, é segura na 
sua relação com a mãe, aceita outras formas de 
consolo, aceita não ser amamentada em certas 
ocasiões e locais, às vezes dorme sem mamar no 
peito, mostra pouca ansiedade quando encorajada 
a não mamar e, às vezes, prefere brincar ou fazer 
outra atividade com a mãe em vez de mamar 
*O desmame abrupto deve ser desencorajado 
→ se a criança não está pronta, ela pode se sentir 
rejeitada pela mãe, gerando insegurança e, muitas 
vezes, rebeldia 
→ na mãe, o desmame abrupto pode precipitar 
ingurgitamento mamário, estase do leite e mastite, 
além de tristeza ou depressão, por luto pela perda da 
amamentação ou por mudanças hormonais 
OBS: “GREVE DE AMAMENTAÇÃO” 
• não é desmame 
• ocorre principalmente em crianças menores de 1 
ano 
• início súbito e inesperado 
• a criança parece insatisfeita e, em geral, é possível 
identificar uma causa: doença, dentição, 
diminuição do volume ou sabor do leite, estresse 
e excesso de mamadeira ou chupeta 
• essa condição ousualmente não dura mais que 2 
a 4 dias 
*Cabe a cada dupla mãe-bebê e sua família a decisão de manter 
a amamentação até o desmame natural ou interrompê-la em 
um determinado momento 
*Muitos são os fatores envolvidos nessa decisão: 
circunstanciais, sociais, econômicos e culturais 
*Cabe ao pediatra ouvir os interessados e ajudá-los a tomarem 
uma decisão, pesando os prós e os contras 
→ a decisão, principalmente da mãe, deve ser respeitada 
e apoiada 
Referências: 
*Tratado de Pediatria da SBP (4ª edição) 
*Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada – Silverthorn 
(7ª edição)

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